Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
As Necessidades Educativas Especiais Auditivas e Visuais Duarte Januário Paiaia Produced by AS NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS AUDITIVAS E VISUAIS Material de Estudo da Disciplina de NEE DUARTE JANUÁRIO PAIAIA Estudante de Geografia Universidade Licungo – Quelimane Moçambique Copyright © 2020. Contacto Celular: (+258) 846621463 Email Oficial: duartepaiaia@gmail.com Email’s alternativos: duartepaiaia@outlook.com | duartepaiaia@yahoo.com Clique nos ícones e siga-me nas redes sociais abaixo indicadas! mailto:duartepaiaia@gmail.com mailto:duartepaiaia@outlook.com mailto:duartepaiaia@yahoo.com https://Www.facebook.com/duarte.januario.94 https://twitter.com/Duarty_Jr https://www.youtube.com/channel/UCzjdPMGygA-HRvG3snAQm7w?view_as=subscriber https://instagram.com/duarty_jr https://Www.facebook.com/duarte.januario.94 https://twitter.com/Duarty_Jr https://www.youtube.com/channel/UCzjdPMGygA-HRvG3snAQm7w?view_as=subscriber https://instagram.com/duarty_jr https://Www.facebook.com/duarte.januario.94 https://twitter.com/Duarty_Jr https://www.youtube.com/channel/UCzjdPMGygA-HRvG3snAQm7w?view_as=subscriber https://instagram.com/duarty_jr https://Www.facebook.com/duarte.januario.94 https://twitter.com/Duarty_Jr https://www.youtube.com/channel/UCzjdPMGygA-HRvG3snAQm7w?view_as=subscriber https://instagram.com/duarty_jr 3 1. As necessidades educativas especiais sensoriais auditivas e visuais 1.1. Conceitos básicos Segundo SERRANO (2008), ”há uma necessidade educativa especial quando um problema físico, sensorial, intelectual, emocional ou social afecta a aprendizagem ao ponto de serem necessários acessos especiais ao currículo para que o aluno possa receber uma educação apropriada. Os alunos com necessidades educativas especiais são aqueles que, por exibirem determinadas condições específicas, podem necessitar de apoio de serviços de educação especial durante todo ou parte do seu percurso escolar, de forma a facilitar o seu desenvolvimento académico, pessoal e sócio-emocional.” (CORREIA, 1997). Necessidades Educativas Sensoriais: Enquadram-se neste grupo crianças e adolescentes cujas capacidades visuais ou auditivas estão afectadas. O termo “sensorial” remete-nos logo aos órgãos de sentido. Quanto aos problemas de visão podemos considerar os cegos (não lhes é possível ler, e por isso utilizam o sistema Braille) e os amblíopes (são capazes de ler dependendo do tamanho das letras). Relativamente aos problemas de audição, temos os surdos (cuja perda auditiva é maior ou igual a 90 decibéis) e os hipoacústicos (cuja perda auditiva se situa entre os 26 e os 89 decibéis). 1.2. Deficiência auditiva A deficiência auditiva é a incapacidade total ou parcial de audição. Se a incapacidade for total o indivíduo designa-se como surdo, podendo ser classificado como pré- linguístico (quando perde audição antes dos três anos e assim não consegue desenvolver a fala) ou como pós-linguístico (quando perde audição depois dos três anos e ainda conseguiu desenvolver a fala). Um indivíduo designa-se por hipoacústico se a sua audição, ainda que deficiente é funcional no seu dia-a-dia, com ou sem aparelho auditivo. A chegada de uma criança desejada é um dos momentos mais felizes na vida dos pais. Depois do nascimento da criança e o diagnóstico de saúde revelar que o bebé é portador de deficiência auditiva para os pais ouvintes, torna-se num momento angustiado e de grande inquietação. Apenas um pequeno número de crianças portadoras de deficiência auditiva são concebidas por pais Surdos, concluindo-se que a maioria dos Surdos é concebida por pais ouvintes. Há uma diferenciação entre deficiência auditiva e Surdez (LANE, 1996). 4 A deficiência auditiva é a carência de audição, a capacidade de ouvir é insuficiente perante as tarefas realizadas pelo indivíduo (NIELSEN, 2003). Esta insuficiência é uma lesão que se situa no ouvido e a criança torna-se inapta de ouvir os sons que o rodeia (CORREIA, 2008). 