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1 Jéssica N. Monte – Turma 106 Endocrinologia DISTÚRBIOS DA HOMEOSTASE DO SÓDIO E DA ÁGUA O sódio é o principal íon extracelular e, conse- quentemente, o principal determinante da osmo- lalidade plasmática. Mesmo pequenas alterações na osmolalidade são detectadas pelo hipotálamo, provocando o estí- mulo da sede, e liberação do ADH na desidrata- ção; ou a supressão do ADH. O volume efetivo circulante é detectado por re- ceptores na arteríola eferente nos glomérulos (secretam renina para aumento da reabsorção tubular de sódio), no seio carotídeo (secreta adrenalina para aumento da PA), nos átrios (res- ponde à sobrecarga hídrica, é um estímulo para a supressão da renina e estimula a natriurese) e nos ventrículos. A falta de acesso livre à água e a desidratação levam à hipernatremia (aumento da concentra- ção de Na+). Já a incapacidade de suprimir o ADH leva à hiponatremia (redução da concentração de Na+). HIPONATREMIA É o distúrbio eletrolítico mais comum na prática clínica. HIPONATREMIA HIPERTÔNICA Osmolalidade plasmática > 295 mOsm/L. A causa mais comum é a hiperglicemia. A glicose atua como partícula osmoticamente ativa, levando à água do intra para o extracelular e, consequentemente, a queda da concentração de Na+). HIPONATREMIA ISOTÔNICA Osmolalidade plasmática de 280 a 295 mOsm/L. Também chamada de “pseudo-hiponatremia”, pois há uma medida de sódio falsamente baixa. As principais causas são a hipertrigliceridemia e a hiperproteinemia graves. HIPONATREMIA HIPOTÔNICA Osmolalidade plasmática < 280 mOsm/L. Aqui entram as causas relacionadas à hipovole- mia, ao uso de diuréticas, à insuficiência suprar- renal e as causas de hiponatremia euvolêmica. As causas relacionadas à hiponatremia ocorrem devido ao aumento fisiológico da secreção de ADH. A hipovolemia pode ser absoluta, como na diar- reia e na ingestão reduzida, ou relativa, como na ICC, na síndrome nefrótica e na cirrose. As causas de hiponatremia euvolêmica incluem o hipotireoidismo, a polidipsia psicogênica (ingestão compulsiva de água sem razão real e sem sede) e a síndrome de secreção inapropriada do ADH (SIADH). SÍNDROME DA SECREÇÃO INAPROPRI- ADA DO ADH (SIADH) Trata-se da incapacidade de suprimir a secreção do ADH em condições em que ele estaria supri- mido. Entre as possíveis causas, destacam-se as do- enças do SNC, patologias pulmonares, neoplasias e medicamentos, como antidepressivos e a Car- bamazepina. As manifestações são aquelas da doença de base e decorrentes da hiponatremia. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS Euvolemia. Osmolalidade sérica diminuída (<270 mOsM/L). Osmolalidade urinária elevada (>100 mOsm/L). Sódio urinário elevado (>40 mEq/L). Função renal, hepática, tireoidiana e suprarrenal normais. 2 Jéssica N. Monte – Turma 106 Endocrinologia Além disso, as manifestações laboratoriais in- cluem ácido úrico e ureia séricos baixos, creati- nina, potássio e pH normais. TRATAMENTO O primeiro passo do tratamento é, sempre que possível o controle da causa da SIADH. Quando isso não por possível deve-se corrigir a hiponatremia de forma breve. A restrição hídrica é fundamental e central no tratamento. A ingestão hídrica deve ser reduzida a 800 mL/dia. Se houver depleção do estoque total de Na+, deve-se aumentar o aporte de NaCl, lembrando que sua correção deve ser gradual para evitar mielinólise pontinha. Pode-se lançar mão de diuréticos de alça, que promovem a excreção de água livre e reduzem o gradiente no rim, neutralizando, em parte, os efeitos do ADH. Outros medicamentos incluem a Demeclociclina (indisponível no Brasil) e o Carbonato de Lítio, de- vido ao seu efeito inibidor do ADH. Existem