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Apostila de Psicologia Hospitalar 2017-1-1

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Professora: Maria Flor 1 
 
 
FACUDADE METROPOLITANA DE MANAUS- FAMETRO 
 PROFESSORA: MARIA FLOR 
 
 
 
DISCIPLINA: PSICOLOGIA HOSPITALAR 
 
 
 
 Professora: Maria Flor 2 
 
 
 
 
I -HISTÓRIA DA PSICOLOGIA HOSPITALAR........................................................................................ 3 
1.1 Aspectos legais, ético e políticos................................................................................................................ 5 
II- ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NO CONTEXTO HOSPITALAR. .................................................... 11 
2.1.2 Na realidade institucional.................................................................................................,..................... 12 
2.2 A Despersonalização do Paciente............................................................................................................. 13 
2.3 Psicoterapia e psicologia hospitalar........................................................................................................... 22 
2.4 O setting terapêutico................................................................................................................................. 24 
2.5 A psicologia hospitalar – objetivos e parâmetros................................................................................... 25 
2.7 Pacientes em crise e o papel do psicólogo hospitalar............................................................................ 30 
2.8 Prática psicológica em hospitais: demandas e intervenções .............................................................. 33 
2.9 Avaliação psicológica..................................................................................................................... 37 
III. QUALIDADE DE VIDA E PROMOÇÃO DA SAÚDE. ................................................................... 40 
3.1 Qualidade de vida .................................................................................................................................... 40 
3.2 O hospital como espaço para promoção da sáude ............................................................................... 48 
3.3 Estratégias para a promoção da sáude em ambientes hospitalares ................................................... 49 
3.4 Morte no ciclo de vida da família ........................................................................................................... 51 
3.5 Intervenção do psicólogo hospitalar em processos de terminalidade e morte .............................. 51 
IV. A CONSTRUÇÃO DO PROJETO TERAPÊUTICO DE FORMA INTERDISCIPLINAR.................. 53 
V. A ATUAÇÃO PSICOLÓGICA EM UTI, AMBULATÓRIO, PRONTO-SOCORRO E NAS 
VÁRIAS ESPECIALIDADES MÉDICAS.................................................................................................. 
55 
5.1 Os desafios do psicólogo no atendimento a pacientes internados no pronto socorro............................ 57 
5.2 Intervenções psicológicas no âmbito ambulatorial.................................................................................... 57 
5.3 Psicologia hospitalar- clinica médica........................................................................................................ 60 
5.4 Especificidade da técnica psicanalítica no contexto hospitalar...................................................... 69 
5.5 Atuação psicológica na assistência à criança com câncer: da prevenção aos cuidados paliativos........ 74 
5.6 Paciente oncológico e assistência psicológica........................................................................................... 83 
5.7 atuação do psicólogo hospitalar na unidade de terapia intensiva ........................................................ 85 
6. Roteiro de Psicologia................................................................................................................................... 98 
 
 
 
 Professora: Maria Flor 3 
 
I. HISTÓRIA DA PSICOLOGIA HOSPITALAR. 
 
A história da Psicologia Hospitalar remonta a 1818, quando, no Hospital McLean, em 
Massachussets, formou-se a primeira equipe multiprofissional que incluía o psicólogo. Nesse mesmo 
hospital foi fundado, em 1904, um laboratório de psicologia onde foram desenvolvidas pesquisas 
pioneiras sobre a Psicologia Hospitalar. (Ismael, 2005; Bruscato, Benedetti & Lopes, 2004). 
No Brasil, os primeiros serviços de Higiene Mental foram fundados na década de 30, como 
propostas alternativas à internação psiquiátrica, e o psicólogo inaugura, junto à Psiquiatria, seu exercício 
profissional na instituição de saúde. Os relatos de inserção do psicólogo em hospitais começam na 
década de 50, com Matilde Neder instalando um Serviço de Psicologia Hospitalar no Hospital das 
Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. (op cit.). 
Matilde Neder, ao ser convidada para o trabalho, procurou fazer uma adaptação técnica de seu 
instrumental teórico, acoplando-o à realidade institucional. Houve então a criação de modelos teóricos 
de atendimentos que visavam agilizar esses atendimentos afim de torná-los adequados à realidade 
hospitalar. (Angerami-Camon, Chiattone & Nicoletti, 2004). 
Na década de 70, Bellkiss Wilma Romano Lamosa é convidada para implantação do Serviço de 
Psicologia do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade 
de São Paulo. Na ocasião, Bellkiss já havia atuado em diversas unidades do Hospital das Clínicas da 
USP, mas ao assumir esta responsabilidade, estava sedimentando a atividade e cravando seu nome no 
percurso e história da mesma. (op cit.). 
O primeiro curso de Psicologia Hospitalar do país foi oferecido pela Pontifícia Universidade 
Católica de São Paulo, em 1976, sob responsabilidade de Bellkiss W.R.Lamosa. (op cit.). 
Em 1979, Regina D’Aquino cria, em Brasília, um trabalho junto a pacientes terminais, tornando-
se um dos grandes marcos da atuação frente à morte e suas implicações. No mesmo ano, Wilma C. 
Torres inicia, como coordenadora, o Programa de Estudos e Pesquisas em Tanatologia da Fundação 
Getúlio Vargas no Rio de Janeiro. (op cit.). 
Em 1981 o Instituto Sedes Sapientiae de São Paulo oferece o primeiro curso de Especialização em 
Psicologia Hospitalar, sob a responsabilidade de Valdemar Augusto Angerami-Camon. 
 Marli Rosani Meleti normatiza, em 1982, após anos de atividades, o Setor de Psicologia do 
Serviço de Oncologia Ginecológica da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa de Beneficência. 
 No mesmo ano, Heloisa Benevides Carvalho Chiattone implanta o Setor de Psicologia do 
Serviço de Pediatria do Hospital Brigadeiro em São Paulo. (op cit.). 
 
 
 Professora: Maria Flor 4 
 
O I Encontro Nacional de Psicólogos da Área Hospitalar foi promovido pelo Serviço de Psicologia 
do Hospital das Clínicas da USP em 1983, sob responsabilidade geral de Bellkiss W.R. Lamosa. Este foi 
o primeiro evento de âmbito nacional a reunir os diversos psicólogos que atuavam de maneira dispersa 
pelos mais diferentes pontos do país. (op cit.). 
Durante muito tempo, a psicologia hospitalar utilizou-se de recursos técnicos e metodológicos de 
outras áreas do saber psicológico, que nem sempre se mostraram adequados ao contexto hospitalar. 
A inexistência de um paradigma claro que pudesse definir estratégias dificultou a oportunidade de 
legitimação do espaço psicológico nas instituições de saúde.A partir da pluralidade evidenciada no 
exercício da psicologia no contexto hospitalar, iniciou-se um direcionamento de pesquisas e publicações 
a respeito dessas práticas a fim de se fortalecer a identidade do profissional dessa área. (Angerami-
Camon, 2002). 
Desde o ano 2000, a Psicologia Hospitalar foi reconhecida como uma especialidade pelo Conselho 
Federal de Psicologia. Além disso, a fundação da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar (SBPH), 
em 1997, vem fortalecendo a área no cenário brasileiro. 
A sociedade tem por objetivo ampliar o campo de conhecimento científico e promover cada vez 
mais o profissional que se dedica a este campo. (Ismael, 2005). 
 Simonetti (2004, p. 29) tem como definição que: “a psicologia hospitalar é o campo de 
entendimento e tratamento dos aspectos psicológicos em torno do adoecimento” e escreve que “o 
objetivo da psicologia hospitalar é a subjetividade, é ajudar o paciente a fazer a travessia da 
experiência do adoecimento”. 
Um exemplo simples mais de grande valia para o entendimento e direcionamento do assunto é o 
que salienta o escritor, quando colabora dizendo que: 
“em medicina, diagnóstico é o conhecimento da doença por meio de seus sintomas, enquanto na 
psicologia hospitalar o diagnóstico é o conhecimento da situação existencial e subjetiva da pessoa 
adoentada em sua relação com a doença.” (SIMONETTE, 2004, p. 33). 
A psicologia hospitalar surge não para curar a doença da pessoa hospitalizada, pois disso já cuida 
e, muito bem o faz a medicina, mas escutar a pessoa que está inserida no meio dessa doença, escutar a 
sua subjetividade porque no fim das contas a cura em si não elimina a subjetividade do sujeito, ou 
melhor, a subjetividade não tem cura como diz Simonette (2004). 
Nesse cenário existe a necessidade biológica e a necessidade psicológica, nesse caso o médico 
trabalha com coisas a fazer e o psicólogo trabalha com coisas a dizer (SIMONETTI, 2004). Ele também 
acrescenta que: 
 
 
 Professora: Maria Flor 5 
 
“cena hospitalar é rica em conflitos e o psicólogo hospitalar cada vez mais tem sido chamado a 
prestar seus serviços não ao paciente, mas aos médicos, enfermeiras, equipe administrativa e familiares 
por meio de programas de controle de estresse, cursos de relações humanas, etc.” (SIMONETTE, 2004, 
p. 101). 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
Angerami-Camon, V.A. (org). (2002). Psicologia da Saúde: Um novo significado para a prática clínica. Pioneira: São Paulo 
Angerami-Camon, V.A. Psicologia hospitalar: passado, presente e perspectivas. In V.A. Angerami-Camon, H.B.C. Chiattone, 
E.A. Nicoletti. (2004). O doente, a psicologia e o hospital. (3. ed.). Pioneira: São Paulo. 
Angerami-Camon, V.A., Chiattone, H.B.C. & Nicoletti, E.A. (2004). O doente, a psicologia e o hospital. (3. ed.). Pioneira: São 
Paulo. 
Ismael, S.M.C. A inserção do psicólogo no contexto hospitalar. In S.M.C. Ismael (org). (2005). A prática psicológica e sua 
interface com as doenças. São Paulo: Casa do Psicólogo. 
Simonetti, A. (2004). Manual de Psicologia Hospitalar: o mapa da doença. São Paulo: Casa do Psicólogo. 
 
