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A U L A 1 – I N S T I N T O S . A MBI E N T E . C O N S T I T U C I O N A L . A U L A 2 – E G O A R C A I C O . F A N T A S I A . I N T R O J E Ç Ã O . P R O J E Ç Ã O . A N O Ç Ã O DE O BJ E T O . I DE N T I F I C A Ç Ã O P R O J E T I V A . A U L A 3 –A N O Ç Ã O DE P O S I Ç Ã O . P O S I Ç Ã O E S Q U I ZO P A R A N O I D E . A N S I E DA D E P E R S E C U T Ó R I A . DE F E S A S E S Q U I ZO I DE S . A U L A 4 – P O S I Ç Ã O DE P R E S S I V A . A N S I E DA D E DE P R E S S I V A . DE F E S A S MA N Í A C A S . I N I BI Ç Ã O . R E P A R A Ç Ã O . A U L A 5 – I N V E J A . G R A T I DÃ O . DE F E S A S C O N T R A I N V E J A . A U L A 6 – S U P E R E G O A R C A I C O . É DI P O A R C A I C O . Teorias da personalidade II Melanie Klein (1882-1960) Cite fatores internos e externos indicados no trecho. Que eventos possibilitam mudança de fatores internos? Embora a importância das circunstâncias externas seja agora cada vez mais reconhecida, a importância dos fatores internos ainda tem sido subestimada. Os impulsos destrutivos, variáveis de indivíduo para indivíduo, são parte integrante da vida mental mesmo em circunstâncias favoráveis. Temos, portanto, que considerar o desenvolvimento da criança e as atitudes dos adultos como resultantes da interação entre influências internas e externas. A luta entre amor e ódio – agora que nossa capacidade de compreender os bebês aumentou – pode ser em alguma medida reconhecida através da observação cuidadosa. Alguns bebês vivenciam um intenso ressentimento frente a qualquer frustração e o demonstram sendo incapazes de aceitar gratificação quando esta se segue à privação. Eu sugeriria que tais crianças têm uma agressividade inata e uma voracidade mais fortes do que aqueles bebês cujas explosões ocasionais de raiva logo cessam. Se um bebê mostra que é capaz de aceitar alimento e amor, isto significa que ele pode, relativamente rápido, superar o ressentimento em relação à frustração e, quando a gratificação é novamente proporcionada, recuperar seus sentimentos de amor. (KLEIN, 1991, p. 283). Aula 1 Instintos Ambiente Constitucional Expressão dos instintos (fatores internos) - sentimentos de amor: instinto de vida - agressividade, ressentimento, incapacidade de reconciliação, raiva, voracidade: instinto de morte Provisões ambientais (fatores externos) - frustração e privação - gratificação Interação de fatores internos e externos - incremento de sentimentos amorosos por circunstâncias favoráveis: círculo benévolo - incremento de impulsos destrutivos por circunstâncias desfavoráveis: círculo vicioso - A agressividade inata está destinada a ser incrementada por circunstâncias externas desfavoráveis e, de modo inverso, é mitigada pelo amor e pela compreensão que a criança pequena recebe. (KLEIN, 1991, p. 283). - limitação: força de fatores constitucionais internos eventualmente diminui abertura à influências externas Cite funções do ego indicadas no trecho. Em que a visão kleiniana de ego difere da de Freud? Antes de continuar minha descrição do desenvolvimento da criança, sinto que deveria definir sucintamente os termos self e ego a partir do ponto de vista psicanalítico. O ego, de acordo com Freud, é a parte organizada do self, constantemente influenciada por impulsos instintivos, porém mantendo-os sob controle da repressão. Além disso, o ego dirige todas as atividades e estabelece e mantém a relação com o mundo externo. O termo self é utilizado para abranger toda a personalidade, o que inclui não apenas o ego mas também a vida pulsional, que Freud nomeou id. Meu trabalho levou-me a supor que o ego existe e opera desde o nascimento e que, além das funções mencionadas acima, tem a importante tarefa de defender-se contra a ansiedade suscitada pela luta interna e por influências internas [sic]. Mais ainda, ele inicia uma série de processos dos quais selecionarei primeiramente a introjeção e a projeção. Voltarei mais tarde ao não menos importante processo de cisão, isto é, a divisão de impulsos e objetos. (KLEIN, 1991, p. 283-284). Aula 2 Ego arcaico Fantasia Introjeção Projeção Noção de objeto Identificação projetiva Ego arcaico - organização egoica desde o nascimento - diferente de Freud, que entende o ego como uma derivação posterior de partes do id - recebe as pressões de impulsos instintuais - relação com o mundo externo - defesa contra ansiedades - introjeção, projeção e cisão - repressão (posteriormente) O que você entende por “representante psíquico da pulsão”? Qual a diferença entre devaneio e fantasia em Klein? “Fantasia é (em primeira instância) o corolário mental, o representante psíquico da pulsão. Não há impulso, necessidade ou resposta pulsionais que não sejam vivenciados como fantasia inconsciente... Uma fantasia representa o conteúdo particular das necessidades ou sentimentos (por exemplo, desejos, medos, ansiedades, triunfos, amor ou tristeza) que dominam a mente no momento”. Fantasias inconscientes não são o mesmo que devaneios (embora estejam ligadas a eles), mas sim uma atividade da mente que ocorre em níveis inconscientes profundos e que acompanha todo impulso vivenciado pelo bebê. Assim, por exemplo, um bebê faminto pode lidar temporariamente com sua fome alucinando a satisfação de lhe ser dado o seio, com todos os prazeres que normalmente obtém dele, tais como o gosto do leite, o calor do seio e ser segurado e amado pela mãe. Mas a fantasia inconsciente também toma a forma oposta de sentir-se privado e perseguido pelo seio que se recusa a dar essa satisfação. As fantasias – ao se tornarem mais elaboradas e referirem-se a uma variedade mais ampla de objetos e situações – continuam através de todo o desenvolvimento e acompanham todas as atividades. Elas nunca deixam de desempenhar um papel importante na vida mental. (KLEIN, 1991, p. 284-285). Aula 2 Ego arcaico Fantasia Introjeção Projeção Noção de objeto Identificação projetiva Fantasias - diferem de devaneios - devaneio entendido como atividade eminentemente substitutiva da realidade - atividade mental inconsciente - forma arcaica do pensamento - traduzem mentalmente a vivência corporal que domina o sujeito no momento: - “Mesmo em qualidade rudimentar, desde o início inscrevem-se psiquicamente interpretações subjetivas do que está sendo sentido em nível orgânico [...]