1.2.1. Morfologia do ouvido humano Tal como refere AFONSO (2008), para se entender melhor a deficiência auditiva deve- se ter em conta a formação do ouvido do homem. O ouvido humano é constituído por três partes: Ouvido externo, ouvido médio e ouvido interno. A parte externa do ouvido envolve a orelha e o canal auditivo externo. Os músculos do martelo e do estribo atuam como rudimentos protectores do ouvido. O ouvido interno trabalha como analisador temporal. Afonso (2008) afirma que o som é captado pelo ouvido externo, sendo amparado pela orelha e canal auditivo externo. O som é alastrado à cadeia ossicular, até comparecer ao ouvido interno, onde se situa o órgão de corte, com células sensoriais e de suporte encontradas sobre a membrana essencial. Partindo da competência da acção da constituição do ouvido humano e da audição, pode-se descrever a Surdez. Faz parte do ouvido externo, o pavilhão auricular e o canal auditivo que tem funções de recolher e encaminhar as ondas sonoras até ao tímpano. A produção de cera dá-se no canal auditivo. A cera ajuda a reter partículas de pó, sujidade e microorganismos. O ouvido médio é uma cavidade com ar, que fica atrás da membrana do tímpano. A energia das ondas sonoras é transmitida, do ouvido externo até à janela oval na cóclea que se encontra no ouvido interno. Essa transmissão de energia é efetuada através de três ossos minúsculos (o martelo, a bigorna e o estribo). No ouvido médio há um canal, em parte fibrocartilagíneo com o nome de trompa de Eustáquio ligado à rinofaringe. A trompa de Eustáquio abre e fecha constantemente. A membrana do tímpano é constituída por três camadas. A parcela superior da membrana chama-se pars flácida e a inferior chama-se pars tensa. É na parte central da pars tensa que se encontra a área vibrante activa. A membrana timpânica é uma estrutura auto- regenrativa, sendo por isso capaz de corrigir um furo na sua estrutura. Os pequenos ossos, as suas articulações e ligamentos são revestidos por uma mucosa e pode tornar-se 5 mais ou menos tensa, pela acção de dois pequenos músculos, o do martelo e o do estribo. Com este mecanismo é possível limitar a transmissão de energia para o interior da cóclea. No ouvido interno, encontra-se a parte mais importante do ouvido periférico. A cóclea, em forma de caracol tem a função de diferenciar e interpretar sons. Para além da cóclea, o ouvido interno é constituído por um labirinto vestibular, constituído pelo sáculo e pelo utrículo, que são os órgãos que informam o nosso cérebro sobre a posição do corpo no espaço. O órgão de Corti que, aloja as células ciliadas, situa-se sobre a membrana basilar e segue a estrutura em espiral da mesma. Existem dois tipos de células ciliadas: as células ciliadas interiores e as exteriores. As células ciliadas internas encontram-se distribuídas ao longo de uma fila com aproximadamente 3500 células. Estas células recebem aproximadamente 95% das enervações das fibras do nervo auditivo, sendo responsáveis pela produção da sensação de audição. Quando lesadas provocam perdas auditivas acentuadas e irreversíveis. Figura 1: Estrutura do ouvido humano Fonte: Serrano, 2008. 1.2.2. Classificações da deficiência auditiva A deficiência auditiva quanto a periodicidade é caracterizada por dois tipos: a deficiência temporária (que pode ser ultrapassada com ajuda médica) e a deficiência definitiva (que não consegue ser combatida com procedimentos médicos e a criança tem de aprender a viver assim durante toda a sua vida). http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/6b/Ear-anatomy-text-portuguese.PNG 6 Temos três níveis distintos de deficiência auditiva. No primeiro nível temos a transmissão (um problema que está centrado no ouvido externo), no segundo nível a lesão encontra-se no ouvido interno e no terceiro nível lesões tanto no ouvidoexterno como interno (NIELSEN, 2003). Para medir a intensidade do som utiliza-se o Audiograma, que nos dá a frequência através de um gráfico que regista a leitura em decibéis, os quais indicam o grau de surdez da pessoa (Alvaraga, Martins, Varão & Serrano, 2001). Existem quatro tipos de deficiência auditiva: Deficiência de condução, em que há uma dificuldade ou impedimento na passagem de vibrações sonoras para o