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INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO DE GAZA DIVISÃO DA AGRICULTURA CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL Estudo das diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospermum mopane) no Posto Administrativo de Combomune Projecto final defendido como requisito para obtenção do grau de Licenciatura em Engenharia Florestal Autor: Baptista Jaime Milione Tutor: dr. Eleutério Mapsanganhe (MSc) Co-Tutor Eng. Severino Macôo Lionde, Outubro de 2017 I INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO DE GAZA Declaração Declaro por minha honra que esta Monografia é resultado da minha investigação pessoal e das orientações dos meus tutores, o seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia final. Declaro ainda que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para propósito semelhante ou obtenção de qualquer grau académico. Lionde, ______ de _______________ de 2017 _______________________________________ (Baptista Jaime Milione) II DEDICATÓRIA Dedico este trabalho ao meu pai Jaime Milione e a minha mãe Luisa José Dias que, com muito carinho е apoio, não mediram esforços para que eu chegasse até esta etapa de minha vida. Aos meus irmãos Hortêncio Jaime Milione, Orlanda Jaime Milione, Águeda Jaime Milione e José Jaime Milione, pelo incentivo е pelo apoio constante. III AGRADECIMENTOS O meu primeiro agradecimento é a Deus por ter iluminado e abençoado a minha longa caminhada. Agradeço aos meus pais Jaime Milione e Luísa José Dias, aos meus irmãos Hortêncio Jaime Milione, Orlanda Jaime Milione, Águeda Jaime Milione, José Jaime Milione, e ao meu tio Padre José Luís Dias, pelo apoio moral e material que sempre souberam-me prestar. Agradeço ao dr. Eleutério José Gomes Mapsanganhe (MSc), por ter-me orientado e instruído com seu amplo conhecimento para que eu pudesse realizar este trabalho. Ao Eng. Severino Macôo, pela sua disposição em me orientar e esclarecer as minhas dúvidas durante todo o percurso da realização do trabalho. Também agradeço ao corpo Docente do curso de Engenharia Florestal, que sobejamente carregados de conhecimento, souberam transmiti-lo com profissionalismo, particularmente a Eng. Arménio Cangela (MSc), Eng. Mário Sebastião Tuzine (MSc), Eng. Pedro Wate, Eng. Emídio Matusse (MSc), Engª. Yolanda Malate, Eng. Edson Massingue, dr. Arão Finiasse, dr. Luís Comissário Mandlate (MSc) e dr. Sérgio Bila. Agradeço ao SDAE de Mabalane em particular o Sr. Justino Heriques Timotio e ao produtor e comercializante de carvão Sr. Sebastião pela ajuda na colheita dos dados no campo. Agradeço aos colegas de curso, em particular a Ernesto Victor Langa, Humberto Mário Maculuve, André Vino Salvador Chauque, Sílvio Jaime Miambo, Dalia Adriano Dalia Mamade, Ivânia dos Amores Adalberto Matsimbe, Alexandre Raul Livombo, Jorge José Calavete, Altino Fausto Cuna, Bento Cláudio, Ivan Paulo Farinha, Vilma Mafanela, Maura Edsa Maurício, Bilzia de Sousa, Rabeca Pedro, Gulamo Abubacar, e a todos os outros colegas que eu possa ter-me esquecido de citar, e que de certa forma também foram importantes para a minha formação. O meu agradecimento estende-se aos meus amigos e amigas, Eunice da Agnalda Francisco Mabejane, Salva Violeta “Agrafinha”, Mustafa Lino Saide, Ana Sónia Sacar, Soares Rui, Manuel Inácio, Alcídio Azevedo e Elsídio Custódio, pelo apoio e amizade em todos os momentos da minha vida. E há todos cujos nomes não mencionei mas que directa ou indirectamente contribuíram para minha formação académica. IV ÍNDICE DEDICATÓRIA .................................................................................................................................... II AGRADECIMENTOS ......................................................................................................................... III LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................................... VI LISTA DE TABELAS ........................................................................................................................ VII LISTA DE ABREVIATURAS .......................................................................................................... VIII RESUMO .............................................................................................................................................. IX ABSTRACT ........................................................................................................................................... X 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 1 1.1. Problema e justificativa ................................................................................................................ 3 1.2.Objectivos ..................................................................................................................................... 4 1.2.1. Geral ....................................................................................................................................... 4 1.2.1. Específicos ............................................................................................................................. 4 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................................... 5 2.1. Colophospermum mopane............................................................................................................ 5 2.2. Bens e serviços florestais ............................................................................................................. 5 2.3. Uso da biomassa como fonte de energia ...................................................................................... 6 2.4. Produção de carvão vegetal em Moçambique .............................................................................. 7 2.5. Consumo e comercialização de carvão e lenha no sul de Moçambique ...................................... 8 2.6.Valoração Económica Ambiental ................................................................................................. 9 2.6.1. Métodos de Valoração Ambiental .......................................................................................... 9 2.6.1.1. Método de Valoração Contingente (MVC) .................................................................... 10 2.6.2. Análise da viabilidade económica dos recursos florestais ................................................... 11 2.7. Técnicas de colecta de dados ..................................................................................................... 12 2.7.1. Inquérito ............................................................................................................................... 12 2.7.1.1. Inquéritos por entrevista ................................................................................................. 12 2.7.1.2. Inquéritos por questionário ............................................................................................ 13 2.7.2. Observação directa ............................................................................................................... 14 2.8. Métodos de amostragem ............................................................................................................ 14 2.8.1. Amostragem probabilística .................................................................................................. 14 2.8.1.1. Formas de amostragem probabilística ............................................................................14 2.8.2. Amostragem não probabilística ........................................................................................... 15 2.8.2.1. Formas de amostragem não probabilística ..................................................................... 15 3. METODOLOGIA ............................................................................................................................. 17 3.1. Discrição da área de estudo ........................................................................................................ 17 V 3.1.1. Clima .................................................................................................................................... 17 3.1.2. Relevo e Solo ....................................................................................................................... 18 3.1.3. Vegetação ............................................................................................................................. 18 3.1.4. Características Socioeconómicas da população ................................................................... 18 3.2. Materiais .................................................................................................................................... 19 3.3. Métodos de recolha de dados ..................................................................................................... 19 3.3.1. Determinação do tamanho da amostra para o inquérito ....................................................... 19 3.3.2. Identificação de bens e serviços disponibilizados pelo Mopane .......................................... 20 3.3.3. Avaliação do valor económico, social e ambiental das diferentes alternativas do uso ppppppppenergético do Mopane ........................................................................................................... 20 3.3.4. Avaliação da viabilidade económica das diferentes alternativas do uso energético do ppppppppMopane ................................................................................................................................. 