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34_SMITH_Riqueza_cap1

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Pesquisa realizada pela 
Biblioteca do Senado Federal 
 
mailto:biblioteca@senado.gov.br�
INQUÉRITO SOBRE A NATUREZA 
E AS CAUSAS DA 
RIQUEZA DAS NAÇÕES 
Adam Smith 
VOLUME I 
Prefácio de 
HERMES DOS SANTOS 
Tradução e notas 
de 
TEODORA CARDOSO 
e 
Lufs CRISTÓVÃO DE AGUIAR 
4. a Edição 
\/i 
SERVIÇO DE EDUCAÇÃO 
FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN 
Capitulo I 
DA DIVISÃO DO TRABALHO 1 
O maior acréscimo 2 dos poderes produtivos do 
trabalho e grande parte da peticia, destreza e bom senso 
com que ele é em qualquer parte dirigido, ou aplicado, 
parecem ter sido os efeitos da divisão do trabalho. 
[Esta expressão não era corrente, se é que alguma vez 
tinha sido usada antes. A sua presença aqui é provavelmente 
devida a um trecho da Fdbula das Abelhas, de Mandeville, parte II 
(1729), diálogo VI, p. 335: «CLEO .... Uma vez que os homens 
passam a ser governados por leis escritas, todo o n.sto evolui 
rapidamente... Uma vez que desfrutem de paz e não se vejam 
na necessidade de temer o próximo, os homens não tardarão a 
aprender a dividir e subdividir o seu trabalho. ROR. Não te 
compreendo. CLEO. O homem, como já antes dei a entender, 
gosta naturalmente de imitar o que vê os outros fazer: é por isso 
que entre os selvagens todos fazem a mesma coisa, o que os impede 
de melhorar a sua condição, embora o desejem constantemente. 
Mas se um deles se aplicar inteiramente à manufactura de arcos 
e flechas, enquanto um outro se ocupa da alimentação, um terceiro 
constrói palhoças, um quarto trata do vestuário e um quinto das 
ferramentas, eles não só se tornarão úteis uns aos outros, como os 
seus oficios e ocupações, no mesmo número de anos, serão bene-
ficiados, por aperfeiçoamentos muito superiores do que se cada 
um deles tivesse sido seguido indiscriminadamente pelos outros 
cinco. ROR. Creio que nisso tens toda a razão. E a verdade 
do que dizes salta especialmente à vista no fabrico de relógios 
que atingiu já um grau de perfeição superior ao que lhe teria sido 
[77 ] 
A dMsão do 
trabalho é a 
grande causa do 
aumento da sua 
capacidade 
produtiva, 
como melhor se 
pode 
compreender 
apor/ir 
dum exemplo 
específico, 
Poderão compreender-se melhor os efeitos da divisão 
do trabalho sobre a actividade geral da sociedade, consi-
derando a forma como ela actua em algumas indústrias 
especificas. Admite-se, em geral, ser ela levada mais 
longe em algumas artes insignificantes; não talvez porque 
o seja mais do que noutros de maior importância mas, 
nessas artes insignificantes que se destinam a suprir as 
pequenas necessidades de um reduzido núm~ro de pess~as, 
o número total de trabalhadores é necessanamente balXo; 
e é muitas vezes possível juntar na mesma oficina todos 
os que se ocupam das diferentes fases do trabalho, de 
modo que se apresentam simultaneamente à vista do 
espectador. Pelo contrário, nas grandes indústrias que se 
destinam a suprir as grandes necessidades de um elevado 
número de pessoas, cada fase do trabalho emprega um 
tão grande número de operários que é impossível reu-
ni-los todos na mesma oficina. Raramente podemos ver, 
de uma só vez, mais do que os que se ocupam de uma 
única tarefa. Portanto, embora nessas indústrias 3 o tra-
balho possa, na realidade, estar dividido num muito 
maior número de tarefas do que o verificado nas mais 
insignificantes, a divisão não se torna tão óbvia e tem, 
por isso mesmo, sido muito menos observada. 
possível alcançar se toda a actividade tivesse continuado entregue 
a uma só pessoa; e estou convencido de que a profusão de relógios 
de todos os tipos de que dispomos, bem como a sua precisão e 
beleza, se devem principalmente à divisão dessa arte em grande 
número de tarefas». No índice remissivo aparece: «Trabalho, 
Da vantagem de o dividir e subdividir». Joseph Harris, Essay 
upon Money and Coins, 1757, parte I, § 12, trata da (~utilidade dos 
ofícios distintos», ou das «vantagens para a humantdade de uns 
se ocuparem de uns trabalhos, outros de outros», mas não usa 
a expressão «divisão do trabalho»]. 
