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A Gestão Escolar e Legislação Brasileira A proposta desta Unidade Temática é apresentar na legislação brasileira a forma como a gestão escolar está prevista. Para início de conversa, é preciso dizer que a gestão escolar é fruto do processo de redemocratização vivido no país nos finais dos anos 80. Tanto é assim, que sua aparição ocorreu na Carta Magna de 1988, em forma de princípio constitucional disposto no art. 206, VI. “Art 206: O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: [...] VI- gestão democrática do ensino público, na forma da lei”. A gestão escolar prevista na Constituição Brasileira tem natureza democrática, a qual pauta as relações sociais a serem estabelecidas em lei e seu alcance é limitado à esfera pública, embora até o presente momento não se tenha indicadores precisos, sobre os resultados desta efetivação legal na realidade educacional. A gestão escolar, ainda, é reafirmada também na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN, 9394/98), como um dos princípios a serem observados pelos sistemas de ensino público. “Art 3º O ensino será ministrado com base nos princípios: [...] VIII- gestão democrática do ensino público na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino”. Tanto na Constituição Federal como na LDBEN, a gestão é prevista, apenas, para o espaço público e isso precisa ser refletido. Afinal, isso indica a possibilidade de se ter outro tipo de gestão que não o democrático e, ainda, que só cabe democracia quando se está falando de espaço público. Uma visão limitadora, porque a democracia não está restrita ao espaço, mas a forma como cada cidadão representa a si mesmo e é representado, porém, é preciso compreender que a incidência de uma lei sobre a educação nacional, atinge a forma como ela se regerá a partir de seus princípios, por isso que a limitação torna-se paradoxal. A previsão em lei assegura que os processos de decisão da escola sejam fundamentados nos ideais da democracia, a qual implica na participação efetiva daqueles que direta ou indiretamente são envolvidos com o Projeto de Escola desenhado, no que concerne à visão, à missão, aos valores e aos objetivos educacionais direcionados ao exercício da cidadania e da construção da autonomia. Diante disto pode-se dizer que, a gestão escolar democrática, enquanto princípio, confere a comunidade escolar o poder de decisão por meio da participação e da colaboração efetiva de todos. Isso indica que o fato de gerir a escola, não está associado à determinação e visão de uma pessoa, mas à confluência de visões que objetivam o bem maior: a aprendizagem e a formação humana. No sentido de assegurar o princípio da gestão escolar democrática foram alistadas as seguintes prerrogativas legais que estão dispostas nos artigos 12, 13 I e IV e 14 da LDBEN. Segue o conteúdo dos artigos: Art 12: Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as dos sistemas de ensino, terão incumbência de: I - Elaborar e executar sua proposta pedagógica; II - Administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros; III - Assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas- aula estabelecidos; IV - Velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente; V - Prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento; VI - Articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola; VII - Informar os pais e responsáveis sobre a frequência e o rendimento dos alunos, bem como sobre a execução da proposta pedagógica. Art 13: Os docentes incumbir-se-ão de: I - Participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; [...] VI - Colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade. Art 14: os sistemas de ensino definirão as normas de gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I - Participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II - Participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. A partir dos princípios legais dispostos no Artigo 14 é possível observar que eles ressaltam a necessidade de participação tanto dos profissionais da educação na elaboração do Projeto Político-Pedagógico, como da participação da comunidade local para atuar nos conselhos escolares e equivalentes, por serem eles mecanismos democráticos da prática gestora. O Plano Nacional de Educação (PNE 2011-2020), assim como o anterior (PNE 2001-2010) inclui a questão da gestão escolar democrática como uma premissa. Isso indica que a gestão escolar é uma prioridade a ser atendida pelo Sistema de Ensino Brasileiro. Inclusive das 20 Metas apresentadas no PNE, uma corresponde à gestão escolar democrática. A Meta 19 do PNE (2011-2020) assinala a necessidade de garantir a nomeação comissionada de diretores de escola vinculada a critérios técnicos de mérito e desempenho e à participação da comunidade escolar, observando a legislação específica dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. O documento PNE (2011-2020) defende que o papel do diretor é essencial à qualidade de ensino ofertada, por isso que estabelece um processo misto de escolha, ou seja, ela não se limitará ao processo de eleição pela comunidade escolar, mas da adição de critérios técnicos que visam avaliar o mérito e o desempenho. Isso é uma inovação trazida pelo documento e que ultrapassa a esfera da escolha por meio da eleição direta dos que são parte dessa mesma comunidade. Há aqui o retorno das questões associadas à competência e a meritocracia, as quais não faziam parte como requisitos prioritários do processo de escolha do gestor escolar. Inclusive, há o retorno da palavra “diretor”, ao invés do gestor, embora, é preciso assinalar que o documento resguarde a autonomia dos entes federativos sobre este processo, na medida em que aponta a necessidade de se atentar para o que a sua legislação estabelece como mecanismo de escolha. Acerca da justificativa sobre o processo de eleição e seleção do cargo de diretor de escola, o documento apresenta dados extraídos da pesquisa efetivada pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB). Esses dados indicam que o critério de escolha ocorreu, de uma maneira geral, mais por seleção ou seleção e eleição do que, apenas, por eleição. Os dados, ainda, revelam que a seleção é mais recorrente na esfera dos Estados e a eleição na esfera dos Municípios, embora, os dados também apontem que no processo de escolha ainda se tem o exercício da indicação política. Interessante que a pesquisa informa que os diretores selecionados ou eleitos são aqueles que têm experiência no campo educacional e que usam dos mecanismos da gestão, como os Conselhos de Escola. Isso pode indicar que os mais experientes veem com bons olhos a inserção dos Conselhos de Escola no processo de tomada de decisão compartilhada. O documento aponta a partir dos dados da pesquisa, que há mais aderência às propostas democráticas, como conselho de classe, elaboração do Projeto Político Pedagógico, formação continuada, quando o diretor é selecionado ou selecionado e eleito para o cargo. Esses elementos e mais outros foram considerados como justificativa para a construção da Meta 19. É claro que não se deve esquecer que a gestão democrática escolar não acontece de uma hora para a outra, antes ela precisa de tempo para ser incorporada no modo de ser da comunidade escolar e isso refletirá na sua identidade. A identidade da escola é construída em seu Projeto Político-Pedagógico-PPP- que busca, ainda, definir as diretrizes norteadoras e basilares que dão sustento e mobilidade às ações educativas e que se materializam na proposição de um currículo vivo, o qual é perpassado pela cultura da escola e pelas expectativasgeradas em torno da formação objetivada. Assim, pode-se dizer que: O PPP retrata a identidade da escola, [...], oferecendo diretrizes gerais no que se refere ao que a escola necessita desenvolver, objetivando tornar o seu trabalho mais agradável, produtivo de qualidade e voltado para a formação da cidadania dos sujeitos que dela fazem parte (MEDEL, 2008, p. 76). Isso informa que o PPP é uma ferramenta essencial para pensar a escola, sua missão, seus valores, suas metas e propósitos destinados ao processo educativo. O PPP, enquanto ferramenta, possibilita a escola refletir sobre o seu sentido de educar as gerações, por isso que cada escola precisa trabalhar em prol do seu PPP, projetando sonhos, respondendo necessidades e delineando novas trajetórias a serem percorridas por aqueles que são e estão sob sua responsabilidade educativa. Afinal, “a escola precisa de uma gestão que começando com a elaboração do PPP, permita à escola atingir a sua finalidade, concretizando sua função social” (MEDEL, 2008, p. 77). A partir da gestão democrática escolar é possível projetar o plano de ação a ser concretizado, de maneira consciente e organizada, reconhecendo as limitações e as potencialidades da comunidade escolar diante de sua função e finalidade educativas. A gestão escolar é um meio de consolidação do PPP e do Projeto de Escola. O ato de pensar sobre a prática educativa requer que a comunidade escola consolide sua proposta de ação, desenhada no PPP e no Projeto de Escola. Isso indica que, tanto o PPP quanto o Projeto de Escola são meios para o desenvolvimento das práticas educativas projetadas. Eles de fato servem como instrumentos políticos, na medida em que objetivam a transformação da realidade. A partir da previsão legal da gestão escolar na Constituição, LBDEN e PDE é possível agora olhar para o Projeto de Escola como fruto do disposto nessas legislações. Observe que a existência do Projeto de Escola é a garantia da presença da gestão escolar. Assim pode-se dizer que o Projeto de Escola assegura a presença da gestão democrática e por