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Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS TECNOLOGIA EM LOGÍSTICA Autor: Neimar Follmann 650 F668t Follmann, Neimar. Tecnologia em Logística/ Neimar Follmann. Centro Universitário Leonardo da Vinci Indaial: Grupo UNIASSELVI, 2010.x ; 115p.: il. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-265-8 1. Logística - Administração 2. Técnicas Operacionais I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. II Núcleo de Ensino a Distância III. Título. CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Ozinil Martins de Souza Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra B. Götzinger Montibeller Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald Profa. Jociane Stolf Revisão de Conteúdo: Prof. Carlos Manuel Taboada Rodriguez Revisão Gramatical: Profa. Iara de Oliveira Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci Copyright © Editora Grupo UNIASSELVI 2010 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. UNIASSELVI – Indaial. É mestre em Logística e Transporte pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina, onde atualmente cursa doutorado na mesma área. É especialista em Métodos de Melhoria da Produtividade e Bacharel em Administração pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Há mais de 10 anos atua em atividades da logística, às quais se dedica atualmente com pesquisas e soluções, como o uso de técnicas relacionadas ao Gerenciamento de Restrições (GR) e o desenvolvimento de métodos para avaliação do desempenho de processos logísticos. Neimar Follmann Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................ 7 CAPÍTULO 1 A Evolução Tecnológica no Contexto Logístico .................... 9 CAPÍTULO 2 O Gerenciamento pelas Restrições ........................................ 29 CAPÍTULO 3 O Modelo de Suprimento MILK RUN ........................................ 53 CAPÍTULO 4 Identificaçao por Rádio Frequência (RFID) ............................ 75 CAPÍTULO 5 Tecnologia da Informação Aplicada à Logística .................... 93 APRESENTAÇÃO A logística assumiu posição estratégica e fundamental nas empresas mais competitivas da atualidade. Se até algumas décadas a logística era, praticamente, sinônimo de transporte, hoje isto mudou muito. O transporte continua sendo o principal componente em termos de custo, mas outras questões vieram à tona, como uma visão mais sistêmica quando se viu que não basta transportar bem, é necessário que áreas como a gestão de estoques, armazenagem, entre outras, também sejam bem gerenciadas. Por conta disso, diversas tecnologias se desenvolveram e se adaptaram para esta área. É de algumas destas tecnologias que trataremos neste livro. Como não foi possível abordar todas as tecnologias disponíveis, em todos os seus detalhes, por uma questão de espaço, é importante que você busque este conhecimento, seja através de cursos específicos, seja através de livros, seja até de alguns bons sites da internet. Empresas desenvolvedoras destas tecnologias são um bom local para tomar conhecimento de novidades nesta área. Sites, como o Google Acadêmico, também podem ser boa fonte de pesquisa se inseridos os termos corretos. A estrutura do livro, que apresento a seguir, buscou retratar o que há de mais importante em termos de tecnologias. O objetivo geral é que você tenha condições de visualizar a verdadeira necessidade tecnológica para a empresa em que estiver trabalhando, sem cair em uma armadilha muito comum no meio empresarial: o modismo. Essa armadilha faz com que muitas empresas gastem dinheiro em coisas que, na verdade, nem eram o seu maior problema, e isto precisa ser evitado. No primeiro capítulo, analisaremos como chegamos ao estágio atual da logística e teremos a oportunidade de relacionar os estágios da logística com as tecnologias disponíveis para cada época. Inicialmente, é importante destacar que a evolução das tecnologias aplicadas à logística está diretamente relacionada com o aumento das atribuições assumidas pela área. Conforme as empresas foram visualizando mais oportunidades de reduzir os custos e aumentar o serviço ao cliente por meio da logística, mais tecnologias foram sendo criadas e adaptadas para a área. Nos capítulos dois e três, iremos falar sobre tecnologias relacionadas aos processos. No capítulo 2, você compreenderá como o gerenciamento pelas restrições impacta os estoques e o fluxo da produção de uma empresa industrial. Verá que é possível trabalhar com menos estoques e melhor atendimento ao cliente ao mesmo tempo. No capítulo 3, falaremos sobre milk-run, que é uma técnica que melhora significativamente o suprimento de matéria-prima, através de um roteiro pré- programado, que permite que um ou poucos veículos coletem as mercadorias de todos os fornecedores, possibilitando, entre outras coisas, maior frequência de atendimento e redução de estoques de matéria-prima. No capítulo 4, você estudará a Identificação por Rádio Frequência (RFID), que é uma das principais tecnologias da atualidade. Um dos benefícios desta tecnologia é a agilidade com que o controle de entradas e saídas nos estoques pode ser feito. Além disso, é possível ter um controle mais efetivo, pois se tira um pouco da pressão sobre as pessoas, que normalmente fazem a contagem e o controle. No quinto capítulo, vamos falar sobre a tecnologia da informação para a gestão dos processos logísticos. Normalmente, o momento de maior dificuldade para um gestor é a tomada de decisão. Por exemplo, quantos veículos necessito ter disponíveis em minha frota? Quantos dias de estoque tenho, quantos eu deveria ter e quanto devo comprar? Poder decidir e agir rapidamente é fundamental para o sucesso do gestor e da empresa. Dessa forma, as informações devem estar disponíveis e organizadas. Assim, este capítulo tratará sobre a tecnologia em si e as principais decisões que serão tomadas a partir desta tecnologia. O autor. CAPÍTULO 1 A Evolução Tecnológica no Contexto Logístico A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Conhecer o que é logística, como se deu sua evolução, o que é tecnologia, a importância das tecnologias e quais as principais tecnologias disponíveis para aumentar a efi ciência logística. Identifi car os processos da logística nas empresas, relacionando-a com seus problemas e com as soluções tecnológicas disponíveis. 10 Tecnologia em logística 11 A EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA NO CONTEXTO LOGÍSTICOCapítulo 1 ContextualiZação É muito provável que você tenha ouvido falar, principalmente nos últimos anos, sobre a importância da logística para as empresas. Realmente, cada vez mais os gestores se dão conta de que a forma como os produtos são movimentados e armazenados entre seus fornecedores e clientes faz uma grande diferença no desempenho da empresa como um todo. Há, na logística, dois grandes objetivos a serem perseguidos: redução do custo das operações e o aumento do nível de serviços. Ambos impactam no lucro. O primeiro, caso não seja bem controlado, acaba por reduzir o resultado da empresa. O segundo, se bem trabalhado, aumenta a satisfação do mercado e aumenta as receitas e/ou o valor que o cliente dá ao produto vendido e, portanto, acaba aumentando os lucros. Entretanto, pense sobre as empresas que você conhece e responda: há alguma que não se preocupe em melhorar o atendimento ao cliente ou reduzir os custos? É praticamente certo que todas fazem alguma coisa para aumentar seus lucros. Isto signifi ca que para se destacar no mercado é preciso ir além do básico. E para isto háa possibilidade de utilizar tecnologias para realizar as atividades logísticas do dia a dia com muito mais efi ciência. Neste primeiro capítulo, iremos analisar como chegamos ao estágio atual da logística e teremos a oportunidade de relacionar os estágios da logística com as tecnologias disponíveis para cada época. Inicialmente, é importante destacar que a evolução das tecnologias aplicadas à logística está diretamente relacionada com o aumento das atribuições assumidas pela área. Conforme as empresas foram visualizando mais oportunidades de reduzir os custos e aumentar o serviço ao cliente através da logística, mais tecnologias foram sendo criadas e adaptadas para a área. Além disso, a maior integração entre as empresas fez com que as tecnologias da informação se tornassem indispensáveis. Da mesma forma, esta integração tornou aparentes as falhas nos processos logísticos das empresas. Por outro lado, a forma como o fl uxo material ocorre também sofreu alterações, exigindo- se o máximo de efi ciência de cada um dos processos envolvidos. Para que isto fosse possível, a tecnologia não evoluiu somente nas máquinas e equipamentos, evoluiu também nos processos. Dessa forma, uma vez compreendida a evolução da logística e das tecnologias a ela relacionadas, você será capaz de analisar os processos de sua empresa ou de empresas que você conheça e visualizar se ela está fazendo uso Há, na logística, dois grandes objetivos a serem perseguidos: redução do custo das operações e o aumento do nível de serviços. Ambos impactam no lucro. 