21 3.3.5. Avaliação das diferentes técnicas usadas no processamento energético do Mopane ........... 21 3.4. Análise de dados ........................................................................................................................ 22 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................................................... 23 4.1. Bens disponibilizados pelo Mopane .......................................................................................... 23 4.2. Perfil dos entrevistados .............................................................................................................. 24 4.2.1. Relação entre nível de escolaridade e a disposição a receber .............................................. 25 4.2.2. Relação entre faixa de renda e a disposição a receber ......................................................... 26 4.2.3. Relação entre faixa etária e a disposição a receber .............................................................. 27 4.3. O valor disposição a receber (DAR) .......................................................................................... 28 4.3.1. Análise da variância da DAR em diferentes faixas (escolaridade, renda e idade) ............... 29 4.4. Avaliação da viabilidade económica das diferentes alternativas do uso energético do Mopane ... 31 4.4.1. Estrutura de custos da produção e venda de carvão e lenha ................................................. 31 4.4.2. Fluxo de caixa da produção e venda de carvão e lenha ....................................................... 33 4.4.3. Análise da viabilidade com base na relação custo benefício ............................................... 34 4.4.4. Principais fontes de rendimento dos inqueridos ................................................................... 34 4.5. Avaliação das técnicas usadas no processamento energético do Mopane ................................. 36 4.5.1. Dificuldades enfrentadas no acto da exploração do Mopane ............................................... 37 5. CONCLUSÃO .................................................................................................................................. 39 6. RECOMENDAÇÕES ....................................................................................................................... 40 7. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................................. 41 ANEXO. ............................................................................................................................................... 47 VI LISTA DE FIGURAS Figura 1: Métodos de Valoração Ambiental………………………………………………...10 Figura 2: Mapa da área do estudo…………………………………………………………...17 Figura 3: Médias da DAR para a faixa etária dos indivíduos envolvidos na produção e comercialização do Carvão vegetal.………………………………………………………….30 Figura 4: Médias da DAR para a faixa etária dos indivíduos envolvidos na extracção e comercialização da lenha…………………………………………………………………...30 Figura 5: Medias da DAR para a faixa de renda dos indivíduos envolvidos na produção e comercialização do carvão e da lenha………………………………………………….......30 Figura 6: Médias da DAR para a faixa de renda dos indivíduos envolvidos na extracção e comercialização da lenha……………………………...…………………………………....30 Figura 7: Principais fontes de rendimento dos inqueridos…………………………………..35 Figura 8: Preparação de forno para a produção de carvão……………………………..……50 VII LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Materiais usados para a realização do estudo ………….……..………...………21 Tabela 2 – Bens disponibilizados pelo Mopane…………….……………………………….23 Tabela 3 – Sexo e idade dos indivíduos envolvidos nas actividades de uso energético do Mopane………………….……………………………………………………………………24 Tabela 4 – Relação entre nível de escolaridade e a disposição a receber dos indivíduos envolvidos na actividade de uso energético do Mopane…………………………25 Tabela 5 – Relação entre faixa de renda e a disposição a receber dos indivíduos envolvidos na actividade de uso energético do Mopane……………………………………..26 Tabela 6 – Relação entre faixa etária e a disposição a receber dos indivíduos envolvidos na actividade de uso energético do Mopane………………………………………………….27 Tabela 7 – Disposição a receber para cada cenário (lenha e carvão) ..……………………..28 Tabela 8 – Probabilidade da ANOVA em diferentes faixas (escolaridade, renda e idade) ..29 Tabela 9 – Estrutura de custos da produção e venda de carvão e lenha…………………….32 Tabela 10 – Fluxo de caixa da produção e venda de carvão e lenha ……………………….33 Tabela 11 – Análise económica dos diferentes intervenientes da produção e comercialização de lenha e carvão…………………………………………………………...34 Tabela 13 – Comparação de médias pelo método de LSD………………………………….50 Tabela 14 – Principais fontes de rendimento dos inqueridos……………………………….50 VIII LISTA DE ABREVIATURAS Aneel – Agência Nacional de Energia Eléctrica. ANOVA – Analysis of variance. FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura. hab – Habitantes. MAE – Ministério da Administração Estatal. ME – Ministério da Energia. MICOA – Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental actualmente designado por MITADER – Ministério de Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural. MVC – Método de Valoração Contingente. SNIF – Sistema Nacional de Informações Florestais do Brasil. TNA – Tabelas de Números Aleatórios. Estudo das diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospemum mopan) e no Posto Administrativo de CombomuneIX RESUMO O presente trabalho teve como objectivo principal estudar as diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospermum mopane), no posto administrativo de Combomune. A metodologia baseou-se em inquérito, onde foram inqueridos 94 indivíduos envolvidos no uso energético do Mopane, sendo 67 produtores de carvão e 27 comercializantes de lenha. A análise dos resultados foi efectuada no pacote estatístico SPSS versão 21, com recurso a estatística descritiva. Os resultados do estudo mostra que, todos os sectores produtivos a nível do posto administrativo estão directa ou indirectamente ligados ao uso do Mopane, e que a produção e comercialização do carvão é a principal fonte de rendimento de cerca de todas as famílias que praticam nesta actividade representados por 71% dos 94 indivíduos inqueridos. O valor económico médio da produção e comercialização do carvão foi de 46.239,00 Mt e 51.259,00 Mt para a actividade de comercialização de lenha. Avaliando a DAR com base no perfil socioeconómico dos inqueridos, as médias apresentam diferenças significativas na componente faixa etária e renda, com excepção do nível de escolaridade. Em relação a viabilidade económica, para os indivíduos que produzem e comercializam carvão obteve-se uma razão B/C de 1,67 e para os indivíduos que comercializam lenha, obteve-se uma razão B/C igual a 1,43; e em termos lucrativos o comercio de carvão é 10 % eficiente que o comercio de lenha. O estudo concluiu que a comercialização de lenha apresenta maior média da DAR (51.259,00 Mt), maior desvio padrão (12724) e maior coeficiente de variação (24.82) em relação a produção e comercialização de carvão que apresenta valores iguais a 46.239,00 Mt de média de DAR, 10442 de desvio padrão e 22.58 de coeficiente de variação. Palavras-Chave: Aproveitamento energético; Mopane; Valor; Viabilidade económica. Estudo das diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospemum mopan) e no Posto Administrativo de Combomune X ABSTRACT The main objective of this work was to study the different alternatives used in the energy utilization of Mopane (Colophospermum mopane), at the administrative post of Combomune. The methodology was based on a survey, where 94 individuals were involved in the energy use of Mopane, of which 67 were charcoal producers and 27 merchants of firewood. The analysis of the results was carried out in the statistical package SPSS version 21, using descriptive statistics. The results of the study show that all productive sectors at the administrative post are directly or indirectly linked to the use of Mopane, and that the production and marketing of coal is the main source of income for all families practicing in this activity represented by 71% of the 94 individuals interviewed. The average economic value of the production and sale of coal was 46,239.00 Mt and 51,259.00 Mt for the commercialization of firewood. Evaluating the DAR based on the socioeconomic profile of the respondents, the averages present significant differences in the age and income component, with the exception of the educational level. Regarding the economic viability, for the individuals that produce and commercialize coal obtained a B / C ratio of 1.67 and for the individuals that commercialize wood, a B/C ratio of 1.43 was obtained; and in profitable terms the coal trade is 10% efficient than the firewood trade. The study concluded that the commercialization of firewood presents a higher average of ARD (51,259.00 Mt), a higher standard deviation (12724) and a higher coefficient of variation (24.82) in relation to the production and commercialization of coal with values equal to 46,239.00 Mt mean DAR, 10442 standard deviation and 22.58 coefficient of variation. Keywords: Energy use; Mopane; Value; Economic viability. Keywords: Energy use; Mopane; Value; Economic viability. Estudo das diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospemum