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Apostila de filosofia pré-vestibular

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MATERIAL DE FILOSOFIA PRÉ VESTIBULAR: 
SEMANA 01: MITO E LOGOS 
O MITO 
É quase um consenso entre os estudiosos de Filosofia que existiu uma forma 
anterior à das explicações filosóficas, que podemos denominar de explicação mítica. 
Chamaremos aqui, pois, de mito, toda tentativa de explicação que antecede, em uma 
sociedade humana, as buscas de compreensão ancoradas mais firmemente na razão 
(Filosofia) ou mesmo em tentativas de experimentação para as teorias propostas 
(Ciência). 
O ser humano, nos primeiros estágios de seu desenvolvimento rumo à 
racionalidade, tinha extrema dificuldade para explicar os fenômenos que o cercavam. 
Qual é o motivo para períodos longos de seca, seguidos de outros, abundantes de 
chuvas? Por que, enquanto chove, os raios e os trovões se fazem presentes? Em 
função de quê a alternância do dia e da noite? Ou de forma mais existencial: De onde 
viemos? Para onde vamos? O que estamos exatamente fazendo aqui? Na ausência 
de respostas racionais ou científicas para questões de tão necessária compreensão, 
surgem então as explicações míticas. De acordo com Auguste Comte, num primeiro 
momento, as divindades serão forças da natureza fetichizadas, ou seja, que ganham 
uma vida diferente daquela que realmente possuem, e o sol se transforma em 
divindade, e a lua em outra, e a floresta em outra. As divindades africanas, presentes 
na umbanda ou no candomblé, até hoje são ligadas a forças ou elementos da 
natureza. 
Desse modo surgem também as divindades gregas, como Poseidon, o deus das 
águas, Atena, a deusa da guerra, ou Afrodite, a deusa do amor. Vale ressaltar que os 
deuses gregos são antropomórficos, ou seja, possuem forma humana, e, além disso, 
sentimentos humanos, como amor, e ódio. Mentem, enganam, o que demonstra 
claramente sua imperfeição, e não são, como o Deus abraãmico, seres com poder 
ilimitado. 
A dificuldade de abstração citada acima no texto, assim, não permitia aos gregos 
conhecer muitas coisas que os cercavam, tais como os fenômenos da natureza, e 
quando se deparavam com algo que, para eles, era inexplicável (como o trovão e o 
relâmpago, por exemplo) estes homens se espantavam, isto é, temiam, naturalmente, 
o desconhecido. Contudo buscavam conhecer o que estava acontecendo ao seu
redor, isto é, conhecer a ordem natural do mundo, o que implica, também,
compreender as causas e efeitos dos fenômenos naturais.
A COSMOGONIA 
A palavra cosmogonia vem da junção de duas palavras Gregas, quais sejam: 
Cosmos que significa mundo ordenado e organizado e gonia que significa geração, 
nascimento. De maneira que cosmogonia pode ser compreendida como uma narrativa 
sobre o nascimento e a organização do mundo, a partir de forças gerativas. 
A MITOLOGIA 
 
A primeira explicação encontrada por estes ―bárbaros‖ para os fenômenos se 
pautou na formação da sua primeira idéia de divindade, ou seja, os deuses criaram os 
relâmpagos e os trovões no intuito de se comunicar com os homens. Como já foi dito 
anteriormente, o conhecimento desses primeiros homens era estritamente baseado 
nos sentidos e, por isso, percebe-se nos relatos mitológicos a menção de deuses, com 
características humanas (como Zeus que trai sua esposa Era com uma humana e tem 
um filho semi-Deus, Hércules; alem das constantes brigas entre os deuses), sendo 
que, de certo modo, existia um Deus para cada necessidade dos homens. Talvez por 
essa razão, atualmente, tem-se os mitos como fábulas ou contos folclóricos, o que é 
completamente errado. 
Os mitos gregos são provenientes de uma tradição oral muito forte, como na 
maioria dos povos antigos, sociedades ágrafas, transmitida de geração em geração 
pelos poetas. É necessário distinguir, no entanto, duas classes de poetas, quais 
sejam: os aedos, aos quais á atribuída a autoria das narrativas, dos quais os principais 
exemplos são Hesíodo (Teogonia) e Homero (Ilíada e Odisséia); e os rapsodos, 
responsáveis pela transmissão oral dos poemas. A questão central é que os autores 
dos poemas não são exatamente os aedos, mas as divindades que falariam por meio 
deles, como se pode notar pela citação abaixo, que pertence ao início da Ilíada, de 
Homero. 
 
Canta-me a cólera – ó deusa – funesta de Aquiles Pelida, causa que foi de 
os Aquivos sofrerem trabalhos sem conta e de baixarem para o Hades as 
almas de heróis numerosos e esclarecidos, ficando eles próprios aos cães 
atirados e como pasto das aves. (HOMERO. Ilíada. Rio de Janeiro: 
Ediouro, 1996, p.43) 
 
Quem narra é a deusa, a musa, e isso está bem claro na passagem. É isso que faz 
com que o mito seja tão respeitado, à semelhança da Bíblia, escrita por homens e 
inspirada por Deus, e é esse o motivo pelo qual somente a confluência de uma série 
de fatores históricos, no seu conjunto, permitiu que essa forma de explicação de 
mundo fosse questionada com eficácia no imaginário grego. A guerra de Tróia, por 
exemplo, ocorre por causa de intrigas entre os deuses e deusas do Olimpo, e seu 
desfecho, a queda das muralhas, foi decidido pelo príncipe troiano Páris, antes sequer 
dos conflitos terem início. A idéia de um destino imutável e controlado pelos deuses é 
uma das estruturas lógicas presentes nas explicações míticas. O processo de 
ordenamento do mundo também é explicado, lembrando que para o grego não existe 
criação, pois tudo que existe sempre existiu. O surgimento ou domínio de alguns 
instrumentos ou técnicas, como o uso do fogo, também estaria explicado nas 
narrativas míticas. 
 
 
O NASCIMENTO A FILOSOFIA: LOGOS 
 
CONDIÇÕES HISTÓRICAS QUE PROPICIARAM O SURGIMENTO DA FILOSOFIA 
 
Podemos apontar como principais condições históricas para o surgimento da 
Filosofia na Grécia: 
 
- AS VIAGENS MARÍTIMAS, que geraram dois efeitos mais diretos: as trocas 
culturais, que conduziram os gregos a um contato com outros povos que originou a 
geometria, por exemplo, em função da experiência egípcia, ou a história, derivada das 
genealogias dos babilônios; e o descrédito com relação à palavra do poeta, pois a 
desmistificação se deu, nesse momento, com a decadência do mito. Vale ressaltar que 
quem narrava os eventos passados não era exatamente o poeta, simples transmissor 
das informações que recebia das musas, que consistiam em divindades gregas. 
 
- A INVENÇÃO DO CALENDÁRIO, que demonstra o amadurecimento da capacidade 
de abstração ao qual havia chegado o povo grego, pois rompe-se com o tempo cíclico, 
baseado principalmente na natureza, para adotar uma noção linear, baseada 
sobretudo na observação astronômica, que permite, inclusive, uma maior precisão na 
datação dos eventos. 
 
- A INVENÇÃO DA MOEDA, que permitiu uma forma de troca que não se realizava 
através das coisas concretas ou dos objetos concretos trocados por semelhantes, mas 
uma troca abstrata, uma troca feita pelo cálculo do valor semelhante das coisas 
diferentes, revelando, portanto, uma nova capacidade de abstração e de 
generalização; 
 
- A INVENÇÃO DA ESCRITA ALFABÉTICA, que conduz, com a diminuição 
considerável do número de símbolos, assim como com a ampliação de seu grau de 
abstração, uma maior democratização do contato com a escrita. Vale ressaltar que os 
gregos não inventaram a escrita, mas um alfabeto com um número bastante reduzido 
de signos. A filosofia, assim como qualquer conhecimento sistematizado, demanda 
registro, por isso a escrita alfabética é tão relevante. 
 
- O SURGIMENTO DA POLIS (Cidade Estado), As póleis eram cidades 
relativamente pequenas, com autonomia bélica, econômica e política. Em função da 
geografia do território grego, extremamente acidentado, não foi possível organizar um 
grande império, o que conduziu à formação das Cidades Estados. Atenas, por 
exemplo, representa até hoje um modelo de democracia direta, aquela em que todos 
os cidadãos auxiliam a decidir as questões políticas. Na ágora, espaço circular no 
centro da cidade, os cidadãos se reuniam para decidir os rumos a serem tomados pela 
coletividade. Deve-se lembrar, no entanto, que os critériosde cidadania só abrangiam 
os homens, com maioridade, filhos de mulheres atenienses, que tivessem terras e 
escravos. Isso correspondia, na prática, a mais ou menos 10% da população total. No 
entanto, isso é muito diferente de uma época na qual as divindades falavam e os 
homens simplesmente concordavam em função da autoridade de quem falava. 
 
A COSMOLOGIA 
 
A palavra cosmologia é derivada de duas palavras Gregas, a saber: Cosmos que 
significa mundo ordenado e organizado e logos que significa pensamento racional. 
Dessa forma podemos defini-la como a busca de um conhecimento racional acerca da 
ordem do mundo, estudo do mundo existente, diferente das cosmogonias míticas, que 
se pretendiam narrativas de como a realidade havia se originado ou funcionava. 
 
A PALAVRA FILOSOFIA – PHILO-SOPHIA 
 
É atribuída ao filósofo grego Pitágoras de Samos (aquele do 
teorema!) a formulação da palavra filosofia. Ele afirmara que 
pertence aos deuses a sabedoria plena e completa, mas que os 
homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos. 
A palavra filosofia é grega. É composta por duas outras: philo 
e sophia. Philo deriva-se de philia, que significa amizade, amor 
fraterno, respeito entre os iguais. Sophia, quer dizer sabedoria e 
dela vem à palavra sophos, sábio. 
O Pensador 
Auguste Rodin 
Filosofia significa, portanto, o amor, no sentido de amizade, pela sabedoria, e a 
postura do filósofo é justamente a daquele que busca constantemente, ciente que 
jamais possuirá totalmente o objeto do seu amor. De acordo com o filósofo da ciência 
do século XX Karl Popper, quanto mais conhecimento, maior é a consciência do 
indivíduo de sua ignorância. Desse modo, a prática filosófica dispensa o pedantismo, o 
exibicionismo intelectual, a arrogância. É em função disso que Sócrates se transforma 
no filósofo por excelência, com sua conhecida máxima: sei que nada sei. 
 
