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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE 
Centro de Ensino à Distância 
 
Manual do Curso de Licenciatura em Ensino da Língua 
Portuguesa 
 
Introdução aos Estudos Literários 
Código: P0182 
 
 
 
 Módulo único 
24 Unidades 
 
 
 
 
 
 
 
 
Direitos de autor 
 Este manual é propriedade da Universidade Católica de Moçambique, Centro de Ensino à 
Distância (CED) e contém reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou 
reprodução deste manual, no seu todo ou em partes, sob quaisquer formas ou por quaisquer 
meios (electrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de 
entidade editora (Universidade Católica de Moçambique-Centro de Ensino à Distância). O 
não cumprimento desta advertência é passivel a processos judiciais. 
 
 
Elaborado Por: dr. Lourenço Covane, 
Licenciado em ensino da Língua Portuguesa pela UP. 
Colaborador do Curso de Licenciatura em ensino da Língua Portuguesa no Centro de Ensino 
à Distância (CED) da Universidade Católica de Moçambique – UCM. 
 
 
 
 
 
Universidade Católica de Moçambique 
Centro de Ensino à Distância-CED 
Rua Correia de Brito No 613-Ponta-Gêa 
 
Moçambique-Beira 
Telefone: 23 32 64 05 
Cell: 82 50 18 44 0 
Fax:23 32 64 06 
E-mail: ced@ucm.ac.mz 
Web site: www.ucm.ac.mz 
 
Agradecimentos 
A Universidade Católica de Moçambique-Centro de Ensino à Distância e o autor do presente 
manual, dr. Lourenço Covane, agradecem a colaboração dos seguintes indivíduos e 
instituições: 
 
 
Pela Coordenação e edição do Trabalho: dr. Armando Artur (Coordenador do Curso de 
Licenciatura em Ensino da Língua 
Portuguesa, no CED); 
 
Pela Revisão Linguística: 
 
dr. Armando Artur (Coordenador do Curso de 
Licenciatura em Ensino da Língua 
Portuguesa, no CED) 
 Centro de Ensino à Distância i 
 
Índice 
Visão geral 5 
Bem-vindo à Introdução aos Estudos Literários ............................................................. 5 
Objectivos da cadeira .................................................................................................... 5 
Quem deveria estudar este módulo ................................................................................ 5 
Como está estruturado este módulo? .............................................................................. 5 
Ícones de actividade ...................................................................................................... 6 
Habilidades de estudo .................................................................................................... 6 
Precisa de apoio? ........................................................................................................... 7 
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) .............................................................................. 7 
Avaliação ...................................................................................................................... 7 
Unidade 01: Evolução Histórica e Semântica do Lexema Literatura 8 
Introdução 8 
Sumário ....................................................................................................................... 10 
Exercícios.................................................................................................................... 11 
Unidade 02: A Problemática de uma Definição Referencial 12 
do Conceito de Literatura 12 
Introdução 12 
Sumário ....................................................................................................................... 13 
Exercícios.................................................................................................................... 13 
Unidade 03: Ficcionalidade e Intertextualidade na Obra Literária 14 
Introdução 14 
Exercícios.................................................................................................................... 16 
Unidade 04: Do conceito da Literatura ao conceito da Literariedade 17 
Introdução 17 
Sumário ....................................................................................................................... 18 
Exercícios.................................................................................................................... 18 
Unidade 05: Arte e Estética 20 
Introdução 20 
Obra de Arte: 22 
Sumário ....................................................................................................................... 23 
Exercícios.................................................................................................................... 23 
Unidade 06: Texto Literário vs texto Não-Literário 24 
Introdução 24 
 Centro de Ensino à Distância ii 
 
Exercícios.................................................................................................................... 26 
Unidade 07: Função da Literatura 27 
Introdução 27 
Sumário ....................................................................................................................... 32 
Exercícios.................................................................................................................... 33 
Unidade 08: Semiose Literária: Sistema, Código (s) e Texto Literário 34 
Introdução 34 
Sumário ....................................................................................................................... 35 
Exercícios.................................................................................................................... 35 
Unidade 09: Divisão Tripartida dos Géneros Literários: 36 
(Poética de Aristóteles e Platão) 36 
Introdução 36 
Sumário ....................................................................................................................... 39 
Exercícios.................................................................................................................... 39 
Unidade 10: Diversidade dos Géneros Literários: Teoria de Horácio 40 
Introdução 40 
Sumário ....................................................................................................................... 41 
Exercícios.................................................................................................................... 41 
Unidade 11: Teoria romântica dos Géneros Literários: 42 
(Defesa do hibridismo) 42 
Introdução 42 
Sumário ....................................................................................................................... 43 
Exercícios.................................................................................................................... 43 
Unidade 12: O Género Romance 44 
Introdução 44 
Exercícios.................................................................................................................... 46 
Unidade 13: O conceito de Géneros literários na estética de Croce: 47 
(Unicidade e indivisibilidade) 47 
Introdução 47 
 Centro de Ensino à Distância iii 
 
Sumário ....................................................................................................................... 47 
Exercícios.................................................................................................................... 47 
Unidade 14: Conceito dos géneros literários propostos por Lukács. 49 
Introdução 49 
Sumário ....................................................................................................................... 50 
Exercícios.................................................................................................................... 50 
Unidade 15: Teoria Jakobsiana da função poética 51 
Introdução 51 
Sumário .......................................................................................................................53 
Exercícios.................................................................................................................... 53 
Unidade 16: A Crise dos Géneros Literários 55 
Introdução 55 
Sumário ....................................................................................................................... 56 
Exercícios.................................................................................................................... 57 
Unidade 17: O Conceito de Períodos Literários 58 
Introdução 58 
Sumário ....................................................................................................................... 60 
Exercícios.................................................................................................................... 61 
Unidade 18: Períodos literários: periodizção 62 
Introdução 62 
Sumário ....................................................................................................................... 68 
Exercícios.................................................................................................................... 68 
Unidade 19: Níveis e Métodos de Análise textual: 70 
Introdução 70 
Sumário ....................................................................................................................... 72 
Exercícios.................................................................................................................... 72 
Unidade 20: Níveis e Métodos de Análise textual: 73 
Introdução 73 
Sumário ....................................................................................................................... 74 
Exercícios.................................................................................................................... 74 
Unidade 21: Conceito de Estilo e Análise Estilística 75 
Introdução 75 
 Centro de Ensino à Distância iv 
 
Sumário ....................................................................................................................... 77 
Exercícios.................................................................................................................... 77 
Unidade 22: Géneros e modos literários: O Lírico 78 
Introdução 78 
Exercícios.................................................................................................................... 80 
Unidade 23: Géneros e modos Literários: o Narrativo 82 
Introdução 82 
Exercícios.................................................................................................................... 85 
Unidade 24: Géneros e modos Literários: O Texto Drmático 87 
Introdução 87 
Sumário ....................................................................................................................... 90 
Exercícios.................................................................................................................... 90 
 
 Centro de Ensino à Distância 5 
 
Visão geral 
Bem-vindo à Introdução aos Estudos Literários 
 
Você tem em suas mãos o módulo Único da cadeira de Introdução 
aos Estudos Literários (IEL). A sua abordagem centrar-se-á no 
estudo dos conceitos básicos de literatura, como sejam: o conceito 
de literatura, o de literariedade, géneros literários, o sistema 
semiótico literário, períodos e periodização literária, entre outros. 
É legítimo afirmar que estamos no início de uma longa abordagem 
de uma ciência tão antiga quanto o próprio mundo em que 
vivemos. 
Objectivos da cadeira 
 
 
Objectivos 
 
Quando terminar o estudo de Introdução aos Estudos 
Literários, o estudante (cursante) será capaz de: 
 
 Adquirir conceitos fundamentais para os estudos literários, e para 
a exploração de textos literários nas aulas de língua Portuguesa; 
 Reflectir sobre a génese histórico-cultural do lexema literatura; 
 Compreender o conceito de géneros literários ao longo do tempo; 
 Conhecer os períodos literários e sua periodização; 
 Analisar textos de categoria literária diversa e de épocas 
diferentes. 
 
 
Quem deveria estudar este módulo 
 
Este módulo foi concebido para todos aqueles Estudantes 
candidatos ao Curso de Licenciatura em Ensino da Língua 
Portuguesa, que devido a sua situação laboral, não têm a 
oportunidade de poder estar num sistema de ensino totalmente 
presencial. 
 
