Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DIREITO ADMINISTRATIVO Prof. Felipe Dalenogare 1 INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE 1.1 Fundamentos a) supremacia do interesse público, b) prática de ilegalidade (sanção). 1.2 Modalidades de intervenção do Estado na propriedade privada 1.2.1 Intervenção Restritiva O Estado impõe restrições e condicionamentos ao uso da propriedade, sem, no entanto, retira-la de seu dono. Modalidades: 1. Servidão Administrativa; 2. Requisição; 3. Ocupação Temporária; 4. Limitações Administrativas; 5. Tombamento. 1.2.2 Intervenção Supressiva O Estado, valendo-se de sua supremacia, transfere compulsória e coercitivamente para si, a propriedade de terceiro, em virtude de interesse público previsto em lei. Modalidade: a) Desapropriação. 1.3 Servidão Administrativa a) Sentido e Natureza Jurídica: É o direito real público, que autoriza o Estado a usar a propriedade imóvel para permitir a execução de obras e serviços de interesse coletivo. Trata-se de direito real público, porque é instituído em favor do Estado para atender a fatores de interesse público. Exemplos de servidão administrativa: instalação de redes elétricas, implantação de oleodutos e gasodutos em áreas privadas para a execução de serviços públicos. b) Fundamentos I. Supremacia do Interesse Público Sobre o Privado; II. Função Social da Propriedade (art. 5°, XXIII, CF e 170, III, CF); III. Fundamento Específico: Art. 40 Dec. Lei 3.365/41 (Lei Geral das Desapropriações), in verbis. Art. 40: o expropriante poderá construir servidões, mediante indenização prévia na forma desta lei. c) Objeto: A servidão administrativa incide sobre a propriedade imóvel (coisa imóvel corpórea). d) Formas de Instituição: I. Acordo entre o proprietário e o Poder Público: Acordo formal, celebrado por escritura pública para fins de subsequente registro no cartório de registro de imóveis. II. Sentença Judicial: Não havendo acordo entre as partes, o Poder Público ajuíza ação contra o proprietário, em procedimento idêntico ao da desapropriação, com previsão no art. 40, do Dec. Lei 3.365/41. Destarte, não há auto-executoriedade na instituição de uma servidão administrativa sobre uma propriedade privada. e) Extinção: A servidão administrativa, em princípio é permanente. Podem ocorrer fatos, no entanto que dão ensejo à sua extinção, como por exemplo: desaparecimento da coisa gravada; incorporação do bem gravado ao patrimônio da pessoa que instituiu a servidão; e o desinteresse do Estado em utilizar parte do domínio alheio. f) Indenização: A indenização ao proprietário é condicionada à ocorrência de dano e prévia. Obs.: As concessionárias de serviço público não podem declarar um bem como de utilidade pública para fins de servidão administrativa, mas, de acordo com o Art. 3º, do Decreto Lei n. 3.365/41, c/c o Art. 29, Inciso VIII, da Lei n. 8.987/95, podem executar/promover a instituição de servidão administrativa. 1.4 Requisição a) Noções Gerais: É a modalidade de intervenção na propriedade privada, pela qual o Estado utiliza bens móveis, imóveis e serviços particulares em situação de perigo público iminente. Ex: utilização de hospitais particulares, de seus equipamentos, seus medicamentos e seu corpo de saúde, em hipóteses de inundações; utilização de ginásios particulares para abrigar vítimas de catástrofes e inundações, etc. b) Fundamentos ● Supremacia do interesse público sobre o privado; ● Função social da propriedade (art. 5°, XXIII, CF); ● Fundamento específico: art. 5°, XXV, CF c) Objeto e Indenização: Incide sobre bens móveis, imóveis e serviços particulares. A finalidade é proteger a sociedade contra situações de perigo público iminente. A indenização pelo uso de bens e serviços alcançados pela requisição é condicionada à ocorrência de danos. E será sempre posterior (ulterior). d) Instituição e Extinção: Pode ser de imediato decretada, sempre que houver uma situação de perigo público iminente. Isto posto, há auto- executoriedade na instituição de uma requisição. 1.5 Ocupação Temporária a) Sentido e Objeto: É a forma de intervenção pela qual o Poder Público usa, transitoriamente, imóveis privados, como meio de apoio à execução de obras e serviços públicos. Ex: utilização temporária de terrenos contíguos a estradas para estacionamento de máquinas de asfalto, equipamentos de serviços, pequenas barracas de operários; uso de escolas e clubes por ocasião de eleições. b) Fundamentos b.1) Supremacia do interesse público; b.2) Função social da propriedade (art. 5º, XXIII); b.3) Fundamento específico: art. 36 Dec. Lei 3.365/41: É permitida a ocupação temporária, que será indenizada, afinal, por ação própria, de terrenos não-edificados, vizinhos às obras e necessários à sua realização. c) Modalidades e Indenização: Em razão do art. 36, do Dec Lei 3365/41 retro transcrito pode-se inferir que há dois tipos de ocupação temporária: ocupação temporária necessária para obras vinculadas a um processo de desapropriação e ocupação temporária para as demais obras e serviços públicos em geral. A questão da indenização deve levar em conta as duas modalidades. No caso da ocupação temporária vinculada a um processo de desapropriação, por força do art. 36, do Dec. Lei 3.365/41, há a obrigação, por parte do Estado de indenizar, sendo vinculada à indenização da desapropriação. Na hipótese de ocupação temporária desvinculada de desapropriação, com fundamento no Art 58, inciso V, ou Art 80, ambos da Lei. 8.666/93, em princípio não haverá indenização, exceto se o uso acarretar comprovado prejuízo ao proprietário. d) Instituição e Extinção: d.1) Ocupação vinculada a desapropriação – é indispensável o ato formal de instituição, que pode ser o próprio Decreto Expropriatório; d.2) Ocupação desvinculada de desapropriação – por ser feita manu militari, isto é, há auto-executoriedade na sua instituição. 1.6 Limitações Administrativas a) Sentido: São determinações de caráter geral, através das quais, o Poder Público impõe a proprietários indeterminados, obrigações de fazer, não fazer e obrigações permissivas, para condicionar a propriedade ao atendimento de sua função social. Ex: impor ao proprietário limpeza de terreno, Proibir a construção acima de determinado número de pavimentos (gabarito de prédios), permissão de vistoria de elevadores em edifícios e ingresso de agentes para fins de vigilância sanitária. As limitações administrativas têm caráter de definitividade. b) Natureza Jurídica: São atos legislativos ou administrativos de caráter geral. Fundamentos a) Supremacia do interesse público; b) Função social da propriedade (art. 5º, XXIII, CF, art. 170, III, CF); c) Exercício do poder de polícia (as limitações administrativas estarão sempre estampadas na lei ou em atos normativos fundados na lei. Significa dizer que devem atentar ao princípio da legalidade, impondo-se a necessidade de norma que imponha ao particular restrição à sua propriedade). d) Indenização (Sendo imposições de ordem geral, que exigem sacrifício coletivo, as limitações administrativas não ensejam direito a indenização. Disso, extrai-se, também, que devem atender ao princípio da isonomia, atingindo todos os proprietários em idêntica situação, não podendo haver tratamento desigual entre os particulares, sem critério legítimo de diferenciação). Todavia, caso, faticamente, venha a extinguir o direito de propriedade, haverá possibilidade do proprietário pleitear indenização. Veja-se o seguinte exemplo: O proprietário possui um terreno de esquina medindo 6m x 6m. Posteriormente, o município aprova uma lei municipal impedindo a edificação, nos terrenos de esquinas, a menos de 4 m de cada lado. Veja-se que, na prática, a lei inviabilizou o direito de propriedade, restando apenas2 metros quadrados para o proprietário. Está ele impedido, inclusive, de dar a função social ao seu terreno, podendo pleitear indenização à municipalidade. Direito de preempção (preferência): O poder público municipal pode estabelecer, por lei municipal, nos termos do Art 25 do Estatuto das Cidades (Lei 10.257/01) o direito de preferência (preempção), por prazo não superior a cinco anos. Após o decurso desse prazo, é necessário se aguardar um ano para a renovação do direito de preempção (Art 25, §1º, da Lei 10.257/01). Ex: Determinado município pretende implementar, com base em seu plano diretor, um importante projeto de criação de espaços públicos de lazer ao longo dos próximos quatro anos e, para tanto, necessitará de áreas urbanas que atualmente constituem propriedade privada. O prefeito, então, encaminhará projeto de lei à Câmara de Vereadores estabelecendo direito de preferência em favor do Município caso os imóveis localizados na área venham a ser objeto de alienação onerosa entre particulares durante aquele prazo. 