isso, ele não pode ser visto como uma alternativa, mas como uma necessidade garantidora do princípio da gestão democrática. Projeto de Escola e a Organização Escolar A finalidade desta Unidade Temática é apresentar a importância de cada organização escolar elaborar um Projeto de Escola como um documento orientador de suas ações. Atualmente, a discussão que circunda o âmbito escolar diz respeito ao Projeto de Escola a ser implementado, isso porque, nele está expresso não somente ações a serem desenvolvidas, mas a própria concepção que se tem a respeito da formação do homem, da sociedade, do papel da cultura e da produção do conhecimento. Antes de apontar a importância do Projeto de Escola, faz-se necessário levantar os seguintes questionamentos: Será que um mesmo Projeto de Escola, pode ser aplicado em diferentes realidades escolares? Será, ainda, que ao sistematizar o Projeto de Escola, não se faz necessário fazer novas adequações, ajustes e atualizações? Que elementos precisam constar no Projeto de Escola? Bom, você pode observar que os questionamentos irão dar o tom a ser discutido nesta Unidade Temática. Nesse sentido, a primeira questão a ser respondida diz respeito ao que se entende como Projeto de Escola. Álvaréz et al (2004, p. 15) ressaltam que o Projeto Educativo de Escola assume a perspectiva de uma diretriz. Nela, estão contidos os objetivos, as ações e as metas que conduzem o fazer e o agir da comunidade escolar. Nesse sentido, eles asseveram que o Projeto de Escola “pode ser comparado a uma pequena constituição da que a comunidade escolar se mune para entrar em consenso sobre assuntos substanciais e programáticos”. Esses assuntos dizem respeito à ação e à prática educativas a serem concretizadas no interior das comunidades escolares. Cabe, agora, entender o que são assuntos substanciais e programáticos para a escola. O primeiro reclama a ideia de substância, ou seja, o que é inerente à escola, atribuindo-lhe uma finalidade. Então, pode-se dizer que os assuntos substanciais estão centrados no processo de ensinar e aprender. Afinal, é isso que confere à escola o sentido de ser e existir no contexto social. Já o segundo revela a necessidade de atender ao que a escola estabelece como prioridade de ações a serem materializadas no contexto educativo, o que indica a necessidade de planejamento, organização e avaliação sobre o trabalho administrativo-pedagógico a ser desenvolvido. A partir do posicionamento apresentado com relação aos assuntos substanciais e programáticos pode-se dizer que o Projeto de Escola é singular e particular, pois está direcionado a um contexto escolar específico, o que pressupõe que cada escola necessita elaborar o seu plano, de acordo com suas necessidades, demandas e deficiências. O Projeto de Escola pode ser desenvolvido em forma de plano escolar, contendo as metas, os objetivos, as estratégias e os resultados de ação. As metas informam sobre os resultados a serem alcançados a curto, médio e longo prazos. Os objetivos definem sua missão, visão e valores a serem perseguidos. As estratégias delineiam as práticas a serem efetivadas, a fim de se alcançar as metas e objetivos. Por fim, os resultados permitem a avaliação do que foi materializado no contexto escolar. Elaboração: Domingues (2019). De acordo com a Imagem 1, já se pode responder que o Projeto de Escola precisa ser revisitado continuamente, visto que nem sempre o que foi planejado ou estipulado como meta atingiu a sua finalidade. Por esse motivo, que o Projeto de Escola é uma ferramenta indispensável à gestão escolar, na medida em que oportuniza indicadores sobre a ação e a prática educativas materializadas. A partir do Projeto de Escola, a organização escolar revela sua identidade e sua razão de ser no contexto em que está situada. É por esse motivo, que cada escola precisa ter bem definida a sua identidade, ou seja, sua maneira de ser. Afinal, Reconhecer a importância da construção da identidade é admitir que, na condição de instituição singular, cada escola apresenta características próprias, clientela diversificada e práticas docentes que emanam das relações entre os sujeitos e o conhecimento (OYAFUSO; MAIA, 2004, p. 20) Álvarez et al (2004) elencam 5 elementos essenciais ao funcionamento e ao desenvolvimento do Projeto de Escola, a saber: Harmoniza a diversidade, criando espaços de coerência e tolerância durante o processo ensino- aprendizagem, mantendo sob controle as tendências desagregadoras que a diversidade provoca; Funciona como um documento de referência, com base no qual irão concretizar-se e se desenvolver todos os documentos subsequentes que sistematizam a vida escolar de uma instituição autônoma; Garante a participação, ordenada e eficaz, de todas as categorias na tomada de decisões; Cria âmbitos de negociação para a tomada de decisões, as quais fazem do trabalho consensual o método de gestão; Proporciona um modelo de autorregulação formativa, de caráter institucional, mediante a negociação de indicadores de eficácia capazes de orientar a autorregulação do funcionamento da escola. Ainda, no Projeto de Escola é estabelecido o diálogo de muitas vozes que participam da comunidade escolar, na qual comunicam suas ideias, concepções, convergências e divergências em torno do fenômeno educacional. O que enriquece mais o processo de construção, uma vez que neste conjunto de diversidade, a finalidade é encontrar não apenas o equilíbrio, mas a função educativa que garanta a efetivação deste projeto Dito de outra maneira, o Projeto de Escola se apresenta na pele de um plano escolar que consiste numa ferramenta de ação, contendo fases a serem concretizadas a partir da proposta pedagógica a ser efetivada. Por isso, essa ferramenta precisaser concreta, flexível, adequada e possível. Esta primeira constatação pode ser encarada como um dos momentos ricos da construção do Projeto de Escola, visto que há espaço tanto para participação como para reflexão, que busca uma ação solidificada na interação e que oportuniza a produção de novas possibilidades educativas. Claro que não é um ato simplista e pontual, porque pensar no Projeto de Escola requer entendimento da complexidade que o envolve. Complexidade marcada pelas incertezas da realidade e que são eles que fazem nascer o desejo da transformação, principalmente, porque é do ser humano que se está falando, formando, desenvolvendo e resinificando. Isto permite compreender que o Projeto de Escola figura como uma das ações que se concretiza na prática educativa e que, por esta razão, precisa ser pensada sobre as bases epistemológicas que constituíram o Projeto, uma vez que são estas que darão sustentação teórica e metodológica para o desenvolvimento do trabalho educativo, o que pressupõe a definição clara de conceitos nos quais se acredita, como pano de fundo do plano de ação a ser viabilizado. Assim, pode-se reiterar que o Projeto de Escola é “um instrumento que serve à tomada de decisões colegiadas, à formação e ao trabalho em equipe da escola” (ÁLVAREZ et al, 2004, p. 19). Depreende-se disto que, o Projeto de Escola está inserido no projeto político pedagógico, enquanto um instrumento viabilizador de ações e finalidades, isto porque no projeto político pedagógico é demarcado por fundamentações de caráter filosófico, pedagógico, histórico, social, cultural, psicológico e antropológico e que por isto é tomado como um documento de identidade da própria escola. Nele, encontramos o fazer da escola, no que diz respeito aos seus saberes e dizeres sobre o ato educativo. O Projeto Político-Pedagógico (PPP), sendo o núcleo da ação educativa, oportuniza a construção e a materialização do Projeto de Escola, que subsidiará a gestão na organização do trabalho pedagógico a ser efetivado. Pode-se pensar na seguinte correlação: o projeto político pedagógico projeta as diretrizes gerais que serão desenvolvidas no Projeto de Escola e que farão parte das práticas gestoras realizadas em seus aspectos organizacionais e pedagógicos, ou seja, a forma como a escola conduzirá seu trabalho e a concepção pedagógica que fundamentará a prática educativa. O Projeto de Escola é definido, então, como meio catalisador dos objetivos e das finalidades educativas, na forma como se corporifica na realidade e como está se delineará no processo educativo para sua comunidade direta e ou indiretamente. Ao pensar em Projeto de Escola, pensa-se naquilo que se espera e se desenha em educação e, ainda, na continuidade de uma ação educativa que se expressará na concretização de diretrizes que dinamizam a prática pedagógica. Isso ocorre, especificamente, no âmbito público, por intermédio do Projeto de Escola, que: [...] confere personalidade à escola e a faz funcionar como um organismo vivo. Faz dela um órgão autônomo, com um projeto e um contexto de desenvolvimento próprios, e, ao mesmo tempo, dependente de outras escolas, já que não é detentora de recursos próprios nem é capaz de gerá-los (ÁLVAREZ et al, 2004, p. 19). Conclui-se, então, que a ação pedagógica se torna a expressão viva do Projeto de Escola, enquanto presente nos que-fazeres-saberes de seus agentes e, que por tal razão, representa o caráter de legitimidade da comunidade como um todo. Assim é que, o Projeto de Escola se evidencia como exteriorização das marcas de cada comunidade escolar e que identificam sua visão de mundo, homem e sociedade. Diante disso, a gestão escolar atuará, visando a materialização do que foi projetado, enquanto finalidade e propósito educativos. Faça uma pesquisa sobre esta temática, visando aprofundamento, afinal este assunto é inquietante e ao mesmo tempo fascinante. Vale a pena investir mais em seu estudo e reflexão. Gestão Escolar: Conceitos e Características A finalidade da Unidade