Como está estruturado este módulo? 
Todos os manuais das cadeiras dos cursos oferecidos pela 
Universidade Católica de Moçambique-Centro de Ensino à 
 
 Centro de Ensino à Distância 6 
 
Distância (UCM-CED) encontram-se estruturados da seguinte 
maneira: 
Páginas introdutórias 
Um índice completo. 
Uma visão geral detalhada da cadeira, resumindo os aspectos-
chave que você precisa conhecer para completar o estudo. 
Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção 
antes de começar o seu estudo. 
Conteúdo da cadeira 
A cadeira está estruturada em unidades de aprendizagem. Cada 
unidade incluirá, o tema, uma introdução, objectivos da unidade, 
conteúdo da unidade incluindo actividades de aprendizagem, um 
sumário da unidade e uma ou mais actividades para auto-
avaliação. 
Outros recursos 
Para quem esteja interessado em aprender mais, apresentamos uma 
lista de recursos adicionais para você explorar. Estes recursos 
podem incluir livros, artigos ou sites na internet. 
Tarefas de avaliação e/ou Auto-avaliação 
Tarefas de avaliação para esta cadeira, encontram-se no final de 
cada unidade. Sempre que necessário, dão-se folhas individuais 
para desenvolver as tarefas, assim como instruções para as 
completar. Estes elementos encontram-se no final do manual. 
Comentários e sugestões 
Esta é a sua oportunidade para nos dar sugestões e fazer 
comentários sobre a estrutura e o conteúdo da cadeira. Os seus 
comentários serão úteis para nos ajudar a avaliar e melhorar este 
manual. 
 
Ícones de actividade 
Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas 
margens das folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes 
partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela 
específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança 
de actividade, etc. 
Habilidades de estudo 
Caro estudante, procure reservar no mínimo 2 (duas) horas de 
estudo por dia e use ao máximo o tempo disponível nos finais de 
semana. Lembre-se que é necessário elaborar um plano de estudo 
individual, que inclui, a data, o dia, a hora, o que estudar, como 
estudar e com quem estudar (sozinho, com colegas, outros). 
 
 Centro de Ensino à Distância 7 
 
Lembre-se que o teu sucesso depende da sua entrega, você é o 
responsável pela sua própria aprendizagem e cabe a se planificar, 
organizar, gerir, controlar e avaliar o seu próprio progresso. 
Evite plágio. 
Precisa de apoio? 
Caro estudante: 
Os tutores têm por obrigação monitorar a sua aprendizagem, daí o 
estudante ter a oportunidade de interagir objectivamente com o 
tutor, usando para o efeito os mecanismos apresentados acima. 
Todos os tutores têm por obrigação facilitar a interacção. Em caso 
de problemas específicos, ele deve ser o primeiro a ser contactado, 
numa fase posterior contacte o coordenador do curso e se o 
problema for da natureza geral, contacte a direcção do CED, pelo 
número 825018440. 
Os contactos só se podem efectuar nos dias úteis e nas horas 
normais de expediente. 
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) 
O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios), contudo 
nem todas deverão ser entregues, mas é importante que sejam 
realizadas. Só deverão ser entregues os exercícios que forem 
indicados pelo Tutor. Isto, antes do período presencial.Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, 
contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados, 
respeitando os direitos do autor. 
Avaliação 
A avaliação da cadeira será controlada da seguinte maneira: 
 Três (3) Trabalhos realizados pelos estudantes, sendo 
divididos em três sessões presenciais de acordo com a 
programação do Centro. 
 Dois (2) Testes escritos em presença e um (1) exame no 
fim do ano. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Centro de Ensino à Distância 8 
 
 
Unidade 01: Evolução Histórica e Semântica do Lexema Literatura 
 
Introdução 
De uma forma particular, far-se-á nesta unidade a introdução dos 
conceitos básicos do estudo do conceito de literatura, as diferentes 
significações que o lexema literatura foi assumindo ao longo dos 
tempos. 
 
Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de: 
 
Objectivos 
 
 
 Conhecer o conceito de literatura; 
 Compreender a história semântica do conceito literatura; 
 Reflectir sobre a polissemia do lexema literatura. 
 
 
 
 
 
A questão sobre o termo literatura remete para uma pluralidade de 
conceitos complexos e não raro ambíguos. Este termo pode 
assumir significações diversas, é, portanto, fortemente 
polissémico. À partida, e simplificadamente, podemos dizer que a 
literatura pertence ao campo das artes (arte verbal), que o seu meio 
de expressão é a palavra e que a sua definição está comummente 
associada à ideia de estética/ valor estético. 
 
Etimologicamente, o lexema deriva do latim litteratura, a partir de 
littera, letra, aparentemente. Portanto, o conceito de literatura 
parece estar implicitamente ligado à palavra escrita ou impressa, à 
arte de escrever, à erudição. 
 
Nas línguas europeias, a palavra “literatura” designou em regra, 
até ao século XVIII, o saber, conhecimento, as artes e as ciências 
em geral. Até à segunda metade desse século, para designar 
especificamente a arte verbal, o corpus textual, eram utilizadas 
palavras como “poesia”, “verso” e “prosa” (que hoje 
reconhecemos enquanto classificação de géneros literários). 
 
Desde meados do século XVIII – tem o significado que hoje lhe 
damos. Até aí, a palavra existia mas com um sentido diferente: 
 
 Centro de Ensino à Distância 9 
 
designava, de modo geral, o que estava escrito e o seu conteúdo, o 
conhecimento. 
 
O vocábulo “literatura” durante o século XVIII, continuando ainda 
a designar o conjunto das obras escritas e dos conhecimentos nelas 
contidos, passa a adquirir uma acepção mais especializada, 
referindo-se especialmente às “belas artes”, ganhando assim uma 
conotação estética e passando a denominar-se a arte que se 
exprime pela palavra. Saliente-se que, ao significar a arte que se 
exprime pela palavra, o lexema assume desde logo uma referência 
nacional, enquanto conjunto da produção literária de determinado 
país. 
 
É na segunda metade do século XVIII que Voltaire (1827) 
caracteriza a literatura como forma particular de conhecimento 
que implica valores estéticos e uma particular relação com as 
letras. Na mesma linha de análise, Diderot (1751) define a 
literatura como arte e como o conjunto das manifestações dessa 
arte, os textos impregnados de valores estéticos. Diderot 
documenta dois novos e importantes significados com que o 
lexema “literatura” será crescentemente utilizado a partir da 
segunda metade do século XVIII: específico fenómeno estético, 
específica forma de produção, de expressão e de comunicação 
artísticas e corpus de objectos – os textos literários – resultante 
daquela particular actividade de criação estética. Digamos então, 
à partida, que o fenómeno literário se traduz em duas dimensões: 
por um lado, a actividade de criação ou produção literária; por 
outro, o texto, o corpus textual de determinada colectividade, de 
determinado grupo, de determinada época. 
 
Tal evolução, porém, não se quedou aí, prosseguiu ao longo dos 
séculos XIX e XX. Vejamos, em rápido esboço, as mais relevantes 
acepções adquiridas pela palavra neste período de tempo: 
 
a) Conjunto da produção literária de uma época – literatura do 
século XVIII, literatura victoriana -, ou de uma região – pense-se 
na famosa distinção de Mme. de Staël entre "literatura do norte" e 
"literatura do sul", etc. Trata-se de uma particularização do sentido 
que a palavra apresenta na obra de Lessing (Briefe die 
Literaturbetreffend). 
 
b) Conjunto de obras que se particularizam e ganham feição 
especial quer pela sua origem, quer pela sua temática ou pela sua 
intenção: literatura feminina, literatura de terror, literatura 
revolucionária, literatura de evasão, etc. 
 
c) Bibliografia existente acerca de um determinado assunto. Ex: 
"Sobre o barroco existe uma literatura abundante...". Este sentido 
é próprio da língua alemã, donde transitou para outras línguas. 
 
 
 Centro de Ensino à Distância 10 
 
d) Retórica, expressão artificial. Verlaine, no seu poema Art 
poétique, escreveu: "Et tout le reste est littérature", identificando 
pejorativamente "literatura" e falsidade retórica. Este significado 
depreciativo do vocábulo data do final do século XIX e é de 
origem francesa. 
 
Com fundamento nesta acepção de "literatura", originou-se e tem-
se difundido a antinomia "poesia -literatura", assim formulada por 
um grande poeta espanhol contemporâneo: "[...] ao demónio da 
Literatura, que é somente o rebelde e sujo anjo caído da Poesia." 
 
e) Por elipse, emprega-se simplesmente "literatura" em vez de 
história da literatura. 
 
f) Por metonímia, "literatura" significa também manual de história 
da literatura. 
 
g) "Literatura" pode significar ainda conhecimento organizado do 
fenómeno literário. Trata-se de um sentido caracteristicamente 
universitário da palavra e manifesta-se em expressões como 
literatura comparada, literatura geral, etc. 
 
A história da evolução semântica da palavra imediatamente nos 
revela a dificuldade de estabelecer um conceito incontroverso de 
literatura. Como é óbvio, dos múltiplos sentidos mencionados nos 
interessa apenas o de literatura como actividade estética, e, 
consequentemente, como os produtos, as obras daí resultantes. 
Não cedamos, porém, à ilusão de tentar definir por meio de uma 
breve fórmula a natureza e o âmbito da literatura, pois tais 
fórmulas, muitas vezes inexactas, são sempre insuficientes. 
 
 
 
 
 
Sumário 
 
 
A história da evolução semântica da palavra imediatamente nos 
revela a dificuldade de estabelecer um conceito incontroverso de 
literatura. Como é óbvio, dos múltiplos sentidos mencionados nos 
interessa apenas o de literatura como actividade estética, e, 
consequentemente, como os produtos, as obras daí resultantes. 
Não cedamos, porém, à ilusão de tentar definir por meio de uma 
breve fórmula a natureza e o âmbito da literatura, pois tais 
fórmulas, muitas vezes inexactas, são sempre insuficientes. 
 