1.1 ASPECTOS LEGAIS, ÉTICO E POLÍTICOS 
(in Revista de Psicologia Plural, FUMEC, PSICOLOGIA HOSPITALAR, BH, 17, 2002, 71-78) 
 
A psicologia hospitalar, mesmo sendo tratada como uma especialidade da psicologia - existe até 
mesmo o titulo de "Especialista em Psicologia Hospitalar" - está, como toda prática psicológica, atrelada 
a aspectos legais e éticos, com seus desdobramentos políticos. A inserção do psicólogo, tanto no espaço 
público quanto no privado, tem uma história; esta, por sua vez, é tributária da ideologia que, dentro de 
um projeto histórico-político, propicia, dificulta, ou mesmo impede, a prática dos profissionais 
psicólogos. 
Assim, uma pequena digressão sobre a História da Psicologia, tanto como ciência quanto como 
profissão, nos ajudará a refletir sobre nossa inserção e atuação profissional. 
A psicologia, como profissão, nem sempre existiu: ela foi construída ao longo da história
1
. Surge 
da tentativa de compreender um fenômeno social novo respondendo, assim, a uma demanda que se 
insere em um movimento político-ideológico historicamente datado. 
Este "fenômeno novo" é o sentimento de "eu". Suas origens encontram-se na revolução burguesa 
que, transformando a organização feudal, instaura uma nova forma de organização social
2
. 
No mundo feudal, hierarquizado em escala de valores e verdades diretamente ligada à vontade 
Divina, homens e mulheres tinham seus lugares definidos. Cabia-lhes, apenas, manter o que já estava 
 
1- De certa forma, esta observação não é de todo verdadeira. A obra do poeta grego Eurípides (480-406 AC) representa o "nascimento" 
da psicologia. Os protagonistas de suas tragédias possuem individualidades intelectuais e afetivas, que coincidem com sua natureza: 
contraditórias, conflitivas e, por vezes, patológicas. 
2 - O que se segue é, em parte, inspirado no texto "Em defesa da perspectiva histórica na psicologia". Texto apresentado pela Dra. Ana 
Mercês Bahia Bock na PUC-MG em 13/05/02. 
 
 
 Professora: Maria Flor 6 
 
pronto, e cuja organização seguia a mesma ordem que regia o universo: a terra no centro e a religião 
oferecendo referências ético-morais a serem seguidas. Era um mundo paralisado, onde a possibilidade 
de mudanças sociais era impensável pois cada um já nascia com um lugar pré-definido e imutável. Esta 
sociedade, que desconhecia a individualidade e onde, consequentemente, a noção contemporânea de 
sujeito inexistia, não precisava da Psicologia. 
As idéias liberais transformaram radicalmente este mundo estanque. A nova forma de produção 
trazida pela burguesia moveu o mundo do seu eixo, promovendo um profundo questionamento das 
idéias seculares e das leis universais que garantiam a ordem vigente. Se no feudalismo o sujeito era 
apenas um produtor, o capitalismo incipiente fez dele também, e sobretudo, um consumidor. Ao mesmo 
tempo, para se manter a produção, necessitou-se de novas fontes de matéria prima, o que só foi possível 
através da exploração da natureza, o que levou a uma dessacralização desta última. As Verdades 
Religiosas e os desígnios de Deus, que impediam que as idéias emergentes fossem postas em prática, 
foram derrubadas e deram lugar à novas e diversas verdades que contribuíram para o avanço do 
capitalismo, levando à crença de mobilidade entre as classes sociais. Este mundo em movimento trouxe 
ao homem a possibilidade de ser, de pensar, de refletir, enfim, de escolher entre as várias opções que, 
agora, encontravam-se à sua disposição. Estavam lançadas as bases para o próximo passo: o surgimento 
paulatino da noção de sujeito e, por extensão, a de "eu" separada da de "nós"
3
. Outros conceitos, tais 
como o de "mundo interno", "mundo externo", "singularidades", "componentes individuais", 
"personalidade", "subjetividade" e outros tantos, vão definitivamente confortar a idéia de um "eu", 
individual que deve ser compreendido em sua particularidade. 
 Concomitantemente, a este processo, surge a necessidade de uma ciência que estude, 
compreenda e, consequentemente, se posicione sobre este "eu" que possui características únicas e 
particulares. Nasce, então, a psicologia: a ciência dos fenômenos psíquicos e do comportamento, que 
propõe a compreensão, o conhecimento, o logos, da mente, da alma, da psyché. 
 Entretanto, ao surgir, a psicologia, como toda ciência emergente, está atrelada à ideologia que 
permitiu o seu aparecimento. Ou seja, se, por um lado, a visão liberal defende a existência de uma 
naturezainerente ao homem, dotando todos os homens de um "potencial humano" a ser desenvolvido 
por qualquer um, desde que as possibilidades necessárias lhe sejam dadas, por outro lado, esta mesma 
visão liberal determina as condições ideais para a realização deste potencial em estreito acordo com o 
 
3 - Um das mais importantes conseqüências deste nova organização psíquica foi o surgimento e o desenvolvimento da noção de "vida 
privada". Aos poucos, a vida coletiva, o espaço coletivo, foi cedendo lugar a um novo modo de posicionamento social onde a noção de 
individualidade, de privacidade - sobretudo com as novas formas de trabalho não mais centradas em casa mas, sim, nas fábricas - vai 
ganhando espaço. (Na atualidade isto é ainda mais exacerbado: onde as condições econômicas o permitem, vemos as casas cada vez 
mais compartimentadas, cada membro da família possuindo o seu próprio quarto, com a sua televisão, linha telefônica, computador, 
enfim, com toda a parafernália do mundo moderno, exclusivamente para uso pessoal.) 
 
 
 Professora: Maria Flor 7 
 
"projeto capitalista". 
 Opera-se uma ruptura, ou melhor uma alienação, entre as potencialidades teoricamente atribuídas 
a todos os homens e as condições concretas necessárias a sua realização que, evidentemente, não são 
acessíveis a todos. Como se o desabrochar das potencialidades pudesse ser separado da realidade social 
onde o sujeito está inserido e dependesse única e exclusivamente do esforço pessoal, pois todos têm 
chances iguais. 
 Estas idéias contextualizam, de forma bem resumida, o aparecimento da psicologia: ao surgir, 
ela vai interessar-se na descrição do fenômeno psíquico como algo abstrato, independente da realidade 
externa. Dada a sua origem biológica naturalista, que entende o comportamento humano como respostas 
a estímulos emitidas por um organismo fisiológico, a psicologia não considerou que a sociedade na qual 
o homem que responde está inserido é o resultado de um processo histórico-dialético (MAURER 
LANE, S., T., 1985). 
Wundt em seu laboratório, e no entusiasmo de descrever o homem como um complexo sistema 
capaz de transformar a natureza, almejava uma psicologia científica livre da especulação filosófica. Por 
isto, talvez, não tenha levado em conta que ao transformar a natureza o próprio homem se transforma ao 
longo da história. 
Esquecer a perspectiva histórico-social do ser humano tem trazido grandes prejuízos à prática 
psicológica. Exemplos não faltam. Não se discute a importância das contribuições de Skinner para os 
avanços da psicologia, ao enfatizar as relações homem-ambiente, e o controle que o ambiente exerce 
sobre o comportamento. 
Entretanto, segundo alguns críticos (Maurer Lane, S., T., 1985, 14), Skinner não teria atentado 
para o fato de que estas relações são produzidas pelas condições históricas da sociedade em questão. 
Embora não se possa negar que, de fato, reforços e punições controlam comportamentos, a questão é a 
de saber porque certas coisas são aprendidas e outras extintas? porque, dentro de um grupo social, 
determinados comportamentos são reforçados e outros punidos? 
 Freud, ainda que enfatizando a dimensão histórica do indivíduo e atrelado à visão evolucionista 
darwiniana, negligencia que, ao dar novo significado ao fenômeno psíquico, ao modificar a história, 
homem e fenômeno se modificam. Alguns pressupostos psicanalíticos como, por exemplo, a famosa 
"inveja do pênis", devem ser historicamente contextualizados. Se no discurso das histéricas de Freud 
tudo indicava que estas últimas invejam os privilégios que os seres portadores de pênis possuíam, tal 
posição vem sendo abalada a partir, sobretudo, dos movimentos feministas que denunciaram, 
justamente, a força do patriarcado. Hoje, fala-se muito mais na falência da função fálica como 
organizador social gerando a tão debatida "crise da masculinidade" (Ceccarelli, P. R., 2002). 
 