1.7 Tombamento a) Sentido: É a forma de intervenção na propriedade, pela qual o Poder Público visa proteger o patrimônio cultural brasileiro, limitando o seu uso e até mesmo condicionando sua disposição por parte do proprietário. b) Fonte Normativa ● Art. 216, §1°, Constituição Federal; ● Dec. Lei nº 25, 30/11/1937. c) Fundamento c.1) Supremacia do interesse público; c.2) Função social da propriedade (art. 5°, XXIII e 170, III, CF); c.3) Fundamento específico – § 3°, art. 215, CF – Estabelece o Plano Nacional de Cultura. d) Objeto Incide sobre bens móveis ou imóveis que traduzem aspecto de relevância para a noção de patrimônio cultural brasileiro (art. 1º Dec Lei n° 25/37). e) Espécies e.1) Em relação à manifestação de vontade – pode ser voluntário ou compulsório. É voluntário quando o proprietário consente o tombamento, seja de ofício ou quando ele mesmo formula pedido ao Poder Público. É compulsório quando o Poder Público inscreve o bem como tombado, apesar da resistência e do inconformismo do proprietário. e.2) Quanto à eficácia do ato pode ser provisório ou definitivo. É provisório enquanto está em curso o processo administrativo instaurado pela notificação feita ao proprietário e definitivo quando concluído o processo. Impende consignar que o tombamento provisório é medida assecuratória de preservação do bem, enquanto corre administrativamente o processo para tombamento do bem. e.3) Quanto à abrangência – pode ser individual ou coletivo. Individual quando atinge um determinado bem e coletivo quando atinge todos os bens situados em um bairro ou uma cidade. f) Instituição O tombamento deve ser instituído por meio de ato administrativo típico, porque mantém para o proprietário a possibilidade de discutir em juízo a sua validade. Entretanto há quem defenda a hipótese de o tombamento ser instituído por meio de lei de efeitos concretos. g) Processo Administrativo O tombamento deve ser precedido de um processo administrativo onde esteja presente o devido processo legal, com direito de contraditório e ampla defesa para o proprietário. h) Efeitos do Tombamento h.1) registro no ofício de registro de imóveis; h.2) Dever de conservar por parte do proprietário. Entretanto, se este não dispuser de recursos, deve comunicar o fato ao órgão de promoveu o tombamento, que deverá executar obras de reparação às suas expensas; h.3) Restrições para a vizinhança do prédio tombado – é vedada qualquer construção que reduza a visibilidade em relação ao prédio tombado; é vedado colocar cartazes ou anúncios; h.4) Direito de Preferência – Não há mais a previsão contida no Art 22 do DL 25/37, por revogação expressa do Art 1072, inciso I, do NCPC. Ainda que se discuta a importância do direito de preferência, ante o interesse público envolvido na preservação do bem, a norma foi revogada, não decorrendo qualquer eficácia normativa. i) Indenização – Em regra o tombamento não gera direito a indenização. 1.8 Desapropriação É a única modalidade supressiva de intervenção do Estado na propriedade privada. É o procedimento de direito público pelo qual o Poder Público, pelo qual o Estado transfere para si propriedade de terceiro, por razões de utilidade pública, necessidade pública ou interesse social. a) Natureza jurídica Trata-se de um procedimento híbrido, eis que começa administrativamente e, quase sempre, desemboca na esfera judicial. Tem duas fases: uma administrativa e outra judicial. b) Pressupostos b.1) utilidade pública Quando a transferência do bem se afigura conveniente para a Administração. Ex: desapropriação para construir um viaduto, ampliar uma via, etc. b.2) necessidade pública Quando a transferência da propriedade para o Estado ocorre em situações de emergência, cuja solução exija a desapropriação. Ex: possibilidade de desabamento de um prédio e consequente desapropriação de prédios vizinhos, para realização de obras emergenciais de infraestrutura. b.3) Interesse Social Consiste nas hipóteses em que mais se realça a função social da propriedade. O interesse social, normalmente, pressupõe ação ou omissão por parte do proprietário, no sentido de promover desigualdades sociais ou afronta ao meio ambiente. c) Espécies de Desapropriação c.1) Desapropriação Ordinária – art. 5º, XXIV, CF: XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição; Seus fundamentos são utilidade pública, necessidade pública ou interesse social, sendo certo que, no caso de utilidade e necessidade pública, o diploma que regula a matéria é o Dec. Lei 3.365/41. Já no caso de interesse social, a Lei 4.132/62 regula a matéria. c.2) Desapropriação Urbanística Sancionatória – art. 182, § 4°, III da CF: § 4º - É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: I - parcelamento ou edificação compulsórios; II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo; III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais. Obs.: A utilização dos instrumentos de parcelamento e edificação compulsórios depende de previsão no plano diretor, tal como se depreende do Art. 182, § 4º, I, da CF/88 c/c o Art. 5º e Art 41, III, ambos da Lei nº 10.257/01 (Estatuto da Cidade) e do Art. 41. Deve-se destacar, ainda, que, em nome da gestão democrática das cidades, a qual constitui importante diretriz elencada no Art. 2º, inciso II, da Lei nº 10.257/01, a ser implementada por meio da participação popular, esta é obrigatória no processo de elaboração do plano diretor, na forma do Art. 40, § 4º, da Lei nº 10.257/01. c.3) Desapropriação rural para fins de Reforma Agrária – art. 184, CF: Incide sobre bens imóveis rurais para fins de reforma agrária. Trata-se de modalidade específica de desapropriação por interesse social e permite a perda da propriedade quando esta não esteja cumprindo a sua função social: Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinteanos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei. Importante ressaltar que as benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro. Também, destaca-se que são isentas de impostos federais, estaduais e municipais as operações de transferência de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária e que os imóveis recebidos na reforma agrária são inegociáveis por dez anos, nos termos do Art. 189 da CF/88. Ainda, de acordo com o Art. 185 da CF/88, são insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária, a propriedade produtiva; e a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra. Em relação ao tamanho da área, a classificação é definida pela Lei 8.629/93 e leva em conta o módulo fiscal (e não apenas a metragem), que varia de acordo com cada município. Assim, os imóveis rurais são classificados em: 1) Minifúndio – é o imóvel rural com área inferior a 1 (um) módulo fiscal; 2) Pequena Propriedade - o imóvel de área compreendida entre 1 (um) e 4 (quatro) módulos fiscais; 3) Média Propriedade - o imóvel rural de área superior a 4 (quatro) e até 15 (quinze) módulos fiscais; 4) Grande Propriedade - o imóvel rural de área superior 15 (quinze) módulos fiscais. A lei garantirá tratamento especial à propriedade produtiva e fixará normas para o cumprimento dos requisitos relativos a sua função social. Porém, de acordo com o art. 186 da CF/88, a função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: 1) aproveitamento racional e adequado; 2) utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; 3) observância das disposições que regulam as relações de trabalho; 4) exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. d) Objeto da desapropriação Art. 2º Dec Lei 3.365/41: “todos os bens podem ser desapropriados”. Assim, podem ser desapropriados bens imóveis, móveis, corpóreos ou incorpóreos. Ex: ações, cotas ou direitos relativos ao capital de pessoas. e) Desapropriação de Bens Públicos Pressupõe a direção vertical das entidades federativas. Assim, a União pode desapropriar bens do Estado, que pode desapropriar bens do Município. Embora não haja hierarquia entre os entes federativos, a doutrina admite a possibilidade de desapropriação pelos entes maiores pelo fundamento da preponderância do interesse. O mesmo raciocínio pode ser empregado para desapropriação de bens de Entidades da Administração. f) Margens dos Rios Navegáveis Sob o tema vide a súmula n° 479 do STF: As margens dos rios navegáveis são de domínio público, insuscetíveis de expropriação e, por isso mesmo, excluídas de indenização. Hely Lopes Meirelles defende posição diversa, posto que defende que tais faixas de terra pertencem ao domínio privado. g) Competências g.1) Competência para legislar sobre desapropriação É da união federal, de acordo com o art. 22, II, CF: Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: ... II – desapropriação g.2) Competência Declaratória É a competência para declarar utilidade pública, necessidade pública ou interesse social do bem com vistas à futura desapropriação. É concorrente da União, dos Estados, do DF e dos Municípios (art. 2º Dec Lei 3.365/41). Exceções: DNIT e ANEEL. Entretanto, a competência declaratória para desapropriar para fins de reforma agrária é exclusiva da união (art. 184, §3º, CF). g.3) Competência Executória É a competência para promover a desapropriação. Vai desde a negociação com o proprietário até a finalização do processo judicial de desapropriação. É a mais abrangente de todas as competências, eis que amplia a legitimidade para as concessionárias e delegatários de serviços públicos, mediante autorização expressa, constante de lei ou contrato. h) Fases de uma Desapropriação h.1) Fase Declaratória É feita mediante declaração expropriatória. Define-se declaração expropriatória como a manifestação emitida pelas pessoas federativas no sentido de expressar a vontade para transferir determinado bem para seu patrimônio ou para o patrimônio de pessoa delegada, com o objetivo de executar atividade de interesse público, prevista em lei. Formaliza-se por meio de Decreto do chefe do Executivo. h.1.1) Efeitos da declaração expropriatória ● Permissão às autoridades competentes, no