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Olavo De Carvalho - fronteiras-da-tradição

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IRÍllITEIRAS
IIA
TRADICAÍ|
ffi uovr sTELLA $S uovr 5TELLé
FRONTEIRAS DATRADIÇÃO
OLAVO DE CARVALHO
coleção elxo
ffi novn sTELLÍt
Crpo: Carlos Roberto Zibel Costa
Revisão: Rogério Carlos castaldo de Oliveira
Conposição: Cilberto Francisco de Liúa
Arte Final: Dorâ Pratt e Bduardo coúes
Índice
Prefác io
l. Fronteirâs da Tradição
2. A tradição, as ciências tradicionais
3- seitas e teligiães
4- o valor do iotelecto
5. À decadêocúe o fiú, segundo âs doutritras
hindus
ó- coÊsiderações
7. xoralidade ser Deus?
I{ota§
I
l! Edição r986
1
9
t7
3l
43
CopyriAht by Olavo d€ Carvalho
Coleção Bixo
Org- Tom Cenz
llova Stella Editorial Ltda.
Av. Pêülista,2448
são Paulo SP Ol3lO
TeI:881-5771
49
55
71
85
PRAÊÁCrO
Com exceção do ârtigo rrMoralidsde sem Deus?rr,
publicado no Jortral da Târde, em 27 de fevereiro de
1982, os trebâlhos reunidos neste volume foram todos
escritos em 1985, e tôm todos â mesma finêIidade que
ele: ajudar o leitor a disringuir entre os ensina-
mentos tradicionais t isto é, provenientes dâs Sran-
des religiões reveladas e ortodoxas) e as suas fa1-
s i ficaçõe s contêmporâneas.
o título explica-se assim pelo nosso intuito de
demarcar, de estabelecer um muro divisório entre o
que é a Tradição, e o q"e é, de outro lado, o caos e
as "trevas exteriores".
De modo geral, essa distinção é simples. Todos
os estudiosos de religiôes comparâdâs do mundo, com
quase oenhuma exceção, utilizam o termo "Tradição"
como sinôniÍno de sâEâthana Dhâma, de Lei Pereúis'
de Sophia Perennis, de Al-Eiknât el-illahiys -- Para
designar o número de princípios mecaÍÍsicos que é
comuú a todas as grándes religiões do mundo, bem
como a transmissão ininterrupta desses princÍpios
por meio dos ritos, normas, leis e hierarquias, ten-
porais e espirituâis, dessas nesmas religiões. Do
ponto de vista prático, o crirério de reconhecimento
á igualmente simples: considera-se "tradicional",
em principio e como regra gerâI, toda doutrinâ ou
prática que seja ãceita como ortodoxe e revelada por
quâ1quer dessas religiões -- e, inversanente, consi-
dêra-se "não-tÍadiciona1", ou, em certos casos ex-
tremos, "antitradicional", a qualquer ensinanento ou
prãtica q"e não seja ortodoxa por nenhuma delas.
Como corolário dessa definiçào, Podemos conPre-
endêr que. de um ládo, a mistura ou tusão de dourri-
na" e-p.áti."" de várias reLigiões num amá[gama ae
pretensões 'runiversalistasi' não é ortodoxo para
nenhuma delâs, ê portanto só pode ser dito "tradi-
cionâl" no mpsno sentido em que umâ (aÍicarurá. párá
sêr câricatura, deve ter alguma longínqua sêmelhança
com a reãlidade. o respeito à forna exterior e à
integridade de cada ortodoxia é uma exigência sine
qua non da verdâdeira universalidadê tradicionâ1.
Por outro lado, a "prova dos noverr de quâlquer
princípio universal e autênticamente tradicional á
justanente a sua possibilidade de ser transposto nos
termos, moldes, parâmetros e símbolos de todas e de
cada uma das grandes religiões, sen ferir a ortodo-
xia de nenhuúa e ner Duito nenos as leis da lógica.
E esta êxigência --- que constitui a pedra-de-toque
para distinguir o joio do trigo -- é tão difícil e
rara de atender, que se identifica mesmo àquilo que
na tradição cristã se denomina o "dom das 1ínguas",
ou a capacidade dê falâr a cada um segundo a lingua-
gen que the é própria, o que evidentenente está nos
aütÍpodas de uÍn sarapatel "universalista" e demagó-
Sico ao gosto dos psêudo gurus en geraL
O terno, portanto, evidenteínentê não designa,
nen pode designar, nenhuma organização, sociedádê
secretaJ escola iniciática ou seita em pãrticular,
mas, justamente ao contrário, aquilo que é o mais
i1iÍnitado e universaL que se possa conceber.
De quâlquer modo, se á distinçào em si mesma é
ráciI de estabelecer, muitas pessoas parpceú encon-
trár dificuldade em aplicá-la aos muitos casos con-
cretos e parciculares que vão surgindo, neste cada
vez ÍÍãis colorido supermercado da pseudo-espiritua-
lidade contenporânea, motivo pelo qual podem cair em
erros trágicos, mesmo estando informadas do que seja
e do que não seja, en princípio, Tradição.
São PauIo, fevereiro de 1986
8
I
Quer rrêstá" tra Tradição
Para que não sê confunda a Tradigão com qualquer
tipo de I'organização", 'rescolarr, "corrente de opi-
nião" ou coisa assim, nen, poÍ outro lado, se inagi-
ne que ela sejâ apenas um vago "espíritou ou "esti-
Io", é preciso fazer desde Iogo algumas observações:
A Lei exotérica é o "fimite exteriorl da Tradi-
ção. Quem ten unâ retigião e reconhece os seus man-
àamentos, cumprindo-os seja ao nível do "mínirno Ie-
gaIÍ, seja acima, conforme suas eapacidades, já es-
tá na Tradição. Quen não tem uma religião, quem não
está submetido voluntariamente a uma Lei revelada,
não está em Tradição nenhuma, ainda que álegue Per-
teocer a tal ou qual "organizaçãorr e ainda que tal
organização se al irme até mesmo, com denÊnc iâl Pre-
tensào, "o Dirptório Central do Cosmos".
PoÍ outro rado, é necessário distioguir entre o
conceito amplo de rrTradição" e o conceito mais res-
rrito de "viá espirituat". Assir como u, país nào se
esgota na linha.dâs suas fronteiras exteriores, mâs
tem uÍn território interior, por sua vez dividido por
fronteiras inteÍras êm regiões, províncias, cida-
I
Eronteirâs da tradição*
*Tóp ic os de uma conferância pronunciada eú 2 de
de 1985 na Editora AstrocieÍtia, do Rio de
9
Olâvo de Carvalho
des, etc. , igualmênte a Tradição, dentro dâs suas
fronteiras, tem muitos territórios distintos, corn
fÍonteiras ora mais, ora nenos clarámente delimita-
das -- conforme a Tradição de que se trâte --, e que
vão desde as regiôes áui" .*terior"s até as mais
interiores. A região nais exterior é o cumprinento
puro e sinplês àa n".*u social ditada pela Lei (o
quê inclui a execução pelo menos dos gestos exterio-
res que compõem os ritos obrigátórios); a náis inte-
rior é a realização -- teórica e efetiva -- do sen-
tido último e universal dessá Lei. a qual patenrPia,
átravés do homem que aringe essá realização, sua
identidade com a constituição mesrna do real e com a
Normâ que estatui e rege o Cosnos. (Claro que pes-
soas que não atingiran a pleoa realização esPirituáI
podem -- e devem -- possuir algun vislumbre dessa
identidâde entie a Lei revelada e a estruturã do
real, e também é claro que a ausência de quâlquer
Pre§sentinento nessê sentido seriá una marca de
profunda irreligiosidade; nas, ântes de Percorrer
uma viâ espiriLual, ninguéÍn Eem essá consciencia
exceto em modo irteórico'' e "virtual".)
Para o honem primitivo, que desconhecia as limi-
ráções que o processo dê individuaç;o veio a imPor
sobre á inteligência hunana nás geráções subsequPn-
tes, não havia necessidade de uma Lei revelada e
escrita, Porque eles tinham a compreensão iÍnediata e
intuitiva da Lei nstural, que é por si rnesma a pri-
neira das revelações, e da quál as Leis r€veladas
posteriores nào são, po. assi. aizer. senão versões
simplificadas. o "limite êxterior" da Tradição coin-
cidia então con os limites dâ natuÍeza, ou dito de
ourro modo, com os limites intrínsecos da possibili-
dade huíâna em geral.
À progressiva degradação da intetigância humana,
criando hiatos e dissonâncias enrre a mente subjeti-
va e a verdade objêtiva, criou a necessidãde de com-
Pensaçôes períodicas, constituídas pelas sucessivâs
Leis reveladâs. Estes fixavam limites exteriores,
mais restritos que os da simples lei oâtural, e por
isto nesmo nais fáceis de apreender e cumprir. O
cumprimento destâs leis favorecia o homem de duâs
.r.i;.r" , pr ime i ro. que e tas cons r i tu íâD um resumo 'e por isto símbolo, dss Leis nâturáis, e
assim sua obediéncie e estudo podia restaurarr ao
Longo do teÍnpo, a intuição originária dâs leis natu-
rai; (que por suâ vez, sendo um simbolo das qualida-
des divinas, levavam o homem ao conhêcimento -- ou
melhor: recordâçào -- de Deus) i câso nào houvesse!
para este ou aquele indivíduo, a ocasiào de comple-
tar essa restauração interior, o cumprimento da nor-
ma legaL pelo menos o mantinha dentro dos limites de
comunidâde, podendoPortanto beneficiar-se, apos a
morte, das prerrogativas originárias readquiridas
Delos membros mais cápazes, dâs quais eles Partici-
pa,a. 
".,tào 
a títuIo de herança coletiva. A Primeirá
à""rr. dua" persPect ivas é a que conduz à chamada
"libertaÇào", e constitui o esoterism. A segundá
conauz aó que as reLigôes denominan a "salvação da
alma após â morte" e constitui o exoteri§úo-
Deste modo, Percebe-se que as Leis reveladas
constitueÍÍ manifestação da }lisericórdia, destinadas
s conpensar a perda da intuição direta das l-eis
É ,rrna curiosâ aberrâção dá nossâ época que
justamente âs pessoâs meis insensíveis às Ieis natu-
iais seja. âs que se ProcláÍnam mais "superiores" ã
toda Lei reveládá, quando na verdade sào ás que mais
necess itaÍn de1a.
***
Àssin, se quem está mrma reLigião já está na
Trâdição, quegt dentro dessa Trádiçào, encontre um
carninÁo espiritual -- um esolerismo -- está rrmâis
dentro", e quen chesue à s,pre.a realização-está "no
centro" dessa Tradição, o qual coincide então com o
centro da Tradição universal e primordial.
chegar ao ésot..i"ro sem um exoterismo é tão
impossíiet quanto chegar ao centro de u' pais sem
o"."tr.. ,. suas Ironteiras e Percorrer seu terri ró-
iio. s" afguét desligado de um exocerisno tem por
t0
acaso a felicidade de contâctar um mestre espirirualautênLico, a primeirâ coisa que psLe vai fazer é
mándá- Io sprender.e.práticár o exoterismo:
- E um prrncrpro geráI do sufismo que um firmeeftbasamento no exoterismo é inaispensávef 
"o.o 
pi"_parâçao no.caminho esotérico; e, na rariqatr Oarqá_vr... r rodos os noviços eram obrigados a decorar oGuia dos Eleoentos Essenciáis do Conhecirento Reli_gioso (nr - famoso carecisno islâmico ". "".;."t,-;"Tbn.rAshir, como meio de assegurar qr" p""..í;; -;
Ínrnrmo necessario de instruçào retigiosa',.( t)
que essa coincidência só existe na
nais em pârte a lguma.
rmagrnaçao, ê
2
Os Perigos da Trivial idade
A única maneira de reencontrar Deus é recuperar
o senso do sagrado, que é . ".""" do maravilhoso,q"e é o senso de eternidade e imutabilidade .acirnâ dê
toda moviÍnentação mental e cósmicâ.
os ritos e a arte sâcra roÍnpem a trivialidade,
mas não para abrir para o âbismo do nada, e sim para
introduzir, nos intervalos de fluxo cósnico, pontos
cintilantes que recordâm a inutabilidade do suprâ-
cósmico. Esses pontos são como os rubis de un reló-
gio, que articulâm o lnovimento sem psrticipar dele.
