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Mikaelle Teixeira Mendes – Med 33 Hemorragia Digestiva Alta problema 2 Definição de HDA: sangramento digestivo agudo que ocorre acima do ângulo de Treitz (ângulo formado ao nível da junção entre o duodeno e o jejuno, onde o intestino é fixo, que limita o tubo digestivo alto) – corresponde a 85%, já a HDB corresponde a 15% Anatomia e Hipertensão Portal: • Sistema porta: veia mesentérica superior + veia esplênica � veia porta (recebe sangue da parte abdominal do sistema digestório, pâncreas, baço e da maior parte da vesícula biliar, e o conduz ao fígado – que vai metabolizar tudo) • Tríade Portal � ducto colédoco, artéria hepática e veia porta Hipertensão Portal: Corresponde ao aumento da resistência ou obstrução do fluxo sanguíneo no sistema porta (é uma síndrome). As causas podem ser pré-hepáticas, intra-hepáticas ou pós-hepáticas. • Aumento do fluxo sanguíneo portal: o Vasodilatação esplâncnica (órgãos/ tecidos) � circulação hemodinâmica (que pode estar compensado ou não) • Aumento de vasodilatadores circulantes: o Menor metabolização hepática e maior produção o Glucagon, ácidos biliares, peptídeos vasodilatadores Causas de hipertensão portal: • Pré-hepática: trombose de veia porta ou de veia esplênica (varizes só no fundo gástrico – esplenectomia resolve); esplenomegalia volumosa; fístula arteriovenosa • Intra-hepática: o Pré-sinusoidal: cirrose biliar e esquistossomose (granulomas obstruem os ramos intra-hepáticos da veia porta – “veia hepática” por ex) – não costuma alterar parênquima hepático, então nos exames não haverão alterações (TGO, TGP, enzimas etc), a menos que esteja associado a doença hepática o Sinusodal: cirrose hepática e hepatite crônica - fibrose na área dos hepatócitos que retringe o fluxo dos sinusoides o Pós-sinusoidal: doença veno-oclusiva - a obstrução ocorre no nível das veias centro-lobulares • Pós-hepática: ICC; Sd. Budd-Chiari; obstrução da VCI ǃ A pressão no sistema porta fica entre 5-7 mmHg, quando >8 caracteriza hipertensão portal. Já o surgimento de varizes ocorre quando PP > 10 mmHg e a HDA quando PP > 12 mmHg (as varizes vão sangrar) Clínica: • Ascite e retenção de Na+: o �pressão hidrostática esplâncnica e redução da pressão oncótica (hipoalbuminemia) – acúmulo de liquido transudativo o Ativação do SRAA � retenção Na+ (�Na+ piora ascite) e H2O o Marcador de piora de função hepática o Paracentese diagnóstica • Colaterais portossistêmicas � “congestão vai dilatar os vasos associados a veia porta” - alteração mais característica, fruto de anastomoses entre vasos porta e sistêmicos (naturais): o Locais: submucosa de esôfago/estomago (varizes esofágicas e gástricas), submucosa reto (hemorroidas), parede abdominal anterior (“cabeça de medusa”) e veia renal E (síndrome hepatorenal) o Gastropatia hipertensiva portal: achado endoscópico Mikaelle Teixeira Mendes – Med 33 • Esplenomegalia: normalmente indolor; ocorre em 80% dos casos de HP; sem relação entre tamanho do baço e gravidade; se houver dor investigar trombose de VE ou infarto esplênico; associado a pancitopenia Diagnóstico: o Investigar etiologias e hepatopatias associadas o Determinar severidade – Child-Pugh / MELD o Exames: � USG com Doppler / TC / RNM abdome (mais usados) � Arteriografia seletiva de tronco celíaco; portografia transparietohepática ou suprahepatografia Hemorragia Digestiva Alta: Apresentação clínica: • Exteriorização