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1 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MATTHEW HENRY Módulo 2 CRISTOLOGIA ‘’No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens; a luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela. ’’ (Jo 1.1-5) INTRODUÇÃO A pergunta de Jesus aos seus discípulos: “E vós, quem dizeis que eu sou? ” (Mt 16:15); muito embora seja uma pergunta simples é muito profunda e de grande importância para fé cristã. Pedro respondeu ao Senhor: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16.16). De acordo com Jesus, nenhuma outra resposta seria satisfatória, porque a esta redeu seu elogio: “Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus” (Mt 16.17). Esta resposta de Pedro a pergunta de Jesus continua a ser de estrema importância a nós hoje; e digo por que: ainda “não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (Atos 4:12). Jesus Cristo ainda é “o caminho, a verdade e a vida, [e] ninguém vem ao Pai, exceto através [dele] (Jo 14:6). O próprio Jesus declarou que o destino eterno de todos os homens depende da crença deles nele: “se não crerdes que EU SOU [o nome pactual para Deus, Jeová], morrereis nos vossos pecados” (Jo 8:24). Sendo assim, a Cristologia é uma das disciplinas fundamentais da Teologia Sistemática. Os teólogos normalmente subdividem o estudo da Cristologia em duas partes: a Pessoa de Cristo (ontologia: quem ele é) e a obra de Cristo (função: o que ele faz). Essas duas nunca devem ser separadas, mas devem ser distinguidas. E começaremos estudando a Pessoa de Cristo; e após obra de Cristo. I - A PESSOA DE CRISTO 1.1- RELAÇÃO ENTRE ANTROPOLOGIA E CRISTOLOGIA. Há uma relação muito estreita entre a doutrina Antropologia e a de Cristologia. A primeira trata do homem, criado à imagem de Deus e dotado de verdadeiro Semanário Teológico Matthew Henry\ Curso Básico de Teologia 2 conhecimento, justiça e santidade, mas que, pela voluntária transgressão da lei de Deus, despojou-se da sua verdadeira humanidade e se transformou em pecador. Ela mostra o homem como uma criatura de Deus altamente privilegiada, trazendo ainda alguns traços da sua glória original, mas, todavia, uma criatura que perdeu os seus direitos de nascimento, sua verdadeira liberdade e justiça originais. Significa que a doutrina dirige a atenção não apenas, nem primeiramente, à condição do homem como criatura, mas, sim, à sua pecaminosidade. Salienta a distância ética que há entre Deus e o homem, distância resultante da queda do homem e que, nem o homem nem os anjos podem cobrir, e, como tal, é virtualmente um grito pelo socorro divino. A cristologia é em parte a resposta a esse grito. Ela nos põe a par da obra objetiva de Deus em Cristo construindo uma ‘’ponte’’ sobre o abismo e eliminando a distância. A Cristologia nos mostra Deus vindo ao homem para afastar as barreiras entre Deus e o homem pela satisfação das condições da lei em Cristo, e para restabelecer o homem em Sua bendita comunhão. É, portanto, a doutrina de Cristo como Mediador da aliança. O Cristo, tipificado e prenunciado no Velho Testamento como o Redentor do homem, veio na plenitude do tempo, nascido de mulher, para tabernáculo entre os homens e levar a efeito uma reconciliação eterna. (Gl 4.4; Jo 1.14; 2 Co 5.18,19). 1.2 - RESUMO HISTÓRICO DA DOUTRINA DE CRISTO. Com a morte dos apóstolos não demorou, para que a Igreja se sentisse ameaçada pelas várias doutrinas que surgiam a respeito de Jesus Cristo. A doutrina que mais foi atacada ou que mais trouxe confusão se refere ao que chamamos na teologia de união hipostática. União hipostática, também conhecida como união mística ou dupla natureza de Cristo; é a doutrina clássica da Cristologia que afirma ter Jesus Cristo duas naturezas, sendo homem e Deus ao mesmo tempo. (Hipostasis = subsistência). Até o Concílio de Calcedônia surgiram algumas doutrinas que sacrificavam a divindade em detrimento da humanidade, como os: Ebionitas: Surgiram no início do segundo século. O nome Ebionitas é derivado de uma palavra hebraica que significa pobres, indigentes. Eram judeus crentes que não conseguiam deixar as cerimônias do Judaísmo. Eram um tipo de sucessores dos judaizantes do tempo de Paulo. Na busca de defender o monoteísmo negavam a divindade de Cristo. Eles o consideravam como um simples homem, filho de José e Maria, qualificado em seu batismo para ser o Messias, pela descida do Espírito Santo sobre Ele. Quando recebeu o Espírito Santo conscientizou-se de que era o messias. Afirmavam que era necessário obedecer aos mandamentos da Lei de Moisés, inclusive a circuncisão. A ENCARNAÇÃO DE CRISTO Embora a palavra não ocorra de maneira explicita na Bíblia, a igreja tem empregado o termo encarnação para referir-se ao fato de que Jesus era Deus em carne humana. A encarnação foi o ato pelo qual Deus filho assumiu a natureza humana. Semanário Teológico Matthew Henry\ Curso Básico de Teologia 3 Mas o equivalente grego do latim "in carne" (τη σαρκι, en sarki, "na carne") se encontra em algumas declarações importantes no Novo Testamento a respeito da pessoa e obra de Jesus Cristo. Em 1 Timóteo 3.16 fala sobre "Aquele que foi manifesto na carne". João atribui ao espírito do anticristo qualquer negação que Jesus Cristo "veio em carne" (1 João 4.2). Paulo diz que Cristo realizou sua obra de reconciliação "no corpo da sua carne" isso quer dizer que Cristo pela sua morte nos reconciliou com DEUS (Colossenses 1.22; Efésios 2.15), e, que ao enviar Seu Filho "em semelhança de carne pecaminosa" Deus "condenou ... na carne, o pecado" (Romanos 9.3). Todos esses textos mostram de diversas maneiras que Cristo garante a salvação porque veio em "carne" e morreu "na carne". No grego “sarx” que significa “carne” faz distinção com ossos, tendões, pele, etc., em