φφφ EXERCÍCIOS PROPOSTOS 
 
 
QUESTÃO 01: (UFU – Jan/2001) 
A palavra Filosofia é resultado da composição em grego de duas outras: philo e 
sophia. A partir do sentido desta composição e das características históricas que 
tornaram possível, na Grécia, o uso de tal palavra, pode-se afirmar que: 
 
A) Sólon, mesmo sendo legislador, pode ser incluído na lista dos filósofos, visto que 
ele era dotado de um saber prático. 
B) a palavra, atribuída primeiramente a Parmênides, indica a posse de um saber 
divino e pleno, tornando os homens verdadeiros deuses. 
C) a Filosofia, como quer Aristóteles, é um saber técnico, possibilitando, pela posse ou 
não de uma habilidade, tornar alguns homens os melhores. 
D) a Filosofia, na definição de Pitágoras, indica que o homem não possui um saber, 
mas o deseja, procurando a verdade por meio da observação. 
 
QUESTÃO 02: (UFU – Jul/2001) 
No poema Teogonia, as Musas aparecem ao poeta Hesíodo e dizem-lhe o seguinte: 
 
―sabemos dizer muitas mentiras semelhantes aos fatos e sabemos, se 
queremos, dar a ouvir verdades‖ (vv. 25-6) 
 
Com base neste trecho é correto afirmar: 
 
I- A Filosofia assemelha-se ao mito por entender que a verdade baseia-se na 
autoridade de quem a diz. 
II- No mito, há espaço para contradições e incoerências, pois a verdade nele se 
estabelece em um plano diverso daquele em que atua a racionalidade humana. 
III- O mito entende que a verdade é, por um lado, uma conformidade com alguns 
princípios lógicos e, por outro, a verdade deve ser dita em conformidade com o real. 
IV- A crença e a confiança no mito provêm da autoridade religiosa do poeta que o 
narra. 
 
A) I e III são corretas. 
B) II e III são corretas. 
C) II e IV são corretas. 
D) III e IV são corretas. 
 
QUESTÃO 03: (UFU – Mar/2002) 
 
―…Princípio dos seres…ele [Anaximandro] disse (que era) o 
ilimitado…Pois donde a geração é para os seres, é para onde também a 
corrupção se gera segundo o necessário ; pois concedem eles mesmos 
justiça e deferência uns aos outros pela injustiça, segundo a ordenação do 
tempo.‖ 
Pré-Socráticos. Coleção ―Os Pensadores‖. São Paulo: Abril Cultural, 
1978. 
 
 A partir da análise do texto de Anaximandro, é correto afirmar que a filosofia, em 
contraposição ao mito, se caracteriza por: 
 
A) conceber o tempo como um passado imemorial sem relação com o presente. 
B) os seres divinos concedem, por alianças ou rompimentos, justiça e deferência uns 
aos outros. 
C) o mundo ser explicado por um processo constante e eterno de geração e 
corrupção, cujo princípio é o ilimitado. 
D) narrar a origem do mundo por meio de alianças e forças geradoras divinas. 
 
QUESTÃO 04: (UFU – Fev/2003) 
 
―(…) Assim, a magia e a mitologia ocupam a imensa região exterior do 
desconhecido, englobando o pequeno campo do conhecimento concreto 
comum. O sobrenatural está em todas as partes, dentro ou além do 
natural; e o conhecimento do sobrenatural que o homem acredita possuir, 
não sendo da experiência direta comum, parece ser um conhecimento de 
ordem diferente e superior. É uma revelação acessível apenas ao homem 
inspirado ou (como diziam os gregos) ‗divino‘ — o mágico e o sacerdote, o 
poeta e o vidente‖. 
CORNFORD, F.M. Antes e Depois de Sócrates. Trad. Valter 
Lellis Siqueira. São Paulo: Martins Fontes, 2001, pp.14-15. 
 
A partir do texto acima, é correto afirmar que: 
 
A) o campo do conhecimento mítico limita-se ao que se manifesta no campo concreto 
comum. 
B) a magia e a mitologia não se confundem com o conhecimento concreto comum. 
C) o conhecimento no mito, por ser uma revelação, é acessível igualmente a todos os 
homens. 
D) o mito não distingue o plano natural do sobrenatural, sendo o conhecimento do 
sobrenatural superior. 
 
QUESTÃO 05: (UEL – Jan/2003) 
 
―Tales foi o iniciador da filosofia da physis, pois foi o primeiro a afirmar a 
existência de um princípio originário único, causa de todas as coisas que 
existem, sustentando que esse princípio é a água. Essa proposta é 
importantíssima... podendo com boa dose de razão ser qualificada como a 
primeira proposta filosófica daquilo que se costuma chamar civilização 
ocidental.‖ 
REALE, Giovanni. História da filosofia: Antigüidade e Idade Média. 
São Paulo: Paulus, 1990. p. 29.) 
 
A filosofia surgiu na Grécia, no século VI a.C. Seus primeiros filósofos foram os 
chamados pré-socráticos. De acordo com o texto, assinale a alternativa que expressa 
o principal problema por eles investigado. 
 
A) A ética, enquanto investigação racional do agir humano. 
B) A estética, enquanto estudo sobre o belo na arte. 
C) A epistemologia, como avaliação dos procedimentos científicos. 
D) A cosmologia, como investigação acerca da origem e da ordem do mundo. 
E) A filosofia política, enquanto análise do Estado e sua legislação. 
 
φφφ EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES 
 
 
QUESTÃO 01: (UEL – Jan/2003) 
 
Ainda sobre o tema do seu surgimento, é correto afirmar que a filosofia: 
 
A) Surgiu como um discurso teórico, sem embasamento na realidade sensível, e em 
oposição aos mitos gregos. 
B) Retomou os temas da mitologia grega, mas de forma racional, formulando 
hipóteses lógico-argumentativas. 
C) Reafirmou a aspiração ateísta dos gregos, vetando qualquer prova da existência de 
alguma força divina. 
D) Desprezou os conhecimentos produzidos por outros povos, graças à supremacia 
cultural dos gregos. 
E) Estabeleceu-se como um discurso acrítico e teve suas teses endossadas pela força 
da tradição. 
 
QUESTÃO 02: (UEL – Jan/2003) 
 
―Zeus ocupa o trono do universo. Agora o mundo está ordenado. Os 
deuses disputaram entre si, alguns triunfaram. Tudo o que havia de ruim 
no céu etéreo foi expulso, ou para a prisão do Tártaro ou para a Terra, 
entre os mortais. E os homens, o que acontece com eles? Quem são 
eles?‖ 
VERNANT, Jean-Pierre. O universo, os deuses, os homens. Trad. de 
Rosa Freire 
d‘Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. p. 56. 
 
O texto acima é parte de uma narrativa mítica. Considerando que o mito pode ser uma 
formade conhecimento, assinale a alternativa correta. 
 
A) A verdade do mito obedece a critérios empíricos e científicos de comprovação. 
B) O conhecimento mítico segue um rigoroso procedimento lógico-analítico para 
estabelecer suas verdades. 
C) As explicações míticas constroem-se de maneira argumentativa e autocrítica. 
D) O mito busca explicações definitivas acerca do homem e do mundo, e sua verdade 
independe de provas. 
E) A verdade do mito obedece a regras universais do pensamento racional, tais como 
a lei de não-contradição. 
 
QUESTÃO 03: (UEL – Jan/2003) 
 
―... os traços pelos quais a democracia é considerada forma boa de 
governo são essencialmente os seguintes: é um governo não a favor dos 
poucos mas dos muitos; a lei é igual para todos, tanto para os ricos quanto 
para os pobres e portanto é um governo de leis, escritas ou não escritas, e 
não de homens; a liberdade é respeitada seja na vida privada seja na vida 
pública, onde vale não o fato de se pertencer a este ou àquele partido mas 
o mérito.‖ 
BOBBIO, Norberto. Estado, governo, sociedade: para uma teoria geral 
da política. 
Trad. de Marco Aurélio Nogueira. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. 
p. 141. 
 
Com base no texto, considere as seguintes afirmativas sobre os direitos fundamentais 
da democracia grega. 
 
I. Todos os cidadãos submetem-se a uma elite, formada pelos ricos, que governa 
privilegiando seus interesses particulares. 
II. Todos os cidadãos possuem os mesmos direitos e devem ser tratados da mesma 
maneira, perante as leis e os costumes da pólis. 
III. Todo cidadão tem a liberdade de expor, na assembléia, seus interesses e suas 
opiniões, discutindo-os com os outros. 
IV. Todo cidadão deve pertencer a um partido para que suas opiniões sejam 
respeitadas. 
 
Assinale a alternativa correta. 
 
A) Apenas as afirmativas I e II são corretas. 
B) Apenas as afirmativas I e IV são corretas. 
C) Apenas as afirmativas II e III são corretas. 
D) Apenas as afirmativas II e IV são corretas. 
E) Apenas as afirmativas III e IV são corretas. 
 
QUESTÃO 04: (UEL – Jan/2004) 
 
―Entre os ‗físicos‘ da Jônia, o caráter positivo invadiu de chofre a totalidade 
do ser. Nada existe que não seja natureza, physis. Os homens, a 
divindade, o mundo formam um universo unificado, homogêneo, todo ele 
no mesmo plano: são as partes ou os aspectos de uma só e mesma physis 
que põem em jogo, por toda parte, as mesmas forças, manifestam a 
mesma potência de vida. As vias pelas quais essa physis nasceu, 
diversificou-se e organizou-se são perfeitamente acessíveis à inteligência 
humana: a natureza não operou ‗no começo‘ de maneira diferente de como 
o faz ainda, cada dia, quando o fogo seca uma vestimenta molhada ou 
quando, num crivo agitado pela mão, as partes mais grossas se isolam e 
se reúnem.‖ 
VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. 
Trad. de Ísis Borges B. da Fonseca. 12.ed. 
Rio de Janeiro: Difel, 2002. p.110. 
 
Com base no texto, assinale a alternativa correta. 
 
A) Para explicar o que acontece no presente é preciso compreender como a natureza 
agia ―no começo‖, ou seja, no momento original. 
B) A explicação para os fenômenos naturais pressupõe a aceitação de elementos 
sobrenaturais. 
C) O nascimento, a diversidade e a organização dos seres naturais têm uma 
explicação natural e esta pode ser compreendida racionalmente. 
D) A razão é capaz de compreender parte dos fenômenos naturais, mas a explicação 
da totalidade dos mesmos está além da capacidade humana. 
E) A diversidade de fenômenos naturais pressupõe uma multiplicidade de explicações 
e nem todas estas explicações podem ser racionalmente compreendidas. 
 
QUESTÃO 05: (UEL – Jan/2004) 
 
 ―Mais que saber identificar a natureza das contribuições substantivas dos 
primeiros filósofos é fundamental perceber a guinada de atitude que 
representam. A proliferação de óticas que deixam de ser endossadas 
acriticamente, por força da tradição ou da ‗imposição religiosa‘, é o que 
mais merece ser destacado entre as propriedades que definem a 
filosoficidade.‖ 
OLIVA, Alberto; GUERREIRO, Mario. Pré-socráticos: a invenção da 
filosofia. 
Campinas: Papirus, 2000. p. 24. 
 