. As fantasias primevas mais remotas emergem dos impulsos corporais e se interconectam com as sensações e afetos gerados no mundo interno, tecendo em trama indivisível a matéria humana da qual somos constituídos, em processo não só biológico, mas também mental, desde o início” (CHAVES & ALMEIDA, 2016, p. 42) - colorem de modo vívido a percepção do mundo interno - colorem, igualmente, percepção do mundo externo - perduram na vida integrando naturalmente qualquer atividade mental Que sinônimos você daria, respectivamente, para os processos de introjeção e projeção? Como vim a reconhecer à luz de meu trabalho psicanalítico com crianças, a introjeção e a projeção funcionam desde o início da vida pós-natal como algumas das primeiras atividades do ego, o qual em minha concepção opera desde o nascimento. Considerada a partir deste ângulo, a introjeção significa que o mundo externo, seu impacto, as situações que o bebê atravessa e os objetos que ele encontra não são vivenciados apenas como externos, mas são levados para dentro do self, vindo a fazer parte de sua vida interior. Essa vida interior, mesmo no adulto, não pode ser avaliada sem esses acréscimos à personalidade derivados da introjeção contínua. A projeção, que ocorre simultaneamente, implica que há uma capacidade na criança de atribuir a outras pessoas a sua volta sentimentos de diversos tipos, predominantemente o amor e o ódio (KLEIN, 1991, p. 284) Aula 2 Ego arcaico Fantasia Introjeção Projeção Noção de objeto Identificação projetiva Introjeção e projeção - processos atuantes desde o início da vida - na introjeção, marca-se o movimentode trazer para dentro aspectos encontrados no mundo externo - na projeção, marca-se o movimento inverso, de colocar para fora aspectos contidos no mundo interno - processos paralelos que marcam tanto a formação da personalidade como a percepção da realidade externa. Embora considerados simultâneos, no trecho parece sugerida uma precedência original entre introjeção e projeção. O que viria antes? Formei a concepção de que o amor e o ódio dirigidos à mãe estão intimamente ligados à capacidade do bebê muito pequeno de projetar todas as suas emoções sobre ela, convertendo-a desse modo em um objeto bom, assim como em um objeto perigoso. No entanto, a introjeção e a projeção, embora enraizadas na infância, não são apenas processos infantis. Elas fazem parte das fantasias do bebê, que a meu ver também operam desde o princípio e ajudam a moldar sua impressão do ambiente. Através da introjeção, essa imagem transformada do mundo externo influencia o que ocorre em sua mente. Assim é construído um mundo interno que é parcialmente um reflexo do externo. Isto é, o duplo processo de introjeção e projeção contribui para a interação entre fatores externos e internos. Essa interação prossegue através de cada estágio da vida. Da mesma forma, a introjeção e a projeção continuam através da vida e transformam-se no decorrer da maturação, sem nunca perder sua importância na relação do indivíduo com o mundo a sua volta. Mesmo no adulto, portanto, o julgamento da realidade nunca é completamente livre da influência de seu mundo interno. (KLEIN, 1991, p. 284). Aula 2 Ego arcaico Fantasia Introjeção Projeção Noção de objeto Identificação projetiva Noção de objeto (In)Distinção entre objetos internos e externos - a introjeção e a projeção contribuem para a construção dupla do objeto - configuração simultânea de objetos internos e objetos externos, parcialmente refletidos - correspondência relativa e influência mútua entre o mundo externo (realidade) e o mundo interno Distinção entre objetos parciais e totais - construção inicial de objetos parciais, percebidos sem nuances, ou bom ou perigoso. - construção posterior de um objeto total, que sintetiza aspectos bons e maus Como você conseguiria diferenciar projeção de identificação projetiva? Através da projeção de si mesmo ou de parte dos próprios impulsos e sentimentos para dentro de outra pessoa, ocorre uma identificação com esta, embora diferente da identificação advinda da introjeção. Pois, se um objeto é tomado para dentro do self (introjetado), a ênfase recai sobre a aquisição de algumas das características desse objeto e em ser influenciado por elas. Por outro lado, quando se coloca parte de si mesmo dentro de outra pessoa (projetar), a identificação se baseia na atribuição a essa outra pessoa de algumas das próprias qualidades. A projeção tem muitas repercussões. Somos inclinados a atribuir a outras pessoas – em certo sentido colocar dentro delas – algumas de nossas próprias emoções e pensamentos, e é óbvio que a natureza amistosa ou hostil dessa projeção dependerá de quão equilibrados ou perseguidos estejamos. Através da atribuição de parte de nossos sentimentos a outra pessoa, compreendemos seus sentimentos, suas necessidades e satisfações. Em outras palavras, estamos nos colocando em sua pele. Há pessoas que vão tão longe nessa direção que se perdem inteiramente nos outros e tornam-se incapazes de julgamento objetivo. Da mesma forma, a introjeção excessiva ameaça a força do ego porque este fica completamente dominado pelo objeto introjetado. (KLEIN, 1991, p. 286-7). Aula 2 Ego arcaico Fantasia Introjeção Projeção Noção de objeto Identificação projetiva Identificação projetiva - conceito introduzido por Klein para dar conta da experiência de habitação no corpo de outrem (“nos colocando em sua pele”) - inicialmente, identificação projetiva destacada pela natureza mais hostil, de controle dos objetos - posteriormente, reconhecida outra finalidade, de caráter amistoso, ligada