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Gastroenterologia 1 -COLELITÍASE: É o cálculo em qualquer parte da árvore biliar, mas no dia a dia usa como sinônimo de COLECISTOLITÍASE, que é o cálculo na própria vesícula biliar. COLECISTOLITÍASE -COLECISTITE: É a inflamação por obstrução do ducto biliar. Na imagem pode-se perceber o hilo hepático, que é constituído por três estruturas (veia porta, artéria hepática e o colédoco), que são muito importantes, pois um erro na cirurgia pode afeta-las e acabar trazendo danos ao paciente. OBS: A diferença entre o hilo hepático e os outros hilos é que os outros hilos só possuem um sistema arterial e venoso, já o hepático além do sistema arterial e venoso tem o canalicular. Outra diferença é que o fígado é o único órgão que possui 2 sistemas afluentes (a artéria hepática e a veia porta conduzem sangue para o fígado, inclusive a veia porta é responsável por mais de 50 % da oxigenação dos hepatócitos). O sangue que chega por esses dois afluentes sai pelas veias hepáticas, que são 3 veias que estão acima do fígado e vão desembocar na veia cava inferior. Toda cirurgia de via biliar é feita no triângulo de CALLOT, que é constituído pelo ducto cístico, ducto hepático e borda inferior do fígado, então toda cirurgia da via biliar é feita nesse triangulo. BILE: Produto de secreção externa do fígado, que é uma glândula mista, isto é, tanto endócrina quanto exócrina. (produto externo BILE, produto interno hormônios). A bile é produzida no fígado e não é simplesmente um líquido, mas sim uma secreção complexa, sendo produzida num volume de 500 a 800 ml por dia, tendo na sua composição água, sais biliares (ácido), pigmento biliar (BD), colesterol, lecitina, Ca, Na, K. O que chama atenção é que diluída em água tem substância como a lecitina que não são hidrossolúveis, normalmente está solubilizada. Essas substâncias são dissolvidas na água a temperatura corporal (36,8-37°) e mesmo assim consegue manter essa solubilidade. A produção da bile é feita ininterruptamente, mas é estimulada, por ação neurogênica através do nervo vago, por ações de substâncias hormonais como a colescistocinina, secretina e a gastrina e por ação química através da presença do bolo alimentar do duodeno, que distende o duodeno e faz com que a produção de bile seja acelerada. VESÍCULA BILIAR: Serve para armazenar a bile e também concentrá-la, pois essa se torna 10x mais concentrada depois de passar um tempo na vesícula. Esse processo se dá pela absorção de água, pela secreção de muco e pela discreta movimentação que tem através da musculatura frágil. + tempo da bile na VB = bile + concentrada *A retirada da vesícula biliar não é incompatível com a vida, porém a retirada do colédoco é, de modo que, se retirado, precisa ser substituído por outra estrutura. LITÍASE BILIAR: Cálculo no interior da vesícula biliar, normalmente, é misto, mas pode ser formado só de colesterol, que são cálculos amarelados, lisos ou facetados, ou ainda pode ser formado por pigmentos, que são negros ou marrons e numerosos. FISIOPATOLOGIA: Não existe uma única etiologia para a formação de cálculo. - Dismotilidade da vesícula, é quando a vesícula é hipotônica, não se contrai bem, sendo assim a bile demora muito no seu interior, há uma absorção maior da água, ficando mais concentrada e precipitando, formando, assim, o cálculo biliar. -Genética: risco de 2 a 4 %; -Infecção da bile, o que leva a uma alteração no Ph, na consistência, o que leva à precipitação; -Distúrbios metabólicos: todos os pacientes que têm hipercolesterolemia têm também um maior risco para cálculos biliares (colelitíase), como obesos, diabéticos. (O inverso não é verdade: nem todo mundo que tem colelitíase tem hipercolesterolemia). O cálculo existe, normalmente, em mulheres, obesas, quarentonas e multíparas, são os grupos maiores de risco. São os 4 “F” · F eminino · F at · F értil · F >40 anos Pacientes que cursam com hiperbilirrubinemia, como a anemia hemolítica, tem incidência de cálculo muito maior que o restante da população, pois o índice de saturação é maior. (jovens, homens, afrodescendentes) -Refluxo