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SINTAGMANOMINALVERBAL

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-------~--------------~-------------
LeOhwYÔO Lenhe.rt,~ l"\evY0o{;I.A,I,Q
LE-P- l\O/}'lI)::rq'!<ó
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Faculdade de Letras
Departamento de Letras Vernáculas
Curso: Português 11- Morfo-sintaxe do Português MoJo I~OOb.
o SINTAGMA NOMINAL E O SINTAGMA VERBAL:
CONSTITUINTES E PROCESSOS DE AMPLIAÇÃO
Maria Cristina Rigoni Costa
Maria da Aparecida Meireles de Pinilla
Maria Thereza Indiani de Oliveira
índice Página
1. A classe dos sintagmas 02
2. O sintagma nominal - conceituação 05
2.1 Constituintes do sintagma nominal. 07
2.2 O nome como núcleo funcional 1 O
2.3 Processos de ampliação do sintagma nominal 13
2.4 Funções do sintagma nominal 16
3. O sintagma verbal - conceituação 18
3.1 Constituintes do sintagma verbal :.19
3.2 Processos de ampliação do sintagma verbal.. 22
4. Indicações bibliográficas .29
Introdução
Na comunicação diária, ao utilizar uma linguagem, estamos sujeitos às limitações do sistema que a
rege -- um conjunto de regras que precisamos conhecer e dominar para que sejamos capazes de entender
sua mensagem.
Há também, na maioria dos jogos, um sistema de regras que devemos aprender, e de que nãe
podemos prescindir se quisermos jogar aquele jogo. No futebol, por exemplo, é preciso reconhecer um gol,
uma falta, um pênalte, um impedimento. E são essas regras que o diferenciam de outros jogos, como e
volei ou o basquete.
Quando aprendemos uma determinada língua, o domínio desse sistema de regras faz parte de
conjunto de conhecimentos que precisamos dominar. Assim, a criança, ao aprender a falar, vai intuindo, de
linguagem que ouve à sua volta, as tais regras e o conjunto de elementos (fonemas, palavras, morfemas,
etc) que vão lhe possibilitar o uso da língua. O mesmo acontece quando aprendemos uma língua
estrangeira: precisamos dominar o vocabulário, as formas, os fonemas e o modo de usá-Ios, isto é, as
regras que constituem o sistema daquela língua. Por exemplo, sabemos que as seguintes seqüências
fazem sentido e serão entendidas por usuários que dominem as regras de funcionamento do português: "a
bela bola rola" "a bola bela rola".
Já a distribuição "Bela bola rola a." não corresponde à sintaxe da língua portuguesa, porque nãe
existe uma regra que permita o uso do artigo definido, sem o substantivo, finalizando a frase.
Notamos que todo jogo comporta um certo nível de flexibilidade na escolha e combinação de suas
regras. Não são poucas as vezes em que vemos grupos de pessoas combinando previamente as regras e
serem seguidas em um determinado jogo. Num jogo de baralho (buraco, por exemplo), podemos ouvir:
"vale bater sem canastra", "vale canastra suja", "vale fazer trinca", e ainda assim o jogo continua sendo e
mesmo. Ou um grupo de crianças, antes de iniciar um jogo de gude, pode estabelecer: "a vera ou a
brinca?", "triângulo ou búlica", e ainda assim estar jogando bola de gude.
Na linguagem verbal, como vimos nos exemplos registrados acima ("A bela bola rola" e "A bola bela
rola"), o falante também dispõe de um certo nível de escolha (seleção), seja na combinação de elementos.
seja na ordem em que eles serão usados. Esta ou aquela opção, se feita pelo falante, produz sempre uma
frase em português. É claro que essa escolha vai produzir, no que é dito, alguns efeitos. Vejamos:
1
a) Todo mundo vai ao circo. menos eu.
b) Ao circo todo mundo vai, menos eu.
c) Todo mundo, menos eu, vai ao circo.
Nestas frases, temos basicamente o mesmo conteúdo. O que muda é a ênfase dada a alqurna
seqüência, como resultado da alteração do seu lugar no enunciado. Na frase a, a atenção está voltada para
"todo mundo". Na frase b, o foco de atenção é deslocado para o local: "ao circo". E na frase c, o que está
em evidência é "todo mundo, menos eu". "Menos eu", entre vírgulas, destaca e reforça a exclusão.
A língua, enquanto sistema de possíbilidades, oferece um conjunto flexível no que diz respeito às
regras de seleção, combinação, substituição, sem comprometer ou alterar a interação.
Neste texto, trabalharemos com o conceito de sintagma,
• existe uma hierarquia na estrutura da oração, isto é, a oração apresenta constituintes e estes contêrr
outros constituintes;
• cada constituinte oracional apresenta uma estrutura interna própria;
• os constituintes da oração têm comportamento sintático variado, apresentando relações de ordem, de
concordância e de regência;
• a partir de estruturas sintáticas simples (núcleo + elementos adjacentes), é possível produzir estruturas
mais complexas, com base em processos de ampliação.
1. A classe dos sil']tagmas
Sintagma é uma unidade formada por uma ou' várias
palavras que, juntas, desempenham urna função na frase.
A combinação das palavras para formarem as frases não é aleatória; precisamos obedecer a determinados
princípios da língua. As palavras se combinam em conjuntos, em torno de um núcleo. E é esse conjunto (c
sintagma) que vai desempenhar uma função no conjunto maior, que é a frase. Exemplos:
. O turista viajou.
O jovem~l~ estrangeiro viajou.
Aquele jovelT(!:lrista viajou.
Nenhumturista viajou de trem.
O turista estrangeiro viajou de trem para São Paulo.
O turista estrangeiro viajou de trem para São Paulo ontem.
O turista e sua família viajaram.
!ti ~\}
A unidade sintagmática é considerada um agrupamento intermediário entre o nível do vocábulo e o dê
oração. Desta maneira, um ou mais vocábulos se unem ( em sintagmas ) para formar uma unidade maior,
que é a oração.
Os vocábulos que compõem a unidade sintagmática se organizam em tomo de um núcleo:
dependendo do núcleo, podemos falar em sintagma nominal e sintagma verbal.
"Chama-se sintagma uma seqüência de palavras que constituem uma unidade (
sintagma vem de uma palavra grega que comporta o prefixo sin, que significa com,
que encontramos, por exemplo, em simpatia e sincronia). Um sintagma é uma
associação de elementos compostos num conjunto, organizados num todo,
funcionando conjuntamente. (... ) sintagma significa, por definição, organização e I
relações de dependência e de ordem à volta de um elemento essencial." (Dubois-
Charlier. Bases de Análise lingüística)
IO especialista não respondeu todas as perguntas
O especialista não respondeu todas as perguntas
sintagma nominal sintagma verbal
')
r
Diferentes vocábulos que pertencem a um mesmo sintagma desempenham, dentro dele, funções distintas:
no sil,1tagma nominal, por exemplo, o nome substantivo que funciona como núcleo pode ser determinadc
por artigos, pronomes e numerais e modificado por adjetivos, locuções adjetivas e/ou orações
subordinadas adjetivas. Desta maneira, é evidente que existe,. dentro do sintagma, uma organização err
que os vocábulos, dependendo de sua posição e da relação que estabelecem entre si, desempenharr
diferentes funções.
o especialista não respondeu todas as perguntas
determinante + núcleo adv. + núcleo det + det + núcleo
nominal verbal nominal
V' n~ h'\.W'f .h(j'.JJ...,r 'I'
r f../'''I sintagma nominal
I ,/ o
sintagma nominal sintagma verbal
As unidades sintáticas da língua ( sistema de unidades hierarquizadas) apresentam-se sob a forma
de palavras, sintagmas, orações e são relacionadas por um conjunto de mecanismos formais. Conforme
Azeredo (1990), liA estrutura gramatical do português comporta vários níveis. O morfema é a menor
unidade dessa estrutura; e o período a maior. Acima do nível dos morfemas acha-se o dos vocábulos;
acima deste, o dos sintagmas, a que se superpõe o das orações. Esquematicamente, temos:
PERíODO
ORAÇÃO
ISINTAGMA
VOCÁBULO
MORFEMA
Vamos ler o poema de Cecília Meireles e observar os níveis de estruturação do enunciado:
Colar de Carolina
Com seu colar de coral,
Carolina
corre por entre as colunas
da colina.
o colar de Carolina
colore o colo de cal,
torna corada a menina.
E o sol, vendo aquela cor
do colar de Carolina,
põe coroas de coral
nas colunas da colina.
Neste poema, a autora faz um jogo de palavras, tirando proveito principalmente do aspecto sonoro e
das combinações de sintagmas nominais Os diversos níveis a que nos referimos acimapodem ser
apontados no texto:
nível do período: O colar de Carolina
colore o colo de cal,
torna corada a menina.
nível da oração: O colar de Carolina
colore o colo de cal /
torna corada a menina.
nível dos sintagmas: O colar de Carolina I
SN
colore o colo de cal,
SV
torna corada a menina.
SV " (,fN\, -fy., «c: c ,I CÚt -dt.
nível dos vocábulos: Comi seul colarl dei coral I Carolina I corre I
porl entrei asl colunas I deI a colina.
•••••••••••
/'
nível dos morfemas: O I col/a/r I de I Carolina I
color/e I o I col/o Idel cal/,
tom/a I cor/adia /a/ menin/a.
As gramáticas descrevem os níveis da oração e do período sob um ponto de vista sintático e 0SA
níveis do morfema e do vocábulo sob o ponto de vista morfológico. No entanto, geralmente, não tornarrf"
conhecimento do nível do sintagma - intermediário entre vocábulos e oração. E, como mostra Azeredo:
"". os vocábulos não se unem para formar a oração do mesmo modo que os gomos se unem para
formar uma laranja. Os vocábulos não formam a oração senão indiretamente. Eles se associam em
grupos, os sintagmas, que são os verdadeiros constituintes da oração."
