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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE ITACOATIARA- CESIT CURSO DE DIREITO ALESSANDRA VASCONCELOS DA COSTA ANANDA DE LIMA OLIVEIRA ELIANDRA DA SILVA CAVALCANTE EWERTON DA CRUZ GONZAGA FRANCIANE DE SOUZA GONÇALVES HEVELIN CAROLINE MELO DE ALMEIDA IZABEL LUANA ARAÚJO DA SILVA JENNY FERNANDA DOS SANTOS HIGINO LILIAN ESTHER RIBEIRO PIRES PALOMA ALMEIDA DE SOUZA RENATA DA SILVA MENDONÇA SAMUEL MOREIRA SOARES VALDERI PONTES DA SILVA JÚNIOR O CASO DAS PAPELERAS - EQUIPE URUGUAI Itacoatiara-AM 2019 ALESSANDRA VASCONCELOS DA COSTA ANANDA DE LIMA OLIVEIRA ELIANDRA DA SILVA CAVALCANTE EWERTON DA CRUZ GONZAGA FRANCIANE DE SOUZA GONÇALVES HEVELIN CAROLINE MELO DE ALMEIDA IZABEL LUANA ARAÚJO DA SILVA JENNY FERNANDA DOS SANTOS HIGINO LILIAN ESTHER RIBEIRO PIRES PALOMA ALMEIDA DE SOUZA RENATA DA SILVA MENDONÇA SAMUEL MOREIRA SOARES VALDERI PONTES DA SILVA JÚNIOR O CASO DAS PAPELERAS – EQUIPE URUGUAI Trabalho Elaborado para obtenção de nota da AP1 da disciplina de Direito Ambiental ministrado pelo professor Juan Pablo Gomes . Itacoatiara-AM 2019 1 SUMÁRIO 1. Introdução.........................................................................................…….... 3 2. Contexto histórico …………………………………………………… ………….. 3 3. Controvérsia e seus desdobramentos …………………………………….…….. 4 4. Argumentos favoráveis ao Uruguai …………………………………………….... 7 5. Conclusão ……………………………………………………………………….… 12 6. Referências bibliográficas ………………………………………………….….… 14 2 1. Introdução O presente trabalho visa uma análise da denominada “Crise das Papeleras” - que resumidamente diz respeito ao contencioso existente entre Argentina e Uruguai, decorrente da construção de duas usinas de celulose na fronteira entre os dois países, que findou por gerar uma crise diplomática a nível internacional. Neste contexto, buscou-se abordar os antecedentes do conflito (contexto histórico), suas causas, controvérsia e desdobramentos, assim como os argumentos de defesa do lado uruguaio, com ênfase nas questões relacionadas ao Direito Ambiental. 2. Contexto histórico A instalação de duas fábricas de celulose às margens do Rio Uruguai, na cidade de Fray Bentos - a “Celulosas de M’Bopicuá (CMB)”, em outubro/2003 e a “Orion”, em fevereiro /2005, foram autorizadas pela governo uruguaio com o intuito de trazer desenvolvimento econômico para a região, que faz fronteira com a Argentina. Os investimentos seriam feitos pelo grupo espanhol ENCE S.A. (ENCE) e pela indústria finlandesa Oy Metsä-Botnia Ab (Botnia) Tal medida tem origem histórica na aproximação dos mercados emergentes – os quais demandam grandes quantidades de celulose – que encontraram na América do Sul as condições favoráveis para cultivo da matéria prima base na fabricação da celulose – o eucalipto – a baixos custos que os praticados na Europa. Levou-se em consideração, ainda, a menor rigidez das normas ambientais nos países latino-americanos. De acordo com Paula Wojcikiewicz Almeida, "a usina “M’bopicuá”, do grupo espanhol ENCE, pretendia fabricar aproximadamente 400.000 toneladas de pasta de celulose por ano, podendo ampliar sua produção para atingir o montante de 500.000 toneladas por ano, com um investimento estimado de 500 milhões de dólares30 . A mencionada usina seria construída a 12km da cidade uruguaia de Fray Bentos, em frente à cidade de Gualeguaychú, província argentina de Entre Ríos. Entretanto, diante das pressões exercidas pelo governo argentino e por razões logísticas, a usina “M’bopicuá” foi transferida para Conchillas, um porto natural ao longo do Rio da Prata31. Já a finlandesa Metsä-Botnia, esta está localizada a 4km da cidade de Fray Bentos e pretende fabricar cerca de 1.000.000 toneladas de pasta de celulose por ano, com um investimento 3 estimado em 1.000 milhões de dólares” 1 Sabe-se que o investimento da empresa finlandesa traria um aumento de 1,6% do PIB uruguaio, além de gerar mais de 5000 postos de empregos diretos e indiretos. A dimensão do impacto econômico com a instalação das referidas empresas no Uruguai é como se fosse uma colheita da longa política uruguaia de atração de investimentos, visto que somarim investimento na faixa de 1,8 bilhões de dólares americanos, o maior já registrado na economia uruguaia, representando 3.2% e 2,5% do PIB (tendo como referência o ano de 2004), nos 3 anos de construção e para cada ano de produção, respectivamente. Somado ao projeto da ENCE, que teria metade da capacidade produtiva da finlandesa, é possível compreender a grande expectativa dos uruguaios com a instalação das empresas em seu território. 