12 Tecnologia em logística de todo o potencial que a logística tem para oferecer. A partir disso, estaremos em condições de partir para os próximos capítulos e aprofundar nosso conhecimento. A Logística Para muitas pessoas, logística é igual a transporte. Este é o primeiro paradigma que devemos quebrar. Logística compreende: o processo de planejar, implementar e controlar de maneira efi ciente o fl uxo e a armazenagem de produtos, bem como os serviços e informações associados, cobrindo desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o objetivo de atender aos requisitos do consumidor. (COUNCIL OF LOGISTICS MANAGEMENT (CLM) apud NOVAES, 2004, p. 35). O CLM foi substituído pelo Council of Supply Chain Management and Professionals (CSCMP). Destaca-se deste conceito o fato de a logística abranger todo o planejamento, operação e controle, desde o ponto de origem até o ponto de destino. Isto signifi ca que não só será feito o transporte, mas será gerenciado o armazenamento de matérias-primas e produtos acabados. Analisando a fi gura a seguir, você poderá identifi car todos os elementos contidos no conceito. Figura 1 - Elementos básicos da logística Fonte: Novaes (2004, p.36). Para muitas pessoas, logística é igual a transporte. Este é o primeiro paradigma que devemos quebrar. 13 A EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA NO CONTEXTO LOGÍSTICOCapítulo 1 Outros conceitos dão até uma visão mais abrangente e diferenciada sobre a logística. Para nós, é importante conhecer alguns destes conceitos, pois eles são propostos sob diferentes situações empresariais. Dessa forma, um conceito pode servir melhor para um tipo de empresa do que para outra. Por exemplo, para o Council of Supply Chain Management and Professionals (CSCMP) (2009), a logística é a parte da cadeia de suprimentos que planeja, implementa e controla efi ciente e efetivamente o fl uxo normal e reverso da estocagem de bens, serviços e informações relacionadas, entre o ponto de origem e o ponto de consumo, visando a atender aos requisitos dos consumidores. Inclui-se neste conceito o fl uxo reverso, que é mais conhecido como logística reversa. Essa é também a defi nição defendida por Ballou (2006). Já Christopher (2007, p. 3) defende que a logística é: O processo de gerenciamento estratégico de compra, do transporte e da armazenagem de matérias-primas, partes e produtos acabados (além dos fl uxos de informação relacionados) por parte da organização e de seus canais de marketing, de tal modo que a lucratividade, atual e futura, seja maximizada mediante a entrega de encomendas com o menor custo associado. As atividades logísticas normalmente incluem o transporte de abastecimento e de distribuição, bem como a gestão da frota, distribuição, movimentação interna de materiais, atendimento dos pedidos, desenho da rede logística, gestão do inventário, planejamento dos suprimentos e demanda e a gestão dos serviços logísticos terceirizados. Em diversos níveis, a atividade logística inclui identifi car fontes e a respectiva compra, planejamento da produção e programação, embalagem, acessórios e serviços ao consumidor, envolvendo-se em todos os níveis de planejamento e execução – estratégia, operacional e tático. A gestão logística é uma função integradora, a qual coordena e otimiza todas as atividades logísticas, como também integra suas atividades com outras funções, incluindo marketing, vendas, manufatura, fi nanças e tecnologia da informação. (CSCMP, 2009). Ballou (2006) divide estas atividades em atividades-chave e atividades de suporte. As primeiras são formadas pelo(s): • serviços ao cliente padronizados; • transporte; • gerência de estoques e • fl uxos de informações e processamento de pedidos. Já as atividades de suporte são: 14 Tecnologia em logística • a armazenagem; • manuseio de materiais; • compras; • embalagem protetora; • cooperação com produção/operações e • manutenção de informações. Você já estudou as atividades–chave e atividades de suporte no caderno de Logística e Distribuição, lembra? Estas atividades de suporte e atividades-chave podem ser mais claramente vistas quando analisadas sob o ponto de vista de processos logísticos. Bowersox e Closs (2001) classifi cam os processos logísticos em Logística de Abastecimento, Logística de Planta e Logística de Distribuição, conforme ilustra a fi gura 2. Figura 2 - Processos Logísticos Fonte: Adaptado de Bowersox e Closs (2001). Vimos que um dos objetivos da logística é oferecer serviços aos clientes. Se analisarmos a fi gura anterior, poderemos ver que eles estão relacionados à logística de distribuição. O transporte envolve tanto o abastecimento quanto a indústria e a distribuição, o mesmo ocorre na gerência de estoques, que envolve os três processos logísticos. No abastecimento, determina o momento 15 A EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA NO CONTEXTO LOGÍSTICOCapítulo 1 de compras; na logística de planta, infl uencia na produção e, na distribuição, para a disponibilização dos produtos aos clientes. O fl uxo de informações e processamento de pedidos envolve o abastecimento e a distribuição. A logística tem um papel muito importante no processo de disseminação da informação. Caso isto seja bem gerenciado, atuará positivamente; caso contrário, poderá comprometer as ações mercadológicas. Sem a logística, as metas do marketing não têm condições de se concretizar adequadamente. (NOVAES, 2004). Ainda de acordo com este autor, a logística possui um grande poder no que se refere a conquistar e a fi delizar clientes. De nada adianta uma excelente campanha de marketing, se a logística não estiver em sincronia com ele. Isto é, se os produtos não estiverem disponíveis no local certo, na hora certa e a um custo que permita um preço acessível e lucros para a empresa, o cliente que entrou numa loja, por exemplo, não comprará, sentir-se-á frustrado e, possivelmente, não voltará. Um exemplo interessante da importância da logística para o marketing e, também, para outras áreas da empresa vem do Magazine Luiza, que inaugurou 44 lojas em setembro de 2008, em um só dia na Grande São Paulo. Para que esta operação desse certo, foi construído um centro de distribuição, contratados veículos para fazer as entregas aos consumidores, foi necessário mobilizar os fornecedores para que todos entregassem os produtos no Centro de Distribuição(CD) a tempo de abastecer as lojas. Também foi preciso que todas as áreas estivessem sincronizadas. Atividade de Estudos: 1) Identifi que em alguma empresa de seu conhecimento, como marketing e logística se complementam e interagem. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Ballou (1993, p.21) defi ne que “a missão da Logística é dispor a mercadoria ou o serviço certo, no lugar certo, no tempo certo e nas condições desejadas, ao mesmo tempo em que fornece a maior contribuição à empresa”. Nesse contexto, Sem a logística, as metas do marketing não têm condições de se concretizar adequadamente. (NOVAES, 2004). 16 Tecnologia em logística o gerenciamento de estoques tem papel fundamental. A baixa quantidade pode ocasionar falta de produtos aos clientes e aumentar os custos operacionais de obtenção. Por outro lado, um alto nível de estoques pode absorver boa parte do capital disponível na empresa e gerar um custo não considerado pela contabilidade de custos – o custo de oportunidade. (BALLOU, 2006). Diante deste cenário, as empresas têm adotado políticas para redução dos estoques. Entretanto, isto exige que a agilidade da cadeia seja maior. O pensamento enxuto, proveniente da fi losofi a japonesa de produção, também conhecida como Sistema Toyota de Produção, a Teoria das Restrições, tecnologias da informação e automação, tem feito com que muito do estoque seja eliminado por meio de uma maior agilidade de resposta ao mercado. Para Christopher (1999, p. 9): Criar uma organização com a capacidade e reação deve ser a principal prioridade da administração de qualquer negócio, e alcançar essa capacidade requer um enfoque muito maior nos processos pelos quais a demanda é atendida. Essa é área da logística aplicada ao marketing – a interface fundamental entre o mercado e a organização que busca satisfazer as exigências do cliente. Vimos até o momento conceitos relacionados à logística. Com deles é possível perceber que esta área passou a ser fundamental para a competitividade empresarial. Se antes bastava ter um bom produto, hoje é necessário que este produto chegue ao cliente o quanto antes, a baixo custo e sem avarias. Se a minha empresa não o fi zer, a concorrência o fará. A seguir, vamos analisar como chegamos ao contexto logístico atual. Acompanhar a evolução da logística é importante para que seja possível relacionar as mudanças ocorridas no perfi l da logística às mudanças que ocorreram na tecnologia utilizada. Você poderá compreender que, conforme a logística foi evoluindo, outras tecnologias foram sendo necessárias. Ou, então, que, conforme as tecnologias foram sendo disponibilizadas, a logística pôde aumentar sua performance e importância. A Evolução da Logística A logística, da forma como é vista hoje, é resultado de uma grande evolução e esforço no meio empresarial. Devido à constante busca por competitividade, chegou-se a um momento em que a competição se dá mais entre as cadeias de produção do que entre as empresas, isoladamente. 