mopane) no Posto Administrativo de Combomune Autor: Baptista Jaime Milione 1 1. INTRODUÇÃO Segundo Soares et al., (2006), o aproveitamento energético de uma dada espécie florestal pode ser levado a cabo em diferentes formas; tais como a queima directa, carvão vegetal, aproveitamento de resíduos da exploração, como é o caso de óleos essenciais, ácido piro lenhoso, alcatrão, dentre outros. Contudo a lenha foi o insumo energético básico de maior utilização no mundo e teve fundamental importância na revolução industrial para produção de vapor. Nos últimos anos verifica-se que mais de 90% dos agregados familiares dos países em via de desenvolvimento utilizam exclusivamente lenha para cozinhar e menos de 10% utiliza carvão vegetal (World Bank, 1987; citado por Fernandes, 2016). Em Moçambique estima-se que cerca de 80% da população utiliza lenha e carvão para a produção de energia doméstica, sendo que o volume de biomassa extraído para este fim é estimado em 18 milhões de metros cúbicos por ano (Bila, 2005). O distrito de Mabalane devido a presença da espécie Colophospermum mopane, é um dos principais fornecedores do carvão vegetal consumido na cidade de Maputo e noutros centros urbanos do Sul do país, como são os casos das cidades da Matola, Xai-Xai e Chókwè (MICOA, 2006; Puná, 2008). A crescente exploração de carvão verificada no distrito deve-se a baixa produtividade agrícola e da falta de emprego (MAE, 2005). Entretanto, as transformações nas florestas provenientes da exploração não seguem padrões e processos universais e unidireccionais, elas têm sido aceleradas de forma desordenada e resultam na eliminação da vegetação. Necessitando deste modo avaliar-se a forma em que o uso desta vegetação esta sendo levado a cabo, e se as técnicas ou procedimentos estão sendo empregues de forma sustentável e, em alguns casos tem de se prover a recuperação das mesmas (Moran, 2009). O ecossistema de Mopane é caracterizado pela dominância da espécie arbórea Colophospermum mopane, constituída predominantemente por estratos arbóreos e arbustivos, sendo os principais tipos de vegetação as savanas secas com árvores decíduas e as savanas secundárias de média e baixa altitude (Micoa, 2006). Em Moçambique ela ocupa de forma descontínua, uma faixa estreita a Norte e Sul do Rio Zambeze desde a fronteira com a Zâmbia até às proximidades do Distrito de Chemba em Sofala, descendo para Sul a Este do Estudo das diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospemum mopane) no Posto Administrativo de Combomune Autor: Baptista Jaime Milione 2 Parque Nacional da Gorongosa, desviando para Oeste a Sul deste e ocupando a parte Oeste das províncias de Inhambane e de Gaza (EPACDBM, 2010). A realização deste trabalho no Posto Administrativo de Combumune reflecte as preocupações sobre pressão a que a floresta esta sujeita devido a altas taxas de exploração do Mopane para o uso como energia, havendo necessidade de se estimar o valor que esta tem para a comunidade que te usufruído o recurso. Estudo das diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospemum mopane) no Posto Administrativo de Combomune Autor: Baptista Jaime Milione 3 1.1. Problema e justificativa As causas da degradação florestal em Moçambique são na realidade múltiplas e complexas, e que muitas das causas directas (agricultura comercial, agricultura de subsistência, lenha e carvão vegetal, urbanização, exploração de madeiras e pecuária) agem de forma combinada sendo por vezes difíceis de separar, podendo numa mesma região actuar em combinação num mesmo período de tempo ou em sequência (Sitoe et al., 2016). Esta degradação é notável no Distrito de Mabalane na floresta de Mopane, floresta esta, que possui como espécie predominanteo Colophospemum mopane, bem como outras menos predominantes. O distrito é um dos potenciais produtores de carvão vegetal da zona Sul do país, dada à presença do Colophospermum mopane, espécie vista como sendo uma com facilidade relativa de corte, preferida dos compradores e produtora de carvão de alta qualidade (MAE, 2005; Bila, 2005; MICOA, 2006). Apesar do contributo socioeconómico da lenha e carvão vegetal para a população do distrito, de acordo com Baumert et al., (2016), o ritmo com que a espécie está sendo destruída pode comprometer a sustentabilidade dos recursos florestais existentes no distrito. O uso desta espécie deve basear-se no tripé social, ambiental e económico, de modo a garantir a preservação do meio ambiente. E com a preservação do meio ambiente, evita-se a redução da capacidade de sequestro de carbono pelas florestas assim como a degradação florestal e ambiental. Desta maneira, surge à necessidade de reconhecer através do método de valoração económica, o quanto a população (de forma directa ou indirecta), valoriza o referente activo ambiental, possibilitando com isso uma melhor utilização, no que tange a sustentabilidade do distrito. Para isso há que evidenciar os bens e serviços disponibilizados pela espécie. De acordo com Serra et al., (2004), o método de valoração ambiental vem criando mercados verdes, que têm por objectivo conciliar preservação do meio ambiente e crescimento económico, constituindo-se em uma possibilidade para o alcance da sustentabilidade. Portanto tendo a espécie Colophospermum mopane sido atribuído a vários usos, é de fundamental importância compreender até que ponto a população depende deste recurso florestal, avaliando as técnicas de exploração e do processamento, assim como os equipamentos empregues para tais actividades de modo a maximizar o seu aproveitamento. Estudo das diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospemum mopane) no Posto Administrativo de Combomune Autor: Baptista Jaime Milione 4 Pois para além de um recurso florestal satisfazer os aspectos socioeconómicos, há que garantir a sua preservação (proteger) e conserva-lo (utilizar racionalmente). A maior preocupação não é o aproveitamento da espécie, mas sim a extensão do aproveitamento, as quantidades extraídas acabam comprometendo a existência deste recurso, havendo necessidade de se moderar a dependência do uso desta espécie para lenha e carvão. 1.2.Objectivos 1.2.1. Geral Estudar as diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospermum mopane). 1.2.1. Específicos Identificar os bens e serviços disponibilizados pelo Mopane; Estimar o valor económico, social e ambiental das diferentes alternativas do uso energético do Mopane; Analisar a viabilidade económica das diferentes alternativas do uso energético do Mopane; Analisar as diferentes técnicas usadas no processamento energético do Mopane. Estudo das diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospemum mopane) no Posto Administrativo de Combomune Autor: Baptista Jaime Milione 5 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1. Colophospermum mopane Segundo Sitoé (1996), Colophospermum mopane é uma espécie florestal da família Fabaceae, sub-família Caesalpinoideae, conhecida vulgarmente como Mopane. A espécie ocorre naturalmente no sul da África, principalmente em países como África do Sul, Zimbabwe, Moçambique, Angola, Botswana, Zâmbia, Namíbia e Malawi. Esta espécie se desenvolve em regiões quentes e secas, de baixa altitude e ocorre em solos argilosos, mas pode crescer em solos aluviais. Não tolera temperaturas baixas e se desenvolve em relevo de 200 a 1.500m. A árvore desta espécie é de pequeno ou médio porte e atinge uma altura entre 4 e 18 m. A sua madeira dura, de cor vermelha é utilizada para fins decorativos para pisos ou como isolante térmico, mas também é usada para a fabricação de instrumentos musicais e como combustível lenhoso (lenha e carvão). O tronco das árvores maiores é usado como postes, pilares na construção de moradia rural típica moçambicana e cercas. As suas folhas e ramos novos são comidos pelos animais. Serve também para a alimentação de larvas de Imbrasia belina, esta última usada como fonte de proteínas para as populações. Ramos e cinzas desta espécie são usados pelas comunidades rurais como creme dental para a limpeza dos dentes. Pode se colher variados produtos na floresta de Mopane como por exemplo gafanhotos e cogumelos comestíveis, mel, ervas e frutos silvestres (Bila e Mabjaia, 2012). 