ouvido. Deficiência sensório-motora, que tem origem no ouvido interno e é consequência de doenças ou malformações de origem hereditária. Também pode ser provocada por factores tóxicos, traumas ou excessiva exposição do ouvido a níveis elevados de poluição sonora. Normalmente também é designada como surdez de percepção, nervosa ou de ouvido interno. Deficiência mista, em que o ouvido médio ou interno sofre lesões ou alterações que lhes estão associadas. Deficiência central, que tem origem numa disfunção ou mal desenvolvimento das vias auditivas do sistema nervoso central. Quanto a origem, a deficiência auditiva pode ser de dois tipos: congénita ou adquirida. A surdez congénita pode ser consequência de factores hereditários (devido unicamente a características transmitidas pelos genes), factores pré-natais (devido a situações que ocorrem durante a gravidez, como resultado por exemplo de doenças que afectam a mãe - rubéola, taxoplasmose, etc.), e factores peri-natais (consequência de alterações durante o parto ou até às primeiras horas de vida do bebé, como por exemplo falta de oxigénio no cérebro, peso reduzido, etc.). A surdez adquirida é aquela que afecta as crianças com audição normal à nascença e que pode ser provocada por lesões, como por exemplo traumas acústicos devido a pancadas nos ouvidos, infecções virais (otites) ou então 7 devido a toxicidade farmacológica, como por exemplo Ototoxitose (utilização prolongada de antibióticos). 1.2.3. Níveis ou graus da deficiência auditiva Os níveis de Surdez são vários e podem ser classificados dependendo da intensidade da perda auditiva (AFONSO, 2008). Os autores ALMEIDA et al., (2004) entendem por Surdez a perda total de audição. Empregando-se para os vários níveis as designações de Surdez ligeira, modera, severa e profunda. Existem alguns autores, nomeadamente, NUNES (1999) citado por AFONSO (2008) que referem que muitas vezes há dificuldade em identificar o grau de Surdez que uma criança apresenta quando esta ainda é muito pequena. Segundo os investigadores acima referidos, ao aplicar o índice de Fletcher, já é possível detectar o grau de Surdez que uma criança portadora de deficiência auditiva apresenta. Este teste é feito em frequências de 500, 1000 e 2000 Hz (Hertz “Hz” é a unidade de medida da frequência de um som e corresponde a um ciclo), com a média do limiar auditivo. As perdas auditivas inferiores a 25 dB, não interferem no desenvolvimento da aquisição da linguagem, mas podem levar a algumas dificuldades de comunicação (NIELSEN, 2003). Com a deficiência auditiva leve, apesar de não apresentar grandes dificuldades na aquisição da linguagem, a criança apresenta algumas lacunas na articulação, na atenção, no ouvir e perceber a comunicação oral em meios muito ruidosos. Com a deficiência auditiva moderada a fala dá-se com algum atraso. A criança revela falta de atenção e compreensão a distâncias curtas, conversas em grupo (mais do que uma pessoa a falar) e em sítios mais ruidosos, levando à alteração de voz e articulação. Com o apoio precoce de técnicas especializadas a criança consegue chegar a um desenvolvimento normal da linguagem. Na deficiência auditiva severa há um difícil desenvolvimento da linguagem. Com a ajuda de uma intervenção precoce a criança poderá ter uma articulação inteligível. Consegue ouvir os sons próximos, identificar os sons do ambiente. Neste caso a criança consegue diferenciar as vogais com amplificação sonora. Por último na deficiência auditiva profunda a compreensão verbal da criança está dependente da leitura labial. 8 Como a criança não consegue ouvir não usa a linguagem oral para comunicar mas sim a língua gestual para comunicar (NIELSEN, 2003). Quadro I – Classificação dos graus de surdez e respectiva percepção sonora de acordo com a perda auditiva em dB Intensidade (dB) Grau de surdez Percepção sonora 20 - 40 Ligeira A criança em ambientes ruidosos pode ter dificuldades em entender mensagens; Não identifica totalmente os sons produzidos; A utilização de prótese auditiva favorece uma melhor percepção; Pode apresentar pequenas dificuldades articulatórias. 