outras palavras, ela não é meramente o corpo, mas o homem todo como pessoa. No grego “soma - ” consiste em ossos, sangue, tendões, carne e pele, representando o corpo fisico ou material. A pessoa de Cristo encarnado incluía: Divindade plenamente mantida (100% Deus). Perfeita humanidade (100% homem). O NASCIMENTO VIRGINAL DE CRISTO O nascimento virginal de Cristo é uma das doutrinas bíblicas fundamentais à fé cristã. Desde as primeiras décadas da história da igreja está doutrina é sustentada e ensinada pelos Apóstolos e Pais da igreja; cito aqui Inácio de Antioquia: ‘’Oculto dos príncipes deste mundo havia a virgindade de Maria e o seu parto... Dou glória a Jesus Cristo, o Deus que conferiu tal sabedoria a ti; pois tenho percebido no tocante o nosso Senhor, de que Ele pertenceverdadeiramente à raça de Davi segundo a carne, mas Filho de Deus por vontade e poder divino, verdadeiramente nascido de uma virgem e batizado por João. ’’ No início do II século esta doutrina é reconhecida no Credo dos Apóstolos que diz: ‘’Nasceu do Espírito Santo e da Virgem Maria’’. Jesus é uma pessoa absolutamente única, como verdadeiro Deus e vero homem; a Sua entrada neste mundo foi diferente dos demais homens. Os Evangelistas Mateus e Lucas esclarecem inequivocamente a forma miraculosa do nascimento Virginal de Cristo o qual se harmoniza com tudo que conhecemos e cremos sobre a Sua pessoa e natureza. (Mt 1.18-25; Lc 1.26-38) A polêmica sobre a tradução por ‘’virgem’’ ou ‘’jovem’’ do termo hebraico em Is 7.14, em nada afeta o caso, pois é muito claro os textos de Mateus e Lucas citados acima. A HUMANIDADE DE CRISTO Ontologia é a parte da filosofia que trata do ser enquanto ser, isto é, do ser concebido como tendo uma natureza comum que é inerente a todos e a cada um dos seres. Tendo-se em conta que "onto", do grego, vem a significar indivíduo ou ser, e "logia", significa estudo; tem-se que "ontologia" vem a ser o estudo investigativo e comparativo do indivíduo - aqui tido como exemplar da espécie humana - frente aos demais seres Semanário Teológico Matthew Henry\ Curso Básico de Teologia 4 vivos, passando pela sua concepção, criação, evolução e extinção. Busca, portanto, o conhecimento profundo acerca da natureza do ser humano, levando em conta os aspectos fisiológicos e espirituais, confrontando-os com aqueles que caracterizam e distinguem os demais seres vivos. Jesus enquanto homem estava subordinado ao Pai. Contudo essa subordinação é de ofício, operação (Jesus veio para fazer a vontade do Pai), mas ela não é de essência-poder. Jesus Cristo não é menor que o Pai. Jesus possuía um corpo humano: O fato de que Jesus possuía um corpo humano exatamente como o nosso é visto em muitas passagens das Escrituras. Ele nasceu assim como nascem todos os bebês humanos (Lc 2.7). Ele passou da infância para a maturidade assim como crescem todas as outras crianças: “Crescia o menino e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele” (Lc 2.40). Jesus possuía uma mente humana: O fato de Jesus ter crescido em sabedoria (Lc 2.52) significa que ele passou por um processo de aprendizado assim como acontece com todas as outras crianças — ele aprendeu a comer, a falar, a ler e a escrever, e a ser obediente a seus pais (veja Hb 5.8). Esse processo normal de aprendizado fazia parte da genuína humanidade de Cristo. Jesus possuía alma humana e emoções humanas: Vemos várias indicações de que Jesus possuía alma humana (ou espírito). Logo antes de sua crucificação, ele disse: “Agora, está angustiada a minha alma” (Jo 12.27). João escreve um pouco depois: “Ditas estas coisas, angustiou-se Jesus em espírito” (Jo 13.21). Em ambos os versículos a palavra angustiar representa o termo grego tarassÜ, palavra muitas vezes empregada em referência a pessoas ansiosas ou que de repente são surpreendidas por um perigo. As pessoas próximas de Jesus consideravam-no apenas humano: Mateus registra um incidente assombroso no meio do ministério de Jesus. Ainda que Jesus tivesse ensinado por toda a Galiléia, “curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo”, de modo que “numerosas multidões o seguiam” (Mt 4.23-25), quando chegou à própria cidade de Nazaré, o povo que o conhecia havia muitos anos não o recebeu (Mt 13.53-58). Impecabilidade: Ainda que o Novo Testamento seja claro em afirmar que Jesus era plenamente humano exatamente como nós, também afirma que Jesus era diferente em um aspecto importante: ele era isento de pecado e jamais cometeu um pecado durante sua vida. Alguns objetam que se Jesus não pecou, então não era verdadeiramente humano, pois todos os humanos pecam. Mas os que fazem tal objeção simplesmente não percebem que os seres humanos estão agora numa situação anormal. Deus não nos criou pecaminosos, mas santos e justos. Adão e Eva no jardim do Éden eram verdadeiramente humanos antes de pecar, e nós agora, apesar de humanos, não nos conformamos ao padrão que Deus deseja que preenchamos quando nossa humanidade plena, impecável, for restaurada. Jesus poderia ter pecado? Às vezes levanta-se esta questão: “Cristo podia ter pecado? ” Alguns defendem a impecabilidade de Cristo, entendendo por impecável “não sujeito a Semanário Teológico Matthew Henry\ Curso Básico de Teologia 5 pecar”. Outros objetam que se Jesus não fosse capaz de pecar, suas tentações não teriam sido reais, pois como uma tentação seria real, se a pessoa que estivesse sendo tentada não fosse mesmo capaz de pecar? Para responder a essa pergunta, precisamos distinguir, por um lado, o que as Escrituras afirmam claramente e, por outro lado, o que é mais uma inferência de nossa parte. 1. As Escrituras afirmam claramente que Cristo jamais pecou de fato (veja acima). Não deve haver nenhuma dúvida a esse respeito em nossa mente. 