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Memoriais 2 (2)

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE JUAZEIRO DO NORTE-CE
Processo nº: 
Autor: MINISTERIO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ
Denunciado: ALESSANDRO 
ALESSANDRO, já devidamente qualificado nos autos do processo em epígrafe, através de seu procurador que a esta subscreve, vem respeitosamente à presença de V. Exa., nos termos do 403, § 3º do Código de Processo Penal, tempestivamente, no quinquídio legal, apresentar ALEGAÇÕES FINAIS SOB A FORMA DE MEMORIAIS, pelas razões de fato e de Direito a seguir apontadas;
1.	SÍNTESE DOS FATOS
Narram os autos que desde janeiro de 2016 até, pelo menos, 4/4/2018, em Juazeiro do Norte-CE, o denunciado Alessandro, deixou, em diversas ocasiões e por períodos prolongados, de prover a subsistência de seu filho Rodrigo, menor de 18 anos, não lhe proporcionando os recursos necessários para sua subsistência e faltando ao pagamento de pensão alimentícia fixada nos autos n.º 000/2016 – Vara Única de Família de Juazeiro do Norte – CE (ação de alimentos) e executada nos autos do processo n.º 001/2016 do mesmo juízo. 
O membro do Ministério Público ofereceu denuncia contra Alessandro com incurso nas penas previstas no art. art. 244, caput, c/c art. 61, inciso II, "e", ambos do Código Penal. 
A denúncia foi recebida em 3/11/2018 e determinada a citação do réu para se defender no prazo legal apresentado, assim sua resposta à acusação por Defensor Público.
A audiência de instrução e julgamento foi designada e Alessandro compareceu desacompanhado de advogado e do defensor público.
No curso da instrução criminal, colhido o depoimento da testemunha Geisa, genitora e representante legal da vítima e as testemunhas de defesa.
O juiz dispensou o interrogatório do Acusado sob o argumento de que as provas produzidas eram suficientes ao julgamento da causa.
Não houve requerimento de diligências e o em manifestação escrita, o Ministério Público pugnou pela condenação do réu nos exatos termos da denúncia.
Em síntese, são os fatos.
2.	DO DIREITO 
2.1. DA CONCESSÃO DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO, 
É sabido que a suspenção condiciona é um beneficio devidamente amparado no ordenamento jurídico pátrio, vide art. 89 da Lei 9.099/95. Por sua vez é de estrema importância salientar alguns requisitos, trazido pelo dispositivo legal citado, conjuntamente com o art. 77 do CP, sendo eles; 
 ”Crime em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, que o réu não seja reincidente em crime doloso e a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, autorizarem a concessão do benefício , o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, deverá propor a suspensão condicional do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime.”
Verifica-se, que nos autos, encontrando-se devidamente preenchido os pressupostos da suspensão condicional do processo, previsto nos supramencionados art. 89 da Lei 9.099/95 e art. 77 do Código penal.
Ocorre, meritíssimo, que o Ministério Público deixou de oferece. Diante disso , quando o membro do parquet deixa de oferecer, operou-se o entendimento segundo o qual deve ser aplicado, por analogia, o art. 28 do CPP, conforme se destaca da Súmula 696 do STF, in verbis:
“Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo, mas se recusando o promotor de justiça a propô-la, o juiz, dissentindo, remeterá a questão ao Procurador-Geral, aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal”.
Da mesma forma, como bem observa AURY LOPES JR. (LOPES, p. 763), estaria sendo negado, ainda, “a garantia da jurisdição, na medida em que afasta do juiz o poder de assegurar a máxima eficácia do sistema de garantias do imputado”.(grifo nosso)
Nesse mesmo sentido , comenta o Luiz Antônio Francisco Pinto Promotor de Justiça e jurista ;
“O enunciado a cada dia tem sido reforçado por inúmeras decisões que levam a firmar que o Sursis Processual é um direito subjetivo do paciente, que pode ensejar até a nulidade do procedimento se não lhe for dada conveniência para gozá-lo, e assim, deve o juiz proceder ao oferecimento dessa oportunidade ao paciente, claro que na hipótese de recusa injustificada ou improcedente por parte do MP.”
 Por fim, destaca-se, a defesa não deve esperar a sentença para alegar a nulidade em apelação, mas, sim, atacar pela via do Habeas Corpus – quando a nulidade se embasar no cerceamento de defesa, configurando-se uma coação ilegal -, ou mesmo do Mandado de Segurança – sob o fundamento de violação ao direito líquido e certo à concessão de um direito público subjetivo, bem como de ter o devido processo penal (LOPES, p. 773).