do sangramento: (não confirmam a localização) o Hematêmese: vômito de sangue (patognomônico) � H2O2 o Melena: fezes enegrecidas (“borra de café”) que contem sangue digerido – pastosas e de odor fétido; pode ser HDB o Enterorragia: sangramento vivo por via anal; +HDB o Hematoquezia: elimina de sangue vermelho-vivo com fezes Conduta: • Avaliação inicial e estabilização clinica: a. Sala de emergência � monitorização b. Oferta oxigênio (+garantir via aérea e evitar broncoaspir.) c. Dois acessos venosos calibrosos d. Fazer estimativa de perda sanguínea (graus de choque) ↪ Reposição volêmica (2L de cristaloide) ↪ Hemoderivados: se necessário � Concentrado de hemácias – manter Hb de 9 � Plaquetas – se abaixo de 50.000 � Plasma fresco e. Avaliar necessidade de drogas vasoativas/inotrópicas (úteis em causas varicosas – vasoconstrição das varizes) f. Sonda vesical: análise do débito urinário (30-50 ml/h) g. Sonda nasogástrica*: esvaziamento gástrico ajuda na endoscopia, evita broncoaspiraçao e na falta d endoscopista permite ver se há sangue no conteúdo gástrico (HDA) � Sangue � HDA � Suco gástrico ou nada � não descarta (o sangue pode estar no duodeno) � Bile � descarta HDA ǃ Sonda nasogástrica: tem endoscopista que prefere, mas não é obrigatório passar; tal como lavagem estomacal (NÃO usar soro gelado � hipotermia � sangra +), usar soro morno/ambiente. ↪ Na HDA varicosa há ressalvas h. Solicitar laboratório: tipagem sng, coagulograma e função hepática e renal + avaliar necessidade de transfusões qnd: ↪ Ht e Hb (não são um bom parâmetro inicial); manter Ht entre 25-30% ↪ Plaquetas (consome plqts pra estancar o sangramento) se <50.000 e houver sangramento ativo ou disfunção plaquetária (adulto: 1 unidade/10kg de peso; crianças 10ml/kg) ↪ INR (tempo de protrombina – consome fatores de coagulação � plasma) “ 1 UI (plasma) p/ cada 5 de hemácias” • Diagnóstico etiológico: o HD alta: endoscopia digestiva alta � Deve ser feita em até 24h, exceto urgência � Identifica a causa (98%) � Realiza hemostasia � Estratifica risco de ressangramento o HD baixa: colonoscopia ou enteroscopia (cólon), cápsula endoscópica (delgado); cintolografia com hemácias marcadas (mostra região do sngrmt) e arteriografia (injeção seletiva de contraste radiográfico na aa mesent sup/inf identifica o local da hemorragia se a velocidade é 0,5ml/min ou + � casos de urgência) ǃ Cirurgia: só é necessária em 5-10% dos casos (choque refratário à ressuscitação vigorosa; +6U sangue; falha endoscópica (tem 2 chances); tipo sanguíneo raro. Causas não varicosas: Úlcera Péptica: “a erosão pode pegar um vaso e sangrar” � Principal causa de hemorragia digestiva alta � 50-70% das hemorragias não varicosas � 20% dos pacientes com ulcera desenvolvem sangramento ao menos uma vez na vida � Úlceras duodenais sangram mais do que as gástricas, pois estão na parede posterior (duodeno é retroperitonial � atinge “mais facilmente” a aa. gastroduodenal ou pancreatoduodenal superior), enquanto a ulcera gástrica é mais na parede anterior (estomago é intraperitoneal � corrói o estomago � perfura + e sangra -) • Causas: o AINES: inibição da síntese de prostaglandinas (�barreira protetora do estomago) e efeito antiplaquetário o Helicobacter pylori; Mikaelle Teixeira Mendes – Med 33 • Tratamento da úlcera péptica: clinico + endoscópico o Clínico (medicamentoso) ↪ IBP (omeprazol 80mg EV em bolus + 40mg 12/12h ou 8mg/h EV por 72h em BIC) – tratar