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1 INTRODUÇÃO AO INTEMPERISMO LATERÍTICO E À LATERITIZAÇÃO COSTA 2007SIMEXMIN_2010

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1 
 
 
 
INTRODUÇÃO AO INTEMPERISMO LATERÍTICO 
E À LATERITIZAÇÃO 
 
 
Marcondes Lima da Costa, ver. 25.09.2019 
 
 
Capítulo V do livro: PROSPECÇÃO GEOQUÍMICA DE DEPÓSITOS MINERAIS 
METÁLICOS, NÃO METÁLICOS, ÓLEO E GÁS. OTAVIO LICHT, Carlos Siqueira 
Bandeira Mello, Cássio Roberto da Silva.. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de 
Geoquímica - SBGq / CPRM - Serviço Geológico do Brasil , p. 199-244. ISBN 
9788574990. 
 
Vide arquivo pdf. 
 
 
 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO AO INTEMPERISMO LATERÍTICO E À LATERITIZAÇÃO 
 
Marcondes Lima da Costa 
Professor da Universidade Federal do Pará 
e 
Pesquisador do CNPq 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2007 
 
 
 
 
 
 
 3 
SUMÁRIO 
RESUMO 
ABSTRACT 
INTRODUÇÃO 
OS LATERITOS COMO ROCHAS E A SUA DEFINIÇÃO NESTE TRABALHO 
A IMPORTÂNCIA DOS LATERITOS E DA LATERITIZAÇÃO 
Científica e Paleo-Ambiental 
Como Formador de Depósitos Minerais 
Impacto Sobre Agricultura 
Materiais de Construção 
A PAISAGEM DAS FORMAÇÕES LATERÍTICAS 
A ESTRUTURAÇÃO DAS FORMAÇÕES LATERITICAS EM HORIZONTES 
CARACTERÍSTICOS: A CONSTRUÇÃO DO PERFIL LATERÍTICO 
COBERTURAS MAIS FREQÜENTES 
ASPECTOS MINERALÓGICOS E TEXTURAIS 
Distribuição dos Minerais e sua Morfologia ao Longo do Perfil Laterítico 
COMPOSIÇÃO QUÍMICA E SUA RELAÇÃO MINERAL COM OS HORIZONTES 
E ROCHA-MÃE: GEOQUÍMICA 
BALANÇO GEOQUÍMICO 
MÉTODOS GEOCRONOLÓGICOS DE DATAÇÃO DAS FORMAÇÕES 
LATERÍTICAS 
IDADE E TEMPO DE FORMAÇÃO DE PERFIS LATERÍTICOS 
ISÓTOPOS DE OXIGÊNIO E HIDROGÊNIO 
FORMAÇÃO DE DEPÓSITOS MINERAIS 
Agradecimentos 
Referências Bibliográficas 
 
RESUMO 
 
Lateritos são produtos geológicos resultantes dos processos de lateritização, ou 
seja, formados pelo intemperismo tropical e paleotropical de rochas expostas à interação 
 
 
 4 
atmosfera-hidrosfera, manifestando-se através de perfis lateríticos, coletivamente 
denominados de formações lateriticas. Os perfis são estruturados em horizontes típicos 
(crosta, horizonte mosqueado/argiloso, saprolito e rocha-mãe) resultantes da diferenciação 
textural, estrutural, mineralógica, química (domínio de Fe2O3, Al2O3, SiO2 e H2O, 
dominantemente) e isotópica durante a formação do perfil ao longo do tempo geológico 
(desde o Proterozóico) em vários eventos distintos. Também são importantes processos 
formadores de depósitos minerais (Al, Fe, caulim, Ni, Mn, Au, Pt, Ti, P, etc.) e materiais de 
construção, além de constituírem registros paleoambientais inestimáveis. Os lateritos 
ocorrem em várias regiões da Terra, expostos ou soterrados, em regiões continentais ou 
mesmo marinhas e oceânicas, que embora formados desde o Proterozóico, concentram-se 
primordialmente no Cenozóico, nas atuais zonas intertropicais. Os perfis podem ser 
truncados pela erosão, transportados, deformados por tectônica, alterados por 
metamorfismo, diagênese e pedogênese, imprimindo-lhes mudanças mineralógicas, 
químicas e texturais. Estudo de detalhes das características texturais, mineralógicas e 
geoquímicas permitem identificar a natureza da rocha-mãe e ainda o grau evolutivo dos 
perfis. As datações por 40Ar/39Ar em OHMn, (U-Th)/He em goethita e técnicas de 
paleomagnetismo mostram que de fato os lateritos conhecidos são dominantemente do 
Cenozóico. 
 
ABSTRACT 
Laterites are geologic products of the lateritisation processes, resulting of the 
tropical and paleotropical weathering of exposed rocks to the interaction atmosphere-
hydrosphere, showing through lateritic profiles, collectively denominated of lateritic 
formations. The profiles are structured in typical horizons (crust, mottled and/or clay 
horizon, saprolite and parent-rock), which are resultants of the texture, structural, 
mineralogical, chemistry (domain of Fe2O3, Al2O3, SiO2 and H2O and isotopic 
differentiation during the formation of the profile along the geological time (since the 
Proterozoic) in several events. During this process several important ore mineral deposits 
(Al, Fe, kaolin, Ni, Mn, Au, Pt, Ti, P, etc.) and construction materials can be formed, 
besides they constitute invaluable paleoenvironmental records. The laterites occur in 
several areas of the Earth in continental areas or marine, exposed or buried. Although they 
 
 
 5 
were formed from Proterozoic, they concentrate mainly on Cenozoic, in the current 
intertropical zones. The profiles can be truncated by the erosion and transport, deformed for 
tectonic, altered by metamorphism, diagenesis or pedogenesis, printing them mineralogical 
changes, chemistries and textures. Textures, mineralogical and geochemical investigations 
allow identifying the parent-rock nature and stilling the evolutionary degree of the profiles. 
The 40Ar/39Ar in OHMn, (U-Th)/He in goethite and paleomagnetism techniques show that 
in fact the well-known laterites are of Cenozoic age, principally. 
 
Palavras-Chaves: Laterito, intemperismo laterítico, depósitos minerais lateríticos. 
 
 
 
 
 6 
INTRODUÇÃO 
 
Há exatamente 200 anos atrás, em 1807, Buchanan publicava as suas impressões 
sobre os materiais encontrados na região de Malabar, Estado de Kerala, no sudoeste da 
Índia, até então não registrados pelo mundo geológico, e que ele denominara de 
LATERITO: "What I have called indurated clay .... is one of the most valuable 
materials for building. It is diffused in immense masses, without any appearance of 
stratification and is placed over the granite that forms the basis of Malayala. It is full 
of cavities and pores and contains a very large quantity of iron in the form of red and 
yellow ochres. In the mass, while excluded from the air, it is so soft, that any iron 
instruments readily cuts it, and it dug up in square masses with a pick-axe, and 
immediately cut into the shape wanted with a trowel or large knife. It very soon after 
becomes as hard as brick, and resists the air and water much better than any bricks 
that I have seen in India... The most proper English name would be laterite, from 
lateritis, the appellation that may be given to it in science”. Later, do latim, que 
significa tijolo. Até hoje se continua cortando este material para produção de tijolos, 
endurecidos quando expostos em condições ambientais e sob o calor do sol, de forma 
artesanal (Kasturba et al, 2007). Os perfis lateríticos de Malabar derivam de basaltos, 
charnoquitos, gnaisses graníticos, entre outras, e se assemelham aos perfis lateríticos 
imaturos de Costa (1991) e amplamente distribuídos na América do Sul, em várias regiões 
da África, Austrália, e muitas ilhas e arquipélagos dos oceanos Índico e Pacífico. 
Representam assim os perfis lateríticos mais freqüentes encontrados na face da Terra. 
 
 Harrassowitz (1926) dedica um longo e à época completo texto ao intemperismo 
laterítico (Lateritverwitterung), enaltece o crescente conhecimento de então sobre lateritos, 
ressaltando as contribuições de Meigen’s (1911) e de Guillemain (1905) (in Harrassowitz, 
1926), de Lacroix (1913), Fox (1923) na Índia e de Walther (1915) na Austrália, cujo perfil 
descrito se tornou um clássico, semelhante ao de Buchanan, e portanto aos imaturos de 
Costa (1991), ressaltando a formação de linhas de pedras a partir do desmantelamento de 
veios de quartzo que atravessavam a rocha-mãe, e ainda a degradação, erosão e transporte 
da crosta ferruginosa, depositada em paleocanais, que ele reconhece como lateritos 
 
 
 7 
alóctones. Suas descrições, seus dados mineralógicos e químicos, e as interpretações 
deixadas são proféticas, pois até a presente data, se apresentam como atuais. Ele também 
foi capaz de identificar inclusive os processos de alterações dos lateritos e lateritos 
bauxíticos, e de demonstrar em detalhe como coberturas posteriores, tipo carvão e 
sedimentos de pântanos, modificaram a mineralogia e a composição química dos mesmos. 
Provavelmente este trabalho não tenha tido maior penetração na literatura internacional,em 
decorrência do idioma em que foi escrito, o alemão. 
 
Schellmann (1983) ao cumprir a filosofia do projeto IGCP 129 patrocinado pela 
UNESCO, após a realização de três Simpósios Internacionais sobre os Processos de 
Lateritização (Trivandrum, India, 12/1979; São Paulo, Brasil, 07/1982; Tokyo, Japan, 
10/1985.) propôs a seguinte definição para os lateritos: : Laterites are products of intense 
sub aerial rock weathering. They consist predominantly of mineral assemblages of 
goethite, hematite, aluminum hydroxides, kaolinite minerals and quartz. The SiO2: 
(Al2O3 + Fe2O3) ratio of a laterite must be lower than that of the kaolinized parent rock 
in which all the alumina of the parent rock is present in the form of kaolinite, all the 
iron in the form of iron oxides and which contains no more silica than is fixed in the 
kaolinite plus the primary quartz. Para tal fim apresentou uma fórmula matemática, para 
determinação de um índice, indicador de intemperismo laterítico: (ri) = SiO2/ (Al2O3 + 
Fe2O3). Este até hoje não teve ampla aceitação no mundo científico, por não ter aplicação 
prática, pelo fato das formações lateríticas derivarem dos mais diversos tipos de rochas, se 
refletindo em grande diversidade química e mineralógica. 
 