17 A EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA NO CONTEXTO LOGÍSTICOCapítulo 1 Pense um pouco sobre o ramo têxtil, por exemplo. Com a chamada globalização, o que acontece não é mais uma concorrência da tecelagem Alfa contra a tecelagem Beta, mas sim a concorrência da fabricante de camisas da marca “z”, junto a sua cadeia de abastecimento (produtores de algodão, fi ação, tecelagem e costura) contra uma fábrica de camisas da marca “j”, que compra seus produtos de empresas chinesas, por exemplo. Ou seja, as empresas não concorrem mais isoladamente, é necessário que toda a cadeia seja competitiva. Para compreender melhor como chegamos à condição atual, usaremos neste livro duas abordagens: uma proposta por Novaes (2004), que separa a evolução em quatro fases distintas, levando em consideração, principalmente, a integração entre as empresas, e outra, proposta por Möller (1996), no que se refere à forma como as diversas atividades que compõem a logística foram se integrando e resultando no contexto atual. Novaes (2004), em sua abordagem, propõe a seguinte evolução da logística: • Atuação segmentada • Integração rígida • Integração fl exível • Integração estratégica (SCM) Você já estudou um pouco sobre a evolução da logística no caderno de Logística e Distribuição, contudo, a abordagem utilizada aqui foi realizada sob a perspectiva de Novaes (2004). a) Primeira fase: atuação segmentada Imagine o seguinte contexto: as empresas compram e vendem uma das outras, mas não analisam as políticas de entrega ou de compras dos seus clientes e fornecedores, fazendo com que seja necessário manter altos estoques e entregas muitas vezes demoradas. Esta é a característica básica desta fase. Na atuação segmentada, a relação das empresas clientes e fornecedoras era isolada. Não havia necessidade e nem tecnologia para que a comunicação entre os membros fosse constante. Além disso, o processamento de pedidos e o transporte, por exemplo, tinham um custo expressivo. “Na primeira fase da 18 Tecnologia em logística Logística, as empresas procuravam formar lotes econômicos para transportar seus produtos, dando menor importância aos estoques.” (NOVAES 2004, p.41). O objetivo era reduzir os custos decorrentes do transporte, sem se importar se isto aumentaria os estoques. A principal característica deste estágio é a ausência dos sistemas de informação, impedindo a comunicação instantânea, como pode ser feito hoje. O vendedor, ao receber um pedido em uma loja, tinha que verifi car a disponibilidade no depósito, para, então, preencher o pedido manualmente e fazer a entrega. Era um modelo de negócios bastante lento e baseado em altos estoques. A relação entre empresas também era bastante lenta. A formação dos lotes econômicos, que são em muitos casos semelhantes à carga fechada do veículo utilizado para o transporte, é uma justifi cativa para isto,ou seja, até que não se justifi casse a compra de uma carga de mercadoria, difi cilmente o pedido era transmitido aos fornecedores. Foi possível trabalhar desta forma porque a diversidade de produtos era muito pequena e o lançamento de novos produtos era muito lento. Uma vez que as empresas perceberam a possibilidade de valorizar seu produto pela diferenciação, exigiu-se uma mudança na logística, dando início ao segundo estágio. b) Segunda fase: integração rígida Nesta fase, as equipes de marketing começaram a instigar os consumidores a comprar diferentes produtos. Se antes a cozinha era somente branca, agora ela possuía três ou quatro diferentes opções de cores ou modelos. Isto tornou necessária uma maior integração cliente/fornecedor para que se atingisse o objetivo principal: aumentar a efi ciência seja em custos, seja em não deixar faltar opções no estoque. A gestão dos estoques é um grande desafi o para as empresas que entram nesta fase, pois, com o aumento da variedade de produtos, passa-se a aumentar o capital investido para este fi m. Com o surgimento dos primeiros computadores (por volta de 1960) e do início da exploração da possibilidade de se utilizar a multimodalidade – uso combinado de trens, caminhões, navios ou mesmo aviões – houve melhoria da gestão dos estoques e redução dos custos de disponibilização dos produtos. Percebe-se, nesta segunda fase, uma evolução signifi cativa em relação à primeira. No entanto, a relação era, ainda, bastante rígida. Novaes (2004) propõe a analogia de um cano de PVC, em que a estrutura é rígida e permite somente a Atuação segmentada: era um modelo de negócios bastante lento e baseado em altos estoques.19 A EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA NO CONTEXTO LOGÍSTICOCapítulo 1 otimização de dois a dois – cliente/fornecedor (fi gura 3). Dessa forma, o varejo passava uma previsão para o centro de distribuição, este calculava suas necessidades e, somente então, o pedido era repassado à manufatura que, da mesma forma, fazia sua análise e, após, os pedidos aos fornecedores. Figura 3 - Segunda fase da logística Fonte: Novaes (2004, p.45). Ainda hoje, percebem-se muitas empresas trabalhando desta forma. Entretanto, com o aumento da concorrência e da disponibilidade de tecnologias, a integração precisa ser mais fl exível para que os membros da cadeia de suprimentos mais distantes do consumidor fi nal possam visualizar a real situação do mercado. c) Terceira fase: integração fl exível A terceira fase começou no fi m dos anos 80 e perdura até hoje com muitas empresas adaptando-se às condições atuais. Nesta fase, o principal aspecto é o início do uso de sistemas de informação, a fi m de melhorar a comunicação entre empresas. É quando se começou a utilizar o EDI (Intercâmbio Eletrônico de Dados). A principal mudança conseguida nesta fase é a fl exibilização dos processos logísticos internamente e com seus clientes e fornecedores. A analogia feita é com uma mangueira fl exível, com as empresas adaptando-se ao mercado com maior facilidade. Essa adaptação se dá de maneira muito mais ágil, pois ocorre um maior uso de tecnologias, principalmente, a informática. O uso da informática possibilitou a implantação do código de barras de forma extensiva nos supermercados, o que agilizou e melhorou o processo de controle de estoques nos depósitos. É nesta fase em que também se passa a observar uma preocupação com a satisfação plena do cliente, ao mesmo tempo em que a empresa busca uma redução dos níveis de estoques, ligada É nesta fase em que também se passa a observar uma preocupação com a satisfação plena do cliente. 20 Tecnologia em logística ao kaizen, que é um processo de melhoria contínua relacionada à fi losofi a de manufatura enxuta. Figura 4 - Terceira fase da Logística Fonte: Novaes (2004, p.46). d) Quarta fase: integração estratégica (SCM) Nesta fase, as empresas passam a considerar a logística de forma estratégica. Novaes (2004, p.47) explica esta situação: [...] em lugar de otimizar pontualmente as operações, focalizando os procedimentos logísticos como meros geradores de custo, as empresas participantes da cadeia de suprimentos passaram a buscar soluções novas, utilizando a Logística para ganhar competitividade e para induzir novos negócios. Isto fez com que os elementos da cadeia passassem a trabalhar mais próximos, trocando informações antes consideradas confi denciais e formando parcerias. Como a exigência por uma maior variedade - em muitos casos exclusividade - de produtos aumentou, surge, então, uma técnica chamada postponement (postergação). Esta técnica visa a adiar ao máximo a inclusão do processo diferenciador nos produtos, permitindo que isto seja feito somente quando os pedidos dos clientes estejam confi rmados, evitando a formação de estoques desnecessários. Vamos pensar novamente no ramo têxtil. Algumas indústrias têm deixado para tingir os produtos somente após a confi rmação do pedido dos clientes. Isto é, fazem todo o produto em uma cor neutra e deixam para defi nir a coloração somente quando possuírem informações que deem uma maior possibilidade de aceitação do mercado. 21 A EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA NO CONTEXTO LOGÍSTICOCapítulo 1 Outra característica importante das empresas desta fase é a agilidade. Para tornar o processo de atendimento ao cliente mais rápido, algumas instalaram sua estrutura de distribuição próxima aos aeroportos, onde conseguem, em poucas horas, expedir seus produtos aos mais variados destinos. Isto contribui para que surjam tecnologias especializadas em melhorar a comunicação e os processos de armazenagem e expedição. Para ilustrar esta fase, adota-se o contexto de fl exibilidade da fi gura 5, mas com um novo nível de integração. É importante ressaltar que a maioria das empresas ainda não utiliza todas as potencialidades que a quarta fase possibilita. Figura 5 - Quarta fase da Logística Fonte: Novaes (2004, p.49). Para esta fase a tecnologia é fator primordial. A integração entre as empresas exige que elas tenham acesso à informação e estejam sincronizadas. A sincronização é dar às empresas as condições necessárias para que os desperdícios sejam reduzidos ao mínimo possível. Atividade de Estudos: 1) Identifi que, em empresas de seu conhecimento, a fase da logística em que elas se encontram. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 22 Tecnologia em logística ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Cada uma destas fases apresentava problemas diferentes. No início, o cliente não exigia muito de seus fornecedores. O controle da cadeia de abastecimento estava com quem possuía a tecnologia de produção. Era este quem ditava as regras da distribuição de produtos. Nesta última fase, tem-se uma situação praticamente oposta. Quem comanda a cadeia é quem possui as melhores informações a respeito do mercado, ou seja, o varejo. Atender ao varejo tornou-se um desafi o para as empresas. Para tanto, muitas empresas hoje estão em busca de soluções para que seja possível atender um lojista de forma rápida e efi ciente, por exemplo, sem que seja necessária a formação de estoques. Se na primeira fase a única preocupação eram custos, nesta última, é preciso acrescentar o nível de serviços. Os custos estão relacionados ao gastar o menor volume de dinheiro possível para disponibilizar os produtos. O nível de serviço está relacionado ao atendimento ao cliente que, hoje, está mais exigente do que nunca. Vamos pensar um pouco sobre os aspectos que levaram a esta evolução? Perceba que as características que levaram às mudanças estão mais baseadas nas relações entre as empresas e no mercado. Ou seja, a evolução ocorreu em função das pressões mercadológicas. Mas, para que isto pudesse ocorrer, foi necessário que as atividades também se transformassem, conforme aponta Möller (1996). Segundo o autor, na década de cinquenta, as atividades não visavam à integração. Por exemplo, previsão de demanda, compras, armazenagem e transportes eram todas atividades separadas. Já na década de 70, começaram a surgir grandes áreas – gestão de materiais, controle da produção e distribuição física. Nesse momento, as empresas puderam ter uma visão um pouco mais abrangente, pois várias atividades passaram a ser controladas por uma única área. Entre o fi nal dos anos 70 e início de 80, surge, então, a visão de logística, permitindo a gestão do fl uxo de materiais por toda a empresa. Nesse momento, 23 A EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA NO CONTEXTO LOGÍSTICOCapítulo 1 todas as áreas passaram a ser controladas em conjunto. Nesse período, surgiram também as grandes áreas de estudo, como a logística de negócios. E é a partir de 1990 que começa a surgir o conceito de gestão da cadeia de suprimentos, chamada por Möller (1996) de Logística Integrada, quando as empresas realmente começam a adquirir e desenvolver tecnologia e conhecimento gerencial sufi ciente para gerenciar as relações entre diferentes empresas. Figura 6 - A evolução da logística Fonte: Möller(1996, p.29). É importante ressaltar que não há uma receita de bolo para resolver os problemas logísticos. Há somente a necessidade de se buscar melhorar constantemente e identifi car as tecnologias que possam contribuir para os dois pontos principais da logística: custos e nível de serviço. Atividade de Estudos: 1) Tente relacionar a visão da evolução dada por Novaes e a de Möller, retratada na fi gura anterior. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 24 Tecnologia em logística ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Tecnologias em Logística O termo tecnologia é comumente relacionado ao equipamento (computador, impressora, software), no entanto, está também relacionado aos métodos que usamos para transformar produtos, para gerenciar nossas empresas, ou para atender nossos clientes. Por exemplo, para transportar frutas e verduras da CEAGESP, em São Paulo, para Manaus é preciso tecnologia física (veículo com baú refrigerado) e, também, o conhecimento para fazer o trajeto no menor tempo possível (horários das balsas, por exemplo). Isto é, tem-se tecnologia em duas formas – física e intelectual. Longo (1984 apud SILVA, 2003, p. 52) conceitua tecnologia como “um conjunto de conhecimentos científi cos ou empíricos empregados na produção e comercialização de bens e serviços”. Abetti (1989 apud STEENSMA, 1996, p. 269) defi ne a tecnologia como “um corpo de conhecimentos, ferramentas e técnicas, derivados da ciência e da experiência prática, que é usado no desenvolvimento, projeto, produção, e aplicação de produtos, processos, sistemas e serviços”. Para Kruglianskas (1996 apud SILVA, 2003, p. 52), “tecnologia é o conjunto de conhecimentos necessários para se conceber, produzir e distribuir bens e serviços de forma competitiva”, o que engloba todos os conhecimentos relacionados às atividades da empresa. A partir desses conceitos, iremos adotar neste caderno o seguinte conceito para tecnologia em logística: tecnologia é um conjunto de Tecnologia é um conjunto de conhecimentos, técnicas e ferramentas que possibilitam a produção de bens e serviços e a sua distribuição aos clientes. 25 A EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA NO CONTEXTO LOGÍSTICOCapítulo 1 conhecimentos, técnicas e ferramentas que possibilitam a produção de bens e serviços e a sua distribuição aos clientes. O conhecimento, para a logística, está relacionado ao conhecer o mercado, à forma como este deseja ser atendido, aos caminhos pelos quais os produtos devem ser transportados, etc. As técnicas se referem à forma como a logística é organizada. Pode-se dizer que a técnica é um conhecimento estruturado para desempenhar determinada tarefa. A evolução da logística é possível graças à tecnologia. Conforme a tecnologia evoluiu, foi possível trazer novidades para que a logística se tornasse mais efi caz. Se na primeira fase a gestão logística era praticamente inexistente, focando-se nas atividades separadas, na condição atual, deseja-se que o cliente participe, seja com ideias, seja com informações, seja, quem sabe, com a própria gestão de aspectos, como a previsão de demanda. Tecnologias aplicadas à armazenagem, ao transporte e à movimentação de produtos são mais fáceis de serem identifi cadas. No entanto, houve também uma expressiva melhora no que se refere às formas de gestão, que evoluíram muito. Da falta de uma técnica de gestão de materiais para o planejamento das necessidades de materiais (MRP – Material Requirement planning) houve um grande avanço, pois permitiu que a necessidade de materiais fosse calculada de forma integrada. No entanto, do uso do MRP à sua integração à Manufatura Enxuta (também conhecida por Sistema Toyota de Produção) e ao uso do gerenciamento pelas restrições houve outro grande salto. A partir de uma gestão mais efetiva no chão de fábrica, está sendo possível reduzir signifi cativamente os estoques, ao mesmo tempo em que os pedidos são entregues de forma mais completa. O quadro a seguir apresenta as tecnologias relacionadas a cada fase para os principais processos logísticos. 26 Tecnologia em logística Quadro 1 - As tecnologias por fase da evolução logística Fases da evolução logística Tecnologias relacionadas à logística Abastecimento Planta Distribuição Primeira pouco não integrada pouca Segunda MRP não integrada Multimodalidade Terceira MRP EDI Milk-run Filosofi a Enxuta Gerenciamento pelas Restrições Roteirizadores e rastreamento por satélite EDI Código de barras Quarta MRP EDI Milk-run Sistema de gerenciamento de Armazéns (WMS- warehouse management system) Filosofi a Enxuta Gerenciamento pelas Restrições Postponement Roteirizadores e rastreamento por satélite WMS RFID (Identifi cação por Rádio-frequência Automação na coleta de dados Fonte: Adaptado de Novaes (2004). Neste capítulo, tínhamos como objetivo conhecer o que é logística, como se deu sua evolução, o que é tecnologia, a importância das tecnologias e quais as principais tecnologias disponíveis para aumentar a efi ciência logística. Quanto à evolução da logística, é importante ressaltar que muitas empresas, apesar das tecnologias disponíveis, ainda se encontram trabalhando na segunda ou terceira fase. As tecnologias apresentadas no quadro anterior são os principais grupos disponíveis para cada processo logístico e em cada etapa da evolução logística. No entanto, o gestor deve fi car atento à viabilidade de uso destas ferramentas, já que cada empresa possui suas características e necessidades. Por exemplo, uma fábrica de móveis sob medida não precisa utilizar um MRP, já que os componentes dos móveis são diferentes em cada produto vendido. Dessa forma, antes de implantar uma tecnologia em sua empresa, procure entender seu funcionamento, os gastos que ele trará junto aos benefícios e a forma como ele deverá ser usado. Analise o seguinte: tenho uma pequena indústria de máquinas, na qual produzo 15 unidades por mês. É necessária a implantação de um armazém? E de equipamentos de elevação e movimentação? Outro objetivo era identifi car os processos da logística nas empresas, relacionando-os com seus problemas e as soluções tecnológicas disponíveis. Os 27 A EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA NO CONTEXTO LOGÍSTICOCapítulo 1 problemas estão relacionados a dois grupos principais: nível de serviço ao cliente e custos de operação. O nível de serviço está relacionado ao atendimento ao cliente. Por exemplo, para atender rapidamente aos clientes as empresas fazem estoques. No entanto, estoques signifi cam maiores custos. A solução é gerenciar a empresa para que os produtos fl uam com maior agilidade pela indústria e cheguem ao cliente com o mesmo prazo como se tivessem sido estocados. Isto pode ser feito através do gerenciamento pelas restrições. Nos próximos capítulos, algumas destas tecnologias receberão destaque, conforme apresentamos na introdução deste capítulo. Atividades de Estudos: 1) Explique as fases da logística e a forma como ela se relaciona com as tecnologias. ____________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) O que é tecnologia? Quais são as principais tecnologias relacionadas com a logística? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 3) Qual é a importância da tecnologia para a quarta fase da logística? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 28 Tecnologia em logística ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Referências BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos/logística empresarial. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. ______. Logística empresarial. São Paulo: Atlas, 1993. BOWERSOX, D. J.; CLOSS, D.J. Logística empresarial: o processo de integração da cadeia de suprimento. São Paulo: Atlas, 2001. CHRISTOPHER, M. Logística e gerenciamento da cadeia de suprimentos: criando redes que agregam valor. 2. ed. São Paulo: Thomson Learning, 2007. ______. A Logística do marketing. São Paulo: Futura, 1999. CSCMP (Estados Unidos) (Comp.). Supply chain management terms and glossary. 2009. Disponível em: <http://cscmp.org/resources/terms.asp>. Acesso em: 15 jan. 2009. MÖLLER , C. Logistics Concept Development. Toward a Theory for Designing Effective Systems. Tese de Ph.D. Aalbor University: Denmark, 1996. NOVAES, A. G. Logística e gerenciamento da cadeia de distribuição: estratégia, operação e avaliação. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. SILVA, J.C.T. Tecnologia: novas abordagens, conceitos, dimensões e gestão. Revista Produção, v. 13, n.1, p.50-63, 2003. STEENSMA, H. K. Acquiring technological competencies through inter- organizational collaboration: an organizational learning perspective. Journal of Engineering and Technology Management, v. 12, p. 267-286, 1996. CAPÍTULO 2 O Gerenciamento pelas Restrições A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Conhecer o funcionamento do gerenciamento pelas restrições nos sistemas industriais e a forma como ele agiliza os processos e reduz o nível dos estoques. Identifi car oportunidades de melhoria nos sistemas logísticos industriais por meio do uso de ferramentas do gerenciamento pelas restrições. 30 Tecnologia em logística 31 O GERENCIAMENTO PELAS RESTRIÇÕESCapítulo 2 ContextualiZação Gostaria de começar com uma pergunta: por que nossas empresas não produzem mais do que estão produzindo? A resposta é lógica: há um limite de capacidade. Mas, qual processo da minha empresa determina este limite? A resposta para esta pergunta pode impactar em diversas áreas da empresa e, principalmente, na sua competitividade. A este limite chamamos de restrição e vamos analisar como a logística é impactada por ela para, depois, compreender como decisões poderão ser mais bem tomadas. Dessa forma, neste capítulo, iremos falar sobre o gerenciamento pelas restrições, que é uma técnica de gestão que permite a redução de estoques e uma melhor análise sobre a necessidade de investimentos em todas as áreas da indústria, sobretudo, na logística interna. Mais do que investir em equipamentos e softwares, por exemplo, devemos encontrar meios para gerenciar a indústria e a logística associadas de uma forma que os recursos sejam aproveitados da melhor forma possível. Isto quer dizer que, antes de se comprar uma ferramenta, é preciso saber como ela será utilizada e como será tirado o melhor proveito dela. Diversas são as tecnologias aplicadas à logística industrial. De forma geral, podemos dividi-las em quadro grupos: armazenagem, controle, movimentação e gestão. A armazenagem envolve as estruturas e o leiaute para acondicionamento dos produtos, em que a automação, o aproveitamento de espaço e a agilidade são os principais focos de inovação. O controle está relacionado ao monitoramento da movimentação de materiais, em que os softwares e equipamentos para coleta automática de dados acabam sendo os principais elementos tecnológicos. Já a movimentação sofre infl uência de equipamentos como empilhadeiras, esteiras, entre outros. A integração entre a movimentação, o controle e a estrutura de armazenagem infl uenciará diretamente na agilidade da logística dentro da empresa. E é nesta integração e agilidade que a área de tecnologia de gestão deve agir. É no campo da gestão que serão defi nidas quais tecnologias serão adquiridas e quais substituídas. É, portanto, uma área de decisão, que precisa sustentar-se por uma lógica que permita escolher as melhores opções para a empresa. Neste cenário, organizamos o capítulo da seguinte forma: primeiro abordaremos a logística industrial, que é a parte da logística de uma empresa que mais é impactada pelo gerenciamento pelas restrições. A seguir, você poderá entender um pouco melhor a relação entre os vários processos de uma empresa, principalmente, a relação entre a logística e a manufatura. 32 Tecnologia em logística Na sequência, entraremos no assunto principal deste capítulo: as restrições. A teoria das restrições será abordada na seção posterior, quando trataremos da origem deste estudo e da forma como ele impacta em toda uma empresa. Nesta mesma seção serão apresentadas as principais técnicas para a gestão de restrições ou gargalos. A partir deste ponto, você poderá reconhecer nas empresas onde seus processos podem ser melhorados e como eles devem ser gerenciados para que maximizem os lucros da empresa. A Logística Interna Como vimos no capítulo anterior, a logística pode ser dividida em três partes: logística de abastecimento, logística de distribuição e logística interna ou logística industrial. Esta última é o assunto deste capítulo. A logística interna em empresas industriais é composta por três grupos de atividades principais: gestão do abastecimento da manufatura com matérias- primas; gestão da movimentação interna para abastecer cada processo subsequente do fl uxo de produção; e gestão da movimentação para retirada dos produtos acabados do processo produtivo, seja para expedição ou para a armazenagem. O esquema a seguir ilustra esta situação. Figura 7 - Ilustração da Logística Interna. MOVIMENTAÇÃO ENTRE PROCESSOS Fonte: Autor. A principal atividade da Logística Interna ou Industrial (LI) é coordenar a movimentação material que acontece dentro da empresa desde o início do 33 O GERENCIAMENTO PELAS RESTRIÇÕESCapítulo 2 primeiro setor da indústria até a entrada no armazém de produtos acabados. Quando a expedição de produtos aos clientes - distribuição física - se inicia a partir de um armazém externo, a LI se estende até dentro deste armazém. A LI tem relação direta com a gestão de produção, pois é ela a responsável pelo abastecimento dos processos de transformação. Caso esta atividade seja mal executada, é possível que falte matéria-prima para ser transformada, o que causa atrasos e acúmulo de produtos entre os processos. Este acúmulo de estoques é dinheiro parado, o que nenhum gestor deseja. Por isso, é fundamental queo encarregado por esta etapa da logística tenha conhecimento das necessidades da indústria, bem como saiba identifi car como a LI nela impacta. O que desejamos mostrar é que a logística interna é um processo de suporte à produção, difícil de ser dela separada. O abastecimento da manufatura ocorre mediante a liberação de informações (requisições) da área de Planejamento e Controle da Produção (PCP). A organização das requisições de materiais é a primeira atividade da LI e consiste de toda a organização, preparação e emissão das ordens de solicitação de materiais. A gestão do transporte interno também forma parte da Logística Industrial. Para que aconteça uma movimentação material, precisamos de um processo de transportes, que, neste caso, pode ser feito com paleteiras, empilhadeiras, trilhos, etc. A organização dos armazéns intermediários é outra atividade que faz parte da Logística Interna. Compreende a determinação das áreas para este tipo de armazém, a sua localização estratégica dentro e/ou entre as áreas de manufatura. Também faz parte deste subsistema logístico o controle de estoques dos produtos semiacabados. Este controle compreende a determinação dos níveis de estoques médios, mínimos e máximos nos diferentes armazéns intermediários, que servem para manter o equilíbrio entre os setores de manufatura, tentando reduzir estes níveis. O fl uxo de materiais da LI pode ser basicamente de duas formas: puxado ou empurrado. Tradicionalmente, tem-se gerenciado as indústrias com a produção empurrada, produzindo-se para estocar com base em uma previsão de vendas. Isto é, quando os clientes fossem solicitar os produtos, eles estariam disponíveis para a pronta entrega. Apesar de a lógica parecer correta, ocorre, muitas vezes, do produto em estoque não ser exatamente aquele que o cliente está pedindo ou aquele que completaria uma carga. Além disso, os estoques têm se mostrado bastante caros, algo que não é mais possível de ser incluído nos preços de venda. A principal atividade da Logística Interna ou Industrial (LI) é coordenar a movimentação material que acontece dentro da empresa desde o início do primeiro setor da indústria até a entrada no armazém de produtos acabados. 