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Universidade Estácio de Sá Curso de Medicina Disciplina: Saúde Mental - M8 Aluna: Paulla Laryssa Mendes Rocha Matricula: 201907238255 Análise do Filme SNIPER AMERICANO O filme Sniper Americano conta a história real de Chris Kyle, um atirador de elite das forças especiais da marinha americana. Durante cerca de dez anos, ele matou mais de 150 pessoas, tendo recebido diversas condecorações por sua atuação. Chris foi notavelmente influenciado pelo pai, desde sua infância. Em uma das conversas mais marcantes do filme, seu pai explica a ele e seu irmão que existem três tipos de pessoas: as ovelhas, os lobos e os pastores. De forma enfática, ele afirma que o esperado por ele é que seus filhos sejam pastores: aqueles que protegem as frágeis ovelhas dos lobos. Para proteger a família, enfatiza, deve-se fazer qualquer esforço. A partir dessa ideia, Chris desenvolve um ideal de cuidador. Previamente, ele também já tinha sido ensinado a atirar (para a caça) e incentivado a valorizar seu país. Provavelmente por esses princípios, na vida adulta Chris sente grande revolta ao assistir notícias sobre terrorismo, o que o leva a se alistar para o exército. Neste momento, passa então a fazer parte dos “SEALS”, da marinha americana. Na instituição, Chris recebe treinamento pesado e, após completá-lo, recebe treinamento para ser atirador. Suas habilidades como sniper logo se destacam e Chris é convocado para ir ao Iraque atuar nessa função. Já na primeira expedição ele se destaca pela precisão e, aparentemente, pelo preparo psicológico. Em sua primeira missão, Chris é posto em uma posição decisiva, onde deve escolher entre atirar ou não em uma mulher e uma criança com explosivos. Para proteger seus companheiros, Chris atira e começa a ser exposto a eventos potencialmente traumáticos. Em cena posterior, ele demonstra desconforto e confessa a um colega que não era assim que imaginava que seria sua primeira morte. O colega, contudo, diz que ele fez o que deveria para proteger os outros e se retira, onde fica claro que a expressão emocional não é encorajada. Retornando para casa após os primeiros meses na guerra, Chris apresenta alguns sintomas que sugerem que ele possa ter desenvolvido Transtorno de Estresse Pós Traumático (TEPT). É possível observar respostas de sobressalto e hipervigilância quando presentes estímulos sonoros considerados normais no espaço urbano, assim como evitações: não deseja falar sobre o assunto com a esposa e está relutante em sair de casa. Quando finalmente vai ao médico e permite que verifiquem sua pressão, apresenta valores muito elevados, outro fator comumente presente em pacientes com TEPT – visto que indivíduos com esse transtorno podem apresentar frequência cardíaca aumentada. Ao ir para a segunda expedição, encontra seu irmão mais novo na base aérea: ele também havia sido recrutado, mas na ocasião, voltava para os Estados Unidos. Chris cumprimenta o irmão com entusiasmo, mas o mesmo se mostra visivelmente desnorteado e afirma que ele é o seu herói, mas que quer que aquele lugar “se dane”. Chris fica desconfortável, mas segue para sua segunda expedição, que acaba sendo bem mais violenta. Nesta, enfrenta participantes dos grupos terroristas de forma mais direta e presencia colegas torturados mortos, cabeças empilhadas e revoltas de moradores locais acusando-os de assassinato. Retornando para casa após esta expedição, os sintomas de TEPT tornam-se mais graves. Ao encontrar um veterano de quem salvou a vida em um estabelecimento, nitidamente evita falar sobre o assunto e responde vagamente. Ao mesmo tempo, demonstra irritabilidade ao ir encontrar a filha recém-nascida, insatisfeito com a forma com que a enfermeira a trata na maternidade. Sua esposa relata diretamente: “você está presente, mas não está aqui. Eu te vejo, te sinto, mas você não está aqui”. Essa