O que nos interessa mais de perto é exatamente esse nível intermediário, o sintagma, essa espécie
de ponte entre os vocábulos e a oração. Surgem então algumas perguntas:
Como podemos reconhecer um sintagma?
Basta haver mais de um vocábulo para existir sintagma?
Como são formados os sintagmas?
Há mais de um tipo de sintagma ou apenas um?
Todas as classes podem formar sintagmas?
r I
Outras perguntas podem aparecer, mas, por enquanto, vamos tentar responder a essas que no
parecem mais prováveis de ocorrer. Vejamos.
Em primeiro lugar, encontramos também no livro Iniciação à sintaxe (Azeredo: 1990), uma boi...
resposta para a primeira questão: Como podemos reconhecer um sintagma? Segundo o autor, três sã~
as maneiras de isolar as unidades que constituem a oração, ou seja, os sintagmas: o deslocamento,
substituição e a coordenação.
A primeira frase vai nos servir para explicar com clareza a questão levantada.
A noite chegava cedo em Manarairema.
Lemos logo no início do livro A hora dos ruminantes, de José J. Veiga:
A noite chegava cedo em Manarairema. Maio sol se afundava atrás da serra - quase que
de repente, como caindo - já era hora de acender candeeiros, de recolher bezerros, de se enrolar
em xales. A friagem até então contida nos remansos do rio, em fundos de grotas, em porões
escuros, ia se espalhando, entrando nas casas, cachorro de nariz suado farejando.
Qualquer um de nós rejeitaria ou perceberia como estranhas as seqüências formadas pe E
mesmos vocábulos, porém agrupados assim:
*Noite a chegava cedo em Manarairema.
*Em chegava noite a cedo Manarairema.
No entanto, podemos trocar a posição de alguns grupos de vocábulos da frase inicial, sem preju
da compreensão:
Chegava cedo em Manarairema a noite.
Em Manarairema a noite chegava cedo.
Essa inversão da ordem é possível porque nós mantivemos os grupos (A noite, em Manarairema)
apenas mudamos sua posição. Essa possibilidade de deslocamento prova que cada grupo é un
sintagma. Além disso, podemos fazer substituição de seqüência por unidade simples:
A noite chegava cedo em Manarairema.
Ela chegava cedo em Manarairema.
A noite chegava cedo em Manarairema.
A noite chegava cedo lá. -
Aqui também estamos diante de sintagmas: a possibilidade de substituição por unidades simples.
Finalmente, podemos usar um elo coordenativo'e'que vai mostrar a união de duas unidades de
mesmo nível. (Como professor e aluno, serra e mar ...) Teremos então:
A noite e a escuridão chegavam cedo em Manarairema.
em que "a escuridão" é equivalente a "a noite" e por isso pode substituí-Ia:
A escuridão chegava cedo em Manarairema.
Assim, reconhecemos um sintagma por meio do deslocamento ou mobilidade, da substituição po
unidades simples e da coordenação. Por outro lado, apesar de nos referirmos a "grupo de vocábulos", e
sintagma pode também ser formado de um só vocábulo, como em:
Manarairema vai sofrer a noite.
Manarairema esperou impaciente.
",,~J
Portanto não basta haver um vocábulo para existir sintagma, nem é necessário mais de um vocábulo
para haver sintagma.
Como são formados os sintagmas?
Há mais de um tipo de sintagma ou apenas um?
Todas as classes podem formar sintagmas?
As três perguntas acima estão intimamente relacionadas, por exemplo, se alguém pergunta: "Come
são formados os sintagmas?" - a resposta provavelmente será: - Depende do tipo de sintagma. Da
concluímos que há mais de um tipo. Ou então, se a pergunta é: "Todas as classes podem formal
sintagmas?" - responderíamos que as classes de vocábulos entram na formação dos sintagmas, mas é
participação não é igual; há classes que são núcleo, outras determinantes, outras modificadores, depende
do tipo ... e assim por diante.
Por tudo o que foi dito até agora, é possível afirmar que:
• podemos reconhecer a classe dos sintagmas;
• há procedimentos para provar a sua existência;
• há mais de um tipo de sintagma;
• os vocábulos se unem para formar sintagmas;
• os sintagmas formam a oração.
Convém lembrar que a natureza do sintagma depende do seu núcleo. Assim, temos, em português
duas classes de sintagmas: o sintagma nominal (SN)- que tem o nome como núcleo - e o sintagma
verbal (SV) -- que tem o verbo como núcleo. Funcionando como modificador de um ou de outro, temos c
sintagma preposicionado. _-+ I (
2. O sintagma nominal
As reflexões feitas até agora nos levam a afirmar, com Koch e Silva (1986), que "O sintagma consiste
num conjunto de elementos que constituem uma unidade significativa dentro da oração e que mantêrr
entre si relações de dependência e de ordem. Organizam-se em tomo de um elemento fundamental.
denominado núcleo, que pode, por si só, constituir o sintagma." .
. 'f' c!·A natureza do sintagma depende do seu núcleo. Nesta unidade, trataremos mais especi ícarnente I
sintagma nominal (SN), cujo núcleo é um nome, considerando seus constituintes.
Ao abordar a noção de classe, Perini (1985) observa: t
I•t•••t•••••podet••••
"Uma das funções essenciais das classes de formas ( por exemplo, das classes de palavras) é •
justamente permitir a descrição compacta do 'comportamento sintático das formas. As quatro formas •
.(dos exemplos acima) deveriam, pois, ser colocadas em uma classe, o que a gramática tradicional não •
faz; não existe sequer um termo tradicional para essa classe. Aqui utilizaremos "sintagma nominal",
designação consagrada em Lingüística." •
A inexistência de uma noção clara do sintagma nominal deixa de considerar uma generalizaJ
importante. da língua, tratando como coincidência um aspecto estrutural da maior importância : a mesnt
classe de formas ( o sintagma nominal) pode aparecer em diversas funções sintáticas. •
Considerando o sintagma nominal como uma Classe de formas, podemos analisar e verificar a slj
estrutura interna: o sintagma nominal ( SN ) se compõe de um substantivo, ou de artigo + substantivo, c!
de pronome pessoal, etc e podemos afirmar que o sujeito é sempre formado de um SN, assim como.
objeto direto, e que o objeto indireto se compõe de preposição + SN (a não ser o objeto indir1
representado por "lhe").
Leia este trecho do romance de João Ubaldo Ribeiro: Viva o povo brasileiro: •r U "1.' •
[Dia lavadíssimo, esta terça-feira, véspera de Santo Antônio, r.m que Perilo Ambrósio estuprou a negra •
Daê, mais chamada por Venância l!-avado mesmo, porque 9hoveu até de manhãzinha, chuva grossa,
chuvarada como os aguaceiros de verão, nada dessas bruequinhas regelantes que nunca vão embora •
e ficam ensopando os ossos das criaturas durante os meses de junho e julho, muitas vezes passando •
por agosto, quantas e quantas vezes entrando mais ou menos por setembro, vindo as primeiras águas .
desde abril, chuvas miD[E esta ilha, já diziam os antigos, é verdadeiramente o bispote do céu, por •
assim falar, um ponto que as nuvens escolhem para arrebanhar-se antes de seguir viageml~Desde •
segunda-feira pelas onze da noite que bateu uma pancada, bateu outra, bateumais outra, chuva
mesmo, das que fazem aluviões, das que levantam um cheiro de terra tão safado que muita gente fica •
perturbada, os comedores de barro não se agüentando e metendo os dentes até em telhas e cacos de •
moringa molhados [Logo depois o tempo clareia de repente, o céu aparece com um azul muito levinho, •
o sol vai esquentando sem ficar tão quente como em fevereiro e o dia nasce desse jeito lavado que
todo mundo conhece, a terra e a areia assentadas, as folhas com lustro, o ar limpíssimo, muitas •
novidades em cada canto, grande movimentação de bichos e uma certa alegria despropositada, uma •
certa crença em que, lavado asssim, luminoso assim, o universo não é indiferente, mas propício]
"Admite-se sempre a necessidade de classificar as palavras, e a doutrina fornece nomes para
essas classes ("verbos", "advérbios", "pronomes" etc). Além dessas classes, existem outras, que
não são explicitamente reconhecidas como tais, mas que também recebem nomes: termos como
"oração", "frase", "oração subordinada" se referem na verdade a classes de formas, ou a suas
subclasses. E, como quaisquer outras classes, podem ser definidas pela sua distribuição sintática,
sua estrutura interna, ou ( com as limitações que conhecemos) suas propriedades semânticas. No
entanto, nem todas as classes são explicitadas. Vejamos o caso de uma classe extremamente
freqüente e importante, mas que não é em geral reconhecida pela gramática tradicional (salvo em
raríssimas exceções): a dos sintagmas nominais".
Em seguida mostra que, mesmo apresentando grandes diferenças estruturais, elementos como:
substantivo próprio - Júlio, Maria, Joaquim Santos, Brasil, França, Africa
artigo + substantivo próprio - o Lula, a Petrobrás, o Brasil
pronome + substantivo - esta terça-feira, meu avô, algum país
artigo+substantivo+oração adjetiva - o país em que eu vivo; o livro que você leu; a escola em que você estuda
têm comportamento sintático semelhante, isto é, são portadores de "traços sintáticos" comuns"
ser sujeito de uma oração
podem ser objeto direto
podem vir precedidos de preposição e funcionar como adjunto adnorninal ou objeto indireto.