• [Na primeira edição lê-se «acréscimos»]. 
[Na primeira edição lê-se: «Embora nelas»]. 
[78 ] 
Tomemos, portanto 4, um exemplo de uma manu-
factura insignificante, mas na qual a divisão do trabalho 
tem sido frequentemente notada, o fabrico de alfinetes; 
um operário não treinado nesta actividade (que a divisão 
do trabalho tornou num ofício distinto) 5, e que não 
soubesse trabalhar com as máquinas nela utilizadas 
(para cuja invenção a divisão do trabalho provavelmente 
contribuiu), mal poderia talvez, ainda que com a maior 
diligência, produzir um alfinete num dia e não seria, 
com certeza, capaz de produzir vinte. Mas, da forma como 
esta actividade é actualmente levada a cabo, não só 
o conjunto do trabalho constitui uma arte especifica 
como a maior parte das fases em que está dividido cons-
tituem de igual modo ofícios especializados. Um homem 
puxa o arame, outro endireita-o, um terceiro corta-o, 
um quarto aguça-o, um quinto afia-lhe o topo para rece-
ber a cabeça; o fabrico da cabeça requer duas ou três 
operações distintas; a sua colocação é um trabalho espe-
cializado como o é também o polimento do alfinete; 
até mesmo a disposição dos alfinetes no papel é uma arte 
independente; e a importante actividade de produ~ir 
um alfinete é, deste modo, dividida em cerca de dezoito 
operações distintas, ~s quais, nalgumas fábricas, são 
todas executadas por operários diferentes, embora noutras 
um mesmo homem realize, por vezes, duas ou três dentre 
elas 6. Eu próprio vi uma pequena fábrica deste tipo, 
l [Uma outra razão, e talvez mais importante, para utilizar 
o exemplo que segue consiste na possibilidade de demonstrar a 
vantagem da divisão do trabalho sob forma estatística]. 
5 [Este parênteses só por si bastaria para mostrar que estão 
errados os que julgam que Smith não incluiu a distinção entre 
empregos na «divisão do trabalho»]. 
o [Nas Lições de Adam Smith, p. 164, a actividade é, tal 
como aqui, dividida em dezoito operações. Não há dúvida de 
que este número foi tirado da Encyclopédie, tomo V (publicado em 
[79 ] 
como o fabrico 
de alfinetes. 
o efeito 
é semelhante em 
todos os ofícios 
e também na 
divisão dás 
profissões. 
que empregava apenas dez homens e onde, por conse-
quência, vários deles executavam duas ou três operações 
distintas. Mas, embora fossem muito pobres e não se 
encontrassem, por isso, muito bem apetrechados com a 
maquinaria necessária, eram capazes de produzir entre 
eles, quando nisso se empenhavam, cerca de doze libras 
de alfinetes num dia. Numa li-~ra hj. mais de quatro mil 
alfinetes de tamanho médio. (~~A.sslm, }.queles dez homens 
produziam em conjunto l:liáisde quarenta e oito mil 
alfinetes num dia. (Ássilli, cada homem, contribuindo 
com uma décima pàrteao total, produziria quatro mil 
e oitocentos alfinetes num dia. Mas, trabalhassem eles 
em separado e independentemente uns dos outros;' e sem 
que nenhum tivesse sido treinado nesta actividade peculiar, 
nenhum deles teria sido capaz de produzir vinte alfineteSC--
por dia, talvez até nem um; quer dizer, nem um duzentos 
e quarenta avos, talvez nem a quatrimilésima octocentésima 
parte daquilo que actualmente são capazes de produzir, 
graças à divisão e combinação adequadas das diferentes 
tarefas. 