2 3. Controvérsia e seus desdobramentos Enquanto lado do lado argentino comemorava-se o desenvolvimento econômico pela instalação das usinas de celulose, noutro giro, a probabilidade de poluição do Rio Uruguai preocupou a população ribeirinha da Argentina, que apoiada por ativistas e pelo governo da região, iniciou manifestações contrárias aos projetos em setembro de 2003. Em dezembro de 2005, as manifestações se intensificaram, levando ao bloqueio das pontes que unem os dois Estados, impedindo o trânsito de turistas argentinos exatamente durante a temporada de verão uruguaia, provocando prejuízo e impedindo que o país recebe o maior número de visitantes, tudo com apoio dos cidadãos argentinos e de entidades ambientalistas, como por exemplo, o Greenpeace, além do governador da província de Entre Rios, cidade fronteiriça do lado argentino. Depois de um tempo, os bloqueios se tornaram permanentes, o que criou descontentamento por parte do governo do Uruguai. Havia, pelo lado argentino, a alegação de violação do Estatuto del Rio Uruguay, decorrente da ausência de notificação prévia, por parte do Estado uruguaio à Argentina acerca da instalação das fábricas, já que o referido tratado estabelece mecanismos para o aproveitamento ótimo e razoável, por ambos os países, do rio que 1 Disponível em: https://direitosp.fgv.br/sites/direitosp.fgv.br/files/narrativa_final.pdf 2 Idem 4 forma uma fronteira natural entre o Uruguai e a Argentina, o que se daria por uma das suas resoluções que prevê a formação da Comissão Administradora do Rio Uruguai (CARU), entidade formada por dez delegados, cinco de cada país, que deverá ser comunicada sempre que houver realização de qualquer obra que possa afetar a navegação e o regime do rio, a qualidade das suas águas. Após instaurado o impasse, a chancelaria uruguaia envia para o governo argentino um estado do impacto ambiental entregue pela ENCE, o qual apontava os limites do impacto ambiental. Após a análise por especialistas argentinos, são identificados altos riscos de impacto ambiental e sugerem a utilização de uma tecnologia diferente que produziria menos danos ambientais, assim como maior controle por parte da Caru. Mas a proposta da empresa finlandesa Metsa-Botnia de construir uma segunda usina em local próximo jogou água no programa. Outra vez, o governo argentino solicita informações e consultas sobre o novo empreendimento e, outra vez, o governo uruguaio demora em dar resposta. Esta situação provoca um aumento da oposição à construção das usinas pelos setores da sociedade civil, com o apoio do governador de Entre-Ríos, Jorge Busti, começa a se materializar em ações públicas, cujo ponto mais alto foi o bloqueio do acesso à ponte de San Martín que liga Gualeguaychú a Fray Bentos, que ocorre diversas vezes de forma descontinuada durante 2005. Os uruguaios, diante do prejuízo ocasionadopelo bloqueio do tráfego de turistas pelo lado argentino, buscaram o cumprimento dos tratados referentes ao comércio internacional e à livre circulação de pessoas e serviços dentro do MERCOSUL. Assim estava formado o conflito de interesses entre Uruguai e Argentina: um lado valendo-se da questão ambiental e o outro, de assuntos relacionados ao aspecto econômico. Marcos regulatórios distintos, normas ambientais, comerciais e sobre investimentos, levaram os Estados a uma pluralidade de instâncias para a busca da solução do conflito: recursos ao Tribunal Internacional de Justiça e ao sistema de solução de controvérsias do Mercosul, além de petições juntos à Organização dos Estados Americanos (OEA). 