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Letícia Nano – Medicina Unimes Anti-inflamatórios Não Esteroidais (AINES) Os AINES apresentam propriedades anti-inflamatórias, analgésicas e antipiréticas. São as drogas de primeira escolha no tratamento de doenças reumáticas e não-reumáticas como osteoartrites e artrite psoriática, assim como nas sequelas de traumas e contusões e ainda nos pós-operatórios. É o principal tratamento para a dor leve e moderada devido as suas propriedades analgésicas prolongadas e diminuem a temperatura corporal elevada sem provocar dependência química. Revisão metabolismo Ácido Aracdônico Quando uma célula é ativada por diversos estímulos, sua membrana lipídica é rapidamente remodelada para gerar mediadores de lipídios biologicamente ativos, que funcionam como um sinal intercelular ou extracelular da inflamação e homeostase. Esses mediadores lipídicos são autacóides ou hormônios que são formados rapidamente, exercem seus efeitos locais e são destruídos enzimaticamente ou decaem espontaneamente. O ácido araquidônico (AA) é um ácido graxo poliinsaturado contendo 20 carbonos que é obtido da dieta ou pela conversão do ácido graxo essencial, ácido linoléico. Normalmente ele é esterificado na membrana fosfolipídica pela ação da fosfolipase A2, que aumenta a concentração de íons cálcio no citoplasma e ativa vários quinases em resposta a estímulos externos .Os metabólitos do AA, também chamados eicosanóides, são sintetizados por duas principais classes de enzimas: as cicloxigenases (prostaglandinas e tromboxanos) e as lipoxigenases (leucotrienos e lipoxinas). A cicloxigenase inicia-se por duas enzimas diferentes a COX-1 e COX-2, necessárias para a produção de prostaglandinas. As prostaglandinas são divididas em cinco denominações estruturalmente distintas as: PGD, PGE, PGF, PGG e PGH e por numerosos subgrupos. O tipo de prostaglandina produzida depende do tecido específico. A COX existe em 3 isoformas: COX-1, COX-2, e COX-3. Acredita-se que a COX-1, a chamada forma constitutiva, esteja presente em tecidos normais e é responsável pela produção de prostaglandinas que são vitais para processos fisiológicos normais (prostaciclinas) como a manutenção do fluxo sanguíneo renal, a proteção da mucosa gástrica e a adesividade das plaquetas. São eles: tromboxano A2 e prostaciclinas. O tromboxano A2 tem efeito vasoconstritor e agregante plaquetário. A prostaciclina PGI2 é um vasodilatador, um potente inibidor de agregação plaquetária e também potencializa o aumento da permeabilidade e efeitos quimiotáticos de outros mediadores. As prostaciclinas I2 e E2 possuem efeitos protetores gástricos, pois reduzem a secreção ácida gástrica, pelo aumento na produção de muco e bicarbonato na mucosa gástrica. Prostaciclinas e PGE2 também tem efeitos na manutenção da perfusão renal. A COX-2 está ausente na maioria dos tecidos, exceto por no cérebro, útero, rins e próstata. É induzível e os níveis são suprarregulados por dano e lesão tecidual. A partir da COX 2 são produzidas as prostaglandinas E2 e prostaglandina F2a, essas, envolvidas na patogênese da dor e febre na inflamação. A PGE2 é hiperalgésica, o que torna alguns tecidos hipersensíveis a estímulos dolorosos. Isso promove um aumento da concentração de histamina e bradicinina e, consequentemente, de citocinas, induzindo à febre quando à nível do SNC. Além disso, a PGE2 tem efeito antagônico do tromboxano A2, ou seja, promove vasodilatação e efeito antiagregante plaquetário. A PGF2 por sua vez, tem ação na musculatura lisa uterina, induzindo a contração uterina (fundo e corpo uterino) e relaxamento do colo uterino. PGD2 é o principal metabólito da via cicloxigenase nos mastócitos, seguidas da PGE2 e PGF2α, que causam vasodilatação e aumento da permeabilidade das veias pós-capilares, potencializando a formação do edema. A COX-3, finalmente, é encontrada dentro do sistema nervoso central, e acredita-se que seja o local de ação do paracetamol; a natureza exata da isoenzima não está clara atualmente. Letícia Nano – Medicina Unimes AINES Mecanismo de ação Os AINEs funcionam por meio da inibição da função da enzima ciclo-oxigenase (COX) e, assim, reduzem a produção de prostaglandinas. A aspirina é um inibidor irreversível da COX; os AINEs restantes funcionam de maneira reversível. Uma ampla gama de AINEs está disponível com diferentes graus de inibição de COX-1 e COX-2. O grau de inibição de cada isoenzima determina seu perfil de efeitos colaterais. Usos clínicos • Anti-inflamatório: diminuição da produção de prostaglandinas derivadas da COX-2, levando a diminuição da vasodilatação, edema e dor (desensibilização periférica à dor). • Analgésico: diminuição da dor (principalmente a inflamatória), diminuição de prostaglandinas que sensibilizam nociceptores da dor (PGE2 e PGI2)- desensibilização periférica à dor. Na indicação de fármacos analgésicos, os AINES comparados aos opioides (atuam em nível central) são mais “ fracos”, e podem ser utilizados juntamente aos opioides para diminuição da dose dos mesmos, a fim de evitar maiores efeitos colaterais desses opioides. O uso analgésico dos AINES deve ser feito minuciosamente. Exemplo: - Dor de trauma ósseo aguda: prostaglandinas relacionadas à dor provenientes da COX-1 -> ou seja, recomendação relativa para analgesia aguda ortopédica. -Dor no pós operatórios no geral (inclusive ortopédico): prostaglandinas da dor provenientes da COX-2 -> recomendável para uso analgésico, anti-inflamatório e