Temática é apresentar o conceito de gestão escolar e suas características. A intenção é que se possa compreender que o seu exercício requer competências direcionadas à tomada de decisão e que no âmbito de uma prática democrática precisa ser compartilhada. Afinal, é muito melhor quando a comunidade escolar se envolve diretamente e colaborativamente nos processos decisórios. A comunidade escolar não é apenas um número, mas uma parte expressiva deste organismo denominado escola. Para iniciar este estudo é preciso ressaltar que a palavra gestão é muito recorrente na área da Administração, no que diz respeito ao modo como as empresas e organizações determinam sua linha de ação, porém, no contexto da escola, ela assume outra conotação. Isso porque, falar em gestão escolar é assumi-la sob a ótica da participação, que pressupõe a existência de diferentes olhares expressos na ação educativa e no modo como esta é construída no âmbito escolar. A gestão escolar pode ser definida enquanto competência para agir e tomar decisões diante de uma situação ou um problema complexo. Nesse sentido, não se pode pensar a gestão escolar, apenas, como uma forma de gerenciamento de ações. Antes, seu alcance atinge proporções associadas às esferas administrativa, pedagógica e financeira (orçamentária) de uma organização escolar. Na esfera administrativa são projetadas as propostas de melhoria contínua, associadas a processos organizacionais que podem ir desde a elaboração do calendário escolar, como a recepção de documentos e guarda em arquivos. Na esfera pedagógica situa-se propostas de ensino e aprendizagem que possam imprimir qualidade ao trabalho educativo e a valorização do profissional professor. Na esfera financeira (orçamentária) é estipulada a previsão de custos, a prestação de contas e a alocação de verbas, de acordo com as demandas e as prioridades estabelecidas pela comunidade escolar. O termo gestão no âmbito da escola é mais abrangente, visto que está correlacionado às dimensões política, social e pedagógica, o que já implica em pensar que sua finalidade se distancia das conduções de atividades-meio e se volta para as ações valorativas e formativas em que está situada, visando a efetividade da prática educativa e cidadã. A partir do trabalho diretivo e assertivo da gestão escolar é possível defini-la como “um conjunto de ações que não se bastam na administração de rotinas. Trata-se de planejar, promover a integração e a articulação entre os atores e entre os projetos e programas” (OYAFUSO; MAIA, 2004, p. 25), cujo fim é o aprimoramento contínuo de sua ação e prática educativas. O aprimoramento contínuo ocorre no âmbito da comunidade escolar, visto ser ele o espaço de interlocução desta nova gestão escolar. Nesse espaço tenta-se compreender o movimento, os conflitos e os desafios que se apresentam no dia a dia de forma sistêmica e não linear. Isto porque, “a realidade educacional é dinâmica e complexa, não sendo possível prever em um âmbito central todos os processos e ações necessárias para o seu desenvolvimento” (LÜCK, 2006, p.81). Por este motivo, a comunidade escola é reconhecida pelos sujeitos como um campo integrado, no qual as ações como os problemas gerados interferem mutuamente e diretamente no equilíbrio da organização e do funcionamento da instituição. Neste sentido, pode-se, ainda, afirmar que a gestão escolar é um modo de “construir conhecimento sobre a instituição escolar num movimento que se renova na busca da construção da identidade” (OYAFUSO; MAIA, 2004, p. 26). Identidade que é desenhada no Projeto de Escola e que apresenta o caminho a ser perseguido pela comunidade escolar em prol dos objetivos e das metas estabelecidas. No contexto da prática gestora democrática não há como tratar do problema ou da ação isoladamente, no sentido de agir para “apagar oincêndio”, antes, é preciso discutir, pensar e decidir de modo global, pois um sistema é composto de múltiplas dimensões interconectadas e que impactam diretamente no modo como as organizações educacionais se constituem e marcam sua presença na realidade. Isso revela que o cenário atual, “exige gestores mais dinâmicos, criativos e capazes de interpretar as exigências de cada momento e de instaurar condições mais adequadas de trabalho na escola” (SANTOS, 2008, p. 12). Desta forma, a gestão escolar que se deseja materializar implica no ato de gerir, administrar, organizar e liderar pessoas, recursos e ações, a fim de promover diálogo e interação capazes de oportunizar tomada de decisão colaborativa, participativa e corresponsável, na qual elege como finalidade a aprendizagem significativa e a formação humana. A partir desta relação é possível apontar algumas questões que precisam ser consideradas na efetivação da gestão escolar, tais como: assegurar o envolvimento de toda a comunidade escolar no processo e na prática gestora; compartilhar os objetivos e os resultados advindos da tomada de decisão efetivada, no sentido de compreender que essa prática atinge a todos e não somente a equipe diretiva da escola; e acreditar que a gestão participativa pode trazer ganhos substanciais ao processo e à prática educativa, visto que todos estão empenhados em assegurar o ensino que promova a aprendizagem e a formação humana. Por fim, pode-se dizer que o ato da gestão escolar participativa ao propor o engajamento da comunidade escolar, abre-se para o conflito e para diferentes óticas sobre o Projeto de Escola a ser concretizado, porém, esse ato não pode abrir mão da sua identidade e nem da sua finalidade: aprendizagem e formação humana, porque é isso que define sua missão e tarefa educativas. A partir do entendimento sobre o PPP e a gestão escolar faz-se necessário trilhar sobre a maneira como eles se concretizarão na realidade social, a partir da identificação das chaves a serem utilizadas neste processo. Por esse motivo, continue atento a nossa próxima Unidade Temática. Chegamos ao fim de mais um tema. Busque novas fontes que lhe ajudem no processo de reflexão e aprofundamento. Isso é essencial para a produção de novas ideias, posicionamentos e perspectivas sobre o assunto. Concepções de Organização e Gestão Escolar A finalidade desta Unidade Temática é apresentar as concepções que subsidiam a organização e a gestão escolar. Essas concepções podem ser identificadas na forma como a prática gestora é desenvolvida no contexto da comunidade escolar. Serão abordadas quatro concepções que foram descritas por Libâneo, Oliveira e Toschi (2012), a saber: técnico-científica; autogestão; interpretativa; e democrático- participativa. A partir da identificação das concepções de organização e gestão, cabe agora descrevê-las de forma particularizada. A primeira a ser abordada é a técnico-científica. Como o próprio nome dia, essa concepção está associada a parte administrativo- operacional da prática gestora, que envolve cargos, funções e papeis determinados. Isso indica que há uma hierarquia envolvida, o que pode ser representada por meio do Organograma. A finalidade do Organograma é demonstrar a hierarquia e o grau de subordinação entre a funções dispostas. Pode-se dizer que o Organograma é representado por meio de um gráfico, cuja relação é verticalizada, ou seja, do líder maior para os subalternos. Libâneo, Oliveira e Toschi (2012) informam que a versão mais atual da concepção técnico-científica é a da qualidade total, com ênfase nos métodos e nas práticas de gestão de natureza empresarial. Ainda na concepção técnico-científica o destaque é atribuído ao cargo de diretor, sendo ele a autoridade máxima da organização. Assim, sua palavra é ordem e não cabe discordâncias, mas seu cumprimento. A relação estabelecida é de chefe e subordinados. A segunda concepção é a autogestionária que tem como premissa a coletividade, ou seja, a forma como ela participa e colabora no processo da gestão. A relação não é hierárquica e nem de subserviência, visto que não existe a figura de um líder central. Antes, cada participação é importante no processo, por isso que é ressaltado a participação direta e igualitária de todos. Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 446) ressaltam que a concepção autogestionária, quando presente no contexto da escola, “em contraposição aos elementos instituídos (normas, regulamentos, procedimentos), valoriza especialmente os elementos instituintes (capacidade do grupo de criar, instituir, suas próprias normas e procedimentos”. A terceira concepção interpretativa visa atuar na análise dos processos de organização e gestão escolar, enquanto uma realidade construída pelos sujeitos, na forma como pensam, idealizam e compartilham suas intenções. Sua ênfase recai na ação organizadora a partir do compartilhamento de ideias, projetos e valores a serem desenvolvidos no contexto da comunidade escolar. Essa concepção rejeita padrões técnico-científicos, assim como modelos e conhecimentos advindos dessa forma de pensar a organização. A ideia defendida é que as ações nascem das interações sociais, por meio da convivência e da cooperação. A quarta concepção democrático- participativa firma-se na visão de organismo, em que cada sujeito é imprescindível para o seu bom desenvolvimento. Como o nome sugere é possível inferir que as ações reclamam o envolvimento e a participação de todos os que estão ligados a esse organismo. Tanto é assim, que há liberdade de exercício de direito a voz, vez e voto. Essa liberdade é resultada da prática de uma ação colegiada, em que cada um é responsável pelas decisões efetivadas. Nesse sentido, o processo gestor é compartilhado e a organização requer que cada sujeito se aproprie de seu papel no organismo, a fim de que haja equilíbrio e unidade no trabalho a ser materializado na comunidade escola. Na