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DIREITO PENAL P R O F . T A S S I O D U D A 2020 Direito Penal Tema: Teorias sobre o crime continuado Prof. Tassio Duda O tema concurso de crimes é disciplinado entre os arts. 69 a 76 do Código Penal, sendo possível encontrar, nos citados dispositivos, os institutos do concurso material; concurso formal; crime continuado; erro na execução; resultado diverso do pretendido; bem como o limite máximo e a unificação do tempo de cumprimento de pena. No presente texto serão abordadas as teorias a respeito do crime continuado, com ênfase no entendimento doutrinário. De acordo com a doutrina, o crime continuado ou a continuidade delitiva teve origem na Idade Média como forma de minimizar a severidade das leis penais da época. Três ou mais furtos já eram suficientes para sujeitar o infrator à pena de morte. A solução consistiu, então, em reconhecer os três delitos como um só, mas desde que fossem cometidos em determinadas condições, especialmente de tempo e lugar, com o fim de evitar a pena de morte. Nesse sentido, Guilherme Nucci (2020, pg. 687) expõe que: Para responder à pergunta, é necessário analisar a natureza jurídica do instituto. A doutrina, basicamente, busca esclarecer o que vem a ser a continuidade delitiva ou crime continuado a partir de três teorias: teoria da ficção jurídica; teoria da realidade; e teoria mista. A teoria da ficção jurídica foi desenvolvida por Francesco Carrara. Como o nome da teoria sugere, a continuidade delitiva é uma ficção criada pelo Direito. Embora existam vários crimes, o juiz, ao sentenciar o agente, considera os fatos delituosos como um só. É nesse ponto que se encontra a relevância do crime continuado, pois a unidade do crime é considerada apenas para fins de aplicação da pena. 1. CONCURSO DE CRIMES 2. CRIME CONTINUADO MAS O QUE É CRIME CONTINUADO? 2.1 TEORIA DA FICÇÃO JURÍDICA “Narram os penalistas que o crime continuado teve sua origem entre os anos de 1500 e 1600, em teoria elaborada pelos práticos italianos, dos quais se ressaltam os trabalhos de Prospero Farinacio e Julio Claro. Naquela época, a lei era por demais severa, impondo a aplicação da pena de morte quando houvesse a prática do terceiro furto pelo agente (Potest pro tribus furtis quamvis minimis poena mortis imponi). O tratamento era, sem dúvida, cruel, mormente numa época de tanta fome e desolação na Europa. Direito Penal Tema: Teorias sobre o crime continuado Prof. Tassio Duda Nessa linha de pensamento, Cléber Masson (2019, pg. 810) elucida que: Em outras palavras, significa que a prescrição (causa extintiva da punibilidade) será analisada separadamente em relação a cada crime cometido pelo agente. A teoria da realidade foi idealizada por Bernardino Alimena e contrapõe-se a teoria da ficção. De acordo com a teoria da unidade real, o crime continuado é visto como um único delito, e não como uma criação do Direito. Segundo Bitencourt (2018, pg. 1276): Pela teoria mista, o crime continuado, em verdade, corresponde a uma modalidade específica de crime. O crime continuado não corresponderia a um fato único, nem a vários delitos cometidos pelo agente, mas sim a uma terceira espécie de crime. Seguindo essa linha de raciocínio, por exemplo, além de existir o crime de furto simples, existiria o crime de furto continuado. É nesse sentido que Bitencourt (2018, pg. 1277) elucida: “A unidade do crime continuado se opera exclusivamente para fins de aplicação da pena. Para as demais finalidades há concurso, tanto que a prescrição, por exemplo, é analisada separadamente em relação a cada delito, como se extrai do art. 119 do Código Penal e da Súmula 497 do Supremo Tribunal Federal: “Quando se tratar de crime continuado, a prescrição regula-se pela pena imposta na sentença, não se computando o acréscimo decorrente da continuação”. 2.2 TEORIA DA UNIDADE REAL “Para essa teoria os vários comportamentos lesivos do agente constituem efetivamente um crime único, uma vez que são elos de uma mesma corrente e traduzem uma unidade de intenção que se reflete na unidade de lesão. Essa concepção baseia-se nos postulados da teoria objetivo-subjetiva, que exige, além dos requisitos objetivos, uma unidade de desígnios, isto é, um programa inicial para a realização sucessiva dos diversos atos. Por isso, possuindo um dolo unitário, as ações continuadas configuram a manifestação incompleta da mesma unidade real e psicológica”. 2.3 TEORIA MISTA “Para essa corrente, o crime continuado não é uma unidade real, mas também não é mera ficção legal. Segundo essa teoria, a continuidade delitiva constitui uma figura própria e destina-se a fins determinados, constituindo uma realidade jurídica e não uma ficção. Não se cogita de unidade ou pluralidade de delitos, mas de um terceiro crime, que é o crime de concurso, cuja unidade delituosa decorre de lei”. Importante destacar que o Código Penal Brasileiro a dotou a teoria da ficção jurídica em seu art. 71. DIREITO PENAL CAPA.pdf Crime continuado - teorias.pdf
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