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COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO Letícia Sangaletti Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB-10/2147 S225c Sangaletti, Leticia. Comunicação e expressão [recurso eletrônico] / Leticia Sangaletti, Laís Virginia Alves Medeiros; [revisão técnica: Laís Virginia Alves Medeiros] . – Porto Alegre: SAGAH 2018. ISBN 978-85-9502-215-7 1. Comunicação. 2. Língua Portuguesa. I. Medeiros, Laís Virginia Alves. II. Título. CDU 81’38 Revisão técnica: Laís Virginia Alves Medeiros Mestra em Letras – Estudos da Linguagem: Teorias do Texto e do Discurso Bacharela em Letras – Habilitação Tradutora: Português e Francês Teoria da Comunicação: elementos da comunicação Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer os elementos que compõem um evento comunicativo. Identificar e selecionar elementos adequados para as situações co- municativas vivenciadas no cotidiano. Perceber os ruídos que prejudicam a efetividade de um evento comunicativo. Introdução Neste texto, você explorará as bases da Teoria da Comunicação. Assim, sua tarefa será compreender os elementos envolvidos em todo e qualquer evento comunicativo, bem como os problemas que podem interferir no processo. Esse estudo deve tornar você mais hábil tanto nos momentos de produção quanto nos de compreensão daquilo que lê e ouve. Aproveite para melhorar sua comunicação. Elementos da comunicação Enquanto processo, a comunicação é indissociável do universo em que ocorre. Afinal, qualquer ato comunicativo está ligado a tudo (SOUSA, 2006). Mas, para compreender a realidade e os atos comunicativos, diversos teóricos desenvolveram modelos dos processos comunicacionais. Esses modelos são artefatos imaginativos, criados para compreender a realidade comunicacional. Portanto, você não deve entendê-los como espelho do real. Os elementos da comunicação foram evoluindo ao longo dos tempos e por meio de estudos. O primeiro foi proposto pelo filósofo Aristóteles (século IV a.C.), que apresentou um modelo básico. Este diz que para comunicar é preciso que exista alguém para transmitir a alguém um conteúdo, ou seja, três elementos: o emissor, o receptor e o conteúdo. Para Sousa (2006), todos os modelos são incompletos e imperfeitos, pois se tratam de reconstruções intelectuais e imaginativas da realidade. O autor cita inúmeros modelos entre os que propõem o estudo dos elementos de co- municação. Além do modelo de Aristóteles, há o modelo (ou paradigma) de Lasswell (1948), o modelo de Shanon e Weaver (1949), o Newcomb (1953), o modelo de Schramm (1954) e, ainda, o modelo de Roman Jakobson (1960). Outros modelos, como o da Escola de Palo Alto e o modelo de Maletzke, também são elencados. Entre os citados, você vai conhecer melhor o modelo de Roman Jakob- son (2005). Ele é o mais recente e o mais utilizado em muitas áreas, como a literatura. O teórico construiu um modelo direcionado para o estudo da comunicação sob o prisma da linguística. Considere que o principal objetivo da linguagem é transmitir uma informa- ção para um ou mais sujeitos. Para que essa comunicação ocorra, é necessário que haja compreensão dos elementos que fazem parte do processo comunica- tivo, certo? Conforme Jakobson, tais elementos são o emissor, o receptor, o canal, a mensagem, o código e o referente. O destinador envia uma mensagem ao destinatário. Para que seja operante, a mensagem precisa de um contexto para o qual remete. Esse contexto, apreensível pelo destinatário, ora é verbal, ora é suscetível de ser verbalizado. Posteriormente, a mensagem requer um código que seja comum aos dois, no todo ou, pelo menos, em parte. Enfim, a mensagem requer um canal físico e uma conexão psicológica entre destinador e destinatário, um contato que permita o estabelecimento da comunicação. A seguir, você pode ver esses fatores esquematizados na Figura 1. Figura 1. Modelo de comunicação por Jakobson. Fonte: Jakobson (2005, p. 123). Teoria da Comunicação: elementos da comunicação14 Esses atos comunicativos podem