concepção democrático-participativa se requer que os objetivos se tornem comum à comunidade escola, por isso que no campo das decisões e ações faz-se necessário que o trabalho educativo seja bem orquestrado, coordenado e avaliado, no sentido de verificar se as deliberações estão sendo atendidas, conforme o pactuado. Libanêo, Oliveira e Toschi (2012, p. 447) afirmam que as “concepções de gestão escolar refletem diferentes posições políticas e pareceres do papel das pessoas na sociedade” e isso acaba refletindo na própria organização e estrutura estabelecidas na comunidade escola, visto que, a gestão escolar é implicadora das práticas que serão desenvolvidas e priorizadas por seus participantes. A partir da prática da gestão escolar é possível observar a concepção que subjaz o fazer educativo. Assim, estudar as concepções favorecem a identificação de suas características no jeito de ser da escola, ou seja, sua cultura. Pode-se ainda dizer das concepções autogestionária, interpretativa e democrático-participativa que há uma aproximação entre elas no que diz respeito ao envolvimento das pessoas no processo de decisões a ser efetivado. Elas valorizam a participação das pessoas, compreendendo que elas são indispensáveis ao trabalho educativo a ser desenvolvido. Para Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p.448), as concepções autogestionária, interpretativa e democrático-participativa “consideram essencial levar em conta o contexto social e político, a construção de relações sociais mais humanas e justas e a valorização do trabalho coletivo e participativo”. Isso é um ponto importante a ser ressaltado, devido a sua aproximação com o sentido de ser da gestão democrática. A Primeira Chave da Gestão Escolar: Cidadania A proposta desta Unidade Temática é descrever a finalidade das chaves da gestão democrática. A utilização da palavra chave é apenas uma analogia do que ela representa, isso é, a possibilidade de abrirportas para a consolidação de uma prática democrática. É claro, que pode ocorrer o contrário, ou seja, seu fechamento, mas isso dependerá da forma como cada uma das chaves é utilizada, visando atender ao propósito da escola: aprendizagem e formação humana. A descrição da finalidade das chaves será feita de maneira particularizada, porém, faz-se necessário ressaltar que as chaves da gestão escolar podem ser utilizadas como ferramentas de reflexão-ação do próprio processo educativo. Sendo assim, elas se consolidam na constituição da identidade da escola, a qual elege as competências a serem desenvolvidas, a fim de garantir a qualidade educativa nas dimensões social, política e histórica, no sentido de garantir a autonomia e a gestão do conhecimento com vistas ao bem comum. De uma forma esquemática é possível fazer a seguinte representação da relação das chaves com a gestão escolar democrática: A partir do esquema apresentado é possível deduzir que a prática da gestão escolar é complexa e vai além da administração de uma organização, antes, implica em ter uma visão de totalidade sobre a realidade em que a escola está inserida, lançando mão de mecanismos que de fato objetivam impactar positivamente essa mesma realidade. Isso ocorre porque a escola trabalha com duas possibilidades. A primeira demonstra quem ela é, ou seja, a sua identidade. E a segunda o que ela pode vir a ser, são suas projeções diante das ações a serem concretizadas. As chaves da gestão possibilitam que as práticas sejam conduzidas a partir da interação e da ação dos protagonistas. Isso indica que as decisões são consideradas como sendo da comunidade escolar, o que torna cada um dos integrantes corresponsáveis pelas ações e pelos resultados alcançados. É preciso salientar sobre o alcance das ações efetivadas no contexto social. Isso porque, a escola não está isolada da realidade, antes suas práticas ultrapassam o muro da escola. As práticas ganham significação no contexto social, educacional e político, visto que podem ou não ser reconhecidas como referências em seu entorno. Sobre o papel da escola, Rios (2001, p. 38) afirma que: A escola não está nem fora da sociedade, com uma autonomia absoluta diante dos fatores que estimulam as mudanças sociais, nem muito menos numa relação de subordinação absoluta, que ocorre em nível mais amplo na sociedade. A escola é parte da sociedade [...]. É por isso que, quando a comunidade escolar lança mão das chaves da gestão, ela passa a mensagem de que suas práticas respeitam os direitos e os deveres de cada cidadão, enquanto sujeitos ativos e comprometidos com o bem comum. Aqui, o bem comum está diretamente relacionado com a aprendizagem e a formação humana. As chaves da gestão visam, portanto, assegurar a finalidade educativa da comunidade escolar e isso só se torna possível no contexto de viés democrático, porque possibilita que diferentes vozes possam contribuir para o desenvolvimento dessa missão singular. Por isso, que é na diversidade de vozes que se pode pensar na unidade de uma proposta, uma vez que está direcionada ao bem comum. Neste sentido, a primeira chave a ser considerada é a da cidadania, pois ela reflete tanto na inserção de cada integrante da comunidade escolar como no exercício de seus direitos e deveres. Essa integração é essencial para que a gestão escolar possa ganhar legitimidade no âmbito da prática gestora. A cidadania é a capacidade de pertencer a sociedade, exercitando seu direito de voz, voto e vez. Esse exercício aponta para a presença da responsabilidade que cada cidadão tem com a sociedade. A responsabilidade pode ser vista na interrelação entre o saber-dever. Afinal, quando se tem conhecimento sobre algo, não se pode usar a desculpa do desconhecimento. Antes, “[...] os sujeitos devem ser reconhecidos como agente de um fazer e de um saber, na medida em que mediatizam as relações entre escola, sociedade e conhecimento” (SOUSA, 2012, p. 232). No contexto da comunidade escolar, a cidadania é uma marca indispensável para o bom andamento da prática gestora, visto que, ao mesmo tempo em que reclama para si os direitos, em contrapartida ela manifesta o saber-dever que precisa ser efetivado por cada um dos seus integrantes. Afinal, para Sousa (2012, p. 231), “as práticas escolares podem traduzir- se na forma de gestão da escola, visto que a maneira como esse processo ocorre interfere na construção identitária”, da qual a cidadania é parte integrante. Ainda sobre a inserção da cidadania no contexto de uma prática gestora democrática, faz-se necessário dizer que ela atuará em âmbitos distintos da vida em sociedade. Esses âmbitos vão da política até a convivência intercultural. Isso indica que “a cidadania é essencialmente consciência de direitos e deveres e exercício da democracia” (GADOTTI, 2001, p. 67). A cidadania, enquanto ação consciente, estabelece a perspectiva da alteridade. Assim, o sujeito não pode ser visto isoladamente, mas em relação com o outro, reconhecendo-se e completando-se no outro. Essa é a consciência de pertencimento social. Quando se fala em cidadania na escola, o que está por trás é a ampliação de oportunidades para a formação do ser cidadão, na medida em que lhe são conferidos conhecimentos essenciais ao exercício de seus direitos e deveres. Assim, “não se pode falar em cidadania, se a escola nega as oportunidades para que se aprenda a ler, a escrever, a pensar, a calcular ...” (OYAFUSO; MAIA, 2004, p. 97). Assim, cabe à escola assegurar não apenas os conhecimentos sistematizados, mas aqueles que promovam o desenvolvimento de valores, princípios e atitudes destinadas à convivência e ao relacionamento interpessoal, o que se torna uma ação fundamental a ser projetada pela prática gestora. Conclui-se que a cidadania é uma marca da gestão escolar, o que a torna uma chave fundamental na prática a ser efetivada na comunidade escolar, visto que o seu exercício traz a cada sujeito, a consciência de si, do outro e da realidade em que é parte. A Segunda Chave da Gestão: Participação Nesta Unidade Temática é apresentada a segunda chave da gestão democrática escolar, a participação. Essa participação requer a colaboração efetiva da comunidade escolar, por isso que ela será aqui denominada de gestão participativa colaborativa. A intenção é valorizar o papel a ser exercido pela comunidade e que vai além da consulta, mas do exercício de protagonismo social. Libâneo, Oliveira e Toschi (2012), ao abordarem sobre a participação, informam que ela é o principal meio de concretização da prática gestora democrática. Eles, ainda, asseveram a participação estar fundamentada no princípio da autonomia, que diz respeito à maneira como pessoas e grupos exercem a livre determinação para conduzir a própria vida. É por isso que não se pode desvincular a participação da colaboração nos processos decisórios da comunidade escolar. Antes ela se faz presente “em cada momento, em cada ação, em cada desafio novo, devem ser pensadas novas formas de vida na escola; essas novas formas só podem ser consistentes se partem da reflexão coletiva” (SABIÁ; BROCANELLI, 2014, p. 38). A participação colaborativa pensada no âmbito da gestão escolar é aquela que permite a presença do outro, no tocante à expressão de sua vez e voz. É, portanto, uma forma democrática de existir e posicionar-se frente ao seu contexto e às suas práticas. Corresponde a dar vez e voz e envolver na construção e implementação do seu projeto político pedagógico a comunidade escolar como um todo: professores, funcionários, alunos, pais e até mesmo a comunidade externa da escola, mediante uma estratégia aberta de diálogo e construção do entendimento de responsabilidade coletiva pela educação. (LÜCK, 2006, p.81) Este posicionar-se da gestão da escola implica na possibilidade de estar