 
 Professora: Maria Flor 8 
 
Já as teorias humanistas, recusando aquilo que chamam "o triste pessimismo inerente a visão 
psicanalista do homem" e, igualmente desprezando a "concepção de robô do ser humano" do 
comportamentalismo, acreditam que o homem contém dentro de si o potencial para desenvolver-se de 
forma sadia e criativa. Ora, não podemos deixar de ver nesta referência teórica, ainda que 
implicitamente, a concepção criacionista, segunda o qual o homem é bom por natureza pois foi criado a 
imagem e semelhança de Deus. 
Tal posição, mais uma vez, parece não levar em conta os fatores históricos e os interesses 
dominantes que dificultam, quando não impedem, a realização deste suposto potencial segundo o qual 
todos os homens são iguais. Como se a economia de mercado fosse, de fato, algo a que todos tivessem 
igual acesso. Basta ver o complexo e difícil debate acerca das políticas de globalização cujos lucros 
estão longe de serem, como se apregoa, democraticamente divididos. 
O que se depreende de tudo isto é que tanto os conceitos com os quais trabalhamos quanto os 
fenômenos que estudamos são históricos, e acompanham as mudanças sociais. Isto é, conceitos e 
fenômenos são atrelados às transformações sócio-econômicas, e as verdades que utilizamos para ler o 
mundo são sempre interpretações. Se o fenômeno psíquico fosse algo estanque e natural, um a priori 
pronto a ser estudado, não existiriam tantas teorias psicológicas para lê-lo e, muito menos, tantas 
psicopatologias para explicar o desvio. 
O surgimento, ascensão e/ou queda de determinada corrente teórica, o "modismo", não é algo 
fortuito: ele está intimamente ligado às respostas que aquela prática teórico-clínica oferece, ou não, para 
a manutenção da hegemonia ideológica do sistema que lhe dá origem. O fenômeno psíquico não é algo 
que antecede o homem. Ele só pode ser pensado a partir da inserção do homem nas relações sociais que 
o acolhem desde o seu nascimento. Ou seja, homem e mundo estão intrinsecamente ligados e em 
constante movimento. 
No Brasil a psicologia, como em qualquer outro país, foi historicamente construída e marcada 
pelos interesses das elites dominantes. Deste o início prestou-se, tanto como ciência quanto como 
profissão, para o controle, classificação e diferenciação, pouco contribuindo para reais transformações 
sociais (Bock, A. 2002, p. 7). 
O período colonizador, fortemente marcado pela exploração, necessitava, para manter a "ordem", 
de um potente aparelho repressivo. Neste período as idéias psicológicas, produzidas pela igreja e 
intelectuais, eram marcadas pelo controle. 
Com a vinda da Corte portuguesa para o Brasil no início do séc. XIX, o que é produzido no 
âmbito da psicologia serve sobretudo à medicina e à educação. 
O rápido e desordenado crescimento da cidade do Rio de Janeiro, que não possuía a infraestrutura 
 
 
 Professora: Maria Flor 9 
 
necessária para receber a Corte, acarretou um aumento da miséria, de doenças físicas e mentais e da 
prostituição. Para fazer frente a esta nova realidade surgem projetos de saneamento e higienização que 
propõem abarcar tanto os aspectos matérias quanto os morais. Nesta sociedade dominada por uma 
ideologia de pureza e higienização, as idéias psicológicas, e as práticas teórico/clínicas daí advindas, são 
convocadas a contribuir na produção de uma sociedade isenta de desvios. Um exemplo impressionante 
do uso da psicologia, embora ainda não como profissão, mas já como ciência, é a ideologia que permeou 
a fundação,no Rio de Janeiro em 1923, da Liga Brasileira de Higiene Mental. Esta liga, que tinha por 
função a assistência aos doentes mentais, a prevenção e educação, baseava-se em idéias eugenistas, ou 
seja, no melhoramento genético do ser humano. Apoiando-se em uma visão biológica do homem, 
atribui-se os aspectos degenerados do indivíduo à sua herança genética, a partir da qual todos os desvios 
eram explicados. Os psiquiatras da Liga sustentavam que a maior incidência de sífilis nas mulheres 
negras e de alcoolismo nos homens negros era devido à predisposições genéticas! (Reis Filho, J., T., 
2000). Não lhes ocorreu, aparentemente, que a realidade social destas pessoas pudesse ter alguma 
influência nestas "predisposições". 
Com a industrialização, novas exigências são feitas à psicologia sobretudo no sentido de criar um 
conhecimento que possibilitasse diferenciar e classificar pessoas detectando os mais aptos para as 
necessidades das empresas. Leia-se: para a produção de lucros. 
As duas Grandes Guerras, trouxe um desenvolvimento significativo dos testes psicológicos para 
os mais diversos fins, o que marcou e diferenciou definitivamente a psicologia como ciência autônoma. 
Foi nesta referência e lugar social que institucionalizou a psicologia no Brasil a qual foi reconhecida, em 
1962, como profissão. 
Esta breve digressão da história da psicologia no Brasil vem nos mostrar que, desde sua origem, 
nossa prática profissional foi marcada por uma posição ideológica clara e bem delimitada, alinhada aos 
interesses das elites dominantes. Evidentemente, sempre estaremos alinhados a algum interesse e não 
podemos ter a ingenuidade de pensar que nossa atuação profissional seja algo abstrato, puro, relativo a 
um ser humano pensável fora do contexto sócio-econômico-político que o constitui. Além disso, nós 
profissionais do psiquismo, não estamos isentos de nossa própria organização psíquica que guarda 
relações com o momento histórico-social no qual estamos inseridos. Não podemos nos esquecer disto! 
No que diz respeito ao profissional da área hospitalar, ele está, muitas vezes, submetido as mesmas 
coordenadas psicossociais responsáveis pelo sofrimento psíquico daquele que ali encontra-se internado. 
Ademais, não raro ele é convocado a cuidar daqueles que cuidam - enfermeiros, médicos, ajudantes e 
tantos outros - que, por sua vez, estão igualmente assujeitados a estas mesmas coordenadas, o que pode 
impedi-los de trabalhar. Como atuar nestas circunstâncias? 
 
 
 Professora: Maria Flor 10 
 
Não existe clínica psicológica sem consequências, o que faz que nossas intervenções sejam, 
inevitavelmente, direcionamentos (Bock, A. 2002, p. 11). Resta-nos saber qual o direcionamento 
queremos dar às nossas intervenções. O que esperamos delas? Que idéia de sofrimento, e de direção do 
tratamento, temos em mente quando optamos por uma forma de atuação e não por outra? Devemos ter 
clareza de nossas práticas profissionais pois elas transformam os sujeitos. Isso significa que, implícita 
ou explicitamente, nossa atuação profissional reflete um projeto político e uma construção coletiva. 
Com que ouvido escutamos, atuamos e transformamos o sofrimento psíquico? Que compreensão 
temos de sua origem e, por conseguinte, em que direção vamos intervir? Podemos entendê-lo 
simplesmente como fixações edípicas não resolvidas, esquemas de reforços mal adaptados, ou 
potencialidades inatas inibidas. Ou podemos ir mais longe e compreender que além destes 
determinantes, sem dúvida significativa, o sofrimento psíquico reflete, também, as consequências de um 
mundo competitivo onde discriminação, segregação e estigmantização são moedas correntes. 
O que chamamos de subjetivação é o resultado de um processo psíquico que comporta múltiplas e 
complexas variáveis. Não existe uma subjetividade ideal, normal à qual o homem "sadio" almejaria para 
o bem social. Esta subjetividade resulta não apenas de processos intrapsíquicos, mas do que a sociedade 
na qual o "projeto-sujeito" está inserido espera como resultado. 
Nossas atuações como profissionais do psiquismo repercutem invariavelmente nos processos de 
subjetivação. Devemos ter clara consciência disto para, a partir de questionamentos e posições éticas, 
sabermos de nossa responsabilidade quando agimos, quando aconselhamos, quando reforçamos, quando 
punimos, quando interpretamos. Como compatibilizar posições éticas com as demandas de lucro da 
economia capitalista? Que motivações sócio-econômicas-ideológicas sustentam nossa prática e que 
repercussões elas têm em nossa sobrevivência? 
Continuo acreditando, não de forma piegas e idealizada mas de forma realista e atuante, que é 
possível construir uma sociedade pautada no direito e respeito ao cidadão, lembrando sempre que a 
sociedade, de alguma forma, participa da produção do sofrimento. Neste sentido, a Psicologia Hospitalar 
constitui-se um campo privilegiado da escuta do sofrimento por encontrar-se, de forma particular, no 
cruzamento sujeito/sociedade. 
 
BIBLIOGRAFIA 
Bock, A., "Em defesa da perspectiva histórica na psicologia". Texto apresentado pela Dra. Ana Mercês Bahia Bock na PUC-
MG em 13/05/02. 
Ceccarelli, P. R., "Configurações edípicas da contemporaneidade: reflexões sobre as novas formas de filiação", in Pulsional 
Revista de Psicanálise, São Paulo, ano XV, 161, 88-98, set. 2002. 
 