3
Tradição e Tradiçães
Existe uma Tradição Prinordial, universal e
eterna, que e o deposito da sabedoria revelada.
Existe ê manifestação hunana e terrestre dessa Trâ-
dição, e portanto uma organização tradicional que a
representa. Bxiste um centro geográfico que é a 1o-
calização dessa organização em algum ponto da Terra,
egl cada ciclo temporal.
Tudo isso é inquestionáver.
Xâs: as tradições em particular, historicarnente
existentes, não provêm desse ponto dâ Terra, e sim
diretamente de Deus, que é a Origern delas e da Tra-
dição Prinordial igualmente. À1iás as tradições não
são outra coisa senão a mesma Tradição primordial
ressurgida em novas formas, porém em câdâ câso
igualmente -- e novâmente -- íntegra e originária.
Considerada isoladamente das suas formas históricas,
que são as tradições, a Tradição Primordial não se
natrifesta historicanente, pela simples razão de que
ela não é una ( Láis uma) tradição, que apenâs esti-
vesse acime das demais tradições, e sim é o Lolde
das tradições, o padrão da sua tradicionâlidade, e
elas, êo contrário, são as suas manifestações histó-
ricas, forjadas segundo €sse molde.
. A. indiÍerença e a Lrivialidade __ que dào a rô_nrca do "sentimenro do mundo,' na socieiade moderna-- levarn a só poder conceber Deus coÍro o ,,totalmenteourror' (o sanz andere de Rudolf ott"l. p.i", iis"ài_vido Lodo senso do sagrádo, e ausente Loda marca desácrâtidade na vida coLidiana, Deus só podê ser imâ_grnado como o áusentej o esLranho, e,n úLrima ins_tancra o esquisiro e o absurdo. Esra á a origem doápelo sedutor que as seitas monsrruosâs exercem so_bre a a-lma cansada e gastâ dos "os"o" .ont".porã_neos. .Na medida em que se opõe à rriviat idade e àopressrvrdáde plana e rasâ da indi Ferença, introdu_
-zindo nela um corte que abre pâra uma verricálidade':bissáI".o hpdiondo_pode pássar por uma iEágo Dei.§o - que orlvlamenre e uma iúagem consrituída de pri_vaçao e carência -- privaçào de senrido, ."rên";à a.reál rdáde e poder criador -- ê porLanro uÍna imageminvertlda, Iireralnenre,,satânicai'. nfa tira aa tiilvialidáde pará tevar áo nada, que é.,"i".;;r;;;_têl das I lusoes. O nádâ p o absoluto só rên umâ coi_sa eú conum: é que sào iguatmente i";,"gi";rã;".-l
lmaginaçáo e o rrlugár geométrico', aa cãincidênciaêntre o nada e o Absoluro, o que é o Ínesmo qup dizer
12 t3
platônicos pode dar
gularidadei'não se
coota desta questão. À "trian-
manifesrâ senão aLrâvés de rriân-
O rêcurso às "idéias", ,,formas,, ou "arquét ipos" 4
Àntirradição e paródiâ
Quando se fala de "organizações anritradicio-
nais", é preciso resguardar-se de imaginar que elas
conbatam a Tradição. Elas não combatem: elas copiam.
Não produzem uma refutaçào. produzem um ,imuLairo e
Quanto aos representantes da Trâdição, as orga-
nizacões antitradicionais só os combatern na medida
en que e1ês âmeaçam denunciar o simulacro e frustar
a paróaia, mas não na medida em que se limitem a
expor dados de conhecimênto tradicionais, de que
aIiás elas n€cessitam para com eles co.por'seu sim.-
Iacro, motivo pelo qual seu combarÊ a tais represen-
tantes é dúbio e entrecorrado de cortesias e adula-
ções. Para isto, freqentênente essas organizações
e seus comandados 5e prestám á seÍviços mênores em
rávor da Tradiçào, e inctusive à divulgáção de par-
celãs reêis de conhecimenros rradicionais, de cujo
prestígio e fraseologia procuram assim se ap.op.iai.
Ao copiar, a anticradição não desfigura a Tra-
dição enquanto ral -- que é imutávet e inatingível
sob todos os aspectos aparência perante
um grupo humano deterninado, o quat fica enrão im-
possibilitâdo de chegar à rradição verdadeira en-
quaoto não se livrar das malhas seduroras e gruden-
tas de um sinulacro quê pode ser inrpirámenLe vero"-
sirnil. mesmo para pessoas inÍormádas. (o que aIiás
sisnifica que ninguém se livra dos simuraáros por
suas próprias forças e sen a ajuda dâ traaição nàs-
na, assim como se distingue o ouro fatso rão-sonente
pela comparação com o verdãdeiro. )
_ A verossimilhança dos simulacros aumenta, po-remj nâ proporça que, aprox imando-se o
Lermino do presenLe ci( 1o. á Tradi\ào dá a púbtico
parcelas cada vez Ínaiores do seu resouro de conheci-
mentos. Estes tanto podem servir de flárcos indicati-
vos para levar as pêssoâs à rradição, quánto de ,,mâ-
téria prima" pará novas falsiri(aaõês e eneodos. Uma
gulos concretos e particulares; mas o conceito (ou o
esqueÍa mental) de triângulo, que não é em si mesmo
nen rriângularidade nem triânguIo, represênta, ná
mente, a triangularidade. Todos os triângulos que o
homêm faz são forjados no molde do conceito de rri-
ângulo, sem que se possa dizer que ele os produza,
ou que provenham dele. Por esta analogia, o homem
Lem no seu intelecLo o arquétipo dá Lriangularidáde.
oa sua mente o conceiro de rriânguIo, ná sua mào a
habilidade de desenhar triângulos; e o intelecto
representa aqui o Logos divino, a mente, a Tradição
prinordiã1 e a mão, as rradições em parricular.
Se a Tradição primordial se manifestasse exte-
riormente, eIa só poderia Íazê-lo sob á forma de,'mais uma'r rradição, âssim como só é possíve1 dese_
nhar "um" triângulo e não "o" triânsul; em si mesmo,
embora "cadar' triánguto sejá novamenLe, e a seu mo-
do, ',o" triângulo. EIa nunca poderia manitesLar-se
sob a forma de uma r'supra-rradição', uoíversa1, por_
que o universo em si nesmo não tem forma, exceto as
formas, particuLares que o representamr porque toda
Íorma e part icular por definiçào. A "rnani fesracão,l
da rradiçào PrimordiaL, com umá forma própr ia e - in-
dependente das demais, é urn contra-senso puro e
simptes, que vai contra rodâs as condições de espa-
ço,rêmpo e numero que definem o ,,nosso mundorr, e
porEanLo essá rnaniÍestação nào ocorr"rá anres do
táruino deste mundo. o quat por suá vêz deverá ser
precedido justamenre pela "Crânde paródiai'de Tradi-
ção prinordial, q.e será o Reino do Anticristo.portanto, a única ,,fornâ,, sob a qual é possível
enconrrár â rrsdição PrimordiaL é a forma das rradi-
ções historicanente existentes. Quem quer que se
apresente como porta-voz da Tradição prinordial sem
ser por intermédio dessas tradiçàes, já está ence-
nando a parodiá.
14 t5
sinples migalha de conhecimentos tradicionais, ari-
rada ao solo, borbulhante de ferrilidade, da confu-
são contemporânea, dá para produzir uma variedade
imensa de pseudo-ensinamêntos e pseudo-esco1as, que
rebaixam esses conhecimentos en qualidade (engros-
sândo-os e Iiteralizando naterielisricamente o seu
sentido ao nesmo tempo em que procuran der ares de
coisá sublime e esotérica a baflalidades e conrra-
sensos) € os nultiplicám en quentidade de reprodu-
ções, vêndendo, aos curiosos, "conhecimentos se-
cretosrr que eles poderiam adquirir petá sinples
leiturâ dê livros de domínio púb1ico.
Por exemplo, dezenâs de organizações que hoje
se dizem provenientes de um nisterioso "centrorr ini-
ciático dâ Ásia Central não são mais do que Íindus-
trializaçõesri de dados extraídos de rrês livros tra-
dicionais: Xission de lrInde (1910), de Sâinr-yves
drAlveydre; Bêstas, Eorêns e Deuses (1924), de Fer-
dinand Ossendowski, e sobretudo Le Roi du Honde
(1927,, de René cuénon.
Isto não impede que em determinados casos sucê-
da o coltrário, isto é, que tendo dererminadâs pes-
soas pas9ado por organizações tradicionâis e retira-
do delâs áIguns fragÍnentos "comercializáveis,,, tais
organizações decidam publicar a explicação integrat
que permita reincorporar essas parcelss num quadro
coerente, de modo a evitar novas confusões. Mas tais
explicações, por sua vez, pôem en circulação novos
dados, que se prestarão a novas falsificações, e
assim por diante, o que torna cada vez mais dificil,
parâ quen não está escorado denrro de una religião
ortodo).a e tradicional, distinguir os caninhos fa1-
sos e os verdadeiros.
II
A tradição, as ciências tradicionais e o islar*
l
Tradição e Àntitradição
A abordagem do conceito -- e dâ realidade -- dâ
Tradição pode começar pela tomada de consciência do
mistério da intetigência humana. Nossa humanidade
atual está tão derrotada e deprimida, rão decaídr e
eimbotaaa, que a naravi Ihâ desse mistério Bera mente
À inteligência é ao mesmo tempo mistério da
subjetividade e certeza de um conhecimento objetivo.
Ela escâpá à contradição entre o I'eu. e o ihundori,
ela não está propriamente "dentro" nem propriamente
"fora" de nós; se seu lugar de aparição é a .ente
subjetiva, por outro lado seu alcance, enquanto sede
de un conhecimento objetivo, vai muito além dos
limites do rimentalrr; por e)(emplo, podêÍnos conceber
pela inteligência o infinito, que não podêÍnos "re-
presentarii mertâImente de nâneira âIgumã. A inteli-
gência rraparece" na âImâ, mas não "está" na aLma;
ela "vê" o mundo e portanto não "está" no mundo. Ela
dá fornra, sentido e unidade às nossas percepções do
mundo objetivo e subjetivo, e assi, é transcendente
* Resumos de três
tora Àstrocientiâ,
setembro de 1985.
vô1wimêntos oreis
conferências pron'Jnc iadas na Edi-
do Rio de Jâneiro, em 5, 6 e 1 de
À exposição abranseu muitos desen-
que não são reproduzidos aqui.
t6 17
 inte l igênc ia não se
dâs funçõe s íntelectivas --
ident i f i.ã .ôh nenh,,má
rmâglnaçao I
raciocínio, sensibilidâde, etc. -- que a
expressam; e1a é a vida ê o sentido dessas
des, mas não se confunde com elas.
Por causa do caráter transcendente dâ inteli-
gência, o hômem sente-se só no "niverso, oão tendocom quêm compárar-se ou dialogar. O tcnàmeno recpnrp
da chamadã 'rplanetarização da cutturâ" fez con quê a
consciência desse caráter transcendênte. único e so-
litário dâ nos'a espécie tendessê a êmêrCir, lor(as-
se a passâgem exigindo um reconhecimento claro. No
fundo, rodo o interesse aruêi pêlos rpnómpnos da
psiq"e é 
"ma 
busca da inteligência; apenas â humani-
dade atuál não conseguiu ainda acertar o alvo, ê
ainda confunde a intelisência com as funções lnte-
lectivas. Poucas pessoas têm a condição parâ o pleno
reconhecimento da inteligênciâ e para a plena reali-
zação das consequôncias que esse reconhecirnento
inplica. i'ías estas poucas pessoas "representamr', por
assim dizer a humaoidade, e se e1âs assumirem a
inteligência isto bastãrá parâ que a humanidade
reencontre, mais dia, menos diá, seu caminho.