sentido de penetrar no prédio objeto da desapropriação, sendo possível o recurso à força policial; ● Início de contagem do prazo de para ocorrência da caducidade do ato; ● Indicação do estado do bem objeto da desapropriação, para fins de indenização; Assim, se o proprietário, após o Decreto expropriatório promover benfeitorias necessárias, será, por elas, também indenizado. As úteis, somente serão indenizadas se feitas mediante autorização do Poder Público. Já as voluptuárias não serão indenizadas. h.1.2) Caducidade do decreto expropriatório O Decreto expropriatório caduca em 5 anos se o fundamento da desapropriação for utilidade pública. Caduca em 2 anos se o fundamento da desapropriação for o interesse social. Em caso de caducidade, somente poderá ser exarado um novo decreto, após um ano, conforme o art. 10, (Dec Lei 3365/41). i) Fase Executória Inicia-se administrativamente com tentativa de acordo entre o Estado e o proprietário. Quando se logra êxito, diz-se que a desapropriação foi amigável. Trata-se de negócio jurídico bilateral que deve ser formalizado por meio de escritura pública. Não obtida a negociação extrajudicial, passa-se à fase judicial, em que, diante da ausência de acordo, o Estado ajuíza ação de desapropriação em face do proprietário. Nessa fase não se discutem os motivos da desapropriação. A discussão adstringe-se ao quantum indenizatório. Por isso mesmo, a contestação deve estar voltada para a discussão do valor da indenização. Caso o proprietário queira discutir os motivos ou fundamentos da desapropriação, deve fazê-lo logo após o Decreto expropriatório, por meio de ação própria que a Dec. Lei 3365/45, art. 20, chamou de ação direta. i.1) Desapropriação consensual ou amigável Os Arts. 10-A e 10-B do DL nº 35.55, inseridos pela Lei nº 13.867, de 26 de agosto de 2019, inseriu os procedimentos de tratativas consensuais em matéria de desapropriação. Assim, antes de ajuizar a ação, o poder público deverá notificar o proprietário e apresentar-lhe oferta de indenização. Esta notificação deve conter a cópia do ato de declaração de utilidade pública; a planta ou descrição dos bens e suas confrontações; o valor da oferta; e a informação de que o prazo para aceitar ou rejeitar a oferta é de 15 (quinze) dias e de que o silêncio será considerado rejeição. Aceita a oferta e realizado o pagamento, será lavrado acordo, o qual será título hábil para a transcrição no registro de imóveis. Todavia, se a oferta foi rejeitada ou transcorrido o prazo sem manifestação, o poder público ajuizará a ação de desapropriação. Deve-se atentar que, caso se opte pela mediação ou arbitragem, o particular indicará um dos órgãos ou instituições especializados em mediação ou arbitragem previamente cadastrados pelo órgão responsável pela desapropriação. A mediação seguirá as normas do CPC, podendo ser eleita câmara de mediação criada pelo poder público, conforme o art. 32 do CPC. Já a arbitragem seguirá as normas da Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996, e, subsidiariamente, os regulamentos do órgão ou instituição responsável. i.2) Imissão Provisória na posse Admite-se, no curso da fase executória, a figura da imissão provisória na posse, que é a situação jurídica em que o expropriante passa a ter a posse provisória do bem antes da finalização da ação expropriatória.Dois são os pressupostos da imissão provisória na posse: urgência e depósito do valor de acordo com o que a lei estabelecer. Esse valor será arbitrado pelo juiz. i.3) Levantamento parcial do depósito A lei permite que o proprietário, ainda que discorde do preço oferecido, levante o equivalente até 80% da importância depositada (art.33, § 2°, Dec. Lei 3365/41). O levantamento do valor será deferido mediante prova de propriedade, http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9307.htm de quitação de dívidas fiscais que recaiam sobre o bem expropriado, e publicação de editais, com o prazo de 10 dias, para conhecimento de terceiros. Porém, se o juiz verificar que há dúvida fundada sobre o domínio, o preço ficará em depósito, ressalvada aos interessados a ação própria para disputá-lo. Importante ressaltar a inclusão do Art. 34-A, pela Lei nº 13.465/17, estabelecendo que, se houver concordância, reduzida a termo, do expropriado, a decisão concessiva da imissão provisória na posse implicará a aquisição da propriedade pelo expropriante com o consequente registro da propriedade na matrícula do imóvel. Neste caso, o expropriado poderá levantar 100% (cem por cento) do depósito prévio. A lei destaca que a concordância escrita do expropriado não implica renúncia ao seu direito de questionar o preço ofertado em juízo, podendo. j) Indenização Na desapropriação por necessidade, utilidade pública e por interesse social (ordinária), a indenização deve ser prévia, justa e em dinheiro, devendo ser integral, abarcando, além do valor real do imóvel, os danos emergentes, os lucros cessantes, as despesas processuais, os juros, a correção monetária e os honorários advocatícios. Em regra, o pagamento deve ser feito em dinheiro por meio do sistema do precatório (art. 100 da CRFB). Excepcionalmente, o pagamento pode ser efetivado sem a necessidade de precatório. É o que ocorre nos seguintes casos: 1) valor reduzido da indenização (RPV): os créditos de pequeno valor atualmente são pagos por meio da Requisição de Pequeno Valor (RPV), na forma dos arts. 100, §§ 3.º e 4.º, da CRFB e art. 87 do ADCT; e 2) desapropriação promovida por pessoas privadas delegatárias de atividades administrativas: as empresas estatais (empresas públicas e sociedades de economia mista) e os concessionários e permissionários de serviços públicos, quando promovem a ação de desapropriação, não se submetem à regra do precatório. Nas desapropriações sancionatórias (urbanística e agrária), o pagamento da indenização não é prévio, nem em dinheiro, mas, sim, por meio de títulos. Enquanto na desapropriação urbanística a indenização é realizada por títulos da dívida pública, resgatáveis em até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas (art. 182, § 4.º, III, da CRFB), na desapropriação agrária a indenização é implementada por títulos da dívida agrária, resgatáveis no prazo de até 20 anos, a partir do segundo ano de sua emissão (art. 184 da CRFB). Importante destacar que, assim como os proprietários, os locatários também possuem, na forma estabelecida pela Constituição Federal, o direito à justa indenização por todos os prejuízos que as desapropriações lhes causarem, visto que experimenta prejuízos distintos dos suportados pelo locador (proprietário). O proprietário é indenizado pela perda da propriedade (art. 5, XXIV, CF/88) enquanto que o locatário pela interrupção do negócio e, além da perda (comprovada) do estabelecimento empresarial (fundo de comércio). Assim, o STJ, com base em precedentes, firmou jurisprudência no sentido de que o inquilino comercial tem amplo direito de ser ressarcido, independentemente das relações jurídicas entre o Poder público e o proprietário, inclusive por perdas e danos causados por aquele. j.1 Juros compensatórios Vimos que o juiz pode autorizar que, antes da ação de desapropriação ser concluída, o Poder Público já assuma a posse do bem desapropriado, através da “imissão provisória na posse”. Ocorre que, caso o valor da indenização fixada na sentença seja maior que o oferecido pelo poder público, o proprietário fará jus a uma “compensação” por ter sido prematuramente retirado da posse do bem sem ter recebido o “justo valor”, eis que houve diferença. Isso ocorrerá por intermédio dos juros compensatórios, que possuem a finalidade de compensar a perda antecipada do bem. Desse modo, os juros compensatórios na desapropriação são aqueles fixados com o objetivo de compensar o proprietário em razão da ocorrência de imissão provisória na posse e são contados desde a data desta ocorrência. A definição dos valores do percentual aplicável aos juros compensatórios nunca foi pacífico na história brasileira. Na redação original do DL 3.365/41 não havia previsão do pagamento de juros compensatórios nos casos de imissão provisória na posse. Em 1963, o STF, inovando na ordem jurídica, sumulou a matéria (Súmula 164), entendendo que “no processo de desapropriação, são devidos juros compensatórios desde a antecipada imissão de posse, ordenada pelo juiz, por motivo de urgência”. Jurisprudencialmente, se estabeleceu um percentual de 6% ao ano, com base nos juros legais previstos no Código Civil de 1916. Posteriormente, em 1984, diante de um cenário de elevada inflação e diante da morosidade processual nas ações de desapropriação, o STF alterou seu entendimento e elevou os juros compensatórios para 12%, editando a Súmula 618, a qual passou a estabelecer que “na desapropriação, direta ou indireta, a taxa dos juros compensatórios é de 12% (doze por cento) ao ano”. Em 11 de junho de 1997, finalmente uma medida legislativa, com a edição da Medida Provisória nº 1.577/97, a qual estabeleceu, contrariamente à súmula do STF, juros compensatórios de 6% ao ano. Porém, posteriormente, a Medida Provisória 2.183-56 (reedição da MP originária) alterou a redação original estabelecendo percentual de “até 6%”, além da incumbência ao proprietário de provar a perda da renda sobre o imóvel como condição para o deferimento do pagamento dos juros compensatórios e afastar o pagamento quando o grau