2.2. Bens e serviços florestais De acordo com o SNIFB (2016), bens são definidos como tudo aquilo que seja útil ao homem, com ou sem valor económico - ex: madeira, alimentos, resinas, óleos, água e outros. Em quanto que os serviços são prestações de assistência ou realização de tarefas que contribuem para satisfazer as necessidades humanas, sejam elas individuais ou colectivas - ex: sequestro de carbono, regulação do clima, regulação do ciclo hidrológico, controle de erosões e outros. Deste modo o SNIF destaca os principais bens e serviços que os ecossistemas florestais fornecem: Fonte de matéria-prima - madeira, combustíveis e fibras; Fonte de material genético; Controle biológico; Alimento - pesca, caça, frutos, sementes; Estudo das diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospemum mopane) no Posto Administrativo de Combomune Autor: Baptista Jaime Milione 6 Produtos farmacêuticos; Recreação, ecoturismo e lazer; Valor cultural - estético, artístico, científico e espiritual; Controle de erosão, enchentes, sedimentação e poluição; Armazenamento de água em bacias hidrográficas, reservatórios e aquíferos; Controle de distúrbios climáticos como tempestades, enchentes e secas; Protecção de habitats utilizados na reprodução e emigração de espécies; Regulação dos níveis de gases atmosféricos poluentes; Regulação de gases que afectam o clima; 2.3. Uso da biomassa como fonte de energia De acordo com Cardoso (2012), o desenvolvimento da civilização está atrelado ao consumo de energia exercido pelo homem. A descoberta do fogo fez com que o homem passasse a utilizar sua energia para o cozimento de alimentos e outros fins, esta energia tem sido obtida através de actividades extractivistas, aproveitando-se assim dos recursos da natureza. Este processo era realizado sem quaisquer preocupações com os impactos que poderiam advir de sua execução, pois se acreditava que os recursos naturais eram fontes abundantes de energia, sem previsão de esgotamento. A biomassa energética florestal é definida como produtos e subprodutos dos recursos florestais que incluem basicamente biomassa lenhosa, seu aproveitamento no uso final energético se realiza, principalmente, através de transformação termoquímica mais simples, como combustão directa e carbonização, mas rotas mais complexas também são empregadas para a produção de combustíveis líquidos e gasosos, como metanol, etanol, gases de síntese, licor negro (um subproduto da indústria de celulose), entre outros (Aneel, 2008). O aproveitamento energético da biomassa florestal no mundo é mais atribuída ao uso como lenha e o carvão. Sendo a lenha definida como ramos, troncos, achas de madeira tosca ou quaisquer pedaços de madeira que podem ser utilizados como combustível. E a produção de lenha pode ser dividida em dois segmentos: a lenha catada, de uso residencial e a lenha produzida para fins comerciais. Em quanto que o carvão vegetal advém da transformação da lenha, e esta transformação é realizada através dos processos conhecidos como carbonização, que consiste na queima da lenha com presença controlada de ar, ou pelo processo de pirólise, Estudo das diferentes alternativas usadas no aproveitamentoenergético de Mopane (Colophospemum mopane) no Posto Administrativo de Combomune Autor: Baptista Jaime Milione 7 onde a lenha é submetida a altas temperaturas em um ambiente com pouquíssima ou nenhuma quantidade de oxigénio (Cardoso, 2012). Segundo o Ministério da Energia (2013), Moçambique possui uma população de cerca de 20 milhões de habitantes dos quais maior parte deles vivem nas zonas rurais e tem a biomassa como a principal fonte de energia. Cerca de 80% de energia consumida no país provem da Biomassa lenhosa. A oferta dos combustíveis lenhosos é influenciada pelo estágio actual do recurso, sua gestão e acessibilidade, e a influência destes factores é vista de forma exponencial positiva, e por vezes negativa, de acordo com as seguintes abordagens: a) Estágio actual do recurso A cobertura florestal actual corresponde a 51% do total da floresta, e confere ao país uma riqueza de vegetação, com destaque para as províncias de Zambézia, Sofala, Niassa, Cabo Delgado, Inhambane e Nampula. b) Acessibilidade do recurso No país o acesso aos combustíveis lenhosos não constitui factor limitante particularmente nas zonas rurais onde a população depende destes recursos para satisfazer as necessidades da energia doméstica. Contudo, nas zonas urbanas o acesso tem estado a reduzir devido elevados preços praticados no mercado. c) Gestão dos recursos Após a independência vários projectos de estabelecimento de plantações para fins energéticos foram desenvolvidos nos maiores centros urbanos do país, de destacar para as províncias de Maputo, Beira e Nampula, porém os resultados não foram satisfatórios, pois actualmente estes estabelecimentos encontram-se em péssimas condições, ou sem quaisquer controlos. 2.4. Produção de carvão vegetal em Moçambique A principal cobertura vegetal em Moçambique usada pelas famílias para a produção de carvão vegetal na região centro norte são as florestas de Miombo que são florestas tropicais secas e na região sul a floresta de Mopane. A exploração nas florestas de Miombo e outros tipos de vegetação da floresta são essenciais para a subsistência dos moradores rurais (emprego, renda, consumo de bens e serviços) (Fernandes, 2014). Estudo das diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospemum mopane) no Posto Administrativo de Combomune Autor: Baptista Jaime Milione 8 A exploração é estimulada pelo poder de compra da população urbana. Isto pode ser observado no crescimento do consumo de lenha e de carvão vegetal substituindo a electricidade e gás como fonte alternativa de energia (Atanassov et al., 2012). Os principais factores que afectam as perspectivas de oferta e procura, inclui o estado actual dos recursos florestais e seu uso, acessibilidade aos recursos, população, renda, tecnologia, instituições e políticas, os preços dos produtos florestais, produtos substitutos e materiais de madeira. O estado e o potencial das florestas existentes é um factor no desenvolvimento de oferta futura de produtos e serviços, enquanto os níveis passados e actuais de consumo são factores para determinar a demanda futura de produtos e serviços (Brouwer e Falcão, 2004). 2.5. Consumo e comercialização de carvão e lenha no sul de Moçambique Estudos realizados pela DNFFB em 1985 e 1988 para analisar o abastecimento de lenha e carvão vegetal em Maputo revelaram que, em média, 130 e 100 camiões transportando combustíveis lenhosos entravam diariamente em Maputo através de Postos de Controlo existentes nas Estradas Nacionais N1 e N2 em 1985 e 1988, respectivamente (Falcão, 2013). O autor acima citado, afirma que o carvão vegetal e a lenha são até os dias de hoje o principal combustível nas áreas urbanas de Moçambique. Enquanto cerca de 70 a 80% das habitações urbanas contam com os combustíveis lenhosos, as habitações rurais dependem inteiramente destes combustíveis para a sua energia doméstica. A utilização de carvão vegetal por parte dos habitantes das cidades é afectada pela sua disponibilidade. Durante a estação chuvosa, há geralmente uma escassez de carvão vegetal nos mercados urbanos e, invariavelmente, os preços sobem. A elevada procura de combustíveis lenhosos em Maputo foi apontada como a principal força motriz da desflorestação e provável degradação das florestas naturais. Saket (1994), citado por Falcão (2013), estimou que a desflorestação em Maputo no período compreendido entre 1970 e 1988 era de 20%. Apesar dos recursos florestais estarem completamente esgotados pela produção de carvão vegetal em Maputo, o fornecimento de combustíveis lenhosos permanece como produto primário para a maioria das famílias. Esta situação deverá persistir já que as fontes alternativas de combustível como a electricidade não são acessíveis nem fiáveis para uma boa parte das famílias, quer a nível económico quer a nível de funcionamento (Sitoe et al., 2004). Estudo das diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospemum mopane) no Posto Administrativo de Combomune Autor: Baptista Jaime Milione 9 2.6.Valoração Económica Ambiental Segundo Azevedo (2010), os recursos naturais não são mercadorias, constituem-se em activos essenciais a preservação da vida de todos os seres. O enfoque sistémico da valoração ajuda no entendimento de como é importante compreender o valor que tem o meio ambiente para a sobrevivência das espécies na terra. Para Ortiz (2003), a valoração económica ambiental é uma ferramenta fundamental para a formulação e a avaliação de políticas orientadas ao desenvolvimento sustentável e a preservação dos recursos ambientais. O valor de um recurso ambiental não é observado no mercado através do sistema de preços, mas sim pelos seus atributos que podem ou não estar associados a um uso. O valor de uso (VU) é subdividido em valor de uso directo propriamente dito, valor de uso indirecto (quando o beneficio de seu uso deriva de funções ecossistêmicas) e valor de opção refere-se ao valor que os indivíduos atribuem ao recurso ambiental para uso directo e indirecto no futuro. O valor de não uso (VNU) ou valor de existência (VE) refere-se a um valor que está dissociado do uso dos recursos ambientais independentemente de uma relação com os seres humanos, mesmo que estes não representem uso actual ou futuro para ninguém (Marques e Comune, 1995). 2.6.1. Métodos de Valoração Ambiental Os métodos de valoração ambiental podem ser classificados em directos e indirectos. Os métodos directos procuram captar as preferências das pessoas utilizando mercados hipotéticos ou de mercados de bens complementares para obter a disposição a pagar ou a disposição a aceitar dos indivíduos pelo bem ou serviço ambiental (Motta, 2006). Estudo das diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospemum mopane) no Posto Administrativo de Combomune Autor: Baptista Jaime Milione 10 Para proceder a valoração económica de uso e não uso de recursos ambientais, é necessário a utilização de métodos de valoração económica ambiental. Os principais métodos utilizados na valoração de recursos ambientais são os apresentados na figura 1. Embora esses métodos de valoração apresentem resultados muitas vezes divergentes, todos partem do mesmo princípio da racionalidade económica. As pessoas realizam suas escolhas a partir do que observam, procurando maximizar o bem-estar limitado pelas restrições orçamentárias (Pearce, 1993). 