Trânscendendo a todos os fenômenos do universo,
a inteligência não ten "causa" nêm "orisem" em parre
alguÍnã. EIâ parece surgir de forâ, de cimâ, desde o
oceano infinito da Possibilidade, que envolvê o mun-
do como o oceano envolve os continêntês. Como o
espaço e o tempo são apenas formas assumidas pela
inteligôncia, é inútir procurar paÍa a intêtigênciâ
uma origem no êspaço ou no tempo. Elâ tem origem nâ
PossibiLidade. no TnliniLo. q,,e é sempre presentê em
todâ parte, inaltÊráveI e inesgotáve1.
À orisem da inteligência é agora.
O Íevigoranento perióaico do contato entre a
inteligência e o infinito, que é a s"a origen, deno-
mina-se revelação, quando desse contãto surgen um
rito e uma norna destinadâ a possibilitar esse con-
tato para un grânde número de pessoas; denonina-se
intuição íntelectuâl quando ocorre para un indivi-
duo em parti(ular. A revelação fornêce os meios para
que os indivíauos atinjam, quando qualificados parâ
isso, a intuição intelectual Para os que nao tem
es.a quaIitj,a,.áo. êlâ fornô.ê o ên'iná-
mento para que se aproxrmem o guanto possíveI desse
limitêl me5no que "ssá aproximaçio " ia apera' 'Lm-bóli(â. e ind;rêra, arravÉs da parL;'ipa\ào das
pês5oas na conunidade rcli8io'â. Plá servê para
rlar à' suas vida' o carátêr de rrancl r, io'z árraves
do qual o sentido da existência se .orna suficiênte-
menie pró"imo mesmo dos atos mais simPtes da vida
cotidiana, como se observa em qualquêr civilizaçao
tradicional.
Não há nem religião nem esoterismo de espécie
alguma sêm uma revelação.
A revelação origina ao mesmo tenPo as Eecnlcas
p discipl inas que ronduz.n à int riçào.
t"is q,rà conduze, à viv, n.iaçào 'imbóti'á ê indiretd
dô "enlido. A eqrâc duds in.Lán ias dá se o nome dp
esoter ismo e exoterismo, respectivamente.
A possibitidade pernânente de efêtivar uma des-
sas duas fornâs de vida espiritual denomina-se Tra-
dição.
Toda tradição remonta a uma revelação.
A revelação pode vir sob a forma de uma pessoa
ou Mensageiro, como Cristo ou Buda, ou sob a forma
de um texto, como Os Vedâs, a Torah ou o Corão-
Cada Íradição é ,-r. corpo intesral e integro de
ritos e normas, Àue resiaem nos "pontos de junção"
entre a inteligência e o infinito. Esse corPo nao
pode ser desmenúrado- Cáda Tradição ó um todo con-
pleto e auto-suficiente. Pode-se compaÍa-las, mas
não fundí-ras.
Tambén não se Pode separar esoterismo e exote_
rismo, porque eles sào a vida e o (orpo. resPecriva-
rêntê - de uma Tradicão.
éaaa rraoi,.ào É con't it,íaa de rrês elernentos
inpre sc ind íve is :
a) Umâ Doutrina sobrê o infinito, sobre o que
Absoluto e o qrre é nelativo.
19l8
c) Um corpo de SíDbolos (por exempto, nâ árLesácra) quê ájudám á menre a chegâr à incelecção das
verdades veículadas pela Doutrina e corporiiicadas
pelos ritos. Às chanadas ciências tradiciooais, como
a alquimia, a asrrologia, ben como as artes sacras,
-- árquireturá, pinrurá, erc. -- farem pa.te ao.or:
po de s;mbolos de uma rradiçào. A astrotogiâ, Lat
como a conhecemos hoje, tem origem na Tradição hetê_nica -- alexandrina --, mâs seu sinbolismo, por suauniversalidade, foi bêÍn assinilaao. pero àsàterismo
cristão e muçuLmano, de nodo que seu àstuao é u. Uo.rn.trumento auxiliar pára quem deseje penerrár no
un Lve rso dessas tradrçoes.
b) Um corpo de Bitos que ajudam o homem a in-
corPorâr a verdâde da doutrina na sua formâ de exis_tência, de modo â harmonizar o conhecioento e
2
As ciôncias tradicionais
ê a astrologia espirituâl
Muitás das ciênciastradicionais -- como a a"-
trologia particularmente -- só chegaram até nós em
uma fôrnâ fragmentária. Apesar da inconrestáve1 va-
lidade destâ ciência, as lacunas no edificio que a
conpõe abrern nargen a incongruências e contradíções,
e, assim, flenhuma das tentativas atuais de formular
uina teoria âstrolósica de Daniel Verney,
Raymond Abellio. Arnold Keyserling ê tanros ourros
--é isenta de defeitos que a ror.nam inaceitáve1
desde uÍn ponto de vista lógico. No rnÍnimo, rodas dão
uma impressão gerâ1 de incomplecude e deformidade,
que é incompátive1 com una ciência toda constiruida
de haÍmonia, e na quâl PIâtão ênxergava o retráto
mesmo da inteligência divina estanpado oos cé"s.
A razão dêssá incompletude, no entanto, nào
reside na falta de informações, pois os elemenros
que nos chegaram da âstrologia he1ônica, babilônica,
chinesa ê inclusive eeípcia, são mais do que sufici-
entes Para Podernos reconstituir na sua quase tota-
lidáde o corpo dessa ciência tal como era conhecidâ
e praticada na antiguidade. E, ademais, nem cabe
fslar de reconstituição, pois este termo só se apli-
ca a ciâncias extintas, ou em desuso durante muito
têmpo, o quê não é o caso da astrologia, ao menos no
Oriente, pois êla continuâ a ser praticada ininter-
ruptamente na Índia e nos pâÍses islâmicos, em rnor-
dês rigorosãmente tradicionâis em ambos os casos, e
ao mÊnos no que diz respeito à astrologia hindu os
textos, trâduzidos em ingfês, são abundantes no
Oc idente.
O que nos falta na astrolosia não é informação,
é uma compreensão verdadeirâ do intuito e do lugar
dessa ciência. sabemos muito sobrê â suá consistên-
cia interna, mês ignoramos o seu contorno, o seu
lugar no sistema das ciências espirituais tradicio-
Àpenas é preciso advertir que existe também umapseudo-cradi(ào. ou,ária, pspudo-rrádiçàÊs. podêmos
rêconnêcp-tas tacr tmenLe pelo tá(o dê que dispensám
todo exotêr-ismo e se pretenden superiores a todãs asreligiões, às quais, no enranto! etas imitan e dasquais roubam etemenros simbóticos e rituais. Face ã
estas conrraÍa5ões, geraLmênte gro(esLas, caracreri-
zádas pela áusen.iê LordI de belezá e de ;nLeliqibi_
Iidade, é preciso saber que o próp,;o .en"o estãrjcode cada pp.,soa á un guia seguro pará "epárar o joiodo trigo. Más, se querem reatmente seguir uma viã de
conhec i men Lo espiricuãt por inregrar-se
numa religião ortodoxa. Aruatmenre pode-se seguir
a) cr i st ianismo ortodoxo;
b) budismo (fujam de quem prometâ
um exoterisno bud is ta )
c) judaísmo
d) Islan.
2120
nais, e ignoramo" isLo peta simples rázào dê que,
nao possuindo mais umá Lrâdiçào viva p comptera,
des.onhe. emos roLaimpn(e a ex;sránL ia -- quanto máis
a ronsistênria -- desse sisremá.
Se as ciências aruais organizam-sê segundo as
conveniências de uma técnica ãestinaaa ao -aomínio
mâterial do mundo ( incluindo-se nisto as técnicas
psicológicas e de dornínio poritico), o sistema tra-
dicional das ciências tem no sêu topo, e como crité-
rio hierárquico único e exctusivo, o conceiro p á
meta da realização espiritual. tsto queÍ dizer que o
que diferencia as ciências umas das outras é. "."t.sistema. a manêira diÍêrÊnre de ênÍocarem o probtemá
da realização espiriruat, e que aquilo que âs dispõe
hierarquicanente á a sua naior ou menor proxirniaade
dessa mêtâ. Em outros termos: una ciência é tida
como superior na medida ern que é mais direto o
conhecimento de Deus que ela oferece, e como infe-
rior. na mêdida êm quê esse.onhecimenro É mais in-
direto, "imbóti.o e alusivo. por êxêmplo, a ciênciados ritos é superior a uma ciência ",i".ár, po,qu" orito, ao menos ", útri,a insráncia, "isa a u" conr,.-cimento direto de Deus, âo passo que o conhecímento
da naturêza também leva a Deus, mas por inrermédio
do simbolismo, e de uma naneira inteiramente teórica
e viÍtual. Por ourro ládo, uma ciência puramente
intelecEual e teórica dâ narureza. como a astrotô-
gia. é superior a uma ciencia p,;i;.u " operárivacomo a arquiretura ou a arte dâ Suerra, porque aprimeira está mais próxima da atirude de com;.e;nsão
pura e contenpLativaj que é mais aparentaaa ao co-
nhecimento de Deus na mística.
Dentro desse sisrema, a única prática quê inte-
re§sâ e ã pratica espiritual que conduza ao pleno
conhecimênto da verdade e à reatização eferiva do
dever inerente ao estado humânô.
. O que faLta para uma compreensão da astrologiaê portanto um conhecimento das suas rêlaçôes com a
mÍstica, isto é, com a técnica da rearizaião espiri-
tuáL Pojs a .asLrotôgia. quâisquer que sejam suas
âpr Lcaçoes prát rcas no campo da pura ur i I idade máte_
riát (e as apticações psicológicas e psicorerapóuri-
cas devem ser incluidás nesra caLegoriâ ranto quánro
as ápIicaçôes econômicas ou sociais), á uma ciência
de índole teórica, e como rat não teÍn justificação
em sí mesmâ, e sim somente nâs âplicações e exten-
soes que possá ter no campo da reatização espiri-
tua1. Notê-se que, eÍn todas as civilizações que pos-
s"íra. uma astrolosia, ela serviu "".p'é " """. 
'ti.
em prineiro lugar, como se vê atiás pelo alto apreço
que os grandes místicos como Ibn ,Araby, ptatã;,
Sohravardi e tantos outros t inham pêta âstrotogiâ
espiritual, parâ1e1amênte a um desprezo ou pelo
menos a umâ _indiferênça para com as aplicações divi-nátoriás, nedicas, etc., a quê essa ciÂncia dava
Ora, somente para dar uma idéia tongínqua doque possa ser essa aplicação espiritual da astrolo-gia, podenos reco.rer à correspondência tradicional
entre planetas, funçôes cogoitivas e ptanos de rea-
lidade.
Na astrologia rradicional, ral cono se vê por
êxenplo em Ibn 'Araby, nas rambén em muitos autores
tradicionais ocidentais, cada planêta reprêsênta um!
função cognitiva -- em têrmos escotásticos, uma ,'fa-
culdâdê da alma" -- e por outro tádo um ptdno ou
nrvel dô cosmôs.
. A cosmologia,rrêdicionát, da quáI a asrrotogiae um resuno slmbolrco, ênxerga o cosnos como um
sistema de planos, ou de esferas concêntricas, cuja
correta percepção (no sentido puramenre intetêcruê1,
interior, da palavra percepção) depênde do grau de
concentração, dê santidade e de penetração intetec-
tual de cada qual. crosso nodo, os três principais
planos são os do espírito, da alma ê aa corporàli-
dade. O prineiro contén o segundo, que conrém o ter-
ceiro. Há nuitas divisões internediárias. pârat€Ia-
mente, a alma hunana tambérn é composta dê esferas
(alma intelectiva, alma volirivã, etc. ), âbarcadas
umas pe las outras.