Schellmann (1983) também identificou distintos graus de lateritização com base no 
diagrama SiO2 – Al2O3 – Fe2O3 (Figura 5.1), classificando em kaolinisation (não sendo 
entendido como parte da lateritização), week lateritisation (lateritização incipiente), 
moderate laterisation (lateritização moderada), e strong lateritisation (lateritização 
intensa), o que representa a continua perda de SiO2 e o relativo ganho de Al2O3 e Fe2O3. 
Bourman & Ollier (2002) discordam frontalmente da definição de Schellmann (1983), 
mostrando que a base química não representa a amplitude química dos lateritos, 
constituindo uma simplificação muito grande e além de exigir análises químicas, que não 
 
 
 8 
estão disponíveis no campo, portanto a definição não teria praticidade. O diagrama da 
figura 5.2 proposto por Bourman & Ollier (2002) ilustraria a não praticidade desta 
definição. Além disso, segundo Bourman & Ollier (2002) Schellmann (1983) pressupõe 
que os perfis lateríticos sejam uniformes e formados simplesmente por movimentos 
verticais, por exemplo, a subida e descida do Fe. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 5.1– Diagrama ternário SiO2 – Al2O3 – Fe2O3 mostrando a classificação dos 
lateritos derivados de granitos e gnaisses graníticos, em caulinização (ou caulinitização), 
lateritização incipiente, lateritização moderada e lateritização intensa, segundo Schellmann 
(1983) e criticado por Bourman & Ollier (2002). 
 
 
 
 9 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 5.2 – Diagramas SiO2 – Al2O3 – Fe2O3, que representam respectivamente quartzo, 
gibbsita e hematita + goethita + maghemita, e ressaltam os diferentes materiais encontrados 
na zona ferruginosa dos perfis lateríticos, no entanto, com domínio maior de SiO2 e Fe2O3, 
convergindo assim para as zonas da caulinitização e da lateritização incipiente e moderada 
de Schellmann (1983). Modificado de Bourman & Ollier (2002). 
 
Para Bárdossy & Aleva (1990) os lateritos são produtos do intemperismo superficial 
ou próximo a superfície do terreno, de grande distribuição geográfica ao longo das regiões 
tropicais atuais da Terra, complementando a definição de Schellmann (1983), a qual os 
autores absorvem em sua essência. 
 
 
 
 10 
Tardy (1993) propõe: “Le terme latérite sera utilisé dans son sens le plus large pour 
désigner tous les matériaux meubles ou indurés qui constituent les sols, les horizons 
superficiels ainsi que les horisons profonds des profils d’altération du milieu 
intertropical actuel et des paléomilieux tropicaux anciens”. Mas reconhece ainda vários 
problemas seculares (controvérsias) não resolvidos até a atualidade. 
 
Recentemente Freyssinet et al (2005), em abrangente trabalho de revisão sobre a 
importância econômica dos processos de lateritização, assim definem a lateritização (eles 
não se reportam aos lateritos, mas a lateritização): 
 
“Lateritization is a weathering process, occurring under humid tropical climates, 
leading to the dissolution of most soluble elements, such as K, Na, Mg, Ca, and some 
Si, and accumulating less soluble elements, such as Fe and Al. The principal deposits 
of this type are bauxite, Ni (Co) laterite, and lateritic and saprolitic Au deposits, as 
well as some depoists of iron ore, Mn, Nb and/or phosphate, Pt, and U. Many of these 
commodities (e.g. Ni, Co, Al, U, Nb) have only been known to science in the last two 
centuries. Unlike gossans, most of the lateritic supergene deposits tend to be low 
grade, large tonnage, and, in the case of bauxite and Ni laterite, derived from sources 
that, although having high metal abundance, could not themselves necessarily be 
regarded as ores”. 
 
A própria enciclopédia digital on line Wikipedia em março de 2007 apresentava a 
seguinte definição para os lateritos: 
 
“Laterite is a surface formation in hot and wet tropical areas which is enriched in 
iron and aluminum and develops by intensive and long lasting weathering of the underlying 
parent rock. Nearly all kinds of rocks can be deeply decomposed by the action of high 
rainfall and elevated temperatures. The percolating rain water causes dissolution of primary 
rock minerals and decrease of easily soluble elements as sodium, potassium, calcium, 
magnesium and silicon. This gives rise to a residual concentration of more insoluble 
elements predominantly iron and aluminum. 
http://en.wikipedia.org/wiki/Parent_rock
 
 
 11 
Laterites consist mainly of the minerals kaolinite, goethite, hematite and gibbsite 
which form in the course of weathering. Moreover, many laterites contain quartz as 
relatively stable relic mineral from the parent rock. The iron oxides goethite and hematite 
cause the red-brown color of laterites. 
 
Laterites covers have mostly a thickness of a few meters but occasionally they can 
be much thicker. Their formation is favoured by a slight relief which prevents erosion of 
the surface cover. Laterites occurring in non-tropical areas are products of former 
geological epochs. Lateritic soils form the uppermost part of the laterite cover; in soil 
science specific names (oxisol, latosol, ferallitic soil) are given for them…. 
 
Laterites can be as well soft and friable as firm and physically resistant. Indurated 
varieties are sometimes cut in blocs and used as brickstones for house-building. The term 
laterite which is derived from the Latin word later = brickstone is given because of this 
usage. Most of the Khmer temples at Angkor are built with laterite and have survived for 
over 1000 years. Hardened laterite varieties are also applied for the construction of simple 
roads (laterite pists). Nowadays solid lateritic gravel is readily put in aquaria where it 
favors the growth of tropical plants. Lateritization is economically most important for the 
formation of lateritic ore deposits. 
 
OS LATERITOS COMO ROCHAS E A SUA DEFINIÇÃO NESTE TRABALHO 
Para Bárdossy & Aleva (1990) os LATERITOS são produtos do intemperismo. 
Comentam que, enquanto os pedólogos os têm como solos, os engenheiros os consideram 
como material de construção ou fundação e os geólogos, como eles dois, entendem como 
ROCHAS. Esses autores recomendam o estudo dos lateritos como ROCHAS e assim 
abordam em seu livro “Lateritic bauxites”. Desta forma os lateritos constituiriam o 
QUARTO GRUPO DE ROCHAS. Os lateritos seriam rochas residuais com uma 
composição mineralógica e química, além de texturas distintas de sua rocha-mãe. Portanto 
não podem ser considerados nem como rochas ígneas nem como sedimentares, e nem 
metamórficas. Este novo grupo de rochas requer sua classificação própria,terminologia e 
nomenclatura descritiva. 
http://en.wikipedia.org/wiki/Kaolinite
http://en.wikipedia.org/wiki/Goethite
http://en.wikipedia.org/wiki/Hematite
http://en.wikipedia.org/wiki/Gibbsite
http://en.wikipedia.org/wiki/Quartz
http://en.wikipedia.org/wiki/Oxisol
http://en.wikipedia.org/wiki/Angkor
http://en.wikipedia.org/wiki/Ore
 
 
 12 
 
Aleva (1981) já havia proposto uma nomenclatura para as formações lateriticas com 
base nos seus principais minerais formadores, gibbsita, caulinita e hematita+goethita 
(Figura 5.3). Esta nomenclatura, que também é classificatória, apresenta-se como uma boa 
aproximação do que hoje se entende por lateritos, no entanto, não tem tido aceitação na 
literatura. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 5.3 – Nomenclatura das distintas variações químico-mineralógicas (em termos de 
gibbsita, caulinita e hematita + goethita + maghemita) proposta por Aleva (1981). 
 
No presente trabalho os LATERITOS serão vistos como produtos geológicos 
resultantes dos processos de lateritização, ou seja, como rochas, formadas pelo 
intemperismo tropical e paleotropical a partir de qualquer tipo de rocha exposta à 
 
 
 
 13 
superfície dos terrenos ou próximo destes, sendo identificados através de perfis lateríticos, 
denominados coletivamente de formações lateriticas. Esses perfis são estruturados em 
horizontes típicos (crosta, horizonte mosqueado/argiloso, saprolito e rocha-mãe) que 
resultam da diferenciação textural, estrutural, mineralógica, química (Fe2O3, Al2O3, SiO2 e 
H2O, dominantemente) e isotópica durante a formação do perfil ao longo do tempo 
geológico (desde o Proterozóico) em vários eventos distintos. Como conseqüência são 
importantes processos formadores de depósitos minerais (Al, Fe, caulim, Ni, Mn, Au, Pt, 
Ti, P, etc.) e materiais de construção, além de constituírem registros paleoambientais 
inestimáveis. 
 
A IMPORTÂNCIA DOS LATERITOS E DA LATERITIZAÇÃO 
 
Científica e Paleo-Ambiental 
Mesmo não sendo materiais de atraente aparência os lateritos ou os produtos da 
lateritização têm atraído à atenção de pesquisadores em todos os continentes, 
principalmente nos terrenos da África, Ásia (Índia e Filipinas), Austrália e Nova Caledônia 
e América do Sul (Brasil, Venezuela, Colômbia, Guiana Francesa e Suriname) e países do 
Caribe, com importantes depósitos minerais (Fe, Al, Mn, Ni, Au, etc.). Entre os inúmeros 
trabalhos destacam-se, além de Buchanan (1807) na Índia, Harrasowitz (1926) na Índia, 
África e Alemanha; Maignien (1966), Millot (1970), Thomas (1974), McFarlane (1976), 
Leprun (1979), Chauvel & Pedro (1978), Buedel (1982), Beauvais (1989), Lecomte e Colin 
(1989), Nahon (1991), Tardy & Rocquim (1998), Tardy (1993), Schellmann (1980a, b, 
1983), Freyssinet (1993, 1994), Freyssinet et al (1989 a, b) na África, Ásia e América do 
Sul; na Austrália Smith & Perdrix (1983), Butt (1988) e Butt & Zeegers (1992), Robertson 
& Butt (1997), Mann (1984), Davy. & El-Ansary (1986), Anand & Paine (2002); a velha 
Europa também tem sido motivo de várias pesquisas desde os primórdios até o presente, 
surpreendendo com ocorrências geologicamente antigas e exóticas, estudadas por 
Harrassowitz (1926), Valeton (1972), Bardossy & Aleva (1990); na Rússia também vários 
trabalhos se destacam, infelizmente muito em russo como Petrov (1967) e Mikhailov et al 
(1981) in Bárdossy & Aleva (1990). Estes exploram de forma abrangente os lateritos 
bauxíticos e outros tipos de forma muito abrangente. No Brasil podem ser citadas as 
 
 
 14 
contribuições de Dennen & Norton (1977), Costa & Sá (1980), Kotschoubey & 
Truckenbrodt (1981), Truckenbrodt et al (1982, 1991), Melfi et al. (1988), Lucas (1989), 
Costa (1982, 1997), Oliveira (1990), Tardy et al (1991), Oliveira et al. (1992), Angélica & 
Costa (1993), Angélica et al (1996), Ruffet et al (1996), Oliveira & Valente (1993), Costa 
et al (1993, 1999), Vasconcelos et al (1994), Porto & Hale (1996), Costa & Araújo (1996), 
Horbe & Costa (1997), Boulangé et al (1997), Carvalho et al (1997), Costa & Moraes 
(1998), Oliveira & Umbernon (1998), Horbe & Costa (1999 a, b), Kotschoubey et al (1996, 
2005), Toledo et al (2004), Shuster et al (2005), Salagado (2006) e Daniel et al (2006). 
 