2.6.1.1. Método de Valoração Contingente (MVC) O MVC faz uso de consultas a população para captar directamente os valores individuais, de uso e não uso, atribuídos a um recurso natural. Simula um mercado hipotético, informando aos entrevistados sobre os atributos do recurso natural a ser avaliado, e os interrogando sobre MÉTODOS DE VALORAÇÃOAMBIENTAL Métodos Directos de Valoração Métodos da função de demanda: Obtêm as preferências das pessoas através da disposição a pagar (ou aceitar) do indivíduo para bens e serviços ambientais. Métodos Indirectos de Valoração Métodos da função de produção: Estimam o valor económico do impacto das alterações ambientais em produtos ou serviços com preços no mercado Valoração Contingente Estima as preferências das pessoas em situações hipotéticas via função de utilidade individual. Produtividade Marginal Dose - resposta Figura 1: Métodos de valoração ambiental. Fonte: Adaptado de Motta (2006). Mercado para bens complementares Preços Hedónicos Custo de viagem Mercado de Bens Substitutos Custos evitados Custos de controlo Custos de reposição Estudo das diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospemum mopane) no Posto Administrativo de Combomune Autor: Baptista Jaime Milione 11 sua disposição a pagar (DAP) para prevenir a degradação do recurso, ou a disposição a receber (DAR) para aceitar uma alteração em sua provisão ambiental (Motta, 2006). Motta (1997) destaca que a avaliação de aceitabilidade das estimativas de DAP ou DAR estará concentrada nas questões teóricas e metodológicas do MVC. Essas questões podem ser divididas nas categorias confiabilidade, validade e viés. A validade refere-se ao grau em que os resultados obtidos no MVC indicam o "verdadeiro" valor do bem que esta sendo investigado, enquanto a confiabilidade analisa a consistência das estimativas. Quando a aplicação do MVC alcança estimativas consistentes, mas sujeitas a presença de viés, os resultados são julgados não validos. 2.6.2. Análise da viabilidade económica dos recursos florestais A viabilidade da utilização e transformação dos recursos florestais podem ser avaliados utilizando a razão beneficio-custo. Que é definida por Oliveira et al., (2014), como sendo um indicador que relaciona os benefícios de um negócio ou projecto, expressos em termos monetários, e o seus custos, também expressos em termos monetários. A razão benefício-custo (B/C) é obtida pela razão entre o valor presente dos benefícios e o valor presente dos custos para uma dada taxa de desconto. A viabilidade do negócio é verificada quando o resultado é maior que 1 (Oliveira et al., 2014). B/C ∑ ∑ Onde: Rj = receita no final do ano j, em meticais; Cj = custo no final do ano j em meticais; i = taxa de desconto (% ao ano); n = duração do projeto, em anos. Deste modo, tendo sido avaliado a viabilidade de um negócio, pode-se calcular alucratividade, que é um indicador que demonstra a eficiência operacional de um negócio. É expressa como um valor percentual que indica a proporção de ganhos de um negócio. Lucratividade = x 100 Equação (1) Equação (2) https://pt.wikipedia.org/wiki/Projeto https://pt.wikipedia.org/wiki/Custo Estudo das diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospemum mopane) no Posto Administrativo de Combomune Autor: Baptista Jaime Milione 12 2.7. Técnicas de colecta de dados 2.7.1. Inquérito Segundo Pombal et al., (2008), consiste em colocar a um conjunto de inquiridos, geralmente representativo de uma população, uma série de perguntas concretas sobre uma determinada realidade, que podem envolver as suas opiniões, a sua atitude em relação a opções ou a questões humanas e sociais, as suas expectativas, o seu nível de conhecimentos ou de consciência de um acontecimento ou de um problema, ou ainda sobre qualquer outro ponto que interesse os investigadores. Os inquéritos podem ser por entrevista e por questionário. 2.7.1.1. Inquéritos por entrevista Segundo Gil (2008) pode-se definir entrevista como a técnica em que o investigador se apresenta frente ao investigado e lhe formula perguntas, com o objectivo de obtenção dos dados que interessam à investigação. A entrevista é, portanto, uma forma de interacção social. Mais especificamente, é uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca colectar dados e a outra se apresenta como fonte de informação. Podendo estas entrevistas serem classificadas em: informais, focalizadas, por pautas e formalizadas (Gil, 1999). Entrevista informal: recomendado nos estudos exploratórios, que visam a abordar realidades pouco conhecidas pelo pesquisador, ou então oferecer visão aproximativa do problema pesquisado. Entrevista focalizada: empregado em situações experimentais, com o objectivo de explorar a fundo alguma experiência vivida em condições precisas. Também é bastante utilizada com grupos de pessoas que passaram por uma experiência específica, como assistir a um filme, presenciar um acidente, entre outros. Por pautas: o entrevistador faz poucas perguntas directas e deixa o entrevistado falar livremente, à medida que reporta às pautas assinaladas. Entrevista estruturada, ou formalizada: se desenvolve a partir de uma relação fixa de perguntas, cuja ordem e redacção permanecem invariáveis para todos os entrevistados que Estudo das diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospemum mopane) no Posto Administrativo de Combomune Autor: Baptista Jaime Milione 13 geralmente, são em grande número. Por possibilitar o tratamento quantitativo dos dados, este tipo de entrevista torna-se o mais adequado para o desenvolvimento de levantamentos sociais. 2.7.1.2. Inquéritos por questionário O questionário, segundo Gil (1999), pode ser definido como a técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objectivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas, entre outros. Segundo Nogueira (2002), os questionários podem ser: abertos, fechados, directos, indirectos, assistidos e não assistidos. Questionários abertos: têm como vantagem a característica de explorar todas as possíveis respostas a respeito de um item, servindo de base para a futura elaboração de um questionário fechado; Questionários fechados: apesar de se apresentarem de forma mais rígida do que os abertos, permite a aplicação directa de tratamentos estatísticos com auxílio de computadores e elimina a necessidade de se classificar respostas á posteriori, possivelmente induzindo tendências indesejáveis; Questionários directos: apresentam a vantagem de se colectar directamente a resposta desejada; Questionários indirectos: alternativas utilizadas para os casos em que não é possível obter uma resposta precisa às questões por impossibilidade ou por se tratar de um assunto delicado; Questionários assistidos: permitem ao pesquisador acompanhar e coordenar directamente as perguntas aos entrevistados, porém que podem induzir os respondentes a expressarem-se de acordo com ênfases do pesquisador, ao invés de suas próprias; Questionários não assistidos: que se por um lado eliminam a possibilidade de contaminação por parte de um aplicador, podem não ser respondidos ou respondidos por pessoas não adequadas. Estudo das diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospemum mopane) no Posto Administrativo de Combomune Autor: Baptista Jaime Milione 14 2.7.2. Observação directa Segundo Pombal et al., (2008), os métodos de observação directa constituem os únicos métodos de investigação social que captam os comportamentos no momento em que eles se produzem e em si mesmo, sem a mediação de um documento ou de um testemunho. A observação pode assumir formas diferentes, participante do tipo etnológico, ou, não participante. Observação participante de tipo etnológico: consiste em estudar uma comunidade durante um longo período, participando na vidacolectiva. O investigador estuda os seus modos de vida, de dentro e pormenorizadamente, esforçando-se por perturbá-los o menos possível. Observação não participante: o investigador não interage de forma alguma com o objecto do estudo. A observação pode ser curta, ou de longa duração, feita à revelia, ou com o acordo das pessoas em questão, ou ainda realizada com ou sem a ajuda de grelhas de observação pormenorizadas. 2.8. Métodos de amostragem De acordo com Luchesa e Neto (2011), uma amostra pode ser definida como parte de uma população seleccionada para fins de análise. E destacam-se dois tipos de amostragem: a probabilística e a não probabilística. Ambas apresentam suas subdivisões. 2.8.1. Amostragem probabilística Segundo Brites (2007), são amostras em que os componentes são extraídos da população de acordo com probabilidades conhecidas. Os elementos da amostra são seleccionados através de alguma forma de sorteio não tendencioso, como por exemplo, tabelas de números aleatórios ou números aleatórios gerados por computador. Com a utilização de sorteio elimina-se a influência do pesquisador na obtenção da amostra, e garante que todos os integrantes da população têm a probabilidade de pertencer à amostra. 2.8.1.1. Formas de amostragem probabilística Segundo Martins (2009), as formas de amostragem probabilísticas podem ser: aleatória simples, sistemática, estratificada e por conglomerados. Em que, na: Estudo das diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospemum mopane) no Posto Administrativo de Combomune Autor: Baptista Jaime Milione 15 Amostragem aleatória simples: recomenda-se fazer uma listagem dos elementos da população, atribuindo aleatoriamente um número para cada um desses elementos. Feito isso, o pesquisador deverá sortear dentro de toda a população, atribuindo aleatoriamente um número para cada um desses elementos. Feito isso, o pesquisador deverá sortear dentro de toda a população, desconhecendo inteiramente a quem esses números estão associados, os números adequados de elementos que irão compor a amostra. Amostragem estratificada: consiste essencialmente em pré-determinar quantos elementos da amostra serão retirados de cada estrato. A pré-determinação pode ser feita de várias formas, sendo as mais comuns chamadas de uniforme (onde se sorteia um número igual de elementos em cada estrato) e proporcional (onde o número de elementos sorteados em cada estrato é proporcional ao número de elementos no estrato). Amostragem por conglomerados: os elementos da população são divididos em grupos distintos denominados conglomerados. Cada elemento da população pertence a um e somente um conglomerado. Extrai-se, então, uma amostra aleatória simples dos conglomerados. Todos os elementos contidos em cada conglomerado amostrado formam a amostra. 