22 23
 cada uma dessas esfeÍas, simultanêâmênte do
macrocosmo e do microcosmo, corresponde uma esfeÍa
ou órbita pLaneEária.
No esquema p.ânerário, o ásrro máic imporránre
-- o So1 -- corresponde, no microcosÍro hunaoo, à
fâculdade de inEuiçao, ou inteligôncia, e ôo nacro-
cosmo ele representa o Logôs, ou Inteligônciâ Divi-
na. Os demais astros reprêsentam, no homem, fâcul-
dades subsidiárias que, como vimos oa conferência
Somente Para encerrar, e vottando âo assunto de
ontem, é prec;so advertir que os ritos exotéricos
são parte integrante dessê processo de realizaçao
e'piritr-ral, ao Ponto de que em grandê Pártê dos cá_
""" "r." são 
a base mesma sobre a quál incidira o
ensino da doutrina e até mesno uma êventual iniciâ-
ç;.. Eles são, portanto, absolutamente indispensá-
ve is, na toraLidáde dos l.âsos
No que diz respeito ao efeito dos ritos exote-
Íicos, um efeito que eles podem e devem ter é justa-
mente o de abrir acesso a un conhec iÍnento esotérico'
só que a maior pãrte dos fiéjs não se lembra dê
pedii exatamente isso a Deus -- limitando-se a pedir
solução ae males humanos corri-queiros e deixando
para pedir conhecimenros esoréricos ao primeiro
pseudo-Buru ou pseudo-shàikh que áPare\á. sem que'rt." oã"... utilizar-se do poder efetivo do meio
."g,r.t " normá1. estabelecido 
por Dêus 'esmo. 
que é
â DrÊce. E. no entanLo, a Promessá de DPus é clâra e
.orene: "satei. e vos abrirào a Portai pedi. ê vos
"..á daao." E 
Deus é o Firnê, o Manten€dor, o sufi-
3
olslaoeoSufisúo
0 ingre sso no
religiões, por um
s inpLe s declarâção
ates ta sua crença
const i tuem o lsLanl
Na sinbólica trâdicional, as viagens celesEes,
como a deDantê na Divina Corédia, simbolizam rea-
lizaçôes espirituais, e a trãvessia de câdá esferã
planetária simboliza, de un Iâdo, a ascensão a um
"íve1 cósmico de mãior universâIidade, e. de outro.á abcorçao d" mâis umá ráculdádp cognitíva ná inrui-
ção ou inteligência. Esta âbsorção faz con qu€ â
faculdâde em questão perca seu rãnço subjetivo e
condicionado e, identificando-se a intelieôocia que
e tonte, passe
naneira mais fiel e direta.
anter ior, dependem da inteligência e a ve icu lan ou
a veicular â verdade de
E evidente, pôrtanto, qu€r ô simbolisno dê
cada esfera planetária só pode ser correEâmente con-
preendido dêntro do processo de real izâção espiri-
tual de cada quãt, e ná medida dessa realização. Em
outros terrnos: so compreendonos ou âbarcamôs ãquêlas
esferas que já tcnhamos atravessado, ao menos vir-
tualmente, o que depeLrde dâ nossa possibilidâde --
ou vocação -- de reatização espirítuaI.
o esEudo da astrologiâ, que ên si mesmo é muito
útiI para essa finalidâdê, ficâ portanto truncâdo ê
insat isfatório ênquanto eIa não for cumprida, ao
nenos em certa nedida mínima. Neste sentido, a as-
trologia é propriânênte uma ciência dita esotárica,
na medida em que implica uma realização espirituãI.
</J\O::-: ÀÉ í-lj\j)\<J\ )
1â iláha íla Arláh, líohámed
zer, "não há deus exceto Deus,
ge iro de Deus".
Islam não se faz, como em outrâs
rito de agregação, mas Por uÍna
oúUti.a, nu qual o novo nuçulmano
nos dois princípios de base que
rassúl uttárr, quer ai-
eMohammedéomensa-
2L 25
Es ta dupla fórnuIa
todo o Tslarn e todo o
novo muçulmano anuncia,
gião, que é a conquista
denominado a Ident idadê
A prime ira parte da
fundamental da Unidade
Exis tênc ia. Tal doutrina
guinte maneira:
contém, de modo resumído,
Sufisno. O primeiro ato do
assim o coroanento da reli-
do estado final do Sufi,
Suprema.
fórnula expressa a Doutrina
de Deus e da Unicidâde da
pode ser resunidá da se-
"Ser" e "unidade" são sinônimos. Ser, é ser um.
Todo ser, perdida a unidáde, nào existe mâis enquan-
to tal. Portanto, a unidade é o princípio mesno da
coesão dos seres, o princÍpio que sustenta sua iden-
tidade diferenciada e sua existência. Ora, pelo fato
mesmo de que a idêntidade dos seres é diferenciada,
isto é, de que a identidadê de cada qual só é aquilo
que é na medida em que ela se diferencia dos outros,
pode-se concluir que a unidáde dos enres nào é uma
unidade absoluta, porém relativâ. Unâ unidade abso-
luta excluiria quâlquer alteridade e qualquer dife-
renciação. PoÍtanto, os seres só existen na nedida
em que têÍí unidade, mas, como esrá uniaade é precá-
ria e relaiiva, também o é a sua própria existência.
É forçoso admitir, para cina de todas as unidades
relarivas, uma unidadê indivisá, áo mesmo tempo sim-
ples e-abrângentê, da qual todas as únidadês relâti-
vas sao apenas projeçoes ou imagens parciais; do
mesmo modo, acima de todás as existências particu-
Iares está a Existência enquanto taI. À unlaaae
enquanto ral. rranscendente e imanente, oriaen,
sustentáculo e meta de todâs as unidêdes parciais,
denomina-se Deus, Al-Lâh. À manifestação desse
Deus em todas as forrâs de unidades parciais e rela-
t ivas denomina-se Existênc ia.
À primeira parte da fórnu1a é porranro uma
afirmação ae ordem metafísica, que âtesta á Unidad€
do PrincÍpio e a Unicidade da Existência.
E certo que, al,em desse sentido Ínais univer-
sal, eIa pode Eer de fato uma série indefinida de
outros níveis de significado, mais particularizados,
que constituem outras tantas aplicações desse prin-
r íoio a domínios menores da realidádê.
A sesundá parte dá lórmula -- ltohâmed râs§úl
Ulláh -- torna-se mais clara quando, pela elimolo-
gia, se sabe que o nome üohamed é um deÍivado do
verbo trâmada, que significa "louvar", "prezar",
"e Log iar", "reconhecer um mérito".
Mohâmmed pode ser traduzido sumariânentê como
"digno de Iouvor", "meritório". Por outro 1ado, esse
nome é ta.uém um certô arranjo fêito com
leLrâs que compõem a palâvra Àdaú, "Adào". De modo
que MohaÍnned é o proprio Homem. o HoÍnem considerado
na sua universafidadê, como arquétipo e modelo .detodos os indivíduos q"e co.pôem a nossa especre
Portãnto, o Homem, considerado na sua universalidade
-- nào enquanro indivíduo separado, qu" é rraco,
dÊricienre à erradjo --, é um .nte de eIêvado méri-
to, ê este grande mérito da espécie hunana em face
de todas as outras espócies animais, vegetais e
minerais, e em face de todo o Cosnos com toda a sua
im€nsâ variedadê de modalidades e planos de existên-
cia, é un "mensageiro" de Deus, um "sinal da Unici-
dade dá existênciá encravado, como um pino ou um
eixo, no meio da Roda cósmica
o Homem é o proróripo e padrão da unidáde do
próprio Cosmos, e, para as outras espécies de serês,
e1e representa a figura mesma de Deus sobre a Terra.
Por isto diz-se no ls1am que o Itomem é o "vice-re-
sente[ (khalifat) de Deus oa Terra, encarregado dê
zelar perâ ordem cósmica e pelo bem-estar de todos
o homem realiza isso pelo exercício das três
faculdades que êle tem en comum com o Próprio Deus:
intel igênc ia, vontadê e linguageín.
Sua inteligência pode aIçar-se âcima da condi-
ção biológica e subjêtiva, alcançando a objetivida-
de e a universâ1idade. sua vontade pode oPtar livre-
mente, vencendo os condicionanentos da própria con-
dição terrestre ê individuâl, afirnando no seio de
toda existência humana individual a Presença do
Homem Universâ1. Finalmente, sua Iingüagem pode
elevar-se acima da mera auto-êxpressão individuat --
26 27
que, no fim das contas, é apenas biológica __ paratornar-se uma expressão da Universalidade e da i/er_dádej porrânto do próprio Deus.
Dái que o homem, na concepção isIàmiLa. esreianá rêrrá pará mánirêsrar es,a. Lrés quátid;des: s;ainteligência deve buscar incessântêmenre o univer_sa1, suá vontade deve optar pelo universal e suap"1,"." 9",", pela prêce. exprêssâr simbojicampnLe ounrversá1. A êxisrenciá hunaná rem por tinajidadê:(a) atcançar o conhecimento do univêr;at, p"l; ;;;;_do da Doutrina; (b) Iibêrrar a vonrâde dos condicio_namentos biolósicos, arnbientais, animais, êtc. , ia-z9ndo dêIa un insrrumênLo dócir e um,"í.,1. i."""_rucrdo pára a apariçáo dá Vêrdade. íc) pronunciar aPalavra Sagrada, para os ourros seres hunanos beúcono pára rodos oc ourros entês cápazes de ouvir
lanim:is, pranLa<. gênios ou ajínn, ;i;.,; ;;,.;;;;-do todo o Cosnos na imensá Lj(urgia que, maniÍe"rán_do. á-Vêrdadej ins(aurá e reinsLaura .onr rnuamenre a!,xlslên( ra em todá parLe e pára Lodos os sêres. Aprece, quê e a unica torma liLúrgicá do tstrmJ remassim uÍna função instiruidora e reequilibraote não
". ?:I9.. meio humano. mas pára rodos os sêres. AsensrDr lidâde e receprividadc quê dr; ôs ánimáismostram ao ouvirem os cânticos do co.ão é 
"rn renôlneno conr inuamênLe áLêsrado por Lodos or observado_res desde o surpimênLo do Iqiám
e na medidâ do aprendizado de cada qual, anpliândo
ên círculos concêntricos a irradiação daquele núcleo
de influência espiritual contido nas cinco preces
diárias, até que toda a vida, em todos os seus as-
Pectosj se torne una prece continua e irradiante. O
Islam não reconhece a existência dê un domínio pro-
fano indêpendêrte, e busca a sacratização de todos
os gestos e de todos os dominios da existência, pois
somentê isto é compatível com a
pos ição hurnana no Cosmos.
a1tâ disnidade da
certanente, parâ o individuo
ordenánte e equitibrante dá pre(ê
exper ien.ia que mijhões de pessoas
cont r rmam d iarianenEe_
humano. 
. 
o poder
rs lamrca e umá
em todo o mundo
O Sufismo é a mistica isLâmica, ou o aprofunda-
mento intelectual e espiritual do Is1am, para aque-
1es que sejam capazes de reatizá-to.