de utilização e eficiência na exploração da propriedade forem iguais a zero. A OAB ingressou com a ADI nº 2332/DF, sendo que, em 2001, o STF havia concedido medida liminar declarando inconstitucional a redução dos juros compensatórios de 12% para 6%, determinando a volta da taxa para 12%. A decisão do STF foi publicada em 13/09/2001 e possuiu efeitos ex nunc. Assim, a MP 1.577/97 produziu efeitos no período de 11/06/1997 a 13/09/2001. Neste período, a taxa de juros foi de 6%, voltando a 12% após a decisão liminar do STF na ADI 2332/DF. Na mesma decisão foi suspensa a eficácia dos §§1º e 2º do art. 15-A (comprovação de perda de renda e grau de utilização). Em maio de 2018, o STF julgou o mérito da ADI 2332/DF e alterou a decisão liminar proferida em 2001, decidindo pela constitucionalidade do percentual fixo de 6% previsto no art. 15-A do DL 3.365/1941. O STF declarou inconstitucional o vocábulo “até” (6%). Para o Supremo, a utilização do termo “até” para a fixação da taxa de juros a ser aplicada nos casos de imissão provisória na posse cria insegurança jurídica e institui regime de discricionariedade injustificado, violando a determinação constitucional de que o proprietário deverá receber justa indenização. Com essa decisão estão superadas as Súmulas 618 do STF e 408 do STJ. Além disso, o STF também julgou constitucional os §§ 1º e 2º do art. 15- A do DL 3.365/41 os quais condicionam a condenação do Poder Público ao pagamento aos juros compensatórios aos seguintes requisitos: 1) ter ocorrido imissão provisória na posse do imóvel; 2) a comprovação pelo proprietário da perda da renda sofrida pela privação da posse; 3) o imóvel possuir graus de utilização da terra e de eficiência na exploração superiores a zero.Importante destacar que o § 3º também foi julgado constitucional, ou seja, os mesmos requisitos para a incidência de juros compensatórios na ação de desapropriação deverão ser comprovados na ação de desapropriação indireta, bem como às indenizações por restrições decorrentes de atos do Poder Público, em especial aqueles destinados à proteção ambiental. O § 4º, o qual estabelece que, nas ações referidas no § 3º, não será o Poder Público onerado por juros compensatórios relativos a período anterior à aquisição da propriedade ou posse titulada pelo autor da ação foi declarado INCONSTITUCIONAL, sob o argumento de que ele exclui indevidamente o direito aos juros compensatórios, violando a exigência constitucional de justa indenização (art. 5º, XXIV) e o direito fundamental de propriedade (art. 5º, XXII), pois tanto a ação de desapropriação quanto a ação poder desapropriação indireta deverão receber o mesmo tratamento referente aos juros. Por fim, o STF deu interpretação conforme a Constituição ao caput do art. 15-A do DL 3.365/41 a fim de que a base de cálculo dos juros compensatórios seja a diferença eventualmente apurada entre 80% do preço ofertado em juízo e o valor do bem fixado na sentença. Exemplo: O município de Oabeiros ajuizou ação de desapropriação em desfavor de Tício, oferecendo R$ 200 mil pela sua casa, para instalação de uma escola de educação infantil. O art. 33, § 2º, do DL 3365/41 autoriza que o proprietário, mesmo que discorde do valor, levante (saque) 80% da quantia oferecida, o que foi feito por Tício. Assim, o juiz da Vara Fazendária de Oabeiros deferiu a imissão provisória na posse. Ao final da ação, após a perícia, o juiz fixou em R$ 600 mil o valor da indenização a ser paga para Tício (valor real do imóvel). Pela interpretação literal do art. 15-A, os 6% de juros compensatórios deveriam incidir sobre a diferença entre o valor fixado na sentença (R$ 600 mil) e o preço ofertado em juízo (R$ 200 mil). Assim, os juros compensatórios seriam 6% de R$ 400 mil (6% de 600-200). Veja a redação do dispositivo: Art. 15-A No caso de imissão prévia na posse, na desapropriação por necessidade ou utilidade pública e interesse social, inclusive para fins de reforma agrária, havendo divergência entre o preço ofertado em juízo e o valor do bem, fixado na sentença, expressos em termos reais, incidirão juros compensatórios de até seis por cento ao ano sobre o valor da diferença eventualmente apurada, a contar da imissão na posse, vedado o cálculo de juros compostos. (Incluído pela MP 2.183-56, de 2001) Pela interpretação conforme data pelo STF, no exemplo dado, a taxa de juros (6%) deve incidir sobre a diferença entre o valor fixado na sentença (R$ 600 mil) e 80% do preço oferecido pelo Poder Público (em nosso exemplo, 80% de R$ 200 mil = R$ 160 mil). Assim, segundo a interpretação dada pelo STF, os juros compensatórios são 6% de R$ 440 mil (6% de R$ 600 mil – R$ 160 mil). QUADRO RESUMO: *Esquema Período aproximado Taxa de juros compensatórios Fundamento De 1941 até 1963 Não havia Ausência de previsão no DL De 1963 até 1984 6% ao ano (0,5% ao mês) Súmula 164-STF e CC- 1916 De 1984 até 10/06/97 12% (1% ao mês) Súmula 618-STF De 11/06/1997 a 13/09/2001 6% (0,5% ao mês) MP 1.577/97 reeditada sucessivas vezes até a MP 2.183-56. De 14/09/2001 a 28/05/2018 12% (1% ao mês) Decisão liminar na ADI 2332 e Súmula 408-STJ A partir de 28/05/2018 6% (0,5% ao mês) Decisão final na ADI 2332 e art. 15-A do DL 3.365/41 j.2) Juros moratórios Os juros moratórios destinam-se a recompor a perda decorrente do atraso no efetivo pagamento da indenização fixada na decisão final de mérito, e somente serão devidos à razão de até 6% ao ano, a partir de 1o de janeiro do exercício seguinte àquele em que o pagamento deveria ser feito, nos termos do art. 100 da CF/88 (Art 15-B do DL 3.365/41). Assim, não há que se falar em superposição de juros compensatórios e moratórios (anatocismo), visto que incidem em períodos diferentes: 1) Compensatórios – da imissão provisória ou ocupação até a data da expedição do precatório. 2) Moratórios – de janeiro do exercício seguinte àquele em que o pagamento deveria ser feito (prazo constitucional). Por fim, conclui-se que entre a expedição do precatório e o prazo constitucional para o seu pagamento, não incidem juros compensatórios ou moratórios. j.3. Honorários advocatícios Na composição da justa indenização também incluem-se, como dito, os honorários advocatícios. Assim, o § 1º do art. 27 do DL 3.365/41 previu a seguinte regra envolvendo honorários advocatícios na desapropriação: Art. 27 (...) § 1º A sentença que fixar o valor da indenização quando este for superior ao preço oferecido condenará o desapropriante a pagar honorários do advogado, que serão fixados entre meio e cinco por cento do valor da diferença, observado o disposto no § 4º do art. 20 do Código de Processo Civil, não podendo os honorários ultrapassar R$ 151.000,00 (cento e cinquenta e um mil reais). (Redação dada MP 2.183-56, de 2001) Dessa forma, o § 1º do art. 27 prevê a condenação do ente desapropriante em um percentual de honorários que varia de 0,5% a 5%, sobre a diferença do valor oferecido pelo Poder Público e aquele estabelecido na sentença da ação de desapropriação. Ao julgar o mérito da ADI nº 2332/DF, o STF também entendeu pela constitucionalidade dessa previsão de parâmetros mínimo (0,5%) e máximo (5%) à concessão de honorários advocatícios. Assim, nas ações de desapropriação direta ou indireta, embora a Fazenda Pública seja parte no processo, não terá aplicação o escalonamento previsto art. 85, §6º, do Novo CPC no que tange aos honorários advocatícios. Vale a regra da especialidade, cabendo ao juiz fixar, nessas ações, honorários no percentual entre 0,5% e 5%. O STF considerou, porém, que é inconstitucional a expressão “não podendo os honorários ultrapassar R$ 151.000,00 (cento e cinquenta e um mil reais)”, uma vez que ao limitar os honorários em um determinado valor fixo (que não seja um percentual) viola o princípio da proporcionalidade e acaba refletindo no justo preço da indenização que o expropriado deve receber. l) Tredestinação Após a efetivação de uma desapropriação, o ente expropriante deve empregar o bem à finalidade pública que desencadeou o processo de desapropriação. Em não o fazendo, estar-se-á diante da tredestinação, que nada mais é do que a destinação do bem em desconformidade com o plano inicialmente previsto. A tredestinação, entretanto, distingue-se em lícita (na qual o bem é empregado em finalidade diversa da inicialmente pretendida, mas ainda afetada ao interesse público) e ilícita (na qual não se emprega o bem em uma utilização de interesse público). A tredestinação lícita, isto é, a alteração na destinação do bem, por conveniência da administração pública, resguardando, de modo integral, o interesse público, não é vedada pelo ordenamento. m) Retrocessão A tredestinação lícita, por manter o bem afetado a uma finalidade de interesse público não configura direito de retrocessão, isto é, o direito do particular expropriado de reaver o bem, em virtude da sua não utilização. O DL 3.365/41 dispõe, em seu Art. 35, que os bens expropriados, uma vez incorporados à Fazenda Pública, não podem ser objeto de reivindicação. A jurisprudência e a doutrina majoritárias afirmam que somente é possível o exercício do direito de retrocessão quando é dado ao bem outra destinação que não seja de interesse público (tredestinação ilícita) ou que não lhe tenha dado destinação alguma (adestinação). 