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oncologia IMPORTANTE

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s1321
Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 4): s1321-s1322, 2007.
ISSN 1678-0345 (Print)
ISSN 1679-9216 (Online)
Associação de cirurgia e quimioterapia para tratamento
de adenocarcinoma orofacial com linfonodo positivo em um cão
Association of surgery and chemotherapy for treatment
of orofacial adenocarcinoma with positive lymph node in a dog
Luciana Oliveira de Oliveira 1, Rosemari Teresinha de Oliveira 2,
Kelly Christini Rocha da Silva Ferreira 3, Cristiano Gomes 4 & Juliana Aguiar 5
1Médica-Veterinária. Hospital de Clínicas Veterinárias UFRGS. Serviço de Oncologia Veterinária. 2Médica-Veterinária.
Professora de Patologia Veterinária. Faculdade de Medicina Veterinária UFRGS. 3Médica-Veterinária. Hospital de Clínicas
Veterinárias UFRGS. 4Médico-Veterinário. Mestrando Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária UFRGS.
5Médica-Veterinária. Residente. Hospital de Clínicas Veterinárias UFRGS.
luoliv@gmail.com
ABSTRACT
A case of a canine presented with adenocarcinoma of apocrine glands at the mucocutaneous junction of inferior and superior
lips, with metastases at the regional lymph node, is reported. The patient was treat by excison of the nodule and regional lymph node,
associated with intravenous chemotherapy with 5-fluorouracyl. The dog developed complete response to the therapy.
Key words: adenocarcinoma, facial, neoplasm, surgery, chemotherapy.
INTRODUÇÃO
Existem poucos dados a respeito de adenocarcinomas de glândulas apócrinas de cães. São tumores incomuns
em cães e gatos, sem predisposição de raça ou sexo. Os locais mais afetados são cabeça, pescoço, região lombar e flanco
[2]. Tumores oro-faciais variam bastante no seu potencial metastático, mas são todos muito invasivos localmente [1,2]. O
prognóstico é ruim, mas tem melhorado pois já se demonstrou que os cães toleram muito bem as cirurgias orofaciais
extensas. Como resultado, as ressecções cirúrgicas têm se tornado mais agressivas. A cirurgia, com margens de segurança,
é o melhor tratamento para cães com câncer oral. A associação da cirurgia com radio ou quimioterapia é indicada no caso
dos tumores orofaciais com potencial metastático [1,3].
RELATO DO CASO
Foi atendido no Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul um canino, sem
raça definida, fêmea, com 9 anos de idade, pesando 8 kg, apresentando dois nódulos, na região cervical e no lábio, há 2
meses, com crescimento rápido. Segundo o proprietário, o cão havia sido tratado anteriormente com antibiótico e antinflamatório
não esteróide por 14 dias, sendo que o tumor reduziu de volume, depois voltou a crescer. Foi suspensa toda a medicação
anterior. Ao exame clínico, o cão apresentava normotermia, mucosas rosadas, ausculta torácica e palpação abdominal sem
alterações. O cão apresentava uma massa neoplásica envolvendo a junção mucocutânea e o lábio superior e inferior direito
medindo 4 cm, além de aumento do linfonodo submandibular direito medindo 6 cm de diâmetro. A massa era dolorida à
palpação. Foi feita biopsia aspirativa por agulha fina (BAAF) das duas massas, sendo sugestivo de carcinoma. O hemograma
se mostrou normal. Foi indicada excisão cirúrgica da massa e do linfonodo. O cão apresentou hemorragia pos-operatória,
que foi resolvida por compressão local. Após a cirurgia, foi indicado cefalexina1 30 mg/kg por 10 dias, a cada 12 horas, e
meloxicam2 0,1 mg/kg por 5 dias, a cada 24 horas, retorno e retirada dos pontos após 7 dias. Foi instituída quimioterapia com
5-fluorouracil3 na dose de 150 mg/m2, via intravenosa, a cada 7 dias, fazendo um total de 5 doses. A primeira dose foi aplicada
no dia da cirurgia, após a recuperação da anestesia. O nódulo coletado e o linfonodo foram fixados em formol a 10% e
enviados para o Setor de Patologia Veterinária da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
para confirmação do diagnóstico. O resultado do exame histopatológico foi adenocarcinoma de glândulas apócrinas. Foi feita
retirada dos pontos 7 dias depois da cirurgia, com deiscência parcial. A ferida resultante foi tratada com limpeza diária com
solução salina. O cão retornou semanalmente para aplicação do quimioterápico. Na aplicação da terceira dose, o paciente
apresentou fezes amolecidas. Foi indicado tratamento com omeprazol e metoclopramida enquanto estivesse recebendo o
quimioterápico. Na quinta aplicação do 5-fluorouracil, o proprietário relatou que o cão apresentou apetite fraco durante toda
a semana e teve dois episódios de vômito. A dose do 5-fluorouracil foi reduzida para 100 mg/m2. Em retorno para revisão
após a quinta aplicação, o cão apresentava-se novamente com apetite normal e bem disposto.