acontecer com alguma intenção, seja ela explícita ou não. Jakobson elaborou esse esquema para mostrar como seis fatores essenciais, os chamados elementos da comunicação, operam para que a comunicação aconteça. A seguir, você pode compreender melhor cada um desses elementos: Emissor: também conhecido como referente, é quem emite a mensagem; pode ser um indivíduo ou um grupo. Mensagem: é o objeto da comunicação e é constituída pelo conteúdo das informações. Ou seja, é o conteúdo que o emissor quer transmitir. Canal: é a via de circulação da mensagem (voz, ondas sonoras, uma folha de papel, um blog, um livro). É o meio pelo qual a mensagem é transmitida. Pode ser por ar (ao falar), jornal, televisão, revista, internet, rádio, etc. Em Publicidade e Propaganda (PP), o canal se relaciona bastante com a mídia. Código: é o conjunto de regras, de signos e códigos utilizados para for- mar a mensagem. Para que a comunicação seja bem-sucedida, é preciso que o receptor compreenda o código usado pelo emissor. Como exemplos de código, você pode considerar: letras, idiomas, código morse, etc. Referente: é constituído pelo contexto, pela situação e pelos objetos aos quais a mensagem está relacionada. Destinatário: é aquele que recebe a mensagem, também chamado de receptor; pode ser uma pessoa ou um grupo de pessoas. Jakobson estabeleceu que cada um desses seis fatores determina uma diferente função da linguagem. O modelo mostra que a mensagem deve contar com um contexto, ou seja, precisa se referir a algo externo a ela. O modelo acrescenta, ainda, o contato. Este representa, simultaneamente, o canal físico em que a mensagem circula e as ligações psicológicas entre destinador e destinatário. Isso quer dizer que ambos só percebem a mensagem porque dominam o mesmo código. 15Teoria da Comunicação: elementos da comunicação No modelo proposto por Jakobson, a comunicação só se realiza se o receptor decodifica a mensagem transmitida pelo emissor. Ou seja, ela só acontece se o interlocutor entende a mensagem transmitida. Por exemplo, duas pessoas que vivem em países diferentes (Brasil e Japão) e que não conhecem a língua uma da outra utilizarão códigos diferentes. Portanto, a mensagem não será inteligível para ambas, impossibilitando o processo comunicacional. Mas, se, por exemplo, um brasileiro morador do Nordeste conversa com uma pessoa que vive no Sul, por mais que haja diferenças linguísticas, a comunicação ocorre, pois a língua é a mesma (no caso, a língua portuguesa). Situações comunicativas com elementos da comunicação Os elementos da comunicação podem aparecer em diferentes situações comuni- cativas, e um elemento específico pode se evidenciar como o mais importante. A seguir, você vai ver exemplos de situações que envolvem os elementos da comunicação, de acordo com alguns autores, especialmente Vanoye (1993). Em cada uma delas, um dos elementos é o principal da situação comunicativa. Exemplo 1: o governador de Santa Catarina envia uma mensagem à po- pulação do estado por meio de um porta-voz. Nesse caso, ele seria a fonte, e o porta-voz, o emissor. Exemplo 2: um professor envia um e-mail para os alunos avisando sobre o material para a próxima aula. Aqui, emissor e fonte são a mesma pessoa. Nesses casos, o foco da situação é o emissor da mensagem. Observe que a fonte é responsável pela codificação da mensagem que será enviada. Ela pode utilizar a comunicação oral, a escrita, bem como gestos, desenhos. Martins e Zilberknop (1997, p. 24) diferenciam o emissor da fonte da mensagem. Eles consideram que, em alguns contextos comunicativos, é possível perceber que a fonte (de onde se origina a mensagem) e o emissor (quemenvia a mensagem) não são a mesma pessoa. Nos dois exemplos, a população de Santa Catarina e os alunos que re- ceberam o e-mail são os receptores, responsáveis pelo recebimento e pela decodificação da mensagem. A comunicação só ocorre efetivamente quando tiver a incidência de um comportamento verbal ou de uma atitude sobre a ação do destinatário. Isso quer dizer que, se os alunos