As formações lateriticas cenozóicas são frequentemente encontradas no grande 
cinturão intertropical atual, situado entre 30º Sul e 30º Norte do Equador (Figuras 5.4 a 
5.6). A zona intertropical ocupa cerca de 40 % das terras emersas e destas, 33 % são 
cobertas por formações lateriticas (Tardy, 1993). Elas representam as zonas de formação de 
gibbsita (alitização) e caulinita (monossialitizaçãao), além de suas ocorrências em terrenos 
atualmente situados além dos limites desta zona. Este grande domínio areal de lateritos na 
zona intertropical atual fez como que muitos pesquisadores pensassem que os lateritos 
estariam apenas relacionados com esta zona intertropical, tendo-os como formações 
recentes e mesmos atuais. Quando formações antigas foram encontradas, as denominaram 
de paleolateritos, termo desnecessário. As formações lateríticas já conhecidas estendem-se 
além deste cinturão, sendo encontradas em várias regiões, aparentemente imprevisíveis para 
estas rochas, que, no entanto estão indicando que as mesmas foram, ao tempo de sua 
formação, palco de clima tropical a subtropical. Perfis lateríticos têm sido encontrados na 
Rússia cobertos por rochas sedimentares, carvão e derrames basálticos, no deserto de Israel, 
Grécia e na Turquia, metamorfizados; na Irlanda, no fundo do Oceano Atlântico recobertos 
com sedimentos; no Grupo Olifantshoek do Proterozóico da África do Sul, também 
metamorfizados; no Middle Timan, Rússia, metamorfizados durante o Devoniano 
(Mordberg, 1999). No Brasil as ocorrências lateríticas, ainda que as mais antigas sejam 
datadas do limiar Mesozóico-Cenozóico, as mesmas ainda se encontram no domínio da 
atual zona intertropical. Os lateritos bauxíticos, os mais abundantes, mesmo nos primórdios 
da lateritização, e por conta disto, se apresentam em perfis autóctones e alóctones em 
superfícies paleocársticas (transportados a curta distância, depósitos cársticos), a longa 
 
 
 15 
distância da área-fonte, classificados como tipo Tikhvin (local típico na Rússia), que estão 
recobertos por sedimentos do Carbonífero Inferior (Bárdossy & Aleva, 1990). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 5.4 – Distribuição geográfica dos principais tipos de depósitos de bauxitas: 
lateríticos(L) (1); cársticos (2); tipo Tikhvin (3); e delineamentos das províncias e lateritos 
bauxíticos (4), cársticos (5) e Tikhvin (6). Bárdossy & Aleva (1990). 
 
 As diferentes zonas climáticas atuais que foram relacionadas com o seu mineral 
sub-superficial dominante (Figura 5.6), também entendido como atual, (Strakhov, 1967; 
Thomas, 1974 e modificada por Toledo et al, 2000), aqui denominadas de zonas minerais, 
são ao todo sete, em que duas delas, alitização e monossialização (Figura 5.7), constituem 
as áreas de domínio das formações lateriticas cenozóicas. Estas duas zonas minerais 
corresponderiam às zonas morfoclimáticas atuais, tropical e peritropical, de Buedel (1982) 
(Figura 5.5). Nelas encontra-se a grande maioria dos lateritos cenozóicos e, como 
conseqüência, a maioria dos depósitos minerais lateríticos (Figura 5.4). No entanto a zona 
identificada como alitização (formação de gibbsita e/ou boehmita), na América do Sul, com 
grande destaque para a Amazônia, não é no todo verdadeira, pois nesta zona as gibbsitas 
estão claramente sendo transformadas em caulinitas, ao lado de Al-goethita. Tudo indica 
 
 
 
 16 
que ela corresponde à zona de monossialitização (formação de caulinita com goethita → 
latossolos), enquanto a zona de alitização ocupa justamente a zona da monossialitização, 
que não seria tão ampla quanto está indicada no mapa (Figura 5.6).Figura 5.5 - Distribuição geográfica das zonas morfoclimáticas atuais segundo Buedel 
(1982) e sua relação com as formações lateríticas antigas (dominantemente cenozóicas) e 
atuais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 17 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 5.6 – Distribuição das diferentes zonas segundo os produtos minerais resultantes do 
intemperismo: zona de alitização (formação de gibbsita  boehmita), de monossialitização 
(formação de caulinita), de bissialitização (formação de argilominerais 2:1). Modificado de 
Strakhov (1967), Thomas (1974) e Toledo et al (2000). As duas primeiras zonas 
corresponderiam a lateritização. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 18 
Figura 5.7 – A dependência entre os distintos de perfis de intemperismo e as principais 
zonas morfoclimáticas, caracterizadas através de valores peculiares de temperatura, 
precipitação, evaporação e vegetação, segundo o diagrama de Strakhov (1967), modificado 
por Costa (1982) e Toledo et al (2000). 
 
As formações lateríticas constituem desta forma valiosos registros geológicos para 
estudos paleo-climáticos e paleo-ambientais, empregados com sucesso por Gutzmer & 
Beukes (1998), ao concluírem que condições de vegetação terrestre já se manifestaram em 
pleno Paleo-proterozóico na atual África do Sul; Hill et al (2000) da mesma forma 
identificou ambiente tropical há 51 Ma em terrenos da Irlanda do Norte, incompatível com 
o seu clima atual. Por sua vez as extensas crostas lateríticas ferruginosas que se espalham 
pela Amazônia mostram que em várias de suas áreas instalou-se por longo tempo clima 
semi-árido e cobertura de savana, enquanto em outras, com formações lateríticas encimadas 
por espessos pacotes de latossolos, dominou longo período de clima tropical quente e 
úmido, com densa cobertura florestal. As antigas formações lateríticas reliquiares do 
Nordeste do Brasil, com crostas ferruginosas aflorantes por outro lado, mostram que a 
região foi sucedida por clima semi-árido há muito tempo, numa ligeira aproximação com os 
terrenos Australianos. 
 
Como Formador de Depósitos Minerais 
Os processos de lateritização e os seus produtos têm se constituídos em valiosos 
materiais geológicos formadores e portadores de importantes mineralizações e depósitos 
minerais no mundo inteiro, e especialmente nas formações lateriticas do Cenozóico, mais 
óbvias. Toda reserva e produção mundial de alumínio vem de formações lateriticas; grande 
parte das reservas de níquel-cobalto, manganês, ferro, caulim estão intimamente 
relacionadas às formações lateriticas. Várias jazidas de ouro, platinóides, fosfatos, titânio, 
cassiterita, etc. foram descobertas em perfis lateríticos, que levaram conseqüentemente a 
descoberta de seus depósitos primários. No Brasil a lateritização contribuiu para a formação 
de muitos de suas jazidas minerais de ferro, alumínio, manganês, caulim, fosfatos e níquel-
cobalto. Infelizmente as pesquisas sobre lateritização no Brasil esmaeceram a partir do final 
 
 
 19 
dos anos 1980, e o novo reaquecimento da economia mundial a partir dos anos 2000 está 
mostrando a gravidade desta letargia. 
 
Impacto Sobre Agricultura 
Regiões com terrenos superficiais cobertos por formações lateriticas completas, 
portanto com exposição das crostas, apresentam baixa fertilidade, e pouco apropriadas para 
agricultura. As crostas ferruginosas, ferro-aluminosas e aluminosas são deste modo uma 
barreira à agricultura; se intemperizadas, com conseqüente desenvolvimento de latossolos e 
podzólicos, podem ser empregadas para este fim, embora se faça necessário o uso de 
fertilizantes e corretivos. Os latossolos e podzólicos derivados do topo dos perfis lateríticos 
constituem os solos dominante da Amazônia, e parte do Cerrado e do Planalto Brasileiro, 
que se tornaram celeiros da agricultura mecanizada, com emprego de fertilizantes, irrigação 
e cultivares apropriados. Por sua vez perfis lateríticos truncados, erodidos ao nível do 
saprolito, que ao exporem porções das rochas primárias apenas parcialmente 
intemperizadas, em tempos recentes, ainda ricas em nutrientes, têm ampla ocorrência na 
Amazônia, no Nordeste e no Brasil Central, sendo responsáveis pelos vários bolsões de 
terras férteis nestas regiões, 
O próprio homem pré-histórico identificou as nuances geológicas da alteração dos 
perfis lateríticos, ao desenvolver a agricultura sobre terras firmes esculpidas sobre solos 
derivados do topo de perfis lateríticos. Para suprir as suas deficiências incorporaram 
intencionalmente ou não, restos orgânicos, que mais tarde melhoravam a nutrição destes 
solos (solo tipo Terra Preta de Índio) (Kaempf & Kern, 2005). Também ocuparam as 
encostas ou áreas erodidas, que expuseram a zona mosqueada e saprolítica dos perfis, com 
melhor fertilidade natural. Estes procedimentos permanecem até os dias atuais em grande 
parte da Amazônia. 
 