2. Elas também afirmam que Jesus foi tentado e que as tentações foram reais (Lc 4.2). Se cremos na Bíblia, precisamos insistir que Cristo foi “tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hb 4.15). 3. Também precisamos afirmar com as Escrituras que “Deus não pode ser tentado pelo mal” (Tg 1.13). Mas aqui a questão torna-se difícil: se Jesus era plenamente Deus e também plenamente humano (e vamos argumentar adiante que as Escrituras ensinam isso várias vezes e de maneira clara), então não somos obrigados também a afirmar que (em algum sentido) Jesus também “não pode ser tentado pelo mal”? Jesus será um homem para sempre: Jesus não abandonou a natureza terrena após sua morte e ressurreição, pois apareceu aos discípulos como homem após a ressurreição, até com as cicatrizes dos cravos nas mãos (Jo 20.25-27). Ele possuía carne e ossos (Lc 24.39) e comia (Lc 24.41-42). Posteriormente, quando conversava com os discípulos, foi levado ao céu, ainda em seu corpo humano ressurreto, e dois anjos prometeram que ele voltaria do mesmo modo: “Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir” (At 1.11). A DIVINDADE DE CRISTO Para completar o ensino bíblico acerca de Jesus Cristo, precisamos declarar não só que ele era plenamente humano, mas também plenamente divino. Embora a palavra não ocorra de maneira explícita na Bíblia, a igreja tem empregado o termo encarnação para referir-se ao fato de que Jesus era Deus em carne humana. A encarnação foi o ato pelo qual Deus Filho assumiu a natureza humana. A comprovação bíblica da divindade de Cristo é bem ampla no Novo Testamento. Vamos examiná-la sob várias categorias. Provada na sua preexistência: Jesus afirma sua eternidade quando diz: “... antes que Abraão existisse, EU SOU” (Jo 8.58) e também quando diz: “Eu sou o Alfa e o Ômega” (Ap 22.13). Provada pelo A.T. Miquéias 5.2 – “Mas tu,Belém - Efrata, embora pequena entre os clãs de Judá, de ti virá para mim aquele que será o governante sobre Israel. Suas origens estão no passado distante, em tempos antigos”. Isaías 9.6 – “Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, e o governo está sobre os seus ombros. E ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz”. Semanário Teológico Matthew Henry\ Curso Básico de Teologia 6 Provada pelo N.T. João 1.1, em comparação com o versículo 14 – “No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus. Ele estava com Deus no princípio. (...). Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós...” João 8.58 “Respondeu Jesus: Eu lhes afirmo que antes de Abrão nascer, Eu Sou! 1 Pe 1.20 – “Conhecido antes da criação do mundo, revelado nestes últimos tempos em favor de vocês” Provada por obra na criação. 1 Coríntios 8.6 – “para nós, porém, há um único Deus, o Pai, de quem vêm todas as coisas e para quem vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, por meio de quem vieram todas as coisas e por meio de quem vivemos”. Colossenses 1.16 – “pois nele (Jesus) foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou autoridades, todas as coisas foram criadas por ele e para ele”. Provada por aparições. As aparições do Anjo do Senhor (Gn 48.16; Êx 3.2,4; Jz 13.18). Estas eram teofanias, manifestações do verbo antes da sua encarnação, e só ocorreram antes dela. Exemplo: Gênesis 18 – 10 Senhor apareceu a Abraão (...). 2Abraão ergueu os olhos e viu três homens em pé, a pouca distância. Quando os viu, saiu da entrada de sua tenda, correu ao encontro deles e curvou-se até o chão (Abraão o adorou e o mesmo recebeu sua adoração). 10Então disse o Senhor: voltarei a você (...). Provada pelos Seus nomes. Logos – O termo logos trazia para os gregos uma dupla referência. Era tanto à Palavra de Deus poderosa e criadora do Antigo Testamento, pela qual os céus e a terra foram criados (Sl 33.6), como ao princípio organizador ou unificador do universo, dando-lhe conjunto e sentido dentro do pensamento grego. João ao fazer uso desta palavra, com certeza estava identificando Jesus com essas duas ideias e acrescentando que Ele não só era a Palavra poderosa, criadora e a força que organiza e unifica o universo como também se fez homem. Deus – A palavra Deus (Theos) é atribuída a Cristo. Apesar de a palavra “theos” (Deus) ser em geral reservada no Novo Testamento para Deus Pai, há algumas passagens em que é também empregada em referência a Jesus Cristo. Em todos esses trechos, a palavra “Deus” é empregada com um sentido denso em referência àquele que é Criador do céu e da terra, o governante de tudo. Entre essas passagens encontram-se: João 1.1; 1.18 (em manuscritos mais antigos); 20.28; Romanos 9.5; Tito 2.13; Hebreus 1.8 e 2 Pedro 1.1. Um exemplo veterotestamentário do nome Deus aplicado a Cristo encontra-se numa passagem bem conhecida: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus forte...” (Isaías 9.6). Filho de Deus – Ainda que o título “Filho de Deus” possa às vezes ser simplesmente empregado em referência a Israel (Mt 2.15), ou ao homem criado por Deus (Lc 2.38), ou ao homem regenerado em geral (Rm 8.14, 19,23), há, entretanto, casos em que a Semanário Teológico Matthew Henry\ Curso Básico de Teologia 7 frase “Filho de Deus” refere-se a Jesus como o Filho celestial eterno igual ao próprio Deus (Mt 11.25-30; 17.5; 1 Co 15.28; Hb 1.1-3, 5, 8). Isso ocorre especialmente no evangelho de João, em que Jesus é visto como um Filho singular do Pai (Jo 1.14, 18, 34, 39) que revela plenamente o Pai (Jo 8.19; 14.9). Ele é também aquele que possui toda a autoridade proveniente do Pai para dar vida, pronunciar julgamento eterno e governar sobre tudo (Jo 3.36; 5.20-22, 25; 10.17; 16.15). Como Filho, ele foi enviado pelo Pai e, portanto, existia antes de vir ao mundo (Jo 3.37; 5.23; 10,36). Aqui também neste ponto da Cristologia nos cabe fazer uma observação de suma