1.8.1 Desapropriação indireta Desapropriação indireta é o apossamento de bem particular pelo poder público sem a observância dos requisitos da declaração e indenização prévia (processo legal de desapropriação). Costuma ser equiparadaao esbulho podendo ser obstada por meio de ação possessória. É fato administrativo. Não obtendo-se sucesso, após apossado o bem pelo poder público, só restará buscar as perdas e danos, conforme o previsto no Art. 35, do DL 3365/41 (Art. 35. Os bens expropriados, uma vez incorporados à Fazenda Pública, não podem ser objeto de reivindicação, ainda que fundada em nulidade do processo de desapropriação. Qualquer ação, julgada procedente, resolver-se-á em perdas e danos). A desapropriação indireta somente se consuma quando o bem se incorporar definitivamente ao patrimônio do Ente público. É a incorporação que ocasiona a transferência de propriedade. A legitimidade ativa e passiva nesse tipo de ação é inversa à da ação de desapropriação. Na ação de indenização por desapropriação indireta, o autor é sempre o ex proprietário, e ré a pessoa de direito público responsável pela incorporação do bem a seu patrimônio. O autor deve ser o proprietário do imóvel, cabendo-lhe provar o domínio sob pena de não ser parte legítima. Sendo casado o autor, a jurisprudência tem exigido o comparecimento de ambos os cônjuges no polo ativo da ação, sob pena de extinção do processo. O foro competente é o do local do imóvel, e não o do domicílio do réu. A indenização a ser pleiteada na ação de indenização por desapropriação indireta é a mesma aplicável à desapropriação ordinária, nos termos já explicados acima (além do valor real do imóvel, os danos emergentes, os lucros cessantes, as despesas processuais, os juros, a correção monetária e os honorários advocatícios). Em termos de prescrição ao ajuizamento da ação de desapropriação indireta, deve-se observar a súmula nº 119 do STJ, que prevê que a ação de desapropriação indireta prescreve em vinte anos. A súmula, porém, deve ser interpretada à luz do Código Civil de 2002, conforme firmado no REsp 1300442/SC. Firmando-se o seguinte entendimento: O STJ considerou serem aplicáveis dois prazos prescricionais para a ação de desapropriação indireta: 20 anos –> aplicável para todas as ações de desapropriação indireta ajuizadas antes da vigência do Código Civil de 2002 (que se deu em 11/01/2003); 10 anos –> aplicável para as ações de desapropriação indireta ajuizadas após a vigência do Código Civil de 2002. Nesse caso, contudo, seria necessário também observar a aplicabilidade da norma de transição do art. 2.028 do CC/02, segundo o qual serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo. Assim, primeiro, deve-se observar a data do ajuizamento da ação, pois todas as ações anteriores a 11/01/2003 seguirão o prazo vintenário. Tendo sido ajuizada após 11/01/2003, será preciso observar a data do apossamento administrativo. Se entre esta data e a data de entrada em vigor no CC/02 houver transcorrido mais de 10 anos (metade do prazo anterior de 20 anos), deve ser mantida a prescrição vintenária; se transcorrido menos de 10 anos, aplicável será o novo prazo prescricional decenal, contado a partir da entrada em vigor da nova lei. Exemplo: *Esquema Ação ajuizada antes de 11/01/2003 Prazo prescricional de 20 anos (Súmula 119-STJ) Ação ajuizada após 11/01/2003 Período entre o apossamento e 11/01/2003 > 10 anos: prazo prescricional de 20 anos; Período entre o apossamento e 11/01/2003 < 10 anos: prazo prescricional de 10 anos, a contar da data da vigência do CC/02. 1.9. Expropriação Trata-se de SANÇÃO. NÃO confere direito indenizatório ao proprietário: Art 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º. O STF, em 14 de dezembro de 2016, por ocasição do julgamento do RE 635.336, de relatoria do Ministro Gilmar Mendes, decidiu que: A expropriação prevista no art. 243 da CF pode ser afastada, desde que o proprietário comprove que não incorreu em culpa, ainda que in vigilando ou in elegendo. Com essa orientação, o Plenário negou provimento a recurso extraordinário em que se discutia a natureza jurídica da responsabilidade do proprietário de terras nas quais localizada cultura ilegal de plantas psicotrópicas. Salientou que o instituto previsto no art. 243 da CF não é verdadeira espécie de desapropriação, mas uma penalidade imposta ao proprietário que praticou a atividade ilícita de cultivar plantas psicotrópicas, sem autorização prévia do órgão sanitário do Ministério da Saúde. Portanto, a expropriação é espécie de confisco constitucional e tem caráter sancionatório. Ressaltou que em nenhum momento a Constituição menciona a participação do proprietário no cultivo ilícito para ensejar a sanção, mas que não se pode negar que a medida é sancionatória, exigindo-se algum grau de culpa para sua caracterização. Concluiu que a responsabilidade do proprietário, embora subjetiva, é bastante próxima da objetiva. Dessa forma, a função social da propriedade impõe ao proprietário o dever de zelar pelo uso lícito de seu terreno, ainda que não esteja na posse direta. Entretanto, esse dever não é ilimitado, e somente se pode exigir do proprietário que evite o ilícito quando evitá-lo esteja razoavelmente ao seu alcance. Ou seja, o proprietário pode afastar sua responsabilidade se demonstrar que não incorreu em culpa, que foi esbulhado ou até enganado por possuidor ou detentor. QUADRO RESUMO: *Esquema Fundamento Jurídico Objeto Prazo Instituição Indenização Servidão Administrativ a Art 40, do DL 3.355/41 e Art 29 da Lei 8987/95, IX Bens Imóveis Indeterminad o Acordo ou decisão judicial Prévia e condicionada a existência de dano. Prazo prescricional: 5 anos, conforme o Art. 10, § único, do DL 3.365/41. Requisição Administrativ a Art 5º, XXV da CF/88 e Art 22, III, da CF/88 Bens móveis, imóveis e serviços Temporária (durante a necessidade ) – Precária. Autoexecutori edade Ulterior e condicionada a existência de dano Ocupação Temporária Art 36, do DL 3.365/41 (Vinculada à desapropriaçã o). Bens imóveis (vinculada à desapropria ção). Temporária (durante a necessidade ) – Precária. Autoexecutori edade Vinculada à indenização pela da desapropriaçã o. Prazo prescricional: 5 anos, conforme o Art. 10, § único, do DL 3.365/41. Art 58, V, e Art 80, II, ambos da Lei 8.666/93 (Execução de contrato administrativo) Bens imóveis, móveis, pessoal e serviços para execução de contrato Temporária (durante a necessidade ) – Precária. Autoexecutori edade Ulterior e condicionada a existência de dano. Prazo prescricional: 5 anos, conforme o Art. 10, § único, do administrati vo. DL 3.365/41. Tombamento Art 216, § 1º, da CF/88. DL 25/37. Bens móveis e imóveis Indeterminad o De ofício; Voluntário; Compulsório Apenas se esvaziar o direito de propriedade Desapropriaç ão Art 5º, XXIV, da CF/88 (Ordinária). DL 3.365/41 (Nec e Util Pública). Lei 4.132/62 (Inter Social). Bens móveis e imóveis. Definitivo Processo Misto (1ª Fase – Administrativa ; Não havendo acordo, 2ª Fase: Judicial). Justa, prévia e em dinheiro. Art. 182, § 4º, III, da CF (Desap Urbanística) Bens imóveis urbanos Definitivo Processo Misto (1ª Fase – Administrativa ; Não havendo acordo, 2ª Fase: Judicial). Justa e em títulos da dívida pública previamente aprovados, resgatáveis em até 10 anos.Art. 184 da CF/88 (Desap Agrária) Bens imóveis rurais. Definitivo Processo Misto (1ª Fase – Administrativa ; Não havendo acordo, 2ª Fase: Judicial). Justa, prévia e em títulos da dívida agrária, resgatáveis em até 20 anos. Expropriação Art 243 da CF/88. E Lei Bens imóveis Definitivo Processo Judicial (Ação Sem qualquer indenização. 8.257/91. rurais e urbanos (plantas psicotrópic as e trabalho escravo) expropriatória ) 2 INTERVENÇÃO DO ESTADO NO DOMÍNIO ECONÔMICO ➢ Atuação típica do Estado Social – regulação; ➢ A Economia não mais se regula pela mão invisível do mercado; ➢ Constitui um Fato Político e um Fato Jurídico; Assim: 2.1 A intervenção do Estado no domínio econômico Condiz, conforme os ensinamentos de Diógenes Gasparini, a todo ato ou medida legal que vise restringir, condicionar ou suprimir a iniciativa privada em determinada área, objetivando o desenvolvimento nacional e a justiça social, assegurados os direitos e garantias individuais. 2.2 Motivos determinantes a) Garantir a livre competição; b) Buscar a eliminação da desigualdade. 2.3 Fundamentos da ordem econômica a) Valorização do trabalho humano; b) Livre iniciativa. 2.4 Princípios da Ordem Econômica a) Soberania nacional; b) Propriedade privada; c) Função social da propriedade; d) Livre concorrência; e) Defesa do consumidor; f) Defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; g) Redução das desigualdades regionais e sociais; h) Busca do pleno emprego; i) Tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. 2.5 Principais modalidades de intervenção a) Estímulo e fomento à iniciativa privada; b) Pressão sobre a sociedade para imprimir determinado sentido às suas atividades; c) Prestação de serviços que se ramificam em instituições jurídicas situadas fora de tratamento na área administrativa do Estado. 2.6 Principais formas de intervenção a) Ofensiva: com a criação de empresas para atuarem em nome do Estado; b) Defensiva: incluem-se expedientes como o do tabelamento dos preços; c) Intermediária: encontramos as medidas reguladoras e controladoras. 