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Atividade 03 Desafios Contemporâneos

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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI 
Curso: Ciências Contábeis 
Atividade 03 – Desafios Contemporâneos 
“A partir das informações apontadas no texto base e nos conhecimentos adquiridos ao longo da unidade 3 da disciplina Desafios Contemporâneos, faça um texto dissertativo apresentando uma análise crítica, descrevendo os impactos decorrentes da inovação tecnológica no mercado e da indústria 4.0 e a precarização do trabalho humano.”
A cada dia, quando milhões de trabalhadores de todo o mundo acordam e se preparam para trabalhar, uma revolução silenciosa ocorre, ainda que eles não percebam nada, mas que pode, em última instância, lhes custar o posto de trabalho. Ainda que demore para se consolidar, como é o caso nos países periféricos e dependentes do sul global – em oposição às nações centrais do capitalismo – especialistas esperam que nos próximos anos a quarta revolução industrial vai transformar a forma como nos relacionamos com o mundo do trabalho.
Caracterizada principalmente pelo avanço da automatização a um patamar completamente novo, graças ao desenvolvimento contínuo da inteligência artificial e interações entre dispositivos, principalmente on-line (internet das coisas, ou IoT), a indústria 4.0 reúne as condições para tornar obsoletas um número impressionante de profissões (EVANGELISTA, 2018). Em que pesem os benefícios concretos que certamente vai trazer à humanidade nas mais diversas áreas do conhecimento, não podemos ignorar debates acerca do destino do contingente de afetados pelas mudanças que já ocorrem e que certamente vão se aprofundar. Como vamos lidar com o desemprego? Será que todos vão conseguir se recolocar? Seriam possíveis outras formas de sociabilidade em que pudéssemos conciliar os benefícios da tecnologia e seus custos sociais?
Não é de hoje que avanços tecnológicos impõem impasses nas relações trabalhistas, muito embora houvesse quem considerasse que a tecnologia, por si só, seria capaz de dar conta de problemas de desigualdade. Contrapondo conceitos de Hannah Arendt e Karl Marx, Domenico Losurdo analisou ideias diametralmente opostas acerca dos resultados da evolução tecnológica na vida dos trabalhadores. Conforme a autora, seria um equívoco entender a pobreza enquanto problema a ser resolvido pela via política; segundo ela, a própria evolução tecnológica operaria as mudanças na sociedade no sentido de eliminar gradualmente a pobreza, esta, um dado da natureza. Para demonstrar a posição do pensador alemão, Losurdo cita um exemplo constante em “O Capital”, de acordo com o qual, embora tornasse mais eficiente o trabalho dos negros escravizados nos Estados Unidos, o advento do desencaroçador de algodão não foi suficiente para impedir o aumento vertiginoso no número de escravos – saltando dos 697.000 quando o primeiro censo foi realizado no país, em 1790, para por volta de 4 milhões no ano de 1861. Aqui, podemos considerar a possibilidade de que aumentos de produtividade não necessariamente se refletem na evolução da sociedade como tal, mas no enriquecimento daqueles que detêm os meios de produção.
Ainda que especulemos, não temos como precisar quais os efeitos da indústria 4.0 na vida de diferentes trabalhadores pelo mundo, no entanto, segundo um estudo realizado pela consultoria norte-americana Comparisun, há grandes chances de que tenhamos até 2026 o primeiro trilionário da história (GAVIOLI, 2020). A empresa fundada por Jeff Bezos, a Amazon, tem sua história proximamente ligada à tecnologia e, em um triste paralelo com o exemplo da escravidão nos EUA, podemos dizer que as condições dos funcionários da empresa não melhoram na mesma proporção em que seu patrão vem multiplicando sua riqueza, a qual, nos últimos 5 anos cresceu a uma taxa média de 34% (um número impressionante se comparado ao PIB global cujo pico, no mesmo período, não passou de modestos 3,2%) (THE WORLD BANK, 2020). Neste ponto, ressaltemos que o paralelo que ora estabelecemos com os tempos da escravidão no continente americano não pretende ignorar a substancial diferença existente entre o trabalho escravo e o assalariado, tampouco podemos nos esquecer de todos os avanços conquistados a duras penas por trabalhadores e trabalhadoras de todo o mundo no século passado. Feita essa ressalva, prossigamos dizendo que, segundo relatos de funcionários, nos armazéns da empresa, há controle do tempo em que podem usar o banheiro, por exemplo. Nem mesmo os funcionários do escritório têm uma vida melhor, já que há constante pressão psicológica por resultados. Além disso, a alta rotatividade de funcionários na empresa torna difícil sua organização em prol de melhores condições de trabalho (ISSER, 2020).
