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Doença do refluxo gastroesofágico REFLUXO GASTROESOFÁGICO = retorno do conteúdo gástrico através do esfíncter esofagiano inferior (EEI) Refluxo gastroesofágico casual fisiológico: ocorre durante as refeições (curta duração) Refluxo interprandial recorrente patológico: DRGE → longa duração pirose + regurgitação agressão à mucosa esofágica pelo material refluído DRGE = afeccção crônica secundária ao refluxo patológico de conteúdo gástrico para o esôfago e/ou órgãos adjacentes Provoca sinais e sintomas esofágicos ou extraesofágicos ± lesões teciduais EPIDEMIOLOGIA: Distúrbio mais comum do TGI alto Pirose: queimação retroesternal ascendente refluxo patológico Prevalência aumenta com a idade Obesidade: sintomas mais intensos e frequentes NÃO HÁ prevalência por sexo Gestação: progesterona + aumento da pressão intra-abdominal relaxamento do EEI Crianças: predomínio em LACTENTES imaturidade do EEI + posição deitada Fator de risco para adenocarcinoma de esôfago: Esofagite erosiva cicatrização metaplasia intestinal Substituição do epitélio estratificado do esôfago por epitélio colunar da mucosa do intestino delgado Se ocorrer no 1/3 distal do esôfago ESÔFAGO DE BARRET displasia progressiva CÂNCER!!!!!! Infecção por H. pylori: PROTEGE do câncer de esôfago Pangastrite redução da secreção ácida < risco de esofagite erosiva PATOGÊNESE: Anormalidades básicas: 1. Relaxamentos transitórios do EEI não relacionados à deglutição 2. Hipotonia verdadeira do EEI 3. Desestruturação anatômica da junção esofagogástrica (hérnia de hiato) Relaxamentos transitórios do EEI não relacionados à deglutição: Mecanismo patogênico MAIS COMUM Sem esofagite ou esofagite leve = refluxo menos intenso e menos prolongado Distensão gástrica reflexo vasovagal anômalo relaxamento Duradouros > 10 segundos SEM peristalse esofagiana eficaz não limpa os conteúdos refluídos Hipotonia verdadeira do EEI: Pressão média do EEI = 10-30 mmHg Esfíncter hipotônico < 10 mmHg Causas: esclerose sistêmica (fibrose + atrofia da musculatura esofagiana), lesão cirúrgica do EEI, tabagismo, drogas anticolinérgicas ou miorrelaxantes, gestação Esofagite erosiva: fibrose + atrofia da musculatura redução do tônus do EEI + esofagite erosiva Colecistocinina (CCK) e secretina = ↓ tônus do EEI Esofagite erosiva GRAVE = refluxo + intenso Hérnias de hiato: Perda do reforço mecânico da musculatura diafragmática à função de barreira do EEI EEI dentro da cavidade torácica < pressão externa re-refluxo do material do saco herniário DRGE mais GRAVE Mecanismos de defesa contra a DRGE: Bicarbonato salivar: neutraliza acidez do refluxo Peristalse esofagiana: devolve o material para o estômago > gravidade da DRGE: Disfunção das glândulas salivares: síndrome de Sjögren, medicamentos anticolinérgicos Distúrbios motores primários do esôfago Acid pocket: Refeição alimento se mistura à secreção ácida do estômago parte do suco gástrico produzido no fundo gástrico fica boiando por cima do bolo alimentar coleção líquida (acid pocket) próximo à cardia reflui durante o relaxamento do EEI MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Pirose: principal sintoma queimação retroesternal Até 3h após as refeições Ao deitar Regurgitação: percepção de fluido salgado ou ácido na boca Disfagia: Decorrente de complicações estenose péptica ou adenocarcinoma Edema inflamatório na parede do esôfago Adenocarcinoma: disfagia rapidamente progressiva + sinais de alarme (perda de peso, sangue oculto nas fezes, anemia) Estenose péptica: disfagia para sólidos de curso insidioso + apetite preservado + peso mantido Dor precordial: DDx com angina Associação com distúrbios neuropsiquiátricos Sintomas extraesofagianos atípicos: Boca: erosão do esmalte dentário Faringe: irritação da garganta Laringe: rouquidão Cavidade nasal: sinusite crônica, otite média Árvore traqueobrônquica: tosse crônica, broncoespasmo, pneumonite aspirativa Anemia ferropriva: esofagite erosiva grave úlceras profundas DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS: Esofagite infecciosa: CMV, cândida Esofagite eosinofílica Dispepsia não ulcerosa Úlcera péptica gastroduodenal Doença do trato biliar Distúrbios motores do esôfago Doença coronariana DIAGNÓSTICO DA DRGE: Anamnese: Pirose pelo menos 1x/semana por no mínimo 4-8 semanas Prova terapêutica: redução dos sintomas após 1-2 semanas de uso de IBP Endoscopia digestiva alta: Quando fazer? 1. Sinais de alarme: disfagia, anemia, emagrecimento, odinofagia, sangramento gastrointestinal 2. Sintomas refratários ao tratamento 3. Pirose > 5-10 anos = ↑ risco de Esôfago de Barret 4. Idade > 45-55 anos 5. Náuseas e vômitos, HF de câncer, sintomas intensos ou noturnos Finalidade: identificar complicações da DRGE esofagite, estenose péptica, esôfago de Barret, adenocarcinoma DDx com outras condições Esofagite de refluxo: alterações inflamatórias na mucosa esofagiana visíveis pela endoscopia Esofagite de importância clínica = erosões com ≥ 3 mm de extensão Se constatada esofagite erosiva = BIÓPSIA CLASSIFICAÇÃO DE LOS ANGELES Grau A: 1 ou + erosões < 5 mm de extensão, restritas ao fundo das dobras da mucosa Grau B: pelo menos 1 erosão > 5 mm de extensão e todas restritas ao fundo das dobras da mucosa Grau C: erosões contínuas acometendo < 75% da circunferência luminal Grau D: erosões contínuas acometendo ≥ 75% da circunferência luminal pHmetria de 24h: PADRÃO-OURO para diagnóstico de DRGE Correlaciona os episódios de refluxo com os sintomas relatados pelo paciente Indicações: 1. Sintomas refratários ao tratamento clínico 2. Sintomas atípicos 3. Documentação da real existência de DRGE antes de uma cirurgia antirrefluxo 4. Reavaliação de pacientes ainda sintomáticos após a cirurgia Como é feito o exame: Passa um cateter com 2 sensores pelo esôfago = 1 sensor a 5cm do EEI e o outro a 20 cm do EEI Se ↓ pH intraesofágico < 4,0 = refluxo Mede a duração do refluxo e o nº de episódios de refluxo Calcula o “Índice de De Meester” = se > 14,7 DRGE Para os bloqueadores do receptor de H2 de histamina 3 dias antes do exame e o IBP 14 dias antes Esofagomanometria: NÃO diagnostica DRGE Indicação: pré-cirurgia para escolher o tipo de fundoplicatura DDx com distúrbio motor primário do esôfago Mede o tônus do EEI Fundoplicatura parcial: Se < 60% das ondas peristálticas atingirem o EEI Pressão das ondas peristálticas < 30 mmHg Esofagografia baritada: Imagens radiológicas da anatomia do esôfago Indicação: caracterização das hérnias de hiato Estenose péptica: afunilamento progressivo Adenocarcinoma: súbita redução do lúmen no terço distal COMPLICAÇÕES: 1. Estenose péptica do esôfago: 5% dos pacientes com DRGE Cicatrização fibrótica intensa das lesões Padrão ascendente Pirose estenose disfagia para sólidos insidiosa diminuição da pirose (estenose = barreira antirrefluxo) Apetite se mantém + pacientes mudam consistência da dieta NÃO HÁ PERDA DE PESO Epitélio de Barret abaixo da estenose Realizar biópsia!!!!!!!!!!! = diferenciar estenose péptica de estenose por câncer Tratamento: dilatação endoscópica por balão + IBP por longo prazo