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Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) INTRODUÇÃO Durante a instrumentação dos canais radiculares, os meios mecânico e químico ocorrem simulta- neamente, porém, para deixar didático, dividiu- se essas etapas. IMPORTÂNCIA Contribuir com a limpeza do sistema de canais radiculares de restos de tecido inflamados, além de remoção das bactérias e seus subprodutos (maior causa de insucessos e fracassos do trata- mento endodôntico). 1. Ação dos instrumentos endodônticos (instrumentação dos canais) 2. Ação da substância química auxiliar 3. Irrigação e aspiração (meios físicos) OBJETIVOS • Promover dissolução de tecidos orgânicos vivos e/ou necrosados. • Eliminação ou máxima redução possível de microrganismos. • Lubrificação durante a instrumentação dos canais, para que as limas endodôn- ticas não percam a eficiência de corte. • Quelação (“sequestro”) dos íons cálcio (Ca²+) e a suspensão de detritos oriundos da instrumentação. REQUISITOS TENSÃO SUPERFICIAL O coeficiente de tensão superficial da substância química auxiliar deverá ser menor que o da dentina, para permitir um melhor molhamento da superfície dentinária. VISCOSIDADE É a característica física da substância. A substância irrigante pode se apresentar mais líquida, ou seja, mais fluida, ou mais viscosa. SEREM SOLVENTES DE TECIDO Essa propriedade é importante pois, durante a instrumentação, pode haver regiões do canal que não foram alteradas pela lima, e possam apresentar restos de tecido inflamado. A substância química deve promover a dissolução desses tecidos. ATIVIDADE ANTIMICROBIANA As substâncias químicas também devem eliminar os microrganismos presentes nos canais. A anatomia dos canais radiculares é muito variável, vasta e pode apresentar algumas complexidades. Formas de adesão das bactérias ao siste- ma de canais: 1. Planctônicas: não estão aderidas a grupos bacterianos e ao sistema de canais (estão “flutuantes”). São facilmente removidas durante a irrigação (apenas o fluxo físico de entrada e saída da substância já é suficiente para removê- las). 2. Bactérias aderidas a um biofilme: comunidade bacteriana, a qual se adere às paredes de dentina dentro do canal principal e de suas ramificações e istmos, podendo colonizar também os túbulos dentinários. Se canais acessórios afetados por esses microrganismos permanece- rem contaminados após a obturação, isso pode levar a um fracasso endodôntico. Legenda: istmo radicular, que interliga dois canais, contaminado. Para a limpeza dos canais radiculares, é necessário: Quanto menor a viscosidade, maior o alcance da substância (até o ápice radicular). Preparos Biomecânicos (meios Químicos) Endodontia Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) SEREM AGENTES QUELANTES A substância química deve remover íons cálcio da dentina, e isso promove um efeito descalcificante. Utilizado para remoção de smear layer da dentina, pois essa smear layer pode se apresentar contaminada com as bactérias do canal. Legenda: A) dentina com smear layer, e em B) vemos a exposição dos túbulos dentinários após sua remoção. TER AÇÃO LUBRIFICANTE A lubrificação do canal durante a instrumentação reduz a força de atrito entre as paredes do canal e os instrumentos. Diminuição do desgaste e preservação da capacidade de corte dos instrumentos: aumento da durabilidade do instrumento. Em canais atresiados, favorecem a passagem dos instrumentos até alcançar o comprimento de trabalho. SEREM BIOCOMPATÍVEIS AOS TECIDOS Os efeitos lesivos causados por uma substância desinfetante sobre os tecidos dependem de sua toxicidade, de sua concentração, do tempo e da área de contato com os tecidos perirradi- culares. A substância utilizada no canal deve apresentar baixa toxicidade e