observação é muito comum a quem partilha o dia-a-dia com um indivíduo com TEPT, visto que a sensação de distanciamento ou afastamento das pessoas, seja por evitação de falar a respeito, ou por uma restrição de afeto observada após o evento traumático, também é um dos sintomas comuns. Apesar dos sintomas, Chris ainda retorna ao Iraque por outras duas vezes em expedições, onde se envolve cada vez mais em situações potencialmente traumáticas, envolvendo morte de amigos próximos de formas muito violentas. Mesmo expostos a situações cada vez mais graves, em geral os combatentes mantem-se extremamente evitativos, não conversando profundamente sobre suas emoções e usando humor em momentos por vezes inapropriados como tentativa de manejo do estresse. É importante pontuar que, em situações onde o evento traumático ainda está em andamento, tais sintomas são adaptativos para mantê-los em vivos e em segurança. Tal dado fica claro no enterro de um amigo, onde é lida uma carta de cunho emocional escrita pelo mesmo. Chris afirma: “Briggles foi baleado, fomos movidos pela emoção (para voltar ao campo de batalha) e fomos emboscados – mas não foi isso que matou Marc. Foi aquela carta. Ele esmoreceu e pagou o preço por isso”. Na sua quarta e última expedição, Chris decide largar a marinha após “vingar” um de seus amigos mais próximos. Neste momento os sintomas de TEPT, incluindo flashbacks, irritabilidade, entorpecimento emocional e respostas de sobressalto ficam mais claros; deixando Chris claramente prejudicado em seu funcionamento social e ocupacional. Sua condição apenas começa a mudar de figura quando ele é convencido a procurar um profissional de saúde – momento no qual o apoio social da família foi crucial, tanto para a procura inicial quanto para a continuidade do tratamento. Diante disso, as alterações observadas no personagem e sua proximidade com os sintomas de TEPT levantaram a hipótese de Chris Kyle ter vivenciado suas experiências em combate de Guerra de forma traumática, mesmo tendo participado de quatro expedições. Todas as evidências encontradas no relato do filme corroboram com as hipóteses de Chris ter desencadeado o transtorno, pois ele apresentou alterações emocionais e comportamentais compatíveis com as estabelecidas para o diagnóstico, segundo critério do DSM V. Sumula psicopatológica Apresentação Paciente alto, apresenta-se com boa higiene geral com vestimentas adequadas. Atitude Mimica e ansiosa, de esquiva, desconfiado, com deambulação tensa, apresentando sinais de hipergilancia. Consciência Lucido durante a entrevista, sendo capaz de trocar informações com o meio ambiente. Atenção Hipervigil e hipotenaz. Apresenta-se certa concentração no entrevistas, mas qualquer estimulo externo, sua atenção se afasta rapidamente do dialogo do entrevistador Orientação Orientado auto e alopsquicamente. Sensopercepção Relata ter sensação de perigo iminente e relata também escutar vozes e outros barulhos que remete aos confrontos da guerra, flashbacks. Memoria Hiperminesia retrograda Inteligência O paciente, durante a entrevista, mostrou uma boa capacidade de compreensão, estabelecendo uma boa relação e dando resposta adequadas. Afetividade Embotamento afetivo Vontade Hiperbulia Hábitos e pragmatismo Exerce suas atividades diárias e tudo que se propõe a fazer Pensamento Sem alterações Juízo de realidade sem alteração Psicomotricidade excitabilidade aumentada, resposta de sobressalto exagerada. Linguagem Expressa-se por meio de mensagens claras e bem articuladas em linguagem correta Consciencia do eu Sem alteração Consciência da morbidade O paciente compreende a necessidade de tratamento e considera que a terapia pode ajudá-lo a encontrar melhores soluções para seus conflitos e voltar ser o que era antes. Planos para o futuro Ausência de perspectiva para o futuro
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