importância. Há quatro referencias bíblicas onde Jesus Cristo e mencionado como gerado de Deus Pai, Sl 2.7; Atos 13.33 Hb 1.5; Hb 5.5; estes textos neotestamentario devem ser interpretados a luz do contexto histórico-cultural do salmo dois; como nos ensina a Hermenêutica Reformada. O salmo dois é o salmo da coroação dos reis de Israel. Casa não haja este entendimento podemos favorecer a heresia ariana. vé (Jeová ou Iavé) e Kyrios – O nome “Senhor” é aplicado a Deus na Septuaginta, como equivalente de Jeová e como tradução de Adonai no Antigo Testamento. Ás vezes a palavra Senhor (Gr. Kyrios) é empregada simplesmente como tratamento respeitoso dispensado a um superior (Mt 13.27; 21.30; Jo 4.11). Às vezes pode simplesmente significar “patrão” de um servo ou escravo (Mt 6.24; 21.40). Jesus é tratado como o Senhor (Kyrios). A palavra kyrios é empregada para traduzir o nome do Senhor 6814 vezes no Antigo Testamento grego. Assim, qualquer leitor grego da época do Novo Testamento que conhecesse um pouco o Antigo Testamento grego reconheceria que, nos contextos apropriados, a palavra “Senhor” era o nome do Criador e Mantenedor do céu e da terra, o Deus onipotente. Sinais de que Jesus possuía atributos de divindade: Onipotência - Essa é demonstrada quando Jesus acalmou a tempestade no mar com uma palavra (Mt 8.26-27), multiplicou os pães e peixes (Mt 14.19) e transformou a água em vinho (João 2.1-11). Podemos incluir vários outros textos que mostram seu poder. Ex. Mateus 28.18. Jesus operava sinais e maravilhas e Seu nome era glorificado e Ele era adorado. Alguns podem objetar, dizendo que esses milagres só mostraram o poder do Espírito Santo agindo por intermédio dele, assim como o Espírito Santo poderia agir por meio de qualquer outro ser humano e, assim, isso não comprova a divindade de Jesus. Mas podemos refutar esta objeção, a doutrina da divindade de Cristo afirmando biblicamente que Jesus fez milagres em seu próprio nome e poder, como podemos ver nos textos das Sagradas Escrituras (Mt 9.6) Onisciência – Era demonstrada no fato de conhecer os pensamentos das pessoas (Mc 2.8), de ver, de muito longe, Natanael sob a figueira (Jo 1.48), de conhecer “desde o princípio, quais eram os que não criam e quem o havia de trair” (Jo 6.64). Outro texto: João 1.48. Semanário Teológico Matthew Henry\ Curso Básico de Teologia 8 Onipresença – Durante seu ministério terreno esse atributo não foi manifestado. Contudo Jesus afirma sua onipresença ao declarar que quando a Igreja fosse estabelecida onde ela se reunisse Ele estaria presente (Mateus 18.20). Além disso, antes de deixar a terra, disse aos discípulos: “E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mt 28.20). Ver Jo 3.13. Eterno (João 1.4; 5.26) – Jesus possuíao atributo divino da imortalidade, a incapacidade de morrer. Ele é a própria vida. Vemos isso indicado no início do evangelho de João, quando Jesus fala aos judeus: “Destruí esse santuário, e em três dias o reconstruirei” (Jo 2.19). Precisamos insistir que Jesus realmente morreu, mas a morte não o podia deter. Também é significativo observar que o próprio Jesus afirma que atuaria em sua ressurreição, embora outras passagens digam que o Pai atuou na ressurreição. Em outra passagem do Evangelho de João, Jesus alega ter poder para entregar a vida e reassumi-la: “Por isso, o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a reassumir. Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu Pai” (Jo 10.17,18). Sua igualdade na Trindade: Com o Pai (João 14.23; 10.30). Com o Pai e o Espírito Santo (Mateus 28.19; 2 Coríntios 13.13). Consubstancialidade é um conceito cristológico introduzido na profissão de fé pelo Concílio de Niceia (325 d.C) e que diz respeito à divindade de Cristo, por ser da mesma substância do Pai. O termo consubstancialidade é o correspondente ao termo grego homoousios, termo original que designa essa realidade. Este termo provém da junção de homos, que significa “o mesmo”, eousios, proveniente de ousía, que significa substância ou essência. Assim, o termo tem o sentido de “da mesma substância, com a mesma essência”. Teoria falsa da Kenosis. Paulo escreve aos filipenses: Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana... (Fp 2.5-7). A verdadeira doutrina da Kenosis. A doutrina da “kenosis” envolve: O encobrimento de Sua glória pré-encarnada. Sua condescendência em assumir a semelhança de carne pecaminosa (a forma humana) durante a encarnação. O não uso voluntário de alguns de Seus atributos durante Sua vida terrena; mais isto não quer dizer que ele perdeu os atributos divinos. Cristo continuou em Sua encarnação plenamente divino. “Aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude” (Cl 1.19) e “nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade” (Cl 2.9). A importância da divindade de Cristo para nossa salvação: Na seção anterior alistamos alguns motivos pelos quais era necessário que Jesus fosse plenamente humano para obter nossa redenção. Aqui cabe reconhecer que é também crucialmente importante Semanário Teológico Matthew Henry\ Curso Básico de Teologia 9 insistir na plena divindade de Cristo, não só porque ela é ensinada de maneira clara nas Escrituras, mas também porque: 1. Só alguém que fosse Deus infinito poderia arcar com toda a pena de todos os pecados de todos os que cressem nele — qualquer criatura finita não seria capaz de arcar com tal pena; 2. A salvação vem do Senhor (Jn 2.9 arc), e toda a mensagem das Escrituras é moldada para mostrar que nenhum ser humano, nenhuma criatura, jamais conseguiria salvar o homem — só Deus mesmo poderia; 3. Só alguém que fosse verdadeira e plenamente Deus poderia ser o mediador entre Deus e homem (1Tm 2.5), tanto para nos levar de volta a Deus como também para revelar Deus de maneira mais completa a nós (Jo 14.9). 