Perini acrescenta:
•
No nosso contato com um texto, é importante perceber não só o assunto tratado, mas também come
o texto é estruturado. Assim, podemos observar que essa descrição poética de um dia de chuva está
organizada em cinco períodos:
- no primeiro período temos a introdução do tempo, do tema e dos personagens:
Dia lavadíssimo, esta terça-feira, véspera de Santo Antônio, em que Perilo Ambrósio estuprou a
negra Daê, mais chamada por Venância.
- o segundo período se detém na descrição da chuva:
Lavado mesmo, porque choveu até de manhãzinha, chuva grossa, chuvarada como os aguaceiros
de verão, nada dessas brueguinhas regelantes que nunca vão embora e ficam ensopando os
ossos das criaturas durante os meses de junho e julho, muitas vezes passando por agosto,
quantas e quantas vezes entrando mais ou menos por setembro, vindo as primeiras águas desde
abril, chuvas mil.
- no terceiro período aparece a justificativa para tanta chuva, fornecendo argumentos, a razão
para o período anterior:
E esta ilha, já diziam os antigos, é verdadeiramente o bispote do céu, por assim falar, um ponto
que as nuvens escolhem para arrebanhar-se antes de seguir viagem.
-no quarto perído, de conotação negativa, temos a repercussão, os efeitos da chuva nas
pessoas e na terra:
Desde segunda-feira pelas onze da noite que bateu uma pancada, bateu outra, bateu mais outra,
chuva mesmo, das que fazem aluviões, das que levantam um cheiro de terra tão safado que muita
gente fica perturbada, os comedores de barro não se agüentando e metendo os dentes até em
telhas e cacos de moringa molhados.
- e, finalmente, no quinto período, há uma espécie de corte introduzindo o aspecto positivo da
chuva:
Logo depois o tempo clareia de repente, o céu aparece com um azul muito levinho, o sol vai
.esquentando sem ficar tão quente como em fevereiro e o dia nasce desse jeito lavado que todo
mundo conhece, a terra e a areia assentadas, as folhas com lustro, o ar limpíssimo, muitas
novidades em cada canto, grande movimentação de bichos e uma certa alegria despropositada,
uma certa crença em que, lavado asssim, luminoso assim, o universo não é indiferente, mas
propício.
Analisando a construção deste trecho de João Ubaldo, vamos observar os diferentes tipos de
constituição do sintagma nominal:
2.1 Constituintes do sintagma nominal
o sintagma nominal apresenta um núcleo, que pode ser um substantivo, próprio ou comum; pode ser
ainda um pronome substantivo (pessoal, demonstrativo, indefinido, interrogativo, possessivo ou relativo).
"Dia lavadíssimo, esta terça-feira, véspera de Santo Antônio, em que Perilo Ambrósio estuprou
a negra Daê, mais chamada por Venância.
No exemplo acima, cada núcleo de SN marcado em negrito é representado por substantivo próprio ou
comum. No segundo período, encontramos que nunca vão embora, no terceiro, que as nuvens escolhem;
nesses casos o núcleo é um pronome relativo. Já no quarto período, temos: bateu outra, bateu mais
outra, chuva mesmo, das que fazem aluviões, das que levantam um cheiro de terra tão safado ... em
que o núcleo é um pronome indefinido outra, um pronome demonstrativo as, ou pronome relativo que. Ne
quinto período __o desse jeito lavado que todo mundo conhece, a terra e a areia assentadas -- encontramos
núcleos representados por um substantivo comum jeito, por pronome relativo que e ainda o caso de dois
núcleos terra / areia, dois substantivos comuns.
Quando o núcleo for um pronome substantivo, este por si só representará o SN. Pode acontecer
também o caso da ausência do SN, como em "Lavado mesmo, porque choveu até de manhãzinha," nc
segundo período. Dizemos que nesse caso o SN sujeito não se atualiza ou que sua posição não está
lexicalmente preenchida.
7
Além do núcleo, o SN pode apresentar determinante{s), e/ou modificador{es). Os determinant
antecedem o núcleo e os modificadores são antepostos ou pospostos.
Dia lavadíssimo, esta terça-feira, véspera de Santo Antônio, em que Perilo Ambrósio estuprou a negra
Daê, mais chamada por Venância. Lavado mesmo, porque choveu até de manhãzinha, chuva grossa,
chuvarada como os aguaceiros de verão, nada d ssas brueguinhas regelantes que nunca vão embora e
ficam ensopando os ossos das criaturas durante os meses de junho e julho, muitas vezes passando por
agosto, quantas e quantas vezes entrando mais ou menos por setembro, vindo as primeiras águas
desde abril, chuvas mil. E esta ilha, já diziam os antigos, é verdadeiramente o bispote do céu, por assim
falar, um ponto que as nuvens escolhem para arrebanhar-se antes de seguir viagem. Desde segunda-
feira pelas onze da noite que bateu uma pancada, bateu outra, bateu mais outra, chuva mesmo, das que
fazem alviões, das que levantam um cheiro de terra tão safado que muita gente fica perturbada, os
comedores ( ... )
...e o dia nasce desse jeito lavado que todo mundo conhece, a terra e a areia assentadas, as folhas
com lustro, o ar limpíssimo, muitas novidades em cada canto, grande movimentação de bichos e uma
certa alegria despropositada, uma certa crença em que, lavado asssim, luminoso assim, o universo não
é indiferente, mas propício. ~ -. I (, .
Como podemos observar, as marcações em negrito indicam que artigo, numeral e pronome adjeti
podem funcionar como. determinantes do núcleo e que alguns podem vir juntos, outros, nãc. Assim, e
esta ilha, esta terça-feira, temos um único determinante, o pronome demonstrativo; já em uma ce
alegria despropositada, uma certa crença, temos dois determinantes. Isto porque o artigo e o pronom
demonstrativo se excluem, mas o mesmo não acontece entre os artigos e os pronomes indefinidos, ne
entre artigos e numerais, como em: as primeiras águas; o mesmo se dá entre pronomes possessivos
numerais e entre pronomes demonstrativos, possessivos e numerais.
Dissemos que o SN pode ainda apresentar modificador ou modificadores. Retomando o text
percebemos logo no início oSN Dia lavadíssimo, em que o núcleo Dia está sendo modificado p
lavadíssimo. O mesmo vai acontecer em vários SN deste texto, isto é, vários núcleos serão "modificado.
por adjetivos ou por locuções adjetivas; em certos casos, o modificador pode ser um advérbio ou locu -
adverbial.
Podemos então afirmar que o SN apresenta mais de uma possibilidade de estruturação, isto é, o S
não é fixo, imutável. Ele é formado ora por determinante ( Det ) + núcleo ( N ) + modificador (Mod); ora p
N + Mod; ora por Det+ Mod + N + Mod; ora por Det + N. Enfim, não há grande rigidez na sua formação:
nr N ,,<-1.o os aguaceiros de verão \ Determinante + Núcleo + Modificador
essas brueguinhas regelantes I
as folhas com lustro I
o ar limpíssimo ':....4)" r .M ~A ~c0v
muitas novidades 'em cada canta ,)
@ chuva grossa > Núcleo + Modificador
~ uma certa crença "> Det + Det + N
'4 a terra~a areia assentadas
c
Det + N + Det +N + Mod
-t ó. .,..
grande movimentação de bichos ~ Mod + N + Mod
uma certa alegria despropositada -~ Det + Det + N + Mod
Vamos ler o texto em que Jorge Amado descreve as roças de cacau:
A sombra das roças é macia e doce, é como uma carícia. Os cacaueiros se fecham em folhas grandes
que o sol amarelece. Os galhos se procuram e se abraçam no ar, parecem uma árvore subindo e
descendo o morro, a sombra de topázio se sucedendo por centenas e centenas de metros. Tudo nas
roças de cacau é em tonalidades amarelas, onde, por vezes, o verde rebenta violento. De um amarelo
aloirado são as minúsculas formigas pixixicas que cobrem as folhas dos cacaueiros e destroem a
praga que ameaça o fruto. De um amarelo desmaiado se vestem as flores e as folhas novas que o sol
pontilha de amarelo queimado. Amarelos são os frutos precoces que pecaram ao calor demasiado.
R
Os frutos maduros lembram lâmpadas de oiro das catedrais antigas, fulgem com um brilho
resplandecente aos raios do sol, que penetram a sombra das roças. Uma cobra amarela - uma papa-
pinto - acalenta o sol na picada aberta pelos pés dos lavradores. E até a terra, barro que o verão
transformou em poeira, tem um vago tom amarelo, que se prende e colore as pernas nuas dos negros
e dos mulatos que trabalham na poda dos cacaueiros.
Dos cocos maduros se derrama uma luz doirada e incerta que ilumina suavemente pequenos
ângulos das roças. O sol que se filtra através das folhas desenha no ar colunas amarelas de poeira,
que sobem para os galhos e se perdem além, por cima das folhas mais altas. Os juparás, macacos
plantadores de cacau, pulam de galho em galho, numa algazarra, sujando o oiro dos cacaueiros com
o seu amarelo fosco e sujo. A papa-pinto desperta, estira seu dorso cor de gema de ovo, parece uma
vara de metal que fosse.Jlexível. Seus olhos amarelos de cobiça fitam os macacos que passam,
bando buliçoso e alegre. Caem gotas de sol através dos cacaueiros. Vão rebentar em raios no chão,
quando batem nas roças de água lhe dão um colorido de rosa-chá. Como se houvesse uma chuva de
topázio caindo do céu, virando pétalas de rosa-chá no chão de poeira ardente. Há todos os tons de
amarelos na traqüilidade da manhã nas roças de cacau.