40 - 60 Moderada Só identifica palavras se forem produzidas em voz alta; Uso de uma prótese auditiva para conseguir perceber os sons; Pode não conseguir acompanhar uma discussão em grupo; A articulação é bastante difícil; Linguagem expressiva oral limitada 60 - 90 Severa Consegue ouvir os sons próximos; Só consegue perceber algumas palavras se forem ditas lentamente; O processo de aquisição da linguagem oral não é espontâneo. >90 Profunda Não percebe a fala através da audição, mas consegue perceber sons altos e vibrações; Revela muitas limitações para a aquisição da linguagem oral. Fonte: Adaptado (ALMEIDA et al, 2004). 9 1.2.4. Factores que levam à deficiência auditiva Há muitos factores que levam ao aparecimento da deficiência auditiva ou surdez na criança. Por exemplo, lesões que podem ocorrer antes do nascimento (pré natais) ou depois do nascimento (pós natais). Das lesões pré natais advém a Surdez congénita que pode ser originada por motivos ambientais ou hereditários. No caso ambiental, temos infecções (como herpes, vírus, sífilis, entre outras) ou complicações que podem ocorrer durante a gestação. Nos casos hereditários, estas podem ou não ser transmitidas geneticamente da família. As perdas auditivas de grau variável podem surgir durante ou logo após o parto. As lesões pós natais levam a uma surdez adquirida. Um dos factores que leva a este tipo de surdez é a meningite ou outras doenças contraídas durante a infância como: papeira, sarampo ou tosse convulsa que nos dias de hoje já é possível combater recorrendo à vacinação. Os ruídos muito altos, medicamentos e traumatismos cranianos graves podem também causar Surdez (ALMEIDA, et al. 2004). 1.2.5. Integração e Inclusão dos deficientes auditivos em classes regulares Capa e Rego, em 1999 assumem que a inclusão dos surdos no ensino regular obriga à criação de condições que facilitem o desenvolvimento social e escolar do aluno, situação esta que passa pela sensibilização de todos os elementos da comunidade escolar e pelo desenvolvimento de um plano educativo individual, flexível e adequado a cada aluno. Segundo Lacerda ao se incluírem alunos surdos no ensino regular é “necessário garantir a sua possibilidade de acesso aos conhecimentos que estão a ser trabalhados, além do respeito pela sua condição sociolinguística e pelo seu modo peculiar de funcionamento”. É então importante o reconhecimento de que estes alunos necessitam de apoio específico, e assim precisam de ter acesso a apoios tecnológicos e humanos, de forma permanente ou temporária. Só assim é possível garantir o desenvolvimento escolar e social destes alunos. 1.2.6. Recursos auditivos que uma criança com problemas auditivo pode recorrer Segundo NUNES (1999), a criança portadora de deficiência auditiva deve recorrer ao uso de aparelhos auditivos o mais precocemente possível tanto para a adaptação 10 destes, como para a aquisição da evolução da linguagem. A criança com ausência de audição pode usar aparelhos auditivos desde os 6 meses de idade. Tudo isto vai depender da idade que se detectou a ausência de audição, o tipo e o que provocoua Surdez. A reabilitação auditiva da criança pode ser desenvolvida com o uso de prótese auditiva ou com um implante cirúrgico. Para HENRIQUES (2010:67), o objectivo da prótese auditiva é “ aproveitar a audição residual de modo eficaz através de um mecanismo de amplificação”. NUNES (2003) entende que para a criança portadora de deficiência auditiva ter uma boa adaptação à prótese auditiva é muito importante haver clareza da fala, como também um nível sonoro confortável. O Implante Coclear é inserido por via da cirurgia. Este altera a energia sonora em sinais eléctricos que, posteriormente, são interpretados no córtex auditivo ( BERRO et al. 2008). O uso do implante coclear é a utilização de uma “ prótese auditiva elétrica, complexa, que utiliza a estimulação direta do nervo auditivo, ultrapassando a cóclea, para produzir sensações auditivas” (ALVES, & PACHECO, 2003:234). Henriques (2010:75), define o implante coclear como “ um dispositivo electrónico também conhecido como ouvido biónico, que estimula as células nervosas do ouvido