2.7 Principais tipos de intervenção a) Direta: intervenção do Estado empresa (principalmente por intermédio das sociedades de economia mista e das empresas públicas, que visam, em última análise, evitar práticas de concorrência desleal entre o setor público e o setor privado. Observação importante: Quando essas entidades forem prestadoras de serviço público, sua liberdade operacional é irrestrita. Assim, no que diz respeito à vedação de concessão de privilégios às empresas públicas e sociedades de economia mista (§ 2º do art. 173 da CF/88), somente é aplicável às exploradoras de atividade econômica e não às prestadoras de serviço público. b) Indireta: se realiza por meio da legislação regulamentadora ou reguladora (como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado). ● Regulação: Ato jurídico (disciplinada por normas da ciência jurídica), politico (expressão de um Poder Institucional) e econômico (atua na atividade produtiva, de circulação, distribuição e consumo de bens e serviços). ● Fiscalização: exercida por intermédio do poder de polícia (verificação se os agentes econômicos privados estão atuando em conformidade com as disposições normativas incidentes sobre as suas respectivas atividades). Exemplo: a atuação do CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica como órgão administrativo encarregado de atuar contra o abuso do poder econômico – infrações à ordem econômica e concorrencial. ● Incentivo: O Estado promotor da economia por intermédio de ações como proteção, estímulo, promoção, favorecimento e auxílio à iniciativa privada. Ex: Fomento (positivo ou negativo – econômico ou social). ● Planejamento: Processo técnico de intervenção do Estado no domínio econômico com o escopo de organizar as atividades econômicas para obter resultados previamente colimados. 2.8 Componentes da intervenção a) Intervenção como forma de ação: ação do Estado por intermédio do conjunto de atos praticados pelo Poder Público (legislando, executando, estimulando, regulamentando ou regulando medidas) para atingir certos fins (a longo prazo – reformas estruturais ou curto prazo – medidas conjunturais – política econômica). b) Intervenção como ação direta do Estado: intervenção pelos Poderes Públicos ou criação de organismos que pratiquem atividades econômicas ao lado dos particulares e em condições de igualdade. c) Intervenção nos limites do domínio econômico: campo de ação, os limites impostos pelo Direito quanto à intervenção. Dentre os principais mecanismos de fiscalização à ordem econômica, encontra-se o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC), instituído pela Lei nº 12.529, DE 30 DE NOVEMBRO DE 2011, que visa, principalmente, a prevenção e repressão às infrações contra a ordem econômica. O SBDC é formado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica - CADE e pela Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda. O CADE é entidade judicante com jurisdição em todo o território nacional, que se constitui em autarquia federal, vinculada ao Ministério da Justiça, com sede e foro no Distrito Federal, e é constituído pelos seguintes órgãos: I - Tribunal Administrativo de Defesa Econômica; II - Superintendência-Geral; III - Departamento de Estudos Econômicos. O Tribunal Administrativo, órgão judicante, tem como membros um Presidente e seis Conselheiros escolhidos dentre cidadãos com mais de 30 (trinta) anos de idade, de notório saber jurídico ou econômico e reputação ilibada, nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovados pelo Senado Federal. O mandato do Presidente e dos Conselheiros é de 4 (quatro) anos, não coincidentes, vedada a recondução. Os cargos de Presidente e de Conselheiro são de dedicação exclusiva, não se admitindo qualquer acumulação, salvo as constitucionalmente permitidas. No caso de renúncia, morte, impedimento, falta ou perda de mandato do Presidente do Tribunal, assumirá o Conselheiro mais antigo no cargo ou o mais idoso, nessa ordem, até nova nomeação, sem prejuízo de suas atribuições. No caso de renúncia, morte ou perda de mandato de Conselheiro, proceder-se-á a nova nomeação, para completar o mandato do substituído. A perda de mandato do Presidente ou dos Conselheiros do Cade só poderá ocorrer em virtude de decisão do Senado Federal, por provocação do Presidente da República, ou em razão de condenação penal irrecorrível por crime doloso, ou de processo disciplinar de conformidade com o que prevê a Lei no 8.112, de 11 de dezembro de 1990 e a Lei no 8.429, de 2 de junho de 1992, e por infringência de quaisquer das vedações previstas no art. 8º da Lei 12.529/11. Também perderá o mandato, automaticamente, o membro do Tribunal que faltar a 3 (três) reuniões ordinárias consecutivas, ou 20 (vinte) intercaladas, ressalvados os afastamentos temporários autorizados pelo Plenário. 2.9 Das Infrações da Ordem Econômica A Lei aplica-se às pessoas físicas ou jurídicas de direito público ou privado, bem como a quaisquer associações de entidades ou pessoas, constituídas de fato ou de direito, ainda que temporariamente, com ou sem personalidade jurídica, mesmo que exerçam atividade sob regime de monopólio legal (Art 31). As diversas formas de infração da ordem econômicaimplicam a responsabilidade da empresa e a responsabilidade individual de seus dirigentes ou administradores, solidariamente (Art 32). Serão solidariamente responsáveis as empresas ou entidades integrantes de grupo econômico, de fato ou de direito, quando pelo menos uma delas praticar infração à ordem econômica (Art 33). A personalidade jurídica do responsável por infração da ordem econômica poderá ser desconsiderada quando houver da parte deste abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social (Art 34). Obs. 1: A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração. Obs. 2: A repressão das infrações da ordem econômica não exclui a punição de outros ilícitos previstos em lei. Constituem infração da ordem econômica, independentemente de culpa, os atos sob qualquer forma manifestados, que tenham por objeto ou possam produzir os seguintes efeitos, ainda que não sejam alcançados: I - limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência ou a livre iniciativa; II - dominar mercado relevante de bens ou serviços; III - aumentar arbitrariamente os lucros; e IV - exercer de forma abusiva posição dominante. Obs. 1: A conquista de mercado resultante de processo natural fundado na maior eficiência de agente econômico em relação a seus competidores não caracteriza o ilícito de dominar mercado relevante de bens ou serviços. Obs. 2: Presume-se posição dominante sempre que uma empresa ou grupo de empresas for capaz de alterar unilateral ou coordenadamente as condições de mercado ou quando controlar 20% (vinte por cento) ou mais do mercado relevante, podendo este percentual ser alterado pelo Cade para setores específicos da economia. As seguintes condutas, além de outras, caracterizam infração da ordem econômica: I - acordar, combinar, manipular ou ajustar com concorrente, sob qualquer forma: a) os preços de bens ou serviços ofertados individualmente; b) a produção ou a comercialização de uma quantidade restrita ou limitada de bens ou a prestação de um número, volume ou frequência restrita ou limitada de serviços; c) a divisão de partes ou segmentos de um mercado atual ou potencial de bens ou serviços, mediante, dentre outros, a distribuição de clientes, fornecedores, regiões ou períodos; d) preços, condições, vantagens ou abstenção em licitação pública; II - promover, obter ou influenciar a adoção de conduta comercial uniforme ou concertada entre concorrentes; III - limitar ou impedir o acesso de novas empresas ao mercado; IV - criar dificuldades à constituição, ao funcionamento ou ao desenvolvimento de empresa concorrente ou de fornecedor, adquirente ou financiador de bens ou serviços; V - impedir o acesso de concorrente às fontes de insumo, matérias- primas, equipamentos ou tecnologia, bem como aos canais de distribuição; VI - exigir ou conceder exclusividade para divulgação de publicidade nos meios de comunicação de massa; VII - utilizar meios enganosos para provocar a oscilação de preços de terceiros; VIII - regular mercados de bens ou serviços, estabelecendo acordos para limitar ou controlar a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico, a produção de bens ou prestação de serviços, ou para dificultar investimentos destinados à produção de bens ou serviços ou à sua distribuição; IX - impor, no comércio de bens ou serviços, a distribuidores, varejistas e representantes preços de revenda, descontos, condições de pagamento, quantidades mínimas ou máximas, margem de lucro ou quaisquer outras condições de comercialização relativos a negócios destes com terceiros; X - discriminar adquirentes ou fornecedores de bens ou serviços por meio da fixação diferenciada de preços, ou de condições operacionais de venda ou prestação de serviços; XI - recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, dentro das condições de pagamento normais aos usos e costumes comerciais; XII - dificultar ou romper a continuidade ou desenvolvimento de relações comerciais de prazo indeterminado em razão de recusa da outra parte em submeter-se a cláusulas e condições comerciais injustificáveis ou anticoncorrenciais; XIII - destruir, inutilizar ou açambarcar matérias-primas, produtos intermediários ou acabados, assim como destruir, inutilizar ou dificultar a operação de equipamentos destinados a produzi-los, distribuí-los ou transportá-los; XIV - açambarcar ou impedir a exploração de direitos de propriedade industrial ou intelectual ou de tecnologia; XV - vender mercadoria ou prestar serviços injustificadamente abaixo do preço de custo; XVI - reter bens de produção ou de consumo, exceto para garantir a cobertura dos custos de produção; XVII - cessar parcial ou totalmente as atividades da empresa sem justa causa comprovada; XVIII - subordinar a venda de um bem à aquisição de outro ou à utilização de um serviço, ou subordinar a prestação de um serviço à utilização de outro ou à aquisição de um bem; e XIX - exercer ou explorar abusivamente direitos de propriedade industrial, intelectual, tecnologia ou marca. 