5 Deste modo, com a inexistência de um diálogo efetivo entre os dois países, somado a um grande embate de acusações mútuas, incluindo os dois presidentes, o que 5 também deu margem a exaltação do nacionalismo por ambas as partes envolvidas, nem tão pouco foi respeitada a decisão do Tribunal ad hoc do Mercosul, o que levou ao acirramento das assimetrias. Com vistas à solução do impasse, em maio de 2005 é criado especialmente o Grupo Técnico Bilateral, com a tarefa de facilitar a troca de informações entre ambos os governos sobre o andamento das obras, assim como seu impacto sobre o meio ambiente do rio. O Grupo é composto por especialistas dos dois países, sob a coordenação dos Ministérios de Relações Exteriores, com um prazo de funcionamento de 180 dias. O referido Grupo Técnico encerra suas atividades em Janeiro de 2006 sem chegar a um consenso, haja vista que a Argentina permanece acusando o governo uruguaio de violar o Estatuto do Rio Uruguai, encaminhando-se queixa contra o Uruguai à Corte de Haia em 4 de maio de 2006, perante a Corte Internacional de Justiça (C.I.J.). O Uruguai, por sua vez, declara que um recurso à Haia irá contra o Protocolo de Olivos, que prevê a convocação de um Tribunal ad hoc em caso de controvérsias comerciais no interior do bloco do Mercosul. O governo argentino insiste em definir a controvérsia como questão bilateral. Então foi a vez do governo uruguaio enviar para a OEA uma nota afirmando que a Argentina estaria violando a Convenção Interamericana de Direitos Humanos por bloquear o tráfego entre os países, insistindo na convocação do mecanismo de solução de controvérsias ad hoc do Mercosul para julgar a falta de ação do governo argentino ante o bloqueio exercido pelos ambientalistas de Gualeguaychú. Em junho de 2006 foi formado o Tribunal ad hoc pela Secretaria do Mercosul, com o fito de julgar a controvérsia apresentada pelo Uruguai em razão da omissão do Estado argentino em adotar medidas apropriadas para prevenir e/ou cessar os impedimentos à livre circulação entre os países. O Tribunal declarou que a Argentina se omitiu ao não prevenir, ordenar ou corrigir os bloqueios. Tal posicionamento argentino seria incompatível com o acordado entre as partes no Tratado de Assunção. Os árbitros do Tribunal, ao analisarem o caso com base nos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, entenderam que o direito de manifestação dos argentinos estava limitando o direito de circulação dos demais. Ademais, os direitos previstos na constituição dos Estados membros do MERCOSUL não podem se sobrepor ao acordo de funcionamento do bloco – conforme prevê a Convenção de Viena sobre Tratados. 6 Ocorre que o tribunal não determinou as medidas a serem tomadas pela Argentina a fim de terminar com os bloqueios, e estes foram mantidos. Mesmo frente à inação argentina, o Uruguai decidiu por não adotar medidas compensatórias, para não dificultar a negociação entre as partes. No âmbito da CIJ, a Argentina requereu medida cautelar para que o Uruguai: “(i) suspendesse imediatamente todas as autorizações para a construção das usinas mencionadas; (ii) tomasse as medidas necessárias para assegurar a suspensão dos trabalhos de construção das usinas; (iii) cooperasse de boa-fé com a Argentina para assegurar a utilização racional do rio Uruguai; e (iv) deixesse de tomar medidas unilaterais relativas à construção de tais usinas ou de toda outra medida que possa agravar a solução do litígio”, na forma do art. 41, do Estatuto da CIJ. 3 As medidas preventivas foram negadas, pois a Argentina não pode fornecer de provas do risco iminente e do prejuízo irreparável que alegadamente seria causado pelas obras de construção das usinas. Em 20 de abril de 2010 é dada a sentença, final e inapelável, após anos de análise, na qual a Corte Internacional de Justiça autoriza o funcionamento da usina papeleira Órion, posto que a empresa espanhola ENCE, a essa altura, já havia decidido abandonar a instalação de filial no Uruguai. Na retromencionada decisão o Tribunal decidiu que o Uruguai violou somente obrigações processuais de cooperar com a Argentina e com Comissão Administrativa do Rio Uruguai (CARU), durante o desenvolvimento de planos para as fábricas de celulose CMB (ENCE) e Orion (Botnia), porém não as obrigações materiais para a proteção do meio ambiente previstas pelo Estatuto do Rio Uruguai ao autorizar a construção e financiamento da usina de Orion (Botnia). 4. Argumentos favoráveis ao Uruguai A seguir uma breve síntese dos argumentos favoráveis ao Estado do Uruguai no caso das Papeleras. 