 Centro de Ensino à Distância 11 
 
 
Exercícios 
1. De uma forma sucinta, apresente o significado que o 
conceito de literatura foi adquirindo ao longo dos tempos. 
2. Como é que se definiu a literatura na segunda metade do 
século XVIII? 
3. Porquê se considera que o conceito de literatura 
polissémico? 
4. Diga em que aspectos o conceito de literatura definido 
por Voltaire difere com o de Diderot? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Centro de Ensino à Distância 12 
 
 
 
Unidade 02: A Problemática de uma Definição Referencial 
do Conceito de Literatura 
 
 
Introdução 
Oque acabamos de abordar atrás deixa antever as dificuldades 
inerentes ao estabelecimento de uma definição do conceito de 
literatura, um conceito fortemente polissémico, nesta unidade 
vamos reflectir sobre a problemática e objecções que estão por de 
trás desse fenómeno. 
 
Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de: 
 
Objectivos 
 
 
 
 
 
 Analisar as diferentes vertentes que dificultam o 
estabelecimento de um conceito consensual da literatura; 
 Identificar autores que questionam o epicentro da 
literatura. 
 
 
A busca de uma definição para a literatura faz parte das 
preocupações de vários teóricos e críticos. Adentra-se os seguintes 
autores que se dedicaram ao assunto: Tolstoi, com O que é arte? 
(Paris : Perrin, 1898); Jakobson, com “O que é poesia?” 
(Questions de poétique. Paris : Seuil, 1973), Charles Du Bois, com 
O que é literatura ? (Paris : Plon, 1945) e também Jean-Paul 
Sartre, com O que é literatura? (Paris : Gallimard, 1948). Em 
virtude da impossibilidade de se solucionar o enigma, Barthes 
teria concluído: “Literatura é aquilo que se ensina, e ponto final”. 
Isto porque diferentes épocas e culturas vêem diferentemente a 
literatura, e objecções são levantadas em relação às definições até 
então elaboradas. 
 
Em geral, as respostas às perguntas não diferenciam 
adequadamente duas ordens de objectos que, embora sociocultural 
e funcionalmente indissociáveis, devem todavia ser consideradas 
como distintas, tanto sob ponto de vista ontológico como os ponto 
de vista epistemológico e lógico. Por um lado, é necessário 
considerar a literatura como sistema semiótico de significação de 
comunicação; por outro a literatura como conjunto ou soma de 
todas as obras ou textos literários. 
 
 
 Centro de Ensino à Distância 13 
 
É sintomático, aliás, verificar que às perguntas, anteriormente 
indicadas, muitos autores acabam por responder com tentativas de 
definição ou de caracterização da obra literária. 
 
Torna-se extremamente difícil, senão impossível estabelecer um 
conceito de literatura rigorosamente delimitado intencional e 
extensionalmente que apresente validade pancrónica e universal, 
dado que: 
 
a) Inexistem traços peculiares a certos textos de modo a distingui-
los dos textos não-literários, isto é, não há uma “essência” da 
literatura; 
 
b) Não se observa um denominador comum entre todas as obras 
literárias, a não ser o emprego da linguagem; 
 
c) O critério de valor que qualifica um texto como literário não é 
literário nem teórico, mas ético, social e ideológico; 
 
d) A definição de literatura não depende da natureza do que é lido, 
mas da maneira pela qual as pessoas lêem um texto; 
 
Sumário 
Porque é difícil, senão impossível estabelecer um conceito de 
literatura rigorosamente delimitado intencional e extensionalmente 
que apresente validade pancrónica e universal, tal como deixamos 
antever é, desaconselhável impor dogmaticamente à 
heterogeneidade das obras literárias durante séculos. 
Mas, essas objecções e as dúvidas sobre a impossibilidade de uma 
definição referencial de literatura são pertinentes sob ponto vários 
aspectos, porque obrigam a reexaminar com novo rigor soluções 
teóricas rotineiras, e revelam-se também, nalguns pontos muito 
importantes, mal fundamentadas, teoricamente inconsistentes e 
empiricamente irrefutáveis. 
Exercícios 
1. Refira-se à problemática que preside a dificuldade de uma 
definição referencial da literatura. 
2. Por que será relevante reflectirmos sobre as objecções e 
dúvidas sobre a definição referencial do fenómeno 
literário? 
 
 
 
 
 Centro de Ensino à Distância 14 
 
Unidade 03: Ficcionalidade e Intertextualidade na Obra Literária 
 
Introdução 
 
O texto literário é, sempre, sob modalidades várias, um 
intercâmbio, discursivo no qual se entrucruzam, se 
metamorfoseiam, se corroboram ou se contestam outros textos, 
outras vozes e outras consciências, pois é reflexo de algo de 
imaginação que não existe particularizado na realidade de todos, 
mas no espírito de, apenas seu criador. Por esse motivo, nesta 
unidade, propomo-nos em falar especificamente da ficcionalidade 
e intertextualidada numa obra literária. 
 
 
 
Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de: 
 
Objectivos 
 
 
 Explicar por que razão um texto literário é uma obra de 
ficção. 
 Compreender que o texto ficcional é simultaneamento 
um intertexto. 
 
 
Ficcionalidade e semântica do texto literário 
 
A literatura é chamada de ficção, isto é, imaginação de algo que 
não existe particularizado na realidade, mas no espírito de seu 
criador. O objecto da criação poética não pode, portanto, ser 
submetido à verificação extratextual. 
 
A literatura cria o seu próprio universo, semanticamente autónomo 
em relação ao mundo em que vive o autor, com seus seres 
ficcionais, seu ambiente imaginário, seu código ideológico, sua 
própria verdade: pessoas metamorfoseadas em animais, animais 
que falam a linguagem humana, tapetes voadores, cidades 
fantásticas, amores incríveis, situações paradoxais, sentimentos 
contraditórios, etc. 
 
Mesmo a literatura mais realista é fruto de imaginação, pois o 
carácter ficcional é uma prerrogativa indeclinável da obra literária. 
Se o facto narrado pudesse ser documentado, se houvesse perfeita 
 
 Centro de Ensino à Distância 15 
 
correspondência entre os elementos do texto e do extratexto, 
teríamos então não arte, mas história, crónica, biografia. 
 
A obra literária, devido à potência especial da linguagem poética, 
cria uma objectualidade própria, um heterocosmo contextualmente 
fechado. Essa realidade nova, criada pela ficção poética, não deixa 
de ter, porém, uma relação significativa com o real objectivo. 
Ninguém pode criar a partir do nada: as estruturas linguísticas, 
sociais e ideológicas fornecem ao artista o material sobre o qual 
ele constrói o seu mundo de imaginação. 
 
A teoria clássica da arte como mímese da vida é sempre válida, 
quer se conceba a arte como imitação do mundo real, quer como 
imitação de um mundo ideal ou imaginário. 
 
A ficcionalidade não caracteriza de modo suficiente o texto 
literário – há ficções não literária, desde as ficções mitológicas até 
às lendárias mas constitui uma propriedade necessária para a sua 
existência. A ficcionalidade1 manifesta-se textualmente em dois 
níveis. No nível da enunciação, pois o autor textual e o narrador 
são co-referenciais com o autor empírico e produzem textos que 
não dependem, imediata e explicitamente, de um contexto de 
situação actual; no nível dos referentes textuais. 
 
A afirmação de que o texto literário carece de referentes não nos 
parece correcta2, excepto se se entender restritivamente por 
referentes os objectos do mundo real. Os enunciados do texto 
literário também denotam e fazem referência, simplesmente “ 
constituem uma ficcionalizaçao d acto de denotar, manifestam 
uma pseudo-referencialidade, porque as condições e os objectos 
da referência são produzidos pelo próprio texto (por isso a pseudo-
referencialidade se identifica, sob váriaos aspectos, com auto-
referencialidade). 
 
Os referentes do texto literário constituem objectos de ficção, isto 
é, objectos que não não existem no mundo empírico, que não são 
factualmente verdadeiros. 
 
Texto, intertextualidade3 e intertexto 
Todo o texto verbal apresenta como dimensão construtiva 
múltiplas relaçoes dialógicas com outros textos. Estas relações 
pressupõem necessariamente a langue, que possibilita e garante a 
interindividualidade dos signos, mas não existem no sistema 
linguístico, manifestando-se a nível da enunciação e, por 
conseguinte, da produação textual.1 Conjunto de regras pragmáticas que prescrevem como estabelecer as possíveis 
relações entre o mundo construido pelo texto literário e o mundo empírico, 
actual. 
2 Aguiar & Silva (2002: 640), Teoria da Literatura, 8.ª ed. Lisboa, Almedina. 
3 Ver unidade 20. 
 