à comunicação com o objeto. - não rigorosamente distinto do conceito de projeção pela própria autora - capacidade do receptor para acolher e transformar conteúdo projetado: elo de ligação (Bion) - sentimento de unidade entre projetor e receptor (Ogden) - o receptor por vezes se identifica com a projeção: transidentificação projetiva (Grotstein) Como você diferenciaria as ideias de posição e fase (ou estágio)? Na tentativa de lidar com essa dicotomia de bons e maus sentimentos, os bebês organizam suas experiências em posições, ou formas de lidar com os objetos internos e externos. Klein escolheu o termo “posição” em vez de “estágio do desenvolvimento” para indicar que as posições se alternam para frente e para trás; elas não são períodos de tempo ou fases do desenvolvimento pelos quais uma pessoa passa. Apesar de ter usado rótulos psiquiátricos ou patológicos, Klein tinha em mente que essas posições representavam o crescimento e o desenvolvimento social normal. (FEIST, 2015, p. 97). Embora Melanie Klein esteja sempre pensando em termos de desenvolvimento emocional e, portanto, a linha cronológica do tempo seja um de seus referenciais, podemos afirmar que [...] Ela, como vimos, volta a sua atenção para as posições esquizoparanoide e depressiva, que são configurações daquilo que está sempre sincronicamente em jogo no funcionamento psíquico em um dado instante, ainda que a dominância possa estar em um ou outro dos dois pólos. (CINTRA, & FIGUEIREDO, 2010, p. 147). Aula 3 A noção de posição Posição esquizoparanoide Ansiedade persecutória Defesas esquizoides Fases genital latência fálica anal oral Posições esquizoparanoide depressiva pontos de fixação regressão (passado regressa) Aula 3 A noção de posição Posição esquizoparanoide Ansiedade persecutória Defesas esquizoides Noção de posição - estruturante logo no início da vida - cada posição comporta uma combinação estruturada de afetos (em especial, angústias), defesas e modos de relação com objetos internos e externos, implicando uma grande variedade de elementos corporais e mentais. (CINTRA, & FIGUEIREDO, 2010, p. 148). - fenômeno natural e recorrente ao longo da vida - as ansiedades depressivas e persecutórias nunca são totalmente superadas. Elas podem reaparecer temporariamente sob pressão interna ou externa, embora uma pessoa relativamente normal possa suportar essa recorrência e recuperar seu equilíbrio. (KLEIN, 1991, p. 290). - dois pólos “sincronicamente em jogo”, mas alternadamente dominantes: - posições esquizoparanoide e depressiva simultaneamente operantes, embora com diferentes pesos de acordo com o estado emocional O que você entende pelo termo esquizoparanoide? De acordo com Klein, os bebês desenvolvem a posição esquizoparanoide durante os primeiros 3 a 4 meses de vida, durante os quais a percepção que o ego tem do mundo externo é subjetiva e fantástica, em vez de objetiva e real. Assim, os sentimentos persecutórios são considerados paranoides; ou seja, eles não estão fundamentados em algum perigo real ou imediato do mundo externo. A criança precisa manter o seio bom e o seio mau separados, porque confundi-los seria arriscar a aniquilação do seio bom e perdê-lo como porto seguro. No mundo esquizoide do bebê, a ira e os sentimentos destrutivos são direcionados para o seio mau, enquanto os sentimentos de amor e conforto estão associados ao seio bom. (FEIST, 2015, p. 97). Aula 3 A noção de posição Posição esquizoparanoide Ansiedade persecutória Defesas esquizoides Posição esquizoparanoide - intensificada originalmente no 1º trim. de vida - os impulsos destrutivos onipotentes, a ansiedade persecutória e a cisão predominam nos primeiros três ou quatro meses de vida. Descrevi essa combinação de mecanismos e ansiedades como sendo a posição esquizoparanoide, que em casos extremos torna-se a base da paranoia e da doença esquizofrênica. (KLEIN, 1991, p. 287). - relação com objetos parciais, seio bom e seio mau, particularmente- estados de fragilidade na integração do ego propiciam a intensificação da ansiedade persecutória e do uso de defesas esquizoides - no bebê, tal fragilidade se dá justamente por faltar inicialmente coesão ao ego arcaico No trecho, que fantasias descrevem o estado de coisas vivido na posição esquizoparanoide? Apresentei a hipótese que o bebê recém-nascido vivencia, tanto no processo de nascimento quanto no ajustamento à situação pós-natal, ansiedade de natureza persecutória. Isso pode ser explicado pelo fato de que o bebezinho, sem ser capaz de apreendê-lo intelectualmente, sente inconscientemente todo desconforto como tendo sido infligido a ele por forças hostis. Se lhe é oferecido conforto prontamente – em especial calor, o modo amoroso de segurá-lo e a gratificação de ser alimentado -, isso dá origem a emoções mais felizes. Tal conforto é sentido como vindo de forças boas e, acredito, torna possível a primeira relação de amor do bebê com uma pessoa ou, como um psicanalista diria, com um objeto. (KLEIN, 1991, p. 282). Aula 3 A noção de posição Posição esquizoparanoide Ansiedade persecutória Defesas esquizoides Ansiedade persecutória - desconforto, dor, frustação vividos como perseguição de forças hostis - reforçada após ataques fantasiados sobre o objeto: medo de retaliação - impulsos destrutivos dirigidos a qualquer pessoa estão sempre fadados a dar origem ao sentimento de que essa pessoa também se tornará hostil e retaliadora (KLEIN, 1991, p. 283). - círculo vicioso: ansiedade persecutória desconforto (contra)ataque medo de retaliação Contra quais objetos se erguem defesas esquizoides? Como é quebrado o ciclo vicioso na posição esquizoparanoide? Referi-me anteriormente à tendência do ego infantil para cindir impulsos e objetos. Considero esta como mais uma das atividades primordiais do ego. Essa tendência para cindir resulta em parte do fato de faltar em grande medida coesão ao ego arcaico. Mas [...] a ansiedade persecutória reforça a necessidade de manter o objeto amado separado