aberto para ouvircríticas e sugestões; promover reflexão; planejar coletivamente; mudar e ou transformar práticas; decidir em conjunto; desafiar e ser desafiado; estreitar relacionamento com a comunidade escolar; reconhecer sua limitação; construir novos processos educacionais e assegurar e aperfeiçoar a aprendizagem de seus alunos. A chave de participação na gestão democrática escolar pode ser encontrada nos art 13 e 14 da LDBEN 9394/96 e que foram apresentados na Unidade Temática 1, mas não custa rememorar. Esses artigos preveem que: Art 13: Os docentes incumbir-se-ão de: II - Participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; [...] VI- Colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade. Art 14: os sistemas de ensino definirão as normas de gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I Participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II Participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. (grifos nossos). Neste sentido é possível dizer que a participação faz toda a diferença no contexto da prática gestora, à medida que confere maior visibilidade e legitimidade à comunidade escolar. É por este motivo que: A participação, em seu sentido pleno, caracteriza-se por uma força de atuação consistente pela qual os membros da escola reconhecem e assumem seu poder de exercer influência na dinâmica dessa unidade social, de sua cultura e dos seus resultados. Esse poder seria resultante de sua competência e vontade de compreender, decidir e agir em torno de questões que lhe dizem respeito (LÜCK, 2000, p.27). Nesta direção, não há como promover esta abertura sem que realmente a escola esteja preparada para tal ação, pois é preciso desejar e ainda querer praticar, pois nesta nova ótica de participação colaborativa dá- se a ruptura com o antigo modelo de gestão calcado na burocratização, centralização, hierarquização e transferência de responsabilidades. A aproximação da escola com a comunidade oportuniza o trabalho coletivo e a corresponsabilidade tão necessária à tomada de decisão. O gestor não pode ser tomado como aquele que pensa e age solitariamente, mas aquele que provoca e desafia os demais protagonistas ao exercício contínuo da reflexão sobre a ação, nascendo assim a mobilização em prol da participação. É neste ato reflexivo que a escola ganha identidade e visibilidade quanto à sua missão, visão, valores e princípios que norteiam a sua prática educativa. Por este motivo, a comunidade encontra o real sentido de escola e ressignifica o seu papel de caráter social, histórico e educacional. Não é por acaso, que a “participação é o principal meio de assegurar a gestão democrática da escola, possibilitando o envolvimento de profissionais e usuários no processo de tomada de decisões” (LIBÂNEO, 2004, p.102). Esta peculiaridade confere a participação uma posição de destaque, na medida em que oportuniza a convivência e o respeito pela diversidade de ideias, posições e ainda, procura estar atenta aos objetivos da escola acordados por toda comunidade escolar. A participação colaborativa implica, também, na formação de equipes que unidas por uma missão trabalham em prol da qualidade de educação a ser oportunizada pela escola e que por isto, não pode perder de vista a formação desenhada no seu projeto político pedagógico. Sem participação colaborativa a gestão escolar não consegue dar continuidade à prática democrática e nem mesmo as ações que transformam os seus que fazeres voltados à emancipação dos sujeitos envolvidos, quer direta ou indiretamente no trabalho educacional e formativo. Participar implica na ação refletida, pensada e decidida conjuntamente, em prol da qualidade da educação, dos seus processos e desafios que tornam a escola o que ela é, um espaço de inovações, descobertas, inquietações e aprendizagem. Assim, não basta falar em gestão participativa, mas vivê-la e experimentá-la no dia a dia da escola que ousa e exerce sua autonomia. Assim, a proposta a ser perseguida volta-se para a compreensão do papel do gestor e da implicação de sua atuação na concretização dos objetivos educacionais delineados no projeto de escola a ser implementado. Espero que você tenha apreciado o estudo sobre participação na gestão democrática. A Terceira Chave da Gestão Escolar: Autonomia O objetivo desta Unidade Temática é apresentar a terceira chave da gestão democrática, a autonomia. A autonomia implica no desejo de querer algo, seja no campo do fazer, do decidir, do dizer, do sentir. Se não há o desejo de querer, não há o exercício de autonomia. Por isso, que a sua presença é impactante, visto que, ela revela a intenção do querer em relação a algo a ser modificado, substituído, resinificado. No campo da gestão escolar a busca pela autonomia da escola pode ser considerada na capacidade de autogestão, que constrói, colaborativamente, normas, objetivos, metas e processos formativos de desenvolvimento e aprendizagem, os quais abrangem sem distinção toda a comunidade escolar. Assim, “a autonomia da escola e gestão democrática são duas dimensões indissociáveis e inalienáveis na construção de uma prática educativa de qualidade” (WITTMANN, 2000, p. 91). Neste sentido, pode-se dizer que a qualidade de ensino proposta no Projeto de Escola e PPP está diretamente associada ao processo de autonomia e gestão escolar praticados, isso indica que, quanto o maior o desejo da comunidade escolar em querer participar das decisões da escola, mais efetiva será a mudança e o processo de emancipação das práticas educativas e sociais voltadas para a formação e a aprendizagem dos sujeitos aprendentes. Ao reconhecer o papel da autonomia a ser exercido no contexto educativo, faz-se necessário refletir sobre o que não se configura como autonomia. Para tal, usa-se a categorização de Lück (2006, p. 122), ao esclarecer que não há autonomia quando a ação é particularizada e não compartilhada. Isso é interessante, porque a ideia de autonomia sugere a presença de uma ação individualizada, ou seja, que parte da vontade de cada sujeito. Talvez, aqui, resida o maior obstáculo para sua efetivação, ou seja, o desejo de engajamento das pessoas em prol de uma ideia ou ação. Sobre isso, Alves (1999, p. 15) assevera que: A um movimento nacional pela autonomia da escola deve corresponder a existência de um sujeito concreto, criador e garante da autonomia da unidade escolar, para que não se caia no erro de doar-se ou impor-se uma escola autônoma a pessoas que não a querem ou não a compreendem. De fato, o alerta de Alves é relevante, visto que a autonomia não pode ser considerada como modismo ou tampouco imposição. Antes, é um desejo, um querer da própria comunidade escolar. Por isso que a figura do gestor é tão importante, porque é ele que garantirá ou traduzirá a vontade das pessoas sobre o jeito de ser e fazer da escola. Lück (2006, p. 122), ainda, sinaliza que a autonomia não está presente de uma forma automática no contexto da comunidade escolar, por isso que alerta para algumas atitudes que demonstram sua total ausência. Essa ausência ocorre nas seguintes situações: 1. 1. Cada um atuando no seu espaço, desconsiderando os demais; 2. Cada um empolgado no seu projeto; 3. Atitude de aguardar o sinal externo para agir; 4. Falta de uma pauta para orientar o trabalho; 5. Falta de respeito a uma pauta estabelecida; 6. Individualismo – cada um na sua; 7. Falta de uma orientação comum; e 8. Demora para engrenar no trabalho. Diante do exposto é possível extrair alguns pressupostos. O primeiro é que a autonomia é uma construção coletiva; segundo, que é necessário que ocorra em um espaço coletivo; terceiro, que tenha umplano normativo e comum; quarto, que reclama a proatividade em prol de um objetivo comum; quinto, que se cumpra o acordado; e por fim, que seja participativo, fruto da ação e do trabalho de equipe. Lück (2016, p. 120) relaciona as características do que ela compreende ser autonomia. São elas: Perspectiva de alunos como sujeitos; comunicação e processo interativo abertos; participação de todos; prática de valores: responsabilidade, organização, respeito, respeito interpessoal; criatividade; consciência da relação entre direitos e deveres; uso produtivo da liberdade; integração escola e comunidade, a partir de ações voltadas para a qualidade; comprometimento com a qualidade contínua; e ação orientada para construção da credibilidade. A partir dos pressupostos elencados já é possível ter uma definição clara sobre o sentido de ser da autonomia a ser refletida na prática da gestão democrática escolar, assim: A autonomia de gestão escolar corresponde à associação entre tomada de decisão e ação, entre planejamento e compromisso com a execução do planejado, entre execução e monitoramento, entre avaliação e prestação de contas, entre resultados promovidos e recursos utilizados. (LÜCK, 2006, p.128) O sentido de ser da autonomia é promover a corresponsabilização dos participantes da comunidade escolar, mediante a sua contribuição na consecução da finalidade educativa. Isso requer envolvimento, participação e, acima de tudo, o desejo de fazer algo em prol da formação e da aprendizagem dos sujeitos aprendentes. É nesse momento que a escola decide sobre o que ela deseja ser e como deseja ser conhecida. O envolvimento da comunidade escolar no processo de decisão possibilita não apenas a adesão, mas a cumplicidade sobre as ações e práticas a serem materializadas. Por isso, que não se pode pensar na autonomia como uma resposta solitária, antes, ela reclama a responsabilização de uma coletividade sobre aquilo que ela projeta, acolhe e decide em relação ao trabalho educativo a ser desenvolvido. A comunidade escolar é livre para dirigir suas ações, na medida em que assume seu papel e trabalho