34 Tecnologia em logística Uma importante evolução, no que se refere à gestão da produção e da logística interna, foi realizada há cerca de duas décadas. Esta forma inovadora de gestão industrial se baseia na premissa de que uma indústria terá em seu sistema sempre algum processo que cause gargalo – aquele processo com a menor capacidade. Isto tem impacto direto sobre toda a empresa, inclusive, nos lucros e no fl uxo da produção, que passa a ser puxado pelos clientes. Atividade de Estudos: 1) Pesquise em livros, revistas, sites ou até converse com gestores sobre como o fl uxo da produção é gerenciado: empurrado ou puxado? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ A LI é diretamente afetada por esta constatação, uma vez que isto signifi ca, por exemplo, que não é necessário disponibilizar mais materiais para o processo inicial do que o gargalo consegue produzir. Ou seja, através da gestão destes gargalos nos processos industriais, que se estendem também aos processos da logística interna, é possível obter ganhos de produtividade e, principalmente, melhorar a gestão dos estoques e da movimentação de materiais. A seguir, será apresentada a base para a gestão dos gargalos. Mas antes você terá um embasamento sobre a visão sistêmica, que servirá para a compreensão da relação entre os processos, tanto logístico-industriais e os industriais por si só. É importante observar que, apesar deste material enfatizar a logística interna, é necessário considerar a empresa como um todo, até porque não há processo empresarial que gere lucros individualmente. E isto se aplica principalmente aos processos industriais. 35 O GERENCIAMENTO PELAS RESTRIÇÕESCapítulo 2 A Visão Sistêmica da Logística Interna Com certeza você já ouviu a palavra sistema, seja sozinha ou acompanhada das palavras informação ou computador, por exemplo. Pois é, mas não é só isso. Para Beer (1979 apud MARTINELLI; VENTURA, 2006, p.17): “Um sistema consiste de um grupo de elementos dinamicamente relacionados no tempo de acordo com algum padrão coerente [...]”. Vamos entender melhor este conceito utilizando uma fábrica como exemplo: o grupo de elementos a que o conceito se refere são as diversas máquinas que transformam a matéria-prima em produto acabado. Estas máquinas estão dinamicamente relacionadas, isto é, mantêm uma relação de dependência. Ou seja, um processo só poderá ser realizado em uma máquina após a outra ter feito sua parte. Imagine uma indústria de móveis (fi gura 8). Para que o móvel seja embalado, é necessário que antes ele tenha passado por um processo de pintura. E antes que tenha sido pintado, ele precisará ter passado por um acabamento e assim por diante. Figura 8 - Ilustração sistêmica de uma indústria de móveis de madeira Fonte: O autor. O que se deseja mostrar com isto é que, por mais que embalagem, pintura, lixamento, etc. trabalhem de forma independente, eles dependem dos processos anteriores para que tenham materiais a serem processados. Isto tudo é organizado de acordo com um padrão coerente, que é determinado de forma que todas às vezes os processos sejam feitos da mesma maneira e que, portanto, consigam ser fi nalizados (produto embalado). Com base nisso, podemos defi nir um sistema como um conjunto de elementos independentes em interação com vistas a atingir um objetivo. Uma característica importante de um sistema é que os processos não possuem a mesma capacidade. Se você já trabalhou em uma indústria, saberá que as máquinas podem quebrar, que as pessoas variam seu ritmo de trabalho por circunstâncias diversas, que cada processo tem uma capacidade diferente em função da atividade que desempenha. Esta característica determina o quanto uma empresa ganhará Podemos defi nir um sistema como um conjunto de elementos independentes em interação com vistas a atingir um objetivo. 36 Tecnologia em logística de dinheiro. Aquele processo ou máquina que possuir a menor capacidade é chamado de gargalo ou restrição. O que propomos neste capítulo é uma gestão com base nestes gargalos para que a empresa consiga atingir um maior desempenho, seja melhorando os processos industriais, seja logísticos. A forma como isto acontece será vista a seguir. Restrições e Gargalos do Sistema Restrições e gargalos são sinônimos quando tratamos de processos industriais. A base para o gerenciamento baseado nos gargalos foi lançado por Goldratt, na década de 80, e é atualmente conhecida como Teoria das Restrições (TOC – Theory of Constraints). Trata-se de um método de gestão que se baseia na restrição (gargalo) da indústria para programar o funcionamento de toda a fábrica e aumentar a velocidade com que as matérias-primas são transformadas em produtos acabados, ao mesmo tempo em que os estoques são reduzidos, sem deixar de atender bem ao cliente. A redução dos estoques e o bom atendimento ao cliente estão alinhados com os objetivos principais da logística, que são: aumentar o nível de serviço ao cliente e reduzir os custos totais. A logística industrial infl uencia diretamente estes pontos, pois pode tanto aumentar os estoques de produtos acabados, como infl uenciar o setor de suprimentos a comprar mais do que o necessáriopara cumprir a programação do período. Ao gerenciar a indústria com base no gargalo, faz-se com que todos os processos – desde os suprimentos até a distribuição – estejam sincronizados, trabalhando no mesmo ritmo do gargalo. Isto evita que estoques desnecessários sejam formados e, portanto, que dinheiro seja investido em algo que não viria a gerar lucro. A fi gura 9, a seguir, ilustra uma das principais diferenças entre a produção normal, com alimentação contínua, e uma produção baseada no gargalo, puxada pelo cliente. No primeiro caso, a matéria-prima é liberada para a fabricação de forma contínua, conforme ela for sendo utilizada pelo processo que inicia a transformação. Mas, mesmo assim, o resultado não pode ser maior do que a capacidade do processo restritivo, onze unidades/hora. Isto signifi ca que a cada hora 3 itens a mais fi cam parados para serem processados, sem poderem ser vendidos. Se formos considerar 8 horas de trabalho, o acúmulo seria de 24 unidades. Ao gerenciar a indústria com base no gargalo, faz-se com que todos os processos – desde os suprimentos até a distribuição – estejam sincronizados 37 O GERENCIAMENTO PELAS RESTRIÇÕESCapítulo 2 Quando a programação da produção é feita com base no gargalo, é possível conter a liberação de materiais, trabalhando-se de acordo com o ritmo da restrição – oito unidades/hora. Dessa forma, não se formará um estoque excessivo antes do processo, o que permite que o dinheiro da empresa permaneça no caixa e não no processo da empresa. Pense agora sobre quanto dinheiro há parado nas linhas de produção das empresas, simplesmente porque era desejo da gerência não deixar uma máquina parada por algum tempo. Então, observando a fi gura 9, é possível perceber, na parte dois, que o estoque foi eliminado através da diminuição da liberação de matéria-prima e que a quantidade produzida continuou a mesma. F igura 9 - Comparativo entre a produção convencional e a produção com base no gargalo Fonte: O autor. 38 Tecnologia em logística Atividade de Estudos: 1) Com base na ilustração anterior, identifi que, em uma empresa de seu conhecimento, os processos, sua capacidade de produção por hora e a dependência entre os processos. Aproveite para identifi car o gargalo deste processo e identifi que formas de eliminá-lo. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ O Que É a Teoria das Restrições? O APICS Dictionary (apud COX III; SPENCER, 2002, p.38) defi ne a teoria das restrições como uma: Filosofi a de administração desenvolvida pelo Dr. Eliyahu. M. Goldratt que pode ser vista como três áreas diferentes interrelacionadas: logística, indicadores de desempenho e pensamento lógico. A logística inclui a programação tambor- pulmão-corda, o gerenciamento de pulmões e a análise V-A-T. Os indicadores de desempenho incluem o ganho, o inventário e despesas operacionais, e as cinco etapas de focalização. As ferramentas do processo de pensamento são importantes para a identifi cação do problema raiz (árvore da realidade atual), para a identifi cação e criação de soluções ganha-ganha (diagrama de dispersão de nuvens e a árvore da realidade futura) e para desenvolver planos de implementação (árvore de pré-requisitos e árvore de transição). Para estes autores, restrição é defi nida como: 39 O GERENCIAMENTO PELAS RESTRIÇÕESCapítulo 2 Qualquer elemento ou fator que impede que um sistema conquiste um nível melhor de desempenho no que diz respeito a sua meta. As restrições podem ser físicas, como por exemplo, um equipamento ou falta de material, mas elas podem ser também de ordem gerencial, como procedimentos, políticas e normas. (COX III; SPENCER, 2002, p. 38). A TOC é a principal teoria relacionada ao gerenciamento pelas restrições. Seu foco é claramente dedicado à necessidade de uma empresa ganhar dinheiro, considerando que para tanto é necessário que todos os processos estejam sincronizados. Entenda-se por