responderem o e-mail, a comunicação será efetivada. Mas, se não responderem, você pode considerar Teoria da Comunicação: elementos da comunicação16 que o ato comunicativo ocorreu da mesma forma, já que o silêncio também é uma forma de comunicação não verbal. Em outro exemplo de situação comunicativa, o foco é na mensagem. Esta possui o conteúdo das informações que foram codificadas para transmissão. Além disso, pode ser visual, auditiva, audiovisual. Por exemplo, uma mensagem visual pode ser escrita com o alfabeto que você utiliza cotidianamente: Olá! Tudo bem com você? Ou ainda pode ser uma imagem, uma fotografia, ou mesmo um emoticon, como =) ou <3. Já a auditiva pode ser uma música, um áudio gravado por redes sociais ou pelo celular. A audiovisual pode ser um vídeo gravado pelo próprio emissor, ou retirado da TV, da internet, etc. Para enviar essa mensagem, são necessários códigos verbais ou não verbais. Quanto mais próximos emissor e receptor estiverem do repertório que ambos usam, maior será a probabilidade de a comunicação ser bem-sucedida, pois a decodificação ficará mais fácil. De acordo com Barros (2004, p. 31), “[...] códigos diferentes impedem a comunicação (a não ser que ela se estabeleça por outro código, que não o verbal, por exemplo, como ocorre na comunicação gestual entre falantes de línguas diferentes).”. O código pode passar também por uma flutuação. É quando um mesmo significante pode gerar mais de um significado. Veja o seguinte exemplo: “Bombril, bom de cozinha e bom de copa.” (CESAD, c2017) (Propaganda veiculada durante o período da Copa Mundial de 1998) Aqui, o signo “copa” remete ao espaço de uma residência, mas também está relacionado à Copa Mundial de Futebol, já que a publicidade era veiculada no período da competição. Nesse contexto, o referente é o objeto ou a situação a que a mensagem remete ou se refere. Ele pode ser situacional ou textual. 17Teoria da Comunicação: elementos da comunicação O referente situacional engloba os elementos da situação do emissor, do receptor e do contexto em que se dá a comunicação. Por exemplo: Venha aqui em casa e traga teus cadernos para estudarmos. O termo “aqui” se refere à situação espacial, e “venha e traga”, à temporal. O uso das palavras que mostram (pronomes demonstrativos, pronomes pessoais, tempos verbais, etc.) proporciona às línguas naturais uma grande agilidade. No entanto, as frases que veiculam esses elementos só podem ser compreendidas em estreita relação com determinadas situações. Já o referente textual engloba os elementos do contexto linguístico. Ou seja, ele surge quando se faz referência aos elementos contidos no próprio texto. Por exemplo: A garota trouxe os lápis, a borracha e a régua e os pôs sobre a escrivaninha que está no escritório. Compre tudo o que consta na lista: tomate, alface, pepino, pimentão e repolho. O canal é o meio pelo qual o emissor enviará a mensagem codificada para que o destinatário a descodifique. É todo e qualquer elemento físico usado para levar a mensagem até o receptor. O canal pode ser: natural ou tecnológico. O primeiro trata de meios sonoros (como a voz, as ondas sonoras, o ouvido); de meios visuais (como a excitação luminosa, a percepção da retina); de meios táteis (como a mão, a pele); de meio olfativo (o nariz); e ainda de meio gustativo (a língua). Já o canal tecnológico necessita de meios criados para transmitir a mensagem, como rádio, TV, telefone, entre outros. O canal deve ser escolhido considerando: o conteúdo da mensagem; os tipos de mensagem (isto é, se será verbal ou não verbal); os objetivos do remetente; as condições de recepção da mensagem, etc. Na comunicação, é necessário utilizar um código conhecido do destinatário e usar, preferencialmente, um código fechado. Nesse sentido, se deve respeitar a bagagem cultural de quem vai receber a mensagem, além, é claro, de escolher e utilizar o veículo adequado. Certos tipos de comunicação podem se dar por meio do uso simultâneo de diferentes códigos e canais de comunicação; é o caso do cinema. Teoria da Comunicação: elementos da comunicação18 Observe a Figura 2. Nela, você pode ver o emissor (o menino que fala com a menina), a mensagem (o que ele conversa com ela), o canal (que é natural, por meio da fala), além do código (que é um conjunto de signos verbais), do referente (que é textual) e do destinatário (que é a Mafalda). Figura 2. Os elementos da comunicação em uma tirinha da Mafalda. Fonte: Branco (c2017). Para saber mais sobre outros modelos de comunicação, leia Elementos de Teoria e Pesquisa da Comunicação e dos Media (SOUSA, 2006). Ruídos na comunicação Para que haja êxito na comunicação, todos os elementos precisam funcionar. Portanto, não podem ser perturbados por alguma barreira ou obstáculo. Quando 19Teoria da Comunicação: elementos da comunicação isso acontece, se fala que há um ruído na comunicação. O ruído se trata de qualquer perturbação que impeça a mensagem de chegar devidamente ao receptor, interferindo na comunicação como um todo. As causas dessas barreiras podem ser inúmeras. Sousa (2006) explica que qualquer tipo de comunicação pode sofrer com ruídos, e, por vezes, algumas barreiras chegam a impedir a comunicação ou mesmo afetar a fluidez das trocas comunicacionais. Conforme o autor, essas barreiras podem ser (SOUSA, 2006): Físicas, como um obstáculo entre dois interlocutores que os impede de dialogar. Por exemplo: a queda no sinal de um telefone quando se está conversando via telefonia, ou a queda da internet, quando o diálogo se dá por redes sociais. Culturais, como o desconhecimento do código de comunicação dentro de uma cultura (saber uma língua, por exemplo, nem sempre é garantia suficiente para interpretar adequadamente uma mensagem). Por exem- plo, um morador de Portugal e uma pessoa que vive no Brasil podem não se entender, mesmo falando a língua portuguesa. Isso ocorre pois em cada cultura determinados termos significam coisas diferentes, dificultando o entendimento. Pessoais, como a maneira de estar, de ser e de agir de cada sujeito envolvido na relação de comunicação, bem como as capacidades ou deficiências físicas pessoais que facultam ou dificultam a comunica- ção, etc. Por exemplo: uma pessoa que não sabe a língua de sinais terá dificuldades para conversar com alguém que usa a Libras. Psicossociais, como o estatuto e o papel social que os sujeitos envolvi- dos na relação comunicacional atribuem uns aos outros. Estes marcam uma dada distância social, ou a saturação dos sujeitos envolvidos na comunicação em relação ao tema que motiva o ato comunicacional. Problemas de relacionamento podem ser um exemplo de barreira causada por questões psicossociais. Veja o exemplo na Figura 3: Teoria da Comunicação: elementos da comunicação20 Figura 3. Um ruído no sinal telefônico pode ter feito o receptor compreender errado a mensagem. Fonte: Garcia (2016). BARROS, D. L. P. A comunicação humana. In.: FIORIN, J. L. (org.) Introdução à linguística – objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2004. BRANCO, A. C. C. Figuras de linguagem. [S.l.]: Emaze, c2017. Disponível em: <https:// www.emaze.com/@AWROCQFF/figuras-de-linguagem>. Acesso em: 27 set. 2017. CESAD. Teoria da comunicação e linguística. São Cristóvão: UFS, c2017. Disponível em: <http://www.cesadufs.com.br/ORBI/public/uploadCatalago/13132628042015Linguistica_Aula_11.pdf>. Acesso em: 27 set. 2017. GARCIA, R. O que é comunicação? [S.l.]: SlideShare, 2016. Disponível em: <https:// pt.slideshare.net/prof.rosegarcia/o-que-comunicao-59401908>. Acesso em: 27 set. 2017. JAKOBSON, R. Linguística e comunicação. São Paulo: Cultrix, 2005. MARTINS, D. S.; ZILBERKNOP, L. S. Português instrumental. 19. ed. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 1997. SOUSA, J. P. Elementos de teoria e pesquisa da comunicação e dos media. 2. ed. Porto: UFP, 2006. VANOYE, F. Usos da linguagem: problemas e técnicas na produção oral e escrita. 9. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1993. 21Teoria da Comunicação: elementos da comunicação Conteúdo:
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