2.8.2. Amostragem não probabilística Brites (2007), afirma que em uma amostra não probabilística você selecciona os itens ou indivíduos sem conhecer suas respectivas probabilidades de selecção. Sendo assim, uma amostragem será não probabilística quando a probabilidade de alguns ou de todos os elementos da população de pertencer à amostra é desconhecida. 2.8.2.1. Formas de amostragem não probabilística Segundo Martins (2009), as formas de amostragem não probabilísticas podem ser: por acessibilidade, conveniência, por cotas, e intencional ou por julgamento. Em que, na: Amostragem por acessibilidade: este pode ser considerado o menos rigoroso de todos os tipos de amostragem, uma vez que se procede a selecção dos elementos aos quais se tem acesso para que a realização da pesquisa se torne possível. Infelizmente esta situação ocorre com muita frequência na prática, uma vez que nem sempre é possível se ter acesso a toda a população objecto de estudo, sendo assim é preciso dar Estudo das diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospemum mopane) no Posto Administrativo de Combomune Autor: Baptista Jaime Milione 16 segmento a pesquisa utilizando-se a parte da população que é acessível na ocasião da pesquisa. Amostragem de conveniência: É uma técnica de amostragem em que, como o próprio nome implica, a amostra é identificada primeiramente por conveniência. Elementos são incluídos na amostra sem probabilidades previamente especificadas ou conhecidas de eles serem seleccionados. Amostragem sistemática: trata-se de uma variação da aleatória simples, que exige que cada elemento da população possa ser identificado de acordo com sua posição, o que só pode ser feito em caso de se poder identificar a posição de cada membro num sistema ordenado. Amostragem intencional ou por julgamento: Nas amostras intencionais enquadram-se os diversos casos em que o pesquisador deliberadamente escolhe certos elementos para pertencer à amostra, por julgar tais elementos bem representativos da população. Amostragem por cotas: é um tipo de amostragem por julgamento. Em uma amostra por cota, fixam-se cotas de acordo com determinados critérios, mas, dentro das cotas, a escolha dos itens da amostra depende de julgamento pessoal. É utilizada quando não existe um cadastro da população que possibilite a realização do sorteio necessário à amostragem aleatória, mas ao mesmo tempo, existe informação suficiente sobre o perfil populacional. Estudo das diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospemum mopane) no Posto Administrativo de Combomune Autor: Baptista Jaime Milione 17 3. METODOLOGIA 3.1. Discrição da área de estudo A área de estudo localiza-se em Moçambique, na província de Gaza, ao norte do Distrito de Mabalane, Posto Administrativo de Combomune. O mapa abaixo ilustra a area de estudo (Posto administrativo de Combomune) e os povoados em que se realizam as actividades do uso energético do Mopane. Figura 2: Mapa da área do estudo 3.1.1. Clima O clima do distrito é do tipo tropical seco, com uma precipitação média anual inferior a 500mm, temperaturas médias anuais superiores a 24°C e humidade relativa média anual entre 60-65%. Devido a grande irregularidade da quantidade de precipitação ao longo da estação chuvosa, nota-se uma ocorrência frequente de períodos secos durante o período de crescimento das culturas (MAE, 2005). Estudo das diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospemum mopane) no Posto Administrativo de Combomune Autor: Baptista Jaime Milione 18 3.1.2. Relevo e Solo O relevo do distrito é Mabalane ligeiramente acidentado, mas com altitudes inferiores a 200m. Os solos são caracterizados por três principais unidades, com base principalmente na fisiografia do terreno, na textura e na cor: argilosos localizados nas zonas baixas e nas encostas inferiores; arenosos, localizados nas zonas altas; e solos franco argilosos, localizados nas zonas intermédias (MAE, 2005). 3.1.3. Vegetação O Distrito de Mabalane possui como espécies predominantes o Colophospemum mopane e a Androstachis johansonii, bem como outras menos predominantes, como Terminalia sericea, Afzelia quanzenzis, Strychnos madagascarensis, Vangueriain fauta e Adansonia digitata (Instituto Nacional de Investigação Agrária, 1999; Citados por Bila e Mabjaia, 2012). A relação entre a flora e o tipo de solo revela que, nos solos mais arenosos predominam a Terminalia sericea e Rhigozum sp. e, à medida que o solo se torna mais fraco, verifica-se um aumento de espécies dos géneros Acacia, Commiphora, Grewia e Combretum. Por outro lado, à medida que o solo se torna mais argiloso, o tipo de vegetação transita para o Colophospermum mopane (Instituto Nacional de Investigação Agrária, 1999; Citados por Bila e Mabjaia, 2012). 3.1.4. Características Socioeconómicas da população O distrito de Mabalane tem cerca de 70% do seu territóriodesabitado e desaproveitado. Da área total, estima-se em cerca 30 mil ha a terra com elevada aptidão para a agricultura, 290 mil ha para a pecuária e os restantes 580 mil ha para florestas e fauna bravia. Só 2/3 da área apropriada para a agricultura tem-se utilizado, sendo cultivados pelo sector familiar 10 mil ha, em regime de sequeiro e em explorações com uma média de 1 ha, na sua maioria, localizadas ao longo do vale do Limpopo (MAE, 2005). As principais culturas de alimentos básicos têm fracos rendimentos e incluem a mandioca, o milho, o feijão, o amendoim e o arroz que, junto com as hortícolas, constituem a base da dieta das famílias. Nos períodos de escassez, as famílias recorrem a uma diversidade de estratégias de sobrevivência que incluem a participação em programas de "comida pelo trabalho" a Estudo das diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospemum mopane) no Posto Administrativo de Combomune Autor: Baptista Jaime Milione 19 recolha de frutos silvestres, a caça, o comércio informal, a venda de madeira e carvão, e as remessas de familiares a trabalhar na República Sul Africana (MAE, 2005). Dada a existência de um estrato graminoso e arbustivo abundante, é a produção pecuária á actividade agrária com maior potencial neste distrito. Porém, a falta de água para o abeberamento do gado constitui o maior entrave ao aproveitamento do potencial de pasto. Porém, a actividade florestal é alvo duma exploração não sustentável, em especial, para madeiras e extracção de combustível lenhoso (lenha e carvão). As queimadas descontroladas têm contribuído, significativamente, para a destruição do ecossistema, bem como dificultado a implantação de investidores nas áreas de fauna e pecuária (MAE, 2005). 3.2. Materiais Tabela 1 – Materiais usados para a realização do estudo. # Material Função 1 Ficha de inquérito Para colher informações da população inquerida. 2 Máquina fotográfica Para obter imagens do que se sucede no local de estudo. 3.3. Métodos de recolha de dados 3.3.1. Determinação do tamanho da amostra para o inquérito O tamanho da amostra da população, foi determinada utilizando a seguinte equação: Onde: = é o tamanho da amostra; 𝑍 = é o valor crítico que corresponde ao nível de confiança adoptado; 𝑒 = representa o erro máximo permitido; 𝑃 = é a proporção de ocorrência da variável em estudo na população; e 𝑄 = é a proporção de não ocorrência da variável em estudo na população (sendo 𝑃 𝑄 ). Equação (3) Estudo das diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospemum mopane) no Posto Administrativo de Combomune Autor: Baptista Jaime Milione 20 Como os valores de 𝑃 e 𝑄 não são conhecidos, foram considerados iguais a 0,5 que é o valor mais conservador, como sugere a literatura (Mattar, 1996). E adoptou-se um nível de confiança de 90% (Z = 1,645) e um erro amostral de 10%. Resolvendo a equação, chegou-se a uma amostra mínima necessária de 67 indivíduos. Este valor foi usado para inquerir os que estão envolvidos na actividade de produção e comercialização de carvão, pois o número dos que estão envolvidos na actividade de comercialização de lenha é muito menor, podendo apenas chegar-se a uma amostra de 27 indivíduos. Uma vez que não foi possível ter acesso a toda população objecto de estudo, a selecção dos inqueridos foi realizada seguindo a amostragem por acessibilidade, dando-se segmento a pesquisa utilizando-se a parte da população que é acessível na ocasião da pesquisa. 3.3.2. Identificação de bens e serviços disponibilizados pelo Mopane Os bens disponibilizados pelo Mopane foram obtidos com base no inquérito, através de questões relacionadas ao uso da espécie Colophospemum mopane, o seu contributo para o ambiente, em consórcio com a questão referente as principais fontes de rendimento das famílias, e o rendimento médio da actividade de uso energético de Mopane em que estão envolvidas. Os serviços disponibilizados pelo Mopane foram obtidos com base na informação literária. 