Oliveira L.O., Oliveira R.T., Ferreira K.C.R.S., Gomes C. & Aguiar J. 2007. Associação de cirurgia e quimioterapia para tratamento
de adenocarcinoma orofacial com linfonodo positivo em um cão. Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1321-s1322.
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Supl 4
DISCUSSÃO
A associação da cirurgia com a quimioterapia, neste caso, proporcionou a cura do tumor, sem prejuízo para o
paciente. A cirurgia com excisão do nódulo, acrescido de margens de segurança e do linfonodo, não resultou em prejuízo
funcional para o paciente e, segundo o proprietário, a aparência estética foi aceitável. A cirurgia para excisão do nódulo e
dos linfonodos envolvidos é o principal tratamento para estes tumores [2,3]. A quimioterapia pós-operatória deve ser consi-
derada para pacientes com tumores potencialmente metastáticos [1].
A avaliação pré-cirúrgica incluiu citologia e hemograma. Optou-se por iniciar a quimioterapia logo após a cirurgia
devido ao grande tamanho do nódulo, à metástase no linfonodo, à invasividade e ao potencial metastático apresentado por
estes tumores. O resultado do exame citológico, sendo sugestivo de carcinoma, foi importante para o planejamento cirúrgico,
influenciando a decisão por uma excisão cirúrgica com margens amplas juntamente com a retirada no linfonodo correspon-
dente. Após a cirurgia, o resultado foi confirmado pela biopsia. Neste caso não foi feito estudo radiográfico já que o proprie-
tário optou por tratar mesmo sem saber da existência de metástases distantes. O estadiamento pré-operatório do tumor inclui
a mensuração do tumor, palpação do linfonodo submandibular, BAAF ou biopsia do linfonodo, radiografias torácicas e da
face. A radiografia do local ajuda a determinar a extensão do tumor. As radiografias torácicas são importantes para o
diagnóstico de metástases, já que a presença de metástases indica prognóstico muito ruim e, assim, cirurgias agressivas
devem ser evitadas [1].
Foi indicado para o proprietário retornar a cada três meses para reavaliação do paciente. Na primeira revisão
após o tratamento, o cão retornou em bom estado geral, sem sinais de recidiva tumoral nem de metástases distantes. Fatores
de prognóstico para o câncer orofacial incluem o tipo histológico (relacionado ao potencial metastático) e o local do tumor
(influenciando a possibilidade de ressecção cirúrgica adequada). A taxa de desenvolvimento de metástases distantes pode
ser reduzida com o uso de quimioterapia sistêmica, mas o efeito na sobrevida dos pacientes ainda precisa ser melhor
estabelecido [3]. Para o controle pós-operatório, são indicados exames clínicos e radiográficos periódicos a cada três ou
quatro meses, embora as metástases torácicas aparentemente não respondam bem à quimioterapia [1].
CONCLUSÃO
A associação de cirurgia para retirada do nódulo, com margens amplas, excisão do linfonodo regional correspon-
dente, e quimioterapia à base de 5-fluorouracil para um cão com adenocarcinoma orofacial proporcionou a cura do tumor e
permitiu a recuperação do paciente após o tratamento. A cirurgia não resultou em danos estéticos nem funcionais para o
paciente. O cão apresentou poucos efeitos colaterais decorrentes da quimioterapia aplicada, que foram revertidos após a
retirada da droga.
NOTAS INFORMATIVAS
1Ouro Fino. Ribeirão Preto. Brasil.