 
 
 
 
 Professora: Maria Flor 11 
 
II. ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NO CONTEXTO HOSPITALAR. 
 
2.1 Psicólogo no Hospital 
 Valdemar Augusto Angerami – Camon 
 
Introdução 
 
 A intenção deste trabalho é levantar alguns pontos de reflexão sobre o significado da Psicologia 
no Hospital e a atuação do psicólogo nesse contexto. A evidência que me ocorre inicialmente é que, 
apesar dos inúmeros trabalhos e artigos que hoje norteiam a prática do psicólogo no hospital, ainda 
assim é notório o fato de que apenas tartamudeamos as primeiras palavras nesse contexto. 
 A própria dinâmica da existência parece encontrar no contexto hospitalar um novo parâmetro de 
sua ocorrência, dando-lhe uma dimensão na qual questões que envolvem a doença, a morte e a própria 
perspectiva existencial apresentam um enfeixamento inerentemente peculiar. 
 A Psicologia, ao ser inserida no hospital, reviu seus próprios postulados adquirindo conceitos e 
questionamentos que fizeram dela um novo escoramento na busca da compreensão da existência 
humana. Assim, por exemplo, não mais é possível pensar-se em um curso de graduação em psicologia 
no qual, questões como morte, saúde pública, hospitalização e outras temáticas, que em princípio eram 
pertinentes apenas à Psicologia Hospitalar, não tenham prioridade ou não sejam exigidas como 
necessárias para a formação do psicólogo. 
 O atual quadro da formação do psicólogo difere do que colocamos em texto anterior1 de 1984, 
quando afirmamos que a atuação do psicólogo no contexto hospitalar, ao menos no Brasil, é uma das 
temáticas mais revestidas de polêmicas quando se evocam discussões sobre o papel da Psicologia. 
 
2.1.2 Na realidade institucional 
 
 A formação acadêmica do psicólogo é falha em relação aos subsídios teóricos que possam 
embasá-lo na prática institucional. Essa formação acadêmica, sedimentada em outros modelos de 
atuação, não provê o instrumental teórico necessário para uma atuação nessa realidade. E praticamente 
prevendo uma mudança nesse quadro, o mesmo texto coloca que apenas recentemente a prática 
institucional mereceu preocupação dos responsáveis pelos programas acadêmicos em Psicologia.12 
 
 
 Professora: MariaFlor 12 
 
 É dentro dessa perspectiva que se abre ao psicólogo no contexto hospitalar que iremos tecer 
nossas reflexões na busca de um melhor dimensionamento dessa prática. É na fé inquebrantável que o 
psicólogo adquire cada vez com mais nitidez um espaço no hospital a partir de sua compreensão da 
condição humana. Iremos caminhar por trilhas e caminhos que nos conduzirão a novos horizontes 
profissionais. 
 Uma das primeiras dificuldades surgidas quando se pensa na atividade do psicólogo na realidade 
hospitalar é sua inserção na realidade institucional. Já afirmamos que: 
 
12 a formação do psicólogo é falha em relação aos subsídios teóricos que possam embasá-lo na prática institucional. Essa formação 
acadêmica, sedimentada em outros modelos de atuação, não o provê com o instrumental teórico necessário para uma atuação nessa 
realidade. Torna-se então abismático o hiato que separa o esboço teórico de sua formação profissional e sua atuação prática. Apenas 
recentemente a prática institucional mereceu preocupação dos responsáveis pelos programas acadêmicos em Psicologia. 
 
 Ainda que hoje em dia seja notório o número de cursos de graduação em Psicologia que têm 
dedicado grande espaço para o contexto institucional em seus programas de formação, estamos distantes 
daquilo que seria o ideal em termos de sedimentação teórico-prática. E na medida em que o hospital 
surge como uma realidade institucional com características bastante peculiares, embora reproduzindo as 
condições de outras realidades institucionais, apresenta sinais que evidenciam tratar-se de amplitude 
sequer imaginável em uma análise que não tenha um real comprometimento com sua verdadeira 
dimensão.13 
 Também é inegável que, a partir do surgimento das reflexões realizadas principalmente pelos 
profissionais sobre a realidade institucional, esse aspecto ganhou uma corporeidade bastante precisa e 
importante na esfera contemporânea da Psicologia. Assim, o termo “análise institucional” deixou de ser 
uma mera citação abstrata de alguns textos para tornar-se realidade, ao menos de discussão teórica, para 
um sem-número de acadêmicos que, a partir de então, passaram a interessar-se pela temática. 
 E apesar do psicólogo ainda estar iniciando uma prática institucional nos parâmetros da eficácia e respeito às condições 
institucionais que delimitam sua situação nesse contexto, a busca de determinantes nessa prática o levou de encontro a convergências 
bastante significativas na estruturação teórica dessas atividades.14 
 É fato que a realidade hospitalar apresenta celeumas e condições que exigirão do psicólogo algo 
além da discussão meramente teórico-acadêmica. Valores éticos e ideológicos surgirão ao longo do 
caminho e exigirão performances sequer imaginadas antes de sua ocorrência. Como ilustração dessa 
afirmação cito o grande número de crianças que padecem nos hospitais de São Paulo de insuficiência 
hepática causada por inanição. Deparar com crianças que padecem vitimadas pela fome em plena cidade 
de São Paulo é algo que nenhum acadêmico imagina quando idealiza efetivamente uma atividade no 
 
 
 Professora: Maria Flor 13 
 
hospital. Ou então, que dizer dos casos de crianças atacadas por ratazanas enquanto dormem, em uma 
evidência da precariedade e da falta de condições mínimas de dignidades existencial e habitacional em 
que a falta de saneamento básico é tão abismante que conceituá-lo de absurdo nada mais é do que 
aproximar-se da verdadeira realidade dessa população? 
 O psicólogo, no contexto hospitalar, depara-se de forma aviltante com um dos direitos básicos que estão sendo negados à 
maioria da população, a saúde. A saúde, em princípio um direito de todos, passou a ser um privilégio de poucos em detrimento de muitos. 
A precariedade da saúde da população é, sem dúvida alguma, um agravante que irá provocar posicionamentos contraditórios, e, na 
quase totalidade das vezes, irá exigir do psicólogo uma revisão de seus valores acadêmicos, pessoais e até mesmo sociopolíticos.15 
 
12 - Psicologia Hospitalar. A Atuação do Psicólogo no Contexto Hospitalar. 
 
2.2 A Despersonalização do Paciente 
 
 De acordo com o Novo dicionário da Língua Portuguesa (Ferreira, 1986), despersonalização é 
um ato ou efeito de despersonalizar-se, ou seja, tirar ou reduzir as propriedades que formam a 
personalidade. No contexto hospitalar, esse fenômeno pode ocorrer em pacientes quando passam por 
processo de adoecimento e hospitalização. 
Segundo Gomes e Próchno (2015, p. 787), o paciente tem a fantasia de que o hospital é detentor do 
saber e da cura e, como forma de manter sua onipotência narcísica, idealiza a instituição e se apropria 
dela, tendo reações de passividade e agressividade. 
 Ao ser hospitalizado, o paciente sofre um processo de total despersonalização. Deixa de ter o seu 
próprio nome e passa a ser um número de leito ou então alguém portador de uma determinada patologia. 
 O estigma de doente – paciente até mesmo no sentido de sua própria passividade perante os 
novos fatos e perspectivas existenciais – irá fazer com que exista a necessidade premente de uma total 
reformulação até mesmo de seus valores e conceitos de homem, mundo e relação interpessoal em suas 
formas conhecidas. Deixa de ter significado próprio para significar a partir de diagnósticos realizados 
sobre sua patologia. 
 Berscheid e Walster3 destacam que fundamentalmente quando dizemos que sabemos qual a 
atitude de uma pessoa, queremos dizer que temos alguns dados, a partir do comportamento passado da 
pessoa, que nos permitem predizer seu comportamento em determinadas situações.4 Tal afirmação, 
utilizada para embasar muitos princípios teóricos em psicologia, perde sua força e autenticidade ao ser 
confrontada com o comportamento de uma determinada pessoa em uma situação de hospitalização. 
 Embora sem querer negar que o passado de uma determinada pessoa irá influir não apenas em 
sua conduta como até mesmo em sua recuperação física, ainda assim não cometemos erro ao afirmar que 
 
 
 Professora: Maria Flor 14 
 
a situação de hospitalização será algo único como vivência, não havendo a possibilidade de previsão 
anterior à sua própria ocorrência. 
 Goffman5 coloca que o estigma é um sinal, um signo utilizado pela sociedade para discriminar 
os indivíduos portadores de determinadas características. 
 E o simples fato de se tornar “hospitalizada” faz com que a pessoa adquira os signos que irão 
enquadrá-la numa nova performance existencial, sendo que até mesmo seus vínculos interpessoais 
passarão a existir a partir desse novo signo. Seu espaço vital não é mais algo que dependa de seu 
processo de escolha. Seus hábitos anteriores terão de se transformar diante da realidade da 
hospitalização e da doença. 
 Se essa doença for algo que a envolva apenas temporariamente, haverá a possibilidade de uma 
nova reestruturação existencial quando do restabelecimento orgânico, fato que, ao contrário das doenças 
crônicas, implica necessariamente uma total reestruturação vital. 
 Sebastiani6 explica que “a pessoa deixa de ser o José ou Ana etc. e passa a ser o ‘21A’ ou o 
‘politraumatizado de leito 4’, ou ainda ‘a fratura de bacia de 6o andar’”.7 
 E, tentando aprofundar ainda mais tais colocações, afirma que “essa característica, que 
felizmente notamos em grande parte das rotinas hospitalares, tem contribuído muito para ausentar a 
pessoa de seu processo de tratamento, exacerbando o papel de ‘paciente’”.8 
 A despersonalização do paciente deriva ainda da fragmentação ocorrida a partir dos diagnósticoscada vez mais específicos que, além de não abordarem a pessoa em sua amplitude existencial, fazem 
com que apenas um determinado sintoma exista naquela vida. 
 Apesar disso, assistimos cada vez mais ao surgimento de novas especialidades que reduzem o 
espaço vital de uma determinada pessoa a um mero determinismo das implicações de certos 
diagnósticos, que trazem em seu bojo signos, estigmas e preconceitos. 
 Tal carga de abordagem e confrontos teórico-práticos faz da pessoa portadora de determinadas 
patologias alguém que, além da própria patologia, necessitará de cuidados complementares para livrar-
se de tais estigmas e signos. A especialização clínica, na maioria das vezes, ao aprofundar e segmentar o 
diagnóstico deixa de levar em conta até mesmo as implicações dessa patologia em outros órgãos e 
membros desse doente, que, embora possam não apresentar sinais evidentes de deterioração e 
comprometimento orgânico, estarão sujeitos a um sem-número de alterações. 
 A situação de hospitalização passa a ser determinante de muitas situações que serão consideradas 
invasivas e abusivas na medida em que não se respeitam os limites e imposições dessa pessoa 
hospitalizada. E, embora esteja vivendo um total processo de despersonalização, ainda assim algumas 
práticas são consideradas ainda mais agressivas pela maneira como são conduzidas no âmbito hospitalar. 
 