3.3.3. Avaliação do valor económico, social e ambiental das diferentes alternativas do uso energético do Mopane Através do inquérito, obteve-se informações referentes ao valor económico, social e ambiental das diferentes alternativas do uso energético do Mopane. Onde para o cálculo do valor económico recorreu-se ao método de valoração contingente, método este que consistiu em quantificar o valor que um consumidor estaria disposto a receber (DAR) como compensação pela perda desse benefício (uso energético do Mopane). Os valores referentes a disposto a receber foram adquiridos usado lances livres ou forma aberta (open-ended), ou seja, foi apresentado directamente ao entrevistado a questão “quanto Estudo das diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospemum mopane) no Posto Administrativo de Combomune Autor: Baptista Jaime Milione 21 você está disposto a receber”. Esta forma de pergunta produziu uma variável contínua de lances, e o valor esperado da disposição a receber foi estimado pela sua média. Para a obtenção da informação referente ao valor social e ambiental das diferentes alternativas do uso energético do Mopane, consta na ficha de inquérito questões referentes a estas duas vertentes, e o resultado destas questões foi enquadrado na componente bens e serviços disponibilizado pelo Mopane. Para complementar os aspectos referente ao valor ambiental recorreu-se a informação literária. 3.3.4. Avaliação da viabilidade económica das diferentes alternativas do uso energético do Mopane A viabilidade económica das diferentes alternativas do uso energético do Mopane foi obtida através da razão beneficio-custo (Equação 4), adaptação da Equação 1. Este indicador relacionou os benefícios de cada indivíduo no uso do Mopane nas diferentes alternativas energéticas em termos monetários, e o seus custos, também expressos em termos monetários. Tendo sido avaliado a viabilidade do negócio, calculou-se a proporção de ganhos do negócio, a lucratividade (Equação 2). Deste modo Fez-se a relação entre a disposição a receber e os benefícios de cada um na actividade que esta envolvido. 3.3.5. Avaliação das diferentes técnicas usadas no processamento energético do Mopane A avaliação das diferentes técnicas usadas no processamento energético do Mopane foi efectuada com base em inquérito e observação directa, tendo para tal cada entrevistado descrito o processo de exploração ou abate do recurso e sua devida transformação para a obtenção do produto final. O tipo de observação em que o estudo baseou-se foi a não participante, em que não houve de forma alguma uma interacção com o objecto do estudo no momento em que se realizou a observação. O que permitiu o uso de instrumentos de registo sem influenciar o objecto de estudo. https://pt.wikipedia.org/wiki/Custo Estudo das diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospemum mopane) no Posto Administrativo de Combomune Autor: Baptista Jaime Milione 22 3.4. Análise de dados Para analisar os dados referentes ao valor económico do uso energético do Mopane recorreu- se ao método de valoração contingente, onde com o auxílio do programa estatístico SPSS versão 22 foram efectuados o cálculo da média dos valores da DAR em diferentes perfis socioeconómicos, seguido da análise de variância com um factor (One-Way ANOVA), com o intuito de avaliar-se se a diferenças em termos estatísticos nos valores médios da DAR, e para complementar esta análise efectuou-se o teste de comparação de médias (teste de homogeneidade). A informação referente ao valor social e ambiental do uso energético do Mopane, assim com os bens e serviços disponibilizados pelo Mopane foi analisada de forma descritiva,tendo como base a resposta dos entrevistados. O mesmo efectuou-se para a informação referente a avaliação das diferentes técnicas usadas no processamento energético do Mopane, tendo esta sido acrescentada a componente crítica. Os dados referentes a viabilidade económica das diferentes alternativas do uso energético do Mopane, foram analisados com base na equação ajustada da razão beneficio-custo, e com o cálculo da lucratividade. Equações estas processadas na folha de cálculos do Microsoft Office Excel. Estudo das diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospemum mopane) no Posto Administrativo de Combomune Autor: Baptista Jaime Milione 23 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1. Bens disponibilizados pelo Mopane A floresta de Mopane esta cada vez mais reconhecida como um espaço de importância fundamental para a manutenção dos valores naturais e para a melhoria da qualidade de vida das populações. É notável a importância da espécie Colophospemum mopane, pois é a espécie mais abundante a nível do distrito de Mabalane. A tabela abaixo ilustra algumas das principais importâncias socioeconómicas desta espécie, uma vez que os serviços por esta prestada e a sua importância ecologia estão descritas na componente revisão bibliográfica. Tabela 2 – Bens disponibilizados pelo Mopane. Importância Descrição Socioeconómico Uso de carvão vegetal como fonte de energia; Construção na base de estacas de Mopane (como espécie alternativa); Agricultura praticada em locais em que a espécie Mopane serve de quebra vento e evita a erosão do solo; Uso das folhas do Mopane para a alimentação dos animais. A floresta é tida como elemento místico na cultura da população, especialmente para as que nelas vivem. Pois está completamente associada a rituais tradicionais da comunidade. FAO (2007), em seu estudo sobre, Florestas e Fauna Bravia na Segurança Alimentar, Nutrição e Alívio à Pobreza, afirma que a lenha e carvão para além de garantirem a renda das comunidades rurais, são utilizados principalmente para cozinhar e para aquecimento no tempo frio, afectando deste modo, a qualidade de alimentos e o ambiente das populações. Nas zonas rurais, todo o material de construção (estacas, capim, fibras para cordas) e os utensílios domésticos (cestos, colheres, pilões, cadeiras, etc.) são obtidos das florestas locais. Deste material inclui-se o material para a construção de currais para os animais domésticos e celeiros para a conservação de produtos agrícolas, que são a base para a segurança alimentar e nutrição das populações rurais. Estudo das diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospemum mopane) no Posto Administrativo de Combomune Autor: Baptista Jaime Milione 24 4.2. Perfil dos entrevistados Foram inqueridos um total de 94 questionários a indivíduos residentes no posto administrativo de Combomune que estão envolvidos no uso energético do Mopane. Dos entrevistados, 67 estão envolvidos na actividade de produção e comercialização de carvão e 27 estão envolvidos na actividade de colecta comercialização de lenha. Na tabela 3 consta a distribuição dos entrevistados por sexo e idade. Tabela 3 – Sexo e idade dos indivíduos envolvidos nas actividades de uso energético do Mopane. Actividades de uso energético do Mopane Masculino Feminino A B C D E A B C D E Produção e comercialização de carvão 9 17 30 5 0 1 5 0 0 0 Comercialização de lenha 3 5 12 3 1 0 2 1 0 0 Total 12 22 42 8 1 1 7 1 0 0 Como pode-se observar, as actividades do uso energético do Mopane estão mas centrada nos indivíduos do sexo masculino, sendo no seu todo 85 indivíduos, enquanto o sexo feminino é representado apenas por um total de 9 indivíduos, dos quais 6 encontram-se envolvidas na produção e comercialização de carvão e somente 3 na comercialização de lenha. Chavana (2014), em “estudo da cadeia de valor de carvão vegetal no sul de Moçambique” apesar de ter inquerido 21 indivíduos, obteve resultados semelhantes quanto a participação do sexo feminino na actividade de produção de carvão, onde do total dos entrevistados mais de 95% era do sexo masculino. Uma situação diferente foi observada por Mabote (2011), em seu estudo sobre “avaliação do impacto da comercialização do carvão vegetal no rendimento das famílias rurais do distrito de Magude”, onde inqueriu 50 indivíduos que comercializam carvão vegetal, sendo maior parte do sexo feminino, no total 42 pessoas. A – Menos de 29 anos; B – De 30 a 39 anos; C – de 40 a 49 anos; D – De 50 a 59 anos; E – + de 60 anos. Sexo e Idade Estudo das diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospemum mopane) no Posto Administrativo de Combomune Autor: Baptista Jaime Milione 25 4.2.1. Relação entre nível de escolaridade e a disposição a receber A partir dos dados colectados, as respostas foram estratificadas em seis categorias de grau de instrução formal para os dois grupos que estão envolvidos no uso energético do Mopane (Carvão e Lenha), de acordo com a tabela 3. Tabela 4 – Relação entre nível de escolaridade e a disposição a receber dos indivíduos envolvidos na actividade de uso energético do Mopane. Níveis de escolaridade Carvão Lenha n % DAR ̅ n % DAR ̅ Não têm educação formal 14 20,90 45 429,00 8 29,63 42 000,00 1ª a 5ª classe 33 49,25 47 939,00 13 48,15 53 846,00 6ª a 7ª classe 13 19,40 48 308,00 1 3,70 60 000,00 8ª a 10ª classe 4 5,97 36 000,00 3 11,11 63 333,00 Ensino secundário (11ª a 12ª) 3 4,48 36 000,00 2 7,41 49 000,00 Outro (Indivíduos que possuem ensino técnico ou superior) 0 0,00 0,00 0 0,00 0,00 Total 67 100 27 100 DAR ̅: média do valor em que cada inquerido esta disposto a receber. Observa-se que tanto os indivíduos envolvidos na actividade de produção e comercialização de carvão assim como os envolvidos na