educativos. Afinal, “a escola não realiza o seu trabalho no vazio; baseia-se em diretrizes e fundamentos do contexto social no qual sua prática pedagógica ganha e constrói significados” (SOUSA, 2012, p. 229). A presença da autonomia no contexto da gestão escolar assegura, ainda, a avaliação das ações efetivadas. Ela sinaliza se a identidade da escola está sendo evidenciada na condução do Projeto de Escola e nos direcionamentos relacionados à construção e desenvolvimento do trabalho educativo. É nesse sentido que se pode pensar na autonomia, enquanto “exercício de democratização de um espaço público” (MENDEL, 2008, p. 101). A democratização é o ponto fundamental da autonomia, uma vez que requer que a comunidade escolar atue como uma unidade em prol da coletividade, na medida em que tenha espaço para exigir e prestar contas sobre o trabalho realizado. Por esse motivo, que a autonomia se torna fundamental para implementar o Projeto de Escola e o PPP, visto sua capacidade de compartilhamento e corresponsabilização exercidos. “É nesse sentido que podemos dizer que a autonomia da escola ocorre à medida que existe também a capacidade de a instituição assumir responsabilidade tornando-se mais competente no seu fazer pedagógico” (MENDEL, 2008, p. 36). Nesse sentido, pode-se dizer que a autonomia está para a competência, assim como a competência para o exercício da autonomia responsável. A partir desta inter-relação cabe a escola desenvolver as seguintes competências formativas: Investimento na capacidade do indivíduo de situar-se em relação aos outros, de estabelecer relações entre objetos, pessoas e ideias; Desenvolvimento da autonomia, isto é, indivíduos capazes de reconhecer nas regras e normas sociais o resultado do acordo mútuo, do respeito ao outro e da reciprocidade; Formação de indivíduos capazes de ser interlocutores competentes, de expressar suas ideias, desejos e vontades de forma cognitiva e verbal, incluindo a perspectiva do outro (nível de informações, de intenções etc.); e Capacidade de dialogar (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 136). A chave da autonomia na gestão escolar pressupõe a presença de certos princípios orientadores da prática a ser efetivada. São eles: comprometimento, compartilhamento de ideias, liderança, competência profissional e técnica; transparência nas ações, visão estratégica da realidade, iniciativa na busca de respostas, criatividade e mobilização coletiva (LÜCK, 2006). Esses princípios serão desenvolvidos numa Unidade Temática própria. Por fim, conclui-se dizendo que a presença da autonomia, enquanto chave da gestão escolar democrática, possibilita a concretização da finalidade educativa, ampliando as possibilidades de ação da comunidade escolar, por meio da garantia de participação e do compartilhamento do trabalho educativo a ser materializado no contexto da escola. A Quarta Chave da Gestão Escolar: Liderança Democrática Nesta Unidade Temática é abordada a questão da liderança democrática, o que implica em pensar no papel a ser exercido pelo gestor frente ao processo educativo. A liderança gestora é aqui denominada democrática, visto que se defende a necessidade de participação e colaboração da comunidade escolar diante de ações e decisões que afetam o seu dia a dia. O líder gestor é responsável pelo bom andamento das práticas educativas efetivadas. Isso indica que a gestão democrática por ele exercida, não o isenta do seu papel de mediador e conciliador diante dos desafios enfrentados. Antes, é considerado como uma referência para a comunidade escolar, exercendo uma função essencial e comprometida com a finalidade educativa. O gestor pode ser considerado um orquestrador das ações educativas, uma vez que sob sua regência torna-se conhecido o caminho a ser seguido, ou seja, a melodia e o tom a serem executados; e isso requer habilidade em oportunizar unidade na diversidade, visto que são vários os protagonistas envolvidos, porém o ritmo da melodia precisa ter harmonia e sonoridade. É preciso, ainda, considerar que a liderança democrática não trabalha sozinha, antes precisa da cooperação de seus participantes, o que implica em buscar adesão e o comprometimento direcionado a um objetivo comum. Isso não é tão fácil, mas se houver transparência, firmeza e reciprocidade, o trabalho será percebido como parte da coletividade e não do esforço centrado em uma pessoa. Santos (2008, p. 49) apresenta cinco pontos que o gestor precisa considerar na sua prática. Esses pontos versam sobre a necessidade de manter relacionamentos saudáveis entre os participantes da comunidade escolar. São eles: 1. 1. criação de um ambiente em que o respeito e a afetividade sejam uma constante; 2. favorecimento do crescimento pessoal e profissional de todas as pessoas que trabalham na escola; 3. humanização do relacionamento, evitando quaisquer preconceitos, mesmo que velados; 4. exercício da cidadania pela comunidade; e 5. envolvimento em todas as decisões fundamentais da escola. Observa-se que, a liderança democrática do gestor tem início com os relacionamentos e é a partir deles que se alicerça um trabalho coletivo, pautados no reconhecimento, na alteridade, na responsabilidade, na potencialização e no esforço de cada participante da comunidade escolar. A liderança democrática está aberta à participação e a interferências da comunidade escolar, por isso, ela necessita estar atenta aos movimentos, aos silêncios e as manifestações que se fazem presentes no interior da escola. Não se pode fechar os olhos diante da realidade. Antes, a leitura dos sinais torna-se a ferramenta indispensável para avaliar o trabalho efetivado, mesmo que seja necessário recomeçar esse trabalho. Ditoisto, compete ao gestor escolar agir com sensibilidade diante dos desafios e das situações a serem enfrentadas. Para que isso ocorra, se requer que ele chame à participação da comunidade escolar, reconhecendo suas limitações e possíveis ingerências. Afinal, ele não é infalível. Por fim, é necessário que ele assegure uma liderança comprometida com o Projeto de Escola desenhado, a fim de que não perca de vista a identidade da escola. Sendo assim, cabe ao gestor estar à frente das seguintes ações da comunidade escolar: Planejamento e coordenação de programas de relações públicas; manutenção de regimentos do pessoal escolar; coordenação de atividades e recursos didáticos para a aprendizagem; supervisão do pessoal profissional; aquisição de suprimento e equipamento necessário (ALONSO, 1976, p. 131). Neste sentido, Santos (2008, p. 15) enfatiza que: “o gestor escolar deve organizar o seu tempo e seu serviço, distribuindo tarefas, delegando autoridade, criando e usando mecanismos modernos e mais adequados”, visto que sua tarefa educativa é estar à frente do seu tempo, num processo contínuo de inovação, reinvenção e significação da sua prática gestora. A proposta a ser perseguida pela liderança democrática da gestão é de que “o gestor escolar não deve se resignar a um trabalho meramente burocrático e sim assumir, com coragem, o seu ser educador, e como líder, impulsionar a comunidade escolar à mudança” (SANTOS, 2008, p. 68). Se isso ocorrer, a comunidade escolar só tem a ganhar, pois, o seu líder reconhece seu papel primordial de ser educador. Ao ser educador sua intenção paira no campo formativo, o qual é o sentido de ser da escola. A perspectiva do gestor, enquanto educador, é relevante, porque a partir do papel exercido é possível ver a correspondência da sua ação na prática educativa, uma vez que ele se encontra “perfeitamente integrado ao processo, coordenando e aprovando todas iniciativas para o êxito da proposta pedagógica, que deve ser construída por toda a comunidade interna e externa” (SANTOS, 2008, p. 48). O campo de ação do gestor é complexo, mas isso é que se torna desafiador. Afinal, é na prática que ele vai se constituindo enquanto líder. É na prática que ele pode confrontar teorias e elaborar novas perspectivas. Afinal, reconhece-se que “a modernidade exige gestores mais dinâmicos, criativos e capazes de interpretar as exigências de cada momento e de instaurar condições mais adequadas de trabalho na escola” (SANTOS, 2008, p. 12). Santos (2008, p. 36), ainda, ressalta que a função da liderança é influenciar os liderados, no sentido de atuarem em prol de um objetivo comum. Por isso que na sua percepção, o líder precisa desenvolver o perfil de liderança, fundamentado nos 7 cês: “credibilidade, convicção, caráter, cuidado, coragem, compostura e competência”. Ao ler sobre os 7 cês da liderança gestora, observa-se que a descrição apresentada sinaliza para atitudes de natureza valorativa e que refletem na postura ética que se espera não apenas do líder, mas, dos liderados. 