 Centro de Ensino à Distância 16 
 
O texto é sempre, sob modalidades várias, um intercâmbio, 
discursivo no qual se entrucruzam-se, se metamorfoseiam, se 
corroboram ou se contestam outros textos, outras vozes e outras 
consciências. 
Definindo-se intertextualidade como a interacção semiótica de um 
texto com outros textos, definir-se-á intertexto como o texto ou o 
corpus de textos com os quais um determinado texto mantém 
aquele tipo de interacção. Michael Riffaterre, como intento de 
evitar as ambiguidades e imprecisões resultantes de um conecito 
muito lato de intertexto, propõe que se defina a intertextualidade 
como uma relação regida por uma identidade estrutural, devendo 
ser considerados o texto e o seu sobredeterminado pelo 
hipograma. 
Pode-se afirmar, porém que o fenómeno da intertextualidade 
desempenha, quer na produção, quer na recepção literárias, uma 
função relevante, que não encontra paralelo em qualquer outra 
classe de textos. 
A intertextualidade desempenha uma função complexa e 
contraditória nos processos de homeostase e de mudança do 
sistema semiótico literário. Por um lado, a intertextualidade 
representa a força, a autoridade e o prestígio da memória do 
sitema, da tradição literária. Por outro, a intertextualidade, porém, 
pode funcionar como meio de desqualificar, de contestar e destruir 
a tradição literária, o código literáio vigente. 
Quer a função corrobradora, quer a função contestatária da 
intertextualidade dependem imediatamente da metalinguagem 
literária , exemplo: a metaliguagem do neoclassicismo justifica, 
aconselha e impõe a função corroboradora, ao passo que a 
metalinguagem dos movimentos de vanguarda proclama a 
necessidade da função contestatária e subversiva e, mediatamente, 
da ideologia correlacionada com aquela metalinguagem. 
Exercícios 
1. Discorra sobre os conceitos de ficcionalidade e 
intertextualidade. 
2. “A obra literária, devido à potência especial da linguagem 
poética, cria uma objectualidade própria, um heterocosmo 
contextualmente fechado. Essa realidade nova, criada pela ficção 
poética, não deixa de ter, porém, uma relação significativa com o 
real objectivo.” 
a) Comente. 
3. Discorra sobre os conceitos de texto e intertexto. 
 
 
 Centro de Ensino à Distância 17 
 
Unidade 04: Do conceito da Literatura ao conceito da Literariedade 
 
Introdução 
Já reparou que nas unidades anteriores referimo-nos a vários 
problemas que tornam difícil encontrar respostas satisfatórias 
sobre o conceito de literária. Essa preocupação não termina nunca. 
Já no início do século XX, um grupo de teóricos da literatura, 
mais tarde denominados formalistas russos imaginou que seria 
possível determinar uma propriedade, presente nas obras literárias, 
que as caracterizaria como pertencentes à literatura. Para 
denominar esta propriedade, criaram o termo literaturnost, que foi 
traduzido para a língua portuguesa como literariedade. 
 
 Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de: 
 
Objectivos 
 
 
 
 
 
 Compreender o fenómeno da literariedade; 
 Identificar o movimento teórico que propõe o termo 
literariedade nas obras literárias. 
 
De acordo a proposta dos teóricos russos a que acabamos de 
apresentar-te, surgiu outra questão não menos relevante: Mas será 
que esta propriedade existiria mesmo? 
 
A resposta poderá ser decepcionante, para o leitor interessado 
apenas em opiniões definitivas e irrefutáveis, porque há 
argumentos tanto a favor de um sim quanto de um não. 
 
A argumentação positiva sustentaria que existe a "literariedade", 
porque podemos verificar objectivamente a existência de 
propriedades ou características que, quando presentes numa obra 
qualquer, permitem-nos não só classificá-la como literária, como 
também inscrevê-la num estilo de época. Nesta ordem de ideias a 
"literariedade" seria aquela propriedade, caracteristicamente 
"universal" do literário, que se manifestaria no "particular", em 
cada obra literária. 
 
Contudo, é bom lembrar que, em vez de imaginar que a 
"literariedade" é um universal que se manifesta no particular, 
podemos também supor o contrário: a "literariedade" seria um 
particular que se pretende universal. Nesta perspectiva, 
"literariedade" seria um rótulo que receberiam os critérios 
socialmente estabelecidos para se considerar uma obra como 
 
 Centro de Ensino à Distância 18 
 
pertencente à literatura. Assim, o pesquisador seleccionaria, dentre 
todas as obras de natureza verbal, aquelas que possuíssem a tal 
"literariedade", para formar a lista das obras reconhecidas como 
literárias. 
 
Por outro lado, a argumentação contra a existência de uma 
propriedade que possibilitasse a identificação de uma obra como 
literária afirma que o termo "literariedade" não teria um conteúdo 
permanente, mas variável. Em outras palavras, Roman Jakobson 
poderia ter-se equivocado, ao imaginar a "literariedade" como 
"aquilo que faz uma mensagem verbal uma obra de arte" porque 
"aquilo" variaria de acordo com o momento. Poderia ser algo 
diferente, caso adoptássemos o ponto de vista do Renascimento ou 
do Modernismo, por exemplo. 
 
No entanto, se concebermos a "literariedade" como sujeita a 
mudanças, será que isto não significaria que não podemos mais 
determinar, com um certo grau de precisão, o que vem a ser 
literatura? Como então ficariam os estudos literários, se seu 
objecto não tem delimitação precisa? 
 
Para começar, a própria mudança nos critérios e concepções sobre 
o que é literatura pode ser matéria de estudo para o estudioso da 
literatura. Quando se volta para o que o passado considerou 
literatura, ele confronta a sua perspectiva presente com as 
anteriores. Os modos de produção de sentido do presente 
interrogam os do passado, a formação social dele entra em 
contacto com outra formação, às vezes profundamente diferente 
da sua. Mas, se podemos verificar, em diversos momentos, 
modificações nas concepções e critérios sobre o que é literatura, 
será que isto nos conduziria necessariamente a um cepticismo de 
tal ordem que passaríamos a duvidar da própria possibilidade de 
existência de um objecto de pesquisa, suficientemente delimitado? 
Não, pois a mudança não implica necessariamente caos ou 
anomia. Na verdade, em cada período histórico podemos observar 
uma certa ordem, a partir da qual se estabelecem, com maior ou 
menor rigidez, as fronteiras do literário. 
 
Sumário 
Literariedade, é tudo o que faz com que uma obra seja literária: 
estranhamentos, tropos ou figuras de estilo, etc. 
Exercícios 
 
1. A "literariedade" seria aquela propriedade, caracteristicamente "universal" 
do literário, que se manifestaria no "particular", em cada obra literária” 
 
 Centro de Ensino à Distância 19 
 
a) Comente a citação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Centro de Ensino à Distância 20 
 
Unidade 05: Arte e Estética 
 
Introdução 
Nesta unidade, centrar-nos-emos na diferenciação dos termos 
estética, natureza e funções da Arte, o que nos vai permitir 
sobremaneira compreender o que constitui ou não a obra de 
criação artística, bem como os princípios que regulam os desvios à 
normas artísticas. 
 
Ao completar esta unidade / lição,você será capaz de: 
 
Objectivos 
 
 
 
 
 
 Diferenciar os termos arte e valores estéticos; 
 Diferenciar os termos útil e Belo; 
 
 
 
Arte = unidade do eterno e do novo, aparentemente impossível, 
realizada pelos e para os humanos. 
 
A arte pode ser o caminho do instituído ao instituinte. Um leve 
deslocamento do sentido instituído e a explosão de um outro 
sentido. Transfiguração do existente numa outra realidade, que o 
faz renascer sob a forma de uma obra. 
 
As obras de arte realizam o desvendamento do mundo recriando o 
mundo noutra dimensão e de tal maneira que a realidade não está 
aquém e nem na obra, mas é a própria obra de arte. 
 
Arte vem do latim ars que corresponde ao termo grego techne 
(técnica), significando: o que é ordenado ou toda espécie de 
actividade humana submetida a regras. Seu campo semântico se 
define em oposição ao acaso, ao espontâneo e ao natural. Assim 
sendo, arte é um conjunto de regras para dirigir uma actividade 
humana qualquer. 
 
Nessa perspectiva falamos em arte médica, poética, política, 
bélica, retórica etc. Platão não a distinguia das ciências nem da 
Filosofia, uma vez que, como a arte, estas são actividade 
ordenadas. Aristóteles estabelece uma distinção entre acção 
(práxis) e fabricação (poiesis). A política e a ética são ciências da 
acção. As artes ou técnicas são actividades de fabricação. 
 
 
 Centro de Ensino à Distância 21 
 
Plotino distingue técnicas ou artes cuja finalidade é auxiliar a 
Natureza (medicina, agricultura) daquelas cuja finalidade é 
fabricar um objecto com os materiais oferecidos pela Natureza 
(artesanato). Distingue também outro conjunto de técnicas que não 
se relacionam com a Natureza, mas apenas com o homem, para 
torná-lo melhor ou pior (música e retórica, por exemplo). 
 
A classificação das técnicas ou artes seguirá um padrão calcado na 
estrutura social fundada na escravidão, que despreza o trabalho 
manual. O historiador romano Varrão ofereceu uma classificação 
que perdurou do séc. II d.C. ao séc XV: artes liberais (gramática, 
retórica, lógica, geometria, astronomia e música – própria dos 
homens livres) e artes mecânicas (medicina, arquitectura, 
agricultura, pintura, escultura, olaria, tecelagem etc – própria do 
trabalhador manual). 
 