do objeto perigoso e, portanto, a necessidade de cindir o amor do ódio. Pois a autopreservação do bebezinho depende da sua confiança em uma mãe boa. Através da cisão de dois aspectos e de agarrar-se ao bom, ele preserva sua crença em um objeto bom e em sua capacidade de amá-lo, sendo esta uma condição essencial para manter-se vivo. Pois, sem ao menos um tanto desse sentimento, estaria exposto a um mundo inteiramente hostil que, ele teme, o destruiria. Esse mundo hostil também seria construído dentro dele. (KLEIN, 1991, p. 287). No desenvolvimento normal, com a integração crescente do ego, os processos de cisão diminuem e a maior capacidade para entender a realidade externa e para, em alguma medida, conciliar os impulsos contraditórios do bebê leva também a uma síntese maior dos aspectos bons e maus do objeto. Isso significa que pessoas podem ser amadas apesar de suas falhas e que o mundo não é visto apenas em termos de preto e branco. (KLEIN, 1991, p. 289). Aula 3 A noção de posição Posição esquizoparanoide Ansiedade persecutória Defesas esquizoides Defesas esquizoides - sob a pressão de perseguidores não somente externos como também internos - ideia de um mundo hostil construído também dentro do bebê - cisão amor/ódio origina duas vias defensivas, não excludentes, que correm paralelamente - cisão e projeção de conteúdos destrutivos para aliviar tensão interna - cisão e introjeção de conteúdos amorosos para alimentar a crença num seio bom mau ódio amor bom - a introjeção reiterada do seio bom possibilita o fortalecimento do ego arcaico, conduzindo à elaboração da posição esquizoparanoide síntese ponto de viragem cisão O que você entende pelo termo depressivo? O que traz peso ao sujeito na ansiedade depressiva? O superego – a parte do ego que critica e controla os impulsos perigosos e que Freud primeiro situou aproximadamente no quinto ano de vida – opera, de acordo com minhas concepções, muito mais cedo. É minha hipótese que, no quinto ou sexto mês de vida, o bebê começa a temer pelo estrago que seus impulsos destrutivos e sua voracidade podem causar, ou podem ter causado, aos seus objetos amados. Isso porque ele não pode ainda distinguir entre seus desejos e impulsos e os efeitos reais deles. Ele vivencia sentimentos de culpa e a necessidade presente de preservar esses objetos e de repará-los pelo dano feito. A ansiedade agora vivenciada é de natureza predominantemente depressiva. Reconheci as emoções que a acompanham, assim como as defesas desenvolvidas contra elas, como fazendo parte do desenvolvimento normal, e cunhei o termo “posição depressiva”. (KLEIN, 1991, p. 289). Aula 4 Posição depressiva Ansiedade depressiva Defesas maníacas Inibição Reparação Posição depressiva - intensificada originalmente no 2º trim. de vida - relação com objeto total - alteração dada pela síntese do objeto com a elaboração da posição esquizoparanoide - a (re)conquista do estado de fortalecimento do ego propicia a intensificação da ansiedade depressiva e do uso de defesas maníacas - no bebê, soma-se a isso, como agravante, a incapacidade de distinguir adequadamente entre o que vive interiormente e o que de fato acontece exteriormente Ansiedade depressiva - temor por causar e, especialmente, por haver causado dano ao objeto amado - medo de perder o objeto externo - sentimento de culpa - para baixo: pesar, gravidade O que você entende pelo termo maníaco? O que é fundamentalmente negado na defesa maníaca? As fantasias ou condutas a que se aplica o qualificativo “maníaco” implicam sempre e essencialmente processos de negação e de onipotência. Por exemplo, há uma negação onipotente da dependência dos bons objetos e, ainda, negação dos danos, em fantasia, a eles causados em função de formas intensamente vorazes e predatórias (sádicas) de amor; indo além, negação dos danos causados em função das raivas geradas pelas decepções e frustrações vividas com estes objetos [...]; negação, portanto, de suas falhas, de suas faltas e de suas culpas reais ou imaginárias. É importante percebermos que Melanie Klein admite formas benignas e necessárias de mania ao longo do desenvolvimento emocional do sujeito [...] Em contrapartida, há formas malignas e muito nocivas de mania, principalmente quando a sua intensidade obstrui toda possibilidade de contato com a realidade e, principalmente, impede a elaboração das experiências emocionais que daí resultam. Ou seja, não se trata na defesa maníaca de apenas negar a realidade externa, mas, fundamentalmente, de negar, não fazer contato, não processar e não elaborar a realidade interna com o que esta pode comportar de dor e sofrimento, desprazer, decepção, medo e desamparo. (FIGUEIREDO, 2017, p. 27-28). Aula 4 Posição depressiva Ansiedade depressiva Defesas maníacas Inibição Reparação Defesas maníacas - negar o aspecto mortal, o disruptivo da vida, o que acaba por limitar o contato tanto com o outro como consigo mesmo - o pesar inaugura três vias defensivas, não excludentes, que correm paralelamente - colocar-se “para cima” (ascensivo) e fugir “para fora” (escapismo), negando a “morte dentro” (FIGUEIREDO, 2017, p. 29) - ensimesmar-se, evitando novos danos ao objeto externo (ou seja, negando a possibilidade de “morte fora”) - fazer reviver o objeto externo danificado, negando a irreversibilidade da morte ponto de viragem negação reparação pesar apesar dos pesares inibição Associe fantasias envolvidas na inibição e na reparação. Como se chega numa imagem menos fantasiosa do mundo? Os sentimentos de culpa, que ocasionalmente surgem em todos nós, têm raízes muito profundas na infância, e a tendência a fazer reparação desempenha um papel importante em nossas sublimações e relações de objeto. Quando observamos bebês a partir desse ângulo, podemos ver que às vezes, sem qualquer causa externa particular, eles parecem deprimidos. Nesse estágio eles tentam agradar as pessoas ao redor de todasas maneiras que lhe são possíveis – sorrisos, gestos divertidos e até mesmo