Materiais de Construção 
Foi o uso dos lateritos como materiais de construção, tijolos, que levou Buchanan a 
sua descrição geológica pela primeira vez. Isto há 200 anos atrás. No entanto os materiais 
lateríticos vêm sendo empregados em construção, desde que o homem começou a empregar 
rochas como artefatos e como abrigo, ainda no Paleolítico. No nordeste do Pará, no vale do 
rio Piriá, cavernas esculpidas em crostas lateriticas ferro-aluminosas, serviram de abrigo ao 
 
 
 20 
homem pré-histórico, da mesma forma que em Carajás, com grande riqueza em artefatos 
líticos, alguns confeccionados em ametista, que foi encontrada em Alto Bonito, na mesma 
região, onde é lavrada atualmente. Ao norte do Amapá o homem pré-histórico fez 
escavações sob a crosta laterítica para guardar urnas funerárias cerâmicas com os restos 
mortais de entes queridos. Mesmo o homem histórico empregou os lateritos para 
construção de casas robustas, palácios, igrejas, pontes, e mais recentemente estradas. A 
igreja de Santo Alexandre em Belém do Pará tem suas sólidas paredes de quase 1 m de 
espessura, e com quase 300 anos de construção, formadas de fragmentos de crostas 
ferruginosas, encontradas na região. O próprio Forte do Castelo, o berço da cidade de 
Belém, 1616, ao lado do qual está a Igreja de Santo Alexandre, foi estabelecido sobre um 
perfil laterítico imaturo completo, e dele suprimido rocha para construção da base e paredes 
de seus prédios que sucederam; entre outros muitos exemplos. A profa. Dra. Adriana Maria 
Coimbra Horbe captou na Austrália imagens de prédios modernos com paredes 
confeccionadas com crostas lateriticas ferro-aluminosas, em um assentamento de muito 
bom gosto (Figuras 5.8 a e b). Os lateritos continuam hoje como agregados de asfalto e 
concreto (Brasil, principalmente no Acre, e países da África), onde não há disponibilidade 
de brita a custo acessível, infelizmente, em certos casos em fase de exaustão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 5.8 – Igreja com paredes erigidas com blocos de crosta laterítica ferro-aluminosa 
nodular na Austrália Ocidental. A direita detalhe das paredes formadas por crostas 
pisolítica-concrecionária. Imagens capturadas pela profa. Dra. Adriana Maria Coimbra 
Horbe em 2007. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 21 
A PAISAGEM DAS FORMAÇÕES LATERITICAS - Está arraigada na literatura que a 
paisagem típica das formações lateriticas é aquela de platô ou de relevo ligeiramente 
ondulado. E isto é verdadeiro para os lateritos de idade mais jovem, do Cenozóico, que 
ainda guardam forte relação com a paisagem representada por superfície relativa mais 
elevada, ondulada, ligeiramente entalhada pela drenagem, que propicia a movimentação 
química dentro do perfil de intemperismo. Enquanto na Amazônia e mesmo na África 
Equatorial os platôs quilométricos foram esculpidos sobre formações lateriticas com 
bauxitas e caulim (Paragominas-Tiracambu, Carajás, Trombetas-Alenquer-Juruti, Jarí, 
Pitinga), na AustráliaOcidental os mesmos ocupam extensa planície, com alguns 
inselbergs. O prolongado regime semi-árido a árido que se seguiu a lateritização, promoveu 
a peneplanização de grande extensão desta porção daquele País. No Brasil grandes platôs 
com coberturas lateriticas estendem-se além dos limites da Amazônia, como aqueles ao 
norte de Minas Gerais (região de Capelinha), no Planalto Central, no Distrito Federal e em 
Goiás (Figura 5.9). Muitos corpos lateríticos se expressam na forma de morros, colinas, 
serras alongadas (Serra do Navio-AP; Piriá-Barreiras-PA; Niquelândia-GO; Onça-Puma-
PA; Capitão Gervásio-PI), platôs sub-circulares (Maicuru e Maraconaí-PA; Araxá-MG); e 
mesmo ilhas (Itacupim-PA, Trauira e Tralhoto-MA). Outros estão submersos pelos mares e 
oceanos, lagos e rios. 
 No entanto a maioria dos autores tem sido singular em reconhecer que paisagem 
constituída por relevo topograficamente mais elevado, ligeiramente ondulado, 
tectonicamente semi-estável, em soerguimento, mas com velocidade em equilíbrio com a 
velocidade de intemperismo tropical, são as condições mais adequadas para o 
desenvolvimento de formações lateriticas. Em geral durante a lateritização há uma 
tendência a peneplanização, ou seja, a lateritização está intimamente relacionada com as 
superfícies de aplanamento (Figura 5.10). A mais expressiva já reconhecida na América do 
Sul, relacionada com as formações lateriticas, é a superfície Sul Americana (Figura 5.10), 
se estendendo pelo Suriname, Guiana, Guiana Francesa, Venezuela e Brasil. No entanto a 
mais antiga relacionada com a lateritização, especialmente na Venezuela e Guiana, é a 
superfície ou nível Gondwana, do Cretáceo. Isto mostra que a lateritização começou em 
terrenos ao norte da Amazônia Brasileira, e avançou para sul, com o deslocamento da zona 
intertropical de norte para sul, por conta da deriva do continente sul-americano de sul para 
 
 
 22 
norte, como demonstrado por Tardy et al (1991). Datações radiométricas, embora os dados 
sejam poucos, estão comprovando as observações geológicas oriundas das superfícies de 
aplanamento. As grandes reservas de lateritos bauxíticos, além de fosfatos de alumínio, da 
Amazônia brasileira, se estabeleceram apenas a partir do Eoceno durante a superfície ou 
nível Velhas Antigo. A lateritização retomou com intensidade também no Mioceno, em 
toda região, porém sem formação de bauxitas e/ou fosfatos de alumínio, sob o regime da 
superfície ou nível de aplanamento Velhas Novo ou seus equivalentes nos países vizinhos 
ao norte. Embora não reconhecido claramente, a lateritização se estendeu até o Pleistoceno 
(Costa, 1991), ligada à superfície Paraguaçu. Salvo modificações promovidas pela 
neotectônica, o que é bastante marcante na Amazônia Brasileira, à medida que se avança 
nas fases de lateritização mais jovens, a altitude das superfícies torna-se cada vez mais 
baixa (Figura 5.10). Em áreas de forte movimentação neotectônica, como a região do 
Gurupi, arredores de São Luiz e norte de Manaus, entre outras, isto não se aplica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 23 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 5.9 – Paisagem de topo de platô. a) imagem de satélite da estrutura circular Maicuru 
delineada por crostas lateríticas; b) platôs na região de Capelinha-MG, entre 1000 e 1100 m 
com solos e crostas; c) platôs do planalto central, Brasília, com solos vermelhos a hematita, 
gibbsita e caulinita. 
 
 
 
a b 
c 
 
 
 24 
 
 
 
 
 
 
Figura 5.10 – Quadro evolutivo segundo as superfícies de aplanamento desde o Cretáceo 
Superior até o presente conforme os registros colhidos no Escudo das Guianas. À esquerda 
a escala do tempo em Ma, Períodos, Épocas, indicação de flutuação do nível do mar, 
Formações, polens, regressão-transgressão, clima. Bárdossy & Aleva (1990). 
 
 
 
A ESTRUTURAÇÃO DAS FORMAÇÕES LATERITICAS EM HORIZONTES 
CARACTERÍSTICOS: A CONSTRUÇÃO DO PERFIL LATERÍTICO 
As formações lateriticas distinguem-se dos demais tipos de rochas pela sua constituição 
em horizontes. A sucessão em horizontes é uma característica fundamental destas 
formações, daí porque se refere especificamente a um PERFIL LATERÍTICO. Uma dada 
região laterítica pode apresentar um perfil laterítico típico. Embora ainda perdure certa 
controvérsia na denominação final dos horizontes, os termos empregados pelos diferentes 
autores, escolas e regiões de estudo, se assemelham entre si. Quanto a sua sucessão, no 
entanto, não perdura qualquer dúvida (Figura 5.11). A maioria dos autores não assume o 
 
 
 25 
horizonte saprolítico, como parte do perfil laterítico, exceto Bardossy & Aleva (1990), que 
o consideram como parte integrante do perfil laterítico típico. Não há, no entanto, perfil 
laterítico, sem o mesmo. Por conseguinte o horizonte saprolítico, neste trabalho, será 
considerado como parte integral e característica do perfil laterítico. A sua presença isolada, 
no entanto, não é suficiente para se definir um perfil laterítico. Portanto um perfil laterítico 
completo, autóctone, se faz constituir dos seguintes horizontes, do topo para a base, com 
pequenas variações segundo a histórica geológica de cada perfil: 
 
• A CROSTA (duricrust, iron crust, eisenkruste), 
• O MOSQUEADO, 
• O SAPROLÍTICO e 
• A ROCHA-MAE OU SUBSTRATO. 
 
Quando correlacionado com um perfil de solo pedogenético completo a crosta e o 
mosqueado seriam equivalentes ao PEDOLITO e o saprolito ao próprio SAPROLITO 
(Anand & Paine, 2002) . As coberturas como “lags”, solos diversos (tropicais, subtropicais 
e de ambiente árido), sedimentos, rochas sedimentares, derrames vulcânicos, bem como o 
perfil laterítico subjacente, constituem o REGOLITO (Figura 5.11), expressão amplamente 
empregada na Austrália, a partir da década de 1980, principalmente, no mapeamento e 
prospecção mineral. O termo laterito insistentemente utilizado para restringir ao material 
rico em óxi-hidróxidos de ferro, constituindo a crosta e seus produtos de alteração ou 
formação, não terá esta conotação no presente trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 26 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 5.11 – Estruturação de perfil laterítico típico em horizontes e sua correlação com as 
diferentes nomenclaturas. Modificada de Anand & Paine (2002). 
 
 
Em um perfil laterítico alóctone, a seqüência de horizontes se apresenta invertida se 
a erosão e o transporte tiverem ocorrido de forma seqüencial e continuada, do contrário 
apresentar-se-á de forma irregular. 
 
A ROCHA-MAE OU SUBSTRACTO - Em princípio todo e qualquer tipo de rocha, 
incluindo os próprios horizontes dos perfis lateríticos precedentes, podem constituir a 
rocha-mãe ou o substrato dos perfis lateríticos. Fala-se tão somente de substrato, quando 
não há forte evidência de que as rochas imediatamente subjacentes ao perfil, sejam as 
geradoras do próprio perfil. E isto pode ser mais freqüente do que se imagina, pois 
 
 
 
 27 
facilmente se é induzido a pensar que as rochas encontradas, tenham sido as mesmas que 
deram origem ao perfil sobreposto, admitindo assim que as mesmas fossem homogêneas 
tanto na vertical como na lateral. Isto é particularmente crucial quando se trata de rochas 
sedimentares e metassedimentares ou volcanossedimentares, principalmente se o perfil 
atinge grandes profundidades. Identificar a rocha-mãe dos perfis lateríticos é um as tarefas 
mais difíceis e intrigantes, e que têm desdobramentos muito importantes na cartografia 
geológica e na prospecção mineral. 
 
O HORIZONTE SAPROLÍTICO OU SIMPLESMENTE SAPRÓLITO – A frente de 
intemperismo norteia o início basal deste horizonte, que embora represente a rocha-mãe 
apenas parcialmente intemperizada, guardando as feições texturais e estruturais da mesma, 
permite identificar duas zonas principais: uma inferior, inicial,conhecida como saprocha 
(saprock) ou como saprolito grosso, onde menos de 20 % dos minerais primários foram 
intemperizados; é formada por blocos grandes da rocha, elaborados pelo intemperismo 
incipiente ao longo dos planos de fraquezas (fraturas, falhas, acamamento, contatos 
mineralógicos, vênulas, veios e vênulas, etc.) com a presença de argilominerais 2:1 
(esmectitas, illitas) e ausência dos oxi-hidróxidos de ferro; outra superior, em passagem 
gradual, descrita normalmente como saprolito fino ou litomarge, em que os blocos da 
rocha-mãe são muito pequenos, imersos numa massa argilosa, que mesmo assim ainda 
preserva a estrutura da rocha-mae e o seu volume original, não havendo evidência de 
formação de plasma mineral, embora já contenha argilominerais 1:1, estando os oxi-
hidróxidos ainda restritos. Em geral mais de 80 % dos minerais primários foram 
intemperizados. É uma zona geralmente muito mais espessa (profunda) do que a 
subjacente, embora esta característica não seja universal. O saprolito, por conta da quase 
ausência de oxi-hidróxidos de ferro, tem coloração clara, dominantemente. Em um perfil 
laterítico completo, em geral o saprolito representa o horizonte mais espesso. 
 