isto, principalmente, a integração entre as máquinas de um sistema produtivo e a logística relacionada – a logística industrial. Para saber mais detalhes sobre a TOC, leia o livro A Meta, escrito por Eliahu M. Goldratt. É um livro escrito em forma de romance, provavelmente o único livro de gestão escrito dessa forma, mas que permite um conhecimento amplo sobre diversos aspectos relacionados à teoria das restrições. Três são os indicadores que medem se a empresa está ou não alcançando sua meta fi nanceira: • lucro; • retorno sobre investimento (RSI); • fl uxo de caixa. Para possibilitar a sustentabilidade do “ganhar dinheiro”, é necessário que estes três indicadores sejam melhorados em conjunto. Ou seja, não se deve melhorar um em detrimento do outro. Por exemplo, seria possível melhorar o lucro comprando itens mais baratos em grande volume, mas isso acabaria comprometendo o fl uxo de caixa, pois é necessário pagar pela compra. O lucro é resultado de dois indicadores, chamados de indicadores de desempenho local – Ganho e Despesa Operacional. O Ganho “é o índice no qual o sistema gera dinheiro através das vendas”. (GOLDRATT, 2002, p. 69). E Despesa Operacional (DO) “é todo o dinheiro que o sistema gasta para transformar inventário em ganho”. (GOLDRATT, 2002, p. 69). Esta defi nição faz referência ao Inventário, que é o outro indicador denominado como de desempenho local. Este Três são os indicadores que medem se a empresa está ou não alcançando sua meta fi nanceira: • lucro; • retorno sobre investimento (RSI); • fl uxo de caixa. 40 Tecnologia em logística é “todo o dinheiro que o sistema investiu na compra de coisas que têm a intenção de vender”. (GOLDRATT, 2002, p.69). A partir do que foi visto, pode-se traçar uma relação entre os indicadores. O lucro é resultado da soma dos Ganhos menos as Despesas Operacionais, conforme a expressão a seguir. ∑ ∑−= DOGL Onde: L = Lucro G = Ganho DO = Despesa Operacional Ou seja, ganho será a soma de tudo o que a empresa faturou menos o que foi pago a terceiros, na forma de matéria-prima, comissão sobre a receita por eles gerada, etc. Já o lucro será o ganho menos as despesas de aluguel, combustível, funcionários (tanto operacionais como administrativos), etc., ou seja, as DO. Já o Retorno sobre o Investimento é o lucro dividido pelo capital investido (o inventário), que é composto pelas máquinas, prédios, equipamentos de movimentação, caminhões, equipamentos de informática, etc. Assim temos: ∑ = I LRSI Onde: RSI = Retorno sobre Investimento L = Lucro I = Inventário O fl uxo de caixa é infl uenciado positivamente pelo lucro e negativamente pelo inventário e pelas despesas operacionais. É necessário, também, estar atento aos prazos de pagamento das compras e das vendas. Em muitos negócios, este é um fator determinante para o sucesso, e em todos eles é fundamental para a sustentabilidade da empresa. O quadro 2 apresenta os impactos que cada uma das medidas de desempenho local – ganho, inventário e despesas operacionais – exerce sobre as medidas de desempenho global – Lucro, RSI e Fluxo de Caixa. 41 O GERENCIAMENTO PELAS RESTRIÇÕESCapítulo 2 Quadro 2 – Impactos dos indicadores de desempenho local nos indicadores de desempenho global Lucro Retorno sobre InvestimentoFluxo de Caixa Ganho Inventário Despesa Operacional Fonte: Adaptado de Goldratt (2002). Processos de Gestão dos Gargalos Para gerenciar as empresas em função de seus gargalos, foram desenvolvidos basicamente três grandes grupos de ferramentas. Os cinco passos para focalização, o gerenciamento de pulmões através do método chamado TPC e os processos de raciocínio. Vamos tratar deles na sequência: Os cinco passos para focalização são a base de tudo. É a lógica que possibilita melhorar uma empresa de forma contínua, sem que esforços sejam aplicados em situações pouco vantajosas. Os cinco passos são: • identifi car a restrição do sistema; • explorar a restrição do sistema; • subordinar tudo à decisão anterior; • elevar a restrição do sistema; • se na etapa anterior uma restrição foi quebrada, não deixar que a inércia seja a nova restrição, iniciar o processo novamente. O método Tambor-Pulmão-Corda (TPC) é uma ferramenta logística e tem como propósito garantir que o processo restritivo não pare ao mesmo tempo em que gerencia a liberação de materiais. Já os processos de raciocínio são um conjunto de outras cinco ferramentas baseadas na sequência de causas e efeitos e podem ser aplicadas, principalmente, para solucionar confl itos e desenvolver estratégias empresariais fundamentadas. Os cinco passos para focalização são a base de tudo. É a lógica que possibilita melhorar uma empresa de forma contínua, sem que esforços sejam aplicados em situações pouco vantajosas. 42 Tecnologia em logística A seguir, veremos como funcionam os cinco passos para focalização. Perceba que eles são um ciclo para a melhoria contínua de uma organização. Não basta que uma empresa melhore um pouco, ela precisa continuar melhorando sempre. a) Como identifi car a restrição Ao identifi car a restrição (passo 1), localizamos o processo que está impedindo toda a empresa de ganhar mais dinheiro. Isto quer dizer que pode estar faltando capacidade produtiva, ou, se a empresa tiver oferta maior que a demanda, existe alguma política restringindo o aumento das vendas. Estudos relatam que na grande maioria das indústrias não há falta de capacidade, mas sim situações em que as políticas gerenciais prejudicam o desempenho de seus processos. Para o caso de uma restrição física, qualquer tempo desperdiçado no processo identifi cado será desperdiçado no sistema inteiro. (GOLDRATT, 2002). Nas indústrias, pode-se visualizar o processo ou atividade restritiva através da análise da carga-máquina e, também, olhando-se qual o processo possui mais estoque esperando para ser processado em uma determinada máquina. b) Métodos para potencializar a capacidade do processo gargalo Após ter sido identifi cada a restrição, é necessário decidir como utilizar o recurso da melhor forma possível (passo 2) e garantir que toda a empresa saiba e trabalhe em função disso (passo 3). A decisão para uma melhor utilização pode, muitas vezes, levar a mudanças na forma como o processo é gerenciado, ou seja, uma mudança política. Na maioria das vezes, as empresas possuem capacidade sufi ciente para atender a todos os pedidos sem que seja necessário fazer investimentos em novas estruturas, resultado de uma mudança na forma como as coisas são realizadas. c) Como subordinar os outros processos ao gargalo O terceiro passo diz respeito à organização para que todos os processos anteriores sejam subordinados à forma como a restrição será explorada. Ou seja, o ritmo no qual a empresa trabalha é ditado pela restrição. Em outras palavras, é o gargalo da empresa que governa o ganho. Se a restrição governa o ganho, então, é preciso protegê-la para que nenhum minuto seja desperdiçado. Sem uma proteção, é muito provável que em algum momento o gargalo pare, fazendo com que os processos seguintes fi quem 43 O GERENCIAMENTO PELAS RESTRIÇÕESCapítulo 2 ociosos e toda a empresa deixe de ganhar. Assim, como forma de proteger a restrição contra possíveis paradas decorrentes da dependência dos processos e das fl utuações estatísticas, deve-se criar o que Goldratt chama de Pulmão, que é uma reserva de materiais, ou produtos, no caso de indústrias, ou de tempo, em casos de serviços ou projetos, que servem de garantia para possíveis atrasos ocorridos nos processos anteriores. (GOLDRATT, 2002). A capacidade deste pulmão deve ser contada em tempo, isto é, o tempo necessário para que ele seja reabastecido quando utilizado. Considerando-se que o que está sendo programado é a restrição, automaticamente, os recursos anteriores ao pulmão terão capacidade maior que a restrição para que o tempo seja o sufi ciente para fazer o reabastecimento. Para saber mais sobre este assunto, leia o artigo “Proposta para um conjunto de etapas para implantação do método Tambor- Pulmão-Corda – TPC” em: <http://www.logisticadescomplicada. com/teoria-das-restricoes/>. d) Elevar a capacidade do gargalo: uma forma para aumentar a capacidade e justifi car investimentos na logística industrial O quarto passo é a eliminação da restrição para que todo o desempenho do sistema seja elevado a um próximo nível. Nível este que será determinado pela próxima restrição. Isto é, caso as melhorias promovidas no gargalo não sejam sufi cientes para transformá-lo em um recurso não-gargalo, então, será necessário contratar mais capacidade. Nesse ponto, tem-se a possibilidade de fazer um investimento altamente justifi cado. Ou seja, ao invés de comprar maquinário, instalar novos sistemas de automação, ou sistemas de informação simplesmente pelo desejo de tentar melhorar algo, é possível através da gestão pelas restrições ter uma clara justifi cativa de que o investimento é realmente necessário. O quinto e último passo do processo aponta para o primeiro novamente. É preciso melhorar o sistema continuamente. A fi gura 10 ilustra este ciclo. 