Essa classificação será justificada por Santo Tomás de Aquino 
(Idade Média) como diferença entre as artes que dirigem o 
trabalho da razão e as artes que dirigem o trabalho das mãos. 
Somente a alma é livre e o corpo é uma prisão. Assim as artes 
liberais são superiores as artes mecânicas. 
 
A partir da Renascença, com o humanismo que dignifica o corpo 
humano, passa-se a valorizar as artes mecânicas. Além disso, a 
medida que o capitalismo se desenvolve, o trabalho passa a ser 
considerado fonte e causa de riquezas. 
 
No final do séc. XVII e a partir do XVIII, distinguiram-se as 
finalidades das artes mecânicas: as que tem por finalidade serem 
úteis aos homens (medicina, agricultura, culinária, artesanato) e 
aquelas cuja finalidade é o belo (pintura, escultura, arquitectura, 
poesia, música, teatro, dança). Com a ideia do belo surge as sete 
artes ou belas artes. 
Com a distinção entre o útil e o belo, leva a noção da arte como 
acção individual vinda da sensibilidade do artista como génio 
criador. 
 
Com a criação do belo (finalidade da arte) torna-se inseparável a 
figura do público, que julga e avalia o objecto artístico conforme 
tenha realizado ou não a beleza. Surge o conceito de juízo de 
gosto, estudado amplamente por Kant. 
Génio criador (do lado do artista) beleza, (do lado da obra); juízo 
de gosto (do lado do público) constituem os pilares sobre os quais 
se erguerá uma disciplina filosófica: a estética. 
Porém, desde o final do século XIX e durante o séc. XX, 
modificou-se a relação entre arte e técnica. As artes passaram a ser 
concebidas menos como criação genial e mais como expressão 
criadora, isto é, como transfiguração do visível, do sonoro, do 
movimento, da linguagem, dos gestos em obras artística. 
 
 
 Centro de Ensino à Distância 22 
 
A arte não perde, necessariamente, seu vínculo com a ideia de 
beleza, mas a subordina a outros valores. As artes não pretendem 
imitar a realidade, nem pretendem ser ilusões sobre a realidade, 
mas exprimir por meios artísticos, a realidade. 
Obra de Arte: 
 sensibiliza; 
 emociona; 
 atrai; 
 choca; 
 chama atenção; 
 desperta curiosidade; 
 identidade; 
 cria asbstracção; 
 deleita 
Estética 
O significado da beleza e a natureza da arte têm sido objecto da 
reflexão de numerosos autores desde as origens do pensamento 
filosófico, mas somente a partir do século XVIII, com a obra de 
Kant, a estética começou a configurar-se como disciplina 
filosófica independente. 
Ciência da criação artística, do belo, ou filosofia da arte, a estética 
tem como temas principais a génese da criação artística e da obra 
poética, a análise da linguagem artística, a conceituação dos 
valores estéticos, as relações entre forma e conteúdo, a função da 
arte na vida humana e a influência da técnica na expressão 
artística. Os primeiros teóricos da estética foram os gregos, mas 
como "ciência do belo" a palavra aparece pela primeira vez no 
título da obra do filósofo alemão Alexander Gottlieb Baumgarten, 
Æesthetica (1750-1758). A partir dessa obra, o conceito de estética 
restringiu-se progressivamente até chegar a referir-se à reflexão e 
à pesquisa sobre os problemas da criação e da percepção 
estética. 
O objecto da estética, segundo Hegel, é o belo artístico, criado 
pelo homem. A raiz da arte está na necessidade que tem o homem 
de objectivar seu espírito, transformando o mundo e se 
transformando. Não se trata de imitar a natureza, mas de 
transformá-la, a fim de que, pela arte, possa o homem exprimir a 
consciência que tem de si mesmo. O valor ou o significado da arte 
é proporcional ao grau de adequação entre a ideia e a forma, 
proporção que permite a divisão e classificação das artes. 
 
 
 Centro de Ensino à Distância 23 
 
Sumário 
Arte refere-se a toda a espécie de actividade humana submetida a 
regras, ou melhor, conjunto de regras para dirigir uma actividade 
humana qualquer. 
Estética “ciência do belo” 
 
 
Exercícios 
 
1. Diga qual é a relação existente entre arte e estética. 
2. Refira-se às funções da arte. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Centro de Ensino à Distância 24 
 
Unidade 06: Texto Literário vs texto Não-Literário 
 
Introdução 
 
O Texto Literário distingue-se, nomeadamente, pelo facto de 
transformar a realidade, servindo-se dela como modelo para a 
arquitectar mundos “fantásticos”, que só existem textualmente e 
que se estabelecem através da metáfora, da caricatura, da alegoria 
e pela verosimelhança. Esta perpectiva literária é sobre a qual nos 
propomo delimitar o conceito do texto literário. 
 
 
Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de: 
 
Objectivos 
 
 
 
 
 
 Distinguir o texto literário do não-literário. 
 
 
 
Texto Literário, Texto Não-Literário 
 
Imaginemos que, na comunicação quotidiana, alguém nos diga a 
seguinte frase: 
 
"Uma flor nasceu no chão da minha rua!" 
 
Conforme as circunstâncias em que é dita, isto é, de acordo com a 
situação de fala, entendemos que se refere a algo que realmente 
ocorreu, corresponde a um facto anterior ao seu enunciado e de 
fácil comprovação. Mesmo diante de sua transcrição escrita, o que 
nela se comunica basicamente permanece. 
 
Num ou noutro caso, para trazer essa informação, o nosso 
interlocutor selecionou uma sériede palavras do idioma que nos é 
comum e, de acordo com as regras que presidem o seu 
funcionamento e que todos conhecemos, as dispôs numa 
sequência. A selecção feita e a sucessão estabelecida conferem à 
frase uma significação que pode ser submetida à prova da verdade 
em relação à realidade imediata. Como é fácil concluir, é isso que 
acontece ao nos comunicarmos no dia-a-dia do nosso convívio 
social. 
 
Retomemos a nossa frase inicial, agora ligeiramente modificada e 
combinada com outros elementos: 
 
 
 Centro de Ensino à Distância 25 
 
Uma flor nasceu na rua! 
Passem de longe, bondes, ônibus, rios de aço do tráfego. 
Uma flor ainda desbotada 
ilude a polícia, rompe o asfalto. 
Façam completo silêncio, paralisem os negócios, 
Garanto que uma flor nasceu 
Sua cor não se percebe. 
Suas pétalas não se abrem. 
Seu nome não está nos livros. 
É feia. Mas é realmente uma flor. 
 
Percebemos, desde logo, que estamos diante de uma utilização 
especial da língua que falamos. O ritmo que caracteriza o texto, a 
natureza do que se comunica e, ao chegar até nós por escrito, a 
distribuição das palavras no espaço do papel, justificam essa 
conclusão. A nossa frase-exemplo depende também, como acto 
linguístico que é, da gesticulação e da entoação que a 
acompanharem ao ser enunciada; por força, entretanto, de sua 
situação nesse conjunto e da associação com as demais afirmações 
que a ela se vinculam, abre-se para um sentido múltiplo, ganha 
marcas de ambiguidade: no contexto do fragmento transcrito e da 
totalidade do poema de que faz parte – "A flor e a náusea", de 
Carlos Drummond de Andrade – podemos entender essa flor como 
esperança de mudança, por exemplo. Mas esse sentido que o texto 
a ela confere não reproduz nenhuma realidade imediata; nasce tão-
somente do próprio texto. A flor dessa rua deixa de ser um 
elemento vegetal para alçar-se à condição de símbolo, ganha uma 
significação que vai além do real concreto e que passa a existir em 
função do conjunto em que a palavra se encontra. É claro que os 
versos remetem a uma realidade dos homens e do mundo, mas 
muito mais profunda do que a realidade imediatamente perceptível 
e traduzida no discurso comum das pessoas. É o que acontece com 
essa modalidade de linguagem, a linguagem da literatura, tanto na 
prosa, como nas manifestações em verso. 
 
Na prosa, por exemplo, podemos encontrar a palavra flor em 
outro contexto linguístico e com outro sentido, que lhe é conferido 
exactamente por essa nova circunstância: trata-se do romance 
Memórias Póstumas de Brás Cubas, onde o termo parece numa 
afirmação vinculada a um famoso personagem criado pelo 
escritor: "Uma flor, o Quincas Borba". 
 
Aí está um conteúdo inteiramente distinto do que se configura no 
poema drummondiano e que só pode ser percebido plenamente, na 
força de sua causticante ironia, quando a frase é considerada na 
totalidade do romance de que faz parte. É possível perceber a 
estreita relação entre a dimensão linguística e a dimensão 
literária que envolve a significação das palavras quando estas 
integram o sistema semiótico que é o texto literário. 
 