2.10 Das Penas A prática de infração da ordem econômica sujeita os responsáveis às seguintes penas: I - no caso de empresa, multa de 0,1% (um décimo por cento) a 20% (vinte por cento) do valor do faturamento bruto da empresa, grupo ou conglomerado obtido, no último exercício anterior à instauração do processo administrativo, no ramo de atividade empresarial em que ocorreu a infração, a qual nunca será inferior à vantagem auferida, quando for possível sua estimação; II - no caso das demais pessoas físicas ou jurídicas de direito público ou privado, bem como quaisquer associações de entidades ou pessoas constituídas de fato ou de direito, ainda que temporariamente, com ou sem personalidade jurídica, que não exerçam atividade empresarial, não sendo possível utilizar-se o critério do valor do faturamento bruto, a multa será entre R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) e R$ 2.000.000.000,00 (dois bilhões de reais); III - no caso de administrador, direta ou indiretamente responsável pela infração cometida, quando comprovada a sua culpa ou dolo, multa de 1% (um por cento) a 20% (vinte por cento) daquela aplicada à empresa, no caso previsto no item I, ou às pessoas jurídicas ou entidades, nos casos previstos no item II. Obs. 1: Em caso de reincidência, as multas cominadas serão aplicadas em dobro. Obs. 2: No cálculo do valor da multa de que trata o item I, o Cade poderá considerar o faturamento total da empresa ou grupo de empresas, quando não dispuser do valor do faturamento no ramo de atividade empresarial em que ocorreu a infração, definido pelo Cade, ou quando este for apresentado de forma incompleta e/ou não demonstrado de forma inequívoca e idônea. Sem prejuízo das penas elencadas acima, quando assim exigir a gravidade dos fatos ou o interesse público geral, poderão ser impostas as seguintes penas, isolada ou cumulativamente: I - a publicação, em meia página e a expensas do infrator, em jornal indicado na decisão, de extrato da decisão condenatória, por 2 (dois) dias seguidos, de 1 (uma) a 3 (três) semanas consecutivas; II - a proibição de contratar com instituições financeiras oficiais e participar de licitação tendo por objeto aquisições, alienações, realização de obras e serviços, concessão de serviços públicos, na administração pública federal, estadual, municipal e do Distrito Federal, bem como em entidades da administração indireta, por prazo não inferior a 5 (cinco) anos; III - a inscrição do infrator no Cadastro Nacional de Defesa do Consumidor; IV - a recomendação aos órgãos públicos competentes para que: a) seja concedida licença compulsória de direito de propriedade intelectual de titularidade doinfrator, quando a infração estiver relacionada ao uso desse direito; b) não seja concedido ao infrator parcelamento de tributos federais por ele devidos ou para que sejam cancelados, no todo ou em parte, incentivos fiscais ou subsídios públicos; V - a cisão de sociedade, transferência de controle societário, venda de ativos ou cessação parcial de atividade; VI - a proibição de exercer o comércio em nome próprio ou como representante de pessoa jurídica, pelo prazo de até 5 (cinco) anos; e VII - qualquer outro ato ou providência necessários para a eliminação dos efeitos nocivos à ordem econômica. Obs. 1: Pela continuidade de atos ou situações que configurem infração da ordem econômica, após decisão do Tribunal determinando sua cessação, bem como pelo não cumprimento de obrigações de fazer ou não fazer impostas, ou pelo descumprimento de medida preventiva ou termo de compromisso de cessação previstos nesta Lei, o responsável fica sujeito a multa diária fixada em valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), podendo ser aumentada em até 50 (cinquenta) vezes, se assim recomendar a situação econômica do infrator e a gravidade da infração. Obs. 2: A recusa, omissão ou retardamento injustificado de informação ou documentos solicitados pelo Cade ou pela Secretaria de Acompanhamento Econômico constitui infração punível com multa diária de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), podendo ser aumentada em até 20 (vinte) vezes, se necessário para garantir sua eficácia, em razão da situação econômica do infrator. O montante fixado para a multa diária constará do documento que contiver a requisição da autoridade competente. Compete à autoridade requisitante a aplicação da multa. Tratando-se de empresa estrangeira, responde solidariamente pelo pagamento da multa de que trata o caput sua filial, sucursal, escritório ou estabelecimento situado no País. Obs. 3: A falta injustificada do representado ou de terceiros, quando intimados para prestar esclarecimentos, no curso de inquérito ou processo administrativo, sujeitará o faltante à multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 15.000,00 (quinze mil reais) para cada falta, aplicada conforme sua situação econômica. A multa será aplicada mediante auto de infração pela autoridade competente. Obs. 4: Impedir, obstruir ou de qualquer outra forma dificultar a realização de inspeção autorizada pelo Plenário do Tribunal, pelo Conselheiro-Relator ou pela Superintendência-Geral no curso de procedimento preparatório, inquérito administrativo, processo administrativo ou qualquer outro procedimento sujeitará o inspecionado ao pagamento de multa de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) a R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais), conforme a situação econômica do infrator, mediante a lavratura de auto de infração pelo órgão competente. Obs. 5: A enganosidade ou a falsidade de informações, de documentos ou de declarações prestadas por qualquer pessoa ao Cade ou à Secretaria de Acompanhamento Econômico será punível com multa pecuniária no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais), de acordo com a gravidade dos fatos e a situação econômica do infrator, sem prejuízo das demais cominações legais cabíveis. Obs. 6: Aquele que prestar serviços ao Cade ou a Seae, a qualquer título, e que der causa, mesmo que por mera culpa, à disseminação indevida de informação acerca de empresa, coberta por sigilo, será punível com multa pecuniária de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 20.000,00 (vinte mil reais), sem prejuízo de abertura de outros procedimentos cabíveis. Se o autor da disseminação indevida estiver servindo o Cade em virtude de mandato, ou na qualidade de Procurador Federal ou Economista-Chefe, a multa será em dobro. O Regulamento definirá o procedimento para que uma informação seja tida como sigilosa, no âmbito do Cade e da Seae. Na aplicação das penas estabelecidas nesta Lei, levar-se-á em consideração: I - a gravidade da infração; II - a boa-fé do infrator; III - a vantagem auferida ou pretendida pelo infrator; IV - a consumação ou não da infração; V - o grau de lesão, ou perigo de lesão, à livre concorrência, à economia nacional, aos consumidores, ou a terceiros; VI - os efeitos econômicos negativos produzidos no mercado; VII - a situação econômica do infrator; e VIII - a reincidência. 2.11 Da prescrição Prescrevem em 5 (cinco) anos as ações punitivas da administração pública federal, direta e indireta, objetivando apurar infrações da ordem econômica, contados da data da prática do ilícito ou, no caso de infração permanente ou continuada, do dia em que tiver cessada a prática do ilícito. Interrompe a prescrição qualquer ato administrativo ou judicial que tenha por objeto a apuração da infração contra a ordem econômica mencionada no caput deste artigo, bem como a notificação ou a intimação da investigada. Suspende-se a prescrição durante a vigência do compromisso de cessação ou do acordo em controle de concentrações. Obs. 1: Incide a prescrição no procedimento administrativo paralisado por mais de 3 (três) anos, pendente de julgamento ou despacho, cujos autos serão arquivados de ofício ou mediante requerimento da parte interessada, sem prejuízo da apuração da responsabilidade funcional decorrente da paralisação, se for o caso. Obs. 2: Quando o fato objeto da ação punitiva da administração também constituir crime, a prescrição reger-se-á pelo prazo previsto na lei penal. 3 IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA E PRÁTICAS DE COMPLIANCE 3.1 Previsão Normativa Lei nº 8.429/92 (Lei de natureza civil – com matéria de direito administrativo– não tem natureza penal). Em termos gerais: improbidade = desonestidade. Obs.: o ato de improbidade administrativa, em si, não é crime (ação de natureza civil pública). Porém, de a conduta também for tipificada como crime ou infração administrativa, poderá haver a responsabilização também na esfera administrativa disciplinar, civil e penal. 