Os investimentos de Jeff Bezos não se resumem à Amazon, outra empresa de presença mundial em que aplica sua fortuna é a Uber. Esta última, que em poucos anos se tornou sinônimo de mobilidade nas grandes cidades, exemplifica bem as mudanças às quais o mundo do trabalho vem se submetendo. Não à toa, o termo “uberização” é usado para descrever a degradação dos direitos trabalhistas arduamente conquistados ao longo da história. Também indica um efeito colateral talvez menos perceptível nas discussões sobre o futuro da tecnologia no mercado de trabalho. Na Alemanha, país que lidera avanços tecnológicos no âmbito global, com uma indústria em avançado estágio de automatização, a taxa de desemprego não acompanha o ritmo do processo da automação (EVANGELISTA, 2018). O que ocorre, todavia, é que as pessoas empregadas têm suas condições precarizadas: sem vínculos empregatícios estáveis e muitas vezes ganhando por produção, veem-se obrigadas a cumprir jornadas de trabalho mais longas, enquanto ficam desprotegidas em caso de doenças, por exemplo.
Com todos os exemplos citados, algumas pessoas poderiam dizer que a saída passa por retardar, regular ou até mesmo restringir os avanços tecnológicos aplicáveis no ambiente de trabalho. No entanto, certa experiência ocorrida nos primórdios da organização trabalhista pode pôr em xeque proposições dessa natureza. O obscuro tecelão Ned Ludd inspirou um espontâneo movimento de trabalhadores que, inconformados com a miséria em que viviam, se organizaram em diferentes partes da Inglaterra do começo do século XIX para literalmente destruir o maquinário, atribuindo à tecnologia o motivo de seu infortúnio (MANFRINI, 2019). Voltando a Losurdo, o filósofo italiano afirma que em Marx, os ludistas, como ficaram conhecidos esses trabalhadores destruidores dos instrumentos de produção, ainda que tendo compreendidas suas motivações, deveriam direcionar sua luta contra as relações burguesas de produção, em vez do maquinário. Dessa forma, torna-se possível fazer uma distinção entre as máquinas (ou, em nosso caso, a tecnologia avançada), capazes de tornar o trabalho menos dispendioso do ponto de vista humano, e o uso capitalista delas.
Referências:
EVANGELISTA, A. P. Seremos líderes ou escravos da Indústria 4.0? Carta Maior, 2018. Disponivel em: <https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Idades-da-Vida/Seremos-lideres-ou-escravos-da-Industria-4-0-/13/40955>. Acesso em: 25 maio 2020.
GAVIOLI, A. Jeff Bezos pode se tornar o primeiro trilionário da história em breve, aponta pesquisa. Infomoney, 15 Maio 2020. Disponivel em: <https://www.infomoney.com.br/negocios/jeff-bezos-pode-se-tornar-o-primeiro-trilionario-da-historia-em-breve-aponta-pesquisa/>. Acesso em: 26 maio 2020.
ISSER, M. Jeff Bezos Shouldn’t Be a Billionaire, Much Less a Trillionaire. Jacobin, 22 maio 2020. Disponivel em: <https://jacobinmag.com/2020/05/jeff-bezos-trillionaire-amazon-billionaire>. Acesso em: 25 maio 2020.
LOSURDO, D. Class Struggle - A Political and Philosophical History. New York: Palgrave Mcmillan, 2016.
MANFRINI, C. Breve História do Movimento Operário: Ludismo. Nova Cultura, 16 março 2019. Disponivel em: <https://www.novacultura.info/single-post/2019/03/16/Breve-Historia-do-Movimento-Operario-Ludismo>. Acesso em: 25 maio 2020.
THE WORLD BANK. World Bank national accounts data, and OECD National Accounts data files. The World Bank, 2020.Disponivel em: <https://data.worldbank.org/indicator/NY.GDP.MKTP.KD.ZG?end=2018&start=2013&view=chart>. Acesso em: 25 maio 2020.

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