 
 Centro de Ensino à Distância 26 
 
Os três exemplos que acabamos de examinar permitem algumas 
conclusões: A fala ou discurso é, no uso quotidiano, um 
instrumento da informação e da acção e não exige, no mais das 
vezes, atitude interpretativa. A significação das palavras, nesse 
caso, tem por base o jogo de relações configuradoras do idioma 
que falamos. A fala comum se caracteriza pela transparência. O 
mesmo não acontece com o discurso literário. Este encontra-se a 
serviço da criação artística. O texto da literatura é um objecto de 
linguagem ao qual se associa uma representação de realidades 
físicas, sociais e emocionais mediatizadas pelas palavras da língua 
na configuração de um objecto estético. O texto repercute em nós 
na medida em que revele emoções profundas, coincidentes com as 
que em nós se abriguem como seres sociais. O artista da palavra, 
compartícipe da nossa humanidade, incorpora elementos dessa 
dimensão que nos são culturalmente comuns. Nosso entendimento 
do que nele se comunica passa a ser proporcional ao nosso 
repertório cultural, enquanto receptores e usuários de um saber 
comum. 
 
O discurso literário traz, em certa medida, a marca da opacidade: 
abre-se a um tipo específico de descodificação ligado à capacidade 
e ao universo cultural do receptor. 
 
Já se percebe o alto índice de multisignificação dessa modalidade 
de linguagem que, de antemão, quando com ela travamos 
contacto, sabemos ser especial e distinta da modalidade própria do 
uso quotidiano. Quem se aproxima do texto literário sabe a priori 
que está diante de manifestação da literatura. 
 
 
Exercícios 
 
1. Por palavras suas, distinga o texto literário do não literário. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Centro de Ensino à Distância 27 
 
Unidade 07: Função da Literatura 
 
Introdução 
Desde os primeiros tempos em que o homem começou a estudar a 
arte literária, o questionamento sobre natureza e função da 
literatura tem sido assunto de muitas controvérsias. Nesta unidade, 
portanto, vamos analisar a função da literatura ao longo dos 
tempos. 
Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de: 
 
Objectivos 
 
 
 
 
 
 
 identificar as funções que a literatura foi adquirindo dos 
tempos, desde Horácio à contempraneidade. 
 
Os conhecidos versos de Horácio que assinalam com finalidade da 
poesia aut prodesse aut delectare, não implicam um conceito de 
poesia autónoma, de uma poesia exclusivamente fiel a valores 
poéticos, ao lado de uma poesia pedagógica. O prazer, o dulce 
referido por Horácio e mencionado por uma longa tradição 
literária europeia de raiz horaciana, conduz antes a uma concepção 
hedonista da poesia, o que constitui ainda um meio de tornar 
dependente, e quantas vezes de subalternizar lastimavelmente, a 
obra poética. 
 
De feito, até meados do século XVIII, confere-se à literatura, 
quase sem excepção, ou uma finalidade hedonista ou uma 
finalidade pedagógico-moralista. E dizemos quase sem excepção, 
porque alguns casos se podem mencionar nos quais se patenteia 
com maior ou menor acuidade a consciência da autonomia da 
literatura. Calímaco, por exemplo, característico representante da 
cultura helenística, procura e cultiva uma poesia original, rica de 
belos efeitos sonoros, de ritmos novos e gráceis, alheia a 
motivações morais. Séculos mais tarde, alguns trovadores 
provençais transformaram a sua actividade poética numa autêntica 
religião da arte, consagrando-se de modo total à criação do poema 
e ao seu aperfeiçoamento formal, excluindo dos seus propósitos 
qualquer intenção utilitária. Um fino conhecedor da literatura 
medieval, o Prof. Antonio Viscardi, escreve a este respeito: "O 
que conta é a fé nova da arte, em que todos observam e praticam 
com devoção sincera". Desta fé nasce o sentido trovadoresco da 
arte que é o fim de si mesma. A arte pela arte é descoberta dos 
trovadores. 
 
Já atrás nos referimos, acerca das doutrinas da arte pela arte, a 
 
 Centro de Ensino à Distância 28 
 
uma importante finalidade frequentemente assinalada à literatura: 
a evasão. Em termos genéricos, a evasão significa sempre a fuga 
do eu a determinadas condições da vida e do mundo, de um 
mundo imaginário, diverso daquele de que se foge, e que funciona 
como sedativo, como ideal compensação, como objectivação de 
sonhos e de aspirações. 
 
A evasão, como fenómeno literário, é verificável quer no escritor 
quer no leitor. Deixando para ulterior e breve análise o casodeste 
último, examinemos primeiramente os principais aspectos da 
evasão no plano do criador literário. 
 
Na origem da necessidade que o escritor experimenta de se evadir, 
podem actuar diversos motivos. Entre os mais relevantes, contam-
se os seguintes: 
 
a) Conflito com a sociedade: o escritor sente a mediocridade, a 
vileza e a injustiça da sociedade que o rodeia e, numa atitude de 
amargura e de desprezo, foge a essa sociedade e refugia-se na 
literatura. Este problema da incompreensão e do conflito entre o 
escritor e a sociedade agravou-se singularmente a partir do pré-
romantismo, em virtude sobretudo das doutrinas de Rousseau 
acerca da corrupção imposta ao homem pela sociedade, e atingiu 
com o romantismo uma tensão exasperada. Nesta oposição em que 
se defrontam o escritor e a sociedade, desempenha primacial papel 
o sentimento de unicidade que existe em todo o artista autêntico. 
 
b) Problemas e sofrimentos íntimos que torturam a alma do 
escritor e aos quais este foge pelo caminho da evasão. A 
inquietação e o desespero dos românticos – o mal du siècle – estão 
na origem da fuga ao circunstante e do anélito por uma realidade 
desconhecida. O tédio, o sentimento de abandono e de solidão, 
a angústia de um destino frustrado constituem outros tantos 
motivos que abrem a porta da evasão. 
 
c) Recusa de um universo finito, absurdo e radicalmente 
imperfeito. Geralmente, esta recusa envolve um sentido 
metafísico, pois implica uma tomada de posição perante os 
problemas da existência de Deus, da finalidade do mundo, do 
significado do destino humano, etc. Lembremos a revolta dos 
românticos ante o mundo finito, ou a fuga dos surrealistas de um 
mundo falsificado pela razão. 
 
A evasão do escritor pode realizar-se, no plano da criação literária, 
de diferentes modos: 
 
(i) Transformando a literatura numa autêntica religião, numa 
actividade tiranicamente absorvente no seio da qual o artista, 
empolgado pelas torturas e pelos êxtases da sua criação, esquece o 
mundo e a vida. Flaubert e Henry James são dois altíssimos 
 
 Centro de Ensino à Distância 29 
 
exemplos desta evasão através do culto fanático da arte. 
 
(ii) Evasão no tempo, buscando em épocas remotas a beleza, a 
grandiosidade e o encanto que o presente é incapaz de oferecer. 
Assim os românticos cultivaram frequentemente, pelo mero gosto 
da evasão, os temas medievais, tal como os poetas da arte pela 
arte, como vimos, se deleitaram com a antiguidade greco-latina. 
 
(iii) Evasão no espaço, manifestando-se pelo gosto de paisagens, 
de figuras e de costumes exóticos. O Oriente constituiu em todos 
os tempos copiosa fonte de exotismo, mas não devemos esquecer 
outras regiões igualmente importantes sob este aspecto, como a 
Espanha e a Itália para os românticos (Gautier, Mérimée, 
Stendhal) e as vastas regiões americanas para alguns autores pré-
românticos e românticos (Prévost, Saint-Pierre, Chateubriand, 
escritores indianistas do romantismo brasileiro, etc.). 
 
(iv) A infância constitui um domínio privilegiado da evasão 
literária. Perante os tormentos, as desilusões e as derrocadas da 
idade adulta, o escritor evoca sonhadoramente o tempo perdido da 
infância, paraíso distante onde vivem a pureza, a inocência, a 
promessa e os mitos fascinantes. 
 
(v) A criação de personagens constitui outro processo 
frequentemente utilizado pelo escritor, particularmente pelo 
romancista, para se evadir. A personagem, plasmada segundo os 
mais secretos desejos e desígnios do artista, apresenta as 
qualidades e vive as aventuras que o escritor para si baldadamente 
apetecera. 
 
(vi) O sonho, os paraísos artificiais provocados pelas drogas e 
pelas bebidas, a orgia, etc., representam outros processos de 
evasão com larga projecção na literatura. A literatura romântica e 
simbolista oferece muitos exemplos destas formas de evasão. 
 
Actividade 1 
 
1. Umas das funções da literatura é o evasionismo. Em 
termos gerais, diga o que significa o termo evasão. 
 
2. Diga como se pode realizar a evasão de escritor no plano 
da criação literária. 
 
 
Função da literatura segundo Platão e Aristóteles 
 
Na estética platónica aparece o problema da literatura como 
conhecimento, embora o filósofo conclua pela impossibilidade de 
a obra poética poder ser um adequado veículo de conhecimento. 
 
 
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Segundo Platão, a imitação poética não constitui um processo 
revelador da verdade, assim se opondo à filosofia que, partindo 
das coisas e dos seres, ascende à consideração das Ideias, 
realidade última e fundamental; a poesia, com efeito, limita-se a 
fornecer uma cópia, uma imitação das coisas e dos seres que, por 
sua vez, são uma mera imagem (phantasma) das Ideias. Quer 
dizer, por conseguinte, que a poesia é uma imitação de imitações e 
criadoras de vãs aparências. 
 