Assinale a alternativa que apresenta a ―guinada de atitude‖ que o texto afirma ter sido 
promovida pelos primeiros filósofos. 
 
A) A aceitação acrítica das explicações tradicionais relativas aos acontecimentos 
naturais. 
B) A discussão crítica das idéias e posições, que podem ser modificadas ou 
reformuladas. 
C) A busca por uma verdade única e inquestionável, que pudesse substituir a verdade 
imposta pela religião. 
D) A confiança na tradição e na ―imposição religiosa‖ como fundamentos para o 
conhecimento. 
E) A desconfiança na capacidade da razão em virtude da ―proliferação de óticas‖ 
conflitantes entre si. 
 
QUESTÃO 06: (UEL – Jan/2005) 
 
 Sobre a passagem do mito à filosofia, na Grécia Antiga, considere as afirmativas a 
seguir. 
 
I. Os poemas homéricos, em razão de muitos de seus componentes, já contêm 
características essenciais da compreensão de mundo grega que, posteriormente, se 
revelaram importantes para o surgimento da filosofia. 
II. O naturalismo, que se manifesta nas origens da filosofia, já se evidencia na própria 
religiosidade grega, na medida em que nem homens nem deuses são compreendidos 
como perfeitos. 
III. A humanização dos deuses na religião grega, que os entende movidos por 
sentimentos similares aos dos homens, contribuiu para o processo de racionalização 
da cultura grega, auxiliando o desenvolvimento do pensamento filosófico e científico. 
IV. O mito foi superado, cedendo lugar ao pensamento filosófico, devido à assimilação 
que os gregos fizeram da sabedoria dos povos orientais, sabedoria esta desvinculada 
de qualquer base religiosa. 
 
Estão corretas apenas as afirmativas: 
 
A) I e II. 
B) II e IV. 
C) III e IV. 
D) I, II e III. 
E) I, III e IV. 
 
QUESTÃO 07: (UEL – Dez/2005) 
 
Os poemas de Homero serviram de alimento espiritual aos gregos, 
contribuindo de forma essencial para aquilo que mais tarde se 
desenvolveria como filosofia. Em seus poemas, a harmonia, a proporção, o 
limite e a medida, assim como a presença de questionamentos acerca das 
causas, dos princípios e do porquê das coisas se faziam presentes, 
revelando depois uma constante na elaboração dos princípios metafísicos 
da filosofia grega. Adaptado de: REALE, Giovanni. História da Filosofia 
Antiga. v. I. Trad. Henrique C. Lima Vaz e Marcelo Perine. São Paulo: 
Loyola, 1994. p. 19. 
 
Com base no texto e nos conhecimentos acerca das características que marcaram o 
nascimento da filosofia na Grécia, considere as afirmativas a seguir. 
 
I- A política, enquanto forma de disputa oratória, contribuiu para formar um grupo de 
iguais, os cidadãos, que buscavam a verdade pela força da argumentação. 
II- O palácio real, que centralizava os poderes militar e religioso, foi substituído pela 
Ágora, espaço público onde os problemas da pólis eram debatidos. 
III- A palavra, utilizada na prática religiosa e nos ditos do rei, perdeu a função ritualista 
de fórmula justa, passando a ser veículo do debate e da discussão. 
IV- A expressão filosófica é tributária do caráter pragmático dos gregos, que 
substituíram a contemplação desinteressada dos mitos pela técnica utilitária do pensar 
racional. 
 
Estão corretas apenas as afirmativas: 
 
A) I e III. 
B) II e IV. 
C) III e IV. 
D) I, II e III. 
E) I, II e IV. 
 
QUESTÃO 08: (UEL – Dez/2006) 
 
―Há, porém, algo de fundamentalmente novo na maneira como os Gregos 
puseram a serviço do seu problema último – da origem e essência das 
coisas – as observações empíricas que receberam do Oriente e 
enriqueceram com as suas próprias, bem como no modo de submeter ao 
pensamento teórico e causal o reino dos mitos, fundado na observação das 
realidades aparentes do mundo sensível: os mitos sobre o nascimento do 
mundo.‖ 
Fonte: JAEGER. W. Paidéia.Tradução de Artur M. Parreira. 
3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 197. 
 
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a relação entre mito e filosofia na Grécia, 
é correto afirmar: 
 
A) Em que pese ser considerada como criação dos gregos, a filosofia se origina no 
Oriente sob o influxo da religião e apenas posteriormente chega à Grécia. 
B) A filosofia apresenta uma ruptura radical em relação aos mitos, representando uma 
nova forma de pensamento plenamente racional desde as suas origens. 
C) Apensar de ser pensamento racional, a filosofia se desvincula dos mitos de forma 
gradual. 
D) Filosofia e mito sempre mantiveram uma relação de interdependência, uma vez que o 
pensamento filosófico necessita do mito para se expressar. 
E) O mito já era filosofia, uma vez que buscava respostas para problemas que até hoje 
são objeto da pesquisa filosófica. 
 
 
 
QUESTÃO 09: (UFU –Jan/1999) 
Quais são as principais diferenças entre Filosofia e mito? 
 
QUESTÃO 10: (UFU – Jul/2003) 
 
―Funcionário da soberania ou louvador da nobreza guerreira, o poeta é 
sempre um ―Mestre da Verdade‖. Sua ―Verdade‖ é uma ―Verdade‖ 
assertórica [afirmativa]: ninguém a contesta, ninguém a contradiz. 
―Verdade‖ fundamental, diferente de nossa concepção tradicional, Alétheia 
[Verdade] não é a concordância da proposição e de seu objeto, nem a 
concordância de um juízo com outros juízos; ela não se opõe à ―mentira‖; 
não há o ―verdadeiro‖ frente ao ―falso‖. A única oposição significativa é a 
de Alétheia [Verdade] e de Léthe [Esquecimento]. Nesse nível de 
pensamento, se o poeta está verdadeiramente inspirado, se seu verbo se 
funda sobre um dom de vidência, sua palavra tende a se identificar com a 
―Verdade‖. 
 DETIENNE, Marcel. Os Mestres da Verdade na Grécia Arcaica. Trad. 
Andréa Daher. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988, p. 23. 
 
O mito grego, se entendido como uma narrativa, era uma fala de origem divina 
enunciada, em geral, por um poeta com uma determinada função. A partir desta 
perspectiva, analise o texto acima e responda em que se fundamenta, a partir desta 
função do poeta grego, a diferença da concepção de verdade mítica da nossa 
concepção, dado que esta esteja de acordo com o modelo aristotélico de verdade. 
 
 
 
SEMANA 02: PRÉ-SOCRÁTICOS 
 
 
PERÍODO COSMOLÓGICO 
 
Pré-socráticos é o termo utilizado para designar os primeiros filósofos, os quais 
deram início ao período cosmológico, isto é, foram os primeiros a questionar as 
explicações sobrenaturais presentes nos mitos e procurar uma compreender 
racionalmente o cosmos. Estes pensadores também são denominados filósofos da 
natureza, e buscavam conhecer as causas dos fenômenos naturais, ou seja, tinham o 
intuito de determinar o princípio constitutivo – arché – da natureza – physis –, 
baseando-se na observação e no raciocínio. 
Sobre a definição de arché, temos nas palavras de Giovanni Reale e Dario 
Antiseri: 
 
―Princípio‖ (arché) não é um termo de Tales (talvez tenha sido introduzido 
por seu discípulo Anaximandro, mas alguns pensam numa origem mais 
tardia), mas é certamente o termo que indica melhor do que qualquer outro 
o conceito daquele quid do qual derivam todas as coisas. Como nota 
Aristóteles em sua exposição sobre o pensamento de Tales e dos 
primeiros físicos, o ―princípio‖ é ―aquele do qual derivam originalmente e no 
qual se ultimam todos os seres‖, é ―uma realidade que permanece idêntica 
no transmutar-se de suas alterações, ou seja, uma realidade ―que continua 
a existir imutada, mesmo através do processo gerador de todas as coisas‖. 
[...] Em suma, o ―princípio‖ pode ser definido como aquilo do qual provêm, 
aquilo no qual se concluem e aquilo pelo qual existem e subsistem todas 
as coisas. (REALE, G.; ANTISERI, D. 1990, p. 29-30). 
 
PRINCIPAIS FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS 
 
- Filósofos da Escola Jônica: 
 
- Tales de Mileto: ―Tudo é água‖. 
- Anaxímenes de Mileto: ―E assim como nossa alma, que é ar, nos mantém 
unidos, da mesma maneira o vento envolve todo o mundo.‖ 
- Anaximandro de Mileto: ―Nem água nem algum dos elementos, mas alguma 
substância diferente, ilimitada, e dela nascem os céus e os mundos neles 
contidos.‖ 
- Heráclito de Éfeso: ―Tudo flui, nada persiste, nem permanece o mesmo.‖ 
 
- Filósofos da Escola Itálica: 
 
- Pitágoras de Samos: ―Todas as coisas são números‖ 
 
- Filósofos da Escola Eleata: 
 
- Parmênides de Eléia: ―O ser é e o não ser não é‖ 
- Zenão de Eléia: ―O que se move sempre está no mesmo agora‖ 
 
- Filósofos da Escola da Pluralidade: 
 
- Empédocles de Agrigento: ―Pois destes (os elementos) todos se constituíram 
harmonizados, e por estes é que pensam, sentem prazer e dor‖ 
- Demócrito de Abdera: ―O homem, um microcosmo.‖ 
 
 
HERÁCLITO DE ÉFESO (545 – 480 a.C.) 
 
―O ser não é mais do que o vir a ser” 
 
Heráclito nasceu em Éfeso por volta de 545 a.C., cidade da 
Jônia, filho de uma família que ainda conservava prerrogativas 
reais. De temperamento esquivo, nunca quis participar da vida 
política, e não demonstrava apreço pelos cidadãos de sua cidade. 
Foi considerado obscuro, e isso por duas razões: tendência ao 
isolamento e ao silêncio; escrita complexa, composta por 
aforismos, conjuntos de raciocínios mais curtos, com menor 
desenvolvimento de explicações do ponto de vista didático, e 
mesmo com uma ausência de preocupação com a apresentação 
de exemplos. Sua filosofia teve reconhecimento, mais tardiamente, pela maneira como 
este filósofo percebeu o cosmos, isto é, sua interpretação do modo como a physis 
―funcionava‖. Como percebemos na passagem abaixo. 
 