7 CÊS DA LIDERANÇA GESTORA Não cabe aqui desenhar um perfil engessado do líder democrático, mas a partir dos 7 cês, é possível apontar algumas características que são fundamentais a sua prática gestora. Essas características são apresentadas em um rol exemplificativo, o que pode ser ampliada, reduzida e revisada continuamente. Diante disto, enumera-se como competências essenciais: 1- Criatividade e Proatividade; 2- Humildade e Assertividade; 3- Atenção e Escuta Sensível; 4- Visão Prospectiva e Reflexiva; 5- Dinamicidade na Resolução de Conflitos; 6- Bom senso e criticidade; 7- Responsabilidade e comprometimento; 8- Percepção da missão e da finalidade educativa; 9- Sinceridade e transparência nas ações e decisões; 10- Proximidade e empatia. Para finalizar, é preciso ressaltar que no contexto da liderança democrática está implícita, ainda, a necessidade de adequação às mudanças e a reconsideração de posicionamentos, a fim de que as decisões possam de fato atender ao que está proposto no Projeto de Escola e no PPP. Espero que você tenha apreciado este tema e que possa fazer pesquisas acerca dele. Afinal, é muito bom quando se pode aprender mais a partir de leituras e investigações. Princípios da Gestão Escolar Nesta Unidade Temática é apresentada uma lista de princípios a serem aplicados no contexto da gestão escolar e que atinge a todos aqueles que fazem parte da comunidade escolar. Esses princípios foram desenvolvidos por Lück (2006) e serão aqui explicitados. É claro que o rol é exemplificativo, o que cabe ampliação, redução e aglutinação, por isso, devem ser considerados como uma unidade e não compreendidos isoladamente. Vamos começar? A palavra princípio vem do latim principium, cujo significado é causa primeira, origem, base, lei, norma. A partir do sentido atribuído ao princípio pode-se inferir que ele é considerado o pilar de sustentação de uma ideia, quer seja em forma de teoria ou pensamento. O princípio assegura a ação, imprimindo movimento e valor. Um valor que não pode ser alterado, mas observado e praticado em ação. O rol de princípios alistados por Lück (2006) é esse: comprometimento, compartilhamento de ideias, liderança, competência profissional e técnica; transparência nas ações, visão estratégica da realidade, iniciativa na busca de respostas, criatividade e mobilização coletiva. Acrescentam-se a esta lista a alteridade e a escuta sensível. O primeiro princípio Comprometimento revela a presença da responsabilidade diante da prática gestora. Estar comprometido é estar conectado com a ação a ser efetivada. Lück (2006, p. 108) escreve que o comprometimento é uma atitude diante da educação, dos processos e dos resultados. Então, o Comprometimento revela o grau de envolvimento da gestão escolar com a finalidade formativa a ser perseguida por toda a comunidade escolar. O segundo princípio Competência explicita sobre o saber-fazer. Esse saber-fazer não está associado apenas ao trabalho técnico, mas a capacidade de mobilizar recursos para que a finalidade seja assegurada e concretizada pela comunidade escolar. Observe que a competência é também uma ação profissional, que segundo Lück (2006, p. 108) requer reflexão, estudo, observações e sistematização. Isso indica que a competência está diretamente associada ao papel de cada profissional envolvido na ação educativa. O terceiro princípio Liderança recai sobre a figura do líder e de seu potencial para influenciar e mobilizar pessoas para ação. A liderança não pode ser compreendida, apenas, como capacidade de comando, mas de condução compartilhada dos processos gestores. Essa condução requer sabedoria e, acima de tudo, respeito pelos liderados. Para Lück (2006, p. 108), a liderança é a atuação que direciona para o bem comum. No caso da comunidade escolar, o bem comum é o que conduz as ações para a formação humana O quarto princípio Mobilização Coletiva explicita a necessidade de trabalho coletivo. Afinal, no âmbito da gestão democrática a que se pensar no envolvimento da comunidade escolar em prol de um objetivo comum. Esse objetivo precisa ser conhecido por todos. Na mobilização coletiva o esforço é compartilhado e partilhado entre os integrantes da escola. Lück (2006, p. 108) arremata afirmando que: “Boa ação é aquela que se integra a outras e não a que é isolada”, isso indica cumplicidade, diante do pensado e a ser realizado. O quinto princípio Transparência requer que os atos e as decisões sejam comunicados de maneira pontual e correta. Afinal, não se pode agir em nome da coletividade em segredo. É preciso, sim, prestar contas. O ato de prestar contas indica lisura e respeito com os liderados. Ao agir assim, a comunidade escolar se sente segura para endossar, apoiar, aprovar e acompanhar as decisões do líder. Lück (2006, p.109) revela que a transparênciase torna a condição essencial para o engajamento da comunidade escolar nas ações a serem materializadas. O sexto princípio Visão Estratégica reflete na capacidade do líder de estar à frente do seu tempo. A partir da visão estratégica é possível criar planos, reorientar rotas e inovar a prática gestora. A visão estratégica tem tudo a ver com a identidade constituída no Projeto de Escola e no PPP, isso porque, ela inicia a partir da eleição da missão, da visão e dos valores defendidos pela comunidade escolar. Lück (2006, p. 109) informa que a visão estratégica é a condição de a escola responder aos desafios e a refletir sobre sua ação. A partir da visão estratégica a escola é desafiada a sair da zona de conforto, procurando inovar-se continuamente. O sétimo princípio Visão Proativa tem muito a ver com a visão estratégica, pois, reclama a necessidade de resposta imediata e de ação contínua, direcionada à tomada de decisão frente a uma situação problema. A visão proativa requer sensibilidade dos líderes para agir na urgência, sem deixar que o problema se torne difícil de ser administrado. Na linguagem popular seria “evitar o leite derramado” ou ainda a “bola de neve”. Sobre a visão proativa, Lück (2006, p 109) assevera ser ela “uma orientação positiva da capacidade própria de enfrentar desafios, assumir responsabilidades e criativamente enfrentá-las”. Pode-se dizer que a visão proativa é estar sempre um passo à frente do desafio a ser enfrentado. O oitavo princípio Iniciativa está compreendido nos demais princípios. Afinal, não se pode pensar em Iniciativa distanciado da visão estratégica e proativa e, nem mesmo da competência, do comprometimento, da liderança. Observa-se que este princípio é recíproco aos demais, na medida em que os complementa. A iniciativa subtrai a atitude de inércia e acomodação e reclama a capacidade para tomar à frente da situação, ou seja, na linguagem da administração é ser reconhecido como “o pai da criança”. A iniciativa, então, chama o líder à responsabilidade. É neste sentido que Lück (2006, p. 110) afirma: “Quem não toma a iniciativa, transfere responsabilidades e deixa de exercer o espírito de autonomia”. O nono princípio Criatividade é um dos elementos que mais necessita ser explorado. Afinal, a criatividade é a capacidade de olhar para o mesmo objeto com um posicionamento diferente. Essa perspectiva é assinalada por Lück (2006, p. 110), ao dizer que: “A criatividade implica olhar com olhar diferente e novo a realidade”. Isso indica que a criatividade altera a forma de ver dos sujeitos, quando ela propõe novas maneiras de lidar e enfrentar com as situações-problema. A criatividade é uma competência fundamental para dar vida aos demais princípios. Ao fazer um desenho dos princípios elencados, a criatividade ocuparia o centro da ação, que irradiaria nova visão para os demais princípios a serem desenvolvidos. O décimo princípio é a Escuta Sensível, que revela a necessidade de o líder estar aberto para ouvir com atenção os liderados. A presença da escuta sensível traz dentro de si a atitude de empatia, o que elimina olhar para o outro como se fosse um adversário. No campo da escuta sensível não se faz jogos de interesses e não se está interessado em “puxar o tapete”, antes é preciso reconhecer no outro a presença de um aliado, que tem como proposta o bem comum. O décimo primeiro princípio é a Alteridade que se manifesta na atitude de se colocar no lugar do outro. Isso indica que é preciso reconhecer que as ações impactam a vida do outro, seja positiva ou negativamente, por isso, quando o líder se enxerga no lugar do outro, o que ele está demonstrando é que esse outro é importante e suas ideias têm valor no espaço na comunidade escolar. Por isso, que o líder precisa medir o impacto das suas ações e decisões, antes mesmo de colocá-las em prática. A partir dos princípios vai se tornando mais clara a função da gestão escolar nos processos decisórios da escola e na afirmação da sua identidade e razão de ser. Espero que os conceitos estejam ajudando na construção e sistematização deste conhecimento. A Prática Investigativa na Gestão Escolar A proposta desta Unidade Temática é abordar sobre a prática investigativa na gestão escolar. Esse é um campo que precisa ser considerado pela liderança gestora, visto que a prática investigativa ajuda na compreensão sobre o contexto em que se está inserido, facilitando a tomada de decisão. Quando se fala de prática investigativa, o que se tem em mente é a possibilidade de solucionar problemas ou de dar respostas, a partir de uma metodologia a ser aplicada. A metodologia da prática investigativa indica os passos a serem dados, mediante às descobertas efetivadas. Isso lembra uma figura clássica no ramo da investigação. A figura do detetive Holmes, que é comumente associada a casos e mistérios desvendados com o auxílio de pistas. A metodologia que pode ser aplicada à prática investigativa na gestão escolar é do ciclo da investigação-ação, visto que ela tem como intenção analisar o problema situado na realidade escolar. O ciclo de investigação apresenta os seguintes passos: 1. 1. 