2.2. NULIDADE POR AUSÊNCIA DE DEFESA TÉCNICA;
Conforme disposto na Súmula 523 do Supremo Tribunal Federal, é possível a nulidade processual em casos de defesa deficitária. Esse foi o entendimento aplicado pela 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça vejamos ;
APELAÇÃO CRIMINAL. ROUBO MAJORADO. RENÚNCIA DO ADVOGADO. FALTA DE INTIMAÇÃO PESSOAL DO RÉU PARA REGULARIZAR A SUA REPRESENTAÇÃO. AUSÊNCIA DE DEFESA TÉCNICA EM AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO. NULIDADE ABSOLUTA CONFIGURADA. SÚMULA 523 STF. RECURSO PROVIDO. 1.Não possuindo o apelante advogado que o represente na audiência de instrução e julgamento e nem tendo sido nomeado defensor ad hoc para suprir esta ausência, configura-se nulidade processual absoluta dos atos posteriores à renúncia, por afronta aos princípios da ampla defesa e do contraditório. Súmula 523 do STF. 2. Apelo provido.
(TJ-AM - APR: 00000298720178046300 AM 0000029-87.2017.8.04.6300, Relator: Jomar Ricardo Saunders Fernandes, Data de Julgamento: 04/11/2019, Segunda Câmara Criminal, Data de Publicação: 06/11/2019)
Deste modo, excelentíssimo, verifica-se no caso concreto que deixou de nomear defensor ad hoc para acompanhar a audiência onde colheu os depoimentos das testemunhas, em latente afronta aos princípios do contraditório e da ampla defesa. Portanto, fica evidencia a nulidade absoluta.
2.3 NULIDADE POR AUSÊNCIA DE INTERROGATÓRIO DO RÉU; 
De observar, inicialmente, que o art. 564, III, alínea e, do CPP, considera caso de nulidade a falta de fórmulas ou termos relacionados com “a citação do réu para se ver processar, o seu interrogatório, quando presente, e os prazos concedidos à acusação e à defesa”
O interrogatório não é um ato do juiz, mas sim do réu porque é o meio de defesa e de prova, com isso a adoção do princípio da identidade física do Juiz no processo penal não pode conduzir ao raciocínio simplista de dispensar totalmente e em todas as situações a colaboração de outro juízo na realização de atos judiciais, inclusive do interrogatório do acusado, sob pena de subverter a finalidade da reforma do processo penal, criando entraves à realização da Jurisdição Penal que somente interessam aos que pretendem se furtar à aplicação da Lei. 
Nesse liame, pode-se destacar um, dentre vários, julgado do Superior tribunal de justiça:
Ementa: Agravo em execução penal – Falta grave – Preliminar de nulidade por ausência de interrogatório judicial e por violação ao disposto no art. 93 , inciso IX , da Constituição da República – Inocorrência – Procedimento administrativo que não se reveste dos rigores do processo penal – Ausência de demonstração de efeito prejuízo à defesa da recorrente – Pas de nullité sans grief – Desrespeito – Falta disciplinar devidamente caracterizada – Desclassificação inviável – Decisão mantida – Recurso não provido.
2.4. DA ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA;
Ademais, a constituição de um juízo correto e imparcial para apreciar as provas documentais e técnicas estaria comprometido, uma vez que embasado em versões da vítima e de testemunhos insipientes, contraditórios e dúbios. “Sendo conflitante a prova e não se podendo dar prevalência a esta ou aquela versão, é prudente a decisão que absolve o Réu”. (AP. 29.889, TACrimSP, Relator Cunha Camargo).
Para a condenação do réu a prova há de ser plena e convincente,ao passo que para a absolvição basta a dúvida, consagrando o princípio “in dubio pro reo” contido no art. 386, VI do CPP. A absolvição sumária autorizada pelo Código é norma tradicional do direito pátrio e inspira-se na razão preponderante de evitar para o réu inocente as delongas e nos notórios inconvenientes do julgamento.
3.	DO PEDIDO 
Diante todo o exposto a defesa requer: 
a) a concessão da suspensão condicional do processo. Caso não seja concedido tal benefício, a defesa pleiteia a anulação do presente processo desde o oferecimento da resposta do réu, haja vista a ausência de defesa técnica.
b) Pelo princípio da eventualidade, caso não haja a anulação de todo o feito, a defesa pleiteia a realização imediata de interrogatório do réu na presença de seu defensor, sob pena de nulidade absoluta. 
c) Concluindo, caso seja outro o respeitado entendimento de vossa excelência, a defesa requer que considere a absolvição do réu, de acordo com o art. 386, III, CPP.
Nestes termos pode deferimento.
Cidade- UF , 20 de junho de 2020.
Advogado 
OAB/UF

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