A base da prática sufi é a mêsma da religião em
geral, isto é, a prece, a recitação. O Sufismo, por-
taflto, não pode ser praticado por queÍn não esteja
integrado no ciclo licúrgico e regulâmentar do Is-
Ian, pois este ciclo é, ele mesmo, a basê de todas
as práticas sufis. As duas difeÍenças que poderíâmos
assinalar entre a prática geral da religião e a prá-
ticâ sufi é que esta última. prifleiro, rpquer uma
compreensãodoutrinal mais profunda do simbolismo
cosmológico e metafísico das leis e das preces, coÍn-
pree[são que pode ser dispensada no caso da maioria
dos fiéis; e que, êÍn segundo lugar, o sufismo tende
a reduzir ê sirnplificar as práticas, ao mesmo tempo
que aumenta sua intensidade qualitâLiva e sua conti-
nuidade no tenpo. A tendência geral do sufismo é
para realçar a inportância da chamada prece quintes-
sencial -- a jaculatória ou dhikr que é a invocação
intermináve1 do Nome de Deus (tal como se dá no
cristianisno ortodoxo com a "Prece Perpétuâ"), o que
não dispensa evidentemente o praticánte de curnprir
todas as regras islâmicas que tambéín são impostas ao
comun dos crentes. A narca registrada do pseudo-su-
fismo -- já denunciada ao longo dos sécu1os por mes-
tres como Ibn iÀrâby, Runi, Ahmed e1 'ÀLaky e tantos
outros -- consiste justanente en procurâr desligar o
sufismo do Is1am, tentando dispensar os praticantes
de cumprir as regras is1âmicas e alinentando o seu
orgulho aré o delírio. Íazendo-os crer que sào pes-
... .A lirurgiã islàmicá é composta de cinco c ictosorárros de oraçáot nos quais se recirâm rrechos do
executam cerros ge5ro5 r iLuá is que Lons_trtuem ao seu proprio nível uma escrira có,mica, qt,e
:.",i.r: . revêrbera no ptano do proprro Lorpo o eLooas" pálavras enroadás. O cumprímento dâs nor.nasrstamrcas em rodos os serorês da vidá __ pois há umáregra 
. 
istámica pará rudo, desde á rêtisiào áté odesde ás arLes aE; a vida conjugat, desdeo governo até a higiene corporal -- var, aos poucos.
28 29
soas superiores e que estão acima das normas religi_osas, quando em vêrdade una legítimâ superiorídade.
que Lranscendesse eteLivamentê as formâs exteriores,voltaria a submerer-se a esras, não por necessidadá
individuá1, mas por uma necessidade cásmica, isto é,para .a salvação das almas de todos os demais, q"ánâo tivessem âcesso ao conhecimento espiriruâ1.
0 ensinamento sufi provém diretamente do pro-Íeta, Moháruned, e as tinhagens ininrerrupEás demestre a discípuIo podem sêr aresradas pela "genea-logia" de cadê prericante, em documentos {ue se
ç1o de quem deseje conhecê-las. Os farsantei não
Lem genealo8ia, esrão forá da corrpnre (silsi tar), enao representêm â ninSuem nem a n€da torâ da suáproprra lnagrÍaçao deliranre e ambiciosa.
Todas as vias espirituais ou escolasplural de taríqat, "via,, -- exigem do
que ele primeiro entre no Islan e pratique
e regras, com sinceridade, e durante un
III
sêitas e religiões*
Raramente as grandes questôes púb1icas, em nosso
país, chegam a ser discutidas com a aÍnplitude, a
profundidade e o rigor necessários. Agitam-se duas
;u três idéias da moda, ouve-se rapidanente a oPi-
nião dos transeuntes, os inteLectuais dê plantao
improvisarn algumas citações, ê pronto. A.consciência
pútfica está âpaziguada -- pelo menos ate que novos
u"o.,t".irn".tto", de gravidade redobrada, volteú â
sacudi-la da letargia com â revelação de que nenhuÍn
ato positivo resultou dâ po1êmica anterior, e de quê
tudo está muito Pior que antes.
Temo que isso venha â acontecer. com o gravrssrno
problená das sêitês, recenrÊmente ágitádo pêLa Igre-
ja Católica com a denúcia dp que muiLas dêssas orgá-
nizações são financiádas Pela CIA.
Á p....pçào da gravidáde do Problema dêpende dá
orientáçào da consciôncia dP cada quaL: o naciona-
listâ sente-se desafiado pela intervençao estranger_
râ, o católico ofendido pà1o desrespeito à sua reli-
gião, o progressista ãÍneaçado peto desafio imposto a
i"púúri"à ,,i""""t., o pai de farníria intimidado pelo
p.iieo q". se ergue ânte o fuLuro dos fiIhos 14ás
nào há quem nào se sinta, de perto ou de longe' to-
câdo Dela quesrão A pergunta quÊ naLuralmeoEP surgê
dianLà dis;o é: co,o é possível que um mâI tão sráve
e tão amplâmente conhecido -- que supera infinita-
mente a invasão das drogas nos anos 60 e 70 -- possa
coütinuar crescendo, sem que a sociedade consiga
.otiflr".-". para tomaÍ a máis mini'na providência a
Íespeito?
* Tnádito. o orisinâl é de 1985
Postulante
podê ser rnais ou nenos longo, conforme
Suns mestres sufis aceitaram, em outras
trad içõesainda hoje, orienrar retigiosos de ourrás-- pádres crisràos oLr monges budisrás --áce,Larâ um discipulo sem religiào, e
arnda alguem que seja conrra a reliaiào.
E Deus Buia à Verdade quem Ele quer
30 3l
A resposta é, em primeiro 1usax, que a própria
diversidade de eÍfoques possÍveis numê sociedâderrabeÍtarr impede qualquer consenso -- e inviabiliza
qualquer açào conjuntá -- fáce á uma questào que
demande uma tomada de posição eÍn torno de principios
religiosos. Assim, todos resguârdam o principio da
"1ibêrdade religiosa" e, âpegando-se às s"r" pró-
prias opiniões, cada qual vê o ininigo por um ânguIo
diferente: eIe acâbâ sêndo designado por una multi-
plicidade dê nomes, que constitui no fim o methor
disfarce sob o quaL pode continuar agindo e crescen-
do iÍnpunemente. É âcIA, é o diabo, é o fin dos
t"*pos, _é a angústia da juventude, é prr.a se.-rergo-nhice, é doença mental, é a crise econônica, são os
comunistas, são os anticomunistas -- erlfiul, já ouvi
todo gênero de palpites disparatados, que revelan na
nossa opinião púrrica, mesmo Letrada, um despreparo
total para 1idâr com o problema. Todos sentem a
ameêça e todos estão contra, mas quando se trata de
definir o q"ô é ela o" quem á erâ, aí instala-se a
nova Babel, que é mais propíciâ ainda ao floresci-
mento de novas seitas.
Essa imensa dificurdade de compreênder o que se
passa leva muitos a um sentimento de ápâlermâda
impotência, que se disfarçâ às vezes e, indiferençâ
afetada e num ar de superioridáde olínpica ("tudo
isso é coisa de gente fraca"), e às vezes se retira
para um derrotisno ostensivo, falsâmente profótico e
apocalíptico ("não adianta, é pior que praga, você
corta una nascem dez, é o firn dos tempos"). A uns é
conveniente lembrar que ninguéÍn, por mais intelisen-
te que se jurgue, está livre da influência dos fa1-
sos mestres (pois ainda ontem não se ajoelharam
perante Guevara, i!íarcuse e Althusser? ltais ou sont
les neiges draDtâo?); e, a outros, qr:e a ninguén,
nen aos anjos e profetâs, e sin sornente a Deus Todo-
Poderoso, incunbe fixar â data do térnino deste
mundo, e que apressâr-se ên ceder a tais rrprofeciasrl
(postas no mais das vezes eú circulação pe1âs nêsmâs
seitas que se trata de combater), resulta apenas em
engrossâr as correntes que tevaÍn a destruições ta1-
vez desnecessárias (l), ou, no minimo, en arriscar-
se a um vexame caso o pr.etenso Juízo Universal, como
na famosa "".éal. a. vittorio De Sica, venha a seradiado por mais âlguns sáculos ou nilênios. Nisto,
como em tudo o rnâis) o rnelhor é seguir o conselho do
Profeta Islâmico: "orai como se fôsseis norrer ama-
nhã, e esÍorçai-vos na tarefa cono se fôsseis viver
Em meio à côn{usão reinante, creio no entanto
q"e é possível discernir em tudo isso alguns Pontos
evidentes, capazes de serem reconhecidos por todos,
e de estabelecer um cêrto consenso.
Antes de tudo o nais, não êxiste a nenor possi-
bilidade de compreender o que seja una 'iseita" sem
ter uma idéia clara do que seja "relieião", assim
co.o não é possÍvel distinguir a moeda falsa sem
co.pará-1a com a verdadeira- Digo isto porqu€ a
designação oficial adotádã pela própria CNBB --
"grupos e rÍovimentos retigiosos independentes" -- é
um eufemismo que dá a entender quê a tgreja reconhe-
ce nessas entidades umá manifestação autêntica de
relieiosidáde, o que sesuramenre nào é o caso te. se
for, a Igrejâ terá ae responder pelo gravissimo pe-
cado de tentar sufocar um impulso religioso autênti-
co, ou, no míni.o, terá de explicar como e por que a
CIÀ veio a desenpenhar eín seu 1ugâr o pápel de "fer-
mento e sp iritual" dãs ínassas).
A noção de religião está intrinsecanente ligada
à ae "revelação". rsto va1ê para todas as religiões
do mundo, sem distinção, êmbora a forma e a circuns-
tância da revelãção possam ser diferentes en cada
caso. Mas, qualquer que seja a religião de que se
trate, revelação é o meio pelo quáI á verdade total,
universal e definitiva se Eanifesta e se evidenciá
aos honens. o"momento culninante" da revelação é o
instaÍtê em que se ,rasga o véu" e em que o segredo
útti.o se torna evidente. Este momento é antecedido
de grandes trabalhos e angúsrias, q,e às uezes en-
volve. um povo inteiro ( corno no caso do exíIio do
povo judêu, precedendo a revelação no nontê sinai),
às vezes um indivíauo privilesiado e arquetípico
32 33
que representa e corporificâ a hunanidade (como no
caso das peregrinações do Buda antes da lluminação);
ê e seguido dê uma serie de eventos miraculosos, de
deslumbrante bêIeza, quê confirmam a excepcionalida-
de do evento. Em seguida, a verdade revelada reco-
brê-sê novamente de formas (1inguísticas, artísti-
cas, simbólicas), etc., que constituem então como um
cofre ou un estojo lavrado em ouro, onde aquele
instante privilesiado será conseÍvado, por assin
dizer, "fora do tempo". o nome deste cofre é "reli-
gião".
A aspiração de todo homêm religioso, mas parti-
cularmeflte do místico, é reabrir esse estojo, nesta
vida ou post úorter, para reviver o instante supra-
temporal da revelação, sendo ârrebatado para fora do
tempo, da rnutação e do sofriÍnento por aquela verdade
Entre a revelação, que funda umâ relisião, e a
realização mística do indivíduo ou a salvação da
â1ma individual, há assim en todas âs r€ligiões umâ
inversão do sentido dos acontêcimentos: na revela-
ção, a verdade se mostra a "ós, na reatização mis-Lica e na salvaçào nós é que so,os nos( rádos à ver-
dade, LdI como nas palavras tinais do Sâlve Regitra
câtó1ico: "e, depois deste desterro, nostrai-nos a
Creio ser essâ a naneira nais sinples de expli-
car o que a revelação, ta1 cono é €ntendi-
da em todas as religiões autênticas. Cabe umá pã]a-
vra sobre a diversidade dás formas da revelação.
Esta pode tomár á lormá de um texto sagraoo, que é
ditado aos homens numâ língua apta a rêcebê-lo (as
línguas sacras, coÍno o h€braico, o sânscrito e o
árabe , têm propriedades que as 1ínguas modernas,
delâs derivadas, não têm, e que permiten expressões
de um rigor simbóIico que geráInente es.rp, à pu.-
cepção dos linguistas leigos). Neste caso, os even-
tos e personagens que cercam o instânte da revelâção
não têm "ma importância mais 
que auxiliar, corno ins-
trumentos providenciais para a revelação do texto.