pancreático-biliar: Quando há incompetência do esfíncter de oddi e o suco pancreático, em vez de seguir para o duodeno, sobe para vesícula. Então a fisiopatologia não se sabe ao certo. QUADRO CLÍNICO: Paciente com colelitíase sente: · Dor no hipocôndrio direito e epigástrio, geralmente em cólica, sempre pós prandial (come dói passa); · Náuseas/ vômitos; · Dispepsia hipostênica é sinônimo de empachamento. LEMBRAR QUE a grande maioria dos pacientes é assintomático. Ao exame físico não tem como identificar que o paciente tem colelitíase. Não tem icterícia nem dor à palpação, não tem massa palpável. O paciente tem abdome plano, flácido e indolor. DIAGNÓSTICO No laboratório: Nenhum exame. Imagem: USG de abdome superior, mostra imagem hiperecoica com sombra acústica posterior. *NÃO existe USG de vias biliares. Colecistografia oral é a radiografia com contraste (ácido iopanóico) que usava antes da USG, mas hoje em dia não usa mais (imagem hipodensa = cálculo biliar). Mostra apenas a vesícula, sem mostrar as vias biliares. A radiografia simples de abdome excepcionalmente confirma o diagnóstico de cálculo biliar (cálculo altamente concentrado de cálcio = radiopaco, porém apenas 10% dos cálculos tem essa intensidade de cálcio). CONDUTA TERAPÊUTICA Em pacientes assintomáticos: Colecistectomia é indicada quando: · Microcálculos pode levar à obstrução do esfíncter de oddi, que pode levar a uma pancreatite; · Cálculos > 2 cm (> risco de câncer) · Vesícula com pólipo > 1 cm Pólipo é lesão pré-maligna tanto no tubo digestório quanto na via biliar. Na USG o pólipo não tem sombra acústica, além de ser uma lesão fixa, diferente de um cálculo que é móvel. · Idade < 20 anos; · Diabético (+ complicações); · Anemia falciforme forma muito cálculo; Vesícula em porcelana é uma vesícula tão rica em cálculo que parece um objeto de porcelana, é uma lesão pré-maligna, tendo 25% de chance de se tornar câncer. É a maior indicação de colecistectomia em pacientes assintomáticos. (na radiografia simples, tem densidade semelhante a das costelas). Em pacientes sintomáticos: Paciente com alta recorrência dos sintomas opera! Faz-se uma colecistectomia (retirada da vesícula com cálculo e tudo) por qualquer via de acesso. 25% desses pacientes com sintomas tem complicação, essa complicação é grave. · A colecistectomia pode ser: -Laparotômica -Mini-laparotômica -Laparoscópica (90%) -Robótica Essas são vias de acesso, a técnica cirúrgica é a mesma: Corta o ducto cistíco, liga a artéria cística e tira a vesícula. · Tratamento não cirúrgico: Faz dissolução oral com o uso do ácido ursodesoxicólico, que dissolve o cálculo, mas só indicado quando o cálculo é menor que 5mm, flutuante e com a vesícula funcionante (não pode ser hipotônica), tomando remédio o cálculo dissolve, parando o remédio, o cálculo retorna. Como saber se a vesícula está funcionante? · Atualmente por meio de USG; · Antigamente, prova de Boyden (colecistografia oral antes e depois do paciente se alimentar). Outra opção é a litotripsia, que são ondas de choque, indicada para cálculo único, não calcificado, <2cm e vesícula funcionante. Não é muito feito, porque, às vezes, o cálculo fraturado “lá em cima” acaba obstruindo o colédoco. *Do ponto de vista teórico, existe o tratamento não cirúrgico, do prático, não existe. COMPLICAÇÕES DA COLELITÍASE Primeira grande complicação da colelitíase: COLECISTITE AGUDA, que acontece quando o cálculo que tentou passar pelo ducto cístico, não conseguiu e impactou, causando um processo inflamatório da vesícula provocado pela obstrução do cálculo que leva a liberação da fosfolipase 2, que vai transformar a lecitina em lisolecitina, irritante para a mucosa. Inicialmente a colecistite aguda é um processo, exclusivamente, inflamatório, progredindo para um processo infeccioso. 