E, quando corre uma leve brisa, todo aquele mar de amarelo se balança, as tonalidades se
confundem, criam um amarelo novo, o amarelo das roças de cacau, ah! O mais belo do mundo! Um
amarelo como só os grapiúnas vêem nos dias de verão do paradeiro. Não há palavras para descrevê-
10,não há imagem para compará-Io, um amarelo sem comparação, o amarelo das roças de cacau!
(São Jorge de Ilhéus)
Para descrever as roças de cacau, o autor se coloca em' íntimo contacto com a natureza, numa
descrição afetiva, pessoal, atribuindo características humanas a seres inanimados, personificandc
elementos da natureza: "De um amarelo demasiado se vestem as flores e as folhas novas ..." Encontramos
também muitas imagens baseadas nos sentidos, principalmente impressões visuais: "Tudo nas roças de
cacau é de tonalidades amarelas ..."
O texto é extremamente rico em metáforas, que ajudam a construir a descrição, essencial ac
desenvolvimento da narrativa .
.Vamos agora examinar o sujeito da frase: Uma cobra amarela acalenta o sol.
Neste sujeito, a palavra mais importante é cobra, o seu núcleo. As palavras uma e amarela limitam c
sentido do núcleo cobra.j - seus-determiaantesj Quando construímos nossos textos, usamos esses
elementos ~etefmil"lallte~ para limitar, como em uma cobra, ou para dar mais um sentido aos substantivo,
como em cobra amarela.
Assim, algumas palavras e expressões servem para limitar ou dar mais um sentido aos substantivos
que acompanham:
• Os cacaueiros se fecham em folhas grandes.
• Quando corre uma leve brisa, aparece um amarelo novo.
Na frase "O frutos maduros lembram Lâmpadas de ouro de catedrais antigas" , para descrever os
substantivos frutos, cãtedrais~ lâmpadas, o autoi'empreçou adjetivos e locuções adjetivas:
substàntivos -aajetivosllocuÇOe"s aA,;>~-h/
frutos maduros -
catedrais antigas
lâmpadas de ouro
olhos amarelos
ootas de sol
Podemos concluir, portanto, que o texto é todo construído com elementos que vão caracterizando,
descrevendo as roças de cacau. Além de adjetivos e locuções adjetivas, o autor usou também várias
orações que têm o valor de um adjetivo: são as orações adjetivas. Elas se referem ao termo anterior e
vêm sempre introduzidas por um pronome relativo:
a
:- ./
I -I
S,'N ~ N 'rYvt-d -
Amarelos são aqueles frutos precóces que pecaram ao calor demasiado.".J-- SN
aqueles ~ frutos I ~ precoces
t
que pecaram ao calor demasiado I
Nestas outras frases também se realiza esse processo de detalhamento do substantivo:
• O sol que se filtra a ravésnas folhas desenha colunas no ar.
• As cotunas ~a.s~ãe poeira gue sobem p~ra os galhos.
• A "papa-pinto" gue parece uma vara de metal.
:L
Usamos as orações subordinadas adjetivas para ampliar o sentido dos nomes, Observe:
Os juparás pulam de galho em galho.
Os juparás, ue são macacos lantadores de cacau, pulam de galho em galho.
~:::9>-0 "')(){~'fv
Dos cocos maduros se derrama uma luz doirada e incerta
Dos cocos maduros se derrama uma luz doirada e incerta que ilumina suavemente pequenos
ânqulos das rocas. ....r"'~ 10(' 4
O sol desenha no ar coluna amarelas de poeira ,
O sol que se filtra atrav .s 5 folhas desenha no ar colunas amarelas de poeira.
O sol que se filtra através das folhas desenha no ar colunas amarelas de poeira que sobem
para os qalhos e se perdem além. ç-cG
=
2.2 O nome como núcleo funcional
No nosso dia-a-dia, fazemos um uso muito freqüente de nomes, para dois tipos de função:
a) identificar seres e objetos (substantivos);
b) caracterizar, especificar, especializar seres e objetos (adjetivos);
Substantivos e adjetivos fazem parte da ampla classe dos nomes. Existe uma diferença entre ele
mas essa diferença só se evidencia funcionalmente, quando aparecem combinados no sintagma nomin ,
numa ordem linear, o substantivo funcionando como núcleo, e o adjetivo como modificador. Quan "'-
isolados, nem sempre é possível uma distinção nítida entre substantivos e adjetivos, porque eles l'
características mórficas semelhantes, isto é, flexionam-se para expressar as categorias de gênero á
número.
Percebemos que os substantivos podem ser modificados por adjetivos, elementos capazes
precisar o seu sentido, e que esse processo constitui um mecanismo produtivo na língua, dada
capacidade dos adjetivos de expandir a idéia básica definida pelos substantivos,
Rios de Petrõpolis
(Carlos Drummond de Andrade)
A poluição faz rios coloridos.
Não é tão feia assim. Como atração
reproduz, em matizes escolhidos,
as belas cores da televisão.
Neste texto podemos observar a relação núcleo (termo determinado) e modificador (te
determinante) de maneira muito clara.
modificador núcleo
(adjetivos) (substantivos)
feia poluição
belas cores
núcleo modificador
(substantivos) (adjetivos)
rios coloridos
matizes escolhidos
o nome substantivo é, por excelência, o núcleo do sintagma nominal.
Os pronomes pessoais têm, como uma de suas características básicas, a possibilidadede
constituírem, sozinhos, um SN: Exemplo: Ele chegou atrasado.
Outros pronomes podem também funcionar como núcleos de SN ou constituírem, sozinhos, um SN.
Exemplos: Tudo era silêncio em Manarairema.
"Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo." (Cecília Meireles)
Qualquer vocábulo de outra classe, que ocupe a função de núcleo do sintagma nominal, será entendidc
como um substantivo. Exemplos: "Viver é muito perigoso ... " (Guimarães Rosa)
Recebi um sonoro não como resposta ao meu pedido.
Os elementos determinantes do sintagma nominal são representados pelos artigos, pelos pronomes,) e
pelos numerais.
o engenheiro ( João Cabral de Mello Neto)
A luz, o sol, o ar livre
envolvem o sonho do engenheiro.
O engenheiro sonha coisas claras:
superfícies, tênis, um copo de água.
O lápis, o esquadro, o papel;
o desenho, o projeto, o número:
o engenheiro pensa o mundo justo,
mundo que nehum véu encobre.
(Em certas tardes nós subíamos
ao edifício. A cidade diária,
como um jornal que todos liam,
ganhava um pulmão de cimento e vidro).
A água, o vento, a claridade,
de um lado o rio, no alto as nuvens,
situavam na natureza o edifício
crescendo de suas forças simples.
Esse poema focaliza a função do engenheiro, que é dar forma à matéria. O substantivo é a classe
que indica a corporificação da matéria representada. Por isso, na construção do poema, o autor privilegiou
a seqüência de substantivos (as palavras destacadas).
Como podemos perceber, há inúmeros SN com seus núcleos substantivos, determinados por
artigos e pronomes, como destacamos nos quadros abaixo:
Sintagma nominal determinante núcleo
a luz a (artigo luz
o sol o (artigo sol
o ar livre o (artiqo ar
o engenheiro o (artigo engenheiro
a água a (artigo água
as nuvens as (artigo nuvens
um jomal um (artigo jomal
um copo d' água um (artigo copo
nenhum véu nenhum (pronome) véu
certas tardes certas (pronome) tardes
suas forças simples suas (pronome) forças
11
Trecho de entrevista
"s.. a sala, apesar de não. ser grande, dá dois ambientes perfeitamente separados. O primeiro
ambiente da sala de estar tem um sofá de couro, uma forração verde, as almofadas verdes, ladeado com
duas mesinhas de mármore, abajur, um quadro, reprodução de Van Gogh. Em frente tem uma mesinha
de mármore e em frente a esta mesa e portanto defronte do sofá tem um estrado com almofadas areia, ot
aparelho de som, um baú preto. À esquerda desse estrado tem uma televisão enorme, horrorosa, depois ~
tem em frente à televisão duas poltroninhas vermelhas, de jacarandá, e aí termina o primeiro ambiente <:
Depois, então, no outro, no alargammto da sala tem uma mesa grande com seis cadeiras com um abajur
em cima ... " (projeto NURC/RJ - entrevista sobre o tema Casa, infonnante do sexo feminino, com idade.
entre 25 e 35 anos) .
Sintagma nominal detenninantes núcleos
dois ambientes dois ambientes
o primeiro ambiente o, primeiro ambiente
duas mesinhas de mármore duas mesinhas
duas poltroninhas vermelhas duas poltroninhas
seis cadeiras seis cadeiras •
O nome adjetivo, do ponto de vista funcional, ocupa a posição de modificador do núcleo do sintagrt
nominal.
Em alguns casos, como nos exemplos destacados do Texto 4 (Rios de Petrópolis), a relação enta
núcleo e modificador do sintagma nominal pode ser facilmente observada. Em outros, verifica-se uma fo _
semelhança entre o adjetivo e o substantivo, por isso é preciso recorrer ao critério funcional para percetl
qual é o vocábulo determinado (substantivo) e qual é o vocábulo determinante (adjetivo). Oberve este
frases: t-J n .../
O campeão da Copa de 94 foi o Brasil.
O time campeão marcou muitos gols.
N ~ •
Quando dizemos 'O campeão da Copa de 94 foi o Brasil', a palavra campeão é o núcleo !iIi
sintagma, a base, o centro da informação contida em o campeão da Copa de 94. Estamos falando m
campeão. Quando dizemos 'O time campeão marcou muitos gols', o centro da informação contida •
sintagma o time campeão é a palavra time. Estamos falando do time.