4. Assim, se Jesus não é plenamente Deus, não temos salvação e, por fim, nenhum cristianismo. Não é por acaso que ao longo da história os grupos que abandonaram a crença na plena divindade de Cristo não têm permanecido muito tempo na fé cristã, desviando-se logo para um tipo de religião representada pelo unitarismo nos Estados Unidos e em outros lugares. “Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece não tem Deus; o que permanece na doutrina, esse tem tanto o Pai como o Filho” (2Jo 9). 2 - A obra de Cristo 2.1 - A Expiação Nesta parte trataremos da obra de Cristo, não propriamente do seu ministério terreno dando ênfase a seus ensinos e milagres, mas analisaremos a sua obra expiatória. Podemos definir a expiação como segue: expiação é a obra que Cristo realizou em sua vida e morte para obter nossa salvação. Essa definição indica que usamos a palavra expiaçãonum sentido mais amplo em que às vezes é utilizada. Ela é empregada de vez em quando para se referir apenas ao fato de Jesus morrer e pagar nossos pecados na cruz. A causa da expiação: Qual foi a causa última que levou Cristo a vir para este mundo e morrer pelos nossos pecados? Para encontrá-la, devemos pesquisar o assunto em alguma coisa no caráter do próprio Deus. E aqui as Escrituras apontam para duas coisas: o amor e a justiça de Deus. O amor de Deus como uma das causas da expiação é descrito na passagem mais conhecida da Bíblia: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16). Mas a justiça de Deus também exigia que ele encontrasse um meio pelo qual a pena pelos nossos pecados fosse paga (pois ele não podia aceitar-nos em comunhão consigo mesmo a menos que a penalidade fosse paga). Semanário Teológico Matthew Henry\ Curso Básico de Teologia 10 A natureza da expiação: Nesta seção, considero dois aspectos da obra de Cristo: (1) A obediência de Cristo por nós, pela qual obedeceu às exigências da lei em nosso lugar e foi perfeitamente obediente à vontade de Deus Pai como nosso representante. (2) Os sofrimentos de Cristo por nós, pelos quais recebeu o castigo pelos nossos pecados e, em consequência, morreu pelos nossos pecados. A obediência de Cristo por nós (às vezes chamada “obediência ativa”). Se Cristo tivesse conseguido só o perdão dos pecados por nós, não mereceríamos o céu. Nossa culpa teria sido removida, mas estaríamos simplesmente na posição de Adão e Eva antes de terem feito qualquer coisa boa ou má e antes de terem passado um tempo de provação com sucesso. Para serem estabelecidos em justiça para sempre e ter assegurada a sua eterna comunhão com Deus, Adão e Eva tinham de obedecer a Deus de modo perfeito por um período de tempo. Então, Deus teria olhado para sua obediência fiel com prazer e deleite, e eles teriam vivido em comunhão com o Senhor para sempre. Os sofrimentos de Cristo por nós (às vezes chamados “obediência passiva”). Além de obedecer à lei de modo perfeito por toda a sua vida em nosso favor, Cristo tomou também sobre si mesmo os sofrimentos necessários para pagar a penalidade pelos nossos pecados. A amplitude da expiação: Uma das diferenças entre teólogos reformados e outros teólogos católicos e protestantes tem sido a questão da amplitude da expiação. A questão pode ser colocada da seguinte maneira: quando Cristo morreu, pagou os pecados de toda a raça humana ou só os pecados dos que, ele sabia, seriam por fim salvos? Passagens bíblicas empregadas para sustentar a concepção reformada. Algumas passagens das Escriturasfalam do fato de que Cristo morreu por seu povo. “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas” (Jo 10.11). “Dou a minha vida pelas ovelhas” (Jo 10.15). Paulo fala da “igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue” (At 20.28). Ele também diz: “Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? ” (Rm 8.32). Passagens bíblicas empregadas para sustentar a concepção não-reformada (redenção geral ou expiação ilimitada). Algumas passagens das Escrituras indicam que em algum sentido Cristo morreu por todo o mundo. João Batista disse: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29). E João 3.16 nos diz que “Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. Jesus disse: “O pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne” (Jo 6.51). Semanário Teológico Matthew Henry\ Curso Básico de Teologia 11 Alguns pontos pacíficos e algumas conclusões sobre textos polêmicos. Seria bom primeiro alistar os pontos sobre os quais ambos os lados concordam: 1. Nem todos serão salvos. 2. É correto que se ofereça gratuitamente o evangelho a todas as pessoas. É completamente verdadeiro que “quem desejar” pode chegar a Cristo e obter a salvação, e ninguém que chegar a ele será lançado fora. Essa oferta gratuita do evangelho é estendida em boa-fé para todas as pessoas. 3. Todos concordam que a própria morte de Cristo, por ser ele o infinito Filho de Deus, possui mérito infinito, sendo em si suficiente para pagar a penalidade dos pecados dos muitos ou dos poucos que o Pai e o Filho decretaram. A questão não está nos méritos intrínsecos dos sofrimentos e da morte de Cristo, mas no número de pessoas pelas quais o Pai e o Filho entenderam, no momento da morte de Cristo, que sua morte seria pagamento suficiente. 