interno (células ciliadas), permitindo a transmissão do estímulo eléctrico através do nervo auditivo até ao córtex cerebral onde será descodificado”. Para ALVES & PACHECO (2003), os estudos realizados apontam que uma criança portadora de deficiência auditiva adquirida ou congénita, bilateral, profunda ou severa, após os 18 meses de idade já pode levar um implante coclear. O primeiro implante coclear em Portugal foi implantado num adulto em 1988 no centro Hospitalar de Coimbra e na primeira criança no ano de 1992 também no mesmo centro hospitalar (HENRIQUES, 2010). Fig. 2: Prótese auditiva analógica (lado esquerdo) e Prótese auditiva digital (lado direito). 11 Figura 3: Implante Coclear Fonte: http://Pixabay.com/pt. 1.3. Deficiência visual Na óptica de CORREIA (2008), a Deficiência Visual diz respeito a “uma incapacidade de visão significativa ou total que, mesmo depois de corrigida, afecta negativamente a realização escolar da criança. O termo inclui dois grandes grupos de crianças – as cegas e as portadoras de visão parcial ou reduzida. A Deficiência Visual compreende as pessoas cegas e com baixa visão. Ou seja, deficiência visual não é sinónimo de cego nem de baixa visão. Ambos os termos possuem suas definições e características próprias. A cegueira é entendida como a perda total da visão, até a ausência da percepção da luz. Ela pode ocorrer desde o nascimento e, nesse caso, se classifica como congénita e ainda pode ser adquirida ao longo da vida da pessoa – sendo, dessa forma, denominada como adquirida. Conhecer a origem da cegueira pode ser importante para fins educacionais, isso porque qualquer resquício de memória visual pode auxiliar o trabalho do professor na alfabetização do estudante cego (AMIRALIAN, 1997). A baixa visão pode ser compreendida como a alteração da capacidade funcional da visão, decorrente de inúmeros factores isolados ou associados, tais como: baixa acuidade visual significativa, redução importante do campo visual, alterações corticais e/ou de sensibilidade aos contrastes, que interferem ou que limitam o desempenho visual do indivíduo (BRASIL, 2006:16). http://pixabay.com/pt 12 Inicialmente, a medicina teve uma preocupação em compreender o quanto uma pessoa com deficiência visual poderia enxergar e, nesse sentido, foram desenvolvidas medidas que informavam a capacidade visual das pessoas com deficiência visual (AMIRALIAN, 1997). De acordo com o Ministério da Educação Português (2002), do ponto de vista clínico, um indivíduo pode ser considerado deficiente visual quando apresenta significativas limitações: 1) Na acuidade visual 2) No campo visual Acuidade visual entende-se como a capacidade que a pessoa tem para perceber e discriminar pormenores de um objecto a uma determinada distância. Campo visual entende-se como a distância angular que o olho consegue abranger, sendo o da pessoa normovisual de cerca de 180º sem mover a cabeça. 1.3.1. Cegueira e baixa visão Deste modo, e tendo em conta a opinião de CORREIA (2008), dividimos a deficiência visual em duas partes distintas: Cegueira: Acuidade visual binocular corrigida entre 1/20 e 1/50 ou com um campo visual com ângulo <10º (N=180º). Ausência total de visão ou simples percepção luminosa. Baixa Visão: parcial (acuidade visual no melhor olho e com correcção entre 1/10 e 3/10 e sem problemas no campo visual). Residual (acuidade visual < 1/10 e um campo visual < ou = 20º). Apesar das limitações usa ou é potencialmente capaz de usar a visão para o planeamento e ou execução de uma tarefa. 