4.1 A interferência da Argentina no caso da instalação das Papeleras fere o Princípio da Soberania Permanente do Uruguai 3 artigo 41, inciso 1, do Estatuto da CIJ: “1. A Corte terá a faculdade de indicar, se julgar que as circunstâncias o exigem, quaisquero termo “medidas provisórias”, traduzindo os termos francês mesures conservatoires ou inglês provisional measures, o que significariam medidas cautelares. medidas provisórias que devam ser tomadas para preservar os direitos de cada parte.” A Corte utiliza 7 Para o Uruguai, acima do Estatuto do Rio Uruguai estaria a sua existência, seu poder de decisão interno, sua soberania. A interferência argentina solicitando a saída da fábrica da cidade uruguaia, em certa medida, feria o princípio de soberania – visto que impedia a criação de empregos e o crescimento nacional uruguaio. Neste sentido, a vertente liberal concorda com o princípio de autodeterminação dos povos e o direito à soberania estipulado no Tratado de Viena (1969), conforme transcrito abaixo: “Tendo presentes os princípios de direito internacional consignados na Carta das Nações Unidas, tais como os princípios respeitantes à igualdade dos direitos dos povos e ao seu direito à autodeterminação, à igualdade soberana e à independência de todos os Estados, à não ingerência nos assuntos internos dos Estados, à proibição da ameaça ou do emprego da força e ao respeito universal e efetivo dos direitos do homem e das liberdades fundamentais para todos.” O ato de bloqueio das três fronteiras por pare dos manifestantes argentinos é tomado como violação de princípios internacionais e regionais pela parte uruguaia, 8 fazendo com que a postura governamental seja alterada, não mais procurando o diálogo acima de tudo, mas exigindo a retirada dos bloqueios para que, somente assim, possa acontecer alguma negociação. Segundo Fernanda Gonçalves Voigt4, é importante ressaltar que o a partir do bloqueio das três pontes internacionais pelo lado argentino, há uma mudança na postura da população uruguaia, a qual até apoiava a defesa do meio ambiente, porém o fechamento das fronteiras aliado à divulgação de estudos favoráveis ao Uruguai quanto ao nível de contaminação química, pelo Banco Mundial, levou o conflito a outro aspecto - a defesa da soberanianacional uruguaia. 4.2 Uso indevido do direito de liberdade de expressão pela Argentina Em que pese a Argentina valer-se do uso do direito fundamental de liberdade de expressão como pretexto para o impedimento da livre circulação de bens e 4Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/158272/Monografia%20da%20Fernanda %20Voigt.pdf?sequence=1&isAllowed=y 8 serviços decorrentes dos bloqueios das pontes, vale ressaltar que na verdade descumpriu o Tratado de Assunção, pois neste se comprometeu em garantir a livre circulação de bens e serviços entre territórios de seus respectivos países, Dessa forma, o direito de liberdade de expressão e reunião, previsto na Constituição Argentina, não seria absoluto, pois seu exercício é limitado na medida em que afetar os direitos subjetivos dos demais, no caso, dos cidadãos uruguaios. 4.3 Utilitarismo ambiental e ausência de política ambiental adequada na Argentina A Argentina usou a questão sobre meio ambiente como último recurso, haja vista que levou à apreciação da Corte Internacional de Justiça, como matéria principal, somente o inadimplemento quanto à necessidade de repasse do Estudo de Impacto Ambiental para instalação das indústrias de celulose nas margens do Rio Uruguai. A questão ambiental fora tratada de forma subsidiária – configurando-se típico caso de utilitarismo ambiental - quando na verdade o interesse é econômico - uma perspectiva antropocêntrica que considera o homem o centro do universo e acima da natureza, ou seja, a Argentina preocupou-se apenas com a economia e não de fato com o meio ambiente. Na verdade a Argentina estava preocupada tão somente com a perda econômica pelo risco de extinção do turismo em Gualeyguaychú, porém os temores argentinos foram por eles mesmos efetivados na medida em que o bloqueio ponto Libertador San Martin paralisou a economia local para ambos os lados – Uruguai e Argentina. Na Argentina, a indústria de celulose tem se instalado nas províncias de Corrientes e Entre Rios desde a década de 80, com a