―Este cosmos (sentenciou Heráclito), igual para todos, nenhum dos deuses 
e nenhum dos homens o fez; sempre foi, e sempre será...‖. Ninguém o fez 
porque ele é eterno, e, por conseqüência, incriado e imperecível: 
desprovido de uma vontade criadora anterior (ou externa) à sua destinação 
de se reproduzir sempre. Por isso, este mundo, é indicado como dado, 
posto aí, diante dos nossos olhos e dos nossos sentidos, e o que temos a 
fazer, é buscar compreendê-lo por aquilo que se mostra. [...] O mundo de 
fenômenos ao mesmo tempo em que se mostra, oculta as suas razões. É 
de sua índole, tanto o se ocultar como também o se assumir, mediante um 
aparência ou maquiagem comunicativa, pela qual a Natureza provoca em 
nós o desejo de a conhecer.[...] Conhecemos a Natureza não tanto por 
aquilo que se mostra, mas principalmente por aquilo que inferimos sobre 
ela.. (SPINELLI, M., 1998, p. 193) 
 
Miguel Spinelli deixa claro um ponto importante na teoria de Heráclito, o de que o 
mundo é eterno e, por isso, incriado. Isso demonstra que, diferentemente dos outros 
filósofos Pré-socráticos, ele não procurava um princípio constitutivo do cosmos, o qual 
seria um elemento contido na Natureza, mas sim busca compreender a sua ordem, 
isto é, como o mundo é a partir da sua organização e ordenação. Heráclito não 
procura a arché no sentido de um elemento de que o cosmos é constituído, mas a lei 
que o rege, partindo, é claro, das observações feitas na própria Natureza. Para o 
mesmo, a realidade é um constante fluxo, ou seja, é sempre mutável. Os sentidos, 
porém, para ele, nos mostram certa regularidade, que não condiz com a mudança 
constante que ocorre realmente. E isso mostra que tanto para Heráclito quanto para 
Parmênides existe uma cisão entre pensar e sentir. 
 
 
A LUTA DOS CONTRÁRIOS – GUERRA E PAZ 
 
―O conflito é o pai e o rei de todas as coisas‖ ... . ―O oposto é conveniente, 
e das coisas diferentes nasce a mais bela harmonia‖ ... . Sem nascimento 
e perecimento, sem geração e destruição, vida e morte, a perpetuidade do 
mundo seria insustentável, e, por conseqüência, a sua própria existência. 
Sem oposição ou diferenças, também o viver humano seria insustentável, 
pois desativaria todo o móvel do seu querer e agir, e, conseqüentemente, o 
próprio logos1 autentificador do nomos2 da deliberação humana. 
(SPINELLI, M., 1998, p. 196) 
 
Para Heráclito o que comanda aordem do mundo é a luta, ou melhor, harmonia dos 
contrários, a perenidade das coisas que fazem parte da Natureza, seja homem, planta, 
animal, mineral ou qualquer outra coisa. O mundo é eterno, assim como a sua ordem, 
porém suas partes, aquilo de que ele se constitui está em constante renovo, em um 
eterno devir. Em outras palavras, se não existir guerra não há paz, se não existir morte 
não há vida nem nascimento, sem a perenidade das coisas tudo seria eterno e posto, 
condição que, para Heráclito, é perceptivelmente incoerente com a realidade. A teoria 
heraclitiana consiste, então, no estabelecimento de uma lei que rege o cosmos, a de 
que tudo é um eterno devir, um vir a ser constante, pois tudo nasce, cresce e morre. O 
jovem envelhece, o verde apodrece, tudo está sujeito ao tempo e, assim, a harmonia 
dos contrários, já que é por existir os contrários que se tem uma perfeita ordenação da 
existência do mundo. 
 
1
 Logos é logos no alfabeto grego e significa pensamento racional, sendo que na filosofia de Heráclito é o 
que vai determinar a lei que rege a ordem do mundo. 
2
 Nomós em grego significa lei, deliberação, governo, princípio regulativo. 
 
 
NOTA: Pela maneira como percebia o desenvolvimento natural das coisas, Heráclito 
foi considerado o pai da dialética, isto é, via a realidade como um eterno embate entre 
opostos, um momento superando o outro. 
 
 
O LOGOS NA TEORIA HERACLITIANA 
 
Mas ela é detentora (e isso é muito importante de salientado na filosofia de 
Heráclito), de uma ciência específica e própria, ou seja, de um saber que, 
de certo modo, se esconde por detrás de uma aparência observável, e que 
cabe ao logos humano desocultá-la, pela via da observação e da 
inferência. Esse seu saber é a sua lei (nomos), e também o seu logos, 
aquele que ―tudo governa‖: o pensamento que governa tudo através de 
tudo.[...] O logos, em referência ao cosmos,é expressão dessa articulação, 
pela qual o cosmos ou o ser pode ser entendido como uma unidade de 
contrapostos. (SPINELLI, M., 1998, p. 193 e 195) 
 
Spinelli, na passagem acima, demonstra, novamente que Heráclito busca 
encontrar o princípio regulativo do cosmos, o logos que governa a ordem do mundo, 
isto é, assim como os homens o cosmos também tem um logos. A razão conduz as 
ações dos homens e o logos faz o mesmo com a ordem do mundo, estabelecendo a 
harmonia entre os contrários, que é o nomos (a lei) que rege os acontecimentos na 
Natureza. Dessa forma pode-se dizer que o logos (a razão) do cosmos (espaço 
ordenado) consiste no princípio que regula a ordem do mundo, é a expressão da 
harmonia entre os contrários. 
 
O FOGO COMO PRINCÍPIO DE TODAS AS COISAS 
 
Dado que a sua Filosofia da Natureza é uma filosofia das relações, o fogo 
(coextensivo do logos) nela se apresenta com elemento constituinte do 
cosmos e também como a metáfora mais significativa do seu filosofar.[...] 
Mas o que Heráclito observou (talvez diante da lareira), é que o fogo não 
existe isoladamente na Natureza, a não ser em Relação: se há fogo, há 
algo que queima. (SPINELLI, M., 1998, p. 199 e 200) 
Para Heráclito o fogo é algo que exprime exatamente a ―natureza‖ do cosmos, pois 
ele vive da constante mudança, da harmonia entre contrário, pois a sua vida consiste 
em destruir algo – o combustível – que se transforma em fumaça. O fogo retrata bem o 
que Heráclito quer dizer com guerra e paz, pois a primeira seria o fogo queimando, 
destruindo o combustível e o transformando; já a segunda seria o fogo se apagando, 
isto é, deixando de queimar, e por isso deixando de existir. A guerra é a luta entre os 
contrários que faz com que exista uma ordem no mundo, a qual o mantém existindo, a 
paz seria o fim, ou a não existência, desta luta, uma perpetuidade que acabaria com a 
ordem e, conseqüentemente, o mundo. 
 
 
PARMÊNIDES DE ELÉIA (540 – 470 a.C.) 
 
“O ente é, pois é ser e nada não é.” 
 
A IMUTABILIDADE DO SER 
 
Parmênides nasceu em Eléia, hoje Vélia, na Itália por volta de 540 a.C. Foi iniciado 
na filosofia pelo pitagórico Ananias e tem-se que foi político ativo e formador de boas 
leis para a cidade. Escreveu um poema intitulado Sobre a Natureza, o qual se divide 
em duas partes: a primeira (da qual teve-se acesso à vários fragmentos) que trata dos 
caminhos da verdade; e a segunda (da qual conservam-se apenas fragmentos) que 
aborda os caminhos da opinião. Tem-se que a filosofia parmenidiana levanta-se contra 
o dualismo pitagórico (ser e não-ser, cheio e vazio,...) e, de acordo com alguns 
intérpretes, contra o mobilismo de Heráclito. 
Vejamos uma passagem de um poema de Parmênides na qual podemos encontrar 
os principais elementos de seu pensamento. 
 
Só nos resta neste momento, uma única via da qual se possa falar: que é. 
Sobre ela há um grande número de sinais: que sendo não-gerado é 
imperecível um todo inteiro inabalável e sem fim. Jamais foi nem será, 
porque é todo presente, um e contínuo. Que origem poder-se-ia atribuir-
lhe? Como e de onde cresceria? Não te permitirei dizer nem pensar que 
ele possa ter crescido do não-ser; pois não se pode dizer nem pensar o 
que não é. Se viesse do nada qual a necessidade o teria impelido a nascer 
mais cedo ou mais tarde? Assim, pois, é necessário que ele seja 
absolutamente ou não seja. Também a força da convicção jamais 
concederá que do não-ente possa nascer algo dele. A justiça não permite 
por um afrouxamento de suas amarras, que nasça ou pereça, mas o 
mantém. Esta decisão recai sobre a seguinte afirmativa: Ou é ou não é [...]. 
Como poderia perecer o ente? Como poderia ser gerado? Pois se nasceu, 
não é, e também não é se um dia devesse ser. [...]. Também não é 
divisível, pois é completamente idêntico a si mesmo. Nada poderia ser-lhe 
acrescido o que impediria de conter-se, nem retirado, pois o ente é todo 
pleno. Por isso é todo contínuo [...] Idêntico a si mesmo, em si mesmo 
repousa, imóvel em seu lugar; pois a poderosa Necessidade o mantém nos 
limites de um liame que de todos os lados o encerra, de tal modo que ao 
ente está estabelecido como norma não ser inacabado. 
 
A passagem acima vem confirmar o motivo pelo qual Parmênides desacredita do 
conhecimento proporcionado pelos sentidos, ou seja, o Ser dos sentidos está em 
movimento e por isso ele constantemente deixa de ser o que é e se transforma em 
outro Ser (o não-ser anterior), o que para o autor é inconcebível, pois o não-ser não 
existe. Em outras palavras, admitir o movimento implica em admitir que uma pessoa 
deixa de ser jovem e se transforma em velho (que é o mesmo que dizer que se 
transforma no não-jovem, que não existe). 
Para Parmênides o Ser, o pensar e o dizer são a mesma coisa, pois não se pode, 
em hipótese alguma, admitir que o não-ser possa ser pensado ou dito. O Ser uno e 
eterno do autor só pode ser concebido pela razão, sendo que os sentidos não podem 
expressá-lo. 
 
A CRÍTICA AO CONHECIMENTO PELOS SENTIDOS 
 
Discordando do pensamento de Heráclito, Parmênides faz 
uma crítica ao conhecimento das coisas sensíveis, as quais 
estão em constante mutação, porque não há como formular um 
conhecimento a respeito de algo que em um dado momento é X 
e logo depois se torna Y. Para este pensador é impossível 
Fisionomia Atribuída a 
Parmênides (segunda 
metade do séc. VI e 
primeira metade do 
séc. V a.C.). 
conhecer todas as coisas em todos os seus momentos, pois só se poderia realmente 
ter acesso a um saber concreto sobre algo se fosse possível conhecê-lo nos diversos 
momentos de sua existência. Para o autor, então, a realidade não é acessível pelos 
sentidos, mas tão somente pela razão, que jamais poderia conhecer algo que muda 
constantemente, mas somente estar conhecendo este algo. O conhecimento pronto e 
acabado só pode existir frente a uma realidade que não mude, e só assim pode-se 
afirmar que se conhece alguma coisa em sua plenitude. Como para este filósofo, ao 
contrário de Heráclito, os sentidos nos mostrammudança, estes não são via de 
acesso confiável à realidade tal qual ela é. 
 
