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ASPECTOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL - AULA02
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o constitucionalismo surge a partir do momento em que grupos sociais, racionalmente ou não, passam a contar com mecanismos de limitação do exercício do poder político. A definição aberta acontece de forma independente perante a existência de normas escritas ou de desenvolvimento teórico. Além disso, apesar de ser um termo um tanto recente, está ligado a uma ideia muito antiga: a existência de uma Constituição nos Estados, independentemente do momento histórico ou do regime político vigente naquela época. A noção de constitucionalismo está fortemente atrelada ao próprio desenvolvimento histórico dos inúmeros conceitos de constituição. Considerando exatamente o nível de racionalidade e de estruturação teórica com que foram estabelecidos tais mecanismos de limitação, costuma-se dividir o constitucionalismo em antigo e moderno (BERNARDES, 2012). CONSTITUCIONALISMO Segundo Stern (1987, p. 121), o constitucionalismo, não obstante apenas a ser um termo atual, está intimamente atrelado a uma imagem ancestral que seria a criação de uma Constituição: Nos Estados independente do momento histórico ou do regime político adotado, ainda que a Constituição em sentido moderno tenha surgido apenas a partir das Guerras Religiosas dos Séculos XVI e XVII, pode-se dizer que todos os Estados – mesmo os absolutistas ou totalitários – sempre possuíram uma norma básica, expressa ou tácita responsável por legitimar o poder soberano. Assim, o Constitucionalismo tem uma tendência a ser confundido com a história e com o surgimento da Constituição (STERN, 1987). CONSTITUCIONALISMO Ainda no entendimento de Stern (1987, p. 191), anteriormente a esse período, a Constituição era apenas instituto, ou seja, “um conjunto de normas desenvolvidas historicamente em geral, contratualmente conformadas, orientadas por teorias jusnaturalistas ou, simplesmente, por normas que tratavam da distribuição de poder resultante das forças existentes”. -> O que vem a ser o Jusnaturalismo? Jusnaturalismo é o direito natural, todos os princípios e direitos que temos, universais e imutáveis e independentes da vontade humana. CONSTITUCIONALISMO Como dispostas as relações entre constitucionalismo e Constituição e a confusão que se faz com o aparecimento da Constituição, podemos levar em consideração que o constitucionalismo pode acontecer independentemente de norma escrita, e que os grupos, de forma racional ou não, passam a respeitar mecanismos limitadores do poder. Por fim, a Constituição, por sua vez, diz respeito às próprias normas escritas. CONSTITUCIONALISMO ANTIGO O constitucionalismo antigo é definido como o “conjunto de princípios escritos ou costumeiros voltados à afirmação de direitos a serem confrontados perante o monarca, bem como à simultânea limitação dos poderes” (DOGLIANI, 1994, p. 152-153; CANOTILHO, 1998, p. 48). Ainda, segundo Bernardes (2012), pode-se dizer que o constitucionalismo antigo viveu várias fases, a fase embrionária, com a práxis política teocrática do povo hebreu. Em uma segunda fase, destaca-se a experiência democrática da Grécia antiga, especialmente nos séculos IV e V. Entende-se então que era um tipo de montante de princípios que podiam estar embutidos nos costumes ou ainda escritos. Garantiam alguns direitos das pessoas em relação aos seus governantes e, ainda, eram como uma barreira do poder de tais chefes. CONSTITUCIONALISMO MODERNO Já o constitucionalismo moderno, segundo Loewenstein (1976, p. 159- 160), caracteriza-se como o “conjunto de regras e princípios postos de modo consciente a partir das teorias e movimentos ideológicos voltados a organizar o Estado segundo sistemática que estabelecesse limitações ao poder político, além de direitos e garantias fundamentais em favor dos membros da comunidade”. Teve início na transição da monarquia absolutista para o Estado liberal, já no fim do século XVIII. É dessa