No trabalho com a produção de textos, é importante mostrar a semelhança de função entre o adjetiji
e a locução adjetiva, ambos modificadores do núcleo do sintagma nominal. A locução é formada por urm
preposição mais um substantivo (sintagma preposicionado). No poema "O Engenheiro" temos: o sonho
engenheiro, um pulmão de cimento e vidro, um copo de água . No texto retirado da entrevista tem"
sofá de couro, mesinha de mármore, duas poltroninhas vermelhas de jacarandá.
Na função de modificadores, os adjetivos e as locuçõe~setivas pode especificar, caracterizar ct
expressar uma avaliação do falante sobre os substantivos. Pa \ es ecificar e racterizar os substantivct
usamos, com maior freqüência, as locuções adjetivas; par valiar, são mais reqüentes os adjetiv
simples.
1?
® caracterização
(
® avaliação )
bola de plástico
de couro
de meia
santo de barro
de madeira
de gesso
panela de barro
de ferro
de alumínio
bola estragada
velha
nova
bonita
juiz educado
honesto
ladrão
trabalhador
É muito importante que o usuário perceba essas diferenças para aplicá-Ias na produção de sintaçmas
mais complexos.
2.3 Processos de ampliação do sintagma nominal
Os processos de ampliação do SN compreendem, além do acréscimo de adjetivos, as locuções
adjetivas e as orações adjetivas.
Para refletir um pouco mais sobre essa questão, vamos examinar esses trechos, publicados no Jomal
do Brasil:
"A história do brasileiro pobre que ficou rico fazendo gols, do garoto talentoso que virou ídolo
intemacinal e do craque rebelde que virou herói nacional já não nos pertence mais, é do
mundo." (trecho A) .-
(JB, 18/7/94 - p.24)
b)"As dúvidas e os atrasos estão levando o clube á falência." (trecho B)
(JB, 11/12/93)_ /
Enquanto no texto a os núcleos são especificados por adjetivos, os substantivos do texto b não
apresentam um único adjetivo. Há, portanto, textos em que substantivos se bastam (texto b), enquanto em
outros o centro da expressão é especificado, especializado, precisado, embelezado, caracterizado, enfim,
por adjetivos.
A adjetivação do substantivo pode se dar também por meio:
I' T7 U J .o..
a) de uma locução (expressão):
Enquanto houver um passe de calcanhar, um gol de placa, um drible de craque, valerá a pena torcer
pelos campeões. do mundo.
"
b) de uma frase: / (
O público que lota os estádiOS vibra com os lances.
O time que jogou contra o Brasil era muito bom.
Veja outros exemplos:
1~
Aquele time europeu virou um verdadeiro balcão de negócios.
O técnico da seleção brasileira não ouve os apelos gue a torcida faz.
O jogador, que ontem se apresentou nas Laranjeiras, custou duas vezes o valor do passe. •
Desde que assumiu a direção técnica do Milan, conquistando dois títulos de campeão italiano, foi o mais
aplicado e bem sucedido adepto da marcação por zona. Seu prestígio continua intacto : além do convite
para dirigir a seleção japonesa, nos últimos meses Telê recebeu convites de times de Roma e da Arábia
Saudita.
Em 94, pelo menos três seleções surpreenderam: Nigéria e Arábia Saudita, além dos Estados Unidos,
que eliminaram a Colômbia, que foi apontada como uma das favoritas e que se revelou a grande
decepção do torneio.
O futebol alegre dos nigerianos é uma das atrações da Copa.
Vimos que é através do acréscimo de adjetivos, locuções adjetivas e orações subordinadas adjetivas
que se dá a expansão do substantivo - base, núcleo da expressão.
Observe o texto abaixo:
Bola Carijó
(Décio Pignatari)
Já estou começando a ficar encafitado com essa pelota malhada, com esse couro branco,
pintalgado de preto ou preto, salpicado de branco, que os altíssimos mentores da FIFA oficializaram
para o Mundial de 66.
Embora corintiana também como eu, olho-a com suspeição e desconfiança a rolar enganosamente
pelo gramado: bola-não-bola, branca-não-branca, preta-não-preta, branca-ou-preta, preta-ou-branca,
branca-e-preta, preta-e-branca, prenca, branta. E cinza quando em alta rotação. Que diabo de nem-bola é
essa afinal? Caleidoscópica, hipócrita, camuflada, mesmérica-bola-de- Tróia? .
Nestacrônica, o autor descreve a bola de futebol que foi usada na Copa do Mundo de 66. A
presença da adjetivação contribui para a ampliação dos núcleos substantivos (especificando,
especializando, precisando, caracterizando, enfim):
pelota malhada
couro branco, pinta/gado de preto ou preto, salpicado de branco
altissimos mentores da FIFA
(bola) Caleidoscópica, hipócrita, camuflada
(bola) corintiana
Leia agora o texto "Os Tubarões" retirado de uma revista de divulgação científica:
Os Tubarões
Os tubarões são bichos interessantíssimos. Infelizmente, não são tão conhecidos pelo público, que
acha que eles são assassinos cruéis e devoradores de homens.
Os estudiosos acreditam que os primeiros tubarões surgiram há mais ou menos 300 milhões de
anos. Isso é muito tempo. Os dinossauros surgiram há cerca de 220 milhões de anos e desapareceram há 65
milhões. Quer dizer, os tubarões apareceram bem antes deles e ainda continuam nadando por oceanos e
mares do mundo.
Os tubarões têm esqueleto feito de cartilagem e não de ossos. São parentes das arraias e das
quimeras, que também têm esqueleto cartilaginoso.
O maior tubarão do mundo é o tubarão-baleia, que pode medir até 18 metros de comprimento e só
come peixes pequenos.
Muito interessante é a gestação dos tubarões. Há algumas espécies, como o cação-gata, que botam
um "ovo" na vegetação marinha. Dentro dele o filhote se desenvolve até o momento de romper a casca. Na
maioria das outras espécies, o filhote passa toda a gestação dentro do útero materno.
O olfato dos tubarões é tão desenvolvido que muitos pesquisadores os apelidaram de "narizes
nadadores". Experiências comprovam que o tubarão consegue localizar, pelo cheiro, uma gota de sangue
misturada em um milhão e meio de gotas de água, e isso a uma distância de 30 metros. Seria assim como
pingar uma gota de sangue numa piscina olimpica.
Uma coisa que quase ninguém fala é que os homens estão matando muitos tubarões. Hoje em dia já
existem pesquisadores preocupados com este problema, porque os tubarões comem uma grande
quantidade de animais marinhos, ajudando a manter o equilíbrio do ecossistema. Mas não é só por isso que
devemos proteger os tubarões. Eles são também uma rica fonte de proteína animal, que é muito útil na
medicina. (RevistaCiênciaHojedas Crianças)
o texto explica, em uma linguagem acessível, como são os tubarões, seu processo de gestação,
seu tempo de vida na terra, seus sentidos, principalmente o olfato. Apresenta ainda algumas razões para
justificar a preocupação com a matança e a extinção dos tubarões, alertando para seu papel na
manutenção do equilíbrio ecológico do ecossistema.
Muitos sintagmas nominais foram empregados pelo autor para descrever os tubarões, os
substantivos (núcleos) nomeando algumas partes do tubarão, os adjetivos (modificadores) fornecendo
detalhes sobre essas partes do animal.
substantivos adjetivos
bichos interessantíssimos
esqueleto cartilaqinoso
olfato desenvolvido
narizes nadadores
proteína animal
assassinos cruéis
peixes pequenos
piscina olímpica
animais marinhos
pesquisadores preocupados
Além dos
preposicionado)
pessoa.
adjetivos, podemos combinar uma preposiçao e um substantivo (sintagma
quando queremos descrever as características de algum objeto, de algum animal ou
locução adjetiva = preposição + substantivo
substantivo adjetivo locução adjetiva
proteína animal dos animais
bichos interessantíssimos de muito interesse
esqueleto cartilaainoso de cartilaaem
útero materno da mãe
pesquisadores preocupados com preocupação
animais marinhos do mar
Veja outros exemplos de locuções adjetivas no texto:
substantivo adjetivo
mares do mundo
oceanos do mundo
gestação dos tubarões
olfato dos tubarões
gota de sangue
gota de áoua
equilíbrio do ecossistema
fonte de proteína
Existe uma outra maneira de incluir informações novas em nossos textos, além do uso de adjetivos
e locuções adjetivas: os adjetivos podem ser substituídos por orações completas, orações
subordinadas adjetivas. Isso é muito comum tanto na nossa linguagem do dia-a-dia quanto na
linguagem formal escrita:
1"
Essa combinação das duas frases só foi possível porque usamos o pronome relativo que.
função de substituir o vocábulo repetido, quando uma frase se encaixa na outra.
O tubarão-baleia pode medir até 18 metros de comprimento.
+
O t~eia só come peixes pequenos
i
Ele tem
ILo=--ra~p--,a--,z_é_m_e_u_a--,m_i-",gL.O1 + I o rapaz subiu no ônibus
o rapaz que subiu no ônibus é meu amigo
_ld' t·oraçao a je rva
QUE
= O tubarão-baleia, que só come peixes pequenos, pode medir até 18 metros de comprimento.
ou
O tubarão-baleia só come peixes pequenos.
+
O~Ieia pode medir até 18 metros de comprimento.
QU;
= O tubarão-baleia, que pode medir até 18 metros de comprimento, só come peixes pequenos.
2. 4 Funções do sintagma nominal
Retomando o trecho extraído do romance Viva o povo brasileiro, de João Ubaldo Ribeiro, vam
agora avançar um pouco mais no nosso estudo do SN: considerar a possibilidade que ele tem de exer
diversas funções sintáticas.