 
φφφ EXERCÍCIOS PROPOSTOS 
 
QUESTÃO 01 (UFU – Jan/2004) 
 
―Do arco o nome é vida e a obra é morte‖. 
HERÁCLITO. Sobre a natureza. Trad. de José Cavalcante de Souza. 
São 
Paulo: Nova Cultural, 1989, p. 56. Coleção ―Os Pensadores‖. 
 
Este fragmento ilustra bem o pensamento de Heráclito, que acreditou ser o mundo o 
eterno fluir, comparado a um rio no qual ―entramos e não entramos‖. 
 
Assinale a alternativa que explica o fragmento mencionado acima. 
 
A) Todas as coisas estão em oposição umas com as outras, o que explica o caráter 
mutável da realidade. A unidade do mundo, sua razão universal resulta da tensão 
entre as coisas, daí o emprego freqüente, por parte de Heráclito, da palavra guerra 
para indicar o conflito como fundamento do eterno fluxo. 
B) A harmonia que anima o mundo é aberta aos sentidos, sendo possível ser 
conhecida na multiplicidade daquilo que é manifesto, uma vez que a realidade nada 
mais é que o eterno fluxo da multiplicidade do Logos heraclitídeo. 
C) A unidade dos contrários, a vida e a morte, é imóvel, podendo ser melhor 
representada para o entendimento humano por intermédio da imagem do fogo, que 
permanece sempre o mesmo, imutável e continuamente inerte, e não se oculta aos 
olhos humanos. 
D) O arco, instrumento de guerra, indica que a idéia de eterno fluxo, das 
transformações que compõem o fluxo universal, é o fundamento da teoria do caos, 
pois o fogo se expande sem medida, tornado a realidade sem nenhuma harmonia ou 
ordem. 
 
QUESTÃO 02 (UFU – Jul/2004) 
O fragmento seguinte é atribuído a Heráclito de Éfeso. 
 
―O mesmo é em (nós?) vivo e morto, desperto e dormindo, novo e velho; 
pois estes, tombados além, são aqueles e aqueles de novo, tombados 
além, são estes.‖ 
Os Pré-Socráticos. Trad. de José Cavalcante de Souza, 1ª ed. 
São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 93. (Os Pensadores) 
 
A partir do fragmento citado, escolha a alternativa que melhor representa o 
pensamento de Heráclito. 
 
A) Não existe a noção de ―oposto‖ no pensamento de Heráclito, pois todas as coisas 
constituem um único processo de mudança que expressa a concórdia e a harmonia 
do ―fluxo‖ contínuo da natureza. 
B) A equivalência de estados contrários com ―o mesmo‖ exprime a alternância 
harmônica de pólos opostos, pela qual um estado é transposto no outro, numa 
sucessão mútua, como o dia e a noite. Todas as coisas são ―Um‖, toda a 
multiplicidade dos opostos constitui uma unidade, e todos os seres estão num fluxo 
eterno de sucessão de opostos em guerra. 
C) Se o morto é vivo, o velho é novo, e o dormente é desperto, então não existe o 
múltiplo, mas apenas o ―Um‖, como verdade profunda do mundo. A unidade 
primordial é a própria realidade da physis e a multiplicidade, apenas aparência. 
D) A alternância entre pólos opostos constitui um fluxo eterno, regido pela ―guerra‖ e 
pela ―discórdia‖, que ocorre sem qualquer medida e proporção. A guerra entre 
contrários evidencia que a physis é caótica e denota o fato de que o pensamento de 
Heráclito é irracionalista. 
 
QUESTÃO 03 (UFU – Jul/2005) 
O fragmento seguinte menciona uma noção fundamental na filosofia de Heráclito. 
 
―Por isso é preciso seguir o-que-é-com, (isto é, o comum; pois o comum é 
o-que-é-com). Mas, o Logos sendo o-que-é-com, vivem os homens como 
se tivessem uma inteligência particular.‖ 
SEXTO EMPÍRICO. Contra os Matemáticos, VII,133. In: Os Pré-
Socráticos. 
São Paulo: Abril Cultural, 2000. Col. Os Pensadores, p. 87. 
 
A partir do fragmento, escolha a explicitação correta do LOGOS na filosofia de 
Heráclito. 
 
A) O Logos é comum a todas as coisas e, por isso, princípio Universal que se 
manifesta na atividade de uma inteligência. O Logos é lei – princípio divino inteligente 
que ordena e governa todo o fluxo do kosmos. Imanente à estrutura do mundo, sua 
expressão material é o Fogo sempre vivo que se alterna por medidas. O Logos 
expressa a verdade eterna, independentemente das palavras, de que tudo é Um. 
B) O Logos de Heráclito representa o discurso racional filosófico que se contrapõe ao 
discurso poético modelador de uma visão mítica do kosmos. A explicação de mundo 
difundida pelo Logos não se baseia na geração e nascimento dos deuses, mas num 
elemento material único representado pelo fogo. Por ser comum, o Logos denota a 
racionalidade estritamente humana em contraposição ao fluxo caótico e irracional da 
natureza. 
C) O Logos representa a concepção de que todas as coisas formam uma unidade. 
Somente o Um é racional, pois é o comum e indica o que é compartilhado, em 
contraposição com a multiplicidade, que é negada na Filosofia de Heráclito. O fluxo 
permanente de todas as coisas indica que a alternância e a guerra dos opostos não 
pode ser apreendida pelo discurso filosófico racional, cuja função é explicar o kosmos 
em termos lógicos. 
D) O Logos denota a concepção de que uma unidade da physis não pode ser 
expressa pelo discurso filosófico, pois cada homem percebe o mundo de um modo 
particular a partir dos sentidos. Todas as coisas formam um fluxo perpétuo e a 
multiplicidade dos opostos constitui a única verdade em contraposição com a 
unidade, que é negada na Filosofia de Heráclito. O discurso filosófico só pode 
expressar o que cada um percebe pelos sentidos. 
 
QUESTÃO 04 (UFU – Jul/2004) 
A relação entre mito e logos pode ser ilustrada a partir do seguinte fragmento do 
poema Sobre a Natureza de Parmênides. 
 
―E a deusa me acolheu benévola, e na sua a minha 
mão direita tomou, e assim dizia e me interpelava: 
ó jovem, companheiro de aurigas imortais, 
tu que assim conduzido chegas à nossa morada, 
salve! Pois não foi mau destino que te mandou perlustrar 
esta via (pois ela está fora da senda dos homens)...‖ 
Os Pré-Socráticos. Trad. de José Cavalcante de Souza. 1ª ed. São 
Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 147. (Os Pensadores) 
 
Após ler o fragmento, escolha a alternativa que melhor representa a relação mito-
logos nas origens da filosofia. 
 
A) A verdade filosófica aparece no poema de Parmênides como revelação divina e 
experiência mística, que são incompatíveis com o pensamento filosófico racional. A 
deusa do poema mostra que o conhecimento supremo está fora do alcance da razão 
humana. 
B) A verdade filosófica, no poema de Parmênides, é apresentada por meio de 
representações míticas que o filósofo retira de uma tradição religiosa. Essas imagens 
se transpõem, sem deixar de ser místicas, em uma filosofia do Ser que busca o 
objeto inteligível do logos, ou seja, do pensamento racional e do Uno. 
C) A verdade filosófica, por ser revelação da deusa, é obtida apenas pela experiência 
religiosa. As representações míticas do poema de Parmênides indicam que a filosofia 
grega do século V a.C. é irracional, pois não usa as categorias lógicas do rigor 
argumentativo. 
D) A filosofia representa o pensamento estritamente racional, que busca uma 
explicação de mundo somente por meio de princípios materiais. Por essa razão, o 
poema de Parmênides ainda não representa o pensamento filosófico do século V 
a.C., caracterizado pela ruptura com todas as imagens míticas da tradição cultural 
grega. 
 
QUESTÃO 05 (UFU – Jul/2006) 
Abaixo, temos um fragmento do poema de Parmênides e uma breve análise de sua 
obra por Gerd Bornheim. 
 
E agora vou falar; e tu, escuta as minhas palavras e guarda-as bem, pois 
vou dizer-te dos únicos caminhos de investigação concebíveis. O primeiro 
(diz) que (o ser) é e que o não-ser não é; este é o caminho da convicção, 
pois conduz à verdade. O segundo, que não é, é, e que o não-ser é 
necessário; esta via, digo-te, é imperscrutável; pois não podes conhecer 
aquilo que não é – isto é impossível – nem expressá-lo em palavra. 
 Fragmento do poema de Parmênides. IN:BORNHEIM, G. 
Os Filósofos Pré-Socráticos. São Paulo: Cultrix, 1989. 
 
O poema de Parmênides nos oferece – aolado dos fragmentos de 
Heráclito – a doutrina mais profunda de todo pensamento pré-socrático. 
Mas é também a de mais difícil interpretação. O poema se divide em três 
partes: o prólogo, o caminho da verdade e o caminho da opinião. (...) No 
fim do prólogo, o poema distingue ―o coração inabalável da verdade bem 
redonda‖, das ―opiniões dos mortais‖. 
BORNHEIM, G. Os Filósofos Pré-Socráticos. São Paulo: Cultrix, 1989. 
 
De acordo com o pensamento de Parmênides, assinale a alternativa correta. 
 
A) O caminho da verdade afirma que o ser é, e que o não-ser é necessário. 
B) O caminho da verdade e o caminho da opinião são os mesmos, porque tudo é um 
eterno devir. 
C) Há dois caminhos, o primeiro conduz à verdade, enquanto o segundo não é 
passível de investigação. 
D) É possível investigar, conhecer e expressar o não-ser, porque é do conjunto das 
opiniões dos mortais que nasce a verdade. 
 
φφφ EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES 
 
 
QUESTÃO 01: (UFU – Jan/1999) 
Heráclito de Éfeso, filósofo pré-socrático, compreendia que 
 
I- o ser é vir-a-ser. 
II- o vir-a-ser é a luta entre os contrários. 
III- a luta entre os contrários é o princípio de todas as coisas. 
IV- da luta entre os contrários origina-se o não-ser. 
 
Assinale 
 
A) se apenas I, II e III estiverem corretas. 
B) se apenas I, III e IV estiverem corretas. 
C) se apenas II, III e IV estiverem corretas. 
D) se apenas I, II e IV estiverem corretas. 
E) se todas as afirmativas estiverem corretas. 
 
QUESTÃO 02: (UFU – Jul/1999) 
Heráclito de Éfeso (500 a.C.) concebia a realidade do mundo como mobilidade, 
impulsionada pela luta dos contrários. Sobre sua filosofia, é correto afirmar que 
 
I- a imagem do fogo, com chamas vivas e eternas, representa o Logos que governa o 
movimento perpétuo dos seres. 
II- a luta dos contrários é aparência que afeta apenas a sensibilidade humana. 
III- a mobilidade dos seres resulta no simples aparecer de novos seres. 
IV- a harmonia do cosmo é resultado da tensão eterna da luta dos contrários. 
 