2Cefalexina. Teuto Brasileiro. Anápolis. Brasil.3Fluoro-Uracil. ICN Farmacêutica Ltda. Campinas. Brasil.
REFERÊNCIAS
1 Berg J. 1998. Principles of orofacial surgery. Clinical Techniques in Small Animal Practice. 13: 38-41.
2 Henderson R.A. & Brewer W.G. 1993. Skin and subcutis. In: Slatter D. (Ed). Textbook of Small Animal Surgery. 2.ed. Philadelphia: Saunders,
pp. 2075-2088.
3 Klein M.K. 2003. Multimodality therapy for head and neck cancer. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice. 33: 615-628.
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Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 4): s1323-s1324, 2007.
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Tratamento criocirurgico de pólipo auricular
em cão após ressecção lateral do conduto auditivo
Cryosurgical treatment of aural polyps in dog after lateral resection of auditory conduit
Marcelo Seixo de Brito e Silva 1, Liliana Borges de Menezes 2,
Neusa Margarida Paulo 3, Aline de Morais Faria 4 & Lívia Maria Lindoso Lima 4
1Doutorando em Ciência Animal na EV/UFG. 2Doutoranda em Ciência Animal na EV/UFG. Profa. de Patologia Geral no IPTSP/UFG.
3Professora Doutora do Departamento de Medicina Veterinária na EV/UFG. 4Acadêmica do curso de Medicina Veterinária da EV/UFG.
marceloseixo@hotmail.com
ABSTRACT
This work describes the surgical treatment of otology polyps in Rottweiler dog. This dog presents the following signals: Purulent
secretion in the aural canal, bad smell, aural eritema whit mass (polyps) closing almost all the auditory conduit. He has some months in
treatment with topic and systemic antibiotics but don’t have satisfactory results, because this the surgery treatment with cryosurgery and
lateral resection of the auditory conduit has indicated for polyps remotion. The surgical treatment presented excellent aesthetic and
functional results.
Key words: aural, cryosurgery, zepp.
INTRODUÇÃO
A doença neoplásica do ouvido e incomum nos cães e gatos em comparação com a incidência de neoplasia em
outras regiões do tegumento. Aproximadamente 2 a 6 % dos cães e 1 a 2 % dos gatos que realizam cirurgia auricular tem
tumores no conduto auditivo [3].
A ressecção da parede lateral esta indicada quando há necessidade de exposição do canal para coleta de biopsia
ou para a remoção de pólipos benignos. Nos quadro de otite crônica a cirurgia melhora a ventilação, permite a drenagem
melhorando as condições para o tratamento, mas freqüentemente não tem efeito curativo [3-5].
Durante o pós-operatório a otite é tratada conforme foi determinado pela avaliação previa. A prevenção da
automutilação deve considerar o enfeixamento ou o uso de colar elizabetano. É comum a deiscência parcial da linha de
sutura recomendando-se o tratamento pela cicatrização de segunda intenção [4].
A criocirurgia é um protocolo terapêutico de grande importância na Medicina Veterinária e as indicações são as
mais diversas. Esse recurso terapêutico pode ser empregado também no tratamento de distúrbios não neoplásicos traumáticos
como os dermóides congênitos, em casos de adenoma sebáceo, histiocitomas cutâneos, papilomas, adenoma, adenocarcinoma,
carcinoma de basocelular e espinonocelular, epulis, fibroma, fibrosarcoma, hemanginoma, hemangisarcoma, histiocitomas,
melanoma, sarcoma e tricoepitelioma [1,2,6,7]. No Brasil Lucas (1999) utilizou com sucesso em cães e gatos, diferentes
técnicas crioterápicas em uma grande variedade de patologias dermatológicas, principalmente as neoplásicas, demons-
trando a efetividade dessa modalidade terapêutica em Medicina Veterinária.
Atualmente, o protocolo é utilizado de maneira adequada devido suas características peculiares e suas seqüelas
pouco desastrosas. Dentre as vantagens podem relacionar o tempo utilizado na criocirurgia, consideravelmente menor do
que o empregado na exérese cirúrgica tradicional [7]. As cicatrizes por segunda intenção que ocorrem após a criocirurgia
oferecem um excelente resultado cosmético. O método pode ser empregado em áreas nas quais as suturas são contra
indicadas. Em áreas com lesões extensas e com presença de pouco tecida circundante normal, tornando as suturas pouco
exeqüíveis, a criocirurgia tem apresentado bons resultados. As áreas acometidas podem ser destruídas, sem danificar os
tecidos adjacentes, quando se utiliza a técnica apropriada [1,2,6,7].