tentativas de alimentar a mãe pondo- lhe uma colher de comida na boca. Ao mesmo tempo, esse também é um período no qual frequentemente se manifestam inibições em relação à alimentação e pesadelos, e todos esses sintomas atingem o ápice na época do desmame. [...] Se os sentimentos de culpa que surgem na criança não são excessivos, a necessidade de fazer reparação e outros processos que fazem parte do crescimento trazem alívio. (KLEIN, 1991, p. 289-290). Um trabalho de elaboração ocorre em alguma medida no desenvolvimento individual normal. A adaptação da realidade externa aumenta, e com isso o bebê adquire uma imagem menos fantasiosa do mundo ao seu redor. A experiência recorrente da mãe indo embora e voltando para ele torna a ausência dela menos atemorizadora e, portanto, diminui a suspeita do bebê de que ela o deixe. Dessa forma, ele gradualmente elabora seus medos arcaicos e chega a uma aceitação de seus impulsos e emoções conflitantes. (KLEIN, 1991, p. 289-290). Aula 4 Posição depressiva Ansiedade depressiva Defesas maníacas Inibição Reparação Inibição - o retraimento surge como recurso para proteção do objeto externo - risco do triunfo da morte dentro: o sujeito se fecha ao contato com o outro Reparação - necessidade de fazer algo para compensar os ataques reais ou fantasiados sobre o objeto externo - duplo risco, no caso da reparação maníaca - Como observa Hanna Segal, “o objeto externo [ao qual se devotam as reparações maníacas] está lá para distrair a atenção da situação interna’ (FIGUEIREDO, 2017, p. 34). - supor que o objeto externo não possua recursos próprios para o cuidado de si - chave para elaboração da posição depressiva: reparar no duplo sentido, recuperar e notar - A posição depressiva é resolvida quando as crianças fantasiam que fizeram a reparação por suas transgressões anteriores e quando reconhecem que a mãe não irá embora permanentemente, mas retornará depois de cada partida (FEIST, 2015, p. 98). posição esquizoparanoide posição depressiva abre com o estado de fragilidade do ego impotência relação com objetos parciais seio bom e seio mau ansiedade persecutória medo do mal que o objeto externo pode lhe causar medo da retaliação defesas esquizoides cisão e projeção do perseguidor interno cisão e introjeção do seio bom fecha com a integração do ego e síntese do objeto abre com o estado de fortalecimento do ego onipotência relação com objetos totais objeto com toda sua ambivalência ansiedade depressiva pesar pelo mal causado ao objeto externo receio de perder o objeto externo defesas maníacas para cima e para fora para dentro reparação fecha com o redimensionamento da onipotência e a consideração mais realista do objeto externo Quadro comparativo entre posições ego objeto ansiedade defesas elaboração Qual a diferença básica entre ciúme e inveja? O que não pode ser reconhecido na inveja? Quando pensamos em ciúme, a que nos referimos? Referimo-nos a um relacionamento que envolve três pessoas; sente-se ciúme porque alguém a quem se ama, ou a quem se está ligado, demonstra mais interesse ou afeição por outrem. Mas, de modo geral, isso é considerado normal, penso que porque o ciúme está baseado no amor ou afeição por um pessoa – de outro modo não se sentiria ciúme. Assim, há uma razão para o ciúme que o torna, em certa medida, tolerável e perdoável. [...] Mas com a inveja o quadro é diferente: ela envolve basicamente duas pessoas, e inveja-se o que a outra pessoa possui, ou suas capacidades, conquistas, qualidades pessoais etc. A inveja envolve, em maior ou menor grau, uma qualidade espoliadora, ou pelo menos hostilidade para com as boas capacidades de outra pessoa, ainda que isso possa não ser reconhecido. [...] Se se destrói por ciúme, há alguma razão para tanto. Mas na inveja a espoliação se faz por ódio, e parece não haver nenhuma circunstância atenuante. [...] A inveja muitas vezes parece estar ligada à voracidade, e no entanto é diferente dela. A pessoa que é voraz quer obter algo – desconsiderando o custo para a pessoa de quem ela quer esse algo – e reconhece que há algo de bom a ser obtido. Mas a pessoa invejosa não está tão interessada em obter algo para si própria e usufruir isso – ainda que vorazmente –, mas sim em tirar algo da outra pessoa, algo de que ela possa então tomar posse, de forma que se torne parte de si própria. (JOSEPH, 1992, p. 186, itálico nosso). Aula 5 Inveja Gratidão Defesa contra inveja - A inveja é uma relação dual, que mesmo no amor envolve, de modo subjacente e insidioso, o ódio - e, caso ela evolua para o ciúme, com a suspeita de que um rival toma o amor que o sujeito obtinha do objeto, - desvia o ódio para tal rival e libera o objeto de ser odiado. amor ódio (ics) ódio amor? sujeito objeto rival Em que elemento da inveja se insere o ciúme? Qual é principal característica da inveja? Em relação à inveja, não é fácil explicar como a mãe que alimenta o bebê e cuida dele pode ser também objeto de inveja. Mas sempre que a criança está faminta ou se sente negligenciada, sua frustração leva à fantasia de que o leite e o amor são deliberadamente recusados a ela ou retidos pela mãe em benefício da própria mãe. Tais suspeitas constituem a base da inveja. É inerente ao sentimento de inveja não apenas o desejo da posse mas também uma forte necessidade de estragar o prazer que as outras pessoas têm com o objeto cobiçado – necessidade que tende a estragar o próprio objeto. Se a inveja é muito intensa, essa característica de estragar resulta em uma relação perturbada com a mãe assim como, mais tarde, com outras pessoas. Também significa que nada pode ser plenamente desfrutado, porque a coisa desejada já foi estragada pela inveja. Além disso, se a inveja é intensa, aquilo que é bom não pode ser assimilado, não pode se tornar parte da vida interior e, desse modo, dar origem à gratidão. Em contraste, a capacidade de desfrutar plenamente o que foi recebido e a experiência de gratidão em relação à pessoa que dá influenciam