1.3.2. Causas e formas de prevenção da deficiência visual A prevenção da deficiência visual é papel de uma série de actores da sociedade, o que inclui os agentes da saúde, assistentes sociais, professores, líderes da comunidade e familiares (BRITO; VEITZMAN, 2000; RODRIGUES, 1997; TEMPORINI; KARA- JOSÉ, 2004), até porque, segundo Brito e Veitzman (2000), no ano de 2000, já era 13 possível prevenir 60% dos casos de deficiência visual – é possível que tal número tenha aumentado ainda mais hoje, vinte anos depois da publicação desse estudo. Logo, é primordial a realização tanto do aconselhamento genético quanto da vacinação e o acompanhamento pré-natal (BRASIL, 2006; RODRIGUES, 1997), bem como o acompanhamento de mulheres que estão dentro da idade esperada para gestação (RODRIGUES, 1997). O aconselhamento genético é capaz de prevenir a retinite pigmentosa (consiste em um conjunto de doenças hereditárias que acarretam a degeneração da retina, ocasionando perda gradual da visão, ela não possui cura), o glaucoma e a catarata congénita. O exame pré-natal diminui o risco de má formação do bebê, uma vez que a gestação será acompanhada. Quanto às causas congénitas de deficiência, a maioria delas é proveniente de um ou mais dos seguintes factores: gestação precoce, desnutrição da mãe, mãe usuária de drogas ou álcool, infecções durante a gravidez (rubéola, sífilis, AIDS, toxoplasmose e citomegalovírus) (BRASIL, 2006); logo, é possível prevenir tais situações se houver o acompanhamento adequado das mulheres com possibilidade de gestação. Há, também, cuidados durante o parto que podem evitar a deficiência visual, bem como a vacinação da criança, que pode evitar doenças, como o sarampo e a meningite, as quais podem causar deficiência visual. Por fim, por meio do diagnóstico precoce, triagem em berçários, creches e pré-escola, é possível evitar o agravamento de quadros de deficiência visual. Dessa forma, o professor possui um papel fundamental nessa etapa da prevenção (BRASIL, 2006). É também papel do professor, bem como dos pais, evitar acidentes que, por sua vez, também podem causar deficiência visual. Quanto aos médicos, cabe a liderança de programas de prevenção (RODRIGUES, 1997; TEMPORINI; KARA-JOSÉ, 2004), sendo que a elaboração de tais programas demanda uma equipe multidisciplinar, o que inclui, dentre outros, os professores (RODRIGUES, 1997). Diagnosticar precocemente a deficiência visual é primordial para que o desenvolvimento da criança não seja prejudicado (BRASIL, 2006). Sendo assim, cabe ao professor estar atento aos sinais que podem estar relacionados a algum tipo de deficiência visual. 14 1.3.3. Indicadores de possíveis problemas visuais Em seguida apresentam-se indicadores de possíveis problemas de visão mencionados por RUIZ, MOLINA, BUENO, & LARA (2003). Na aparência dos olhos Vesguear (para dentro ou para fora), quando está cansado; Olhos ou pálpebras avermelhados; Olhos aquosos; Pálpebras afundadas; Treçolhos frequentes; Pupilas nubladas ou muito abertas; Olhos em constante movimento; Pálpebras caídas No comportamento da criança Corporígido ao ler ou olhar para um objecto distante; Inclinar a cabeça para a frente ou para trás ao olhar para objectos distantes; Giro da cabeça para usar um só olho; Inclinação lateral da cabeça; Colocação da cabeça muito próximo do livro ao ler ou escrever, manter o material muito perto ou muito longe; Franzir constantemente as sobrancelhas ao ler ou escrever; Piscar os olhos em excesso; Esfregar excessivamente os olhos; Fechar, cobrir uma vista ou inclinar a cabeça; Falta de gosto pela leitura ou falta de atenção; Fadiga incomum ao terminar uma tarefa visual; Uso do dedo ou lápis como guia; Não gosta, evita, pestaneja muito, tem dificuldade em actividades que requerem a utilização da visão; Esbarra em objectos. 15 Nas queixas da criança associadas ao uso dos olhos Dores de cabeça; Náuseas ou vertigens; Ardor ou coceira nos olhos; Visão turva a qualquer momento; Dores oculares. Caso o professor perceba um ou mais desses sintomas ou comportamentos, faz-se necessário informar a coordenação da escola, visando conversar com os pais e orientá- los a procurar um oftalmologista. Além disso, também é importante que a escola e, consequentemente, o docente orientem os familiares em relação à higiene e prevenção de possíveis problemas oculares (BRASIL, 2001). 