Este mesmo problema assume excepcional relevo em Aristóteles, 
pois na Poética claramente se afirma que "a Poesia é mais 
filosófica e mais elevada do que a História, pois a Poesia conta de 
preferência o geral e, a História, o particular". Por conseguinte, 
enquanto Platão condena a mimese poética como meio inadequado 
de alcançar a verdade, Aristóteles considera-a como instrumento 
válido sob o ponto de vista gnosiológico: o poeta, diferentemente 
do historiador, não representa factos ou situações particulares; o 
poeta cria um mundo coerente em que os acontecimentos são 
representados na sua universalidade, segundo a lei da 
probabilidade ou da necessidade, assim esclarecendo a natureza 
profana da acção humana e dos seus móbeis. O conhecimento 
assim proposto pela obra literária actua depois no real, pois se a 
obra poética é "uma construção formal baseada em elementos do 
mundo real", o conhecimento proporcionado por essa obra tem de 
iluminar aspectos da realidade que a permite. 
 
Actividade 2 
 
Platão e Aristóteles contradizem-se quanto ao conhecimento 
como finalidade fundamental da literatura. Comente. 
 
 
Função da literatura no Romantismo 
 
Apenas com o romantismo e a época contemporânea voltou a ser 
debatido, com profundidade e amplidão, o problema da literatura 
como conhecimento. Na estética romântica, a poesia é concebida 
como a única via de conhecimento da realidade profunda do ser, 
pois o universo aparece povoado de coisas e de formas que, 
aparentemente inertes e desprovidas de significado, constituem a 
presença simbólica de uma realidade misteriosa e invisível. O 
mundo é um gigantesco poema, uma vasta rede de hieróglifos, e o 
poeta decifra este enigma, penetra na realidade invisível e, através 
da palavra simbólica, revela a face oculta das coisas. Schelling 
afirma que a "natureza é um poema de sinais secretos e 
misteriosos" e von Arnim refere-se à poesia como a forma de 
conhecimento da realidade íntima do universo: o poeta é o vidente 
que alcança e interpreta o desconhecido, reencontrando a unidade 
primordial que se reflecte analogicamente nas coisas. "As obras 
poéticas, acentua von Arnim, não são verdadeiras daquela verdade 
 
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que esperamos da história e que exigimos dos nossos semelhantes, 
nas nossas relações humanas; elas não seriam o que procuramos, o 
que nos procura, se pudessem pertencer inteiramente à terra. 
Porque toda a obra poética reconduz ao seio da comunidade eterna 
o mundo que, ao tornar-se terrestre, daí se exilou. Chamamos 
videntes os poetas sagrados; chamamos vidência de uma espécie 
superior à criação poética...". 
 
Nestes princípios da estética romântica encontra-se já 
explicitamente formulado o tema do poeta vidente de Rimbaud, o 
poeta da aventura luciferiana rumo ao desconhecido: "Digo que é 
necessário ser vidente, fazer-se vidente.– O Poeta torna-se 
vidente através de um longo, imenso e racional desregramento de 
todos os sentidos. 
 
Inefável tortura em que tem necessidade de toda a fé, de toda a 
força sobre-humana, em que se torna, entre todos, o grande 
doente, o grande criminoso, o grande maldito, - e o supremo 
Sábio! – Porque chega ao desconhecido!" Assim a poesia se 
identifica com a experiência mágica e a linguagem poética se 
transforma em veículo do conhecimento absoluto, ou se volve 
mesmo, por força encantatória, em criadora de realidade. 
 
Através sobretudo de Rimbaud e de Lautréamont, a herança 
romântica da poesia como vidência é retomada pelo surrealismo, 
que concebe o poema como revelação das profundezas 
vertiginosas do eu e dos segredos da supra-realidade, como 
instrumento de perquisição psicológica e cósmica. A escrita 
automática representa a mensagem através da qual o mistério 
cósmico – o "acaso objectivo" (le hasard objectif), na terminologia 
do movimento surrealista – se desnuda ao homem; e a intuição 
poética, segundo Breton, fornece o fio que ensina o caminho da 
gnose, isto é, o conhecimento da realidade supra-sensível, 
"invisivelmente visível num eterno mistério". 
 
Actividade 3 
 
 
Explique por palavras tuas a finadade da literatura, de acordo 
com a estética romântica. 
 
Função da literatura na época contemporânea 
 
Contemporaneamente, a questão da literatura como conhecimento 
tem preocupado particularmente a chamada estética simbólica ou 
semântica – representada sobretudo por Ernest Cassirer e Susanne 
Langer - , para a qual a literatura, longe de constituir uma diversão 
ou actividade lúdica, representa a revelação, através das formas 
simbólicas da linguagem, das infinitas potencialidades 
obscuramente pressentidas na alma do homem. Cassirer afirma 
 
 Centro de Ensino à Distância 32 
 
que a poesia é "a revelação da nossa vida pessoal" e que toda a 
arte proporciona um conhecimento da vida interior, contraposto ao 
conhecimento da vida exterior oferecido pela ciência, e Susanne 
Langer igualmente considera a literatura como revelação "do 
carácter da subjectividade", opondo o modo discursivo, próprio do 
conhecimento científico, ao modo apresentativo, próprio do 
conhecimento proporcionado pela arte. 
 
Para alguns estetas e críticos, porém, a literatura constitui um 
domínio perfeitamente alheio ao conhecimento, pois enquanto este 
dependeria do raciocínio e da mente, aquela vincular-se-ia ao 
sentimento e ao coração, limitando-se a comunicar emoções. A 
literatura, com efeito, não é uma filosofia disfarçada, nem o 
conhecimento que transmite se identifica com conceitos abstractos 
ou princípios científicos. Todavia, a ruptura total entre literatura e 
actividade cognoscitiva representa uma inaceitável mutilação do 
fenómeno literário, pois toda a obra literária autêntica traduz uma 
experiência humana e diz algo acerca do homem e do mundo. 
"Objectivação, de carácter qualitativo, do espírito do homem", a 
literatura exprime sempre determinados valores, dá forma a uma 
cosmovisão, revela almas – em suma, constitui um conhecimento. 
Mesmo quando se transforma em jogo e se degrada em factor de 
entretenimento, a literatura conserva ainda a sua capacidade 
cognoscitiva, pois reflecte a estrutura do universo em que se 
situam os que assim a cultivam. Longe de ser um divertimento de 
diletantes, a literatura afirma-se como meio privilegiado de 
exploração e de conhecimento da realidade interior, do eu 
profundo que as convenções sociais, os hábitos e as exigências 
pragmáticas mascaram continuamente: "A arte digna deste nome – 
escreve Marcel Proust – deve exprimir a nossa essência subjetiva e 
incomunicável. [...] O que não tivemos que decifrar, esclarecer 
através do nosso esforço pessoal, o que era claro antes de nós, não 
nos pertence. Não vem de nós próprios senão o que arrancamos da 
obscuridade que está em nós e que os outros não conhecem". 
 
Actividade 4 
 
A literatura afirma-se como meio privilegiado de exploração e 
de conhecimento da realidade interior, do eu profundo que as 
convenções sociais, os hábitos e as exigências pragmáticas 
mascaram continuamente. Comente. 
 
 
Sumário 
Cada período histórico produz sua literatura com uma marca 
particular, seja pelas técnicas de produção, ou seus modos de 
recepção e, sobretudo sua definição enquanto prática social e 
 
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actividade humana. Ao desses tempos a literatura desempenhou 
entre várias funções: prazer e o doce; evasão, conhecimento 
profundo do ser humano, diversão, etc. 
Exercícios 
 
1. Aponte a função da literatura desde horácio até a 
contemporaneidade. 
2. Diga em que reside o paradoxo da função da literatura 
concebido por Platão e Aristóteles. 
3. Quer o romantismo, quer a contemporaneidade discutem a 
literatura como um conhecimente. Identifique os aspectos 
diferenciadores. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Unidade 08: Semiose Literária: Sistema, Código (s) e Texto Literário 
 
Introdução 
Partindo do princípio de que o estudante já fez uma 
abordagem introdutória a conteúdos fundamentais desta 
disciplina, a presente unidade pretende alargar tais 
noções, particularmente no que diz respeito ao sistema 
semiótico literário. 
 
Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de: 
 
Objectivos 
 
 
 
 
 
 Definir o conceito de semiótica; 
 Caracterizar o sistema semiótico literário; 
 Distinguir o sistema modelizante primário do secundário; 
 Caracterizar o sistema semiótico literário, distinguindo – o 
dos outros. 
 
Semiótica 
A obra literária, como o próprio lexema “obra” denota, constitui o 
resultado de um fazer, de um produzir que, embora sendo também 
um processo de expressão, é necessária e primordialmente um 
processo de significação e de comunicação. 
 
[os semioticistas soviéticos] concebem as línguas naturais como 
sistemas modelizantes primários, e os sistemas semióticos 
culturais (arte, religião, mito, folclore, etc.), que se instituem, se 
organizam e desenvolvem sobre os sistemas modelizantes 
primários, como sistemas modelizantes secundários. 
 