A cirurgia de ressecção da parede lateral esta contra indicada nos casos em que haja obstrução ou neoplasias
envolvendo os canais vertical e horizontal, ou presença de otite média recidivante [3-5].
MATERIAIS E MÉTODOS
Foi atendida no município de Goiânia uma cadela da raça Rottweiler, adulta que agitava a cabeça, com odor
fétido na região auricular e perda de apetite. Já havia um histórico de tratamento de otite crônica no ouvido direito deste
animal. Ao exame clinico foi identificada uma massa ulcerada e com secreção purulenta na região da cartilagem auricular
abaixo do tubérculo da anti-helix que obstruía quase todo o conduto auditivo caracterizando uma otite proliferativa não
permitindo a avaliação por otoscopia do tímpano e do canal horizontal. No ouvido esquerdo não havia problema algum, o
animal foi então tratado por uma semana com cefalexina oral bid e medicação otológica tópica1 havendo discreta melhora
do quadro infeccioso e sem remissão da massa.
Silva M.S.B., Menezes L.B., Paulo N.M., Faria A.M. & Lima L.M.L. 2007. Tratamento criocirurgico de pólipo auricular em cão
após ressecção lateral do conduto auditivo. Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1323-s1324.
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Supl 4
Diante do quadro apresentado foi recomendado ao proprietário a cirurgia para avaliação da extensão e remoção
da massa.
Os exames pré-operatórios não apresentaram alteração e animal pode ser encaminhado à cirurgia. Após tricotomia
e assepsia da região auricular foi realizada a técnica de ressecção lateral do conduto vertical (Procedimento de Zepp) para
exposição da totalidade da massa e avaliação do conduto horizontal que se apresentava integro juntamente com o tímpano.
Após avaliação da extensão da massa optou-se pela associação à cirurgia de Lacroair de técnica criocirurgica para
destruição seletiva do tecido e manutenção da cartilagem.
Um equipamento da marca Cry-Ac foi utilizado apara a aplicação de nitrogênio líquido por meio de um sistema
aberto de aplicação, foram utilizados dois ciclos de congelamento e descongelamento com no mínimo 1 minuto de conge-
lamento de cada massa sempre mantendo uma margem de segurança de 3 mm.
Após o congelamento dos pólipos a porção lateral foi suturada ventralmente conforme a técnica descrita na
literatura [4] foi utilizado fios de nylon nº 2-0 e pontos separados simples.
Durante o pós-operatório foi utilizado cefalexina V.O. (b.i.d) por 15 dias, meloxicam V.O. (s.i.d) por 10 dias e tratamento
tópico da ferida com solução otológica1. Após 7 dias o animal apresentou marcante necrose da massa congelada, o flap
rebatido ventralmente para a ressecção do conduto estava com sinais claros de cicatrização o estado geral do animal era
bom com retorno do apetite e sem sinais dolorosos.
Com 20 dias não havia mais sinal do pólipo e a cicatrização estava praticamente completa com toda a cartilagem
medial da porção vertical do conduto auditivo cicatrizada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A técnica de ressecção do conduto lateral do conduto auditivo permitiu a completa identificação na massa e
avaliação do canal horizontal e da membrana timpânica [3-5], no presente caso só após a avaliação dessas estruturas é que
foi possível definir a técnica a ser utilizada para resolução do problema.
A opção pela criocirurgia permitiu a manutenção da porção medial do conduto auditivo vertical, e em comparação
com as técnicas de excisão normalmente utilizadas foi extremamente rápida e muito menos cruenta. A ausência de sinais
evidentes de dor no pós-operatório deveu-se à destruição das terminações nervosas pelo nitrogênio liquido e é citada como
uma das vantagens da criocirurgia [1,2].
Uma das principais preocupações do proprietário era a parte estética da orelha, e o resultado foi extremamente
satisfatórioe isso deve ser levado em consideração quando da indicação de um procedimento cirúrgico a um proprietário
relutante.