também os antagonistas dos receptores de ADH, que aumentam a excreção de água livre. Entre eles há o Conivaptan (bloqueador dos re- ceptores V1a e V2) e o Tolvaptan (bloqueador es- pecífico do receptor V2). HIPERNATREMIA As principais causas de hipernatremia são: suor, diarreia, vômito, diabetes insípido (central ou ne- frogênico), diabetes melito com hiperglicemia sustentada, uso de diurético osmótico, convul- sões, sobrecarga de sódio e hiperaldosteronismo. Se a osmolalidade urinária estiver aumentada (>600 mOsm/L), a ação do ADH está íntegra, e os diagnósticos possíveis são perdas não repos- tas, sobrecarga salina e hipodipsia central (raro). Se a osmolalidade urinária estiver reduzida (<600 mOsm/L), deve-se avaliar o diabetes insípido. DIABETES INSÍPIDO Define-se pela ausência (DI central) ou resistên- cia (DI nefrogênico) ao ADH. Leva à incapacidade de concentrar a urina e, portanto, à perda de água livre pelo rim. As etiologias podem ser congênitas ou adquiridas, sendo o DI nefrogênico adquirido a forma mais comum. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS As principais manifestações cínicas são poliúria (>40 mL/kg/dia), polidipsia e sede, especial- mente por líquidos gelados. Em casos de evolução prolongada, podem-se en- contrar também perda de peso (a polidipsia pode 3 Jéssica N. Monte – Turma 106 Endocrinologia levar à anorexia) e redução da densidade mineral óssea. Pacientes sem livre acesso à água podem apre- sentar manifestações de hipernatremia como ir- ritabilidade, delirium, coma, hipertermia, ataxia e hipotensão arterial. Débitos urinários muito superiores sugerem DI central. DIAGNÓSTICO O diagnóstico já está estabelecido em pacientes com poliúria, hipernatremia e urina diluída (osmo- lalidade urinária < osmolalidade plasmática). Nes- ses casos não é recomendado o teste de reten- ção hídrica, mas sim somente a avaliação à res- posta da Desmopressina, para diferenciação en- tre DI de origem central ou nefrogênica. O teste de restrição hídrica é iniciado pela manhã com suspensão completa da ingestão oral de água, e verificação de hora em hora do peso e das osmolalidades sérica e urinária. Após, deve ser realizada a injeção de vasopressina, com co- leta de amostrar de sangue e de urina, para me- dida da osmolalidade, 1 hora depois. Nos casos de DI central, a ressonância magné- tica pode ser útil na identificação de alterações na neuro-hipófise. TRATAMENTO DIABETES INSÍPIDO CENTRAL O tratamento de escolha é a reposição do ADH com análogo sintético da vasopressina de longa duração (DDAVP). Ele apresenta potente efeito diurético, sem ter propriedades vasopressoras. O principal efeito adverso é a hiponatremia dilu- cional, já que durante o tratamento não há a su- pressão do ADH (como em situação fisiológica) e o paciente pode não ser capaz de excretar a água ingerida. Esse risco é diminuído utilizando-se a dose mínima para controlar a poliúria. DIABETES INSÍPIDO NEFROGÊNICO Como o mecanismo fisiopatológico é a resistência ao ADH nos rins, o uso do DDAVP e dos medica- mentos que potencializam seu efeito não é be- néfico. O diagnóstico e o tratamento da etiologia devem ser buscados. Nos casos em que isso não é possível, a redução do volume urinário pode ser obtida com a restri- ção de sal, uso de diuréticos tiazídicos e AINEs. A decisão de tratar o paciente vai depender da tolerância individual à poliúria e à polidipsia. No DI nefrogênico a osmolalidade urinária é fixa. Assim, o que determina o volume urinário é a ex- creção de solutos. Dessa forma, a redução do fluxo urinário será diretamente proporcional à diminuição da ingestão e excreção de solutos.
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