fase, ademais, o esforço em documentar as constituições sob formas solenes, daí surgindo a tendência de “universalização da constituição escrita” (LOEWENSTEIN, 1976, p. 159-160). CONSTITUCIONALISMO MODERNO Locke, Montesquieu e Rousseau são apontados como os principais precursores do constitucionalismo moderno, exatamente porque nas ideias contratualistas difundidas se encontravam teorias sobre o Estado com base na vontade popular, de forma dissociada das explicações teológicas que até então serviam de fundamentos à titularidade do poder estatal. Entretanto, o constitucionalismo moderno não é movimento que se resuma a territórios ou a tempo determinados. Está presente em todas as intervenções voltadas a novas formas de ordenação e sistematização do Estado e do poder político. CONSTITUCIONALISMO MODERNO Assim, com as informações disponíveis, pode-se afirmar que o constitucionalismo supõe, no entendimento de Baracho (1986, p. 5-6): a) uma Constituição normalmente escrita, de forma a ser certa, definitiva e acessível, de modo que todos possam exercer seus direitos e sua dignidade humana; b) uma Constituição rígida, protegida contra as arbitrariedades do poder, ou seja, cujos procedimentos de reforma sejam especiais e dificultados; c) uma parte da Constituição dedicada à transcrição de direitos fundamentais básicos de qualquer cidadão contra o arbítrio do Estado; d) uma parte da Constituição destinada à organização racional do poder, tendo como princípio fundamental a divisão de poderes ou de funções, de modo a limitar a atuação do poder do Estado. CONSTITUCIONALISMO MODERNO ->>> Pode-se entender, então, por constitucionalismo moderno: regras e princípios organizadores do Estado sempre voltados à limitação dos poderes políticos e os estabelecimentos de regras referentes aos direitos e garantias fundamentais em favor do povo daquele país. <<<- PODER CONSTITUINTE – CONCEITO E FINALIDADE O poder constituinte é a expressão da vontade popular que representa o anseio da sociedade politicamente organizada. Tal poder delimita a estrutura do Estado e faz com que os representantes do povo possam alterar as normas constitucionais, passando de uma democracia direta para a representativa. “O poder constituinte é a manifestação soberana da suprema vontade política de um povo, social e juridicamente organizado” (MORAES, 2017, p. 41). Além disso, é originado da vontade popular de organizar a nossa sociedade de acordo com os chamados dogmas sociais. A vontade popular é condicionante e principal elemento formador. É a soberania de um povo, vontade política e, ainda, um autorizador da alteração constitucional. PODER CONSTITUINTE – CONCEITO E FINALIDADE A doutrina, segundo Moraes (2017, p. 41), aponta a contemporaneidade da ideia de “poder constituinte com a do surgimento de Constituições escritas, visando à limitação do poder estatal e à preservação dos direitos e garantias individuais”. “O poder constituinte é aquele exercido pelo primeiro de todos os legisladores mencionados, ou seja, é o poder de elaborar e modificar normas constitucionais. É, assim, o poder de estabelecer a Constituição de um Estado, ou de modificar a Constituição já existente" (PAULO; ALEXANDRINO, 2017, p. 75). PODER CONSTITUINTE – CONCEITO E FINALIDADE A teoria do poder constituinte foi inicialmente esboçada pelo francês Emmanuel Sieyes, alguns meses antes da Revolução Francesa, em sua obra Qu'est-ce que le Tiers-État? ("O que é o Terceiro Estado?"). “Inspirou-se nas ideias iluministas em voga no século XVIII, e foi aperfeiçoada pelos constitucionalistas franceses posteriores, com destaque para Carré de Malberg (que incorporou a ideia de soberania popular)” (PAULO; ALEXANDRINO, 2017, p. 75). O ponto fundamental da teoria, que pretende explicar que esta só poderia ser utilizada por Estados que adotam a Constituição escrita e rígida, e que faz com que haja o princípio da supremacia constitucional, seria entendido como a diferença entre poder constituinte e poderes constituídos. É o poder que cria a Constituição. PODER