O HORIZONTE MOSQUEADO – Este horizonte representa a zona de ampla formação de 
plasma mineral, rico em caulinita e quartzo, com o mascaramento ou até completo 
desaparecimento das texturas e estruturas da rocha-mãe, colapso do volume, surgimento de 
muitos vazios, e colorida irregularmente com manchas de óxi-hidróxidos de ferro, tanto 
 
 
 28 
hematita como goethita (Figura 5.12 a), que se adensam em direção ao topo do horizonte. 
Parece uma difusão limitada de soluções pontuais e descontinuas ricas em ferro, que se 
precipita como nanocristais de hematita em forma de agregados de “bananas” (Figura 5.12 
b). Às vezes entre este horizonte e o saprolito grosso, encontra-se uma zona plásmica, ainda 
não mosqueada, de textura argilosa a arenosa. Em algumas situações o mosqueamento se dá 
diretamente sobre o saprolito fino. Isto pode estar refletindo as retomadas ou modificações 
dos perfis pré-existentes. Normalmente o horizonte mosqueado é mais delgado do que o 
saprolito subjacente, variando de 50 a 30 % do mesmo. É o horizonte colorido, com um 
fundo esbranquiçado, manchado aleatoriamente de vermelho a marrom. O horizonte 
mosqueado não se manifesta em perfis lateríticos derivados de rochas ricas em minerais de 
ferro, forma-se apenas um horizonte marrom rico em oxi-hidróxidos de ferro e caulinita. 
Portanto seria mais conveniente, caracterizar um horizonte argiloso (caulinita, com 
ausência de esmectita), em que a porção inferior seria ligeiramente manchada (zona pálida, 
arenosa), enquanto a superior é tipicamente mosqueada. Esta é normalmente a situação que 
ocorre, quando vários autores, em vez de reconhecer um horizonte mosqueado, referem-se 
tão somente a uma zona mosqueada. No conjunto se referem plasma argiloso. Saprolito e 
mosqueado deveriam ser considerados como um horizonte argiloso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
a b 
 
 
 29 
 
Figura 5.12 – a) Aspecto do mosqueamento do horizonte mosqueado; as manchas roxas 
tem 5 a 10 cm de diâmetro; b) imagem de MEV das manchas roxas formadas por agregados 
sub-esféricos constituídos por cristalitos de centenas de nanômetros de bananas de 
hematita. 
 
A CROSTA – Conhecida mais comumente na literatura internacional como duricrust, por 
vezes ferricrete, cuirasse, carapace ou iron crust, a crosta representa o horizonte tampão 
do perfil laterítico completo e autóctone, maturo ou imaturo. A crosta é a porção mais dura 
e compacta do perfil, bem como mais densa e que, quando aflora na superfície do terreno, 
empresta as formações lateríticas, feições positivas no terreno, devido a sua maior 
resistência a erosão. A crosta normalmente pode apresentar duas zonas distintas: uma 
inferior, nem sempre presente, formada por hidróxidos de alumínio e/ou fosfatos de 
alumínio, a crosta aluminosa ou bauxítica, ou simplesmente a bauxita. Muitas vezes sua 
expressão é tão forte em termos areais, de continuidade e de espessura, que pode ser 
considerada como um horizonte a parte, denominado de Horizonte Aluminoso ou Bauxítico 
ou de Fosfatos de Alumínio por Costa (1991), amplamente na literatura como bauxites. A 
zona superior está onipresente em perfis lateríticos completos, e caracteriza-se pelo 
domínio dos óxi-hidróxidos de ferro. Representa a verdadeira crosta ferruginosa, quando 
compacta e coesa. É o horizonte mais denso, com cor marrom a avermelhada intensa e 
característica, que se apresenta de várias formas texturais: nodular, pisolítica, brechóide e 
colunar a megacolunar. O padrão colunar muitas vezes se sobrepõe aos pré-existentes 
nodular, pisolítico e brechóide. Comumente o cimento dos nódulos, pisóides e fragmentos é 
formado de hidróxidos de alumínio e/ou de fosfatos de alumínio, ou ainda por plasma 
goethítico. A crosta nodular normalmente mostra uma derivação a partir do 
encouraçamento do horizonte mosqueado subjacente. Esta situação é muito freqüente e 
importante para o entendimento da evolução do perfil laterítico. Ao todo a crosta deve ser 
vista como o horizonte protetor do perfil laterítico. 
 
NATUREZA DOS PERFIS – Os perfis lateríticos podem ser autóctones e alóctones 
(Harrassowitz, 1926; Bardossy & Aleva, 1990; Costa 1991). Sua formação é simplesmente 
autóctone, mas muitos deles foram erodidos e depositados em depressões proximais, 
quando são ditos alóctones. Quanto ao grau de evolução reconhecem-se dois tipos, 
 
 
 30 
enfatizados principalmente por Costa (1991): maturos e imaturos (Figuras 5.13, 5.14 e 5.1). 
Na Amazônia, na África Equatorial, na Índia e mesmo na Austrália estes dois tipos de 
perfis são facilmente delineados. Os perfis lateríticos maturos individualizam uma crosta 
aluminosa, seja bauxítica ou de fosfatos de alumínio, que parece ser a última unidade a se 
formar ao longo do perfil, ou seja, a se diferenciar. A prova disto é que tanto os hidróxidos 
de alumínio (gibbsita, diásporo) como fosfatos de alumínio (crandallita-goyazita, entre 
outros) ocorrem apenas como cimento e vênulas na crosta ferruginosa. Os perfis imaturos, 
independente da natureza aluminosa da rocha-mae, não desenvolvem esta zona ou 
horizonte. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 5.13 – Exposição de perfil laterítico imaturo derivado de rochas sedimentares 
(argilitos e arenitos argilosos) da formação Barreiras. No topo latossolos amarelos 
sobrepostos a crosta quartzo-ferruginosa colunar e na base horizonte mosqueado. Baía do 
Sol (Ilha de Mosqueiro, Belém-PA). 
 
COBERTURAS MAIS FREQÜENTES 
São inúmeras as coberturas de perfis lateríticos, destacando-se solos, sedimentos, rochas 
sedimentares e derrames vulcânicos. Na Amazônia predominam os solos, sedimentos e 
ainda rochas sedimentares (Figuras 5.14, 5.15 e 5.16). 
 
 
 
 31 
Horizonte de Solo – A retomada do intemperismo tropical quente e úmido atinge 
inicialmente as crostas, podendo transformá-las em espessos pacotes de solo argiloso de 
tonalidade amarela a vermelha, conforme a abundância de goethita, Al-goethita e hematita . 
Na Amazônia e em várias regiões da África Tropical (Thomas, 1976), essas coberturas de 
solos atingem grande espessura, como quase 20m. Neste caso, a maioria parece ser 
alóctone, depositada sobre antigos horizontes concrecionários ou de linhas de pedras. 
Muitos depósitos de bauxita da Amazônia têm cobertura formada por solos desta natureza, 
de espessura variando entre 5 e 10 m, em que toda a crosta original foi consumida, além de 
parte da crosta bauxítica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 5.14 – Estruturação geral dos perfis lateríticos completos na Amazônia, segundo 
Costa (1991), distingüindo-se perfis imaturos e maturos, confrontados entre si em termos 
de horizontes.32 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 5.15 – Perfis lateríticos maturos (abaixo) e imaturos, (acima) na Amazônia e suas 
principais coberturas, segundo Costa (1991). 
 
Lags - Os pesquisadores australianos denominam de lag ao material que se encontra 
espalhado aparentemente de forma aleatória à superfície do terreno, formado por 
fragmentos rochosos do perfil laterítico, em geral da crosta, constituído, portanto, de óxi-
hidróxidos de ferro, preponderantemente, na forma de concreções, nódulos e pisóides, 
desprovido de matriz. Esse material é comum na Austrália Ocidental, onde reina clima 
árido a semi-árido e vegetação restrita a pequenos arbustos e gramíneas isoladas, palco de 
varrição pelos ventos e enxurradas casuais, que movimentam e eliminam os finos, 
acumulando ou espalhando os grossos. Os lags são registros valiosos para a prospecção 
mineral, como demonstram as recentes pesquisas australianas. No Brasil os lags são 
encontrados nos terrenos do semi-árido no Nordeste brasileiro, envolvendo o Piauí, Ceará, 
Bahia, Norte de Minas, Tocantins e ainda o Norte de Goiás e Mato Grosso, entre outros. A 
formação de lags recentíssimos pode ser vista nas caixas de empréstimo de construção de 
rodovia, quando os perfis lateríticos são decapeados e expostos a enxurradas. Nas regiões 
 
 
 
 33 
lateriticas situadas atualmente sob clima tropical com densa cobertura floresta, os lags não 
se estabelecem. 
Horizonte Concrecionário – O desmantelamento químico físico da crosta leva a formação 
de um horizonte croncrecionário ferruginoso, com matriz argilosa amarela até vermelha ou 
marrom avermelhada. Este horizonte é muito freqüente em quase todas as regiões 
lateríticas, e sua espessura é muito variável, pois depende da histórica geológica pós-
laterítica, da espessura da crosta pré-existente e das taxas de erosão. Localmente podem se 
formar espessos pacotes constituídos de concreções, nódulos e pisolitos, preenchendo 
paleocanais e paleodepressões, como no minério de ferro de N4 em Carajás, e em especial 
no minério de manganês laterítico do Azul desta mesma região. Localmente eles formavam 
depósitos com quase 80 m de espessura (!), situados em paleodepressões que atingiram a 
base do perfil laterítico (Costa et al, 2005). 
Linhas de Pedras – Em regiões lateríticas submetidas a histórias erosivas, é freqüente a 
ocorrência de ampla distribuição de linhas de pedras, cujos fragmentos são oriundos do 
desmantelamento das crostas, os materiais mais resistentes do perfil, e aqueles mais 
próximos da superfície. As linhas de pedras descrevem o paleo-relevo e informam sobre a 
natureza do perfil pré-existente. Por vezes, além dos fragmentos das crostas, ocorrem 
fragmentos da rocha-mae e matriz dos horizontes mosqueados e saprolítico. Em certas 
circunstâncias é possível identificar uma inversão no perfil laterítico, como mostram os 
excelentes afloramentos em rodovias nos arredores da cidade de São Luiz do Maranhão e 
na região do Pitinga-AM. 
Sedimentos – A presença de sedimentos e rochas sedimentares capeando e cancelando as 
formações lateriticas é muito mais freqüente do que se imagina, tendo ocorrido desde que 
estas rochas vêm se formando. Enquanto nas regiões lateríticas mais recentes predominam 
apenas sedimentos, nas mais antigas, estabeleceram seqüências sedimentares espessos, 
incluindo expressivos pacotes de carvão, por vezes derrames vulcânicos (Bárdossy & 
Aleva, 1990; Costa, 1991), estando bem exemplificados na Europa, na Rússia e na 
Austrália, e mesmo nos depósitos de caulim da Geórgia nos EUA e da Alemanha. No 
Brasil e em especial na Amazônia, essas coberturas sedimentares estão representadas 
geralmente por depósitos lacustres, fluviais, ou flúvio-lacustres, e ainda pantanosos. Em 
Carajás as crostas lateríticas ferruginosas serviram de substrato e ainda o são de inúmeros 
 