Assinale 
 
A) se as afirmações II e III são corretas. 
B) se as afirmações I e IV são corretas. 
C) se apenas a afirmação IV é correta. 
D) se apenas a afirmação I é correta. 
 
QUESTÃO 03: (UFU – Jul/2001) 
 
―Muitos não percebem tais coisas, todos os que as encontram, nem 
quando ensinados conhecem, mas a si próprios lhes parece que as 
conhecem e percebem.‖ (DK 22 B 17) 
―Más testemunhas para os homens são os olhos e ouvidos, se almas 
bárbaras eles têm‖ (DK 22 B 107) 
 
A partir destes dois textos de Heráclito, pode-se afirmar que, para ele, 
 
A) as sensações, como as águas de um rio, são infalíveis e nos proporcionam nelas 
mesmas a apreensão do real. 
B) o conhecimento é obtido unicamente a partir da percepção sensível. 
C) as sensações por si só não são garantias de conhecimento. 
D) o conhecimento é proporcionado pelo ensino obtido pela atividade da alma, 
qualquer que esta seja. 
 
QUESTÃO 04: (UFU – Jul/2006) 
O trecho do fragmento seguinte constitui a mais célebre afirmação atribuída a 
Heráclito. 
 
Em rio não se pode entrar duas vezes no mesmo, segundo Heráclito, nem 
substância mortal tocar duas vezes na mesma condição... 
HERÁCLITO. In: Os Pré-Socráticos. (PLUTARCO, De E apud Delphos , 
8, p. 388 E.). 
São Paulo: Abril Cultural, 2000. p. 97. Col. Os Pensadores. 
 
A partir do fragmento, escolha a explicação correta para a questão do ―fluxo‖ na 
Filosofia de Heráclito: 
 
A) O fluxo do rio representa a condição mortal do homem e a metempsicose. Não se 
pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois o homem, substância mortal, morre e 
renasce sucessivamente em vidas distintas. Só se pode entrar no mesmo rio uma 
única vez, na mesma condição, ou seja, com a mesma 
substância mortal. 
B) O fragmento enfatiza o fato de que todas as coisas, representadas pelo rio, 
mudam de maneira caótica e desordenada, fazendo com que o conhecimento seja 
totalmente impossível. Como nada permanece o mesmo, pode-se inferir que nada é, 
nem pode ser dito e nem mesmo pode ser pensado, visto que o Logos não existe. 
C) O fluxo, representado pelo rio, indica o parentesco de toda a Natureza com a 
substância mortal. Todas as coisas se tornam água, que, para Heráclito, é o princípio 
primordial no qual todas as coisas se convertem e que configura todas as mudanças. 
O fluxo do rio indica que a condição de todas as coisas é determinada pela água como 
substância mortal. 
D) O fragmento enfatiza que a estrutura e, portanto, a identidade de um rio se 
mantém a mesma, embora sua substância esteja em contínua mudança. Um aspecto 
unitário é mantido, enquanto o conteúdo material é constantemente perdido e 
trocado. A imagem do rio expressa a coexistência de uma estrutura contínua num 
processo de fluxo. 
 
QUESTÃO 05: (UFU – Fev/2007) 
Heráclito de Éfeso viveu entre os séculos VI e V a.C e sua doutrina, apesar de 
criticada pela filosofia clássica, foi resgatada por Hegel, que recuperou sua importante 
contribuição para a Dialética. Os dois fragmentos a seguir nos apresentam este 
pensamento. 
 
 ―Este mundo, igual para todos, nenhum dos deuses e nenhum dos 
homens o fez; sempre foi, é e será um fogo eternamente vivo, 
acendendo-se e apagando-se conforme a medida.‖ (Fragmento 30) 
 ―Para as almas, morrer é transformar-se em água; para a água, morrer é 
transformar-se em terra. Da terra, contudo, forma-se a água, e da água a 
alma.‖ (Fragmento 36) 
 
De acordo com o pensamento de Heráclito, marque a alternativa INCORRETA. 
 
A) As doutrinas de Heráclito e Parmênides estão em perfeito acordo sobre a 
imutabilidade do ser. 
B) Para Heráclito, a idéia de que ―tudo flui‖ significa que nada permanece fixo e 
imóvel. 
C) Heráclito desenvolve a idéia da harmonia dos contrários, isto é, a permanente 
conciliação dos opostos. 
D) A expressão ―devir‖ é adequada para compreendermos a doutrina de Heráclito. 
 
QUESTÃO 06: (UFU – Jan/1999) 
Parmênides de Eléia, filósofo pré-socrático, sustentava que 
 
I- o ser é. 
II- o não-ser não é. 
III- o ser e o não-ser existem ao mesmo tempo. 
IV- o ser é pensável e o não-ser é impensável. 
 
Assinale 
 
A) se apenas I, III e IV estiverem corretas. 
B) se apenas I, II e III estiverem corretas. 
C) se apenas II, III e IV estiverem corretas. 
D) se apenas I, II e IV estiverem corretas. 
E) se todas as afirmativas estiverem corretas. 
 
QUESTÃO 07: (UFU – Jul/2000) 
No poema Sobre a Natureza Parmênides afirma: "os únicos caminhos de inquérito que 
são a pensar: o primeiro que é e, portanto que não é não ser, de Persuasão é caminho 
(pois à verdade acompanha); o outro, que não é e, portanto que é preciso não ser, 
este então, eu te digo, é atalho de todo incrível; pois nem conhecerias o que não é 
nem o dirias". Pode-se daí inferir que: 
 
A) apenas o ser pode ser dito e pensado. 
B) o não ser de algum modo é. 
C) o ser e o pensar são distintos. 
D) o ser é conhecido pelos sentidos. 
 
QUESTÃO 08: (UFU – Set/2002) 
 
 ―Só resta o mito de uma via, a do ser; e sobre esta existem indícios de que 
sendo não gerado é também imperecível, pois é todo inteiro, inabalável e 
sem fim; nem jamais era nem será, pois é agora todo junto, uno, contínuo 
(…)‖ 
 Sobre a Natureza, 8, 2-5 
 
A partir deste trecho do poema de Parmênides, é possível afirmar que 
 
A) a continuidade, a geração e o imobilismo estão presentes na via do ser. 
B) o ser, por não poder não ser, não é gerado nem deixa de ser, não tendo princípio 
nem fim. 
C) a via do ser é aquela percebida pelos nossos sentidos. 
D) o ser, para o autor, de certo modo não é, pois nunca foi no passado nem será no 
futuro. 
 
QUESTÃO 09: (UFU – Jul/2003) 
 
―Só é possível pensar e dizer que o ente é, pois o ser é, 
mas o nada não é; sobre isso, eu te peço, reflita, 
pois esta via de inquérito é a primeira de que te afasto; 
depois afasta-te daquela outra, aquela em que erram os mortais 
desprovidos desaber e com dupla cabeça, pois, no peito, a hesitação 
dirige 
um pensamento errante: eles se deixam levar surdos e cegos, perplexos, 
multidão inepta, para quem ser e não ser é considerado o mesmo e não o 
mesmo, 
para quem todo o caminho volta sobre si mesmo‖. 
 Parmênides, Sobre a Natureza, 6, 1-9. 
 
Sobre este trecho do poema de Parmênides, é correto afirmar que 
 
I - só se pode pensar e dizer que o ser é. 
II - para os mortais o ser é considerado diferente do não ser. 
III - é possível dizer o não ser, embora não se possa pensá-lo. 
IV - duas vias de inquérito devem ser afastadas: a do não ser e a dos mortais. 
 
Assinale a alternativa que contém todas as afirmações corretas. 
 
A) II e III 
B) II e IV 
C) I e III 
D) I e IV 
 
QUESTÃO 10: (UFU – Jan/2004) 
Parmênides (c. 515-440 a.C.) deixou seus pensamentos registrados no poema Sobre 
a natureza, do qual restaram apenas fragmentos cultivados pelos filósofos do mundo 
antigo, uma das passagens célebres preservadas é a seguinte: 
 
―Necessário é o dizer e pensar que (o) ente é; pois é ser, 
 e nada não é; isto eu te mando considerar. 
 Pois primeiro desta via de inquérito eu te afasto, 
 mas depois daquela outra, em que mortais que nada sabem 
 erram, duplas cabeças, pois o imediato em seus 
 peitos dirige errante pensamento; (...)‖ 
PARMÊNIDES. Sobre a natureza. Trad. de José Cavalcante de Souza. 
São Paulo: Nova Cultural, 1989, p. 88. Coleção ―Os Pensadores‖. 
 
Analise as assertivas abaixo. 
 
I- A opinião humana busca o que é (ser) naquilo que não é (não-ser). 
II- O mundo dos sentidos é (ser), portanto, o único digno de ser conhecido. 
III- Não se pode dizer ―não-ser é‖, porque ―não-ser‖ é impensável. 
IV- Dizer ―não-ser é não não-ser‖, é o mesmo que afirmar ―não-ser não é‖. 
 
Assinale a alternativa que contém as assertivas corretas. 
 
A) I e III 
B) II e III 
C) II e IV 
D) I e IV 
 
 
 
 
SEMANA 03: SÓCRATES DE ATENAS 
 
 
 SÓCRATES (470 – 399 a.C.) 
 
“Tudo que sei é que nada sei” 
 
PERÍODO SOCRÁTICO OU ANTROPOLÓGICO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sócrates nasceu em Atenas por volta de 470/469 a.C. e morreu em 399 a.C. 
devido a uma condenação, a qual se fundamentou nas acusações de ser corruptor da 
juventude e de não acreditar nos deuses da cidade. Era filho de um escultor e de uma 
parteira. Nunca escreveu nada, e a maioria do que conhecemos de sua filosofia 
chegou-nos por intermédio dos diálogos de Platão, o que acabou por gerar uma 
dúvida sobre se Sócrates realmente havia existido ou se seria simples personagem 
das obras de Platão. A maioria dos comentadores sérios, no entanto, têm optado pela 
primeira possibilidade. 
 O que se pode perguntar, no entanto, é o seguinte: o que o tornou tão importante 
para os estudiosos da filosofia? Por que se tornou um marco, a ponto de 
classificarmos todos os que vieram antes dele como Pré-socráticos? A resposta não 
envolve, como deve parecer óbvio, somente elementos cronológicos. O período 
socrático foi também denominado de antropológico. Analisando a palavra, Antropo: 
vem de anthropos, que se refere à idéia de homem e lógico: vem de Logos, que 
significa estudo, razão. Dessa maneira podemos afirmar que antropologia é o estudo 
do homem em seus mais variados aspectos, principalmente cultural e social. 
Essa divisão existe na história da Filosofia porque Sócrates mudou o enfoque da 
investigação filosófica, não se preocupando em compreender o mundo natural, como 
os filósofos que o antecederam, mas procurando conhecer o homem e seu aspecto 
social e político, como percebemos na seguinte citação abaixo: 
 
Os naturalistas procuraram responder à seguinte questão: ―O que é a 
natureza ou a realidade última das coisas?‖ Sócrates, porém, procura 
responder à questão: ―O que é a natureza ou realidade última do 
homem?‖, ou seja, o que é a essência do homem?‖. (REALE, G.; 
ANTISERI, D. 1990, p. 87). 
 