Em todas as artes e indústrias, os efeitos da divisão 
do trabalho são semelhantes aos que se verificam nesta 
actividade tão insignificante, embora, em muitas delas, as 
tarefas não possam ser tão subdivididas, nem reduzidas 
a tão grande simplicidade. Contudo, a divisão do trabalho 
ocasiona em todas as artes, na medida em que é possível 
introduzi-la, um acréscimo proporcionaldos poderes 
produtivos do trabalho. A distinção entre os diversos 
ofícios e profissões parece ter-se realizado em consequência 
desta vantagem. Também se verifica que esta distinção é, 
1755), s. v. Epingle. O artigo é atribuído a M. Delaire, «qui décrivait ' 
la fabrication de l'épingle dans les ateliers même des ouvriers», 
p. 807. Em algumas fábricas a divisão era ainda levada mais longe. 
E. Chambers, Cyclopaedia, voI. lI, 2.a edição, 1738, e 4.a edição, 
1741, s. v. Pin, refere vinte e cinco operações distintas]. 
[80 ] 
em geral, levada mais longe nos países que gozam de um 
mais elevado grau de actividade e progresso; o que cons-
titui trabalho de um homem num estado primitivo da 
sociedade, equivale normalmente ao de vários numa 
sociedade mais avançada. Em todas as sociedades avan-
~~~as, o agricultor é geralmente aperias-ag:t:lcult()~~ / 
o artesã!] apenas artesão. Além disso, o trabalho neces-
sário à produção de qualquer obra completa divide-se, 
quase sempre, entre grande número de operários. Quan-
tos oficios distintos se ocupam em cada um dos ramos das 
indústrias do linho e da lã, desde os cultivadores do linho 
e da lã, até aos branqueadores e fiadeiros do linho, e aos 
tintureiros e aos que fazem os acabamentos dos tecidos I 
É verdade que, por natureza, a agricultura não admite 
tantas subdivisões do trabalho como a indústria, nem 
uma tão completa separação entre as diferentes tarefas. 
É impossível separar tão· inteiramente a actividade do 
criador de gado da do cultivador de cereais, quanto se 
distinguem normalmente os trabalhos do carpinteiro e 
do ferreiro. O trabalho de fiação é quase sempre executado 
por uma pessoa diferente da que se encarregada tece-
lagem; mas o amanho da terra, a sementeira v e a ceifa sã~ 
em geral, levados a cabo pelo mesmo homem. Uma vez 
que as épocas em que estes trabalhos devem ,ser realizados 
se situam em diferentes estações do ano, seÍTia impossível 
manter um homem constantemente empregado, ocupan-
do-se de um só. É provavelmente devido a esta impossi-
bilidade de estabelecer uma tão completa e absoluta 
separação entre as diferentes tarefas que integram a 
agricultura, que o aumento da capacidade produtiva 
do trabalho nesta actividade nem sempre acompanha os 
acréscimos registados nas indústrias. É certo que as 
nações mais opulentas habitualmente superam todos os 
seus vizinhos na agricultura, tal como na indústria; 
mas distinguem-se, em geral, mais pela sua superioridade 
[ 81 ] 
nesta que naquela. As suas terras estão geralmente mais 
bem cultivadas e, porque mais trabalho e dinheiro lhes 
são dedicadas, produzem mais em relação à extensão e 
fertilidade do solo. Mas esta 7 superioridade da produção 
é raramente muito mais do que proporcional ao excedente 
de trabalho e de dinheiro com elas despendido. Na agri-
cultura, o trabalho de um país rico nem sempre é muito 
mais produtivo que o dum pobre; ou, pelo menos, a dife-
rença não é tão grande como é normalmente nas indús-
trias. Consequentemente, os cereais dos países ricos 
não chegarão obrigatoriamente mais baratos ao mercado 
que os dos países pobres, se a qualidade for idêntica. 