 
 34 
lagos, com desenvolvimento de sedimentos constituídos por camadas alternadas de argila e 
de carbonatos (siderita), além de níveis terrosos com fragmentos líticos do perfil (Figura 
5.1 e 5.15). Algumas das sucessões sedimentares foram inclusive relateritizadas. Outras 
formações lateríticas cobertas por sedimentos lacustres são encontradas em Seis Lagos no 
Amazonas, em Maicuru no Pará, ao longo do rio Madeira em Rondônia. Modificações do 
topo do perfil pela ação de ambiente pantanoso espalham-se por áreas extensas no alto rio 
Negro e na região do Gurupi no Pará-Maranhão. No sudeste do Brasil os lagos também têm 
sido descritos, com seus sedimentos lacustres depositados sobre formações lateríticas. 
Lagos e pântanos provocam severas modificações mineralógicas e texturais na crosta 
ferruginosa e aluminosa subjacentes, levando a formação de siderita e fosfatos de ferro, 
como vivianita, dufrenita, mitridatita, beraunita, etc (Costa, 1991). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 35 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
a 
c 
b 
d 
e f 
 
 
 36 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
g 
h 
i j 
l m 
 
 
 37 
Figura 5.16 – Exposições geológicas de coberturas tipo solo e sedimentos bem como 
modificações estruturais provocadas por movimentos neotectônicos na Amazônia. a) 
cobertura tipo latossolo amarelo desenvolvido em geral sobre substrato bauxítico, Igarapé 
Bahia, Carajás-PA; b) cobertura tipo latossolo amarelo sobre bauxitas nodular, aurífera, em 
Cassiporé-AP; c) cobertura tipo latossolo vermelho derivado de crosta ferruginosa com 
fragmentos de gossans, Igarapé Bahia, Carajás-PA; d) cobertura tipo latossolo marrom 
avermelhado desenvolvido sobre crosta ferro-aluminosa, Igarapé Bahia, Carajás-PA; e) 
paleosuperfície delimitada por linha de pedra derivada de crosta laterítica ferro-argilosa 
imatura, Alça Viária, Belém-PA; f) detalhe da camada de linha de pedra, imagem anterior; 
g) frente de deferrificação (superfície linear irregular) invadindo paleo-horizonte 
mosqueado, como indicativo de que se comportou posteriormente como substrato de 
superfície hidromórfica, com enriquecimento em quartzo e caulinita, BR-174, às 
proximidades de Manaus-AM; h) cobertura sedimentar estratificada depositada sobre perfil 
laterítico truncado ao nível do mosqueado, em Israel; i) lago desenvolvido sobre espessa 
crosta ferruginosa, Seis Lagos-AM; j) seqüência sedimentar formada por alternância de 
argilitos (cinza) e siderititos (marrom amarelado), sobre crosta laterítica férrica em N4-
Carajás-PA; l) seção geológica simplificada mostrando a intensa atividade neotectônica que 
atingiu os perfis laterítico, município de Manaus-AM, segundo Fernandes et al (1997); m) 
exposição da porção superior do perfil laterítico com os horizontes (solo, crosta e 
mosqueado) deslocados por falhamento normal, município de Manaus-AM. 
 
ASPECTOS MINERALÓGICOS E TEXTURAIS 
Quando se faz referência à mineralogia das formações lateríticas os minerais que se 
destacam são apenas hematita e goethita, que na literatura antiga muitas vezes são referidos 
como limonita. No entanto a composição mineralógica destas formações é muito rica e 
característica. Sem dúvida destacam-se os minerais óxi-hidróxidos de ferro (hematita, 
maghemita e goethita) e de alumínio (gibbsita, boehmita) e de argila (caulinita, halloysita). 
Estes são os minerais característicos do perfil, minerais formadores. 
 
Quanto à sua origem os minerais que constituem os distintos perfis lateríticos 
podem ser classificados em: 
 
 
 38 
1. Minerais neoformados, ou minerais tipicamente lateríticos, ou melhor 
MINERAIS FORMADORES, que respondem pelas distintas condições 
ambientais de formação do perfil, em parte lito-dependentes e horizonte-
dependentes; 
2. Minerais herdados (primários), reliquiares ou resistatos, de grandeimportância para identificação da herança petrológica; 
3. Minerais epigenéticos, originados pelos novos ambientes que sucederam e 
atingiram os perfils lateríticos. 
 
Os principais grupos de minerais neoformados ou formadores, tipicamente 
lateríticos, são: os argilominerais, os óxi-hidróxidos de ferro, de alumínio, titânio e 
manganês e os fosfatos de alumínio. 
 
OS ARGILOMINERAIS - Destacam-se os argilominerais 2:1, representados pelo 
grupo da esmectita (montmorillonita, nontronita, beidellita e saponita) , illita e sepiolita 
(sepiolita e falcondoita); e os argilominerais 1:1, representados principalmente pelo grupo 
da caulinita (caulinita e halloysita); ocorrem ainda, quando as rochas ultramáficas 
constituem as rochas-mãe, os minerais do grupo da serpentina (lizardita, Ni-serpentina, 
népouita, pecoraita, berthierita, brindleyita); grupo do talco (willemseita). Enquanto os 
argilominerais 2:1 e aqueles dos grupos da serpentina e do talco se restringem a saprocha, o 
saprolito grosso, os argilominerais do grupo caulinita constituem em geral os principais 
minerais do saprolito fino, da zona pedoplásmica e do clássico horizonte mosqueado. 
 
OS ÓXI-HIDRÓXIDOS – São eles de ferro, alumínio, titânio e manganês. 
Praticamente são onipresentes, exceto os de alumínio restritos aos perfis maturos. Hematita, 
goethita e maghemita constituem os de ferro; gibbsita, boehmita e, menos freqüentemente, 
o diásporo, os de alumínio; anatásio o óxido de titânio, que tem nos lateritos a sua grande 
expressão; e criptomelana-hollandita, romanechita, birnessita, todorokita, litioforita, 
manganita entre outros, os óxi-hidróxidos de manganês. Os óxi-hidróxidos de ferro 
acumulam-se ao longo do perfil a partir do horizonte mosqueado, sendo os principais 
minerais da crosta ferruginosa, enquanto os de alumínio restringem ao topo do perfil, na 
 
 
 39 
crosta aluminosa; os de manganês concentram-se preferencial na base do perfil, no entanto 
distribuem-se ao logo de todo perfil; o anatásio é um dos poucos minerais neoformados que 
se concentra residualmente no perfil. 
 
OS FOSFATOS DE ALUMÍNIO – Podem estar representados por fosfatos 
simplesmente de alumínio (variscita-estrengita, senegalita e augelita), alumínio-cálcio-
estrôncio-terras raras (grupo da crandallita: crandallita, goyazita, e florencita, normalmente 
como solução sólida) e alumínio-sódico (wardita). Crandallita-goyazita constitui a série 
isomórfica fosfática mais comum nas formações lateriticas, restrito as crostas, associado 
aos hidróxidos de alumínio, gibbsita e boehmita. Assim oxi-hidróxidos de alumínio e 
fosfatos de alumínio são os minerais mais tardios de um perfil laterítico completo e maturo. 
 
MINERAIS RESISTATOS – Os principais minerais resistatos, herdados da rocha-
mãe são: quartzo, zircão, turmalina, ilmenita, cassiterita, topázio, rutilo, entre outros. Eles 
se acumulam residualmente ao longo de todo perfil, aumentando da base para o topo, 
paralelamente ao anatásio. O quartzo comporta-se mais como um sobrevivente, cuja 
sobrevivência depende de sua maior granulometria na rocha-mãe. A distribuição irregular 
dos minerais resistatos ao longo do perfil demonstra sua igual situação na rocha-mãe, e 
podem ser empregados para auxiliar na identificação da assinatura da rocha-mãe, quando 
esta estiver obliterada, ou para certificar-se que a rocha na base do perfil é a própria rocha-
mãe, ou apenas um substrato. 
 
MINERAIS EPIGENÉTICOS – São aqueles formados em eventos de pós-
lateritização que atingiram o perfil laterítico subjacente ou adjacente. Os principais 
minerais e o respectivo ambiente pós-lateritização respectivo são: 
 
Pedogênese tropical: Al-goethita, caulinita, quartzo. 
Pedogênese semi-árida a árida: calcita, gipso, halita, calcedônia. 
Substrato de ambiente lacustre e pântano (efeito da diagênese): 
a) tropical úmido: siderita, pirita, fosfatos de Fe (vivianita, dufrenita, 
mitridatita, beraunita, etc.), argilominerais; 
 
 
 40 
b) árido a semi-árido: calcita (calcrete), gipso (gipsete), calcedônia e opala 
(silcrete); halita. 
 
MINERAIS DE METAMORFISMO – Os lateritos como rochas, principalmente os 
mais antigos, foram em parte afetados tanto pelo metamorfismo termal como regional, 
formando diásporo, pirofilita, micro-coríndon e coríndon. 
No Brasil ainda não foram registrados formações lateriticas metamorfizadas, por 
outro lado há publicações que relatam transformações metamórficas, como na África do Sul 
(Gutzmer & Beukes, 1998), ou sob diagênese avançada no cinturão de Timan na Rússia. 
(Mordberg, 1999). 
 