2.2 – TEORIAS ERRONIAS SOBRE A MORTE DE CRISTO A teoria do acidente: Esta teoria não vê nenhum significado na morte de Cristo. Sendo Ele homem estava sujeito a morte. Admitem que seja de fato lamentável, que um homem tão bom tenha sido morto. Mas não obstante, não teve significado algum para qualquer pessoa a sua morte. Mas a sua morte não pede ter sido um mero acidente, pois foi previsto no Antigo Testamento como vemos em Sl 22 e Is 53, e o próprio Jesus predisse a sua morte várias vezes. Cristo veio com o propósito eterno de morrer; no plano divino Ele morreu antes da fundação do mundo (Ap 13.8) Cristo veio a este mundo com o propósito de morrer por nós, a sua morte não foi nenhum acidente, mas foi pré-determinada e de grande significado. A teoria do mártir: Essa teoria também é chamada de teoria do exemplo. Afirma que Cristo como um mártir. Morreu, por ser fiel a seus princípios. Os defensores desta teoria dizem que a única coisa necessária para salvar o homem é reforma-ló. E o exemplo de Cristo foi dado para ensinar o homem a se arrepender de seus pecados e reformar-se. Mas de fato Cristo não morreu como mero mártir, mas sua morte foi vicária, expiatória, propiciatória, redentora e substitutiva. Jesus não morreu ‘’por’’ uma causa, mas ‘’para’’ uma causa. A teoria da influência moral: Esta também é chamada de teoria do amor de Deus. Esta afirma que a morte de Cristo é simplesmente a consequência natural Dele ter tomado sobre si a natureza humana, e que Ele simplesmente sofreu nos pecados de suas criaturas e também com eles. O amor de Deus manifestado na encarnação, no sofrimento e morte de Cristo, é para amolecer os corações humanos e levá-los ao arrependimento. Replicamos esta teoria. Apesar da morte de Cristo ser uma expressão do amor de Deus, o homem sabia que Deus o amava antes de Cristo vir; e simples emoção não leva ao arrependimento (Dt 7.7; Jr 31.3). Esta teoria contradiz o que a Escrituras afirma que Deus tem que ser propiciado antes de perdoar (Hb 9.14; Rm 3.25,26; 1 Jo 2.2). Não podemos reduzir a expiação a uma peça teatral da paixão na qual Semanário Teológico Matthew Henry\ Curso Básico de Teologia 12 o ator parece estar guiado por motivos sinceros, quando na realidade está simplesmente trabalhando as emoções de sua plateia. Teoria governamental: Esta teoria concorda com as três anteriores, ao afirmar que não há nenhum princípio na natureza divina que careça de propiciação. Afirma que ao invés disso, que Deus para manter o respeito a sua lei, deu um exemplo de seu ódio ao pecado na morte de Cristo. De acordo com a teoria governamental qualquer homem pecador poderia ter sido usado como exemplo do desprazer e da ira de Deus contra o pecado. Não era necessário um homem inocente para fazer isso. Assim fosse a morte de Cristo na cruz seria mera encenação sem realidade e valor jurídico; mas a Escrituras ensina que o que teve lugar no calvário foi justamente a execução da justiça (Gl 3.13; 1 Pe 2.24; 3.18) 2.3- O VEDADEIRO SIGNIFICADO DA MORTE DE CRISTO Foi pré-determinada: A morte de Cristo não foi um acidente, já estava pré-determinada. Sendo que não há surpresas para Deus, e nada foge a sua soberania; seria a morte de Cristo algo acidental, é lógico que isso não é possível. Mas tudo estava determinado no designo de Deus (Atos 2.23). Deus já havia prometido que o descendente da mulher seria ferido pela serpente (Gn 3.15) O cordeiro foi morto antes da fundação do mundo (Ap 13.8; 1 Pe 1.18-20). Foi voluntária: É certo que Jesus foi morto pelos sacerdotes e autoridades judaicas e romanas; mas Ele se entregou para que tal coisa pudesse acontecer (Mt 26.53; Lc 22.53). Ninguém, ou nem uma instituição por sua própria força o crucificaram, antes Ele se entregou (JO 10.17,18). Ele veio com este propósito, Ele morreu sob acordo de Sua própria vontade e determinação. Foi vicária: Já observamos que a morte de Cristo não foi acidental, mas pré-determinada e voluntária. Cristo morreu em lugar de outros, sua morte foi vicária, isso é, em substituição – ‘’O justo pelos injustos’’ (1 Pe 3.18, 1 Co 15.3; Rm 4.45). Muito embora a morte dos animais nos sacrifícios da Antiga Aliança não tinha significado real, mas simbólico, ela nos ensina esta verdade. Quando o pecador colocava as mãos sobre a cabeça do animal que ia ser sacrificado, simbolizava a morte de Cristo vicária de Cristo em nosso lugar. (Nm 1.4). Foi sacrificial: A morte de Cristo foi sacrificial eficaz pelo mundo inteiro. Assim comem Adão todos pecaram, em Cristo, no seu sacrifício todos podem ter, a justificação mediante a fé Nele. (Rm 5.15; 5.19-21). A Sua morte foi aceita pelo Pai como oferta pelo pecado da posteridade de Adão (Hb 10.5-10). A morte de Cristo é potencialmente e provisionalmente, um sacrifício em favor dos pecados do mundo. Nesse sentido, Ele provou a morte a favor de todo homem, e ‘’a assim mesmo se deu em resgate por todos’’, e é Salvador de todos os homens. (1 Tm 2.6) Foi expiatória: Expiação(agora em seu sentido mais restrito) é sinônimo de reconciliação, apaziguar, satisfazer. Este significado da morte de Cristo esta figurado no Semanário Teológico Matthew Henry\ Curso Básico de Teologia 13 trabalho do Sumo sacerdote da Antiga Aliança, que no Dia da Expiação entrava no Santos dos Santos com o sangue do animal sacrificado (Nm 16). Cristo entrou no santuário celeste para nos tornar aceito a Deus (Hb 9.23-26). Ele mesmo se fez ‘’maldição em nosso lugar’’ (Gl 3.13). Jesus removeu a culpa e nos reconciliou com Deus, sendo Ele também providência de Deus o Pai (2 Co 5.18,19). Foi propiciatória: O termo propiciação significa cobrir, ou tornar favorável. Propiciação não quer dizer que foi um ato para aplacar a um Deus vingativo. Mas sim que Deus nos amou, enviou e aceitou o sacrifício de Seu Filho como propiciação pelos nossos pelos nossos pecados (1 Jo 4.10) O propiciatório no Dia da Expiação era aspergido com o sangue simbolizado que a sentença justa da lei havia sido imposta; pelo que no lugar que de outro modo seria um lugar de julgamento, podia com justiça ser propiciatório. (Nm 16.14,15). Foi redentora: O termo nos sugere resgate por meio de pagamento. É exatamente isso que diz o texto de 1 Pe 1.18,19. O objeto da redenção, os pecadores; estavam vendidos a ‘’escravidão do pecado’’ e também sob sentença de morte, e o preço pago pelo resgate foi o sangue de Cristo (Rm 7.14; Ez 18.4; Jo 3.18,19; Mt 20.28). Mas a que foi pago o preço? Não pode ser a satanás, como alguns acham, pois ele nada mais é que usurpador; as almas pertencem a Deus (Ez 18.4). Só pode ser a reivindicação de Deus, que é por natureza santo legislador. Foi substituta: Como o significado do termo, a morte de Cristo foi substitutiva, ou seja, no lugar de outros. De fato, o ensino da Escrituras é este, que Cristo padeceu e morreu em nosso lugar (Is 53.4-8). Cristo não apenas se submeteu a ser tratado como oferta pelo pecado, mas a ser feito pecado por nós. E isso não foi apenas encenação, mas realidade; de tal forma que, quando, as nossas iniquidades caíram sobre Ele, o Pai não pode suportar; e Jesus clamou: Eli, Eli, lamá sabactani (Mt 27.46). 