Os cereais da Polónia, para o mesmo grau de qualidade, 
são tão baratos como os franceses, apesar da maior riqueza 
e progresso da França. Os cereais em França, nas regiões 
cereaHferas, atingem exactamente a mesma qualidade e, 
na maior parte dos anos, praticamente o mesmo preço 
que os cereais ingleses, embora, em opulência e progresso, 
a França seja talvez inferior à Inglaterra. As terras cerea-
líferas da Inglaterra estão, todavia, mais bem cultivadas 
que as da França, e diz-se que os terrenos cerealíferos 8 
da França estão muito mais bem cultivados que os da 
Polónia. Mas, embora o país pobre possa, apesar da 
inferioridade do seu cultivo, rivalizar, em certa medida, 
com os ricos no preço e qualidade dos seus cereais, 
ele não poderá aspirar a uma tal concorrência no que 
respeita às indústrias; pelo menos se essas indústrias forem 
adequadas ao solo, clima e situação do pais rico. As 
sedas de França são melhores e mais baratas que as ingle-
sas porque a produção de seda, pelo menos enquanto se 
mantiverem os elevados direitos que actualmente incidem 
[Na primeira edição lê-se «a»]. 
[Na primeira edição lê-se «as terras» aqui e na linha ante-
rior]. 
[82 ] 
sobre a importação da seda em bruto, não é tão apropriada 
ao clima da Inglaterra como ao da França 9. Mas as 
ferragens e as lãs grosseiras inglesas são incompara-
velmente superiores às francesas, e também muito mais 
baratas, quando de idêntica qualidade l0. Na Polócia 
parece não haver praticamente quaisquer indústrias, seja 
de que espécie for, à excepção de algumas das mais 
rudimentares indústrias domésticas sem as quais nenhum 
país pode subsistir. 
O grande aumento da quantidade de trabalho que, 
em consequência da divisão do trabalho, o mesmo número 
de pessoas é capaz de executarll, deve-se a três circuns-
tâncias: primeira, o aumento de destreza de cada um dos 
trabalhadores; segunda, a possibilidade de poupar o 
tempo que habitualmente se perdia ao passar de uma 
tarefa a outra; e, finalmente, a invenção de um grande 
número de máquinas que facilitam e reduzem o trabalho, 
e tornam um só homem capaz de realizar o trabalho 
de muitos 12. 
[Lê-se na primeira edição: «porque a produção de seda 
não se adapta ao clima inglês»]. 
10 [Nas Lições, p. 164, a comparação é entre «brinquedos», 
isto é, pequenos artigos de metal, ingleses e franceses]. 
11 [Na primeira edição «em consequência da divisão do. 
trabalho» aparece aqui e não na linha acima]. 
12 [«Pour la célérité du travail et la perfection de l'ouvrage, 
elles dépendent entil:rement de la multitude des ouvriers rassem-
blés. Lorsqu'une manufacture est nombreuse, chaque opération 
occupe un homme different. Tel ouvrier ne fait et ne fera de sa 
vie qu'une seule et unique chose; tel autre une autre chose: d'ou 
il arrive que chacune s'exécute bien et promptement, et que l'ouvrage 
le mieux fait est encore celui qu'on a à meilleur marché. D'ailleurs 
le gout et la façon se perfectionnent nécessairement entre un grand 
nombre d'ouvriers, parce qu'i! est difficile qu'i! ne s'en rencontre 
quelques-uns capables de réfléchir, de combiner, et de trouver 
enfia le seul moyen qui puisse les mettre au-dessus de leurs sembla-
bles; le moyen ou d'épargner la matil:re, ou d'allonger le temps, 
[83 ] 
A vantagem é 
devida a três 
circunstâncias 
(1) maior 
destreza 
Em primeiro lugar, o acréscimo de destreza do tra-
balhador faz necessariamente aumentar a quantidade de 
trabalho que ele pode realizar, e a divisão do trabalho, 
ao reduzir a actividade de cada homem a uma simples 
tarefa, e ao tornar essa tarefa na única _ocupação de toda 
a sua vida, faz necessariamente aumentar muito a des-
treza de cada trabalhador. Se um vulgar ferreiro que, 
embora acostumado a manejar o martelo, nunca tenha 
feito pregos, for, numa dada ocasião obrigado a tentar 
fazê-los, mal conseguirá, estou certo disso, produzir 
mais de duzentos ou trezentos pregos por dia e, com cer-
teza, de muito má qualidade 13. Um ferreiro que tenha 
sido habituado a fazer pregos, mas cuja actividade única 
ou principal não tenha sido o fabrico de pregos, dificil-
mente conseguirá, ainda que use da máxima diligência, 
fabricar mais de oitocentos a mil pregos num dia. Tive 
ocasião de ver alguns rapazes de menos de vinte anos de 
idade, que nunca tinham exercido qualquer outra pro-
fissão para além do fabrico de pregos, e que, quando se 
esforçavam, conseguiam fazer, cada um deles, mais de 
dois mil e trezentos pregos num dia 14. O fabrico de 
um prego não é, todavia, de maneira nenhuma, uma das_' 
tarefas mais simples. A mesma pessoa utiliza o folé, 
atiça ou corrige o fogo, conforme o necessário, aquece 
o ferro e forja as diferentes partes do prego: para forjar 
ou de surfaire l'industrie, soit par une machine nouvelle, soit 
par une manoeuvre plus commode». - Encyclopédie, tomo I (1751), 
p. 717,s. v. Art. As três vantagens mencionadas no texto acima 
estão incluídas aqui]. 