implantação de 10 fábricas de celulose (LIPCOVICH, 2006), sendo que oito delas são consideradas poluidoras pela indústria papelaria mundial devido a defasada tecnologia empregada – mediante uso de cloro, as quais não fizeram troca para o método menos agressivo para o meio ambiente (ECF E TCF), continuam empregando o método composto de cloro elementar. Como exemplo, são citadas as usinas de papel e celulose argentinas localizadas nas províncias de Corrientes, Misiones e Santa Fé, demonstrando, assim, o total descaso da Argentina com a preservação do meio ambiente. Ressalte-se ainda que a Argentina está sendo acusada pelo Paraguai pela poluição do Rio Paraná, situado ao norte do País, aonde se encontram uma dezena de fábricas papeleiras. Segundo um Estudo de Impacto Ambiental realizado naquele local, os 9 químicos poluentes mais expressivos derivam diretamente da indústria de celulose argentina.5 4.4 Inexistência de violação ao Estatuto do Rio Uruguai no tocante ao meio ambiente Assim dispõem os artigos. 35, 40 e 41, “a”, do Estado do Uruguai: “Art. 35. - As partes são obrigadas a adotar as medidas necessárias para que o manejo do solo e das florestas, o uso das águas subterrâneas e o dos afluentes dos rios não causem alteração que prejudique significativamente o regime da mesma ou da qualidade de suas águas. Art. 40. Para os fins deste estatuto, a poluição é entendida como a introdução direta ou indireta, pelo homem, no meio aquático, de substâncias ou energia das quais resultam efeitos nocivos. Art. 41. - Sem prejuízo das funções atribuídas à Comissão nesta matéria, as partes são obrigadas a: a) Proteger e preservar o meio ambiente aquático e, em particular, impedir sua contaminação, ditando as normas e adotando as medidas apropriadas, de acordo com as convenções internacionais aplicáveis e adequadamente, conforme apropriado, às diretrizes e recomendações das organizações técnicas. Internacional;” 5Disponível em: http://www.olca.cl/oca/paraguay/celulosa01.htm 10 Segundo estudos sobre o processo da produção do papel, o cloro elementar ou gás cloro utiizando para o branqueamento do papel é altamente nocivo ao meio ambiente, visto que pode prejudicar as espécies vivas do meio receptor. Com a tecnologia, o uso do cloro elementar foi substituído pelo dióxido de cloro (ECF) e, mais recentemente, pelas tecnologias de branqueamento com base em oxigênio, ozônio ou peróxido de hidrogênio (TCF), que eliminam totalmente compostos clorados, atendendo a regulamentação européia, conforme estabelecido na Diretiva 96/61/CE, de 24 de setembro de 1996 (“Diretiva IPPC”) Diretiva 96/61/CE6 A Comissão Europeia concluiu que as modernas usinas de celulose e papel que utilizam o método de branqueamento ECF emitem pouca quantidade de substâncias orgânicas cloradas. Em um relatório encomendado pelo Banco Mundial, foi verificado que as duas usinas implantadas no Uruguai utilizarão o método de branqueamento da celulose ECF, consoante recomendado pela diretiva europeia, que prevê as melhores técnicas disponíveis no mercado para prevenção e controle integrados da poluição, atendendo assim, o disposto no Estatuto do Rio Uruguai, não havendo que se falar em sua violação. 4.5 Desenvolvimento econômico x desenvolvimento Sustentável O desenvolvimento sustentável, ao contrário do que o senso comum diga, não é contra o desenvolvimento econômico. Muito pelo contrário, o desenvolvimento sustentável é a favor do desenvolvimento econômico e social, todavia, para que ambos aconteçam de forma natural e saudável, esse não pode se sobrepor aos anseios e às necessidades das futuras gerações e tão pouco aquele se sobrepor as questões ambientais e sociais. No caso em análise, diversos foram os Estudos de Impacto Ambiental que constataram que não haveria impacto ambiental negativo com a instalação/ funcionamento das usinas: • Relatório preliminar do Banco Mundial (2005) afirmando que as fábricas “Celulosas de M’Bopicuá (CMB)” e “Orion”de não apresentavam risco ambiental; • Corporação Financeira Internacional (abril/2006) feito por especialistas independentes, relatando que há um temor exagerado na catástrofe ambiental 6Diretiva 96/61/CE. Disponível em: https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:01996L0061- 