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Casos Clínicos - Planejamento Familiar Giovanna Rita Jéssica, 16 anos, coitarca há 2 meses, vem em consulta para orientação contraceptiva. Quer “método que não falha”. Nega comorbidades. Menarca 14 anos. Ciclos regulares 4/28, fluxo normal, dismenorréia leve. Qual contraceptivo você indicaria? Quais exames são necessários para a introdução do método? Qual data seria ideal para o início do uso? Primeiro, é necessário explicar à paciente que não existe método 100% efetivo. O ideal é adotar dois métodos contraceptivos, para melhor proteção contra a gravidez. Exemplo: Preservativo + ACO. Eu indicaria um contraceptivo oral combinado para a paciente. Aferiria a PA da paciente e avaliaria histórico familiar e pessoal de TVP e outros distúrbios de coagulação. Caso a PA estivesse adequada, e não houvesse histórico de distúrbios de coagulação, não solicitaria exames laboratoriais. O ideal é iniciar o ACO no primeiro dia da menstruação. Maria, 32 anos, G5P4N, gestante de 20 semanas, vem em consulta regular de pré-natal. Solicita carta de laqueadura porque não deseja mais filhos e gostaria de aproveitar o parto próximo para a cirurgia. Nega comorbidades. Pré-natal atual e prévios sem intercorrências. Segundo a Legislação brasileira, Maria pode fazer a laqueadura durante o parto? Caso contrário, que opções ela teria a dispor? Ser maior de 25 anos ou ter pelo menos 2 filhos vivos. Deve haver prazo mínimo de 60 dias entre a manifestação da vontade da paciente e o ato cirúrgico. Nesse meio-tempo, a paciente receberá atendimento multidisciplinar. Risco de vida ou à saúde da mulher ou do concepto, testemunhado em relatório escrito e assinado por dois médicos. É proibida a esterilização cirúrgica em períodos de parto, periparto, aborto ou até o 42º dia do pós-parto ou aborto, exceto em casos de comprovada necessidade. Não será considerada a manifestação de vontade de indivíduos com incapacidade mental temporária ou temporariamente A esterilização só é realizada por meio de laqueadura tubária, vasectomia ou outro método cientificamente aceito. Histerectomia e ooforectomia são vedadas. Se a paciente for casada, a esterilização requer consentimento expresso e seu esposo também. Pela vontade de realizar laqueadura, aparentemente a paciente requer um método duradouro, que não exige esforço diário. Logo, eu sugeriria o uso de SIU, DIU e implante subdérmico, nessa ordem - em função do tempo de duração de cada método. Marcela, 35 anos, vem em consulta para orientação contraceptiva. Paciente em uso de Ciclo 21 (levonogestrel + etinilestradiol) há 15 anos, bem adaptada ao método, porém ouviu de colega que o uso estendido da pílula faz perder seu efeito e gostaria de trocá-la. Há dois anos, após quadro de cefáleia e avaliação em pronto-socorro, foi detectada elevação dos níveis de pressão arterial e prescrito captopril, em uso irregular desde então. Nega outras comorbidades, nuligesta. Queixa de dismenorréia intensa antes do uso de ACHO com melhora completa após sua introdução. Ciclos atuais 3/28 com fluxo baixo. Quais suas orientações quanto ao método? É necessário algum exame complementar? Em caso de troca, qual data ideal para início do uso? Primeiramente, seria interessante explicar à paciente que o COCs não “perdem” o efeito após longo período de uso. No entanto, Marcela traz HP que justifica a troca de método contraceptivo. Então, vamos analisá-la: - Histórico de cefaleia que a fez procurar auxílio em PS. Trata-se de um episódio de enxaqueca? Consideremos que sim. - Histórico de PA elevada. Não controla adequadamente sua condição com medicamentos anti-hipertensivos. Esses dois fatores são contraindicações para uso de COCs. O estrogênio pode agravá-las, logo, vamos dispensar métodos combinados. Sendo assim, temos à mão as seguintes opções: Implanon; DIU de cobre; SIU; Laqueadura; Minipílula. Pelo histórico de dismenorreia, dispensamos o DIU de cobre. Considerando que ela seja nuligesta ou não tenha certeza de que não quer ter filhos posteriormente, dispensamos a Laqueadura. Minipílula é mais indicada para pacientes com histórico familiar de primeiro grau e pessoa de TVP e lactantes. Não é o caso dela, vamos descartar também. Temos à disposição o Implanon e o SIU. Ambos reduzem dismenorreia e, em geral, levam à amenorreia após 01 ano de uso. O Implanon dura, em média, 3 anos. O SIU dura, em média, 5 a 7 anos. Conversando com a paciente, podemos auxiliá-la a optar pelo que considera mais conveniente. O melhor momento para introduzir o SIU é no período menstrual, quando o colo está mais entreaberto e é garantida a ausência de gravidez. Deve-se realizar exame ginecológico minucioso para exclusão de processos inflamatórios, gravidez ou malformações uterinas. Assim, é recomendada a observação de colpocitologia oncótica e ultrassonografia transvaginal recente para excluir principalmente a presença de alterações que distorçam a cavidade uterina, que são contraindicações absolutas para a inserção do DIU. O tamanho da cavidade uterina deve ser avaliado. O emprego dos dispositivos é ideal em pacientes que apresentem cavidade uterina entre 6 e 9 cm. O Implanon deve ser inserido entre o 1° e 5° dia do ciclo menstrual e, por si só, não requer exames complementares. Débora, 21 anos, procura orientação para início de contraceptivo. Queixa-se de acne e quer pílula para melhora dos sintomas. Portadora de DM1 em uso de insulina em bomba. Diagnóstico há 7 anos, acompanha regularmente com endocrinologista. Traz registros de dextro do aparelho com média de 100mg/dL em jejum e 130mg/dL após refeições. Controle laboratorial e de fundo de olho sem alterações. Nega outras comorbidades, nuligesta. Ciclos regulares 5/28, nega dismenorréia. Coitarca há 3 meses, parceiro único. Quais suas orientações quanto ao método? É necessário algum exame complementar? Em caso de troca, qual data ideal para início do uso? A partir dos resultados dos exames, podemos concluir que o quadro de DM-1 da paciente está controlado. Fundo de olho da paciente sem alterações. Seria ideal rastrear neuropatia e solicitar dosagem de microalbuminúria e TFG (caso ela não tenha realizado o exame no último ano). Em geral, quem tem nefropatia diabética inicia antes com um quadro de retinopatia, mesmo que assintomático. Seria ideal rastrear neuropatia clinicamente. Na ausência de nefropatia, neuropatia e retinopatia, pode-se considerar o uso de COCs para a paciente. O fato de a paciente possuir acne pode ser um sinal de hiperandrogenismo, logo eu indicaria um contraceptivo contendo acetato de ciproterona, cujo mecanismo de ação primário é a inibição competitiva de testosterona e DHT nos receptores androgênicos. Selene e Diane são COCs que contêm etinilestradiol + acetato de ciproterona. A paciente deverá iniciar a pílula no primeiro dia do ciclo menstrual, seguir por 21 dias e fazer pausa de 07 dias até iniciar nova cartela.