antitérmico. Obs.: preferência aos seletivos da COX-2, pois não inibem o TXA2, portanto, diminuem o risco de sangramento. • Antipirético: redução da temperatura corporal patologicamente elevada, pela inibição da produção das prostaglandinas PGE2, produzida a partir de IL-1, no hipotálamo. *O uso de antipirético no pós operatório também é controverso pois pode mascarar uma infecção pós operatória. • Vários AINEs (incluindo o ácido acetilsalicílico) reduzem a incidência de câncer de colo quando administrados crônicamente. Classificação • Similaridade química: ácidos acéticos, ácidos propiônicos, sulfonamidas, ácidos enolicos. • ½ vida plasmática: AINES de vida curta (1h), vida média (10 h) e longa (60 h). Letícia Nano – Medicina Unimes Obs.: o conceito de meia vida é diferente de duração de ação. A aspirina, por exemplo, tem meia vida curta, ou seja, é excretada rápido, mas sua ligação na plaqueta é irreversível, portanto, a duração é de 7 dias (até que se produza novas plaquetas). • Seletividade a COX A seletividade para a cicloxigenase-1 (COX-1, constitutiva) versus cicloxigenase-2 (COX-2, induzida durante a inflamação) mostra-se variável e incompleta nos AINEs. Todos os AINEs mais recentes são, em graus variáveis, anti- inflamatórios, analgésicos e antipiréticos, e, à exceção dos agentes seletivos da COX-2 e dos salicitatos não acetilados, todos inibem em alguma intensidade a agregação plaquetária. Dentre os AINES não seletivos, há um predomínio de inibição de uma das COX. Uma maior seletividade ao COX2 está diretamente relacionado à diminuição da toxicidade e dos efeitos colaterais. Efeitos adversos A principal limitação no uso dos AINES são os seus efeitos gastrointestinais que estão entre os mais graves, incluindo náuseas, dor abdominal e úlcera gástrica. Os AINES inibidores seletivos de COX-2 parecem minimizar esses efeitos. Os AINES não oferecem efeitos cardioprotetores, e podem agravar problemas renais em paciente idosos, com insuficiência cardíaca, diabéticos, cirróticos, dentre outros. Todos anti-inflamatórios não-esteroides podem provocarefeitos adversos gastrintestinais, proporcionais ao tempo de uso, e sendo contraindicados em pessoas com úlcera péptica ativa. Os não seletivos devem ser evitados também se houver história prévia de doença ulcerosa péptica (mesmo se uso concomitante de Inibidores de Bomba de Prótons – IBP). O uso de inibidores seletivos da COX-2 apresenta menor incidência de efeitos gastrointestinais. Os inibidores seletivos da COX-2 demonstraram eficácia semelhante aos não seletivos, no entanto, além de um custo mais elevado, apresentam aumento no risco de eventos tromboembólicos, como infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral, sendo contraindicados nestas situações e na vigência de doença arterial periférica. Foi evidenciado também aumento da incidência de infartos em comparação com o placebo em uso prolongado de 18 meses. Os anti-inflamatórios não-esteroides são contraindicados também na insuficiência cardíaca grave, uma vez que podem afetar a função renal, provocando retenção de água e sal. Devem ser usados com cautela em pacientes com insuficiência renal ou hepática. ** A Nimesulida apresenta 2x mais chances de danos hepáticos que os demais AINES. O uso deveria ser contraindicado. Letícia Nano – Medicina Unimes Analgésicos de uso popular no Brasil Nome Paracetamol Ácido acetilsalicílico Ibuprofeno Dipirona sódica Nome popular Tylenol, Parador, Febraldin, Dorico e Sonridor Aspirina e Melhoral Alivium, Advil Buscofem Novalgina, Anador, Dorflex, Lisador e Neosaldina Ação Analgésico e antitérmico Analgésico, antitérmico, anti- inflamatório e antiagregante plaquetário Analgésico, antitérmico e anti- inflamatório Analgésico e antitérmico Indicação Reduz a febre e alivia diversos tipos de dores, como dor de cabeça, dor nas costas, dor de dente, dor muscular, dores sistêmicas em função de resfriados, cólicas menstruais, etc. Pode ser usado na dengue clássica. Combate à febre, inflamações como osteoartite e dores em geral, com efeito semelhante ao do paracetamol. Uso profilático para eventos tromboembólicos. Indicado para alívio temporário da dor leve a moderada associada a resfriado comum, dor de cabeça, dor de dente, dores musculares, dismenorreia, dores articulares e na redução da febre. Facilidade: suspensão pediátrica. Utilizado para diversos tipos de dores, sendo mais conhecido para aliviar dores de cabeça e cólicas, mas seu efeito analgésico é considerado médio. É bastante potente para reduzir a febre, apresentando discreto efeito anti-inflamatório. Contraindicação Devido a efeitos hepatotóxicos como efeitos colaterais, não deve ser utilizado em pacientes com doenças hepáticas avançadas, como cirrose. Não deve ser utilizado na dengue hemorrágica. É contraindicado em casos de dengue, úlceras pépticas e demais doenças gastrointestinais, sangramentos importantes e insuficiência renal. Também é contraindicado para pacientes com histórico de alergias, pois tende a piorar a hipersensibilidade. Obs.: risco de Sd. Reye (em crianças: encefalopatia associada com disfunção hepática) É contraindicado na úlcera péptica, Insuficiência renal, doença hepática avançada (como cirrose) sangramentos ativos, etc. Também em gestantes ou mulheres amamentando. É contraindicado em alergia à dipirona, doenças hematológicas (risco de aplasia medular), deficiência de G6PD, gravidez e lactação. Letícia Nano – Medicina Unimes
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