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A Roupa, a Moda e a Mulher na Europa Ocidental
Humanas / Sociais
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de 1130, sendo o corpete do vestido, pelo menos para as classes altas, moldado bem justo até os quadris e a saia ampla, caindo em pregas até os pés. Era, às vezes, suficientemente longa para formar uma cauda. A sobretúnica também era mais ajustada e tinha mangas mais amplas. O véu costumava ser preso por um semicírculo ou um círculo completo de ouro usado em volta da testa. Além disso, do final do século XII ao início do século XIV usava-se a barbette*. Era uma faixa de linho passada sob o queixo e puxada sobre as têmporas. Na 49 mesma época usava-se também o gorjal*; “era feito de linho fino branco ou seda, cobria o pescoço e a parte do colo, sendo às vezes enfiado dentro do vestido; as pontas eram então puxadas para cima e presas no alto da cabeça sob o véu, para emoldurar o rosto”67 (fig. 9). Fig. 9: Sir Geoffrey Luttel com sua esposa e nora, do livro de salmos Luttrel. Inglaterra, c. 1335-40.Londres, British Museum. Fonte: LAVER, James. A Roupa e a Moda: uma história concisa. São Paulo: Companhia das Letras,1993. Consideravam-se, em épocas anteriores, imorais os cabelos femininos à mostra. Por essa razão, imagina-se que tenham surgido tantas inovações para adornar os cabelos com a desculpa de ocultá-los. O fillet*, adorno surgido no século XIII, adquiriu nova forma, caindo sobre a cabeça duas tiras ocas trabalhadas, onde eram colocados os cabelos. Conforme a figura acima, pode-se observar que a dama usa o fillet*: adorno quadrado deixando o rosto fechado numa moldura, contrastando com o adorno nébula* arredondado (fig. 10). __________________________________________________________________________________________ 67 LAVER, James, op. cit., p. 62. 50 Fig. 10: HARPISTE. Boccace. Des claires et nobles femmes. Collection Spencer. France, vers 1470. New York. Public Library. Fonte: Carnet d’Adresses des Dames du Temps Jadis, Éditions Solar: Paris, 1988. Pode-se notar, na imagem mostrada acima, o decote* pronunciado evidenciando o colo e o busto, e a aplicação de uma fina camada de tecido translúcido sobre o colo. A veste possui o corpo acinturado e a saia vai se alargando do quadril aos pés, caindo em grande volume de tecido. As mangas são muito justas e não se percebe enfeites, nem debruns*. Os cabelos estão soltos e são arrematados no alto da cabeça por um adorno circular estruturado para cima; adorno “turbante*”, feito de um semicírculo de linho evidenciando o rosto. 51 2.4 A Baixa Idade Média: o advento da moda No final do século XIII a crespine* já havia surgido e era usada com a barbette* e o fillet*. Aquele era um tipo de rede para os cabelos e foi, de certa forma, uma inovação surpreendente, uma vez que, em épocas anteriores, considerava-se imoral os cabelos femininos ficarem à mostra. No estágio seguinte, usou-se somente a crespine*, sendo que a alternativa era usar tranças verticais de cada lado do rosto, bem características do último quartel do século XIV. Nessa mesma época, o véu reapareceu com nova forma: pregueado ou adorno nébula*, feito de um semicírculo de linho emoldurando o rosto. Por vezes tinha várias camadas, semelhante ao rufo* da segunda metade do século XVI, exceto no fato de, evidentemente, não ser usado ao redor do pescoço, mas em volta do rosto. O fillet* também adquiriu nova forma, tendo duas tiras ocas trabalhadas, no interior das quais eram colocados os cabelos. O efeito, em contraste com o adorno nébula* arredondado, era extremamente quadrado, uma vez que o rosto ficava fechado em uma moldura. Seguiu-se a moda de penteados altos, e estes requeriam segundo o gosto da época uma testa exageradamente alta, obrigando assim as mulheres a depilarem a testa para retroceder as entradas do cabelo (fig.11). Segundo relatos, as técnicas medievais de eliminar os cabelos consistiam em queimá-los com cal viva, arrancá-los com pinças ou com os dedos impregnados em pez, ou atacar os bulbos capilares com agulhas quentes. Fig. 11: Duquesa de Urbino, de Pietro della Francesca, c. 1473; Retrato de uma Dama de Vermelho, Florença, c. 1470; Margarete da Dinamarca, rainha da Escócia, atribuído a Hugo van der Góes, c. 1476. Fonte: LAVER, James. A Roupa e a Moda: uma história concisa. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. 52 “Foi na segunda metade do século XIV que as roupas, tanto masculinas quanto femininas, adquiriram novas formas e surgiu algo que já podemos chamar de moda”.68 O velho gipon* (jupon*), que começava a ser chamado de “gibão*” (fig.12), era acolchoado na frente para realçar o peito, bem mais curto, tão curto que os moralistas da época o denunciaram como indecente, apertado, abotoado na frente e usado com um cinto sobre os quadris. A aristocracia usava sobre o gipon* uma peça chamada côte-hardie*; a mesma sobretúnica de épocas anteriores, mas agora decotada, justa e abotoada na frente. A côte- hardie* das classes inferiores era mais larga e, não tendo botões, vestia-se pela cabeça. O comprimento da moderna côte-hardie* foi diminuindo e a borda era freqüentemente recortada, isto é, cortada em formatos curiosos. As mangas eram justas até os cotovelos, abrindo-se depois e tornando-se tão amplas a ponto de chegarem aos joelhos ou até mais abaixo. Por volta de 1375, a côte-hardie* passou a ter uma gola. Fig. 12: Felipe, o Bom, duque de Borgonha, recebendo um exemplar das Chroniques de Hainaut, Flandres, 1448. Fonte: LAVER, James. A Roupa e a Moda: uma história concisa. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. __________________________________________________________________________________________ 68 KÖHLER, Carl, op. cit., p. 62. 53 Uma das roupa característica do período entre 1380 e 1450, a houppelande*, viria a ser conhecida como “beca*”, ajustada nos ombros e por um cinto na cintura. Seu comprimento variava, sendo mais longa para cerimônias. As mangas eram extremamente amplas e, às vezes, tão compridas que tocavam o chão. Possuía uma gola alta e reta, chegando, por vezes, até às orelhas, sendo as bordas cortadas em formatos espetaculares. O poeta Chaucer, citado por Laver, em“ The Parson’s Tale”, culpa: “tanto bater de cinzéis para fazer enfeites, tanto recortar com tesouras, com a extravagância no comprimento das becas* mencionadas arrastando-se sobre o esterco e a lama, a cavalo e também a pé, tanto os homens quanto as mulheres”.69 As mulheres, em geral, vestiam-se de maneira menos extravagante que os homens no que se referia à forma das roupas. A peça principal de seu vestuário era o vestido, justo até a cintura e, logo, abrindo-se em saia ampla que caía em pregas. As magas eram tão justas que tinham de ser abotoadas na parte de baixo, eram longas o bastante para chegar ao meio da mão. Sobre o vestido era usada a côte-hardie*, semelhantes à dos homens. As mangas possuíam longas fitas ou palatinas que às vezes se arrastavam no chão. A partir de meados do século XIV foi elegante usar a veste sem lados, um traje bizarro, com grandes aberturas laterais. A frente formava uma espécie de corpete endurecido conhecido como plackard*. O efeito era o de um espartilho apertado – uma das armas mais potentes da moda através dos tempos – que, pela primeira vez, começava a ser explorada. Uma inovação, com um apelo erótico ainda maior, foi o decote*, feito a partir de um corte na blusa* da veste para revelar parte do colo. Outra, foi o abandono do véu, que, daí em diante, foi usado somente por freiras e viúvas. Para substituí-lo seguiu-se uma longa série de penteados que foram tornando-se mais elaborados e espetaculares até o final do século XV. Nos séculos