1.3.4. Como lidar com os portadores de deficiência visual A Associação de Cegos Louis Braille enuncia algumas estratégias para lidar com pessoas portadoras de deficiência visual, das quais destacamos: Ofereça ajuda a uma pessoa cega se lhe parecer que ela está a necessitar. Só deve agir com a sua concordância. Pergunte antes de agir. Se não sabe como ajudar, peça explicações de como fazê-lo. Para guiar uma pessoa cega, esta deve segurar-lhe pelo braço, de preferência no cotovelo ou no ombro. Não a pegue pelo braço: além de perigoso, pode assustá- la. À medida que vai encontrando degraus e outros obstáculos, vá orientando. Em lugares muito estreitos para duas pessoas caminharem lado a lado, coloque o seu braço para trás de modo que a pessoa cega possa segui-lo. Ao sair de uma sala, informe o(a) cego(a); é desagradável para qualquer pessoa falar para o vazio. Não evite palavras como "cego", "olhar" ou "ver", os (as) cegos(as) também as usam. Ao explicar direcções para uma pessoa cega, seja o mais claro e específico possível. Não se esqueça de indicar os obstáculos que existem no caminho. Como algumas pessoas cegas não têm memória visual, não se esqueça de indicar as distâncias em metros (por exemplo: "uns vinte metros para a frente"). Mas se não sabe como orientar uma pessoa cega, diga algo do género: "eu gostaria de ajudar, mas como é que devo descrever as coisas?", ele(a) lhe dirá. 16 Ao guiar um(a) cego(a) para uma cadeira, guie a sua mão para o encosto da mesma, e informe, se a cadeira tem braços ou não. Num restaurante, é de boa educação que você leia o cardápio e os preços. Uma pessoa cega deve ser tratada com o mesmo respeito que os “não cegos”. 1.3.5. Materiais auxiliares para alunos com deficiência visual Comprovada a baixa visão, alguns recursos ópticos podem auxiliar no aprendizado desses estudantes (BRASIL, 2010). Entre esses recursos, temos aos óculos de vista, as lupas, que auxiliam no aumento de letras e ilustrações. Figura 4. Lupas Fonte: BRASIL (2006). Para os estudantes cegos, a principal via de apreensão de informações são os sentidos remanescentes, geralmente o tato e a audição. Nesse sentido, como já foi exposto anteriormente, no desenvolvimento de materiais adaptados, deve-se levar em consideração essa informação. O Sistema Braile é uma importante ferramenta para o desenvolvimento da leitura e escrita para esses estudantes. O material impresso em tinta, como os livros didácticos, apostilas, devem ser adaptados e transcritos em braile, e as ilustrações devem ser representadas em alto-relevo, explorando o sentido do tato (BRASIL, 2010). A transcrição de um texto impresso para o braile pode se dar, principalmente, pelos recursos reglete e pela máquina de escrever em braile. Embora o uso de tecnologias seja hoje em dia bastante disseminado, é de fundamental importância explorar a leitura e a escrita por meio do braile pelos meios convencionais. 17 Figura 5: Prancheta de plástico com uma reglete de metal e uma punção azul (lado esquerdo); Máquina de escrever em braile mecânica na cor cinza (lado direito). Fonte: BRASIL (2010). Incluir a pessoa com deficiência no ambiente social é uma perspectiva válida quando se pensa que é no meio social que o desenvolvimento ocorre mais significativamente. Porém, é nesse momento que a deficiência passa a se tornar uma realidade reforçada pela ausência de estrutura para atender essas pessoas. E, no âmbito educacional, deve-se priorizar a escolarização de todos os alunos (com e sem deficiência) no ambiente da classe comum, sendo que é preciso contemplar as especificidades dos alunos com deficiência para que eles consigam alcançar sucesso escolar. No Brasil, como já relatado anteriormente, tal apoio acontece no contra-turno da classe comum, através do AEE. A criança com deficiência visual, quando inicia suas actividades educacionais, pode sofrer problemas relacionados à adaptação ao novo ambiente, principalmente se este não estiver adaptado para atender suas necessidades. Entende-se que mais importante do que incluir uma criança na sala de aula regular é incluir também todos os recursos necessários para que ela desfrute das oportunidades como os demais estudantes. 