 
 Professora: Maria Flor 15 
 
 Assim, será visto como invasivo o fato de a enfermeira acordar o paciente para aplicar injeção, 
ou a atendente que interrompe uma determinada atividade para servir-lhe as refeições. 
 Tudo passa a ser invasivo. Tudo passa a ser algo abusivo diante de sua necessidade de aceitação 
desse processo. E até mesmo a presença do psicólogo, que, se não se efetivar cercada de alguns cuidados 
e respeito à própria deliberação do doente, implica ser mais um dos estímulos aversivos e invasivos 
existentes no contexto hospitalar, e, em vez de propiciar alívio ao momento da hospitalização, estará 
contribuindo também para o aumento de vetores que tornam o processo de hospitalização extremamente 
penoso e difícil de ser vivido. 
 O hospital, o processo de hospitalização e o tratamento inerente que visa ao restabelecimento, 
salvo aqueles casos de doenças crônicas e degenerativas, não fazem parte dos projetos existenciais da 
maioria das pessoas. Nesse sentido, toda e qualquer invasão no espaço vital é algo aversivo que, além do 
caráter abusivo, apresenta ainda componentes de dor e desalento. E até mesmo evidencia que muitos 
processos de hospitalização têm o reequilíbrio orgânico prejudicado por causa do processo de 
despersonalização do doente, que, ao sentir sua desqualificação existencial, pode concomitantemente, 
muitas vezes, abandonar seu processo interior de cura orgânica e até mesmo emocional. 
 Ao trabalhar no sentido de estancar os processos de despersonalização no âmbito hospitalar, o 
psicólogo estará ajudando na humanização do hospital, pois seguramente esse processo é um dos 
maiores aniquiladores da dignidade existencial da pessoa hospitalizada. Um trabalho de reflexão que 
envolva toda a equipe de saúde é uma das necessidades mais prementes para fazer com que o hospital 
perca seu caráter meramente curativo para transformar-se em uma instituição que trabalhe não apenas 
com a reabilitação orgânica, mas também com o restabelecimento da dignidade humana. 
 O corpo, portanto, coloca-se como exemplificador mais coerente de tal situação, porque o 
hospital, como instituição, está imerso nas questões pulsionais – de vida e de morte, de fragmentação e 
de reconstrução – fornecendo um espaço, um campo propício ao desnudamento do desamparo humano. 
 Ismael (2010) salienta que a hospitalização é um processo que pode favorecer o paciente a ficar 
destituído de si, uma vez que sua subjetividade é despercebida, resultando no fenômeno de 
despersonalização. A autora cita como contribuintes deste processo: 
- Quebra da rotina e produtividade na vida do paciente, além do ambiente não familiar e desconhecido 
que ocasiona estranhamento, não havendo referência pessoal. 
- Institucionalização do sujeito, gerando desconforto e angústia, pois o mesmo é obrigado se submeter às 
regras, normas e horários impostos. 
- Perda da autonomia: seu corpo fica suscetível e vulnerável ao outro devido aos procedimentos 
invasivos que sofre. 
 
 
 Professora: Maria Flor 16 
 
- Tratamento não humanizado devido a equipes de saúde olharem para o paciente não como um sujeito 
em sua completude, mas como portador da doença "X", uma visão técnica da doença somente. 
 A este respeito, Gomes e Próchno (2015, p. 787) salientam: "Pode-se articular, por conseguinte, 
que o adoecer tratado aqui diz respeito a essa sujeição da subjetividade ao monumento, à imersão da 
individualidade em processos de institucionalização que implicam a destituição do sujeito como senhor 
de si". 
 Maldonado e Canella (2003) apresentam outro fator contribuinte com a despersonalização: a 
formação dos médicos. Estes profissionais aprenderiam a lidar com os pacientes como se estes fossem 
conjuntos de órgãos ou sistemas, focando na doença orgânica e não no significado do adoecer. O 
resultado seria um atendimento incompleto. 
 Perez (2010, p. 56) relata que a equipe de saúde também pode perder sua identidade, sendo 
colocados como representantes da instituição, entrando no anonimato assim como os pacientes. 
 Desta forma, a relação médicopaciente se torna difícil quando este vínculo reflete problemas 
institucionais como condições precárias de atendimento, alta demanda para poucos funcionários, 
escassez de recursos. "A despersonalização gera uma gama enorme de sentimentos que vão permear a 
relação paciente-profissional, como: desconfiança, agressividade, sentimentos de rejeição, de desprezo". 
 Perez (2010, p. 56) prossegue, afirmando que estes fatores favorecem o não comprometimento 
dos profissionais com o sujeito hospitalizado. "(...) ambiente hostil e profissionais que, sob pressão, não 
têm disponibilidade interna para acolher e dar continência às angústias do paciente". 
 
2.2.1 LACAN 
 
Considerado como o grande representante da psicanálise francesa, Jacques Lacan nasceu em 1901 
em Paris em uma família da alta burguesia. Após estudos secundários no Colégio Stanislas, o futuro 
psicanalista inicia curso de Medicina, especializando-se em Psiquiatria sob a direção de Gaetan de 
Clérambault. Por volta de 1923, teve seu primeiro contato com as teorias de Freud, mas era um Freud de 
Anna Freud, da egopsychology (a psicanálise do eu, das resistências e dos mecanismos de defesa). 
Assim, embora sua tese de 1932 – Da psicose paranóica em suas relações com a personalidade– já fosse 
um texto psicanalítico, ainda era um trabalho no interior do campo psiquiátrico (Roudinesco, 2008). 
 
 
 
 
 Professora: Maria Flor 17 
 
2..2.2 O ESTÁDIO DO ESPELHO 
 As hipóteses lacanianas sobre o surgimento do eu são trabalhadas a partir da oposição entre o eu 
e o eu imagem. Lacan (1975/2009, p. 219) diferencia: "O que é dizer Eu? Será a mesma coisa que o ego, 
conceito analítico? É preciso partir daí". 
 Em sua tese de doutorado, Imanishi (2014) analisa as metáforas ópticas que Lacan se utiliza para 
elucidação do estádio do espelho e observa como os principais conceitos introduzidos com as metáforas 
ópticas chegam em "dose dupla" e a partir de uma relação de oposição: narcisismo primário e 
narcisismo secundário (imagem real e imagem virtual),ideal do eu e eu ideal (espelho plano/simbólico e 
imagem virtual/imaginário). 
 A autora entende que esta forma de trabalhar mostra-se coerente com a influência de Saussure, 
cuja Linguística irá estruturar a teoria psicanalítica lacaniana na fase seguinte de sua obra. O valor de 
cada elemento da metáfora apenas pode ser compreendido a partir da oposição estabelecida entre os 
elementos. 
 Acompanhando as principais teses de Lacan (1936/1988) em O estádio do espelho como 
formador da função do eu, destaca-se inicialmente sua correspondência com a formação da primeira 
unidade do eu, esta que permitiria distinguir o interno do externo. 
 Lacan (1936/1988) parte dos trabalhos de Henri Wallon sobre a experiência do espelho como um 
rito de passagem que teria início entre os 06 e 08 meses de vida e declinaria mais ou menos aos 18 
meses. Essa experiência de júbilo da criança, este "espetáculo cativante" do bebê quando vê a imagem 
refletida no espelho, é considerada por Wallon como um ato de inteligência. 
 Fages (1975) discrimina três momentos deste estádio: primeiro a criança vê sua imagem no 
espelho como sendo o outro real. Depois ela passa a ver a imagem não mais como um outro, mas apenas 
uma imagem e, no terceiro momento, reconhece a imagem com sendo a dela, dando-se a conquista de 
sua identidade. 
 Lacan (1975/2009, p. 156) explica que o estádio do espelho deve ser compreendido como o ato 
psíquico por meio do qual o eu se precipita em uma forma primordial: 
 A Urbild, que é uma unidade comparável ao eu, constitui-se num momento determinado da 
história do sujeito, a partir do qual o eu começa a assumir suas funções (...) A função do eu, escreve 
Freud, deve ter eine neue psychiche… Gestalt. No desenvolvimento do psiquismo, aparece algo de novo 
cuja função é dar forma ao narcisismo. Não será marcar a origem imaginária da função do eu? 
 Marca-se, portanto, neste estádio, a primeira identificação do bebê em torno do primeiro objeto, 
notadamente, a imagem do próprio corpo. Esta imagem seria a origem do eu ideal, futuramente 
 