CONCLUSÃO
Diante do quadro encontrado, a criocirurgia mostrou-se viável e de rápida execução, com um pós-operatório
simples e com excelentes resultados funcionais e cosméticos quando associada à ressecção lateral do conduto auditivo.
NOTAS INFORMATIVAS
1Otomax. Schering-Plough Saúde Animal. Cotia, Brasil.
REFERÊNCIAS
1 Baust J. & Gage A.A. 2005. The molecular basis of cryosurgery, Cryobiology. 95:1187-1191.
2 Dawber R., Colver G. & Jackson A. 1999 . Criocirurgia cutânea, princípios e prática clínica. 2nd edn. São Paulo: Manole, 135 p.
3 Fan T.M. & de Lorimier L.P. 2004. Inflammatory polyps and aural neoplasia. Veterinary Clinics North America Small Animal Practice. 34(2):489-509.
4 Fossum T.W. 2002. Cirurgia de pequenos animais. 1nd edn. São Paulo: Roca, pp.172-198.
5 Holberg D.L. 1998. Criocirurgia. In: Slatter D. B. (Ed). Manual de cirurgia de pequenos animais. 2ed. São Paulo: Manole, cap 17, p. 237-243
6 Krahwinkel D.J . 1998. Criocirurgia. In: Slatter D. B. (Ed). Manual de cirurgia de pequenos animais. 2ed. São Paulo: Manole, pp. 1850-1858.
7 Lucas R. 1999. Crioterapia na clínica veterinária – avaliação da praticabilidade, exeqüibilidade e efetividade em dermatoses de caninos e
felinos. 111f. São Paulo, S.P. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade
de São Paulo.
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Adenocarcinoma mamário associado à melanoma em cadela
Mammary adenocarcinoma associated to melanoma in bitches
Luciano Schneider da Silva 1, Ingrid Bueno Atayde 2,
Marcelo Seixo de Brito e Silva 3 & Luciano Marra Alves 4
1MSc, Professor Adjunto, Patologia Clínica Cirúrgica, SOES-GO. 2MSc., Professora Adjunta, Zoonoses e Saúde Pública,
Méd. Veterinária – HVET/SOES-GO. 3MSc., Professor de Anatomia Animal – UFG, Médico Veterinário – HEVT/SOES-GO.
4MSc., Professor Adj. Clínica de Pequenos Animais –SOES/GO, Méd. Vet, Hospital Veterinário EV/UFG.
luciano.schneider@gmail.com
ABSTRACT
Within neoplasias are those of the mammary glands the most common in bitches, from which adenocarcinoma stand at as one
of the most frequently found malignant mammary tumors. On the other hand, melanoma are usually found in skin around eyes and mouth.
They are aggressive, but no commonly reported in mammary glands of bitches. This study reports the case of a 12-year-old Poodle,
overweight, from the routine of the Veterinary Hospital from SOES-GO in October/2004, presenting with a tumoral process in the first three
mammary glands on the right side of the abdomen. The tumoral mass measured about 18 cm longhand 9 cm of diameter. Hemogram, blood
alkaline phosfatase, urinalysis, thoracic and abdominal X-ray were done. No apparent calcified metastases were found in the X-rays. A
mastectomy was carried-out on the affected glands along with removal of regional limphnodes. A fragment of the tumor was colleted and
sent to histopathology’s analysis at the Veterinary Pathology Lab of EV/UFG, which indicated the presence of adenocarcinoma and melanoma.
Daily dressings were recommended, and the animal recovered well after surgery having the stitches removed after 12 days, and did not
present metastasis in the following evaluations once every six months, and even after 24 months. On this case mastectomy was an
important therapeutic decision, even though there was a risk of metastasis and the advanced age of the animal, for it collaborated to a better
life quality and changed the expected progression of the tumor.
Key words: Adenocarcinoma, melanoma, mastectomy.
INTRODUÇÃO
As neoplasias mamárias são muito freqüentes em cadelas, principalmente entre 10 e 11 anos de idade [10]. As
hipóteses mais citadas sobre a etiologia dos tumores mamários referem-se à obesidade e a atividade hormonal [4,9]. Autores
relatam que a obesidade já no primeiro ano de vida pode predispor as fêmeas às neoplasias. A alimentação caseira,
principalmente no que se refere à alta ingestão de carnes bovinas e suínas apresentam correlação positiva com o desenvol-
vimento tumoral em cadelas [6]. Fêmeas caninas não esterilizadas cirurgicamente apresentam riscos maiores de tumores
mamários do que fêmeas já submetidas a ovariohisterectomia [9].