Cirurgia antirrefluxo = fazer apenas se obstrução aliviada pela dilatação Dilatação bem sucedida = EEI fica hipotônico predisposição a refluxo mais grave 2. Úlcera esofágica: Úlcera = alcança submucosa e muscular Sintomas: Odinofagia Anemia ferropriva = hemorragia digestiva oculta Localização: áreas de epitélio de Barret (1/3 distal) 3. Asma relacionada à DRGE: Pode ser causa ou exacerbar a asma preexistente Critérios: Asma de difícil controle Crises asmáticas no período pós-prandial Coexistência de sintomas típicos de DRGE = pirose, regurgitação e/ou disfagia Teste terapêutico com IBP em dose dobrada (2x/dia) por 2-3 meses se não melhorar a asma pHmetria de 24h Tratamento: IBP ad eternum Cirurgia antirrefluxo Critérios de resposta clínica: Melhora de 20% no VEF1 e/ou Redução > 20% na dose de corticoide inalatório 4. Esôfago de Barret: Metaplasia intestinal: substituição do epitélio escamoso pelo epitélio colunar intestinal resistente ao pH ácido Fatores de risco: Sexo masculino Raça branca Aumento da idade pico entre 45-60 anos Obesidade Fatores de proteção: Consumo de vinho tinto Infecção crônica por H. pylori Raça negra Diagnóstico: EDA: línguas de coloração vermelho-salmão Biópsia: presença de células caliciformes no esôfago Risco 40x maior de adenocarcinoma de esôfago Tratamento: Terapia intervencionista SE displasia na biópsia IBP 5. DRGE na pediatria: Refluxo gastroesofágico fisiológico = golfadas NÃO precisa de tratamento DRGE infantil: Intenso e incômodo Associado a complicações = déficit pôndero-estatural, irritabilidade, PNM de repetição Diagnóstico: História clínica + resposta positiva à prova terapêutica Casos duvidosos = fazer pHmetria de 24h Tratamento: Medidas não farmacológicas: - ↑ frequência das mamadas + ↓ volume de cada mamada - Manter a criança em posição ereta após o fim das mamadas - Engrossar a fórmula de amamentação Casos persistentes = bloqueadores do receptor de H2 de histamina (Ranitidina) Casos muito graves e refratários = cirurgia antirrefluxo Se alergia alimentar associada = retirar o alimento da alimentação da criança TRATAMENTO: 1. Medidas antirrefluxo: Elevação da cabeceira do leito Reduzir ingestão de alimentos que relaxam o EEI ou têm efeito irritante: gorduras, cítricos, café, bebidas alcóolicas e gasosas, molho de tomate, chocolate, condimentos Evitar deitar após as refeições: esperar 2-3h Fracionar a dieta Suspensão do tabagismo Evitar líquido durante as refeições Redução de peso Evitar drogas que relaxam o EEI: anticolinérgicos, derivados da morfina, diazepam, barbitúricos, nitratos 2. Tratamento farmacológico: Bloqueadores de H2: Bloqueiam receptores H2 de histamina nas células parietais gástricas inibe 1 das 3 vias de estímulo à secreção ácida Menos eficazes que os IBP não prescrever se esofagite grave ou complicações Ranitidina 75-150 mg 2x/dia Inibidores da bomba de próton: Inibem a H+/K+-ATPase bloqueio da via final da secreção ácida Indicação: 1ª escolha se paciente muito sintomático ou com esofagite ou complicações Efeitos colaterais crônicos: - Maior risco de enterocolite infecciosa - Maior risco de pneumonia - Má absorção de ferro, cálcio, magnésio e vitamina B12 anemia ferropriva e/ou megaloblástica, hipomagnesemia, fraturas osteoporóticas - Pólipos gástricos fúndicos = hipergastrinemia estímulo trófico sobre as glândulas fúndicas Medicamentos: As outras duas vias de secreção ácidas são mediadas por acetilcolina e gastrina - Omeprazol 20-40 mg, 1-2x/dia - Pantoprazol 20-40 mg, 1-2x/dia Antiácidos: Neutralização da acidez do suco