13 [Nas Lições, p. 166, «um ferreiro de aldeia que não esteja 
habituado a fazer pregos terá de trabalhar duramente para produzir' 
trezentos ou quatrocentos por dia e, com certeza, de muito má 
qualidade»] . 
U [Nas Lições, p. 166, «um rapaz habituado a isso fará 
facilmente dois mil, e incomparavelmente melhores»]. 
[84 ] 
a cabeça é ainda obrigado a mudar de ferramentas. As 
diferentes tarefas em que se subdivide o fabrico de um 
alfinete ou de um botão metálico 15 são muito mais 
simples, e a destreza das pessoas que tenham tido por 
actividade única, durante toda a sua vida, a execução 
de tais tarefas é, normalmente, muito maior. A rapidez 
com que algumas das operações dessas manufacturas 
são executadas excede o que alguém que nunca as tivesse 
visto levar a cabo poderia imaginar a mão humana capaz 
de realizar. 
Em segundo lugar, a vantagem que decorre de se 
poupar o tempo habitualmente perdido ao passar de uma 
tarefa a outra, é muito maior do que, à primeira vista, 
se poderia imaginar. É imposs1vel passar muito rapi-
damente de uma espécie de trabalho a outra; esta é levada 
a cabo num local diferente e com ferramentas muito 
diferentes. Um tecelão rural 16, que também cultiva 
uma pequena quinta, tem de perder muito tempo ao 
passar do tear para o campo, ou do campo para o tear. 
Quando as duas actividades podem ser realizadas na 
mesma oficina, a perda de tempo é, sem dúvida, muito 
menor. Contudo, mesmo neste caso é muito conside-
rável. Qualquer homem normalmente aproveita a 
mudança de ocupação para um pouco de descanso. 
Ao iniciar o novo trabalho raramente se mostra muito 
desembaraçado e enérgico; a ideia, como eles dizem, 
não está posta no trabalho, e ele passa algum tempo 
mais propriamente a entreter-se que a fazer algo de útil. 
O hábito de folgar indevidamente e de não se aplicar ao 
trabalho com o necessário cuidado e diligência, que é 
naturalmente, ou antes obrigatoriamente, adquirido por 
15 [Nas Lições, p. 255, dá-se a entender que o trabalho de 
produzir um botão estava dividido entre oitenta pessoas]. 
16 10 mesmo exemplo aparece nas LiçõeS, p. 166]. 
[85 ] 
(2) economia 
de tempo 
e (3) 
a utilização de 
maquinaria 
inventada por 
operários, 
todos os trabalhadores do campo que têm de mudar de 
actividade e de ferramentas de meia em meia hora e que 
em cada dia da sua vida têm de desempenhar vinte tare-
fas diferentes, torna-os quase sempre desleixados e 
preguiçosos, incapazes de se aplicar com energia, por 
mais premente que a ocasião se mostre. Assim, indepen-
dentemente das suas deficiências no que respeita a destreza, 
esta causa por si só reduzirá consideravelmente a quanti-
dade de trabalho que lhes é possível realizar. 
Em terceiro, e último lugar, todas as pessoas devem 
compreender quanto o trabalho é facilitado e reduzido 
graças à utilização de máquinas apropriadas. É desne-
cessário dar exemplos 17. Limitar-me-ei, pois, a observar 
que a invenção de todas essas máquinas que tanto facilitam 
e reduzem o trabalho parece ter sido originariamente 
devida à divisão do trabalho. Os homens têm muito 
maior probabilidade de descobrir métodos mais fáceis 
e rápidos de atingir um certo objectivo quando toda a 
atenção do seu espírito está concentrada nesse único 
objectivo, do que quando ela se dispersa por uma grande 
variedade de coisas. Ora,' em consequência da divisão 
do trabalho, toda a atenção de cada homem se vem a 
concentrar directamente num objectivo muito simples. 