2.4 - Ressurreição de cristo Evidências do Novo Testamento: Os evangelhos contêm testemunho abundante da ressurreição de Cristo (veja Mt 28.1-20; Marcos 16.1-8; Lucas 24.1-53; João 20.1-21.25). Além dessas narrativas detalhadas nos quatro evangelhos, o livro de Atos é um relato histórico da proclamação que os apóstolos fizeram da ressurreição de Cristo, da contínua oração a ele dirigida e da confiança nele como aquele que está vivo e reinando no céu. A natureza da ressurreição de Cristo: A ressurreição de Cristo não foi simplesmente um retorno da morte, à semelhança daquela experimentada por outros antes dele, como Lázaro (João 11.1-44), porque senão Jesus teria se submetido à fraqueza e ao envelhecimento, e por fim teria morrido outra vez, exatamente como todos os outros seres humanos morrem. O Pai e o Filho participaram na ressurreição: Alguns textos afirmam especificamente que Deus Pai ressuscitou Cristo dentre os mortos (Atos 2.24; Rm 6.4; 1Co 6.14; Gl 1.1; Semanário Teológico Matthew Henry\ Curso Básico de Teologia 14 Ef 1.20), mas outros textos falam de Jesus participando na sua própria ressurreição. Jesus diz: “Por isso é que meu Pai me ama, porque eu dou a minha vida para retomá-la. Ninguém a tira de mim, mas eu a dou por minha espontânea vontade. Tenho autoridade para dá-la e para retomá-la. O significado doutrinário da ressurreição. A ressurreição de Cristo assegura nossa regeneração. Pedro diz que Deus “nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (1Pe 1.3). Aqui ele associa explicitamente a ressurreição de Jesus com a nossa própria regeneração ou novo nascimento. A ressurreição de Cristo assegura nossa justificação. Em apenas uma passagem Paulo associa explicitamente a ressurreição de Cristo com a nossa justificação (ou o nosso recebimento da declaração de que não somos culpados, mas retos diante de Deus). Paulo diz que Jesus “foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação” (Rm 4.25). A ressurreição de Cristo assegura-nos de que iremos receber igualmente corpos ressurretos perfeitos. O Novo Testamento associa várias vezes a ressurreição de Jesus com nossa ressurreição corpórea final. “Deus ressuscitou o Senhor e também nos ressuscitará a nós pelo seu poder” (1Co 6.14). Semelhantemente, “aquele que ressuscitou o Senhor Jesus também nos ressuscitará com Jesus e nos apresentará convosco” (2Co 4.14). Mas a discussão mais completa da associação entre a ressurreição de Cristo e a nossa própria acha-se em 1Coríntios 15.12-58. Ali Paulo afirma que Cristo é “as primícias” dos que dormem (1Co 15.20). O sentido ético da ressurreição. Paulo também observa que a ressurreição tem uma aplicação relacionada à obediência a Deus nesta vida. Após uma longa discussão a respeito da ressurreição, Paulo conclui encorajando seus leitores: “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão” (1Co 15.58). 2.5 - Ascensão de cristo Cristo subiu para um lugar: Após a ressurreição de Cristo, ele esteve na terra por quarenta dias (Atos 1.3) e depois conduziu os discípulos para Betânia, fora de Jerusalém, e “erguendo as mãos, os abençoou. Aconteceu que, enquanto os abençoava, ia-se retirando deles, sendo elevado para o céu” (Lc 24.50). Cristo recebeu mais glória e honra como Deus-Homem: Quando Jesus subiu ao céu recebeu glória, honra e autoridade que não tinha antes, enquanto era Deus e homem. Antes de sua morte, Jesus orou: “... glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo” (João 17.5). Em seu sermão em Pentecostes Pedro disse que Jesus fora exaltado à destra de Deus (Atos 2.33). Paulo declarou que Deus o exaltou grandemente (Fp 2.9), e que fora recebido em glória (1Tm 3.16; cf. Hb 1.4). Semanário Teológico Matthew Henry\ Curso Básico de Teologia 15 Cristo está agora no céu, e coros angelicais cantam-lhe louvor com as palavras: “Digno é o cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor” (Ap 5.12). Cristo assentou-se à destra de Deus: Um aspecto específico de Cristo ter subido para o céu e recebido honra é o fato de que ele se assentou à destra de Deus. Isso é às vezes chamado sua sessão à destra de Deus. O Antigo Testamento predisse que o Messias sentar-se-ia à direita de Deus: “Disse o Senhor ao meu senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés” (Sl 110.1). Quando Cristo ascendeu de volta ao céu ele recebeu o cumprimento daquela promessa: “... depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas”(Hb 1.3). A ascensão de Cristo tem importância doutrinária para nossa vida: Assim como a ressurreição tem implicações profundas para a nossa vida, do mesmo modo a ascensão de Cristo tem implicações significativas. Em primeiro lugar, visto que estamos unidos a Cristo em cada aspecto da obra de redenção, a ascensão de Cristo ao céu prefigura nossa ascensão futura com ele. “Nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor” (1Ts 4.17). Os estados de Jesus Cristo: Ao comentar sobre a vida, a morte e a ressurreição de Cristo, os teólogos muitas vezes aludem aos “estados de Jesus Cristo”. Com isso eles se referem às diferentes relações que Jesus mantinha com a lei de Deus para a humanidade, com a posse de autoridade e com a honra que se lhe deve. De forma geral distinguem-se dois estados (humilhação e exaltação). Assim, a doutrina do “estado duplo de Cristo” é o ensino de que ele experimentou primeiramente o estado de humilhação para depois passar ao estado de exaltação. 