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CURSO DE FARMÁCIA RONNY SALOMAO DA SILVA PLANEJAMENTO RACIONAL DE FÁRMACOS A importância do planejamento, métodos, técnicas e aplicação ao Captropil. VITÓRIA - ES 2020 1.INTRODUÇÃO “Os novos fármacos têm revolucionado a prática da medicina, convertendo muitas doenças antes fatais ou debilitantes em exercício terapêutico controláveis.” (KATZUNG, 2010, p. 57). Na tratativa da temática um pilar fundamental foi o modelo pioneiro proposto por Emil Hermann Fischer em 1885 e batizado como o modelo chave-fechadura baseado na complementaridade topográfica existente entre a fechadura e sua chave. (BARREIRO; FRAGA, 2015). Sucede que este modelo era limitado e posteriormente verificou-se que o reconhecimento molecular do fármaco pela biomacromolécula (alvo) é dependente do arranjo espacial dos grupamentos funcionais e das propriedades estruturais. O significado de planejamento racional de fármacos é um conjunto de adoções de etapas baseadas em analises para uma formulação de um fármaco. (KATZUNG, 2010). Assim, para o planejamento da arquitetura de novas moléculas que se candidate a um fármaco novo, necessariamente deve ser baseado no mecanismo de ação, é fundamental o prévio conhecimento do processo fisiopatológico envolvido para a escolha correta do melhor alvo-terapêutico, tendo em vista que o alvo terapêutico é uma biomacromolécula – enzima ou receptor. O planejamento do fármaco é muito importante, de modo que é preciso levar em consideração dois pontos a se partir após a decisão do alvo terapêutico, se este possui estrutura tridimensional conhecida e se este não possui estrutura conhecida, de sorte que, se conhecida, particularmente o sitio de interação permitirá o desenho de inibidores/ativadores enzimáticos ou antagonista/agonistas de receptores por processos de complementaridade molecular planejada, que podem por sua vez discriminar entre interações reversíveis ou ligações covalentes. Por outro lado, a luz da fisiologia ou fisiopatologia a estrutura do biorreceptor a ser alvo terapêutico não for conhecida, o desenho molecular do inibidor/ativador enzimático ou do antagonista/agonista de receptor desejado pode ser inspirado a partir do substrato enzimático ou agonista natural do receptor alvo terapêutico. Assim, identificando-se um novo análago-ativo. (BARREIRO; FRAGA, 2015). Os métodos que podem ser utilizados com finalidade de conhecimento da estrutura avançam, entre eles a ressonância magnética nuclear e a cristalografia de raio-X associado ao Banco de Dados de Proteínas (PDB, do inglês Protein Data Bank), além disso adjunto aos avanços do genoma e proteonomas. (TAVARES et al, 2015). Assim, uma vez conhecido o novo bioligante muitas vezes requer modificações moleculares cujo nome é hit de modo a ajustar as propriedades farmacocinéticas isentando as características farmacodinâmicas, antes, porém é necessário a designação prévia do(s) grupamento(s) auxofórico(s) e quanto ao grau de contribuição o(s) farmacofórico(s) identificado(s), com a finalidade de preservá-lo e conversar seu reconhecimento molecular pelo bioreceptor, além disso em um análogo-ativo é possível ir variando o grau de similaridade molecular em relação à estrutura do substrato natural a fim de otimizá-lo seja por serie congênere e bioisosterismo, simplificação, hibridação molecular do análogo ativo (Figura 1) atentando para as contribuições toxicofóricas assim, sendo comprovado por meio de teste in vivo passa a ser um novo composto-protótipo. (BARREIRO; FRAGA, 2015). O captropil é um fármaco da classe de inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA), a peptidil dipeptidase capaz de hidrolisa a angiotensina I em angiotensina II (Figura 2). (KATZUNG, 2010). Com base no planejamento racional de fármacos a partir da analise prévia do mecanismo de controle da pressão arterial e a da participação do sistema renina-angiotensina (SRA), se verificou que diante da renina o angiotensinogênio de estrutura decapeptídio é clivado em precursor inativo, a angiotensina I, posteriormente por ação da ECA há a conversão desta para a angiotensia II de estrutura octapeptídeio vasoconstritor arterial com efeito desecadeando o aumento da pressão arterial, vasoconstrição e aumento da FIGURA 1 - O PROCESSO DE DESCOBERTA/INVENÇÃO DE NOVO COMPOSTO-PROTÓTIPO PELA ABORDAGEM FISIOLÓGICA Fonte: Modificado de Barreiro e Fraga (2015, p. 175) resistência periférica, além disso age de maneira a converter a bradicina em metabolitos inativos ainda de acordo com Katzung (2010). O planejamento molecular do captopril fundamentou-se, de maneira geral, na construção de unidades peptídicas simples, elaboradas a partir da unidade terminal do substrato natural da enzima ECA, isto é angiotensina I, em uma estratégia de identificação de um protótipo dirigido ao sítio-ativo. (BARREIRO; FRAGA, 2015, P. 205) É possível observar que a identificação da região da angiotensina I responsável pela interação com a ECA permitiu a determinação de um protótipo de modo a inibi-la. Portanto observou-se que ECA possui atividade catalítica dependente de Zinco, especifica para a angiotensina I, pois sua região terminal é capaz de realizar coordenação com o íon Zn2+ e sofrer um ataque nucleofílico, que resulta na clivagem do substrato decapeptídico a octapeptídico ativado. (TAVARES et al., 2015). A partir disso, foi obtido um derivado peptóide na (Figura 3 - 4.43) recebendo a introdução de um grupamento metila em α à ligação peptídica (4.44) ainda assim não satisfatoriamente com experiência em in vivo em pulmão de coelho, deu-se origem ao Captopril (4.3) após a introdução de um grupo tiol primario (SH) substituindo o carboxilato (COO ־) da unidade succinila (4.44), dando assim propriedade mais favorável a interação com o zinco presente no sitio ativo da ECA. (BARREIRO; FRAGA, 2015). FIGURA 2- BIOFORMAÇÃO DA ANGIOTENSINA II (4.42) DEVIDO AÇÃO DA ECA SOBRE A ANGIOTENSINA I (4.41). Fonte: Modificado de Barreiro e Fraga (2015, p. 187) FIGURA 3 - GÊNESE DO CAPTOPRIL (4.3) Fonte: Modificado de Barreiro e Fraga (2015, p. 188) REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS BARREIRO, Eliezer; FRAGA, Carlos. Química Medicinal: As Bases Moleculares da Ação dos Fármacos. 3 ed. Porto Alegre: Artmed, 2015. Cap. 4, p.172-178; Cap. 4. p.185-189. TAVARES, Maurício; et al. Interações Fármaco-Receptor: Aplicações De Técnicas Computacionais Em Aula Prática Sobre A Evolução Dos Inibidores Da Enzima Conversora De Angiotensina. Departamento de Farmácia da USP & Departamento de Farmácia da Universidade São Francisco. p.2-3, 2015. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100- 40422015000801117#f2. Acesso em: 2 maio de 2020. KATZUNG, Bertram. Farmacologia Básica e Clínica. 10 ed. Porto Alegre: Amgh, 2010. Cap. 5, p.57; Cap.11, p.157-158.
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