Distribuição dos Minerais e sua Morfologia ao Longo do Perfil Laterítico 
A distribuição de cada mineral formador dos perfis lateríticos é bastante peculiar, 
controlada pelos horizontes. Os diferentes horizontes distinguem-se entre si através de 
assembléias mineralógicas típicas, dedutíveis em grande parte a partir das figuras 5.17, 5.18 
e 5.19: 
 
Hematita + goethita  gibbsita  caulinita  crandallita-goyazita (entre outros) 
constituem os horizontes superiores (crosta, duricrust); os fosfatos; gibbsita  (boehmita)  
(crandallita-goyazita) + hematita + goethita o horizonte equivalente a uma crosta aluminosa 
(bauxita e seu correspondente fosfático); caulinita + quartzo + hematita  goethita o 
mosqueado e o saprólito fino; esmectita (grupo)  illita   caulinita  quartzo  
serpentinas (grupo)  (Mg,Ni) - silicatos o saprólito grosso e saprocha; os oxi-hidróxidos de 
manganês (criptomelana + litioforita + gibbsita + hematita) as crostas manganesíferas e 
criptomelana + birnessita + asbolana + esmectita  illita a base do saprólito. 
Os resistatos se distribuem ao longo do perfil e tem sua variação também controlada 
pelo seu padrão herdado da rocha-mãe, concentrando-se para o topo. Da rocha-mãe para o 
topo do perfil os minerais primários não residuais, apresentam teor decrescente e 
desaparecem, enquanto os resistatos aumentam de teor gradualmente. O quartzo em 
granulação grossa é tipicamente residual. As argilas 2:1 e aquelas do grupo das serpentinas 
e silicatos hidrataddos de Mg, bem como os hidróxidos de manganês, são restritos da base 
 
 
 41 
saprolítica, sendo substituídos pela caulinita (halloysita) no saprolito fino até o mosqueado; 
os óxi-hidróxidos de ferro surgem na base do mosqueado e acumulam-se acentuadamente 
para o topo, fundamentalmente na crosta. Anatásio concentra-se gradualmente para o topo, 
no mesmo fator dos minerais resistatos, acumulando-se assim residualmente. Um perfil 
laterítico maturo e completo derivado de rochas ultramáficas alcalinas mineralizadas em 
apatita (Ilha de Itacupim, Nordeste do Pará), desenvolve espesso horizonte de fosfatos de 
alumínio (Figura 5.18a). Por sua vez um perfil laterítico maturo derivado se rochas 
sedimentares, por exemplo, aquelas cretácicas do Baixo Amazonas, destaca-se pela ampla 
formação de bauxitas, que foram truncadas e modificadas por novo evento pedogenético, 
com remobilização e reprecipitação de óxi-hidróxidos de ferro, com ferruginização 
parcialmente da bauxita (Figura 5.18b). O perfil laterítico maturo de Darling Range, 
Austrália, derivado de rocha máfica, é completo e constitui-se num clássico (Figura 17), 
que na Amazônia tem paralelo apenas parcialmente no Pitinga-AM, Cassiporé-AP e em 
Carajás-PA. Ele é comparável ao perfil laterítico bauxito derivado de basalto em plena 
Irlanda do Norte (Hill et al., 2000). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 5.17 – Distribuição geral simplificada dos minerais lateríticos e herdados em 
um perfil laterítico completo. 
 
 
 
 42 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 5.18 – Distribuição dos principais minerais de perfis lateríticos com 
horizonte de fosfatos de alumínio e com bauxita. a) Ilha de Itacupim, Viseu-PA; b) região 
de Trombetas, em Oriximiná-PA (Baixo Amazonas). Modificado de Costa (1997).43 
Figura 5.19 – O perfil laterítico em Darling Range, Austrália Ocidental, e a 
distribuição de seus minerais formadores e herdados. Modificado de Anand & Paine 
(2002). 
 
Hematita, maghemita e ainda goethita compõem os fragmentos, nódulos, pisoídos e 
outras concreções da crosta, que podem estar cimentados por córtex de Al-goethita, mas 
principalmente por gibbsita, boehmita e/ou fosfatos de alumínio (crandallita-goyazita) 
(Figuras 5.20 e 5.21). São geralmente micro a criptocristalinos, como massa microporosa, 
derivadas de formas plásmicas. Vênulas de gibbsita, fosfatos de Al e mesmo de Al-goethita 
interceptam os componentes de hematita, maghemita e goethita. Gibbsita e fosfatos de Al 
tendem a formar cristais submilimétricos em microcavidades e nas venulações. Na crosta 
aluminosa massa micro a criptocristalina da crosta torna-se dominante e microporosa. 
 No horizonte mosqueado predomina um fundo matricial de aspecto plásmico 
constituído de caulinita e quartzo, manchado aleatoriamente de vermelho a lilás por 
cristalitos de hematita e goethita (Figura 5.12a5.). 
 No saprolito fino os minerais de argila, como caulinita, halloysita, illita, além de 
quartzo, preservam o arcaboço geral e conservam o seu volume, que pode ainda preservar 
minerais primários intemperizáveis. 
 No saprolito grosso os minerais de argila 2:1 ocupam fissuras diversas, bordas de 
cristais de minerais primários, entre outros vazios. Manchas negras de óxi-hidróxidos de 
Mn, se a rocha contiver Mn, cruzam aleatoriamente o saprolito grosso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 44 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
a b 
c d 
e f 
 
 
 45 
 
 
Figura 5.20 – Diferentes aspectos texturais de crostas lateriticas: a) pisolítica ferruginosa; 
b) pisolítica manganesífera com cimento gibbsítico; c) bauxítica; d) fosática; e) bauxítica 
comuinuída por Al-goethita; f) pisolítica ferruginosa invadida por fosfatos Al e Fe. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 5.21 – Micromorfológica organização da parte superior do perfil laterítico, ou seja, 
do horizonte mosqueado às diferentes crostas. Modificado de Freyssinet (1993). 
 
 Caulinita e goethita  hematita podem se formar a partir da alteração de diversos 
minerais primários, e neoformarem-se ao longo da formação do perfil laterítico (Figura 
5.22), em distintos graus de cristalinidade e variação químico-composicional, 
 
 
 
 46 
principalmente a goethita pela sua capacidade de substituição iônica Fe-Al, o que reflete 
principalmente a natureza ambiental de cada horizonte. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 5.22 – Trajetos ou trilhas de formação de minerais durante o desenvolvimento de 
perfis intempéricos lateríticos. Fonte: Anand & Paine (2002). 
 
 
COMPOSIÇÃO QUÍMICA E SUA RELAÇÃO MINERAL COM OS HORIZONTES 
E ROCHA-MÀE: GEOQUÍMICA 
 Embora muitas pesquisas já tenham sido realizadas sobre formações lateríticas, 
inclusive com muitos dados sobre a composição química, elas, no entanto não geraram 
ainda dados suficientes e representativos capazes de formular uma composição química 
geral para essas formações. Uma das primeiras tentativas é de Schellmann (1980), seguido 
por Bardóssy & Aleva (1990), além de contribuições menos específicas de Tardy (1993), 
Butt & Zeegers (1992), Anand & Paine (2002). Em parte isto pode ser decorrente da 
grande diversidade de perfis, das inúmeras controvérsias sobre o entendimento do que seja 
laterito e, por conseguinte do significado das análises, e ainda o interesse maior em 
procurar sistematizar esses materiais geológicos. Desta forma o trabalho de Schellmann 
(1980) ainda se constitui naquele mais adequado, devido a sua sistematização. 
 
 
 
 
 47 
 
 
 Composição química total e suas variações: 
A grande variação na sua composição química das formações lateríticas reflete a 
grande amplitude da composição química das rochas-mãe, das condições de formação e do 
grau de evolução, do tempo geológico, bem como das transformações pós-lateritização, 
além da grande variabilidade química entre os horizontes. Mesmo assim os perfis lateríticos 
apresentam características químicas muito marcantes, não em termos de teor, mas de 
padrão comportamental dos teores dos elementos e compostos químicos, quando 
observadas ao longo do perfil laterítico, da rocha-mãe para a crosta ferruginosa, ou seja, da 
base para o topo, numa espécie de estratigrafia química, que não representa 
necessariamente a sucessão evolutiva, mas a sucessão de horizontes. São exemplos: 
 
Padrões químicos diagnósticos de perfis lateríticos, quando comparados com a 
rocha-mãe: 
• Forte diminuição (lixiviação) dos teores de SiO2 e principalmente dos elementos 
alcalinos e alcalinos terrosos (especialmente Mg), salvo as exceções geradas quando 
da presença de fosfatos, principalmente de cálcio-alumínio; 
• Forte aumento (enriquecimento absoluto) nos teores de ferro (Fe3+) na forma de óxi-
hidróxidos; 
• Grande aumento (enriquecimento residual) nos teores de alumínio apenas quando 
da formação de hidróxidos de alumínio (bauxita) ou fosfatos; 
• Aumento gradual nas concentrações de titânio como anatásio. 
 
Comportamento complementar: 
• Forte aumento (possível enriquecimento absoluto) nos teores de P, Sr, Ba, ETR, (Y, 
Sc, U) no topo do perfil (crosta aluminosa), quando da presença de fosfatos de 
cálcio-alumínio; 
• Forte aumento (possível enriquecimento absoluto) apenas na base do perfil nos 
teores de: Mn (Ba, Sr, ETR, Co, Ni, Cu, Mo, etc. ) como óxi-hidróxidos e silicatos 
hidratados de Mg (minerais de argila 2:1), grupo da serpentina; 
 
 
 48 
• Aumento parcial nos teores de Cu, Ni, Cr, Mn, As, Hg e Mo em goethita no 
saprolito ferruginoso. 
• Aumento nos teores de Au, V, Mo, As, Hg, nas zonas ferruginosas do perfil; 
• Aumento gradual nas concentrações (“enriquecimento residual”): Zr, B, Cr, (V), 
Nb, Ta, Sn, W, (U), (Th), etc., geralmente como minerais resistatos. 
Em parte a variação dos teores ao longo de perfis lateríticos está ilustrada na figura 
5.23 para os perfis lateríticos maturos truncados mineralizados em caulim na Amazônia 
Oriental. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 5.23 – Distribuição dos teores dos elementos principais e alguns elementos-traço em 
perfis lateríticos caulínicos da Amazônia: a) perfil caulínico-bauxítico do Morro do Felipe-
AP; b) perfil caulínico sobreposto por lateritos imaturos derivados da formação Barreiras, 
mina RCC, rio Capim-PA. 
 