3.2 Modalidades de Improbidade Rol exemplificativo, não exaustivo. a) Atos que ocasionaram enriquecimento ilícito (Art. 9° da Lei n° 8.429/92) – exige o dolo; b) Atos que ocasionaram prejuízo ao erário (Art. 10 da Lei n° 8.429/92) – exige dolo ou culpa; c) Atos contrários aos princípios da Administração (Art. 11 da Lei n° 8.429/92) – exige dolo. d) Atos decorrentes de Concessão ou Aplicação Indevida de Benefício Financeiro ou Tributário (Art. 10-A da Lei nº 8.429/92, inserido pela LC nº 157/2016 - exige o dolo; (Vigência só a partir de 30 de dezembro de 2017) 3.3 Sanções por atos de improbidade Poderão ser aplicadas cumulativamente e independem da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público. Obs.: basta a prática da conduta para que o agente seja responsabilizado por ato de improbidade, independente do resultado alcançado. Exceção: quanto ao ressarcimento ao erário, que só será aplicado quando houver efetivo prejuízo ao patrimônio público. Quando a conduta praticada for enquadrada em mais de uma modalidade de improbidade, as sanções poderão ser aplicadas cumulativamente e, na impossibilidade, será aplicada a sanção mais grave (princípio da subsunção). Previsão Constitucional (Art. 37, § 4º) a) Ressarcimento ao erário; b) Suspensão dos direitos políticos; c) Indisponibilidade dos bens; d) Perda da função pública. Previsão Infraconstitucional (Art 12 da Lei nº 8.429/92) a) Ressarcimento ao erário; b) Suspensão dos direitos políticos; c) Indisponibilidade dos bens; d) Perda da função pública; e) A multa civil e a proibição de contratar com a Administração e receber benefícios e incentivos fiscais ou creditícios. OBSERVAÇÕES: • De acordo com o STJ, o princípio da insignificância não afasta a aplicação de sanção com base na Lei n° 8.429/92 àquele que tenha praticado ato de improbidade;• O sucessor daquele que causar lesão ao patrimônio público ou se enriquecer ilicitamente estará sujeito às previsões da Lei n° 8.429/92, no que couber, até o limite do valor da herança; QUADRO COMPARATIVO: *Esquema Enriqueciment o ilícito (Art 9) Prejuízo ao Erário (Art 10) Afronta aos princípios da Administração (Art 11) Ressarcimento integral Se houver dano Sim Se houver dano Perda da função pública Sim Sim Sim Suspensão dos direitos políticos De 8 a 10 anos De 5 a 8 anos De 3 a 5 anos Multa civil Até 3x o valor do acréscimo Até 2x o valor do dano Até 100x o valor da remuneração Proibição de contratar com a Administração 10 anos 5 anos 3 anos Perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio Sim Se houver acréscimo Não (Vigência a partir de 31 de dezembro de 2017): *Esquema Concessão ou Aplicação Indevida de Benefício Financeiro ou Tributário (Art 10-A) Ressarcimento integral Se houver dano Perda da função pública Sim Suspensão dos direitos políticos De 5 a 8 anos Multa civil Até 3x o valor do benefício financeiro ou tributário Proibição de contratar com a Administração Não Perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio Não OBSERVAÇÕES: • Não há foro privilegiado para o julgamento da ação de improbidade, que tramita à justiça comum pelo rito ordinário. • Exceção: autoridades que não respondem por ato de improbidade administrativa, mas por crime de responsabilidade. • Competência: Senado Federal (Art 52, incisos I e II, da CF/88) 3.4 Sujeito passivo da conduta É a Administração direta e indireta ou qualquer entidade em que o Poder Público tenha concorrido com pelo menos 50% do patrimônio. Estão também sujeitos às penalidades os atos de improbidade praticados contra o patrimônio de entidade que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público bem como daquelas para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com menos de 50% do patrimônio ou da receita anual, limitando-se, nestes casos, a sanção patrimonial à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos. 3.5 Sujeito ativo da conduta É qualquer agente público (ocupe cargo ou emprego, desempenhe função ou mandato) – atos de improbidade próprios; ou o particular que concorreu ou se beneficiou com a prática do ato – atos de improbidade impróprios ou por equiparação. Magistrados e membros do MP O STF, outrora, já decidiu que a Lei n° 8.429/92 não se aplicava aos agentes políticos, inclusive aos magistrados e membros do MP, já que os agentes políticos praticam crime de responsabilidade, devendo ser responsabilizados pela Lei n° 1.079/50 (Lei dos Crimes de Responsabilidade). Atualmente, parece ser pacífico o entendimento, capitaneado pelo STJ, de que magistrados e membros do MP são agentes públicos para fins de aplicação da Lei de Improbidade Administrativa, cabendo contra eles a respectiva ação, na forma dos arts. 2° e 3° da Lei n° 8.429/92 (REsp n° 1.249.531). Prefeitos e vereadores O STJ decidiu que os prefeitos podem ser processados por seus atos pela Lei n° 8.429/92, eis que não se enquadram entre as autoridades submetidas à Lei n° 1.079/50. O precedente do STF (Rcl n° 2.138) reforça a tese sobre o cabimento da ação de improbidade em face de agente político de qualquer esfera dos Poderes da União, Estados e Municípios, ressalvando-se apenas as hipóteses em que houver demanda ajuizada contra presidente da República ou ministros de Estado. Assim, não há óbices para a aplicação concomitante do Decreto-Lei n° 201/67 e a Lei n° 8.429/92, pois, "o primeiro impõe a prefeito e vereadores um julgamento político, enquanto a segunda submete-os ao julgamento pela via judicial, pela prática do mesmo fato" (REsp n.°1.106.159). Aos prefeitos e vereadores será aplicada a Lei n° 8.429/92, já que eles não foram albergados pela Lei n° 1.079/50, por isso, são processados e julgados na justiça comum. Sendo assim, é possível afirmar que um prefeito poderá ser julgado por ato de improbidade pelo juízo singular, com base na Lei n° 8.429/92, e também pelo crime de responsabilidade, julgado pela Câmara dos Vereadores com base no Decreto-Lei n° 201/67. 3.6 Indisponibilidade de bens Não constitui sanção, mas medida de garantia destinada a assegurar o ressarcimento ao erário. De acordo com o STJ, se o agente estiver sendo acusado pela eventual prática de atos de improbidade administrativa, poderá ser decretada a indisponibilidade de seus bens. Para isso, deverá ser provado o fumus boni iuris, ou seja, que há fortes indícios de que essa pessoa realmente praticou atos de improbidade. Não é necessário provar, entretanto, o periculum in mora, ou seja, que a pessoa está se desfazendo de seu patrimônio para evitar o ressarcimento. O pressuposto cautelar do periculum in mora está implícito, já que o bloqueio de bens visa a “assegurar o integral ressarcimento do dano”. O STJ tem decidido, também, que pode ser decretada a indisponibilidade sobre bens que o acusado possuía antes ou depois da suposta prática do ato de improbidade (inclusive aos bens adquiridos antes da vigência da LIA). Pode ocorrer tanto na ação principal (judicial) quanto no procedimento administrativo (por requerimento ao Ministério Público ou à Procuradoria da Pessoa Jurídica respectiva). 3.7 Legitimados à propositura A ação de improbidade será proposta pelo MP ou pessoa jurídica interessada. O MP, quando não for parte na ação, obrigatoriamente, (sob pena de nulidade) atuará como fiscal da lei (custus legis). Obs.: A ação de improbidade poderá ser proposta independente da aprovação ou rejeição de contas públicas, seja pelo órgão de controle interno ou pelo Tribunal de Contas, logo, aquele que praticou o ato de improbidade poderá ser processado mesmo que as contas tenham sido aprovadas; 3.8 Possibilidade de leniência A Lei nº 13.964/19, ao alterar a redação do art. 17, § 1º, da Lei nº 8.429/92, passou a possibilitar a celebração de acordo de não persecução cível, o que então era vedado. Assim, havendo a possibilidade de solução consensual, poderão as partes requerer ao juiz a interrupção do prazo para a contestação, por prazo não superior a 90 (noventa) dias, para a sua realização. 3.9 Prescrição A ação de improbidade deverá ser proposta dentro dos seguintes prazos prescricionais: • Até 5 anos, contados do término do mandato, cargo em comissão ou função comissionada; • No mesmo prazo prescricional previsto em lei específica para a aplicação da penalidade de demissão a bem do serviço público, nos casos de exercício de cargo efetivo ou emprego público (de acordo com a Lei n° 8.112/90, esse prazo é de 5 anos contados do conhecimento do fato); e • até 5 anos, contados da data da apresentação à administração pública da prestação de contas final pelas entidades paraestatais. • Lembre-se do prazo prescricional aplicável ao particular, previsto na Súmula 634 do STJ: “Ao particular aplica-se o mesmo regime prescricional previsto na Lei de Improbidade Administrativa para o agente público.” Obs. 1: As ações de ressarcimento ao erário por dano decorrente de ato doloso de improbidade administrativa, são imprescritíveis, conforme jurisprudência do STF, já com tese de repercussão geral fixada. Obs. 2: Por ser uma ação de natureza cível, aplica-se a prescrição intercorrente prevista para ações desta natureza. 3.10 Procedimento Administrativo Inicia-se de ofício pela Administração ou mediante Representação, a qual será escrita ou reduzida a termo e assinada, conterá a qualificação do representante, as informações sobre o fato e sua autoria e a indicação das provas de que tenha conhecimento. A representação poderá ser rejeitada pela autoridade (por
Compartilhar