 
 Professora: Maria Flor 18 
 
projetada nas identificações posteriores. A assunção desta primeira unidade marcaria a passagem de um 
corpo despedaçado para a imagem unificada do corpo (Lacan, 1936/1988). 
 No entendimento lacaniano, essa imagem do corpo, ou seja, a constituição do eu na criança, 
depende, não apenas de um desenvolvimento maturacional, mas exige a implicação do outro, situado, 
tanto no nível imaginário, como no simbólico. 
 No nível imaginário, situa-se o outro "semelhante", aquele com o qual a criança se identifica. 
Para Lacan (1975/2009, p. 109) – e talvez neste ponto não se trate de metáfora –, o sujeito só se 
reconhece como corpo desde que este outro semelhante, fundamental para reconhecer nosso desejo, 
também tenha um corpo: "É sobre isso que insisto na minha teoria do estádio do espelho – a só vista da 
forma total do corpo humano dá ao sujeito um domínio imaginário do seu corpo, prematuro em relação 
ao seu domínio real". 
 Quando a criança vê sua imagem no espelho a partir de uma determinada idade, significa na 
realidade que ela se vê no outro, fazendo parte dele, em um processo dialético e ainda confuso sobre a 
distinção eu-outro. Mucida (2009, p. 46) ressalta que "o estádio do espelho não se refere, todavia, ao 
encontro com o espelho real, mas à relação da criança com o outro, como duplo e homólogo de si 
mesmo". 
 No nível simbólico, situa-se o Grande Outro (A). Imanishi (2014) refere que nas metáforas 
ópticas, o espelho plano situa-se no simbólico, representante da linguagem, tanto no que concerne à sua 
face concreta – a voz e as palavras – como representante da lei, da relação simbólica, ligada ao sistema 
da linguagem, cuja função transcenderia o sujeito. 
 Cada um se constitui como sujeito a partir de um assujeitamento ao Outro, encarnado na mãe ou 
cuidador, de quem recebe informações como: sentimentos, nomeações e toque. Mucida (2009, p. 45) 
explica: 
 Desde as primeiras experiências o bebê depara-se com o encontro/desencontro com aquele que 
ocupa um lugar de cuidador. Isto implica que antes de falar, nomear algo do desejo e poder articular 
qualquer desconforto ou conforto em relação às intervenções do Outro, cada um é falado, nomeado, 
tocado, amado ou não, e só depois poderá articular algo sobre isto. 
 Trata-se, portanto, da função materna, instituindo uma posição simbólica no bebê, inserindo-o no 
mundo dos humanos. Para Lacan (1936/1988), sem este Outro da linguagem, sem os significantes do 
Outro, sem este assujeitamento inicial, o sujeito não pode sequer sustentar a posição narcísica. 
 O fim do estádio do espelho marcaria a consolidação desta primeira identificação, projetada nas 
relações interpessoais complexas ulteriores. 
 
 
 Professora: Maria Flor 19 
 
 2.2.3 Adoecimento e hospitais 
 
 Ao falar de adoecimento, o que vem à mente em primeira instância é a idéia de um corpo doente. 
Mas a relação do sujeito com este corpo tem como pano de fundo, entre outros fatores, o difícil 
confronto com a falta de controle, intensificado pela contemporaneidade. Como apontam Gomes e 
Próchon (2015, p. 784): 
 O controle excessivo – excessivo porque nega veementemente a dor e o sofrimento advindo do 
corpo doente que representa a impotência do ser humano diante da morte – acelera a busca da perfeição, 
da saúde, da beleza, incontroladamente. 
 O homem contemporâneo é instigado a uma busca excessiva de prolongar a vida e evitar o 
adoecimento, pois essa busca pelo ideal de corpo, beleza, saúde, significa a busca por uma satisfação e 
realização plena, além de negar a morte como parte do processo da vida. 
 Quando o individuo nega a realidade do adoecer de seu corpo, está negando a si mesmo, afinal, 
não há separação entre doença e doente, ambos estão interligados, juntamente com sua subjetividade. 
 Gomes e Próchno (2015, p.785) sugerem que: 
 Doente adquire significação de infelicidade e é isso que me parece mais sério, porque a busca 
incessante da felicidade via corpo-saúde produz um opacificamento da gravidade das patologias 
psíquicas e orgânicas que dizem respeito ao corpo (bulimia, anorexia, tentativas de autoextermínio, 
depressões graves e outros subprodutos clínico-psicopatológicos) e um distanciamento do sujeito de si 
mesmo. 
 Conforme Romano (1999), há duas classes de pessoas com problemas de saúde: os excluídos e 
os incluídos. Dentre os excluídos, encontram-se aqueles que não buscam um médico, desconhecem seus 
sintomas por falta de informação, negam sua situação real e aqueles que se adaptam ao sofrimento e a 
dor, adiando assim sua ida ao médico. 
 Em contrapartida, o grupo dos incluídos compreende os sujeitos que vão ao médico, mas não 
sabem lidar com a dor, os hipocondríacos, os que usam a doença para manipular as pessoas, como 
também aqueles que esperam um ganho secundário, no que diz respeito ao aspecto financeiro como, por 
exemplo, a aposentadoria. 
 Maldonado e Canella (2003) referem dificuldades no processo de hospitalização do paciente, 
seja por parte dos profissionais (equipe de enfermagem, médicos e funcionários em geral) e da 
instituição, como por parte do paciente. Entre os profissionais no contexto hospitalar, as dificuldades se 
dão, em muitos casos, por baixos salários e equipe reduzida, resultando em estresse, sobrecarga, e maus 
atendimentos como consequência. 
 
 
 Professora: Maria Flor 20 
 
 Outro fator problemático evidenciado porMaldonado e Canella (2003) é o autoritarismo de 
instituições, nas quais se produzem equipes de profissionais que atuam de forma ríspida com os 
pacientes, por vezes não atendendo o paciente, caso ele não se submeta ao que foi solicitado. Além 
disso, há o problema da equipe multidisciplinar não ser integrada, não se comunicarem, deixando um 
trabalho incompleto. Sendo assim, o que resulta é um clima de trabalho desarmonioso, dificultando a 
comunicação entre profissional-paciente, e paciente-instituição, tornando-se um atendimento 
fragmentado: 
 No atendimento fragmentado, fica difícil ver a pessoa como um todo, o que impossibilita o 
cuidado adequado com o principal motivo que leva o cliente aos ambulatórios: os fatores emocionais e 
sociais, componentes primários ou secundários de toda e qualquer doença (Maldonado & Canella, 2003, 
p. 217). 
 O paciente se vê como "um número", uma "estatística", pois o foco é a doença, esquecendo-se 
das influencias subjetivas, sociais, econômicas e culturais no processo do adoecimento. Como apontam 
Maldonado e Canella (2003, p. 217), "ainda se desvaloriza a profunda interligação entre o social, o 
somático e o psíquico". 
 Romano (1999, p. 43-44) também defende a importância da integração biopsicossocial do 
paciente no processo de hospitalização e adoecimento: 
 O biológico, no processo do adoecer, está em desequilíbrio. O psíquico é resultado, por sua vez, 
de outros vetores como estrutura de personalidade, interpretação e vivência de acontecimento (isto é, do 
imaginário e do real). O social compreende a família de onde se vem e para onde se retorna, a sociedade 
em seu sentido mais amplo (a comunidade, a escola e o grupo de trabalho), e deve englobar também a 
equipe de profissionais que se relaciona com o doente". 
 Simonetti (2014) esclarece algumas formas a partir das quais a subjetividade pode influenciar no 
processo de adoecimento. Como: 
a) Causa: próprio campo da psicossomática; 
b) Desencadeante: quando uma vivência psicológica vem precipitar o início do adoecimento; 
c) Agravante: quando o aspecto psicológico piora o quadro clínico já instalado; 
d) Manutenção: envolvendo os ganhos secundários advindos do processo de adoecimento e atuando 
como fator de manutenção da doença; 
e) Consequência: as perdas advindas como decorrência da enfermidade. 
 Se os fatores "psis" atuam e influenciam no processo do adoecimento e hospitalização, cabe 
compreendermos do ponto de vista teórico estes aspectos psíquicos. É o que pretende a presente 
pesquisa. 
 