Nesse momento de desenvolvimento principalmente cultural do mundo grego, além 
das questões voltadas à natureza (cosmologia), a filosofia começa a preocupar-se 
com a sociedade e o indivíduo, principalmente no que diz respeito às questões morais. 
O cidadão guerreiro belo e bom (Arete – modelo de virtude) já não satisfazia o modelo 
de cidadão da polis. Era, então, necessário formar um novo cidadão para comandar as 
cidades. Neste contexto surgem os Sofistas (professores estrangeiros), os quais se 
diziam capazes de ensinar a arte e a técnica do discurso (oratória e retórica). Saber 
falar em público era essencial em um sistema democrático, no qual as decisões eram 
tomadas em praça pública (Ágora), por vontade da maioria dos cidadãos, após 
ouvirem os discursos prós e contra os temas a serem votados. Os Sofistas ensinavam 
a jovens aristocratas, e recebiam por isso. Acreditavam que tudo poderia ser ensinado, 
porque tudo era convenção entre os homens. Por isso acreditavam que a realidade 
era relativa, sendo os resultados dependentes de acordos entre os homens. 
O mais importante deles foi Protágoras, cuja principal afirmação foi a de que ―O 
homem é a medida de todas as coisas, das que são enquanto são e das que não são 
enquanto não são.‖ 
Górgias também foi muito importante, afirmou que podemos pensar o inexistente e 
comunicar irrealidades através da linguagem. Portanto, não há diferença entre (doxa) 
opinião e (Alétheia) verdade, assim como pensavam os outros sofistas e os gregos de 
sua época. 
Sócrates formulou uma ética racionalista (metódica) onde a virtude (Areté) se 
identifica com o conhecimento. A verdade só pode ser conhecida, portanto se o 
indivíduo deixar para trás as ilusões dos sentidos, as palavras e as opiniões. Conhecer 
para Sócrates consistia em se elevar da aparência para a essência, da opinião 
individual para o conceito universal dos seres, dos valores, da vida moral e da política. 
Mencionamos acima a preocupação socrática de compreender qual a essência do 
homem, a qual parece-nos estar expressa na seguinte passagem: 
 
Um dos raciocínios fundamentais feitos por Sócrates para provar essa tese 
é a seguinte: uma coisa é o ―instrumento‖ que se usa e outra é o ―sujeito‖ 
que usa o instrumento. Ora, o homem usa seu próprio corpo como 
instrumento, o que significa que o sujeito, que é o homem, e o instrumento, 
que é o corpo, são coisas distintas. Assim, à pergunta ―o que é o homem‖, 
não se pode responder que é o seu corpo, mas sim que é ―aquilo que se 
serve do corpo‖. Mas ―o que se serve do corpo é a psyché, a alma (= 
inteligência) [...] (REALE, G.; ANTISERI, D. 1990, p. 88). 
 
Para Sócrates, a educação da alma é importante, pois ela é a essência do homem. 
Ela determina as ações dos homens ela pode bem conduzir-nos a uma vida virtuosa. 
Aquele que tem conhecimento não reúne todas as características necessárias à 
virtude (justiça, fortaleza, temperança, sabedoria...) e o vício nada mais é que a falta, a 
privação de conhecimento, ou seja, a ignorância. 
Tomando este preceito como base, podemos também afirmar que tudo o que é 
exterior à natureza da alma do homem não pode ser considerado virtude. Desse 
modo, riqueza, poder, fama, beleza e saúde física, dentre outras coisas, não 
constituem valores éticos, pois ―em si mesmos não têm valor‖. 
Este filósofo ficou conhecido também por sua máxima, ―tudo que sei é que nada 
sei‖. Com tal afirmação quis dizer que o conhecimento do homem é pequeno, 
imperfeito, superficial e que o conhecimento pleno e total das coisas naturais só 
pertence aos deuses. É presunção se considerar conhecedor das coisas criadas por 
aqueles que nos criaram. 
Mas se virtude é sinônimo de conhecimento e Sócrates diz não saber nada então 
não é virtuoso? Claro que o conhecimento que ele está admitindo como igual à virtude 
não trata de conhecimentos acerca o mundo natural, o qual os deuses são artífices, 
mas de conhecimentos práticos e de uma tentativa de uma auto-compreensão de 
nossa alma. 
 
O provável, senhores, é que, em verdade, o sábioseja deus e queira dizer, 
em seu oráculo, que pouco valor ou nenhum tem a sabedoria humana; 
evidentemente se terá servido deste nome de Sócrates para me dar como 
exemplo, como se dissesse: ―O mais sábio dentre vós, homens, é quem, 
como Sócrates, compreendeu que sua sabedoria é desprovida 
verdadeiramente desprovida do mínimo valor‖. (PLATÃO, 2004, p. 47). 
 
De tal modo que o não-saber socrático já constitui uma sabedoria. Ao reconhecer 
sua própria ignorância, Sócrates buscou levar aos demais atenienses tal 
conhecimento; utilizando, para isso, sua dialética, a qual analisamos agora. 
 
O MÉTODO SOCRÁTICO 
 
Sócrates, na exposição polêmica e didática de suas idéias, 
adotava sempre o diálogo que assumia uma dupla forma, 
conforme se tratava de um adversário a refutar ou de um 
―discípulo‖ a instruir. No primeiro caso, assumia humildemente a 
atitude de quem aprende e ia multiplicando as perguntas até 
encontrar o adversário presunçoso em evidente contradição, 
constrangendo-o à confissão humilhante de sua ignorância. É a 
ironia socrática. No segundo caso, tratando-se de um ―discípulo‘, 
multiplicava ainda mais as perguntas, dirigindo-as agora a fim de 
obter, por indução dos casos particulares e concretos, um 
conceito, uma definição geral do objeto em questão. A este processo pedagógico, em 
memória da profissão materna, denominava-se maiêutica, ou engenhosa obstetrícia 
do espírito, que facilitava a parturição das idéias. 
Partindo da consciência da sua própria ignorância (―só sei que nada sei‖), utilizava 
como método não a exposição, mas a dialética (aqui com o sentido de arte do diálogo 
e da discussão), que passava por três momentos distintos: 
 
- IRONIA: em grego significa interrogação. Consistia em uma cadeia de perguntas 
realizadas por Sócrates que iam, pouco a pouco, conduzindo o interlocutor á 
consciência da própria ignorância. 
 
- APORIA: do grego a = não e poria vem de poros que significa saída. O termo, então, 
significa sem saída, e relaciona-se ao final de todo o diálogo platônico de primeira 
fase, também dito diálogo socrático. Acredita-se que em sua primeira fase de escritos 
Platão tenha tão somente reproduzido a prática de Sócrates nas ruas e praças de 
Atenas. É assim que podemos diferenciar o que seja socrático do que seja já teoria 
platônica. Todos os diálogos socráticos são aporéticos, ou seja, não apresentam 
nenhuma resposta ao seu final, o que não poderia ser diferente, visto que Sócrates só 
tinha consciência da própria ignorância. 
 
- MAIÊUTICA: Traduzido ao pé da letra o termo significa arte de parturejar, ou seja, de 
trazer à luz novos seres humanos. Essa é a profissão da parteira, ainda muito comum 
em certas regiões do Brasil. Era esse o ofício desempenhado pela mãe de Sócrates. 
No diálogo Teeteto nosso filósofo afirma que sua atividade se parece muito com 
aquela realizada pela sua mãe, visto que nessa nova etapa, posterior à destruição do 
falso saber do interlocutor, Sócrates buscaria auxiliar aquele com quem dialogava a 
conceber ideias verdadeiras, seguras, que estariam, evidentemente, dentro do próprio 
indivíduo que travava diálogo com o filósofo. E é óbvio que só poderia ser assim, visto 
que o único conhecimento afirmado por ele é o da sua própria ignorância. 
 
NOTA: Todos que se dispunham a dialogar com Sócrates o faziam por vontade 
própria, não havia nenhum tipo de insistência ou coação. 
 
φφφ EXERCÍCIOS PROPOSTOS 
 
QUESTÃO 01: (UFU – Dez/2004) 
O trecho abaixo faz uma referência ao procedimento investigativo adotado por 
Sócrates. 
 
―O fato é que nunca ensinei pessoa alguma. Se alguém deseja ouvir-me 
quando falo ou me encontro no desempenho de minha missão, quer se 
trate de moço ou velho (...) me disponho a responder a todos por igual, 
assim os ricos como os pobres, ou se o preferirem, a formular-lhes 
perguntas, ouvindo eles o que lhes falo.‖ 
PLATÃO. Apologia de Sócrates. Belém: EDUFPA, 2001. (33 a-b). 
 
Marque a alternativa que melhor representa o ―método‖ socrático. 
 
A) Sócrates nada ensina porque apenas transmite aquilo que ouve de seu daímon. 
Seu procedimento consiste em discursar, igualmente para qualquer ouvinte, com 
longos discursos demonstrativos retirados da tradição poética ou com perguntas que 
levem o interlocutor a fazer o mesmo. A ironia é o expediente utilizado contra os 
adversários, cujo objetivo é somente a disputa verbal. 
B) A profissão de ignorância e a ironia de Sócrates fazem parte de seu procedimento 
geral de refutação por meio de perguntas e respostas breves (o élenkhos), e 
constituem um meio de reverter os argumentos do interlocutor para fazê-lo cair em 
contradição. A refutação socrática revela a presunção de saber do adversário, pela 
insuficiência de suas definições e pela aporia. 
C) Sócrates nunca ensina pessoa alguma, porque a profissão de ignorância 
caracteriza o modo pelo qual encoraja seus discípulos a adquirirem sabedoria 
diretamente do deus do Oráculo de Delfos. A ironia socrática é uma dissimulação 
que, pela zombaria, revela as verdadeiras disposições do pequeno número dos que 
se encontram aptos para a Filosofia. 
D) Sócrates nunca ensina pessoa alguma sem antes testar sua aptidão filosófica por 
meio de perguntas e respostas. Seu procedimento consiste em destruir as definições 
do adversário por meio da ironia. A ignorância socrática encoraja o adversário a 
revelar suas opiniões verdadeiras que, pela refutação, dão a medida da aptidão para 
a vida filosófica. 
 
QUESTÃO 02: (UFU – Jul/2005) 
Leia atentamente o excerto do diálogo platônico Eutífron. 
 
―Recorda, porém, que não te pedi para demonstrar-me uma ou duas 
dessas coisas, dessas que são piedosas, mas que me explicasse a 
natureza de todas as coisas piedosas. Porque disseste, salvo engano, 
que existe algo característico que faz com que todas as coisas ímpias 
sejam ímpias, e todas as coisas piedosas, piedosas...‖ 
PLATÃO. Eutífron. In: Platão. São Paulo: Abril 
Cultural, 1999. Col. Os Pensadores, p. 41. 
 