1. Definição do Problema; 2. Planejamento e Intervenção; 3. Implementação das Intervenções; 4. Avaliação das Intervenções 5. Retomada do Problema. Ressalta-se que os passos não são fechados e nem mesmo hierarquizados, antes, fazem parte do processo de investigação que permite idas e vindas contínuas. Pode-se fazer a seguinte representação do ciclo investigativo: A definição do problema é quando se observa na realidade uma zona de conflito e que não se sabe bem como solucioná-la, por isso que é preciso identificar o ponto desestabilizador. A partir do ponto identificado, é preciso fazer um plano de ação para intervenção. Esse plano delineia possíveis formas para o tratamento do problema. Essas formas são colocadas em ação, ou seja, implementadas, no sentido de atuar em cima do problema levantado. É claro que é possível surgir novos problemas, por isso que se faz necessário a avaliação, a fim de que possa verificar as respostas encontradas e se elas são eficazes. Caso não sejam eficazes, ocorre a retomada do problema, porém, se são eficazes, elas sinalizam para outras formas de agir, dando início a um novo ciclo investigativo. A aplicação do ciclo investigativo possibilita a gestão escolar agir com proatividade e não para “apagar o incêndio”, visto que está sempre alerta em relação aos problemas que podem ser levantados. O ciclo investigativo é uma excelente ferramenta de reflexão sobre a ação, na medida em que fornece elementos para agir refletidamente sobre um problema encontrado no contexto escolar. A célebre frase “é elementar meu caro Watson”, evidencia o raciocínio lógico de que se valeu, Holmes, no processo de investigação. Este processo é iniciado diante da existência de um fato ocorrido e que se torna objeto da atenção do detetive na conexão dos fios que trarão à tona as suas descobertas ou revelações. Os sinais tornam-se evidências no entendimento da lógica da trama perseguida e que por isto são imprescindíveis na composição do mistério investigado. É por esse motivo que se pode fazer uma analogia entre o processo investigativo de Holmes e o ciclo da investigação-ação. Ambas, partem de um problema e de seus sinais evidenciados na realidade. Ao lançar mão da prática investigativa na comunidade escolar, verifica-se que o gestor também interpreta sinais, mesmo antes da ocorrência de um fato. Sua análise volta-se para uma postura prospectiva que traduzirá na tomada de decisão resultante de um processo de escuta e isso remete à habilidade de perceber nas entrelinhas tecidas as necessidades de uma realidade que requer atitude e oportunidade na construção de novas alternativas viáveis para a escola. Esta ação oportuniza ao gestor escolar sentir a realidade, perceberas possibilidades e enfrentar com cautela os desafios e as urgências que se colocam no cenário em que seu trabalho toma corpo e lugar. Para isto, ele precisa levantar cuidadosamente as pistas e construir um plano de ação que oportunize trabalhar local e globalmente em seu contexto. Neste plano de ação são delineadas as estratégias, as metas e a previsão de resultados que oportunizarão atender às demandas do dia a dia, bem como os imprevistos que aparecerão no percurso de sua atividade gestora. Para lidar com estes desafios é preciso que o gestor envolva sua equipe, faça acreditar nos objetivos da instituição e que juntos promovam as mudanças e adaptações na tentativa de resolução dos problemas levantados. Desta forma, o trabalho do gestor escolar não é solitário, ele, assim como Holmes, precisa de um confidente, ou melhor, um companheiro leal que possa dividir as dúvidas e conclusões, o que implica na necessidade de compartilhar suas ideias e é nesta direção que a figura do outro se estabelece. Assim, pode-se dizer que: o gestor escolar ao utilizar ferramentas investigativas na condução de sua ação possibilita antever as consequências e dar respostas rápidas e conclusivas a uma situação, a partir de uma análise reflexiva que envolve sinais, escuta, postura e a presença do outro. Parafraseando Holmes: isto é elementar meu caro leitor” para que a gestão escolar de fato aconteça. Conselho Escolar: A Távola Redonda da Gestão Nesta Unidade de Temática é abordado sobre o Conselho Escolar e sua finalidade no contexto da organização e da gestão escolar. O Conselho Escolar é um mecanismo que ajuda e colabora no processo das práticas educativas a serem efetivadas. Se fará o uso da analogia para apresentar a temática. A analogia será feita entre a forma de organização e ação do Conselho Escolar com os cavaleiros da távola redonda. Conta a história lendária que o rei Artur reuniu um grupo de leais cavaleiros em torno de uma távola redonda. A ideia era de que todos os participantes pudessem ficar frente a frente para resolver e tomar decisões. Objetiva-se, ainda, a não hierarquização, ou seja, todos eram importantes e tratados com o mesmo grau de igualdade. A história lendária sobre a távola redonda ajuda no entendimento sobre o papel do Conselho Escolar no desenvolvimento da prática gestora participativa, em qualquer âmbito social e, principalmente da escola. Isto porque, a compreensão do sentido dado à “távola redonda” tem muito a ver com a razão de ser do conselho de escola. No ato de discussão de ideias, de projetos e de estratégias a serem materializadas na realidade em prol do bem comum, o caminho escolhido era do diálogo, como proposta de mediação e de escuta. Este sentido participativo pode ser evidenciado na prática efetivada no ato de tomada de decisão dos nobres cavaleiros, que ao se reunirem ao redor de uma mesa redonda discutiam os problemas e as estratégias de ação que seriam seguidas, na tentativa de resolver a questão levantada. E o critério de decisão seguia o da maioria. Esse também é o critério de decisão validado no interior do Conselho Escolar. O Conselho Escolar é um mecanismo criado a partir da ideia de gestão democrática. Ele é órgão consultivo, deliberativo e fiscalizador da gestão. Essas funções são interdependentes e complementares, cabendo ao conselho elaborar, aprovar, assessorar, discutir, avaliar, promover e mobilizar a comunidade escolar e local. A composição é feita por eleição, que pode ocorrer no início do ano letivo. “Sua composição tem certa proporcionalidade de participação dos docentes, dos especialistas em educação, dos funcionários, dos alunos e seus pais” (LIBÂNEO, 2012, p. 464), porém ressalta-se que qualquer um dos conselheiros que perder seu vínculo com a escola, não poderá mais atuar no Conselho. Veiga (2007, p. 125) apresenta quatro formas de escolha dos conselheiros: 1. definida pelo regimento interno de cada conselho; 2. diretoria eleita pela Assembleia, sendo elegíveis professores, pais e profissionais da educação; 3. escolhidos em assembleia geral de cada segmento e eleitos por seus pares onde o diretor é membro nato; e 4. eleição mediante chapas organizadas e respeitando a proporcionalidade. No Conselho Escolar, as vozes ganham força, junto com os argumentos tecidos que devem estar pautados numa proposta justa, igualitária e democrática, ou seja, que de fato atenda a uma finalidade social. Isso porque, o Conselho Escolar é considerado “como espaço de debates e discussão, permite que professores, funcionários, pais e alunos explicitem seus interesses e suas reivindicações” (VEIGA, 2007, p. 120). Ao transpor o sentido da participação para o espaço da escola é preciso ter em mente que a finalidade educativa a ser perseguida é a da concretização do exercício da cidadania, a qual encontra lugar e espaço numa visão e postura democráticas. Por isso, que ao assumir a gestão como uma prática social democrática e participativa é fazer valer os princípios sustentadores do sentido da “távola redonda”. É acreditar no diálogo e na integração a ser conquistada entre os participantes, em prol da qualidade de ensino e da formação humana. Diante disso, são elencados quatro objetivos associados ao desempenho do Conselho Escolar, a saber: 1. favorecer a aproximação dos centros de decisões dos atores; 2. facilitar a comunicação e romper com as relações burocráticas, hierárquicas e formais; 3. possibilitar a delegação de responsabilidades e o envolvimento dos diferentes segmentos; 4. gerar empoderamento, isto é, descentralização, ou melhor, desconcentração de poder (VEIGA, 2007, p. 120-121). Isso quer dizer que ao se instaurar um processo participativo, por meio do conselho de escola é assegurado o direito de cada um exercer a sua voz e, ainda, de sentir-se parte de uma ação que visa transformação social, política e humana. O Conselho de escola pode vir a ser a mola propulsora da democracia no espaço educacional e social, que é abrangido por sua ação comprometida e responsável. “É, portanto, um dos instrumentos de democratização da escola pública. É parte da estrutura de gestão da escola, espaço público e gratuito da inclusão, da heterogeneidade e da igualdade política e cidadã” (VEIGA, 2007, p. 120) A prática da gestão escolar democrática se torna significativa quando a participação, a corresponsabilidade e o compromisso são assumidos coletivamente, o que sinaliza para um pensar em conjunto, sendo esta ação referente da prática a ser colocada em ação. Ao falar em gestão escolar participativa é preciso levar em consideração as ferramentas para sua viabilização e uma delas é o conselho de escola, que objetiva em primeiro plano “a socialização, discussão e construção de trabalhos coletivos da escola e da comunidade” (MEC, 2006. p. 46). Não se pode perder de vista o sentido da existência do conselho de escola, antes o trabalho e o desafio a ser assumido volta-se para a sua legitimação como um instrumento de sonhar projetos e de torná-los reais. A busca, então, não está apenas num ato reflexivo, mas na ação que foi originada na reflexão. O conselho de escola afirma-se como uma função própria de discutir, de planejar, de se fazer escutar sobre a trajetória a ser seguida pela escola, no que diz respeito a sua missão e a sua visão. O conselho de escola, ainda, funciona como um agente ativo de afirmação dos valores éticos desenhados e incorporados na prática educativa, pois é justamente em cima do valor que a prática democrática é consolidada quer seja nos discursos produzidos, quer seja nas ações e relações geradas. A preocupação do conselho de escola deve ser a cidadania, a autonomia e o direito de expressão de vez e voz da comunidade educativa, que não se reduz ao contexto puramente escolar. Antes, sua ação é inclusiva e prospectiva da escola. O sentimento
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