18 2. Conclusão Contudo, podemos concluir que a deficiência visual caracteriza-se por uma limitação sensorial no órgão da visão. As pessoas que possuíam tal limitação, ao longo da história, foram tratadas com distinção, uma vez que suas características divergiam do “padrão” da normalidade estabelecido socialmente. Nos dias atuais, pode-se observar certo avanço no sentido de garantia de direitos sociais, colaborando para que não sofram mais grandes e frequentes discriminações devido às suas especificidades. Mas as maiores barreiras responsáveis pelas dificuldades enfrentadas pelas pessoas com deficiência visual estão na organização social. No caso, as barreiras arquitectónicas, que dificultam a livre locomoção e mobilidade dessas pessoas; e, ainda, as barreiras educacionais, nas quais estão as adaptações e o desenvolvimento de materiais que garantam o acesso à leitura e à escrita. A deficiência auditiva, quando acontece pode trazer consigo consequências sérias ao desenvolvimento da criança. A integridade anatómica fisiológica do sistema auditivo é um pré-requisito para a aquisição e o desenvolvimento da linguagem, pois o desenvolvimento da linguagem de uma criança normal pode ser influenciado por tendências, traços herdados e estímulos ambientais, existindo uma combinação de estímulos ambientais e do potencial inato do desenvolvimento do individuo. Portanto, dentro dos objectivos previamente traçados pode se afirmar que foram concretizados uma vez que ao longo do trabalho é referido que dentro dos problemas auditivos podemos encontrar varias fases que caracterizam esta perturbação sendo necessária a aplicação de algumas estratégias que o grupo propôs para a minimização deste tipo de perturbação na sala de aulas bem como na tomada de decisão sobre o processo educativo. É importante salientar que o professor dentro do seu espírito inclusivo deve assumir a heterogeneidade da classe para melhor levar a cabo as suas actividades de docência. 19 3. Referências Bibliográficas AFONSO, Carlos. Reflexões sobre a surdez: A problemática específica da surdez. Vila Nova de Gaia: Gailivro, 2008. ALMEIDA, F., ANTUNES, I., CAEIRO, M., CUNHA, I., MONTEIRO, L., MOREIRA, I., Varão, L. Tempo de mudança: Compreendera surdez. Lisboa: Associação Internacional de Clubes Lions, 2004. ALVES, G., & PACHECO, R. Reabilitação cirúrgica do ouvido médio. In J. L. Reis (Ed.), Surdez: Diagnóstico e reabilitação. Lisboa: Servier Portugal. Vol. 2, 2003. BERRO, A; BRAZOROTTO, J.; de OLIVEIRA, K.; de GODOY, L. & BUFFa, M. Manual de Orientação para Professores de Crianças com Deficiência Auditiva. Abordagem Aurioral. (2ªed). São Paulo: Livraria Santos Editora, Lda, 2008. BRASIL. Ministério da Educação. Secretária de Educação Especial. Programa de capacitação de recursos humanos do ensino fundamental: deficiência visual. v. 1. Brasília, 2001. CORREIA, L. M. Alunos com Necessidades Educativas Especiais na Classe Regular, Porto: Porto Editora, 1997. CORREIA, L. M. Dificuldades de aprendizagem específicas – Contributos para uma definição portuguesa. Porto: Porto Editora, 2008. HENRIQUES, M. Terapêutica da surdez. In J. Paço, C. Branco, I. Moreira, C. Caroça, & M. Henriques, Introdução à surdez. Lisboa: Universidade Católica Editora, 2010. NIELSEN, L. B. Necessidades Educativas na Sala de Aula. Um Guia para Professores. Coleção Educação Especial. (Vol. 3) Porto: Porto Editora, 2003. NIELSEN, L. Necessidades educativas especiais na sala de aula: Um guia para professores. Porto: Porto Editora, 1999. 20 RUIZ, M. C. P., MOLINA, D. R., BUENO, M. C. T., & LARA, R. T. Diagnóstico e Avaliação do funcionamento Visual In M. B. Martín & S. T. Bueno (Coords), Deficiência Visual: Aspectos Psicoevolutivos e Educativos. S. Paulo: Livraria Santos Editora Ltda, 2003. OMS. Visual Impairment and Blindness. UN oficial report Fact Sheet nº 282. Disponível em: http://www.who.int/mediacentre/factsheets/ fs282/en/. Acesso em: 09 de Maio de 2020. SERRANO, A. M. Apontamentos das aulas de Dificuldades de aprendizagem específicas: Perspectivas cognitivas, motoras, sócio-emocionais e da linguagem. Universidade do Minho, Braga, 2008. TEMPORINI, E. R.; KARA-JOSÉ, N. A perda da visão – Estratégias de prevenção. Arquivo Brasileiro de Oftalmologia. São Paulo, v. 67, n. 4, p. 597- 601, 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0004- 27492004000400007&script=sci_arttext. Acesso em: 09 Maio de 2020. As nex.pdf Dudas Nee.pdf
Compartilhar