intensamente tanto o caráter quanto as relações com outras pessoas. (KLEIN, 1991, p. 288). Aula 5 Inveja Gratidão Defesa contra inveja Inveja - origem em fantasias de que a mãe retém para si (ou eventualmente para outro: suspeita na base do ciúme) a gratificação recusada ao bebê - hipótese de um diferencial de prazer entre a satisfação obtida na situação pré- e pós-natal - ativa fantasias de roubo e destruição do corpo materno - A inveja é, pois, uma das manifestações dos impulsos destrutivos, de fato a mais radical de todas, pois leva a atacar e destruir o objeto bom, aquele cuja introjeção é a base da saúde psíquica. A inveja é sempre, e na sua maior profundidade, inveja das fontes de vida e, em última análise, inveja da vida. (CINTRA, & FIGUEIREDO, 2010, p. 125). - efeito de estragar a fruição do seio bom Gratidão - capacidade de usar o seio bom - usufruir o que o ambiente pode oferecer - apreciar do que há de bom no outro e em si Como você caracterizaria o mecanismo básico da defesa contra a inveja descrito abaixo? Um modo de evitar a inveja excessiva é idealizar a pessoa que a provoca – idealizar de tal forma que a outra pessoa é vista como tão linda ou tendo capacidade tão marcantes, como tendo feito um trabalho tão extraordinário etc. que a distância entre a outra pessoa e si próprio fica tão grande que aparentemente nenhuma comparação é possível. [...] Um tipo de cisão diferente, mas provavelmente relacionado, pode ser observado no tipo de defesa em que o indivíduo tende a desvalorizar o self, fazendo parecer que não tem nada para dar, que é tão pobre e limitado, aumentando a distância entre o self e a outra pessoa. (JOSEPH, 1992, p. 190-91). É claro que restringir contatos, evitar áreas de vivência que estimulem rivalidade e inveja, é outro modo importante de defender-se contra a inveja [...]. Lembro-me bem de um pacientemeu que era bem-sucedido no trabalho, casado, com filhos. Ele conseguia viver um vida tão restrita que ele e sua mulher nunca convidavam pessoas à sua casa, a não ser parentes próximos, e isso muito raramente, e um ou dois pobres-diabos, por assim dizer. Ele olhava para sua mulher de um jeito um tanto superior e, de forma polida, desdenhava seus colegas. Procurava evitar todos os eventos sociais, [...] não viajava [...], com essa vida tão restrita, o que ele conseguia era nunca ser realmente desafiado. Ele conseguia quase que evitar ser colocado numa posição [...] que pudesse fazê-lo sentir-se inferior ou invejoso (JOSEPH, 1992, p. 193). Aula 5 Inveja Gratidão Defesa contra inveja Defesa contra inveja - a cisão pode cumprir função defensiva contra a inveja - mediante idealização do outro (o bom exclusivamente no outro) - ou depreciação de si mesmo (o mau exclusivamente em si e o bom no outro) - ou depreciação do outro (o bom exclusivamente em si e o mau no outro) - nos três casos, o objetivo é aumentar as distâncias , limitando o desafio e a possibilidade de comparações - a projeção pode cumprir função defensiva, quando permite livrar o sujeito de sentimentos invejosos, atribuindo-os a outras pessoas. - o ciúme pode cumprir função defensiva, quando permite preservar o objeto amado do ódio, transpondo tal ódio para o outro de quem se sente ciúme. O que você entende pelo termo superego arcaico pulsional e desmedido? As Erínias são divindades vingadoras que perseguem Orestes depois que este assassinou a mãe. Elas produzem um tormento indescritível, e podem ser comparadas a uma culpa corrosiva, que consome o assassino como se tivesse ele mil insetos devoradores dentro de sua cabeça, sem trégua e sem descanso. Melanie Klein mostra que a aparição da culpa nos estágios mais primitivos do desenvolvimento faz com que ela seja infiltrada na violência pulsional, tornando- se tão intensa que rapidamente se transforma em um movimento de perseguição. A crueldade do superego precoce deriva dos impulsos sádicos da criança projetados sobre os pais que, novamente introjetados, tornam-se assim, figuras persecutórias e vingadoras. A lógica kleiniana mostra que é o próprio sadismo da criança a força responsável pela criação dos aspectos descontrolados e severos de seu superego primitivo, que funcionam como as Erínias, obedecendo a lei cega do retorno – o assassinato da mãe retorna sobre Orestes com violência, ameaçando-o e perseguindo-o. O funcionamento do superego arcaico responde sempre à lei da vingança (CINTRA, & FIGUEIREDO, 2010, p. 166). Os aspectos mais aterrorizantes da fantasia devem-se à presença de um superego arcaico, cuja influência difere muito do superego edípico, organizador e instaurador da lei. Esse superego arcaico pulsional e desmedido produz ordens e contra-ordens incompatíveis e de uma severidade extrema, [...]. A diminuição do caráter aterrorizador e da severidade de suas injunções, ordens e contra-ordens é a única maneira de recuperar a saúde psíquica, embora a sua dissolução e integração ao ego nem sempre sejam completas, permanecendo alguns resíduos inassimiláveis. [...] Pode-se afirmar que o aspecto mais nevrálgico da análise kleiniana é a transformação do superego primitivo em sua forma edípica, capaz de instaurar o pacto social. (CINTRA, & FIGUEIREDO, 2010, p. 165). Aula 6 Superego arcaico Édipo arcaico Superego arcaico - anterior ao Édipo - diferente da consideração freudiana do superego como herdeiro do complexo de Édipo que instaura a lei nas relações sociais - baseado numa lógica de extrema severidade, cuja fonte residiria nos impulsos sádicos do bebê dirigidos ao corpo materno Por que em psicanálise não se trabalha com a ideia de um complexo de Electra? Por mais que sejam bons os sentimentos da criança em relação a ambos os pais, a agressividade e o ódio também se mantém em atividade. Uma expressão disso é a rivalidade com o pai resultante dos desejos do menino dirigidos à mãe e todas as fantasias ligadas a eles. Tal rivalidade encontra expressão no complexo de Édipo, que pode ser claramente observado em crianças de