No câso de ouLras religiões, a revetaçào não é
con§tituída de um texto, nas da vinda -- e da vida
-- de um homem, que é, ele nesmo, a verdade. Nesta
hipótese, pode também haver textos em jogo, quer
reproduzam as palavras deste homem, quer relaten suâ
vida taL como outros a presenciaran, quer comentem e
expliquem a verdade trazida nele, mas tãl como os
homens ê eventos do caso anterior, desempenham papel
auxiriar- Estão no primeir hinduisno (corn
os vedâs), o juaaísmo (com a rorah), e o Islamismo
(com o corão); no segundo, o Budismo e o Cristianis-
mo. (o caso do taoísmo e das religiões indígenas é
mais complexo e nào cabe discut i-lo aqui, mas nào
mudâ êm nâda o que foi dito.)
Às pessoas que se aventuran a falar de rê1igião
frequentemente esquecem essa distinção ófvia, o que
as leva â fazer conparações indevidas -_ por exem-
p1o, entre Cristo e Moisés, o-Evargelho e o Corão,
Buda e IrÍaomé --, o que não ajuda eÍÍ nada o verda--
deiro diá1ogo que está pressuposto na noção de
Cabê comparar somente os elenentos comparáveis,
isto é, aqueles que estruturalmente desenpenhen, nos
sÍândiosos edifícios das religiões, uma função simi-
iar. Por exemplo, no Cristianismo a reveLaçào nào é
o EvanSelho, Ínas Cristo; no IsLam nào é uao,é, .as o
texto do Corão. Os EvanAelhos são meios auxiliares
para chegar a Cristo, e a vida de Maomé ajuda â com-
prêender o corão- Mas cada coisa no seu lugar. (2)
voltândo à idéia do estojo, este é lavrado pouco
a pouco, com o auxí1io das primeirâs testemunhas
diretas da revelação, e depois corÍ o concurso dos
seus sucessorês. Dai provém um corpo de princípios,
de textos, de práticas, de obras de arte, tudo des-
tinado a fixar a memória daquele instante priviregi-
êdo, de modo que nào se percá párá as gerações se-
guintes. O trenendo poder gerativo da revelação
exprêssa-se de maneira insofismáve1 nas dimensões
desse edifício: umâ pretensa religião que surgisse
de repente, e que, no curso de um século mais ou
,nenos, já não se tivessê alastrado num corpo impo-
nente de cultura sacra, não seria religião de manei-
3t1 35
ra alguma.
A revelação provén da Misericórdia divina, e a
Itisericórdia é por natureza expansiva. Esse corpo de
manifestações sacrais quê se alastra, depois da
revelação, pelas terras e pelos sécu1os, deve porén
ter unidade, e esta é assegurâda pelo caráter inin-
terrupto da transmissão do ensino e da autoridade,
de homem a homêÍn, de nação a nação, de geração 
^ageração. rsta transrnissão ininterrupta -- que se vê,
por exemPlor no caso cristão, na ordenação sacer-
dotal proc"dente de sáo Pedro. ê deste á .lesus -- é
o que se denomina proprianente "tradição", do verbo
latino trad€Íe, "trazer". Designa aqüi1o que "foi"
trazido por Deus e que "continua sendorr trazido de
honen a homem no decorrer dos séculos.(3) Na ríneua
hebra ica, nãô outro o sent ido da PáIávra Kabba-
necessidades materiais dá coletividade; e, finalnen-
te, os hábitos de culto e de obediência por parte
dos fiéis. (4) Reunindo estes três componentes sob a
denominaçào de "cuIro" -- e siBo nisto o êspírito
"posirivista" que presidiu à redaçào do nosso cóai-
go Civil --, podemos chegar, enfirn, a uma definição
de "seita": seita é o culto sen religião. Em outros
termos, é á atiLude subjetiva de obedí;nciâ e devo-
ção (viabilizada pôr uma estrutura de Poderio ou
influência social), sern a contrapártida objetiva de
una revelação cristaLizâda num corpo de cultura sã-
cra. É um corpo feito de gordurá e pele, sem vida
Cláro que, etimologicamente, a palavra "seita"
tefl um sentido âlgo diverso, e claro tambén que e1a
já foi usada com um sentido diferente en outros
i"*po", p".. designar outros tipos de fenômeoos. Mas
não estou aqui fazendo um estudo de etimologia neÍn
de semântica histórica. Estou definindo a palavra, e
a coisa que ela designa, segundo ambas se apresentan
hoje, perânte olhos. Podem aplicar o con-
ceito, tal cono o defini, a qualquer dos casos pre-
sentes. Verifiqueín se em todas as seitas que conhe-
cem não existe culto e estrutuÍa de Poder' Existem.
Verifiquem, por outro 1ado, se esse culto se ditige
â un corpo de cultura sácra efetivamente existente
-- a um corpo de dogmas, 1eis, conentários, obras de
arte sacra, panteão de vidas dê homens santo§, en-
fim, tudo o que caracteriza una religião autêntica
já aesae seus primeiros tempos. Verão que não se
dirige a nada. Ou antes, verão que o culto, nao
tendo objeto real onde polãrizar-se, se fêcha em si
."".o, ã".o""r-"e num labirinto autolátrico, e se
dirige enfim à estrutura mesma de Poder que o sus-
tenta, ou àqueles que nela ocuPam os mais altos
poscos hierárquicos. Entào podenos precisar â nossa
àeFini5ào, ê dizer que seita é um culto subjetivis-
ta, autolátrico, que diviniza o poderio social que a
sustenta. Este poderio pode cristalizar-se simboli-
camente na pessoa dê um "mestre'r ou projetar-se
iÍnpessoâlmente na organização cono um todo. 0 ponto
lah, sobre a qual as seitas dê ontem e de hoje
fazem proliferâr tantos enignas e pretensos ,nisté-
rios, aptos a chamar a atenção da curiosidâde gros-
seirã ê vulgar. Na dupla coluna de emânações divinas
da Kabbalâh, entende-se que a "Misericórdia" traz a
revelação e alastra aos homeos a possibilidade da
salvação pelo crescimento da religião, e orrRigor"
assegura a unidade do edifício pela transmissão
direta da autoridâde e pela inflexibilidade da dou-
Erina conservâda dê Beráçào em g"raçào.
Jâ por essas explicações iniciais e eLementa-
res, o Íenóneno das seiLas surge-nos um pouco mais
elucidado. Na medida em que nào dispõem nem dã reve-
taçào -- nem. a fortiori, podem arrogar-se a origem
e a posse de um corpo de cuLtura sacra _- elas Pode-
riam ser definidas como a reLigião menos seus dois
e lenentos essenciais.
ora, as religiões não são fornadas âpênas Pelos
elementosessenciáis, mas tambén pelo concurso de
elenentos "âcidentâis", que formam por assim dizer a
gordura e a pelê dessê corpo ondê a revelaçào e a
cultura sacra são â vida e o sangue. Tais elenentos
acidentais são, de um lado, a comunidade ou coleti-
vidade dos fiéis; de outro, a estrutura de poderio
social gerada pela cultura sacra Pâra prover as
36 37
essencial é o"e o oôiêro de culto nào transcende
iámais as esr;uturas aá própria organização.
Há um casor entrêtânLo. que pode conÍundir-no"
un pouco, parecêndo escapar à deriniçào arima É o
câso das seitas que se aProPriam de elementos ou
asDectos isolados de reLjgiões exisrenLes. Por
exernplo rórmulas riruais. sínboios ou dogmás. NesLá
evêntualidade, o objero de culro Párecê eferivamente
projetâr-se pu', ,ié* do§ Iimites da orgânização,
abrindo-sê parâ as dimensõe" sup"riores que sao
simbolizadâs por esses elementos roubados Por exêm-
p1o, umâ seita pode utilizar-se de elênentos do
Àirá"í".", como a noção de karoa ou a recitação do
.onossilabo sacro Om (Aum), e evidenteflente suas
prát icas parece.ào ter toda a amPlitude " . "1.'""sinbóIicos que essÊs elenenros eletivamenrê tem na
religião origináriá- Para coflpletar o siÍrulacro, a
seita pode dos próprios t€xtos dã reli-
gião em questão, que, circulando em edições-comer-
ciais ao êlcánce de todos (isto quando nao. sao
reproduzidos em edi\ões promovidas pelá propÍra
seitâ), podem ser tivremeote usâdos Parâ qualquer
fin, independemenre do seu u§o regular e da signifi-
cação que possan te). efetivamente na religiao de
onde provêm. Quem pode impedir que alguem use o
Evangelho para Erânsflit ir o contrário da mensagem
""angéli"r, ou, com base 
em trechos seletos dos
discursos do Budá, ensinar como budismo algo que
seiá exatamenLe a neeaçào do budismo: Pártindo do
princípio de que a vítima desses engodos desconhece
coÍnpletâmente as religiães saqueadas, nada pode
impedi-lâ de comprar como coisa autênticâ e completa
algo que é apenas um fragmento roubado.
o teste decisivo para identificar esse tipo dê
operação é j"stamentà o papel fragmentário e incoe-
rente que em tais seitas desemPenham esses pedaços
de hinduísmo, dê cristianismo, de budismo. As reli-
giões autêntiáas não constituen amá1ga.as de práti-
cas e sí,uor"s jun(ados a.s.o. poré, (orPo', orgã-
nismos vivos cuias partes não podem ser seccionadas
e usadas fora do contexto sem acarretaÍ ou a norte
dessas mesmâs partes! ou do organismo inteiro Parâ
ser cristão não basta rePetir o Pai Nosso: e precr-
so, de um Lãdo, comPreender quê os sete pedidos do
pai fro".o represêntam cadâ uín deles uma virtude e
,. "..r"."".à, 
e, de outro 1ado, é Preciso praticãr
"."." "..ru.."io", 
tais como são dâdos pela cadeia
ininterÍuptâ de sacerdócio que começa em Jesus e
São pedrà, e que se chama Igreja' ê Praticãr essas
virtudes tal e como elas são exPlicadas por essá
rnesma tradição ininterrupta, com um sentido claro e
ã"ii.ia. ."*, torÍente de Livros desde há dois nil
,.".1 . ";. com um senrido 
improvisado e arbirrário
djtádo pela riránia do e8o individual Pára sêr
muculÍnáno, não basta declárar que ""ó oe"s é o"'" '
;i;;;-; "", 
p.o,",,", 
" 
p.".;.o s"ometer-'e à toi
."" "..n, dessê 
Deus ,j'ico e se Propâgá pYla cadeia
ini.,"..rp,u da tesislá(ào e do ensinamenro esoirj-
tt1â1 do lsIam, e é preciso imitar efetivamente 3
vida desse ProÍetá, regrando-se por seus atos e
exemplos, (al como estào relaLadoc. (omenrados .e
exDIicádos nos I ivros da teologia. da iurrcPruden( 1a
e âa .spirit"at idade do Tslám. e não segundo os
caprichos do dêsejo individuã1 Caso contrarro' os
sete oedidos do Paj Nosso ou a de' Iar açào de Íé
mu(utránâ lornám-se um símbolo <êm sinbolizado un
'o, o.o " PêrturbadoÍ. 
ou enLào una contradição pura
ã- "i'pr"., como 
a de pedir ásua quando nào 'e tem
sêde, ou comprãr uma passagem para Porto ÀLegrê
quando se q,.i;t, salvâdor' se nossos aros desmen-
i"r""ã."àr""ilà.s rormuradoq em PaIavrês á Iógico
quê Deus aienaerá à nossa verdadeira vontâde' ex-
;ressa mudamente nos âtos. e nào à Falsa, alegada" --'-p-";;;-;;..ê sen senrido-nêm lncençào, própria
a nós met,os, nas nâo á Deus A Precê e
,,. ';."." da retisiáo, nào seu sub'rirucivo 
o mesmo
Dôde-sê dizer de rodos os símbolos e r iros em Par-
ii"',r".. o,"* se aproPria de Pedaços do Evangelho
sem s.bmeter-se à regra cristã, viola duplamentê a
Iei cristã. Quem se aPropria de pedâços do corao sem
cumprir a 1ei muçulmana, Profana duPlamente o texto
sacro. (5)
38 39
dê elemêntos cristãos. Esses elementos
enfeites, pingentes e plumás coloridas
PortantoJ o üso d€ eiemenros muçulmanos não
torna muçulmuna umã seita! nem a tornâ .risrã o uso
ilusáo de que se cuLrua a Deus, quando
ofênde a Deus brutalmenre, enquanro ná prática se
.ultua Lná "rganizalio " "êu chefe. Com i\Lo. votré.defini,áo anrer iôr, e as .êiras conri-
nuan sendo um culto de si mesmâs, um ser mórbido,
autocêntrico, egoísta, fechado e destrurivo como um
O.que foi dito até aqui bâsta para que qualquer
pessoa, mesmo nao sêndo retigiosa, possa distinsuir
com total precisão e rigor entre religiões e seitas.