comercialização de lenha, apresentam um baixo nível de educação formal, pois maior parte deles encontram-se entre a 1ª a 5ª classe, sendo 49,25% para carvão e 48,15% lenha, e este baixo nível de educação formal é reforçado pela considerável percentagem dos indivíduos sem educação formal, dos quais 20,90% pertencem a produção e comercialização de carvão e 29,63% a comercialização de lenha. Apesar de ambos cenários (carvão e lenha) não apresentarem indivíduos que possuem ensino médio ou superior, a actividade de comercialização de lenha apresenta maior percentagem de indivíduos com 8ª a 10ª classe assim como indivíduos com ensino secundário em relação a actividade de produção e comercialização de carvão, sendo 11,11% e 7,41 contra 5,97% e 4,48% respectivamente. Mas a diferença dos dois cenários na percentagem dos indivíduos com 6ª a 7ª classe é muito elevada, sendo maior em carvão em relação a lenha. As médias da disposição a receber para os indivíduos envolvidos na produção e comercialização de carvão assim como na comercialização de lenha, não são Estudo das diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospemum mopane) no Posto Administrativo de Combomune Autor: Baptista Jaime Milione 26 directa/inversamente proporcional aos níveis de escolaridade, sendo assim a influência do nível de escolaridade na DAR foi analisada com base no teste da ANOVA (tabela 7). A provável causa deste cenário, deve-se ao facto de que os indivíduos com níveis de escolaridade mais avançada, tem a percepção de que o mais importante não é o rendimento imediato disponibilizado pelo uso do Mopane, mas sim o rendimento constante que esta pode disponibilizar quando utilizada de maneira sustentável. Por isso os seus valores da DAR tendem a ser variados (valor em que cada individuo esta disposto a receber). 4.2.2. Relação entre faixa de renda e a disposição a receber Através das informações as quaisse puderam colectar, para uma melhor simplificação, os dados foram estratificados. As categorias de renda gerada pelo uso energético do Mopane e as suas médias de DAR constam na tabela abaixo. Tabela 5 – Relação entre faixa de renda e a disposição a receber dos indivíduos envolvidos na actividade de uso energético do Mopane. Faixas de renda Carvão Lenha n % DAR ̅ n % DAR ̅ De 2.000,00 Mt |–› 4.000,00 Mt 15 22,39 35 200,00 11 40,74 43 090,00 De 4.000,00 Mt |–› 6.000,00 Mt 32 47,76 44 938,00 16 59,26 56 875,00 De 6.000,00 Mt |–› 8.000,00 Mt 13 19,40 54 000,00 0 0,00 0 Mais 8.000,00 Mt 7 10,45 61 429,00 0 0,00 0 Total 67 100 27 100 Nota-se que a renda dos indivíduos envolvidos na actividade de comercialização de lenha centra-se nas primeiras duas categorias, com ausência das duas últimas categorias. Em indivíduos envolvidos na produção e comercialização de carvão, observa-se que 47,76% dos entrevistados possuem renda média mensal que varia de 4000,00Mt a 6000,00Mt, e também se pode observar que 22,39% apresentam uma renda média mensal que varia de 2000,00Mt a 4000,00Mt. Verifica-se ainda que até o nível 3 os percentuais obtidos são razoáveis, porém, o nível 4 apresentou um baixo percentual, com apenas 10,45%, o que torna possível caracterizar que a distribuição de renda da amostra está mais concentrada na faixa 2, seguida de 1 e 3 respectivamente. Estudo das diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospemum mopane) no Posto Administrativo de Combomune Autor: Baptista Jaime Milione 27 Este cenário das variações percentuais nas faixas de renda, diferem-se por uma pequena margem quando comparados com os resultados do estudo realizado por Chavana (2014), em “estudo da cadeia de valor de carvão vegetal no sul de Moçambique”, onde a distribuição da renda está mais centrada em valores acima de 6.000,00Mt. Quando aos valores médios do DAR, pode-se observar que nos dois cenários tendem a aumentar com o aumento da faixa de renda, sendo que a ultima faixa demonstra-se com maior média da DAR, somente para o cenário 1 (carvão), pois no cenário 2 (lenha) não há um percentual expressivo. Podendo se dizer que, os inqueridos estipulam o valor a receber com base em seus ganhos nas actividades envolvidas. 4.2.3. Relação entre faixa etária e a disposição a receber A faixa etária dos entrevistados foi separada em 5 categorias de idades partindo de menos de 29 anos a mais de 60, como ilustra a tabela abaixo. Tabela 6 – Relação entre faixa etária e a disposição a receber dos indivíduos envolvidos na actividade de uso energético do Mopane. Faixa etária Carvão Lenha n % DAR ̅ n % DAR ̅ Menos de 29 anos 10 14,93 32 400,00 3 11,11 40 667,00 De 30 a 39 anos 22 32,84 42 091,00 7 25,93 46 571,00 De 40 a 49 anos 30 44,78 52 400,00 13 48,15 51 077,00 De 50 a 59 anos 5 7,46 55 200,00 3 11,11 74 667,00 + de 60 anos 0 0,00 0,00 1 3,70 48 000,00 Total 67 100 27 100 Analisando as estratificações por faixa etária, observa-se que as actividades do uso energético do Mopane apresentam um percentual baixo para os indivíduos acima de 50 anos bem como abaixo de 29 anos. Mais pode-se concluir que as duas actividades centram-se mais nos indivíduos com idades que compreendem de 30 a 49 anos. As médias da DAR são maiores em indivíduos com idades mais avançadas, com excepção da última faixa etária (+ de 60 anos), em que para a actividade de produção e comercialização de carvão não apresenta um percentual expressivo e na actividade de comercialização de lenha é representado apenas por 3,70% e uma DAR de 48.000,00Mt, o que significa que é Estudo das diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospemum mopane) no Posto Administrativo de Combomune Autor: Baptista Jaime Milione 28 representado por apenas um individuo que tem como seu valor de disposição a receber para o não uso do Mopane um valor equivalente a 48.000,00Mt. Almeida et al., (2014), no estudo sobre “Disposição a pagar pela preservação e melhoria do Parque Olhos Dágua – DF” em Belo Horizonte, aponta que em estudos referentes a disposição a pagar (DAP), os valores destes são inversamente proporcional a faixa etária, e em estudos referentes a disposição a receber (DAR), observa-se o contrário, isto é, a DAR é directamente proporcional a faixa etária. Levando em conta que os indivíduos com idades mais avançadas são chefes dos agregados familiares resulta num aumento na disposição a receber a que estes estão a necessitar. 4.3. O valor disposição a receber (DAR) Com o propósito de se obter o valor de disposição a receber fez-se a estimativa da média de todos os indivíduos entrevistados para ambos os cenários: lenha (n = 67) e carvão (n = 27) separadamente. Em seguida foram analisados os seus valores de desvio padrão e o coeficiente de variação. A seguir, Tabela 6, são apresentados os resultados das estimativas. Tabela 7 – Disposição a receber para cada cenário (lenha e carvão) Cenário 1 (carvão) Cenário 2 (lenha) Média da DAR 46 239,00Mt 51 259,00Mt n 67 27 Desvio padrão 10442 12724 CV % 22.58 24.82 De acordo com os coeficientes de variação determinados para os cenários distintos, o cenário 1 se mostrou com menor valor de CV em relação ao cenário 2. O que significa que os valores da DAR do cenário 1 apresentam menor variabilidade em relação à média da população, quando comparado com o cenário 2. Pode-se considerar que tanto para o cenário 1 (carvão) assim como para o cenário 2 (lenha) os CV do DAR são alto (pois são encontrados entre 20 a 30%), o que leva-se a acreditar que estes valores são altamente influenciados pelos aspectos sócio económicos dos indivíduos inqueridos. De acordo com Gomes (1985), o CV é inversamente proporcional à classificação Estudo das diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospemum mopane) no Posto Administrativo de Combomune Autor: Baptista Jaime Milione 29 da precisão do experimento, ou seja, quanto maior o CV menor a precisão experimental. Deste modo como o CV é alto, a precisão de disposição a receber par ambos cenários é baixa. 4.3.1. Análise da variância da DAR em diferentes faixas (escolaridade, renda e idade) A tabela abaixo ilustra os valores da probabilidade da ANOVA nos dois Cenários (carvão e lenha), de modo a se observar se diferentes nível de escolaridade, faixa etária e, renda influenciam ou não no valor a que cada individuo esta disposto a receber. Tabela 8 – Probabilidade da ANOVA em diferentes faixas (escolaridade, renda e idade) Cenário 1 (Carvão) Cenário 2 (Lenha) Probabilidade Nível de escolaridade Faixa de etária Faixa de renda * *, Comprova que existe diferenças significativas a 1% e 5% de probabilidade, e NS para valores não significativos. Com base na tabela acima (tabela 7), é possível notar que o nível de escolaridade não tem grande influência sobre o valor em que cada indivíduo está disposto a receber pelo não uso do Mopane. Isto é, as médias de nível de escolaridade não apresentam diferenças significativas para os dois cenários. Quanto a componente faixa etária e renda estas sim influenciam no valor em que cada indivíduo está disposto a receber, para os dois cenários a 1% e 5% de probabilidade. Abaixo esta representada a comparação das médias. A comparação das médias com base no teste LSD (Diferença Mínima Significativa), permitiu avaliar quais médias apresentam uma certa homogeneidade entre elas. A seguir mostra-se os gráficos de comparação das médias: Estudo das diferentes alternativas usadas no aproveitamento energético de Mopane (Colophospemum mopane) no Posto Administrativo de Combomune Autor: Baptista Jaime Milione 30 1 – Menos
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