H. pylori ↪ Bloqueador dos receptores H2 (menos efetivos) ↪ Sucralfato (cicatrização) o Endoscópico � Químico: esclerose do coto vascular com solução salina, adrenalina, etanol � Elétrico: eletrocoagulação - plasma de argônio � Mecânico: clip o Cirúrgico: raro ↪ Úlcera gástrica: retira um pedaço do estomago (gastrectomia parcial/ subtotal) – “Billroth” ↪ Úlcera duodenal: não retira o duodeno (manobra de Kocher – “sutura a ulcera” – “rafia em U” com ou sem vagotomia e piloroplastia) Tumores gástricos: neoplasias � Representa 1% das hemorragias digestivas � Tipos ulcerados são mais propensos � HDA é o primeiro sintoma das neoplasias gástricas precoces que encontramos no Brasil– ulceras gástricas precisam ser biopsiadas � Normalmente apresenta sangramento difuso,em babação � Tratamento: biopsia anatomopatológica � estadiamento � tratamento cirúrgico (gastrectomia + linfadenectomia) Lesão aguda de mucosa: “úlceras de Cameron” � Lesão superficial da mucosa (gastrite hemorrágica) � Sangramento digestivo lento – babação � Causas comuns: AINES, álcool e estresse severo Angiodisplasias: � Podem acometer qualquer parte do TGI (malform arteriovenosas) � Isoladas (> incidência em renais crônicos) � Geralmente sangramento em babação Síndrome de Mallory-Weiss: � Laceração longitudinal na junção esofagogástrica ↪ Causada por vômitos intensos (pancreatite, obstrução intestinal, bulimia etc) � Tratar a causa do vomito + IBP Lesão de Dieulafoy: � Vaso arterial aberrante/dilatado no fundo gástrico; Causas esofágicas: � Esofagite (raro) ou refluxo gastroesofágico crônico Fístula aortoentérica: � “Sangramento sentinela � sangramento catastrófico” � Ocorre devido a complicação de um aneurisma inflamatório de aorta abdominal rôto ou após correção cirúrgica do aneurisma � joga o sangue no duodeno � Tratamento: endovascular, pela aorta (arteriografia) Hemobilia: � Endoscopista notará que o sangue sai de dentro da papila duodenal (contem bile e suco pancreático) � sangramento das vias biliares � Causas: ↪ Ocorre geralmente após trauma ou procedimento de fígado/ vias biliares � sangramento para dentro da luz biliar � duodeno ↪ Neoplasia maligna do fígado, pâncreas ou vias biliares ↪ Pode ocorrer após manipulação endoscópica (CPRE), radiologia intervencionista ou cirurgia � Tratamentos: hemostasia endoscópica (se for na área da papila); arteriografia + embolização (+usado) ǃ Tríade de Sandblom da hemobilia: icterícia + hemorragia digestiva + cólicas biliares Hemosuccus pancreaticus: “sangramento do pâncreas” � Lesão pancreática erodindo o vaso � sangramento para a luz pancreática � suco pancreático entra com sangue no duodeno pelo ducto de Wirsung ↪ Pseudoaneurismas após pancreatectomias; tumores � Tratamento: arteriografia + embolização; ressecção pancreática Causas varicosas: Varizes Esofágicas: � 60% dos hepatopatas desenvolvem varizes de esôfago ↪ 35% desses pacientes sangram com mortalidade de até 50% no primeiro episódio (só 40% cessam espontaneamente) � Paciente com hipertensão porta � hipertensão resolve drenar excesso de pressão/fluxo sanguíneo para as veias esofágicas e causa dilatação patológica (varizes esofágicas – visíveis na endoscopia) Varizes de Fundo Gástrico: � Gastropatia hipertensiva – hipertensão porta que passou para a veia esplênica (por meio dos vasos do fundo gástrico) • Preditores de risco de sangramento: o Classificação de Child-Pugh (provas de função hepática � bilirrubina, albumina e TAP seg/INR associados a ascite e encefalopatias) ↪ TGO e TGP são provas de lesão hepática!! o Calibre das varizes (fino, médio e grosso) o Presença de red spots à endoscopia (“pontinhos vermelhos na parede do vaso”) • Tratamento das causas varicosas: o Clínico (medicamentoso) � vasoconstrictores esplâncnicos ↪ Terlipressina 1-2 mg IV 4/4h por 2 dias + 1mg IV 4/4h 2- 5d (+caro) ↪ Somatostatina 250mg bolus + 250mcg/h em infusão continua (efeitos colaterais) ↪ Octreotide 50mcg/h continuo 48h + bolus de 100 mcg/8h por 2-5 dias (substituto da somatost) o Tratamento endoscópico: duas chances � Ligadura elástica: aspira o vaso e coloca uma liga/borracha � Escleroterapia (fura o vaso e injeta substancia) � Obliteração por cianoacrilato (“cola”) � nas de fundo gástrico o Insucesso dos anteriores: � Balão de Sengstaken-Blakemore (insufla um balão no esôfago comprimindo as varizes � medida para ganhar tempo � necrose se não retirar <24h) ↪ Injetar de 300-350mL de ar na porção gástrica (prender/posicionar) ↪ 30mmHg na porção esofágica (melhor 2/3 PAM) Mikaelle Teixeira Mendes – Med 33 � TIPS: “Transjugular Intrahepatic Portal Shunt” - prótese intra-hepática para que o sangue passe e não alimente as varizes (“ponte” que dura até 2 anos – geralmente há necessidade de transplante), é indicado em casos de: ↪ Sangramento ativo refratário ↪ Prevenção secundária de sangramento varicoso ↪ Ascite refratária ↪ Hidrotórax hepático refratário ↪ Síndrome de Budd-Chiari # Contraindicações do TIPS: ICC, hipertensão pulmonar grave, doença policística hepática e obstrução biliar � Cirurgia: alta mortalidade (é a ultima opção) ↪ Falha da 2ª endoscopia ↪ Persistência hemorrágica + instabilidade hemodinâmica ↪ Hemotransfusão maior ou igual a volemia Cirurgias de emergência: a. Transecção esofágica (corta o esôfago e faz anastomose) b. Derivação portocava calibrada em H (parar sng na emergência - risco de encefalopatia) Cirurgias programadas: a. Derivação esplenorrenal distal (Shunt de Warren) � liga a veia esplênica diretamente na veia renal � anastomose porto-sistêmica cirúrgica. Assim, o sistema porta perde pressão e não sangra mais � esquistossomose e cirrose ↪ Eficaz em ausência de disfunção hepática e ausência de hiperesplenismo b. Desconecção ázigo-portal com esplenectomia (DAPE) � retira o baço e liga todos os vasos que vão para o sistema ázigus � realizada em esquistossomóticos e não eficaz em cirróticos Prevenção primária: “nunca sangrou” o Rastreamento de varizes por EDA o B-bloqueador não seletivo (propranolol) – se sangrar suspende imediatamente o Ligadura das varizes � sinal da cor vermelha Prevenção secundária: 40% ressangram nas primeiras 6 semanas o B-bloqueador na alta médica o Programa de ligadura elástica ou escleroterapia o Shunt seletivo em casos selecionados História clínica padrão: Sintoma Causas associadas Uso de AINE Úlcera péptica Hepatopatia crônica Varizes e gastropatia portal hipertensiva Vômitos em excesso Mallory-Weiss Refluxo crônico Esofagite Perda de peso/disfagia Malignidade Tratamento da Hipertensão Portal: • Profilaxia: o Manter gradiente de pressão < 12 mmHg (prevenindo HDA) • B-bloqueadores não seletivos: Propranolol 20-40 mg/dia em 2 tomadas o Limite: redução 25% da FC basal ou efeitos adversos o Objetiva vasoconstricção esplâncnica o Reduz mortalidade em SHP sem HDA o Uso continuo .
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