gástrico NÃO interferem na sua secreção Não utilizar por períodos prolongados!!!! efeito de curta duração Indicação: alívio imediato Não têm eficácia na cicatrização da esofagite erosiva Medicamentos: hidróxido de alumínio e/ou magnésio Mylanta Plus 10-20 ml VO 3. Cirurgia antirrefluxo: Objetivo: reestabelecer a competência do EEI circunda a extremidade inferior do esôfago com um manguito formado pelo fundo gástrico = FUNDOPLICATURA Indicações: Refratariedade ao tratamento clínico Impossibilidade de utilização de IBP a longo prazo Complicações da DRGE = esôfago de barret, esofagite de refluxo, estenose péptica Pacientes < 49 anos que respondem ao tratamento clínico, mas são dependentes da medicação Propedêutica: pHmetria de 24h = documentar o refluxo EDA = descartar complicações Esofagomanometria = selecionar o tipo de fundoplicatura Esofagografia baritada = avaliar presença e extensão das hérnias de hiato Obesidade mórbida: Realizar cirurgia bariátrica preferencialmente = DRGE geralmente melhora após perda de peso Fundoplicatura de Nissen, ou completa (360°): Videolaparoscopia Válvula com o fundo gástrico abraçando toda a circunferência do esôfago Procedimento de escolha Fundoplicaturas parciais (180-270°): Indicação: vigência de dismotilidade esofagiana < risco de acalásia iatrogênica - < 60% das ondas peristálticas são completas e/ou pressão das ondas peristálticas < 30 mmHg Podem ser anteriores ou posteriores DELINEANDO A ESTRATÉGIA TERAPÊUTICA: 1. Sintomas leves e intermitentes: Frequência < 1x/semana Tratamento sob demanda: antiácidos (efeito imediato) ou bloqueadores de H2 (efeito em 30 min) Se sabe que vai comer algum alimento que desencadeia pirose = tomar BH2 30min antes 2. Sintomas mais graves e frequentes: Tratamento inicial: IBP 1x/dia por 4-8 semanas se não houver melhora em 2 semanas IBP 2x/dia sem melhora exames complementares Tratamento de manutenção: Tenta suspender o IBP após o tratamento inicial Se recidivar os sintomas: - Reintroduz o IBP indefinidamente - IBP em dose padrão intermitentemente - IBP sob demanda Se complicações da DRGE ou necessidade de IBP em dose dobrada durante o tratamento inicial = NÃO SUSPENDER!!!! 3. Refratariedade aos IBP: Causas: distúrbio funcional associado; má adesão terapêutica; resistência verdadeira ao IBP; refluxo não ácido; escape ácido noturno Condutas: Revisar adesão terapêutica e medidas gerais antirrefluxo EDA + pHmetria de 24h = se adesão terapêutica adequada Ausência de qualquer refluxo = distúrbio funcional moduladores da dor visceral (antidepressivos tricíclicos) Refluxo não ácido baclofeno (↑ tônus do EEI) ou cirurgia antirrefluxo Escape ácido noturno associar um BH2 à noite Refluxo ácido persistente cirurgia antirrefluxo 4. Tratamento do esôfago de Barret: Múltiplas biópsias endoscópicas procurar displasia ou neoplasia ESÔFAGO DE BARRET Ausência de displasia Displasia de baixo grau Displasia de alto grau EDA a cada 3-5 anos EDA anual ou terapia endoscópica (1ª escolha) Terapia endoscópica ou esofagectomia (> morbidade e mortalidade) Metaplasia intestinal (sem displasia) EDA de 3 a 5 anos Displasia de baixo grau EDA a cada 6-12 meses ou ablação/ressecção endoscópica Displasia de alto grau Ressecção endoscópica se encontrar carcinoma in situ na lâmina esofagectomia Carcinoma in situ Ressecção endoscópica ou esofagectomia sem linfadenectomia 5. H. pylori e DRGE: O h. pylori NÃO causa diretamente DRGE Tratar a infecção conforme suas indicações formais, independente da DRGE
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