Consideremos o quinto período em que há uma espécie de corte introduzindo o aspecto positivo
chuva: ~
Logo depois o tempo clareia de repente, o céu aparece com um azul muito levinho, o sol vai
esquentando sem ficar tão quente como em fevereiro e o dia nasce desse jeito lavado que todo mundo
conhece, a terra e a areia assentadas, as folhas com lustro, o ar limpíssimo, muitas novidades em cada '"'
canto, grande movimentação de bichos e uma certa alegria despropositada, uma certa crença em que,
lavado asssim, luminoso assim, o universo não é indiferente, mas propício.
o assunto aqui gira em tomo do universo - tempo, céu, sol, dia e exatamente esses são os núcleos
dos SN na função de sujeito. Vejamos:
o tempo
o céu
o sol
o dia
o universo
clareia de repente
aparece com um azul muito levinho,
vai esquentando
nasce desse jeito lavado
não é indiferente, mas propício
o SN na função de predicador vai aparecer no terceiro período:
E esta ilha, já diziam os antigos, é verdadeiramente o bispote do céu, por assim falar, um ponto que as ""'-
nuvens escolhem para arrebanhar-se antes de seguir viagem.
No primeiro período, em que temos a introdução do tempo, do tema e dos personagens, vamos
encontrar o SN na função de objeto direto:
1~
Dia lavadíssimo, esta terça-feira, véspera de Santo Antônio, em que Perilo Ambrósio estuprou a negra
Daê, mais chamada por Venãncia.
Também o segundo período, que se detém na descrição da. chuva, vai apresentar o SN na função de
objeto direto:
... essas brueguinhas regelantes (...) ficam ensopando os ossos das criaturas durante os meses de
junho e julho,
Portanto, o SN pode ser sujeito, objeto direto, predicativo, aposto, ou seja, TODAS AS FUNÇÕES
EXERCIDAS PELO NOME SUBSTANTIVO
Além disso, é preciso considerar as orações subordinadas substantivas, que são verdadeiros SN
formados pelas conjunções integrantes que ou se + oração. Nesse caso, essas orações exercem, no
período composto, as mesmas funções que o SN no período simples.
17
r
3. o SINTAGMA VERBAL
Sintagma verbal (SV) é o conjunto- de elementos
que se organizam em torno de um verbo.
O SN e o SV são os elementos básicos, obrigatórios de uma oração. Enquanto o SN, como vimo'
pode desempenhar funções diferentes (sujeito, objeto direto, objeto indireto, por exemplo) o st
desempenha sempre a função de predicado.
Meninos carvoeiros (Manuel Bandeira)
Os meninos carvoeiros
Passam a caminho da cidade.
--Eh, carvoero!
E vão tocando os animais com Um relho enorme.
Os burros são magrinhos e velhos.
Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.
A aniagem é toda remendada.
Os carvões caem.
(Pela boca da noite vem uma velhina que os recolhe, dobrando-se com um gemido.)
-Eh, carvoero!
Só mesmo estas crianças raquíticas
Vão bem com estes burrinhos descadeirados.
A madrugada ingênua parece feita para eles ...
Pequenina, ingênua miséria!
Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis!
--Eh, carvoero!
Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado,
Encarapitados nas alimárias,Apostando corrida,
Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos desamparados!
Este poema, que faz parte do livro "Ritmo dissoluto", escrito em 1924, se caracteriza pelo emprego
versos livres, isto é, versos em que o autor não se prende a um número pré-estabelecido de sílabas, a u
esquema conhecido. Estão presentes no poema as cenas do cotidiano, descritas em uma linguage I
simples e acessível. Manuel Bandeira, nesses versos livres, está mais próximo do ritmo da pros
evidenciando o caráter afetivo da linguagem.
As orações que compõem os versos do poema, sobretudo as da primeira estrofe, são orações curta
em que os elementos constituintes, o SN e o SV, podem ser identificados com facilidade.
Sintagma nominal Sintagma verbal
Os meninos carvoeiros passam a caminho da cidade.
(Os meninos carvoeiros) vão tocando os animais com um relho enorme.
Os burros são magrinhos e velhos.
Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.
A aniagem é toda remendada ..
Os carvões caem.
Uma velhinha vem pela boca da noite.
Estas crianças raquíticas vão bem com estes burrinhos descadeirados.
A rnadruqada inqênua parece feita para eles.
1A
Como podemos ver, os sintagmas verbais podem apresentar diferentes constituições. Podem t
somente a forma verbal, como em
Os carvões caem.
ou serem formados de verbos combinados com outros elementos, como em
leva + seis sacos de carvões de lenha
vão tocando + os animais com um relho enorme
vem + pela boca da noite
passam + a caminho da cidade
A presença ou não de outros termos no SV, termos que completam ou modificam o sentido do verbo,
vai depender do tipo de verbo que ocorrer. A estas diferentes possibilidades de se constituir o sintaqrna
verbal, em função do verbo, damos o nome de predicação verbal.
3.1 Constituintes do sintagma verbal
Como dissemos, a presença do verbo é o que caracteriza o sintagma verbal. Além do verbo, outros
termos podem fazer parte do SV, dependendo do verbo que funciona como núcleo. Esses outros elementos
são, por sua vez, sintagmas - nominais ou preposicionados. Esses sintagmas desempenham diferentes
funções no SV: complementos diretos, indiretos, ajuntos adverbiais, agentes da passiva ...
o anjo das pernas tortas (Vinícius de Moraes)
A um passe de Didi, Garrincha avança
Colado o couro aos pés, o olhar atento
Dribla um, dribla dois, depois descansa
Como a medir o lance do momento.
Vem-lhe o pressentimento; ele se lança
Mais rápido que o próprio pensamento
Dribla mais um, mais dois; a bola trança
Feliz, entre seus pés _..:-um pé-de-vento)
Num só transporte a multidão contrita
Em ato de morte se levanta e grita
Seu uníssono canto de esperança.
Garrincha, o anjo, escuta e atende: --- Gooooool!
É pura imagem: um G que chuta um O
Dentro da meta, um L. E pura dança!
o poema conta um pouco da arte de Garrincha, lendário jogador de futebol brasileiro. Nele
encontramos verbos que exigem a presença de sintagmas nominais para completarem seu sentido.
Garrincha dribla um jogador
Garrincha mede o lance
Garrincha faz um gol
A multidão grita um canto de esperança
Garrincha escuta o grito
driblar 1--1 quem? = um jogador 1
medir 1-.1 o quê? = o lance 1
escutar I~ 1 o quê?= o grito 1
1 11 fazer I~ o quê? = um gol
1Q
r
Todos os termos que serviram para responder as perguntas quem?, o quê? vieram
acrescentar uma informação aos verbos driblar, medir, escutar, fazer, gritar, completando o
sentido do verbo. Repare ainda que todos esses complementos ligaram-se diretamente ao verbo,
isto é, não foi usada nenhuma preposição entre o verbo e seu complemento. São sintagmas
nominais que funcionam como objeto direto. E o verbo é transitivo direto.a::~::.oema ro::::::U:v:ã:ç:Xigem qualquersintagmapara completarseu sentido
Idescansar Garrincha descansa.
gritar A multidão grita.
Dizemos que os verbos que não precisam de nenhuma espécie de complemento são os verbos
intransitivos.
A televisão (Chico Buarquede Holanda)
o homem da rua
Fica só por teimosia
Não encontra companhia
Mas pra casa não vai não
Em casa a roda
Já mudou, qua a roda muda
A roda é triste a roda é muda
Em volta lá da televisão
No céu a lua
Surge grande e muito prosa
Dá uma volta graciosa
Pra chamar as atenções
O homem da rua
Que da lua está distante
Por ser nego bem falante
Fala só com seus botões
O homem da rua
Com seu tamborim calado
Já pode esperar sentado
Sua escola não vem não
A sua gente
Está aprendendo humildemente
Um batuque diferente
Que vem lá da televisão
No céu a lua
Que não estava no programa
Cheia e nua, chega e chama
Pra mostrar evoluções
O homem da rua
Não percebe o seu chamego
E por falta doutro nego
Samba só com seus botões
Os namorados
Já dispensam o seu namoro
Quem quer riso, quem quer choro
Não faz mais esforço não
E a própria vida
Ainda vai sentar sentida
Vendo a vida mais vivida
Que vem lá da televisão
O homem da rua
Por ser nego conformado
Deixa a lua ali de lado
E vai ligar os seus botões
No céu a lua
Encabulada e já minguando
Numa nuvem se ocultando
Vai de volta pros sertões.
')(\
Nesta letra de música, Chico Buarque critica o enorme espaço que a televisão vem
ocupando, cada vez mais, na vida das pessoas. As conversas, o namoro, a dança, atividades que
pressupõem mais de uma pessoa, são substituídas pela tela da televisão, numa atividade isolada e
solitária.
Encontramos no texto inúmeras formas verbais. Elas podem ser agrupadas, de acordo com
o tipo de sintaqrna com que se combinam.
Grupo 1 : verbos que têm seu sentido complementado por sintagmas nominais.
--- •• I oquê?I encontrar
o homem da rua não encontra companhia.
I ligar I o quê?
o homem da rua vai ligar os seus botões.
I perceber I o quê?
o homem da rua não percebe o seu chamego .
Grupo 2 : verbos que têm seu
nominais e preposicionados.
1
~ I-Oq-Uê?-
ganhar I ---~. ===============----.1. r- • de quem?
A garota ganhou um livro de seu padrinho
sentido complementado por dois tipos de sinagmas:
r I o quê?
1 vendeu
para quem?
o comerciante vendeu . muitas bandeiras do Brasil para os torcedores
Grupo 3: verbos que têm seu sentido complementado por preposicionados.