Essa distinção, absoluramenre indispensáve1 como
preliminar a qualquer discussão séria do probtema,
nao parêce ter estado ênrre os objetivos da .ecente
reuniãú dá CN88. onde. ao conLrár ío, houve umá Lpn-
dência á conrundir JêtiberadánÊnre as duás .orsa5j
rotulando as seitas cono "movimenros religiosos in-
depêndentes", o que coofere ao fenômeno u. caráterr'religioso" qrí ele ábsolurampn,e nJo tcn.
De tdLor ro fêz"r i""o. a CNBB n;o dêixou ouLro
crit;rio de distin\ào.nLre ar r"li8iôês. spiLas,
senâo o fato de que as primeiras são ,,oficiais,, e as
segundas são tindependenres,' sem atiás esclarecer
como uma organizaçào financiada pela CIÁ pode ser
"ind"p"ndente". j"ro êquivdtr a negar às ,"1 isiàe",
à CaroliLa in.lusive qurlqu"r primdzia nas quesràes
religiosas, e em reduzir rodâ diferença a uma ques-
tão acidenral de orden sociat e .;urÍaica. t..u.a:resulta em legitimar as seiras do ponro de vista
rêlieioso, restando âpênas tegiriná-tas sociar ejuridicamenre. Isto é suicídio puro e simples.
Para conpletar estes êsclarecimentos, é preciso
introduzir ainda uma distinção fundanenral enrre a
simples, âpropria(ào imirar iva e tragmenrária dê ri-
Los ê srmbolos rel;giosos, de um tado. p, de oLcro,
a alteração ou inversão propositat desses símbolos e
No primêiro caso, estanos diante do mero fenô-
meno de "pseudo-religíão", q"e é o caso da maioriâ
dâs seitâs atuâlmente existentes. A práticâ de tais
"riros" náo têm outros etieiros, senào os quê poden
sêr obtido< pêlos pro.edímênros vulSar"s d. "ugestào
e auto-sugestão (com toaas as sequeLas norais e psi-
coIógicas que tôm esses procedimentos, quândo trans-
formados en práticas hâbituais e viciosas).
Já nô sesuodo .a.", poré., tráta-§e daquilô
que se podê denominar "contra-religião" ou religião
invertida , e isto já é algo de infinitamente mais
grave, pois não é realmente outra coisâ senão aquilo
quê recebe trãdicionalmente o nome de "satanismo'r. A
palavra "Sarã" -- êm h"btdico F drrb,, shaiLan
sisnifi.a pxáramenLê adversário, no ç,nrioo êtiro
tó!ico aa expressão 1at inâ ad-versus, isto é, aquilo
que toma as coisas PeLo verso ou Pelas costas O
"satânico" a que nos relerimos áqui não tem êviden-
temente as habituais conotaçõe. mitológicas e fan-
tasmáticas em que a palavra mente poPular,
ma" signit ica -- "tecni.amente', por assim dizPr --
a inver'ào p,opo-iLãl dos simbolos, dâ' Palávrás,
das coisas, das idéias, dos sentimentos e, evidente-
mente, dos ritos.(6)
A exisrência d" sêira' saLanistás, que até ál-
gum tempo atrás era matériâ de pura fãntâsiâ en fil-
;." " '.,r"..', que dêspertavan 
no pr;blico Jná ,êa-
çào de in. rédula curios:dade. é to;" "m fato noró-rio e contundente da nossa trágica atualidade.
A título de exemplo dessas inversões rituais,
todos conhecem o caso das cruzês de cabeça para
baixo que são usadas nas rrMissas Negras". Menos
falado no ocidente, mas muito conhecido no oriente
Médio, é o caso das seitas aberrantes de pseudo-
sufis, onde periodicamentese recitár trechos do
Corão de costas voltadas pâra a Meca, que é a dire-
ção normal da prece; ou se coloca uma nulher Parâ
"t"rir. u prece, 
postada ná frente dos fiéis, o que
é pela lei corânica "ma função exclusivâmênte mas-culina; ou ainda se realizam as preces §em a ablução
preliíninar que purifica o crente pãra comparecer
4l40
diânte de Deus, (isto equivale, no Cristianismo, a
tomar a comunhão voluntâriámentê em êstâdo de pecado
mortai).(7)
Não é necessário dizer quê a prática dos ritos
inversos tem também efeitos inversos, isto é, se os
ritos relisiosos devêm conduzir à iltminação ince-
rior, os ritos profanatórios conduzem ao embruteci-
mênto da âlma, à substituição da intelisência pela
malícia, e âo ctllto dã perversão e da bestialidade.
Conro atestação dos efei.tos de tais práticas nresmo no
donínio corporal, pode-se verificar o grande número
de crianças nat imortas ou defeituosâs entre os Íi-
thos de mulheres praticânEes de tais "ritos".
Que, a pretexco de liberdade religiosá e de
igualdâdê de direitos tais coisas possam vir hoie em
dia â ser denominádas pelo mesno termo 'rrelieião"(re1ígio) quê designa os grandes edificios de 1eis,
ritos e conhecimentos sacros como o Cristianismo, o
Budismo oLr o IsIam, é âigo qu€ somente atesta a
incon".iên.iê. raiêndo d esrupidpz. o" um" Época que
parec. ansiar pelo dbr"no p LIánár pelá di"'ol r,,ão
na vorâgem do nada.
A depreciação do intelecto, mesmo feita em nome
dê supostos "ureios superiores" ae contrecimento, é
anti-islâmica e anti-espirituâl e. s"a essência. É
inspirada pelo apeso à imaginação e à sensoriarida-
de, funções que, uma vez reprinido ou entorpecido o
intelecto, poderio seÍ freio sobre o ho-
mem, revestindo-se inclusive da âutoridade que Per-
tence exclusivamente ao intelecto e pretendendo
ditar "verdades" cuja confusão mesna já basta para
caracterizá-1as como ment iras ou desvarios.
A excusa da rrfórr não passa de um subterfúgio,
q"e não é aceito nen pelo Corão, nem pelas autorida-
des, sábios e espirituais do nundo islâmico.
o Corào proibe terDinântenente crer ."m razão:
"Não sigas aquilo que desconheces" (xVIrr36). zakâ-
ria E1 Berry, cornentando este versícu1o, afirnai "o
corão proíbe ao homeÍn sesuir aquilo que dêsconhece,
quando não tem provas evidentes a respeito. Elê con-
dena áquêl.s que sêguem a oJLros. mesmo a "eu. páis.
sem conhec imento. . . , classificando abaixo dos ani-
mais o homem que não usa de sua inteligência".(1)
Un hedith do Profetá (sobre ele á Pãz) estabe-
lece: "Deus não criou nada mais nobre que o intelec-
to, e Sua cólera tomba sobre aquêlês que o deni-
grem".(2 )
Quanto à excusa dâ fé, é importante notar que
fides, em latim, ten a acepção de "fide1ídâde", derrconstânciarl e de rrconfiabilidade", nada permitindo
interpretá-1a no sêntido de umâ adesão irracional a
IV
* rnédito. originar de 1985
t+2 43
crenças insensãtas ou incertas. A virtude da fé siglni lica quê o homêm. umá vez têndo apreendiao peiarázao ê pêla êvidência und vprdád., perma.ec.,j ii.ra eIa, mesmo quando sua imaginaçào, ."u, senti,enrosou sua vontade -- para não falar de fatorês coêrci-
tívos-meramente externos, como a opinião s.rp;i ;;-,pressao das circunstâncias -- o inctinarem em sênti-do oposto. Denrrô do campo cristão, u .o"..pção nã"p difêrenre, dêsde q!ê á Lêotosia ",."tá"r i.r, .;;sánLo Tomá5 de Aqurno à tr"nLe. dectara que a tá nào€ uma atitude dos sentimenros -- e muito menos dealsum impulco obscuro, inêxpti"áver e ,,subcon"cienlre" -- porên uma dcc i sào do incê iect o e dá Vonrade(3). No rnundo judaico, o vator do intetecro e dopensanento e afirmado como sinal de soberaniá inre_lectual e moral da pessoã humâna, e atesradô, entrêouEros raro", peto ámo, quê o povo judeu dêdi.á ao.rlvros e-a árrê do.debarp. qu" é tundámenrat pârr á
manu t ençáo dâ "'ioráh vivênLê,, (4).
Certas expressões ârrebatádas dos mist icos
muçuJmanos e crisrào". que oro. tamám sua .É acima e
rndepcndênLem, nrê dê mor ivos ra.ionáis. aào pod"mser desoncstamentc empresadas pará justific;r o
:f,q,:.:g inLete,r.. poi" cxpres:an ápenr.., er nodohrperbolr.o. ã Éidej:dad. do,.renr. d v-rdddê apre_êndida, mesmo âcimá € independ.nremenrê dos meios dedêscobertâ e prova que â elá conduziram ê que a sus_
tpnLem no campo do pênsrmenro dis.ursivo; ái,". ou"o. finr sào sup-rior.. aos mêio" ";. -;g"ir;., 
j"_
preciar os neios enquanco rais, ncnÍazer u.o detês sob quálquêr prpLêxro qre sêjd. Osêntido.dessas expre.sàe" ê que d verdáde, mesmormpertêrLane-rLe apreendioa, vdjê,nai- do qüê un er_tundado em razôe, "parenLem.nre lógr.a,:aajs vale verdáde que nào se sabe provardo.que deixár-sê ensánar por latsás p,ovâc. o pró_prro es(ilo hiperbolico de rái\ dêctaráçôe. êviàen-.ia que Êles veiculam hipóresps exr remadá§. quê Lo-radás ao pê da lerra ou.r modo ptá.o r"rutrarián noábsurdo puro e .ímptes. Quando sào proter;da" porrrsrrcos mu\utmános. e oreci.o têvar áindá em.onra
o gônio da 1íngua árabe para as expressões ârreba-
tadas e hiperbó1icas, cuja tradução para uma IÍnguâ
ôcidentál produz às vezes um efeito de incongruência
e desproporção, desde que a indole mais fria e ra-
ciooâl das línguas ocidentâis não permite traduzir
fielmente as emoções de um temperâúento nobremente
arrebatãdo tal cono o dos árabes. Quando o sufi diz
que prefcrê "ir para o inferno pêla vontade de Deus
a ir para o céu contra a sua vontadeii, está claro
que ele não está dizêndo quê Deus tênha o hábito de
enviar os hômens santos pâra o inferÍo, mas apenas
expressândo, por ampliação ad absurdum, a radica-
Lioade da "ua obeaiÉncia. (Que u'na expr"ssào.omoessa possa ser usadâ por fâlsos mestres para induzir
inocentes discípuIos ocidentâis a prãticaÍ o ma1 "em
nome de Deus" e a "provar sua obediência" indo êfe-
tivamente para o inferno, é algo cuja monstruosidâde
saltâ aos olhos, mas que reâlmente a.ôotecê êrn nos-
sos dias (5) ). lo mesmo nodo, quando Santo Agosti-
ntro, após têr verificado que a inexistênciâ de Dêus
é uma hipótese absurda, declara sua crença em Deus
em termos dê credo quia absurduo ("creio, mesmo que
seja absurdo"), está no mesmo ato afirmândo que a
crença em Deus não pode ser absurda.