2.6 - Os Ofícios de Cristo Os três cargos mais importantes que poderiam existir para o povo de Israel no Antigo Testamento eram: o profeta (como Natã, 2Sm 7.2), o sacerdote (como Abiatar, 1Sm 30.7) e o rei (como Davi, 2Sm 5.3). Esses três ofícios eram distintos. O profeta falava as palavras de Deus ao povo; o sacerdote oferecia sacrifícios, orações e louvores a Deus em favor do povo; e o rei governava o povo como representante de Deus. Esses três ofícios prefiguravam a própria obra de Cristo de várias maneiras. Cristo como profeta: Os profetas do Antigo Testamento transmitiam a palavra de Deus ao povo. Moisés foi o primeiro grande profeta e escreveu os cinco primeiros livros da Bíblia, o Pentateuco. Depois vieram outros que falaram e escreveram as palavras de Deus. Mas Moisés predisse que um dia viria outro profeta como ele. (Dt 18.15-19) Cristo como sacerdote: No Antigo Testamento, os sacerdotes eram designados por Deus para oferecer sacrifícios. Eles também ofereciam orações e louvores a Deus em favor do Semanário Teológico Matthew Henry\ Curso Básico de Teologia 16 povo. Ao agir assim “santificavam” as pessoas, ou tornavam-nas aceitáveis à presença de Deus, se bem que de forma limitada durante o período do Antigo Testamento. No Novo Testamento, Jesus tornou-se nosso grande sumo sacerdote. Esse tema é bem desenvolvido na carta aos Hebreus, na qual vemos que Jesus atua como sacerdote de duas maneiras. (Hb 4.14-5.5) Jesus ofereceu um sacrifício perfeito pelo pecado. O sacrifício que Jesus ofereceu pelos pecados não foi o sangue de animais como touros ou bodes: “... porque é impossível que o sangue de touros e bodes remova pecados” (Hb 10.4). Em vez disso, Jesus ofereceu a si mesmo como sacrifício perfeito: “... ao se cumprirem os tempos, se manifestou uma vez por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado” (Hb 9.26). Jesus nos aproxima continuamente de Deus. Os sacerdotes do Antigo Testamento não apenas apresentavam sacrifícios, mas também compareciam de modo representativo na presença de Deus, de tempos em tempos, em favor do povo. Mas Jesus faz muito mais do que isso. Como nosso perfeito sumo sacerdote, ele continuamente nos conduzà presença de Deus, de forma que não temos mais a necessidade de um templo em Jerusalém nem de um sacerdócio especial que se coloque entre nós e Deus. Como sacerdote, Jesus ora continuamente por nós. Outra função sacerdotal no Antigo Testamento era orar a favor das pessoas. O autor de Hebreus nos diz que Jesus também cumpre essa função: “... também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles” (Hb 7.25). Paulo afirma a mesma coisa quando diz que Cristo Jesus é aquele que intercede por nós (Rm 8.34). Cristo como rei: No Antigo Testamento o rei tinha autoridade para governar a nação de Israel. No Novo Testamento, Jesus nasceu para ser o Rei dos judeus (Mt 2.2), mas recusou todas as tentativas feitas pelo povo para fazê-lo um rei terreno com um poder militar e político terreno (Jo 6.15). Ele disse a Pilatos: “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui” (Jo 18.36). CONCLUSÃO É de fundamental importância para o servo do Senhor que foi chamado ao ministério da Palavra, o conhecimento correto da Pessoa e da obra de Cristo. Como já fiz menção no início deste trabalho, o cristianismo é Cristo; e uma deficiência no conhecimento da pessoa e obra de Cristo gera deficiência direta a nossa fé cristã. É obvio que não podemos explicar os mistérios de Deus; o sobrenatural nascimento virginal de Cristo, a Trindade, as duas naturezas de Cristo, os pormenores do ‘’kenosis’’; mas a nós que lidamos com a ministração da Palavra, pesa a responsabilidade de investigar a Escritura para chegar a uma definição da doutrina bíblica, solida e organizada. Olhando para a pré-existência de Cristo, Sua eternidade, Sua coexistência com o Pai na eternidade, e sua imutabilidade; temos a convicção de termos um Salvador Divino. O fato miraculoso do nascimento virginal de Cristo é um elo doutrinário, para a Semanário Teológico Matthew Henry\ Curso Básico de Teologia 17 compreensão de tanto da Cristologia, como da Soteriologia. O nascimento virginal de Jesus Cristo, e todos os mistérios que o envolve, respalda nossa fé não apenas num Salvador Divino, mas também em um Salvador humano capaz de compadecer de nossas fraquezas, e efetuar através da Sua morte a salvação perfeita; e pela Sua ressurreição e ascensão a garantia inquestionável dessa salvação. Passando por estes parâmetros da Cristologia chegamos a uma definição doutrinaria biblicamente coerente. Cremos em um Cristo Divino, pré-existente, mas que se manifestou em carne, nascendo da virgem sem pecado. Que morreu, mas ressuscitou dentre mortos, e que, glorificado está a destra do Pai. Por esta razão ‘’nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder e sabedoria de Deus (1 Co 1.23,24). BIBLIOGRAFIA BANCRFT, Emery H. – Teologia Elementar – Editora Batista Regular – 1ª Ed. 1966. THIESSEM, Henry Clarence – Palestras em Teologia Sistemática – Imprensa Batista Regular 1ª Ed. em português – 1987. BERKHOF, Louis Berkhof. Teologia Sistemática. São Paulo. Editora Cultura Cristã.GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo. Vida Nova, 2002. Semanário Teológico Matthew Henry\ Curso Básico de Teologia
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