44 Tecnologia em logística Figura 10 - Os cinco passos para focalização Fonte: Adaptado de Goldratt (2002 apud FOLLMANN, 2009, p.48). A característica de melhoria contínua presente no método é capaz de levar a empresa a melhorar signifi cativamente seus ganhos. Porém, como foi abordado anteriormente, é preciso controlar este processo de melhoria para que seja possível acompanhar as mudanças executadas. A quantifi cação deste controle é muito importante, mas não em números isolados que nada têm a ver com as medidas de desempenho globais, e sim através do uso de indicadores que intuitivamente levem as pessoas a fazer o que é o melhor para a empresa. Atividade de Estudos: 1) Com base na última atividade de estudo, simule os resultados possíveis com os cinco passos anteriormente apresentados. A seguir, analise os resultados fi nanceiros possíveis para esta organização, caso ela quebre a restrição de seu sistema. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 45 O GERENCIAMENTO PELAS RESTRIÇÕESCapítulo 2 O MÉtodo TamBor-Pulmão-Corda e o Gerenciamento de Pulmões Após a identifi cação da restrição, devem ser procurados meios para que se consiga atender ao maior número de pedidos disponíveis, isto é, fazer a exploração do gargalo. Neste ponto, é preciso garantir que ele não tenha seu tempo desperdiçado com paradas ou fazendo coisas que não serão aproveitadas na sequência para geração de ganho. Cabe aqui uma das principais conclusões de Goldratt (2002): uma hora perdida em um recurso restrição é uma hora perdida no sistema inteiro,mas uma hora economizada num recurso não-restrição é uma miragem. Toda vez que um recurso gargalo pára por algum motivo, toda a empresa deixou de ir em direção à meta, ou seja, é a restrição que comanda o sistema. Na linguagem, sob forma de analogia, a restrição faz o papel de um Tambor, que dá o ritmo através de suas batidas. Uma vez identifi cada a importância que tem um recurso restritivo para um sistema, é preciso garantir que ele não pare. Porém, sabe-se que antes que o gargalo possa processar uma determinada peça, é necessário que ela tenha passado por outros processos. A isto se dá o nome de eventos dependentes. Ao mesmo tempo que o sistema possui eventos dependentes também se manifestam fl utuações estatísticas. Elas ocorrem por diversos motivos. Máquinas que quebram, falta de funcionários e seus diferentes ritmos de trabalho, matéria- prima com diferentes características, etc., podem ser causas das fl utuações estatísticas. Todas as coisas que têm capacidade de alterar a velocidade padrão que o processo opera podem ser consideradas causas das fl utuações estatísticas. Além disso, não é possível saber exatamente quando vão ocorrer, apenas sabe- se que irão se manifestar. A ação lógica para proteger o ganho da empresa é fazer uma reserva de materiais antes do processo restritivo (em muitos casos, é feita sem o caráter estratégico, ela é simplesmente um excesso, o que eleva os estoques em locais onde não é necessário). Esta reserva é chamada de pulmão e é contada em tempo, da mesma forma que as empresas formam o estoque convencional. Por exemplo, x horas ou dias de matéria-prima. Nesse caso, o que efetivamente muda é a localização, que agora passa a ser estratégica, com a fi nalidade de proteger o que realmente é importante nesta situação. Esta é, provavelmente, a mais importante contribuição à logística industrial, pois permite a redução dos estoques sem que a produtividade da empresa seja prejudicada. Toda vez que um recurso gargalo pára por algum motivo, toda a empresa deixou de ir em direção à meta. 46 Tecnologia em logística Porém, é preciso acumular um tempo de segurança no pulmão de forma organizada. É preciso que o início do processo seja informado quando é o momento de liberar mais matéria-prima. Entra, então, a fi gura da corda, que tem por objetivo “amarrar” os processos. Caso não seja planejada a liberação de material, cada vez que uma peça é colocada no pulmão ou fi ca parada no processo, além do que é consumido na restrição, o início para um novo processamento demora mais para acontecer. É como se o início do processo e o processo restritivo fi cassem mais distantes, o que prejudica a fl exibilidade da linha de produção, além de aumentar o inventário. Para tanto, foi desenvolvido o método chamado Tambor-Pulmão-Corda (TPC). O tambor se refere ao ritmo ditado pela restrição. A corda é a comunicação necessária entre os pontos críticos (por exemplo, o início da linha de produção e o pulmão). O pulmão é um estoque estrategicamente localizado para proteger o ganho do sistema de eventuais variações ocorridas no próprio sistema. O TPC sincroniza recursos e a utilização de materiais dentro de uma organização. Os recursos são usados, desta forma, exatamente no nível em que contribuem para a geração de ganho e não será necessário “correr atrás” de todos os recursos não- gargalos. O TPC pode ser representado por um grupo de pessoas em fi la tendo que percorrer determinado caminho para chegar a algum lugar previamente estabelecido – atingir um objetivo. O caminho é a matéria-prima, quando o último componente tiver passado ela terá sido processada. A fi gura 11 representa este exemplo. A distância entre a primeira pessoa da fi la e a última é o estoque em processo. Quanto maior a distância entre os componentes, maior será o estoque, por consequência, o capital investido. Figura 11 - Esquema ilustrativo da ferramenta Tambor-Pulmão-Corda Fonte: Goldratt (2007, p.96) Para que o grupo não se disperse e aumente o inventário, é preciso encontrar um meio de fazer com que todos se mantenham andando no mesmo ritmo. Isto é feito protegendo-se a restrição (neste caso, a penúltima pessoa da fi la). Assim, o espaço entre a restrição e a primeira pessoa a sua frente é o estoque produzido 47 O GERENCIAMENTO PELAS RESTRIÇÕESCapítulo 2 pelo sistema para que o processo restritivo não perca tempo e processe, neste exemplo, o maior número de metros possíveis, caso algum imprevisto ocorra. Esta proteção para o ganho é feita através de um mecanismo chamado Pulmão de Tempo. Este, segundo Lockamy e Cox (1991), é de três diferentes tipos – Pulmão de Restrições, Pulmão de Convergência e Pulmão de Expedição. O uso desses pulmões de tempo como um sistema de informação para melhorar o ganho é chamado de gerenciamento de pulmões. (RAHMAN, 1998). Assim, o gerenciamento de pulmões é um conjunto de atividades que visa a levar o sistema a gerar o maior ganho possível através da melhor utilização dos recursos disponíveis. Porém, esta ferramenta não atua só. Ela está sempre alinhada aos cinco passos para focalização. O pulmão de restrição é um estoque de peças em frente ao processo restritivo, protegendo, assim, sua capacidade. O recurso protegido é aquele com menor capacidade no sistema. Numa situação em que a empresa possui capacidade sufi ciente para atender ao mercado, o processo protegido pelo pulmão de restrição não seria um gargalo, mas qualquer ingerência poderia transformá-lo em um. Isto é representado pelos atrasos nas entregas, mesmo com capacidade sufi ciente. Os pulmões de montagens contêm peças e submontagens, que não são processadas por um recurso restritivo, o qual é alimentado por um pulmão de restrição. Ele existe porque é preciso garantir que o tempo gasto pelo recurso restritivo não seja desperdiçado nos processos seguintes. O pulmão de expedição contém produtos acabados, prontos para serem enviados para os clientes. Da mesma forma como são protegidos os recursos, é preciso proteger o mercado. A fi gura 12 facilita o entendimento sobre a localização dos pulmões. 48 Tecnologia em logística Figura 12 - Localização dos pulmões Fonte: Adaptado de Rahman (1998). Goldratt e Fox (1986) apresentam nove regras para o gerenciamento efi ciente dos pulmões. Estes preceitos, juntamente aos cinco passos para focalização, são os pilares da TOC. 1. Balancear o fl uxo do sistema e não sua capacidade: a capacidade é o resultado dos recursos instalados. Não é objetivo da empresa comprar constantemente novas máquinas. Assim, para aumentar a produtividade de um sistema, é preciso identifi car o processo restritivo e fazer com que todas as outras etapas trabalhem em função do gargalo. 2. O nível de utilização de um recurso não gargalo não é determinado por seu próprio potencial, e sim por outra restrição do sistema: é comum a tentativa de produzir o máximo em cada processo, porém esta atitude leva à formação de gargalos. Portanto, todo o sistema deve trabalhar no ritmo da restrição. 3. A utilização e a ativação de um recurso não são sinônimas: ativar um recurso é simplesmente fazê-lo produzir, isoladamente, o máximo que puder. Entretanto, utilizá-lo quer dizer que ele está sincronizado com o restante dos processos, principalmente, com o restritivo. 4. Uma hora perdida no gargalo é uma hora perdida no sistema inteiro: perder uma hora no recurso mais escasso do sistema é fazer todo o sistema 49 O GERENCIAMENTO PELAS RESTRIÇÕESCapítulo 2 deixar de ganhar dinheiro. Se não há capacidade sobrando, então, não há como recuperar o tempo perdido e, neste caso, tempo é dinheiro que deixou de ser recebido. 5. Uma hora economizada em um recurso não gargalo é uma miragem: um exemplo prático, nestes casos, é o uso de lotes econômicos de produção. Se o processo não for restritivo, é preciso que ele trabalhe em função do gargalo, e não na sua própria
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