É pois naturalmente de esperar que um ou outro dos que 
se dedicam a cada tarefa específica depressa descubra 
métodos mais fáceis e rápidos de realizar o trabalho que 
lhe incumbe, sempre que a natureza deste permita uma 
1 Ih ~ ta me oria. Grande parte das máquinas usadas~; 
naquelas indústrias em que o trabalho está mais subdi-
17 [Nas Lições, p. 167, aparecem exemplos: «Dois homens 
e três cavalos produzirão mais num dia com a charrua que vinte 
homens sem ela. O moleiro e o seu ajudante produzirão mais 
com a azenha que uma dúzia de homens com o moinho manual 
embora este também seja uma máquina»)]. ' 
18 [Lê-se, na primeira edição: «máquinas empregadas»]. 
[86 ] 
vidido foram originariamente invenção de vulgares ope-
rários que, ocupando-se cada um deles de uma tarefa 
muito simples, naturalmente deram em congeminar 
formas mais fáceis e expeditas de as realizar. Quem quer 
que esteja acostumado a visitar fábricas desse tipo deve 
ter tido com frequência oportunidade de observar máqui-
nas excelentes, que foram produto da invenção de tais 19 
operários, com a finalidade de tornar mais simples e 
rápida a parte do trabalho que lhes incumbe. Nas pri-
meiras máquinas a vapor era necessário que um rapaz 
-~~éstivesse sempre a abrir e a fechar alternadamente a 
comunicação entre o cilindro e a caldeira, conforme o 
êmbolo subia ou descia. Um desses rapazes, que gostava 
mais de se divertir com os companheiros, observou que, 
atando um fio à válvula que abria essa comunicação e 
prendendo-o a outra parte da máquina, a válvula abria 
e fechava sem ser necessário ele mexer-lhe, deixando-o 
livre para se divertir com os camaradas. Assim, um dos 
grandes aperfeiçoamentos introduzidos nessa máquina, 
desde a sua invenção, foi resultado da descoberta de 
um rapaz que queria esquivar-se ao trabalho 20. 
19 [Na primeira edição lê-se: «de vulgares»]. 
20 [Esta bonita história é, pelo menos em grande parte, 
um mito. Parece ter tido origem na má interpretação (não necessa-
riamente de Smith) do seguinte trecho: «Costumavam anterior-
mente trabalhar com uma bóia no cilindro dentro de um tubo, 
a qual subia quando o vapor era forte, abria a injecção e produzia 
um movimento; desse modo não conseguiam mais que seis, oito 
ou dez movimentos por minuto até que um rapaz, Humphry Potter, 
que vigiava a máquina, lhe acrescentou uma ligação (a que chamou 
scoggan) que fazia a válvula Q abrir sempre; e assim conseguiam-se 
quinze ou dezasseis movimentos por minuto. Mas porque isto 
originava uma confusão de ligações e fios, o Sr. Henry Beighton, 
numa máquina que tinha construído em 1718, em Newcastle-
-on-Tyne, eliminou-os a todos, fazendo a alavanca por si só todo 
o trabalho muito melhor». - J. T. Desaguliers, Course oi Experi-
[87 ] 
ou por 
construtores de 
máquinas 
e filósofos. 
Todavia, nem todos os aperfeiçoamentos introduzidos 
nas máquinas foram produto da invenção daqueles que 
tinham ocasião de as utilizar. Muitos deles foram pro-
duto do engenho dos construtores de máquinas, desde 
que este trabalho se tornou numa actividade independente; 
e alguns foram criação daqueles a quem é costume deno-
minar de filósofos ou homens de pensamento, cujo oficio 
não consiste em fazer alguma coisa, mas em tudo obser-
var; e que, por isso mesmo, são muitas vezes capazes 
de combinar as aptidões de objectos muito distantes e 
dissemelhantes 21. Com o progresso da sociedade, a 
filosofia ou especulação torna-se, como qualquer outra 
actividade, na única ou principal tarefa e ocupação de 
uma determinada classe de cidadãos. Também como 
qualquer outra actividade, subdivide-se num grande 
número da ramos distintos, cada um dos quais propor-
ciona ocupação a uma certa tribo ou classe de filósofos' , 
e esta subdivisão do emprego na filosofia, como nas outras 
actividades, aumenta a destreza e economiza tempo. 
mental Philosophy, voI. lI, 1744, p. 533. Com base nas páginas 469, 
471 parece que anteriormente à descoberta da «bóia» se utilizava 
o trabalho manual]. 