ser biocompatível com os tecidos orgânicos. DESAFIOS NA UTILIZAÇÃO DE SQAs • Complexidade anatômica do sistema de canais, como já dito anteriormente; • À rapidez da instrumentação: novos instrumentos (rotatórios ou reciprocan- tes), na qual a SQA fica menos tempo em contato com a cavidade; • Ao pequeno volume de substância que um canal pode conter: utilização de diversas seringas com a substância; • Renovação deficiente da substância química durante o preparo do canal radicular. TIPOS DE SUBSTÂNCIA QUÍMICA AUXILIAR HIPOCLORITO DE SÓDIO (NaOCL) Substância química auxiliar mais utilizada em Endodontia em todo o mundo. Para a Odontologia, essa substância se apresenta em diversas concentrações: 1. 0,5% (Líquido de Dakin) 2. 1% (Solução de Milton) 3. 2,5% (Solução ou Licor de Labarraqué) 4. 5,25% (Soda clorada: concentração aci- ma de 5%). 1. Concentração da substância 2. Volume da substância no canal 3. Tempo que a substância está em contato com a superfície radicular 1. Ação antimicrobiana • Inibição enzimática • Formação de cloraminas 2. Dissolução de tecido orgânico: Essa ação solvente é concentração- dependente: Quanto mais concentrado o Hipoclo- rito, maior sua ação solvente. Propriedades Obs.: ainda não existe nenhuma substância que cumpra todos os requisitos desejados para a completa remissão dos microrganismos e seus subprodutos. Fatores que influenciam nas propriedades Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) 3. pH alcalino (11-11,5) • Com esse pH, a substância consegue neutralizar o processo inflamatório. • Além disso, também promove hemos- tasia pulpar (cauterização superficial dos vasos sanguíneos). 4. Efeito desodorizante • Necropulpectomias I e II. • Alguns subprodutos bacterianos apre- sentam um odor desagradável, ao decompor matérias orgânicas, liberados na forma de gás. • O Hipoclorito consegue neutralizar esses subprodutos tóxicos de odor desagradável. 5. Efeito clareador • Com a necrose da polpa, a dentina pode apresentar-se mais escurecida. • Durante a dissolução dos tecidos orgâni- cos, o Hipoclorito libera oxigênio ativo, o qual causa oxirredução das substâncias responsáveis pela pigmen- tação (ação clareadora na dentina). 6. Baixa tensão superficial • Permite um molhamento adequado das paredes de dentina. 7. Lubrificante Reação de Saponificação: • Quando o Hipoclorito entra em contato com os lipídeos da membrana celular, ocorre transformação desses lipídeos em ácidos graxos, os quais podem desem- penhar função lubrificante no canal radi- cular. 1. Produto relativamente barato. 2. Agente desodorizante e lubrifi- cante. 3. Apresenta atividade antimicro- biana. 4. Solvente de matéria orgânica. 5. Ação clareadora. 6. Rápida atuação e hemostasia. 1. Instabilidade ao armazenamento • Pode ocorrer diminuição da sua concentração com o tempo. 2. Inativação por matéria orgânica • Por isso necessita de renovação constante. 3. Ação corrosiva e forte odor 4. Substância irritante para pele e mucosas 5. Descora tecidos EDTA 17% TRISSÓDICO Ácido Etilenodiamino tetracético a 17%. 1. Agente quelante 2. Remoção da smear layer e melhora o escoamento do cimento obturador Legenda: A) dentina com a smear layer, e em B) com essa camada removida. Legenda: nota-se o escoamento do cimento pelos canais acessórios. 