 
 Professora: Maria Flor 21 
 
2.2.4 Articulação entre despersonalização e estágio do espelho 
 
 Na instituição hospitalar, espaço onde o desamparo humano pode aparecer das mais diversas 
maneiras, emergem reações diversas. O sujeito é lançado no estado inicial de desamparo, estado que 
pode se repetir em qualquer momento da vida. (Pinheiro, 2008, p. 27) 
 O estádio do espelho deve ser pensado, não apenas como um momento do desenvolvimento, mas 
como um modelo da relação que o sujeito estabelece com sua imagem, das relações entre o eu e o outro. 
 Embora a noção de despersonalização não seja expressão característica da teoria lacaniana, 
Lacan (1961/1988) chega a mencioná-la no texto Observação sobre o relatório de Deniel Lagache como 
um fenômeno típico de determinado momento da análise, e vale-se do esquema óptico para ilustrá-lo. 
 O psicanalista sugere que a experiência de despersonalização corresponderia a uma inversão da 
posição do sujeito em relação à sua própria imagem. Neste processo, a "ilusão" de um eu integrado 
estaria fadada a enfraquecer, gerando o sentimento de angústia característico da despersonalização. 
 Podemos inferir, portanto, que o adoecimento e o processo de hospitalização forçam uma 
mudança de posição do sujeito em relação à sua própria imagem e que, no confronto com este novo 
corpo-doente, o paciente perde a imagem integrada que, até então, garantia uma sensação de 
mesmidade. 
 Destacamos em tópico anterior que o estádio do espelho vem como um conceito para tratar da 
passagem da imagem de um corpo despedaçado para um corpo unificado. Entendemos que o sujeito 
adulto hospitalizado, diante da crise do adoecimento e das condições da hospitalização, teria esta 
imagem integrada "abalada", retornando à posição regressiva de um corpo fragmentado, com decorrente 
angústia de aniquilamento, impotente frente à finitude da vida. 
 Pinheiro (2008, p. 23) destaca: "(...) angústias primitivas são evocadas e mecanismos defensivos 
primários intensificados (sono, choro, negativismo, desinteresse), ou, então, podem ocorrer diferentes 
alterações da adaptação psicológica global (sequelas psicopatológicas)". 
 A relação com o próprio eu e com o próprio corpo, muitas vezes mutilado, disfórmico, 
envelhecido, coloca o sujeito em confronto com um "espelho quebrado" (Mucida, 2009), com uma 
imagem estranha e inquietante, diferentemente da criança, quando a identificação com sua própria 
imagem gera uma experiência de júbilo. 
 Tal como Mucida (2009) analisa no caso do paciente idoso, também o adoecimento pode ser 
pensado como um encontro muito difícil do eu com sua própria imagem. 
 A alienação fundamental sob a qual o eu se constitui, referida no estádio do espelho, também nos 
serve para uma compreensão teórica das reações emocionais do paciente hospitalizado. 
 
 
 Professora: Maria Flor 22 
 
 No processo de internação do sujeito, como mencionamos, ele está submetido constantemente ao 
desejo e às ordens da equipe médica, às normas e regras da instituição. 
 Gomes e Próchno (2015, p. 785) referem que, neste processo, o eu é "deixado de lado", 
conferindo uma posição de assujeitamento em relação Outro, tal como o assujeitamento inicial do bebê. 
Mas desta vez, situa-se no lugar deste Outro a equipe, o médico, a instituição, detentores do "poder", 
lugar de saber e de comando: o corpo-doente "denega sua própria história, seu corpo, sua subjetividade, 
sua especificidade". 
 De outro lado, as mudanças que acontecem no sujeito dentro do ambiente hospitalar provocam 
rupturas em sua constituição de sujeito e, desta perda de referencial, o sujeito se defende. A 
identificação imaginária da criança pequena com o outro como duplo de si mesma, esta "confusão 
imaginária" entre eu-outro, reflete-se na angústia emergente no paciente hospitalizado que, como 
exemplificado por Moretto (2013), escuta sobre o falecimento do paciente no leito vizinho, e passa à 
convicção de que também ele morrerá. 
 Esta identificação e confusão de tratamento, diagnóstico e prognóstico próprio com o do outro 
podem ser analisados como reflexos de uma relação especular, marcada essencialmente pelo eixo 
imaginário. 
 O não saber quem se é causa transtorno muito intenso para o sujeito e também para a equipe de 
saúde, que tem contato direto com o paciente e percebe suas reações emocionais e físicas oscilantes, de 
agressividade e passividade, muitas vezes como forma de se opor e defender do assujeitamento, ameaça 
de desintegração do eu, e perda de sua identidade. 
 Pinheiros (2008, p. 25) resume: 
Por serem inesperadas, as situações relacionadas ao adoecer podem destruir o sujeito do seu 
"ancoradouro significante", de como ele se vê, de quem ele se denomina. Muitas vezes, nestas situações 
não saber exatamente quem ele é, os acontecimentos se tornam traumáticos e diante dessa incerteza, da 
falta de ancoradouro significante, o sujeito se vê imerso na angústia. 
 
Helena Amstalden Imanishi1,I; Lucieli Lopes da Silva2 
IFaculdades Metropolinas Unidas (FMU), São Paulo, SP, 2016 
 
2.3 Psicoterapia e PsicologiaHospitalar 
 
 A Psicologia Hospitalar, assim como a Psicoterapia, tem seu instrumental teórico de atuação 
calcado na área clínica. Apesar dessa convergência, haverá pontos de divergência que mostram os 
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-08582016000100004#1b
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-08582016000100004#2b
 
 
 Professora: Maria Flor 23 
 
limites de atuação do psicólogo no contexto hospitalar, bem como questões que tornam totalmente 
inadequada a intenção de muitos profissionais da área de tentarem definir a atuação no contexto 
hospitalar como sendo prática psicoterápica, ainda que realizada no contexto institucional. A seguir 
descrevemos alguns desses pontos. 
 
 9 - Existem muitos profissionais da área que defendem que a Psicologia Hospitalar, mesmo tendo como referencial os 
princípios da área clínica, seja considerada uma nova ramificação da Psicologia. Assim, além da clássica divisão em Clínica, 
Educacional e Organizacional, haveria também uma quarta ramificação: a Psicologia Hospitalar. E embora seja uma questão 
que envolva bastante celeuma quando de seu aprofundamento, evidencia-se também a necessidade de uma nova ótica sobre a 
Psicologia Hospitalar, seja pelo seu crescimento, seja ainda pela sua diversidade teórica. 
 
2.3.1 Objetivos da psicoterapia 
 
 A Psicoterapia, independentemente de sua orientação teórica, tem como principais objetivos 
levar o paciente ao autoconhecimento, ao auto crescimento e à cura de determinados sintomas. O 
enfeixamento desses objetivos, ou ainda de algum deles isoladamente, desde que leve esse paciente a 
um processo pleno de libertação existencial, é, por assim dizer, o ideal que norteia o processo 
psicoterápico. 
 A Psicoterapia, ademais, tem como característica principal o fato de ser um processo no qual a 
procura e a determinação de seu início se dá pela mobilização do paciente. 
 Assim, um paciente, ao ser encaminhado para um processo psicoterápico, muitas vezes demora 
um período bastante longo entre esse encaminhamento e a procura propriamente dita desse processo. 
 Chessick adverte que a psicoterapia falha quando não existe uma afinidade precisa entre aquilo 
que busca o paciente em sua psicoterapia e aquilo que o psicoterapeuta tem condições de oferecer-lhe. 
 Até mesmo a falta de definições precisas dos objetivos do processo poderá determinar 
implicações que seguramente emperrarão o processo, além de arrastá-lo ao longo de um período de 
maneira indevida. 
 Ao decidir pela psicoterapia, o paciente já realizou um processo inicial e introspectivo da 
necessidade desse tratamento e suas implicações em sua vida. Isso tudo evidentemente além da inserção 
de suas necessidades aos objetivos da psicoterapia. 
 
 
 
 
 
 
 Professora: Maria Flor 24 
 
2.4 O setting terapêutico 
 
 Ao procurar pela psicoterapia, o paciente será então enquadrado no chamado setting terapêutico. 
Assim as normas e diretrizes do processo serão colocadas de maneiras bastante claras e precisas pelo 
psicoterapeuta, formalizando-se assim as nuances sobre as quais se norteará esse processo. Detalhes 
como horário de duração de cada sessão, eventuais reposições de sessões, prazo de aviso para eventuais 
faltas etc. são esboçados e o processo se desenvolve então em perfeita consonância com esses preceitos. 
 E até mesmo alguma eventual resistência inicial do paciente em procurar pela psicoterapia, bem 
como outras implicações serão resolvidas em um processo cujo contrato é estabelecido em acordo com 
as duas partes envolvidas. 
 Embora seja notório o número de casos encaminhados à psicoterapia que, por alguma forma de 
resistência, demoram muito para procurar por tal processo, ainda assim é conveniente estabelecer que, 
pelo fato de o paciente estar totalmente fragilizado e necessitando desse tipo de tratamento, a busca por 
tal processo se dará única e tão somente quando esse paciente romper com determinadas amarras 
emocionais. 
 Ainda que surjam outras dificuldades e resistências ao longo do processo, a resistência inicial ao 
tratamento é transposta pelo simples fato de o paciente procurar pela psicoterapia. 
 A psicoterapia ainda tem outra característica bastante peculiar de ser um processo em que o 
psicoterapeuta tem no paciente alguém que caminha sob sua responsabilidade, mas que de forma 
simples tem nesse vínculo seu objetivo em si. Assim, um psicoterapeuta não precisará prestar conta de 
seu paciente a nenhuma entidade, salvo naturalmente aqueles casos nos quais o atendimento é vinculado 
a algum processo de supervisão. 
 O processo em si é conduzido pelo psicoterapeuta com anuência do paciente e, no caso de algum 
impedimento, a relação se resolve apenas e tão somente pelas partes envolvidas nesse processo. 
 O setting terapêutico impõe ainda uma privacidade ao relacionamento que torna toda e qualquer 
interferência externa ao processo plausível de ser analisada e enquadrada nos parâmetros desse 
relacionamento. 
 Chessick salienta que o psicoterapeuta descende diretamente do confessor religioso ou então do 
médico de família, aquele profissional que, além de cuidar dos males do organismo, escutava as 
angústias e dificuldades do paciente. O psicoterapeuta em sua linhagem apresenta também resquícios do 
curandeiro das antigas formações tribais, encarregado de trazer bem-estar e alívio aos membros dessa 
comunidade. 
 