três, quatro ou cinco anos de idade. Esse complexo existe, no entanto, muito mais cedo, e está enraizado nas primeiras suspeitas que o bebê tem de que o pai tira dele o amor e a atenção da mãe. Há grandes diferenças entre o complexo de Édipo da menina e o do menino, que eu caracterizarei dizendo apenas que enquanto o menino, em seu desenvolvimento genital, retorna ao seu objeto original, a mãe, e portanto busca objetos femininos, com consequentes ciúmes em relação ao pai e aos homens em geral, a menina deve, em alguma medida, afastar-se da mãe e encontrar o objeto de seus desejos no pai e, mais tarde, em outros homens. Fiz esta exposição, no entanto, em uma forma demasiado simplificada, porque o menino sente-se também atraído pelo pai e identifica-se com ele e, portanto, um elemento de homossexualidade faz parte do desenvolvimento normal. O mesmo se aplica à menina, para quem a relação com a mãe e com as mulheres em geral nunca perde a importância. O complexo de Édipo, assim, não é apenas uma questão de sentimentos de ódio e rivalidade dirigidos a um dos pais e o amor dirigido ao outro: sentimentos de amor e o sentimento de culpa também entram em conexão com o progenitor rival. Portanto, muitas emoções conflitantes centram-se no complexo de Édipo. (KLEIN, 1991, p. 286) Aula 6 Superego arcaico Édipo arcaico Édipo arcaico - refere-se sempre à busca de amor materno - segue uma temática depressiva dada pela medo de perda da mãe. - inicialmente a reflexão kleiniana sobre o Édipo pressupunha a ideia de um objeto parcial masculino: o pênis (bom ou mau) - Klein chegava a formular que em fantasia o bebê considerava o pênis do pai contido no corpo materno - com a reflexão sobre inveja fica marcada a vigência de um ordenador edípico exclusivamente feminino: o seio. - compreensão estrutural do Édipo, baseada na presença/ausência do seio - o terceiro é introduzido justamente pela percepção da ausência do seio. Referências CHAVES, L. P ; ALMEIDA, M. M. O corpo kleiniano: a morada do ser. Ide (São Paulo) [online]. 2016, vol.38, n.61, p. 41-49. ISSN 0101-3106. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/ide/v38n61/v38n61a0 4.pdf. CINTRA, E. M. de U., & FIGUEIREDO, L. C. Considerações gerais sobre alguns aspectos do conjunto do sistema kleiniano. Melanie Klein. Estilo e pensamento. São Paulo: Escuta, 2010. p. 147-170. FEIST, J. Klein: Teoria das relações objetais. Teorias da personalidade. 8. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. (e-book). p. 96-101. FIGUEIREDO, L. C. A Psicanálise e o sofrimento psíquico na atualidade: uma contribuição a partir de Melanie Klein e D. Winnicott. Cadernos de Psicanálise - SPCRJ, v. 33, n. 1, p. 25-36, 2017. JOSEPH, B. A inveja na vida cotidiana. p. 185-194. In FELDMAN, M., & SPILIUS, E. B. Equilíbrio psíquico e mudança psíquica. Rio de Janeiro: Imago, 1992, p. 185-194. KLEIN, M. Nosso mundo adulto e suas raízes na infância. Inveja e gratidão e outros trabalhos. 2. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1991. p. 280-297. http://pepsic.bvsalud.org/pdf/ide/v38n61/v38n61a04.pdf Avalie o caso e construa uma análise baseada em Klein. Na resposta é preciso apresentar trechos que suscitaram tal construção e fazer a articulação entre os trechos selecionados e a teoria kleiniana. Um psicólogo atende um menino que tem dificuldades de socialização na escola. Em geral brinca sozinho ou então é zombado, inclusive por colegas menores. Numa sessão, em que brincavam de batalha naval, o menino pede revanche depois de perder o jogo, mesmo tendo o psicólogo lhe facilitado em algumas ocasiões. Enquanto jogam novamente, o psicólogo pergunta, caso fosse um navio, qual deles o menino seria. Ele escolhe ser uma fragata, mas dá uma risadinha. O psicólogo desconfia que o menino pensara em outro navio e comenta: “Estou achando que bem no fundo você seria outro navio”. O menino então responde que ele era um porta-aviõese escapa-lhe um arroto. O psicólogo logo emenda: “Hum, olha só o porta-aviões abriu as portas para voarem os aviões”. O menino ri e desta vez ele até ganha, sem contar com qualquer facilitação do psicólogo. Avalie o caso e construa uma análise baseada em Klein. Na resposta é preciso apresentar trechos que suscitaram tal construção e fazer a articulação entre os trechos selecionados e a teoria kleiniana. Uma paciente está em terapia há quase dois anos. Apesar desse tempo, o psicólogo observa que pouco tem sido produzido. A paciente traz pouco material. Em geral, mantém-se num registro descritivo de sua rotina semanal e as intervenções do psicólogo não surtem efeitos. A sensação de que pouco se produz é reforçada ainda por um histórico de atrasos recorrentes. Sempre que a paciente se atrasa, o psicólogo é tomado por uma impressão: “não estou dando conta, logo ela vai me escapar”. Numa sessão em que ela novamente se atrasara, o psicólogo se sentiu confortável para apostar numa intervenção: expôs à paciente o receio, que o tomava enquanto a esperava, de que ela estava prestes a largar a terapia. Nesse momento a paciente recupera uma lembrança de infância, das vezes em que o pai viajava a trabalho e ela era pega pelo medo de que ele nunca mais retornaria. Avalie o caso e construa uma análise baseada em Klein. Na resposta é preciso apresentar trechos que suscitaram tal construção e fazer a articulação entre os trechos selecionados e a teoria kleiniana. Um paciente se queixa em terapia das constantes brigas que tem com sua namorada. Estão juntos há algum tempo. Ela lhe cobra um compromisso maior; ele se defende dizendo que desde o início deixara clara sua disposição de não querer casar e ter filhos. Por mais que as brigas persistam, nenhum dos dois opta pelo fim do relacionamento. Para ele, o seu maior receio com o término são as coisas negativas a seu respeito que ela poderá espalhar aos outros. Uma curiosa alteração acontece quando a namorada é demitida do trabalho. Ele se sente ainda menos confortável para terminar o