I falar ----.. I com quem?
o homem da rua fala com seu botões.
---.. 1 pelo quê?
Estamos todos ansiando por um Brasil mais justo.
ansiar
Grupo 4 : verbos que não precisam de complemento.
chegar A lua, encabulada, chega.
dormir o bebê fechou os olhos e dormiu.
gemer o acidentado não parava de gemer.
')1
3.2 Processos de ampliação do sintagma verbal
Além dos sintagmas que servem como complementos dos verbos (objetos diretos e indiretos ), h'
também inúmeros sintaqmas que expressam as circunstâncias da ação: onde?, quando?, por quê?
como?, com quem? Essas informações sobre as circunstâncias da ação verbal são expressas por
advérbios, por expressões adverbiais, ou por orações adverbiais.
cair quando? o jogador caiu antes do ténnino do
primeiro tempo.
onde? o jogador caiu na porta do gol.
o jogador caiu rapidamente.como?
Antes do término do primeiro tempo, o jogador caiu, rapidamente, na porta do gol.
chorou quando? Garrincha chorou ao final do jogo.
onde? Garrinha chorou nos vestiários.
Garrincha chorou de dor.porquê?
Ao final do jogo, Garrincha chorou de dor nos vestiários.
brilhar
viver
sair
onde? As gotas de água brilham à luz do sol.
como? As gotas de água brilham intensamente.
As gotas brilham por causa do sol.por quê?
onde? As plantas carnívoras vivem em locais úmidos.
como? As plantas carnívoras vivem constantemente
'------' com fome.
quando? João saiu às dez horas.
onde? João saiu de casa.
como? João saiu com pressa.
')')
As praias e as ondas
Praia não serve apenas para tomar banho de mar. Serve também de defesa para os
terrenos do continente, continuamente atacados pelo mar. Embora não reparemos nisso, os
grãos de areia estão sempre em movimento, levados de um lado para outro pelas ondas. Mas
enquanto as ondas fazem isso, elas deixam de destruir casas, avenidas, jardins que ficam
logo depois da faixa de areia. Deve haver, portanto, espaço suficiente para as ondas se
esparramarem sem alcançaras construções.
Durante as ressacas, ou tempestades do mar, as ondas sobem mais do que o habitual e
acabam carregando mais areia do que quando o mar está fraquinho. Essa areia toda é levada
da parte alta da praia para dentro do mar, sendo depositada ao largo da zona de arrebentação.
Passada a tempestade, voltam as ondas características de tempo bom e o nível médio do
mar desce. A areia passa a ser depositada na parte alta da praia, recompondo sua forma
original. As ondas são capazes também de levar os grãos de areia de um lado para o outro,
ao longo do comprimento da praia.
Na verdade, quando um banco de areia cresce quase a olhos vistos, ou quando uma
mancha de óleo passa pela embocadura de um rio, ou ainda quando sai de uma lagoa um
cheiro forte e desagradável, estam os diante de diversos processos que resultam tanto da ação
da própria natureza - tamanho das ondas, nível do mar, correntes marinhas, tipo de
sedimentos etc. - quanto da ação do homem.
Deve haver um equilíbrio entre a capacidade que as ondas têm de transportar areia e a
quantidade de grãos disponíveis para serem transportados. Se alguma coisa interferir nesse
processo, pode haver desequilíbrio, isto é, erosão ( falta de areia) ou assoreamento ( sobra de
areia). (Revista Ciência Hoje)
o texto acima faz uma análise da ação das ondas do mar. Explica por que a praia é
considerada uma defesa para os terrenos no litoral de uma região, informa como é que as ondas
atuam sobre a areia das praias. Além disso, apresenta as etapas do processo de erosão.
Uma característica interessante do texto é forma como foram usados os vocábulos, de acordo
com suas semelhanças de sentido. Observe os grupos abaixo:
mar mar, onda, corrente marinha, praia,
arrebentação, rio, lagoa
banho de mar, ressacas,
terra terrenos, continente, sedimentos, casas,
construções, banco de areia, grãos de areia
avenidas, jardins,
Quando damos uma explicação científica sobre algum fenômeno da natureza ou sobre o
funcionamento do nosso corpo, por exemplo, precisamos fornecer algumas informações
essenciais para que todos possam entender os detalhes da nossa explicação:
onde acontece?
quando acontece?
como acontece?
por que acontece?
. para que acontece?
Na nossa língua, essas informações podem ser expressas por advérbios, expressões
adverbiais ou orações adverbiais.
Os advérbios informam o lugar, a época, o modo, a causa dos acontecimentos. As
expressões,adverbiais e as orações adverbiais são sintagmas que têm a mesma função dos
advérbios nas frases. A única diferença é que as orações adverbiais contêm um verbo e permitem
passar uma informação mais completa e detalhada.
Estas são algumas orações adverbiais que aparecem no texto. Repare como ajudam a
explicar o funcionamento das ondas:
elas deixam de destruir casas e
avenidas
enquanto as ondas fazem isso,
i
tempo
quando um banco de areia cresce a olhos
vistos,
quando uma mancha de óleo passa pela estamos diante de diversos
embocadura de um rio, processos que resultam da ação
quando sai de uma lagoa um cheiro forte e da natureza e do homem.
desagradável,
Jtempo
praia não serve apenas para tomar banho de mar
~
finalidade
deve haver espaço suficiente para as ondas se esparramarem
~ finalidade
""s""e_-=a:..:.lg;a.;:;:u.:..:m..:..:a"----=c..:::;o..:..:is;.;:a"--....:..:.in.:..:t;.:::e.:.;rf:..;:e:..:.r.:..:ir_-'n~e:.;s:.;s=.=.epode haver deseq uilíbrio
processo I
• condição
contradição
embora não reparemos nisso
+
os grãos de areia estão sempre em
movimento
Além das circunstâncias expressas nas orações anteriores - o tempo, a finalidade, as condições
e as contradições - podemos também expressar as causas e as conseqüências:
os grãos de areia se movimentam
constantemente ondas do mar
4-
causa
porque são impulsionados pelas
água mole em pedra dura tanto bate
4-
conseqüência
até que fura
As três mortes das estrelas
As estrelas parecem ser eternas mas não são. Elas nascem, vivem e morrem. Até mesmo
o Sol, que é uma estrela ( e não das maiores), um dia também vai acabar. Um dia, daqui a dez
milhões de anos ...
Com telescópios poderosos e a ajuda de observatórios espaciais, os astrônomos
conseguem ver as transformações das estrelas. E descobriram, entre outras coisas, que, quando
olhamos para o céu, uma parte das estrelas que vemos já morreram há muito tempo. A sua
-'"""\
.-'JLt. .-..
•---•
distância de nós era tâo grande que, quando a luz que emitiram chega até aqui, elas mesmas já
não existem.
As estrelas 'nascem', ou seja, formam-se quando uma enorme nuvem de gás começa a se
concentrar, ficando cada vez menor e mais quente. As partes mais externas da nuvem começam,
então, a cair em direção ao centro. Esse 'nascimento' pode levar um milhão de anos, o que não é
muito tempo quando se fala em estrelas.
Depois disso, a parte interna da nuvem fica tão quente que se transforma num enorme
reator nuclear, uma verdadeira fábrica de luz, composta principalmente de hidrogênio,
responsável pela produção de energia.
Começa aí a parte mais longa da vida da estrela. É um período que pode durar muitos
bilhões de anos. Depois desse tempo, o combustível acaba e a estrela começa a 'morrer'. Ela
ainda pode usar outros combustíveis, como o hélio, aquele gás que faz os balões ficarem bem
leves. Mas isso só aumenta um pouquinho a vida das estrelas.
As estrelas não 'morrem' todas do mesmo jeito, nem a duração da 'vida' é a mesma para
todas elas. As maiores e mais pesadas gastam mais rapidamente seu combustível e por isso
duram muito menos, apenas alguns milhões de anos. 'Desligado o reator' ( quando acaba o
hidrogênio), a estrela não consegue suportar mais o peso das camadas que estão perto do
centro. Essas camadas começam a desabar sobre o centro, aumentando a temperatura e
empurrando para fora as camadas externas da estrela, que fica inchada e menos quente na
superfície.
Se a estrela for das mais 'magrinhas', como o Sol, ela começa a tremer, até expulsar de
uma só vez a sua camada externa, que se espalha pelo espaço. A parte interna vai ficando cada
vez menor e mais fria, virando uma espécie de cinza de estrelas.
Se a estrela for mais 'gordinha', oito vezes mais pesada que o Sol, sua morte é mais
violenta e espetacular. Ela também começa a tremer, mas a matéria é tanta que a queda sobre o
núcleo é muito violenta. A estrela pode até acabar explodindo, formando uma supernova.
Se a estrela for muito maior, trinta vezes mais pesada que o Sol, quando acaba o
combustível as partes externas caem sobre o núcleo de uma forma violentíssima. A atração é t2
grande, que nada consegue escapar, nem mesmo a luz. Como a luz não escapa, esse corpo
escuro. Por isso recebe o nome de buraco negro.
(Versão resumida de texto de Walter Junqueira Maciel, Revista Ciência Hoje das Crianças, n° 20)
- O texto explica, de uma maneira muito interessante, como 'nascem' e 'morrem' as estrelas. Ele
faz comparações entre as estrelas e coisas das quais ouvimos falar em nosso dia-a-dia, como um
reator nuclear, um balão de gás. De forma bastante acessível, o autor procura nos familiarizar com
fatos que, apesar de estarem presentes na nossa vida, são, muitas vezes, ignorados por nós.