 
 Professora: Maria Flor 25 
 
 A proteção sentida pelo paciente nos limites do setting terapêutico mostra ainda que essa origem 
não é apenas perpetuada, mas apresenta requinte de evolução no resguardo dos aspectos envolvidos 
nesse processo. E até mesmo um “quê” de samaritanismo presente no processo psicoterápico é também 
resíduo dessas marcas que o psicoterapeuta traz de sua origem e desenvolvimento. A emoção presente 
na atividade psicoterápica é outro fator que faz com que nenhuma outra forma de relacionamento possa 
ser comparada com sua performance. 
 E nesse sentido temos também a colocação de muitos especialistas de que a psicoterapia é o 
sustentáculo do homem contemporâneo dentre outras tantas formas buscadas para alívio e crescimento 
emocional. Ainda no chamado setting terapêutico vamos encontrar a peculiaridade de que a maioria dos 
processos jamais tem suas sessões interrompidas, seja por solicitações externas, seja ainda por outras 
variáveis decorrentes, muitas vezes, do próprio processo em si. 
 Assim, é praticamente impossível, por exemplo, que um psicoterapeuta interrompa uma sessão 
estancando o choro de angústia do paciente para simplesmente atender uma ligação telefônica. Ou ainda 
que uma sessão seja igualmente interrompida para que o psicoterapeuta possa recepcionar algum amigo 
que eventualmente vá visitá-lo. 
 O setting terapêutico assim resguarda a sessão para que todo o material catalisado naqueles 
momentos seja apreendido e elaborado de maneira plena e absoluta. Tais características fazem, 
inclusive, com que seja muito difícil avaliar-se um processo psicoterápico que não seja fundamentado 
nesses moldes. 
 
2.5 A psicologia hospitalar – objetivos e parâmetros 
 
 A Psicologia Hospitalar tem como objetivo principal a minimização do sofrimento provocado 
pela hospitalização. Se outros objetivos forem alcançados a partir da atuação do psicólogo com o 
paciente hospitalizado – inerente aos objetivos da própria psicoterapia antes citados –, trata-se de 
simples acréscimo ao processoem si. 
 O psicólogo precisa ter muito claro que sua atuação no contexto hospitalar não é psicoterápica 
dentro dos moldes do chamado setting terapêutico. Como minimização do sofrimento provocado pela 
hospitalização, também é necessário abranger não apenas a hospitalização em si – em termos específicos 
da patologia que eventualmente tenha originado a hospitalização –, mas principalmente as sequelas e 
decorrências emocionais dessa hospitalização. Tomemos como exemplo, arbitrariamente, uma 
criança de 3 anos de idade que nunca tenha vivido longe do seio familiar. 
 
 
 Professora: Maria Flor 26 
 
 Em dado momento, simplesmente coloquemos essa criança em uma escola maternal durante 
apenas um período do dia. 
 Essa criança, em que pese a escola ser um ambiente em princípio agradável e repleto de outras 
crianças, se desarvorará e entrará em um processo de pânico e desestruturação emocional ao se perceber 
longe da proteção familiar. 
 E tantos casos ocorrem nesse enquadre que a maioria das escolas possui o chamado período de 
adaptação, no qual algum dos representantes desse núcleo familiar se faz presente na escola para acudir 
essa criança nos momentos agudos de dificuldades. 
 E isso tudo em um ambiente agradável de escola onde muitas vezes a criança irá se deparar com 
estimulações e recreações sequer imagináveis sem seu universo simbólico. O que dizer então de uma 
criança que em um determinado momento se vê hospitalizada sem a presença dos familiares e em um 
ambiente na maioria das vezes hostil?! 
 Certamente ela entrará em um nível de sofrimento emocional e muitas vezes até físico em 
decorrência dessa hospitalização. Sofrimento físico que transcende até mesmo a patologia inicial e que 
se origina no processo de hospitalização. 
 A minimização do sofrimento provocado pela hospitalização implicará um leque bastante amplo 
de opções de atuação, cujas variáveis deverão ser consideradas para que o atendimento seja coroado de 
êxito. Uma mulher mastectomizada, em outro exemplo, terá no processo de extirpação do tumor, na 
maioria das vezes, a extração dos seios com todas as implicações que tal ato incide. O processo de 
hospitalização deve ser entendido não apenas como um mero processo de institucionalização hospitalar, 
mas, e principalmente, como um conjunto de fatos que decorrem desse processo e suas implicações na 
vida do paciente. Não podemos, assim, em um simples determinismo, aceitar que o problema da mulher 
mastectomizada se inicia e se encerra com a hospitalização. 
 Evidentemente que muitos casos abordados pelo psicólogo no hospital exigirão, após o processo 
de hospitalização, encaminhamentos específicos para processos de psicoterapia tal a complexidade e o 
emaranhado de sequelas e comprometimento emocional. 
 Embora muitas vezes seja bastante tênue a separação que delimita tais aspectos, ainda assim é 
muito importante o clareamento desse posicionamento para que o processo em si não se perca em mera 
e vã digressão teórica. 
 A Psicologia Hospitalar, por outra parte, contrariamente ao processo psicoterápico, não possui 
setting terapêutico tão definido e tão preciso. Nos casos de atendimentos realizados em enfermarias, o 
atendimento do psicólogo, muitas vezes, é interrompido pelo pessoal de base do hospital, seja para 
 
 
 Professora: Maria Flor 27 
 
aplicação de injeções, prescrição medicamentosa em determinado horário, seja ainda para processo de 
limpeza e assepsia hospitalar. 
 O atendimento, dessa forma, terá de ser efetuado levando-se em conta todas essas variáveis, além 
de outros aspectos mais delicados que citaremos a seguir. Descrevemos no trecho inerente ao setting 
terapêutico a mobilização do paciente rumo ao processo psicoterápico: a importância de uma reflexão e 
de uma posterior constatação da necessidade de se submeter a esse processo. 
 No hospital, ao contrário do paciente que procura pela Psicoterapia após romper eventuais 
barreiras emocionais, a pessoa hospitalizada será abordada pelo psicólogo em seu próprio leito. E, em 
muitos casos, esse paciente sequer tem claro qual o papel do psicólogo naquele momento de sua 
hospitalização e até mesmo de vida.18 
1 8 - Nesse sentido, é muito importante que o psicólogo seja inserido na equipe de profissionais de saúde que atuem em um 
determinado contexto hospitalar. Tal inserção determinará que sua abordagem seja fruto de encaminhamento realizado por 
intermédio de outros profissionais com esse paciente com a anuência dele para que, acima de qualquer outro preceito, seu 
arbítrio de querer ou não essa abordagem seja respeitado. Esse é um aspecto importante a ser observado, pois determina 
muitas vezes até mesmo o êxito da abordagem do psicólogo. Ainda que o paciente necessite de maneira premente da 
intervenção psicológica, seu arbítrio deve ser considerado para que a condição humana seja respeitada em um de seus 
preceitos fundamentais. 
 Dessa forma, é muito importante que o psicólogo entenda os limites de sua atuação para não se 
tornar ele também mais um dos elementos abusivamente invasivos que agridem o processo de 
hospitalização e que permeiam largamente a instituição hospitalar. 
 Ainda que o paciente em seu processo de hospitalização esteja muito necessitado da intervenção 
e seguramente muito dos pacientes encaminhados ao processo de psicoterapia também estão 
necessitados de tratamento, mas preservam a si o direito de rejeitar tal encaminhamento, a opção do 
paciente de receber ou não esse tipo de intervenção deve ser soberana e deliberar a prática do psicólogo. 
 Balizar a sua necessidade de intervir em determinado paciente, a própria necessidade desse 
paciente em receber tal intervenção, é delimitação imprescindível para que essa atuação caminhe dentro 
dos princípios que incidem no real respeito à condição humana. 
 De outra parte, é também muito importante observar-se o fato de que, ao atuar em uma 
instituição, o psicólogo, ao contrário da prática isolada de consultório, tem que ter bastante claros os 
limites institucionais de sua atuação. Na instituição o atendimento deverá ser norteado a partir dos 
princípios institucionais.19 
 Esse aspecto é, por assim dizer, um dos determinantes que mais contribuem para que muitos 
trabalhos não sejam coroados de êxito na instituição hospitalar. 
 
 
 Professora: Maria Flor 28 
 
 Ribeiro20 pontua que o doente internado é, em síntese, o doente sobre o qual a ciência médica 
exacerba o seu positivismo, e pode afirmar a transposição da linha demarcatória da normalidade. Sua 
patologia reconhecida e classificada precisa ser tratada. 
 Ao contrário do paciente do consultório que mantém seu direito de opção em aceitar ou não o 
tratamento e desobedecer à prescrição, o doente acamado perde tudo. Sua vontade é aplacada; seus 
desejos, coibidos; sua intimidade, invadida; seu trabalho, proscrito; seu mundo de relações, rompido. 
 Ele deixa de ser sujeito. É apenas um objeto da prática médico-hospitalar, suspensa sua 
individualidade, transformado em mais um caso a ser contabilizado.21 
 Esse aspecto inerente à institucionalização do paciente enfeixa um dimensionamento de 
abrangência de intervenção do psicólogo rumo à humanização do hospital em seus aspectos mais 
profundos e verdadeiros. 
 A Psicologia Hospitalar não pode igualmente perder o parâmetro do significado de adoecer em 
nossa sociedade, eminentemente marcado pelo aspecto pragmático de produção mercantilista. 
1 9 - No caso de divergência dos

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