relacionamento, justamente agora nesse período de maior fragilidade dela e, o fato mais curioso, redobra inclusive sua atenção por ela, cobrindo-a de mimos. Esse fato acaba por reavivar a paixão entre ambos que, ainda não decidem se casar, mas resolvem morar juntos. Avalie o caso e construa uma análise baseada em Klein. Na resposta é preciso apresentar trechos que suscitaram tal construção e fazer a articulação entre os trechos selecionados e a teoria kleiniana. Numa sessão, um menino se descontenta com uma interpretação do psicólogo e avança sobre ele com uma tesoura de papel. O movimento é logo contido pelo psicólogo, sem causar qualquer dano. O psicólogo diz para o menino que sabia que ele estava muito bravo, mas que, apesar de toda aquela braveza, ele não queria machucá-lo e que bom que não machucou, senão teria sido ainda mais difícil de viver a raiva. O menino corre, esconde- se embaixo da mesa e fica quieto. Após uma pausa, o psicólogo se aproxima, sem falar nada. O menino então se aproxima e pede emprestado o cadarço de tênis do psicólogo. Eles tiram juntos os dois cadarços e o menino pergunta se poderia levá-los para casa. O psicólogo consente, desde que depois ele o devolvesse, o que de fato ocorre na sessão seguinte. Avalie o caso e construa uma análise baseada em Klein. Na resposta é preciso apresentar trechos que suscitaram tal construção e fazer a articulação entre os trechos selecionados e a teoria kleiniana. Uma psicóloga recebe o encaminhamento de uma jovem cuja queixa diz respeito ao fato de não conseguir se concentrar nos estudos para o vestibular. Essa queixa, porém, logo se desenvolve para o tema da escolha profissional. A paciente não consegue se decidir pela Medicina, a carreira que seu pai sonhava para ela, ou pelo Jornalismo, a carreira que sua mãe sonhava para ela. Posteriormente, a paciente chega até mesmo a considerar fazer Psicologia, pois sentia que o trabalho da psicóloga lhe ajudava muito e sempre ficava com suas palavras na cabeça. A psicóloga então intervém, apontando o quanto nessas três escolhas havia o risco de ela assumir sonhos não sonhados por ela. A paciente acaba se decidindo por Direito, por entender que agradaria a todos, já que oferecia uma conciliação entre a Medicina e o Jornalismo, já que o advogado, assim como o médico, é popularmente intitulado de doutor e, assim como o jornalista, é afeito às artes da palavra. Passado o dilema da escolha profissional, a paciente passa a trazer em sessão mais relatos sobre sua vida afetiva e finalmente abre o fato de seu crescente interesse homossexual por uma colega de cursinho, que até seria correspondido, mas não podia se consumar, sobretudo, pelo receio de os pais vierem a saber disso e temer o modo com que reagiriam por não ser uma garota “direita”. Avalie o caso e construa uma análise baseada em Klein. Na resposta é preciso apresentar trechos que suscitaram tal construção e fazer a articulação entre os trechos selecionados e a teoria kleiniana. Uma paciente procura terapia em função de problemas que vive na criação do filho. Além de não sentir o filho parecido com ela, percebe-o bem mais apegado ao pai, que parece entendê-lo melhor. Em função disso, às vezes se comporta de modo menos caloroso, o que a preocupa por temer “traumatizar” o filho com sua “frieza”. Para que isso não se concretize, procura justamente a terapia para trabalhar a possibilidade de se conectar melhor com o filho. Embora muito se tenha produzido em dois meses de terapia, em termos de recuperação do histórico familiar ou mesmo de cenas significativas de sua relação com o filho, nas quais é possível observar que nem sempre se mostra distante dele, a psicóloga sente que a queixa ainda não foi exatamente desdobrada, até que numa sessão a psicóloga faz um comentário pertinente sobre uma eventual rivalidade entre ela e o marido. A paciente não localiza exatamente tal rivalidade, mas comenta sobre o quanto lhe incomoda comparar-se com as outras mães, especialmente, as da escola. Como não tem os mesmos cuidados que elas, nem as mesmas preocupações, sente-se invalidada enquanto mãe. Na sessão seguinte, a paciente inicia com uma confissão aparentemente embaraçosa. Comenta que nesses dois meses se analisava também com outra psicóloga, mas que finalmente optara permanecer apenas com ela. Após a confissão, passa a tratar do assunto de seu relacionamento com o marido. Avalie o caso e construa uma análise baseada em Klein. Na resposta é preciso apresentar trechos que suscitaram tal construção e fazer a articulação entre os trechos selecionados e a teoria kleiniana. Um paciente teve o filho, que mantivera reféns num ônibus, morto por ação policial. Como o caso fora noticiado largamente, o psicólogo pôde saber dele antes de qualquer comunicação de seu paciente. Imaginava que ele faltaria e pediria reposição da sessão na próxima semana, para cumprir um mínimo luto, mas o paciente não tardou em retomar as sessões. De fato, veio no mesmo dia do velório. Tentava mostrar-se relativamente bem e tratou de lamentar o ocorrido, mas o fez de um jeito tão curiosamente invertido que momentaneamente confundiu o psicólogo: parecia até que a perda era dele e não do paciente. Depois, finalmente chorou e perguntava-se se poderia ter ajudado o filho, mas logo emendou que fez questão de cumprimentar todos os reféns e pediu-lhes desculpas pela ação do filho. No fundo, sentia-se “aliviado” por ser o filho uma vítima, quando o número total podia ser bem maior. “Ele desencadeou essa forma dele, essa conduta dele. E o que houve hoje foi certo, ele teve que pagar por isso. E graças a Deus que hoje está chorando só a minha família, mas poderia estar chorando mais 37 famílias de trabalhadores como eu sou, como a mãe dele é. Só que ele entrou num quadro depressivo, então foi algo que ele quis. Ele quis pagar com a vida.” (adaptado de uma notícia sobre o sequestro de ônibus na ponte Rio-Niterói).
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