Os principais componentes químicos que compõem de 97 a 98 % em peso dos 
materiais que constituem os horizontes das formações lateriticas são SiO2, Al2O3, Fe2O3 e 
H2O. Por sua vez TiO2, MnO2 e P2O5 perfazem cerca de 2 a 3 % em peso. 
 
a 
b 
 
 
 49 
A composição química mostra uma forte litodependência, tanto em termos de 
elementos maiores como de elementos-traço (Tabela 5.1), ilustrados pelos dados de 
Schellmann (1980) e pelos inúmeros trabalhos publicados. Os dados de Schellmann (1980), 
embora não explicitados, provavelmente contemplam a porção superior do perfil, 
representada pelos horizontes mosqueados e crostas. Não há, infelizmente, a apresentação 
dos valores por horizontes, que seria muito mais prático e evidente. Os perfis derivados de 
rochas ricas em quartzo (granitóides, metamorfitos ácidos e arenitos) são os mais ricos em 
SiO2, enquanto os mais ricos em Fe2O3 são aqueles derivados de rochas ultramáficas e 
máficas, e os mais ricos em Al2O3, com formação de bauxitas, de alcalinas e rochas com 
minerais de argila (folhelhos e argilitos e seus equivalentes metamorfizados). Os valores 
mais altos de TiO2 são fortes indicadores de rochas de composição máfica (Tabela 1). 
Em termos de elementos-traço os valores mais elevados de Cr, Mn, Ni, Co 
combinadoscom os mais baixos de ETR, Sc, Y, Zr, Nb (Ta), Rb, Th são típicos indicadores 
de formações lateríticas derivadas de rochas ultramáficas. São exemplos, em parte, os 
depósitos de níquel laterítico, que no Brasil estão representados por Niquelândia, Barro 
Alto, São João do Piauí (hoje Capitão Gervásio), Vermelho e Onça-Puma. Por sua vez 
concentrações mais altas de Zr, Y, (Sc), Nb (Ta), ETR e Th mostram fortes afinidades com 
as rochas alcalinas, exemplificadas por Pitinga no Amazonas e (ultramáficas-alcalinas) 
como Maicuru e Itacupim no Pará, Araxá em Minas Gerais. A associação V, Cr, Cu, Zn, 
Ni, com valores medianos, indica afinidade derivativa de rochas máficas, a exemplo das 
bauxitas ferruginosas de N5 em Carajás. (Costa et al., 1997). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 50 
 
Tabela 5.1 – Composição química de lateritos derivados de diferentes tipos de rochas, 
mostrando litodependência. Modificado de Schellmann (1980). 
 
Elemento Granito 
 
N = 23 
Basalto1) 
 
N = 51 
Ultramáfica 
 
N = 13 
Nefelina 
Sienito2) 
N = 11 
Ácido Básico 
Metamorfito 
N =81 N = 20 
Argilito, 
Folhelho 
N = 74 
Arenito 
 
N = 23 
SiO2% 
Al2O2 
Fe2O3 
TiO2 
MgO 
CaO 
Na2O 
K2O 
P2O5 
MnO 
Ba (ppm) 
Ce 
Co 
Cr 
Cu 
La 
Nb 
Ni 
Pb 
Rb 
Sc 
Sr 
Th 
V 
Y 
Zn 
Zr 
46,20 
24,50 
16,30 
0,76 
0,31 
0,16 
 
0,92 
0,05 
0,02 
367 
90 
6 
141 
23 
22 
26 
25 
27 
38 
9 
68 
110 
260 
22 
10 
387 
23,7 
24,6 
28,3 
4,27 
1,04 
0,83 
0,83 
0,30 
0,32 
0,15 
472 
76 
52 
336 
199 
53 
35 
155 
11 
9 
61 
41 
10 
682 
59 
143 
307 
3,03 
5,49 
67,0 
0,11 
0,77 
0,04 
0,33 
0,02 
0,03 
1,10 
49 
15 
707 
26.000 
48 
48 
3 
11.400 
5 
4 
85 
6 
6 
388 
8 
420 
5 
7,65 
53,2 
9,07 
1,53 
0,10 
0,08 
0,19 
0,19 
0,08 
0,51 
22 
1.180 
5 
17 
7 
105 
996 
20 
73 
11 
4 
62 
123 
205 
32 
231 
2.000 
47,7 26,0 
23,8 26,2 
13,6 26,8 
1,08 2,38 
0,3 0,52 
0,19 0,57 
0,34 0,26 
0,78 0,18 
0,13 0,15 
0,03 0,10 
255 130 
95 134 
12 35 
294 674 
46 180 
49 38 
24 21 
50 106 
32 24 
29 20 
16 75 
52 11 
24 14 
236 610 
14 22 
43 69 
428 232 
39,2 
26,9 
19,7 
1,36 
0,25 
0,12 
0,19 
0,42 
0,11 
0,07 
122 
108 
13 
353 
40 
39 
38 
47 
38 
25 
20 
34 
30 
368 
21 
25 
612 
63,7 
10,6 
16,3 
0,82 
0,26 
0,11 
0,48 
0,56 
0,06 
0,21 
295 
107 
38 
226 
37 
18 
15 
43 
48 
25 
10 
26 
34 
252 
12 
10 
348 
 
 Portanto análises químicas multi-elementares totais de formações lateríticas 
permitem não somente caracterizar os diferentes horizontes, como também identificar a 
rocha-mãe e contribuir para se certificar se o substrato corresponde apenas a um suporte, ou 
se é de fato a própria rocha-mãe. 
 
Hallberg (1984) consegue demonstrar a litodependência química através do 
diagrama de dispersão Ti versus Zr (Figura 5.24). Este é capaz de discriminar formações 
lateríticas derivadas coletivamente de basaltos, andesitos, dacitos e riolitos. É claro que o 
referido diagrama pode ser melhorado sensivelmente, ao considerar os distintos horizontes 
do perfil. O diagrama de Hallberg tem sido empregado com sucesso por diversos autores 
 
 
 51 
com o objetivo de identificar o tipo petrográfico da rocha-mae, a exemplo de Costa et al 
(1997) que o aplicou nas crostas lateríticas do platô de Pirocaua, onde não há afloramento 
de rochas primárias (não lateríticas). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 5.24 – Diagrama de Hallberg (1984), uma correlação entre os teores de Ti versus Zr 
em lateritos para discriminação da natureza geral de suas rochas ígneas geradoras. 
 
 Não somente a herança composicional (teores relativos) como as assinaturas 
geoquímicas da rocha-mãe são herdadas pelo perfil laterítico, as quais podem perder 
parcialmente o próprio caráter nos horizontes ferruginosos. Os exemplos são muitos, 
podendo destacar aquelas individualizadas nos perfis lateríticos derivados de complexos 
ultramáficos alcalinos carbonatícos na Amazônia, como Maicuru e Seis Lagos. (Nb, Ti, 
ETR, P, Zr, Y, Sc, Sr, Ba, Cu, Mn, Th, Mo, V). As próprias coberturas lacustres também 
preservam parcialmente as assinaturas geoquímicas. 
 
 As características químicas e sua forte afinidade mineralógica mostram que o 
ambiente laterítico é geoquimicamente muito complexo, e sua complexidade resulta não 
 
 
 
 52 
somente do grande espectro de rochas-mães, quanto ainda de sua constituição em 
horizontes, os quais representam sub-ambientes específicos. Pedro (1984) identificou estes 
sub-ambientes, mas os relacionou aparentemente com as diferentes zonas morfoclimáticas 
(Tabela 5.2), e não com a sucessão de horizontes de um mesmo perfil, em que um se 
sobrepõe ao outro. Portanto a mesma sucessão pode ser encontrada em uma mesma zona 
morfoclimática. No entanto, se exposto à superfície, a formação de uma mesma assembléia 
mineral dependerá de zona específica. 
 
Tabela 5.2 - Principais mecanismos de intemperismo e seus tipos de solo e clima 
correspondentes, segundo Pedro (1984). Em itálico os mecanismos envolvidos em um 
perfil de lateritização. 
 
Mecanismos Minerais 
Neoformados 
Elementos 
Solúveis 
Solos Clima 
Acidólise Quartzo Al, Fe, Na, K, Ca, 
Mg 
Podzol Úmido 
Alcalinólise Carbonatos de Ca, 
Mg, Na 
Al, (Si) Solods Tropical, árido 
Hidrólise: 
alitização 
Gibbsita, hematita, 
goethita 
Si, Na, K, Ca, Mg Ferraliticos 
(lateríticos) 
Tropical úmido 
(floresta tropical) 
Hidrólise: 
monossialitização 
Caulinita, goethita, 
hematita 
Si, Na, K, Ca, Mg Ferralíticos 
(lateríticos) 
Tropical, curta 
estação seca 
(savana úmida) 
Hidrólise: 
bissialitização 
(Al,Fe)-esmectitas Na, K, Ca, Mg Vertissolo 
(base do perfil 
lateríticos) 
Tropical, longa 
estação seca 
(savana seca) 
Transformação Vermiculita-
esmectita 
Na, K Solos marrons Temperado 
 
 
A mobilidade geoquímica da maioria dos elementos químicos envolvidos nos 
processos de intemperismo laterítico e conseqüente formação do perfil dependem 
fundamentalmente do grau de vulnerabilidade dos minerais primários (pode ser medido 
através da serie de reação de Goldich) e das espécies minerais neoformadas (Tabela 5.3), 
 
 
 53 
que refletirão as condições ambientais de superfície: clima, vegetação e relevo e 
subsuperfície, como o regime hidrológico e seus parâmetros físico-químicos e químicos, 
uma manifestação direta das condições climáticas reinantes na região. Estas vão 
condicionar os principais mecanismos de reações químicas, dominadas por três estágios de 
intensidade de hidrólise (Tabela 5.2). Portanto os perfis lateríticos completos refletem o 
ápice do desenvolvimento de um perfil de solo intempérico tropical, com a máxima 
diferenciação em horizontes e o selamento com uma crosta. 
 
Tabela 5.3 – Mobilidade geoquímica dos elementos durante o intemperismo laterítico. 
Modificado de Anand & Paine (2002). 
 
Minerais hospedeiros Elementos lixiviados Elementos parcialmente retidos 
em minerais neoformadoss 
Liberados na frente de intemperismo: 
Sulfetos: 
 
Carbonatos: 
 
As, Cd, Co, Cu, Mo, Ni, Zr, S 
Ca, Mg, Mn, Sr 
 
As, Cu, Ni, Pb, Sb, Zn (óxi-
hidróxidos de Fe) 
Liberados no saprolito inferior: 
 
Aluminossilicatos: 
ferromagnesianos (piroxênio, olivinas, 
anfibólios, clorita, biotita) 
 
 
Ca, Cs, K, Na, Rb 
Ca, Mg 
 
 
Si, Al (caulinita); Ba (barita) 
Fe, Ni, Co, Cr, Ga, Mn, Ti, V 
(óxi-hidróxidos de Fe e Mn) 
Liberados no saprolito superior: 
 
Aluminossilicatos (muscovita) 
ferromagnesianos

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