O sistema semiótico literário representa assim um peculiar sistema 
modelizante secundário. Construindo-se sobre a língua natural, só 
podendo existir e desenvolver-se em indissolúvel interacção com a 
expressão e o conteúdo da língua natural, a literatura tem um 
sistema seu de signos e de regras para a sintaxe de tais signos, 
sistema que lhe é próprio e que lhe serve para transmitir 
comunicações peculiares, não transmissíveis com outros meios. A 
existência deste sistema semiótico, desta langue, é que possibilita 
a produção de textos literários e é que fundamenta a capacidade de 
estes mesmos textos funcionarem como objectos comunicativos no 
âmbito de uma determinada cultura. 
 
O texto literário é sempre codificado pluralmente: é codificado 
 
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numa determinada língua natural, de acordo com as normas que 
regulam esse sistema semiótico, e é codificado em conformidade 
com outro sistema semiótico, com outros códigos actuantes na 
cultura da colectividade em que se integra o seu autor / emissor: 
códigos métricos, códigos estilísticos, códigos retóricos, códigos 
ideológicos, etc. Esta pluricodificação gera um texto de 
informação altamente concentrada e quanto mais complexa for a 
estruturação de um texto, em função dos códigos que se 
intersectam, se combinam, se interinfluenciam na sua organização, 
tanto menor será a predizibilidade da sua informação e, por 
conseguinte,tanto mais rica esta se revelará. 
 
Nesta perspectiva, o código literário configura-se como um 
policódigo que resulta da dinâmica intersistémica e intra-sistémica 
de uma pluralidade de códigos e subcódigos pertencente ao 
sistema modelizante secundário que é a literatura e que entram em 
relação de interdependência – nuns casos, necessariamente; 
noutros casos, opcionalmente – com os códigos do sistema 
modelizante primário e com códigos de outros sistemas 
modelizantes secundários. 
 
Victor Manuel de Aguiar e Silva, Teoria da Literatura, Coimbra, 
Almedina, 1997, pp. 75, 95-6, 100 
Sumário 
O sistema semiótico literário representa assim um peculiar sistema 
modelizante secundário. 
O código literário configura-se como um policódigo que resulta da 
dinâmica inter e intra-sistémica de uma pluralidade de códigos e 
subcódigos pertencentes ao sistema modelizante secundário. 
Exercícios 
1. Defina semiótica 
2. “O código literário configura-se como um policódigo que 
resulta da dinâmica intersistémica e intra-sistémica de 
uma pluralidade de códigos e subcódigos pertencente ao 
sistema modelizante secundário”. Explique a citação. 
3. “O sistema semiótico literário representa assim peculiar 
sietema modelizante secundário, representa uma langue, 
na acepção semiótica do termo, que não coincide com a 
língua natural nem com extracto- funcional dessa”. Com 
base na transcrição, refira-se aos conceitos de sistema 
semiótico literário e de língua natural. 
 
 
 
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Unidade 09: Divisão Tripartida dos Géneros Literários: 
 (Poética de Aristóteles e Platão) 
 
Introdução 
O conceito de género literário tem sofrido múltiplas variações 
históricas desde a antiguidade helénica até os nossos dias e 
permanece como um dos mais árduos da estética literária. Como 
poderá ver daqui até a unidade dezasseis iremos apresentar as 
diferentes concepções sobre os géneros literários que se foram 
dando ao longo da história literária. 
 
Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de: 
 
Objectivos 
 
 
 
 
 
 Identificar a função e valor dos géneros literários; 
 Referir-se sobre os géneros literários na concepção de 
Platão e de Aristóteles. 
 
 
O problema dos géneros literários relaciona-se intimamente com 
outros problemas de fundamental magnitude, como as relações do 
individual e do universal, as relações entre visão do mundo e 
forma artística, a existência ou inexistência de regras, etc, e estas 
implicações agravam a complexidade do assunto. Os géneros 
literários Existem ou não? Se existem, como deve ser concebida a 
sua existência? E qual a sua função, o seu valor? 
 
Considerando a questão numa perspectiva diacrónica, 
encontramos para estas perguntas muitas e discordantes respostas. 
E como os valores literários se afirmam e actuam na história, o 
modo mais adequado de abordar o problema dos géneros literários 
será adoptar a perspectiva diacrónica e analisar as mais 
significativas soluções concedidas a tal problema no percurso da 
história. Platão, no livro III de A República, estabeleceu uma 
fundamentação e uma classificação dos géneros literários que, 
tanto pela sua relevância intrínseca como pela sua influência 
ulterior, devem ser consideradas como um dos marcos 
fundamentais da genologia, isto é, da teoria dos gêneros literários. 
 
Segundo Platão, todos os textos literários ("tudo quanto dizem os 
prosadores e poetas") são "uma narrativa de acontecimentos 
passados, presentes e futuros". Na categoria global da diegese, 
distingue Platão três modalidades: (i) a simples narrativa, (ii) a 
imitação ou mímese e (iii) uma modalidade mista, esta última, 
conformada pela associação das duas anteriores modalidades. A 
 
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simples narrativa, ou narrativa estreme, ocorre quando «é o 
próprio poeta que fala e não tenta voltar o nosso pensamento para 
outro lado, como se fosse outra pessoa que dissesse, e não ele»; a 
imitação, ou mímese, verifica-se quando o poeta como que se 
oculta e fala «como se fosse outra pessoa», procurando assemelhar 
«o mais possível o seu estilo ao da pessoa cuja fala anunciou», 
sem intromissão de um discurso explícita e formalmente 
sustentado pelo próprio poeta ("[...] é quando se tiram as palavras 
do poeta no meio das falas, e fica só o diálogo"); a modalidade 
mista da narrativa comporta segmentos de simples narrativa e 
segmentos de imitação. Estas três modalidades do discurso 
consubstanciam-se em três macro-estruturas literárias, em cada 
uma das quais são discrimináveis diversos géneros: "em poesia e 
em prosa há uma espécie que é toda de imitação, como tu dizes 
que é a tragédia e a comédia; outra, de narração pelo próprio poeta 
- é nos ditirambos que pode encontrar-se de preferência; e outra 
ainda constituída por ambas, que se usa na composição da epopéia 
e de muitos outros géneros". 
 
Assim, Platão lança os fundamentos de uma divisão tripartida dos 
géneros literários, distinguindo e identificando: 
 
(i) o género imitativo ou mimético, em que se incluem a 
tragédia e a comédia; 
 
(ii) o género narrativo puro, prevalentemente representado 
pelo ditirambo, e 
 
(iii) o género misto, no qual avulta a epopéia. Nesta tripartição, 
não é claro, nem a nível conceptual nem a nível 
terminológico, o estatuto da poesia lírica. 
 
 
Actividades 1 
 
1. Platão lança os fundamentos de uma divisão tripartida 
dos géneros literários. a) identifique e caracterize cada 
um deles. 
 
Segundo Aristóteles, a matriz e o fundamento da poesia consistem 
na imitação: «Parece haver, em geral, duas causas, e duas causas 
naturais, na génese da Poesia. Uma é que imitar é uma qualidade 
congénita nos homens, desde a infância (e nisso diferem dos 
outros animais, em serem os mais dados à imitação e em 
adquirirem, por meio dela, os seus primeiros conhecimentos); a 
outra, que todos apreciam as imitações.» A mímese poética, que 
não é uma literal e passiva cópia da realidade, uma vez que 
apreende o geral presente nos seres e nos eventos particulares - e, 
 
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por isso mesmo, a poesia se aparenta com a filosofia -, incide 
sobre «os homens em acção», sobre os seus caracteres (ethe), as 
suas paixões (pathe) e as suas acções (praxeis). A imitação 
constitui, por conseguinte, o princípio unificador subjacente a 
todos os textos poéticos, mas representa também o princípio 
diferenciador destes mesmos textos, visto que se consubstancia 
com meios diversos, se ocupa de objectos diversos e se realiza 
segundo modos diversos. 
 
Consoante os meios diversos com que se consubstancia a mímese, 
torna-se possível distinguir, por exemplo, a poesia ditirâmbica e os 
nomos, por um lado, pois que são géneros em que o poeta utiliza 
simultaneamente o ritmo, o canto e o verso, e a comédia e a 
tragédia, por outro, pois que são géneros em que o poeta usa 
aqueles mesmos elementos só parcialmente (assim, na tragédia e 
na comédia o canto é apenas utilizado nas partes líricas). 
 
Se se tomar em consideração a variedade dos objectos da mímese 
poética, isto é, dos «homens em acção», os géneros literários 
diversificar-se-ão conforme esses homens, sob o ponto de vista 
moral, forem superiores, inferiores ou semelhantes à média 
humana. Os poemas épicos de Homero representam os homens 
melhores, as obras de Cleofonte figuram-nos semelhantes e as 
paródias de Hegemão de Taso imitam-nos piores. A tragédia tende 
a imitar os homens melhores do que os homens reais e a comédia 
tende a imitá-los piores; a epopeia assemelha-se à tragédia por ser 
uma «imitação de homens superiores». 
 
Finalmente, da diversidade dos modos por que se processa a 
imitação procedem importantes

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