3. Remoção de endotoxinas (LPS) 4. Remoção de medicação intracanal Vantagens Desvantagens Obs.: não se utiliza Hipoclorito com a finalidade de clareamento dental. Propriedades Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) 5. Libera fatores de crescimento: • Em dentes traumatizados, atualmente existe uma técnica denominada de Revascularização, e o EDTA é fundamental para osucesso dessa técnica. CLOREXIDINA Antisséptico de amplo espectro: bactérias Gram- positivas e negativas e fungos. Pode ser utilizada como agente antimicrobiano em todas as fases do tratamento endodôntico. a) Na desinfecção do campo operatório; b) Durante o alargamento dos canais radiculares; c) Na remoção de tecidos necróticos; d) No preparo químico-mecânico antes da patência e limpeza foraminal; e) Na desinfecção e modelagem dos cones de guta-percha; f) Na remoção da guta-percha durante o retratamento; g) Na desinfecção do espaço protético. Pode ser utilizado como medicação intra- canal sozinho ou combinado com outras subtâncias (como o Hidróxido de Cálcio). • Atividade antimicrobiana • Substantividade ou ação residual: a substância fica impregnada nos túbulos dentinários após sua remoção. • Ação nos túbulos dentinários • Adesão dentinária • Bem tolerada pelos tecidos periapicais (biocompatibilidade) • Apresenta ação lubrificante • Efeito Tixotrópico (gel): durante a instrumentação do canal, é gerada uma energia cinética, a qual é transmitida ao gel. Com isso, o gel fica mais fluido, o que permite um melhor escoamento. • Efeito Reológico (gel): capacidade de deixar as partículas (raspas de dentina) em suspensão. • Solubilidade em água quando preparado com gel à base de Natrozol. A associação da Clorexidina e do Hipoclorito forma a substância química paracloroanilina, de cor acastanhada ou amarronzada. Essa substância pode impregnar os túbulos denti- nários e/ou regiões de istmo, causando dificul- dades na descontaminação do canal radicular, no processo de obturação, e pode causar mancha- mento das coroas dentárias. Para tanto, se for utilizar as duas substâncias no tratamento, deve-se proceder com a neutrali- zação de uma das substâncias antes de utilizar a outra. OUTRAS SOLUÇÕES Soro fisiológico, água destilada ou água destilada estéril • Não apresentam propriedades antimi- crobianas e de dissolução de matéria orgânica. • São utilizadas apenas na irrigação dos canais. • Porém, a Clorexidina apresenta uma característica desfavorável: não apre- senta dissolução de tecido pulpar. a) Pode ficar restos de tecido nos istmos ou achatamentos. IRRIGAÇÃO E ASPIRAÇÃO São determinadas pelo fluxo de fluidos, ocasionado pela diferença de pressão no interior (maior) e na embocadura do canal radicular (menor). A irrigação do canal é feita por meio de uma seringa e de uma agulha, depositando o líquido dentro do canal radicular. Características Por que não trabalha-se com a Clorexidina e Hipoclorito juntos? Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) Esse líquido deverá ser sugado por meio de uma cânula de aspiração conectada ao sugador do equipo odontológico. HIPOCLORITO DE SÓDIO (NaOCl) O Hipoclorito de Sódio desempenha duas funções: 1. Como substância química auxiliar (SQA); 2. Como solução irrigante. CLOREXIDINA (GEL A 2%) É utilizada em casos onde o paciente é alérgico ao Hipoclorito (importância de uma boa anamnese). Nesse caso, o gel é colo-cado numa seringa adi- cional. Deve-se irrigar o canal com soro fisiológico ou água destilada estéril. OBJETIVOS Remoção de detritos • Dificultam a ação da medicação intracanal; • São irritantes aos tecidos apicais, quando contaminados pelos microrganismos; • Podem alterar a capacidade de selamen- to da obturação. Velocidade do jato X Volume de líquido (5ml) → Energia Cinética. Redução no número de microrganismos • Os restos pulpares e os microrganismos do interior do canal radicular têm maior relação com o volume da solução irrigante empregado do que com a composição química da solução. • Várias seringas de irrigante aumentam o potencial de limpeza. Propriedades físicas da solução irrigante Solução mais fluida X Solução mais viscosa: • A solução mais fluida consegue penetrar melhor nos canais radiculares; • Já a solução mais viscosa não consegue se espalhar ao longo do