95% dos casos de colecistite aguda é causada por obstrução mecânica (cálculo), ocorrendo distensão da vesícula, obstrução venosa, edema, isquemia, ulceração, infecçãopor estase. Em 60% dos pacientes a cultura da secreção biliar já é positiva após 48h do surto. Em 5% das colecistites o paciente não tem cálculo (alitíasica), mas acontece a mesma coisa só que sem a obstrução mecânica (cálculo) da vesícula, mas existe uma obstrução funcional, pois a bile é grande, grossa, espessa que é causado normalmente por jejum prolongado, pós-operatório grave, febre, desidratação, restrição hídrica, uso de opiáceos o que aumenta a viscosidade da bile e não deixa a vesícula esvaziar. QUADRO CLÍNICO - COLECISTITE AGUDA: *Agora estamos diante de um paciente com abdome agudo, que é toda patologia aguda do abdome que, normalmente, necessita de cirurgia de urgência. Dor no hipocôndrio direito (contínua), às vezes, no epigástrio, náuseas e vômitos. (pode ter irradiação para fossa supra clavicular direita?) Ao exame físico tem sinal de Murphy positivo (dor a inspiração); dor á palpação, febre, massa palpável (20%), icterícia (10% dos pacientes). DIAGNÓSTICO: · LABORATORIAL: Leucocitose; Aumento da bilirrubina direta; Aumento da amilase (todo abdome agudo eleva a amilase, inclusive gravidez ectópica); Aumento da fosfatase alcalina. · IMAGEM: USG (95%)- Mostra espessamento da parede >3mm Aumento do diâmetro transversal do fundo; Sinal de Murphy radiológico; Líquido perivesicular, às vezes, até abscesso; Hoje pode-se pedir a cintilografia da vesícula- COLECISTOCINTIGRAFIA IDA, fazendo uso do ácido indolilacético. Quando a vesícula está inflamada, a mesma não aparece. (cintilografia = medicina nuclear) CONDUTA TERAPÊUTICA: CIRURGICO- quanto mais cedo operar melhor, excepcionalmente clínico quando o paciente por exemplo sofreu um infarto, testemunha de jeová. Faz-se colecistectomia laparoscópica, ou lapatômica, pode ainda fazer uma colecistostomia normal ou percutânea, mas faz quando não há condições técnicas para fazer colecistectomia. (colecistostomia = drenagem da VB, feita pelo radiologista, procedimento de exceção) COMPLICAÇÕES DA COLECISTITE AGUDA: -Vesícula hidrópica, quando a vesícula, por algum motivo, não foi retirada, mas toda a bile é retirada e a vesícula fica cheia d’água, de muco, não vai esvaziar. -Empiema, quando a vesícula tem pús; -Abscesso perivesicular; -Perfuração, pelo aumento excessivo de tamanho da VB; -Fistula BÍLIO-DIGESTIVA: é um orifício do sistema biliar para o aparelho digestivo em decorrência da colecistite que não foi tratada a tempo. Geralmente vai para o duodeno, mas pode ir para o cólon. QUADRO CLÍNICO: Dor de colecistite aguda e de uma hora para outra passou. Vai ter colangites futuras de repetição, porque a vesícula está conectada ao trato digestivo, que é repleto de bactérias, infectando constantemente. DIAGNOSTICO: Radiografia simples do abdome (veremos ar na via biliar = pneumobilia), enema opaco (radiografia contrastada do cólon), seriografia(radiografia contrastada do estômago) ou tomografias. CONDUTA TERAPÊUTICA: Colecistectomia e rafia da fistula. Íleo Biliar é uma obstrução intestinal provocada por um cálculo que migrou de uma fistula e obstruiu o intestino. Apresenta imagem hiperdensa (tomografia). É uma complicação de uma fístula. CÂNCER DE VESÍCULA: É provocado por um cálculo presente na vesícula, para alguns autores. É a neoplasia mais comum da via biliar, segundo livros. É comum em pessoas idosas, mais no sexo feminino. É quase sempre adenocarcinoma. A provável etiologia seria colelitíase, vesícula em porcelana ou pólipo. · QUADRO CLÍNICO: Pode ser assintomático; Quando sintomático apresenta dor no hipocôndrio direito; Anorexia; perda de peso. Ao exame físico apresenta icterícia e massa palpável. · DIAGNOSTICO: -LABORATÓRIO: Bilirrubina elevada Hemograma- ANEMIA Marcador tumoral: CA19,9 (não é confiável) - IMAGEM: USG (sugere); TC (confirma); COLANGIORESSONANCIA (estadia). · TRATAMENTO: Vai depender do estadiamento; Tumor de vesícula maior é colescistectomia radical- tira a vesícula, faz linfadenectomia do hilo hepático, retirada do segmento 5 do fígado e, às vezes, a hepatectomia do lobo direito. Talvez seja o câncer mais agressivo do aparelho digestório, pelo diagnóstico ser tardio, uma vez que, na maioria das vezes, é assintomático. O prognóstico é ruim, a sobrevida em 1 ano é de 22%, em 5 anos 4 %.
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