21 [Nas Lições, p. 167, a invenção da charrua é, por conjectura 
atribuída a um agricultor e a do moinho manual a um escravo' 
enquanto a descoberta da azenha e da máquinha a vapor é atri~ 
buída a filósofos. Mandeville dá muito menos crédito aos filósofos: 
«É muito raro ser o mesmo tipo de pessoas que inventa as artes 
e as formas de as melhorar e que investiga as razões das coisas: 
esta última actividade é muito mais vulgarmente praticadapelos 
ociosos e indolentes, que gostam de uma vida retirada, detestam 
o labor e se deliciam com a especulação; ao passo que, na primeira, 
os que alcançam êxito com maior frequência são os homens activos, 
mexidos e laboriosos, os que metem mãos à charrua, tentam todas 
as experiências e dão toda a sua atenção àquilo que estão a fazer». 
- Fábula das Abelhas, parte II (1729), diálogo IlI, p. 151. E passa 
a dar como exemplos os progressos no fabrico do sabão, nos 
processos de tingir os tecidos, etc.]. 
[88 ] 
Cada indivíduo se torna mais perito no ramo que lhe 
compete, acresce-se o volume de trabalho realizado, e a 
ciência progride consideravelmente graças a isso 2y 
É a grande multiplicação das produções de todas as Dai A • 
A • d di . - d b Ih . . a opulencla artes, consequencia a Visao o tra a o, que origina, universal 
numa sociedade bem administrada, a opulência generali- numa sociedade 
d d 
' d .. r' d bem za a que se esten e as cama as maiS inl.e!1ores a popu- administrada, 
lação. Cada trabalhador dispõe de unfLquantidade de 
trabalho próprio muito superior àquela que pode utilizar; 
e, uma vez que todos os outros trabalhadores estão 
exactamente na mesma situação, é-lhe possível trocar 
uma grande quantidade dos seus próprios produtos por 
uma grande quantidade, ou, o que vem a dar no mesmo, 
pelo preço de uma grande quantidade dos deles. Forne-
ce-lhes em abundância aquilo de que necessitam e eles 
fornecem-lhe, com igual profusão, tudo o que ele pre-
tende, difundindo-se a abundância pelas diferentes cama-
das sociais. 
Observe-se o suprimento do mais vulgar artífice 
ou jornaleiro num país civilizado e próspero, e veri-
ficar-se-á que o número de pessoas cuja actividade, 
ainda que só numa pequena parte, foi necessário empre-
gar para lhe proporcionar esse suprimenw, excede todas 
as possibilidades de cálculo. Por exemplo, o casaco de 
lã que cobre um jornaleiro, por mais grosseiro e tosco que 
22 [É reconhecida adiante, p. 761, a vantagem de p~oduzir 
certos bens inteiramente ou p-rincipalmente nos países mais natu-
ralmente adaptados a essa produção, mas o facto de que a divisão 
do trabalho é necessária para a s~a consecução não é verificado. 
O facto de que a divisão do trabalho permite que diferentes traba-
lhadores se entreguem exclusivamente ao tipo de trabalho a que 
melhor se adaptam graças a qualidades não adquiridas pelo ensino 
ou pela prática, tais como a idade, o sexo, a altura e a força, é em 
parte ignorado e em parte negado adiante, pp. 96, 97. A desvan-
tagem da divisão do trabalho ou especialização é tratada no 
voI. lI, Livro V, capo I, parte IH, art. 2]. 