A partir do texto acima, escolha a alternativa correta quanto ao procedimento 
filosófico empregado por Sócrates. 
 
A) A investigação socrática caracteriza-se pela pesquisa das Formas inteligíveis que 
seriam as causas de todas as manifestações particulares de uma noção. Os seres 
sensíveis existem porque ―imitam‖ um modelo imutável e eterno que determina a 
―natureza de todas as coisas‖. A aporia decorre da impossibilidade de se encontrar, 
nos seres sensíveis, um exemplo que corresponda perfeitamente à Idéia inteligível. 
B) A investigação socrática usa a pergunta: ―o que é...?‖, que tipifica a investigação 
das características gerais e das formas distintivas invariáveis de uma noção. A 
pesquisa de uma definição adequada exerce um papel regulador para as respostas 
aceitáveis e inaceitáveis. A refutação consiste em descartar, mediante contradições, 
definições insuficientes, e a aporia manifesta a impossibilidade de uma definição 
concludente. 
C) A investigação socrática configura o exame filosófico sobre a ―piedade‖ e a 
―natureza característica‖ da alma. Ao contrário dos Filósofos da Natureza, Sócrates 
preocupa-se com o ―exame da alma‖ e estabelece um modelo tri-partite da psykhé: 
uma parte apetitiva, uma irascível e outra racional. A refutação socrática consiste em 
induzir os adversários da Filosofia à contradição e levá-los ao estado de aporia. 
D) A investigação socrática é delimitada pelo exame de noções éticas como, por 
exemplo, a piedade, ou a coragem. Esse gênero de pesquisa resulta na distinção de 
uma ―realidade sensível‖, formada por todos os particulares, e uma ―realidade 
inteligível‖, representada pelas Formas. A refutação socrática consiste na negação do 
devir como única e verdadeira realidade, o que resulta num estado de aporia. 
 
QUESTÃO 03: (UFU – Jul/2006) 
Leia atentamente o trecho do diálogo platônico Apologia de Sócrates: 
 
Como se dá, caro amigo, ...não te envergonhes de só te preocupares comdinheiro e de como ganhar o mais possível, e quanto à honra e à fama, à 
prudência e à verdade, e à maneira de aperfeiçoar a alma, disso não 
cuidas nem cogitas? 
PLATÃO, Apologia de Sócrates. Trad. de Carlos Alberto 
Nunes. Belém: EDUFPA, 2001. p. 130, 29d-e. 
 
A partir do texto acima, escolha a alternativa que melhor exprime a ética socrática. 
 
A) Sócrates define a virtude a partir de um conjunto de ações que são ensinadas aos 
discípulos por meio de exemplos. Somente a ciência constitui o saber, pois não se 
pode conhecer a essência da virtude. O aperfeiçoamento da alma só acontece 
através do saber técnico, que permite ao homem voltar-se para a prática do bem. 
B) O exame da alma constitui, para Sócrates, simultaneamente uma investigação 
acerca da verdade e a escolha de um modo de vida virtuoso. Na investigação sobre a 
essência das virtudes são empregadas a refutação e a ironia, que expurgam as falsas 
opiniões acerca do bem e conduzem a razão para os verdadeiros valores. 
C) O objetivo da investigação filosófica é o exame da natureza e da cosmologia, pelo 
qual são delimitados os critérios racionais que permitem o abandono dos falsos 
valores e que conduzem ao aperfeiçoamento da alma pela ciência. A investigação 
socrática não se ocupa das questões éticas e políticas. 
D) O aperfeiçoamento da alma só ocorre pelo abandono das preocupações éticas e 
pela investigação racional do discurso lógico. O exame filosófico é propiciado pela 
refutação e pela ironia, que permitem a defesa de argumentos contrários e 
configuram as regras do discurso político persuasivo. 
 
QUESTÃO 04: (UFU – Fev/2007) 
O trecho seguinte, do diálogo platônico Górgias, refere-se ao modo de filosofar de 
Sócrates. 
 
―Assim, Cálicles, desmanchas o nosso convênio e te qualificas para 
investigar comigo a verdade, se extremares algo contra tua maneira de 
pensar.‖ 
PLATÃO. Górgias. Trad. de Carlos Alberto Nunes. 
Belém: EDUFPA, 2002, p. 198, 495a. 
 
Marque a alternativa que expressa corretamente o procedimento filosófico empregado 
por Sócrates. 
 
A) A base da filosofia socrática é a educação mediante os discursos políticos e 
jurídicos encenados nos tribunais atenienses. Sócrates parte das proposições dos 
adversários para encontrar um discurso oposto que seja retoricamente persuasivo. 
B) A base da filosofia socrática é a procura da verdade acerca do conhecimento da 
Natureza e da maneira de pensar sobre os princípios racionais que governam o 
cosmos a partir do conhecimento acumulado pelos filósofos anteriores. 
C) A base da filosofia socrática é a refutação, a partir de um convênio em busca da 
verdade, de todas as proposições de seus interlocutores com o intuito de demonstrar 
que o conhecimento das questões morais é impossível. 
D) A base da filosofia socrática é a procura da perfeição da alma, mediante o exame 
de si mesmo e dos concidadãos, que é a condição da excelência moral. A refutação 
socrática é, sobretudo, um modo de testar a verdade da excelência da vida. 
 
QUESTÃO 05: (UEL – Dez/2006) 
Considere a citação abaixo: 
 
“Sócrates: Tomemos como princípio que todos os poetas, a começar por 
Homero, são simples imitadores das aparências da virtude e dos outros 
assuntos de que tratam, mas que não atingem a verdade. São 
semelhantes nisso ao pintor de que falávamos há instantes, que 
desenhará uma aparência de sapateiro, sem nada entender de sapataria, 
para pessoas que, não percebendo mais do que ele, julgam as coisas 
segundo a aparência?‖ 
Glauco – ―Sim‖. 
Fonte: PLATÃO. A República. Tradução de Enrico Corvisieri. 
São Paulo: Nova Cultural, 1997. p.328. 
 
Com base no texto acima e nos conhecimentos sobre a mímesis em Platão, assinale a 
alternativa correta. 
 
A) Platão critica a pintura e a poesia porque ambas são apenas imitações diretas da 
realidade. 
B) Para Platão, os poetas e pintores têm um conhecimento válido dos objetos que 
representam. 
C) Tanto os poetas quanto os pintores estão, segundo a teoria de Platão, afastados 
dois graus da verdade. 
D) Platão critica os poetas e pintores porque estes, à medida que conhecem apenas 
as aparências, não têm nenhum conhecimento válido do que imitam ou representam. 
E) A poesia e a pintura são criticadas por Platão porque são cópias imperfeitas do 
mundo das idéias. 
 
φφφ EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES 
 
 
QUESTÃO 01: (UFU – Jul/1998) 
Sócrates é tradicionalmente considerado como um marco divisório da filosofia grega. 
Os filósofos que o antecederam são chamados pré-socráticos. Seu método, que parte 
do pressuposto "só sei que nada sei", é a maiêutica que tem como objetivo: 
 
I- "dar luz a idéias novas, buscando o conceito". 
II- partir da ironia, reconhecendo a ignorância até chegar ao conhecimento. 
III- encontrar as contradições das idéias para chegar ao conhecimento. 
IV- "trazer as idéias do céu à terra". 
 
Assinale 
 
A) se apenas I, II e III estiverem corretas. 
B) se apenas I e III estiverem corretas. 
C) se apenas II, III e IV estiverem corretas. 
D) se apenas III e IV estiverem corretas. 
E) se apenas I e IV estiverem corretas. 
 
QUESTÃO 02: (UFU – Jul/1999) 
O método argumentativo de Sócrates (469-399 a.C.) consistia em dois momentos 
distintos: a ironia e a maiêutica. Sobre a ironia socrática, pode-se afirmar que 
 
I- tornava o interlocutor um mestre na argumentação sofística. 
II- levava o interlocutor à consciência de que seu saber era baseado em reflexões, 
cujo conteúdo era repleto de conceitos vagos e imprecisos. 
III- tinha um caráter purificador, à medida que levava o interlocutor a confessar suas 
próprias contradições e ignorâncias. 
IV- tinha um sentido depreciativo e sarcástico da posição do interlocutor. 
 
Assinale 
 
A) se apenas a afirmação III é correta. 
B) se as afirmações I e IV são corretas. 
C) se apenas a afirmação IV é correta. 
D) se as afirmações II e III são corretas. 
 
QUESTÃO 03: (UFU – Mar/2002) 
 
 ―(…) enquanto tiver ânimo e puder fazê-lo, jamais deixarei de filosofar, de 
vos advertir, de ensinar em toda ocasião àquele de vós que eu encontrar, 
dizendo-lhe o que costumo: ‗Meu caro, tu, um ateniense, da cidade mais 
importante e mais reputada por sua sabedoria, não te envergonhas de 
cuidares de adquirir o máximo de riquezas, fama e honrarias, e de não te 
importares nem pensares na razão, na verdade e em melhorar tua alma?‘ 
E se algum de vós responder que se importa, não irei embora, mas hei de 
o interrogar, examinar e refutar e, se me parecer que afirma ter adquirido a 
virtude sem a ter, hei de repreendê-lo por estimar menos o que vale mais e 
mais o que vale menos (…).‖ 
 PLATÃO. Apologia de Sócrates, 29 d-e. 
 
A partir do trecho acima de Platão, é correto afirmar que para Sócrates 
 
I- a Filosofia é um saber que se transmite como lições morais, visto ele conheça a 
verdade. 
II- o filosofar é uma atividade que busca a verdade e a melhora da alma pela refutação 
de falsos saberes. 
III- o questionamento ao interlocutor só ocorre se este espontaneamente se dispuser a 
responder às questões formuladas por Sócrates. 
IV- a posse de bens materiais é para ele um valor inquestionável. 
 
Assinale a alternativa que contém as afirmativas corretas. 
 
A) Apenas II e III. 
B) Apenas I e II. 
C) Apenas I e IV. 
D) Apenas III e IV. 
 
QUESTÃO 04: 
O método argumentativo de Sócrates (469-399 a.C.) consistia em dois momentos 
distintos: a ironia [refutação] e a maiêutica. Sobre a ironia socrática assinale (V) para 
verdadeiro e (F) para falso. 
 
1 ( ) tornava o interlocutor um mestre na argumentação sofística. 
2 ( ) levava o interlocutor á consciência de que seu saber era baseado em 
reflexões, cujo conteúdo era repleto de conceitos vagos e imprecisos. 
3 ( ) tinha um caráter purificador, à medida que levava o interlocutor a confessar 
suas próprias contradições e ignorância. 
4 ( ) tinha um sentido depreciativo e sarcástico da posição

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