20060224&from=DE 11 argumentada pela Argentina; • Em abril/2006 novamente o Banco Mundial informa que o projeto Orion não é causador de catástrofes ambientais; • Em junho de 2006 - a divulgação do “Documento sobre las Plantas de Pasta Celulósica a orillas del Río Uruguay” pela Academia Nacional de Ingeniería de la Argentina - afirma que o funcionamento das duas fábricas não afetará a biodiversidade, a atmosfera local e a saúde dos habitantes circundantes; • O ano de 2008 foi iniciado com mais uma vitória uruguaia, quando a Organização Não-Governamental (ONG) ambientalista Green Cross, liberou um relatório de monitoramento do ar e da água, tendo o aval do Departamento de Ciencias de la Atmósfera de la Facultad de Ciencias Exactas y Naturales da Universidad de Buenos Aires e do CONICET, onde amostras foram tomadas na margem argentina no Rio Uruguai desde 70 dias antes do início do funcionamento da Botnia . Este fato é considerado de muita importânciana história do conflito, pois foi o primeiro monitoramento independente realizado no lado argentino, sendo divulgado que “Os níveis no ar de dióxido de enxofre, dois quais seis derivados de gases perigosos que a planta poderia emanar, não sofreram variação entre antes e depois do início da operação de Botnia” • Em agosto de 2009 a ONG Green Cross divulga novo relatório onde corrobora que, após quase dois anos de medições contínuas, não foram detectadas alterações ambientais em decorrência do funcionamento da fábrica de celulose. 5. CONCLUSÃO A partir do análise do Caso das Papeleras é possível verificar que as discussões em torno da controvérsia embora tenham como pano de fundo a preocupação com o meio ambiente, na verdade restou claro que o ponto principal da disputa girou em torno da atração de investimentos estrangeiros direitos e do fortalecimento econômico. Tanto o questionamento relativo à livre circulação quanto a relativa à aplicação, se foi correta ou não, do Estatuto do Rio Uruguai, estão longe de trasparecer preocupação com a defesa do meio ambiente. Passando à apreciação do contexto histórico, tradicionalmente a Argentina acabava por atrair o investimento de capital estrangeiro na área de papel e celulose, o que gerou insatisfação ao saber que o Uruguai havia, pela primeira vez na história, levado 12 vantagem na celebração do contrato com as empresas européias ENCE S.A. (ENCE) e pela indústria finlandesa Oy Metsä-Botnia Ab (Botnia) para fins de instalação de duas fábricas de celulose às margens do Rio Uruguai, na cidade de Fray Bentos. Trata-se do choque de interesses sendo de um lado o interesse econômico, e de outro, um suposta preocupação pela preservação do meio ambients, quando na verdade o que se deveria ter em mente é que direito ambiental deva servir de norte para o direito econômico, no sentido de propiciar um aumento na qualidade de vida do ser humano e no próprio bem-estar do individuo, porém garantindo um meio ambiente equilibrado e sustentável sem o qual o futuro das gerações resta comprometido. No caso das Papeleras, é visível a importância da aplicação do Direito ambiental, mais precisamente de dois princípios – cooperação entre os Estados e o princípio da precaução, como forma de garantir uma economia próspera sem contudo comprometer os recursos naturais. 13 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: A crise das "Papeleras" entre Uruguai e Argentina: evolução histórica e consequências econômicas. Disponível em: http://bdm.unb.br/bitstream/10483/1134/1/2010_RodrigoGibinDuarte.pdf. Acesso em 10/12/2012. LIPCOVICH, PEDRO. Y por casa, como andamos? Buenos Aires, 6 de fevereiro de 2016l Disponível em: http://www.pagina12.com.ar/diario/elpais/1-62645-2006-02-06.html. Acesso em 10/12/2019. VOIGT, FERNANDA GONÇALVES. Análise do caso da instalação das Papeleras em Fray Bentos: Uruguai – uma análise da solução de controvérsia. Florianópolis, 2015. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/158272/Monografia%20da %20Fernanda%20Voigt.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em 11/12/2012. ALMEIDA, PAULA WOJCIKIEWICZ. O Caso das Papeleras. Casoteca. 2007. Disponível em: https://direitosp.fgv.br/sites/direitosp.fgv.br/files/narrativa_final.pdf 14
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