canal. Anatomia do canal radicular Dificuldades: • Curvaturas radiculares; • Ramificações; • Canais atrésicos... Diâmetro das agulhas irrigadoras Tomar cuidado também com a posição das agulhas no canal radicular. Ficou-se estabelecido que quando a agulha é colocada 1mm aquém do ápice radicular, a limpeza das regiões de istmo é muito superior quando comparada com quando a agulha é colocada 5mm aquém. A força de irrigação precisa causar um fluxo dentro do canal radicular, não necessitando de rapidez para isso, pois pode acabar agredindo o periápice dental. O jato da solução irrigante, ao atingir o ápice, exerce uma pressão capaz de remover os resíduos. Fatores que influenciam Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) Técnica de preparo do canal radicular A limpeza deve acompanhar os limites de instrumentação. Essa instrumentação geralmente é realizada em terços (terço cervical, médio e apical), pois a produção de raspas de dentina se encontra apenas nessa região, o que permite que a irrigação se concentre apenas onde foi instrumentado. O preparo sentido coroa-ápice favorece essa irrigação. MATERIAIS UTILIZADOS Seringas (1,2 e 5mL - Ultradent) • Tipo Luer Lock: nela, a agulha de irrigação é rosqueada. • Tipo Luer Slip: não utilizaremos, pois apresenta alguns riscos de acidentes quando entope: ao exercer pressão no êmbolo, essa agulha pode soltar e liberar todo o conteúdo da seringa. Agulhas de Irrigação (Ultradent) Apresentam comprimento de 17, 21, 25 e 27mm, devido aos diferentes comprimentos dos dentes. Essas agulhas apresentam um cursor (stop). Du- rante a irrigação do canal, normalmente coloca- mos a agulha 2mm aquém do comprimento total do dente. Por isso precisa-se do stop. Cânulas de aspiração Para a aspiração do líquido dentro do canal, é necessária uma cânula mais grossa, porque senão não há vazão ao depositar o líquido no canal e o sugador realizar a sucção de todo o líquido. Capillary Tips (Ultradent): a verde é mais calibrosa que a roxa, e têm como função apenas a sucção do canal radicular, antes da obturação ou medicação intracanal. Após sugar todo o líquido do canal com essas pon- tas, finaliza-se a secagem do canal com papéis absorventes. TÉCNICAS DE IRRIGAÇÃO Convencional Irrigação com seringa e agulha. Dispositivos mecânicos Easy Clean: é uma lima de plástico que promove limpeza das paredes dos Sistemas de Canais Radiculares através da agitação mecânica das substâncias químicas e do atrito de suas lâminas no interior do canal, principalmente no terço apical. Deve ser inserida 2mm aquém do CT. Ultrassônica Utilização de um aparelho ultrassônico (ultras- som) para realizar a limpeza dos canais. Protocolos clínicos BIOPULPECTOMIAS Hipoclorito de sódio: • 2,5% na câmara pulpar; • 0,5-1% nos canais radiculares. NECROPULPECTOMIAS Hipoclorito de sódio: • 2,5% na câmara pulpar; • 1-2,5% em canais radiculares sem lesão periapical; • 2,5% em canais radiculares com lesão periapical. Obs.: essas pontas não devem sem utilizadas para irrigar o canal. Porém, nas primeiras clínicas, para segurança, trabalhar-se-á com Hipoclorito de sódio a 1%; Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) PROTOCOLO DO EDTA Utiliza-se o Hipoclorito na seringa de 5mL, enquanto o EDTA na seringa de 1,2mL. LAVAGEM FINAL Lava-se a câmara e os canais com 10mL de soro fisiológico, antes de prosseguir para a etapa do tratamento endodôntico (medicação intracanal ou obturação). REFERÊNCIAS Leonardo, Mario Roberto: Endodontia: Trata- mento de canais radiculares: princípios técnicos e biológicos, Volume1, Capítulo 13. Lopes & Siqueira: Endodontia: Biologia e Téc- nica, 4ª edição, Capítulo 14. Torabinejad, M: Endodontia: Princípios e prá- tica, 4ª edição, Capítulo 15.
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