A propósito, o uso indevido do termo qatb ("co-
ração") para designâr arsum tipo misterioso dã fã-
culdade cognitivâ colocado acima e fora do intelecto
e da razão é claramente condenado pelos nestres su-
fi., cono por exênp)o Al-Chazzali:
"Há efetivâmente no coração (qalb) do homem
r m olho (' áyn) qu" po"ui perferçáo. (hamám-no à"
vezes dê inrêle.to ('aql), às,e,.' oe espirito
(ruh).
Dêixe de lado todas essas denoninações que as
pessoas pouco clarividentes podêm fazer crer que se
Lrárá de rêaliddde",úLLipta'. Quanto a nós. preren
dêmos designaÍ expressões aquilo que dis-
tingue o hoúen racional da criança, do aninãl e do
louco. Chamemo-Io portanto iÍrtelecto ('aql), se-
guindo a l insuasem corrente"(6).
45
A eminente dignidade do intelecto ê da falã é
aindá reafirmada pela autoridade de Jala1 Ed-Din Rú-
mi, quando d iz:
"O homem é um.animal que fala: o homem acres-
centa as caracteristicas aninãis a linguâgem; essas
características são permanentes e estão ligadas a
ele, e o mesmo sucêde com a linguagem. Quando o ho-
mefl não fala exteriormêntê, fâla interiormente. Está
semprê falando: é como ",,ra torrente misturadã comfodo. À água clara da torreote é a tinguagem, o lodo
é á ánimalidade. o looo é a( idêntá1. Nào vés que
lodo e corpo pêrecem e ápodrecem, ao passo que a
liflguagem, trãnsmitida pela história, pe1â ciência,
pelá .ulturá, ber ou maI, pêrmane(e?"(7)' 
Que diria Rúmi, enrào, êm láce das teoriás que
ofeÍecem uma "comunicação oão verbal", puranente
animal e instintiva, fundada nâ memória ancestral,
como forma de "conhecinento direto" superior à 1in-
guágem?
Podemos concluir êstá parte com A1-Kortoby: "Os
filhos de Adão distinguem-se pelo seu inte1ecto... A
lei assemêlha-se ao solr e o intelecto ao olho. Se o
otho for são e estiver aberto, vê o so1 e percebe as
formas das coisas".(8) E com E1-Berry: "o pensamento
i enrào um in<r into ndtural do honem, e pensar é a
runçãoe a missão da mente. os sábios definem o ho-
nefl como ufl ânimal que pensâ e fala. Portanto o pen-
sar é um dever islâuico".(9)
o lJonto que pode realmênte suscitar confusão --
s que não deixa de ser aproveitado con astúciâ pelos
interessâdos na destruição das faculdades intelec-
tuâis do homem -- é que o intelecto pode efetivamen-
re corrompe.-sê e falhar.
Por um lado, ã verdade apreendida pelo pensa-
mento não permanece, mas some quando o homem pára de
pensar no assuntot ê pode porlânro ser esquecida.
ba1 a necessiaaae aa prár icá rêligjosá e nística
qúe consolide no próprio modo de ser da pessoa a
posse dá verdade percebida. Esre ; o "ênL ido. atiá.,
ão rerno larino trábito. qu" vêm do vêrbo habere,
,,possuir". Não basta apreender a vêrdãde pêlo pensa-
46 41
mento, É preciso transformá-la num hábito ou posse
perflanêntê, e q"e só se obrêm pela renoção das dis-
trações e pela concentração do intelêcto. A concên-
traçao, como e obvio, inrensifica a atividade do
intel€cto, suprime a pretêxto de desenvol-
ver supostas "faculdades superiores". O rermo "visão
interior" uEilizado por todos os místicos, refere-sê
do êrrédo de evidén. iá permanênrê que p aL, an\ado
pelo intelecto, e que nunca poderia sêr aringido
pelo seu mero exercício esporáaico e intermitente, e
sim somente pela prática volLrotária e resulâr.
Por outro lado, á possibilidade da corrupção
não decorre de algunâ falha constitutivá do próprio
intelêcto, mas do simplês faro de que pensar é si-
multâneamente um ato Lógico (portanto ontológico) e
um ato psicolósico (portanto biológico), respondendo
simultâneamente, de uma parte, às exigências consti-
tutivas da verdade e, de outra pârte, às contingên-
ciâs e demândas do corpo em süa insrabitidade e
flutuação ciclica. Quando o pensameoro é riet à sua
missão, quando ete se atém à universalidade tógica
que reflête a permanência e a universatidade do ser,ple á o "inrplecto sáo" qup corarz o homem : vêrdá-
de. Quando, ao contrário, ele se deixa €nvolvêr pe-
las funções inferiores e se torna escravô da inasi-
nação e dos desejos, ete mersulha nâ obscuridade
subjetiva dos impulsos biôlóeicos, e é o "intelecro
doente" que homcm na prisão da mentirâ e
da i lusão.
É nesse sentido, e
afé e a obediância à
não en qualqLrer outro, que
Lei revelada podem ser, âo
taticamente e na prática, mais imporrantes do
o próprio intelecto, já que o bonr funcionamenro
dêpende, em últiná instância. da retidão moral
resu Iar idâde tradicionál do indivíduo.
É claro, então, que umâ pretensa "via espi-
ritual" que por um lado restrinja ou desestimule ã
ação do intelecto e por outro excite a imaginação
ímedianr. hí"róriâs. medianre "irua5óes incongru;n-tes, mediante uma sucessão de estínu10s desenconrra-
dos), ao mêsno tenpo que aá tivre curso aos desejos
e abole qualquer rêgra moral explícitê, concorre
unicâmente pârâ a sujeição do intelecto às paixões,
e portanto para a eclosão da 'rrebelião" que fará do
intelecto doente e nundanizado uú tirano a serviço
do ego subjetivo. Tudo isso concorre para rebaixar o
homem a um nível inferior ao do ênimal, ao nesmo
tempo que the dá a trágica ilusão de esrar "êvoluin-
do espirituâlmente".
Y
Adecadêtrciaeofiú,
seguDdo as doütriras hindus*
Os sinais próximos de uÍÍ I'fin dos tempos" atra-
em hoje â atenção de muitas pessoas para e antiquís-
sima doutrina hindu dos ciclos cósmicos, pe1ê sim-
ples razão de que os acontecinentos a confirmam ao
pe da letra.
Mas esta súbita populêridede de uma doutrina
que permaneceu desconhecida no Ocidente durante
quêse toda a nossa civilização -- e que, mesmo dê-
pdis de redescoberta pelos orie$talistas, ainda
ficou por mais de um século relegada ao dominio do
exótico e do "oculto", no sentido pejorativo do ter-
no --, essa popularidâde não significa que e1a seja
hoje melhor compreendida do que ontêm, e nem mesno
que aqueles que a divulgaÍn âgora tenhan a mínimê
inteüção de fazer compreendê-la.
De fato, a tendência geral é para fazer um
grânde alarde dos fatos e dos tempos assinalados
pela doutrina dos ciclos, mas dândo-1hes uma valora-
ção exatamente inversa daquela que thes atribuen os
textos sâcros hindus de onde e1a foi extraíaa. Em
suma, os fatos que a doutiinê hindu assinalâ como
perigosos índices de uma degradação extrêma e sem
precedentes da espécie humana, são hoje apresentâdos
como sinais auspiciosos de una era de renovação, de
Iuminosidade e mesmo de apogeu espirituêI.
Se é arriscado dizer qual a intenção com que se
* Novembro de 1985.
Editora Àbri1 sobre
Escrito para uma publ icação
o coneta de llalley.
49
da
faz isso, é fácil, no entanto, constatar o efeito
que uma "ção de.se Lipo dêsen. adeid: 
á pronessa de
"*u r..ou"ç;o 
i ILSór iá raz Lom que ás pessoas se
átirem .or mdic 'acilidádê, e dL; com unr Lertá vo-
I úp ia , na vordsên da de. ad;nc iá .
o árgdnento (orrenlê de quê rooa Ôxrinçdo conç-
litui áulÔmatLcámênie uná rênova!ao e Jora de Propo-
sito, porqu€ o quê está e..ioeo é a melhor qúaLidâde
do que sc promete vir depois, -e não o simPles fato
da múdançá. Quando um homem estâ para norrer, o^unr-
co indício positivo de que e1e têra una exrstencra
m€lhor no outro mundo reside justamenEe na santidâde
de sua vida terrestre e na Piedadê corajosa e hon-
rada com que e1e enfrente a aproximaçao da morte, e
não no simples fâto de encontrar-se moribundo, que e
algo que tâúbém acontece aos tiranos e assassinos
'Fm quê isLo consLituá molivo de .onl:an!a na "aIvá-
!do dac suas almas. Pior êinda. ninguêm dira que
uma mort€ desonrosa constitua uma garantia dessa
ordem, n.m que á no5sa civilizá\ào. do rêregár ac
religiões e a cultura trádicionais e ao atirãr-se
com vorúpia aos piores desrcgrâmentos e âo culto das
.ais gràs.eiras Pscudo-divindades já concebidas,
estei: morrendo disnãmente, con digni-
dade, sem abdicar um mil ímetro que fosse dos seus
p.i..ipio", leis e costunes, os povos in<lieenas que
.r, .ã"*" extinsuiu cm na<la memorável bánho de san-
cue.
A doutrina hindu dos ciclos cósmicos abrange
muito mais do que un cicLo de civilização, como o
nosso; ela se estende por toda a duração do nosso
rundo. e rss:naIa erâpas ê mudar'a" oer iód icas que
transforman nào ap"nas a5 ê\trururâs ço'râIs. Ps'-
quicas e culrurais, ma. a propria isiononia oo pla-
.,"tu. e" .t u*uau. t',.aa.ças de erâ" ascrorógicas (de
rouro a Áries, de Áries a Peixes, de Peixes a
equário), são apenas uma fração das mudanças cicli-
cas rnaiores âssinaladas pelos hindus. As eras âstro-
lógicas, de 2160 anos, sucedem-se por simples mudan-
çãs culturais e sociais, lentas e -- para a mâssa
ãa humanidade -- quase imperceptíveis a cLrrta dis-
Lan.;4. 'em á.onPánhdr-se d' alL ra\oês 
nàiores "n
..caia física l.to nào á'ontê'e con as nudánça' do'
srandes ciclos assinalados nâ doutrinâ hindu, como
"s fins dos "ciclos polares" de 
21 600 anos, que
marcan alteraçôes profundás na constituição nêsma da
h.,mãnioad". e que "ào aconpannado' dê calâ' 
Iismo" ê
",',.". t".;m"no- de ord"m ríti.a 
qun alrnran signi-
ficativâmente o panorama da Terra Os melhores estu-
diosos do assúnto, como Saint Yves d'ALvevdre, Rene
cuénon e caston Georsel, são unâni'es e' demarcar as
:media.óes oo rosro rêmpo dô 'nrêr ranrlro
a" ,,, àe""". t'L i. ro. Polár'." Íeróm"n' Lrê srdroê"
proporções, perto do qual a simples oudança de era
astrológica é co.o ,r. rabisco de üm sarÔto no muro
de um temPlô que rui.
eorele" o.e inLerprêtám oc a!orrecimêntÔs ço-
ciá;s dá no.'a época à tuz da ruoança de era ásLro-
lógica cometem assim um Pequeno erro de escalâ' que
ooãe arLerar sub.Lán'iálmenLê a v:"ào das 'ojsa"' de
modo quê '3to5 que êvid"n iám o ê'goramento roLá1
das possibilidadás humanâs mâis báixas, prenunciando
.reti,amente also como uma extinção, pÔssam ser vis-
tôs Lono Promi5soras novidâd's'
-á.e á icLo. é pr".:'o diz'r qu''m rosso.lerPo
una nulr ipli.idáde d" ci' los ' 'smicos ' hr'Lor"o"
está cheeando ao ser-r fin, prenunciando uma mudança
de muitã maiores proporções do que um simples arra-
nhão na cros'ca das instiEuições do nosso modernÔ
o.ià.",. i.a,',, iaI . máreriàli'tr'

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