Essa explicação científica sobre o nascimento e a morte das estrelas foi acompanhada de
informações relevantes para entendermos o conteúdo do texto. A respeito do fato, temos os
seguintes dados relativos ao local, ao tempo, ao modo, à causa e à finalidade. Como sabemos,
essas informações podem ser expressas por advérbios, expressões adverbiais ou orações
adverbiais.
As orações adverbiais que aparecem no texto contribuíram para ajudar a explicar o nascimento
e a morte das estrelas:
quando olhamoipara o céu,
tem o
uma parte das estrelas já morreram há
muito tempo
quando uma enorme nuvem de gás começa a se as estrelas nascem
concentrar
tem o
esse corpo é escurocomo a luz não escapa•causa
enorme reatora parte interna da nuvem fica tão quente que se
nuclear
conse üência
ela começa a tremerse a estrela for das mais magrinhas
d!;;con I\-CIO
a matéria da estrelaé muito pesada a matéria da estrela é tão pesada
+ que a sua morte.é muito violenta.
a morte da estrela é muito violenta
conseqüência
a atração em direção ao núcleo é muito a atração em direção ao núcleo é tão grande
grande + que nem mesmt a luz consegue escapar.a luz não consegue escapar
conseqüência
No desenvolvimento do texto, é extremamente importante relacionar e encadear as idéias de
maneira inteligível para o leitor. Podemos estabelecer relações de oposição, causa, contradição,
conclusão, condição, fim. Para exemplificar essas correlações, vamos combinar as idéias:
"conseguir emprego" e "morrer de fome":
• causa - No Brasil, muitos homens morrem de fome porque não conseguem um emprego.
• finalidade - No Brasil, os homens deveriam ter emprego para que não morressem de fome.
• conseqüência - No Brasil, muitos homens ficam tanto tempo desempregados que terminam
morrendo de fome.
• condição - Se os homens tivessem sempre emprego, não morreriam de fome.
Veja as relações entre as idéias: "tomar uma decisão" e "conhecer todas as possibilidades"
• finalidade - Para tomar uma decisão, é preciso conhecer todas as possibilidades.
• condição - Se não conhecermos todas as possibilidades, não poderemos tomar uma decisão.
• causa - É preciso conhecer todas as possibilidades, porque temos de tomar uma decisão.
Essas relações estão sempre presentes quando falamos e quando escevemos. Na fala, muitas
vezes não é preciso utilizar as conjunções, porque o nosso interlocutor pode perceber isto,
segundo a situação. Mas, quando estamos escrevendo um texto, uma carta ou um requerimento,
por exemplo, precisamos ser bem claros para sermos corretamente entendidos.
Resumindo:
a. relação de causa I efeito: expressa pelas conjunções porque, pois, como, visto que, já que,
uma vez que, por causa de, por, em conseqüência de, por motivo de, devido a, em virtude de
ex: O nazismo foi responsável por um dos regimes mais bárbaros já vistos porque se apoiou na
idéia que existem homens superiores e homens inferiores.
b. relação de condição: expressa pelas conjunções se, caso, contanto que, desde que, a
menos que, a não ser que. Ao expressar a condição, existe uma exigência de que os tempos
verbais das duas orações se relacionem:
ex: Se tudo isso que foi previsto pela cartomantes se realizasse (imperfeito do subjuntivo)
de fato, o mundo já teria (futuro do pretérito do indicativo) acabado algumas centenas de vezes.
c. relação de finalidade: expressa pelas conjunções para, a fim de, com o propósito de, com
a intenção de, com o objetivo de
ex: É preciso enviar a carta o mais cedo possível, para que se possa ter certeza de que ela
chegará no prazo previsto.
d. relação de conseqüência: expressa pelas conjunções tanto ...que, tão ... quanto
ex: Mandei tantas cartas para o concurso, que minhas chances de ganhar são muitas.
e. relação de oposição: expressa pelas conjunções embora, apesar de
ex: O computador não está funcionando, apesar de ter acabado de chegar do conserto.
Como se conjuga um empresário
Acordou. Levantou-se. Aprontou-se. Lavou-se. Barbeou-se. Enxugou-se. Perfumou-
se. Lanchou. Escovou. Abraçou. Beijou. Saiu. Entrou. Cumprimentou. Orientou. Controlou.
Advertiu. Chegou. Desceu. Subiu. Entrou. Cumprimentou. Assentou-se. Preparou-se.
Examinou. Leu. Convocou. Leu. Comentou. Interrompeu. Leu. Despachou. Conferiu.
Vendeu. Vendeu. Ganhou. Ganhou. Ganhou. Lucrou. Lucrou. Lucrou. Lesou. Explorou.
Escondeu. Burlou. Safou-se. Comprou. Vendeu. Assinou. Sacou. Depositou. Depositou.
Depositou. Associou-se. Vendeu-se. Entregou. Sacou. Depositou. Despachou.
Repreendeu. Suspendeu. Demitiu. Negou. Explorou. Desconfiou. Vigiou. Ordenou.
Telefonou. Despachou. Esperou. Chegou. Vendeu. Lucrou. Lesou. Demitiu. Convocou.
Elogiou. Bolinou. Estimulou. Beijou. Convidou. Saiu. Chegou. Despiu-se. Abraçou. Deitou-
se. Mexeu. Gemeu. Fungou. Babou. Antecipou. Frustrou. Virou-se. Relaxou-se.
Envergonhou-se. Presenteou. Saiu. Despiu-se. Dirigiu-se. Chegou. Beijou. Negou.
Lamentou. Justificou-se. Dormiu. Roncou. Sonhou. Sobressaltou-se. Acordou. Preocupou-
se. Temeu. Suou. Ansiou. Tentou. Despertou. Insistiu. Irritou-se. Temeu. Levantou.
Apanhou. Rasgou. Engoliu. Bebeu. Rasgou. Engoliu. Bebeu. Dormiu. Dormiu. Dormiu.
Acordou. Levantou-se. Aprontou-se ...
Mino
Neste texto, o autor mostra o dia-a-dia de um empresário, utilizando uma seqüência ordenada
de verbos: acordou, levantou ... Uma pequena história é contada, e através dela podemos
descobrir as alegrias e tristezas de uma pessoa, envolvida nas diferentes situações cotidianas.
. A ocorrência de todos os verbos no pretérito perfeito do indicativo dá um certo caráter narrativo
ao texto, como se fosse uma seqüência de ações em um dia de trabalho já concluído. Dessa forma,
a presença de elementos coesores ( conectivos e advérbios) pode ser dispensada.
No texto, não aparecem substantivos, adjetivos, artigos, pronomes, preposições, conjunções.
Só aparecem verbos. Entretanto, a coerência é depreendida da seqüência ordenada dos verbos com
os quais o autor mostra o dia-a-dia de um empresário. Verbos como lesou, burlou, explorou, safou-se
... transmitem um julgamento de valor do autor do texto em relação à figura de um empresário.
Os verbos do texto podem ser arrumados em grupos, de acordo com as atividades descritas.
1. ações cotidianas - ao sair de casa
preparação Alimentação gestos sociais locomoção
do corpo
para sair
acordou Lanchou abraçou saiu
levantou beijou entrou
aprontou-se cumprimentou cheQou
2. ações profissionais
atos profissionais atos de poder atos ilegais
leu Orientou vendeu
despachou Controlou ganhou
examinou Advertiu lucrou
')7
lavou-se, barbeou-se, enxugou-se, perfumou-se, escovou
3. ações cotidianas - notumas
ações amorosas Ações físicas. insônia dificuldades
bolinou Saiu apanhou lamentou
beijou Chegou rasgou justificou-se
convidou Despiu-se bebeu negou
abraçou Deitou-se engoliu lamentou
Se você prestar bastante atenção nos grupos de verbos que aparecem no texto, poderá
constatar que eles foram reunidos de acordo com suas semelhanças de sentido. Observe:
cuidados
higiênicos
com o corpo
operações
financeiras
Vendeu, comprou, depositou, sacou,
ato de dormir deitou-se, relaxou-se, dormiu, roncou, sonhou, acordou,
despertou, levantou
Transitividade - Caráter dos nomes e verbos que exigem algo para Ihes integrar o sentido. É
o que ocorre com os verbos transitivos. Também substantivos, adjetivos e advérbios podem
exigir complemento: necessidade de, necessário a. referente a, etc. A transitividade admite
graus, indo do zero (intransitividade) à necessidade absoluta: Pedro dançava. Maria dançava
uma valsa. Ela é útil ao pai. Tem precisão de assistência. (Zélio dos Santos Jota - Dicionário
de Lingüística)
Podemos fazer o inverso do autor do texto. Vamos ampliar as frases, anexando sintagmas
que complementem o sentido dos verbos. Para fazer isso de maneira organizada, você
precisará, inicialmente, separar os verbos em grupos, dependendo do tipo de sintagma que
será utilizado.
Podemos ampliar frases que tenham os seguintes verbos:
Grupo 1 : verbos que têm seu sentido complementado por sintagmas sem o auxílio de uma
preposição.
O empresário sacou o dinheiro.
O empresário cumprimentou a secretária.
Grupo 2 : verbos que têm seu sentido complementado por sintagmas nominais ou
preposicionados.
O empresário ganhou muito dinheiro dos seu sócios.
O empresário vendeu ações às pessoas interessadas.
Grupo 3: verbos que têm seu sentido complementado sintagmas preposicionados.
A secretária telefonou ao empresário.
O empresário anseia por lucros cada vez maiores.
O empresário associou-se a pessoas desonestas.
Grupo 4 : verbos que não precisam de complemento.
O empresário acordou cedo.
Depois de pronto, ele saiu
Chegando em casa, dormiu.
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1990.
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RIBEIRO, João Ubaldo. Viva o povo brasileiro. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1984.
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