[89 ] 
4 
onde mesmo o 
casaco de um 
jornaleiro é o 
produto da 
actividade de 
um grande 
número de 
homens. 
possa parecer, é o produto do labor combinado de grande 
número de trabalhadores. O pastor, o classificador da 
lã, o cardador, o tintureiro, o fiandeiro, o tecelão, 
o pisoeiro, o curtidor, e muitos outros, têm de reunir 
as suas diferentes artes para que seja possivel obter-se 
mesmo este produto comezinho. E quantos mercadores 
e carreteiros hão-de, além disso, ter sido empregados no 
transporte dos materiais de uns desses trabalhadores 
para os outros, que, muitas vezes, vivem em regiões 
do paIs muito distantes I Quanto comércio e quanta 
navegação especialmente, quantos construtores navais, 
marinheiros, fabricantes de velas e de cordas terão sido 
precisos para reunir as diferentes drogas usadas pelo 
tintureiro, que muitas vezes provêm dos mais remotos 1\ 
cantos do mundo I E que variedade de trabalho é ainda 
necessário para produzir as ferramentas do mais infimo 
desses trabalhadores I Para já não falar de máquinas tão 
complicadas como o navio do marinheiro, a prensa 
do pisoeiro, ou mesmo o tear do tecelão, consideremos 
tão-somente a variedade de trabalho requerida para 
originar essa máquina tão simples, a. tesoura com que o 
pastor tosquia os carneiros. O mineiro, o fabricante da 
fornalha para fundir o minério, o lenhador, o carvoeiro 
que produziu o carvão que a fundição utiliza, o fabri-
cante de tijolos, o assentador de tijolos, os operários que 
trabalham com a fornalha, o operário da fundição, 
o ferreiro, todos têm de juntar as suas artes para as pro-
duzir. Se examinássemos da mesma forma as diferentes 
partes que compõem o seu vestuário e a mobilia da sua 
casa, a camisa de linho que usa junto à pele, os sapatos 
que lhe protegem os pés, a cama em que se deita, e as 
várias partes de que se compõe, o fogão de cozinha 
em que prepara os seus alimentos, o carvão que utiliza 
para esse fim, arrancado às entranhas da terra e trazido 
até ele provavelmente depois de uma longa viagem por 
[90 ] 
terra e por mar, todos os outros utensilios da sua cozinha, 
tudo aquilo que utiliza na sua mesa, as facas e os garfos, 
os pratos de barro ou de estanho, nos quais serve e divide 
os seus alimentos, as várias mãos necessárias para pro-
duzir o seu pão e a sua cerveja, a vidraça que deixa entrar 
o calor e a luz e o protege do vento e da chuva, com 
todo o saber e arte exigidos pelo fabrico dessa bela e 
feliz invenção sem a qual dificilmente se poderia propor-
cionar locais de habitação muito confortáveis nestas 
zonas frias do mundo, e ainda todas as ferramentas a 
que os operários empregados na produção de todos esses 
bens têm de recorrer; se examinarmos todas estas coisas, //~ 
Oi dizia eu, e considerarmos a variedade de activi~ad~s . .?/ 
incorporada em cad~ uma delas, ~~~noS-â ~ 
que, sem a ajuda e cooperação de muitos milhares, as 
necessidades do cidadão mais ínfimo de um pais civilizado 
não poderiam ser satisfeitas, nem mesmo de acordo com 
aquilo que nós muito falsamente imaginamos ser a forma 
simples e fácil como elas são habitualmente satisfeicas .. 
Na verdade, comparadas ao mais extravagante luxo dos 
grandes, as suas necessidades parecem, sem dúvida, 
extremamente simples e chãs; e, no entanto, talvez 
seja verdade que a satisfação das necessidades de um prin-
cipe europeu não excede tanto a de um camponês indus-
trioso e frugal, como a deste excede a de muitos reis 
africanos, senhores absolutos da vida e da liberdade de 
dez mil selvagens nus 23. 
23 [Provavelmente este parágrafo foi tirado integralmente 
do manuscrito das lições do autor. Parece basear-se em Mun, 
England's Treasure by Forraign Trade, capo lII, final; Locke, Civil 
Government, § 43; Mandeville, Fable 01 lhe Bm, parte I, Nota P, 
2." edição, 1723, p. 182, e talvez Harris, Essay upon Money and 
Coins, par~e I, § 12. Ver Lições, pp. 161-162 e notas]. 
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