A raça Poodle é citada dentre as raças com maior incidência [10]. Em pesquisa realizada com 136 cadelas com
tumores de mama, foram observadas 104 fêmeas tinham tumores mamários malignos e 66 destes animais tinham adenocarcinoma
[1]. Existem relatos de casos onde cadelas apresentavam além de adenocarcinomas mamários outras neoplasias (melanomas,
sarcomas e linfosarcomas) em diversas regiões do corpo [5]. Os adenocarcinomas são tumores malignos derivados de
tecido epitelial com envolvimento de epitélio glandular, geralmente invasivos e de crescimento rápido [7]. Já os melanomas
são tumores de melanócitos e melanoblastos, de multiplicação autônoma e desordenada, encontrados freqüentemente na
pele, boca e olhos [3]. Há relatos de que geralmente quando localizados nos dígitos e na cavidade oral, são extremamente
malignos [2]. O melanoma é um dos 10 tumores de pele e de tecido subcutâneo mais diagnosticado em cães [8]. Para as
neoplasias mamárias em fêmeas da espécie canina, a mastectomia constitui a terapia de escolha, com exceção das metástases
à distância. O câncer mamário quando mestastático geralmente é mais encontrado nos pulmões, sendo a radiografia de
tórax um teste importante de triagem antes da mastectomia. A remoção dos linfonodos regionais próximo as mamas afetadas
pode reduzir o risco de recorrência tumoral [10]. O prognóstico para cadelas com tumores malignos varia muito, dependendo
do tamanho, tipo e estágio tumoral. Cadelas com tumores com mais de 3cm apresentam prognóstico ruim pois 80%
manifestam recorrência tumoral em 2 anos [11].
RELATO DE CASO
Foi atendido no Hospital Veterinário da Faculdade Objetivo – SOES-GO, uma cadela da raça Poodle, de pelagem
branca, pesando 16 kg, com 11 anos de idade. Ao exame clínico o animal apresentava discreta taquicardia, incômodo
doloroso durante a locomoção, significativa massa tumoral que abrangia duas mamas inguinais e uma abdominal, do lado
direito. A consistência da massa tumoral era firme, medindo aproximadamente 18cm (comprimento) por 9 cm (diâmetro),
com ulcerações superficiais que secretavam um líquido sanguinolento. Na palpação a massa tumoral apresentava motilidade
e sem aparente ramificação, quente a palpação da região peritumoral e com sensibilidade dolorosa. De acordo com o
proprietário do animal o aparecimento e desenvolvimento tumoral se deu em 4 meses. Foi ainda relatado que a paciente se
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ISSN 1678-0345 (Print)
ISSN 1679-9216 (Online)
Silva L.S., Atayde I.B., Silva M.S.B. & Alves L.M. 2007. Adenocarcinoma mamário associado à melanoma em cadela.
Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1325-s1326.
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alimentava constantemente das sobras das refeições, ingerindo preferencialmente carne. Foram coletados materiais para
hemograma, dosagem de fosfatase alcalina, EAS e indicado Raio X de tórax e abdome.
O hemograma revelou discreta leucocitose com neutrofilia relativa e absoluta. A urinálise e dosagem de fosfatase
alcalina apresentaram níveis normais. Os exames radiológicos não revelaram presença de massas tumorais metastáticas.
Após conversar com o proprietário do animal, no intuito de melhorar a qualidade de vida do paciente, foi então decidido
realizar a mastectomia das glândulas afetadas com ampla incisão cirúrgica e a retirada dos linfonodos regionais. Foi indicar
o tratamento pré cirúrgico com enrofloxacina a 2,5% durante 5 dias e higienizações diárias das ulcerações com solução
fisiológica iodada a 5%.
Após este período o paciente retornou, foi submetido a anestesia inalatória e realizada a mastectomia regional
com remoção de linfonodos perimamários, seguindo as largas margens de segurança indicadas por Withron & Macewen
(1996). Foramusados pontos de aproximação com fio 2-0 de poligalactina para redução do espaço morto e aproximação
das bordas da ferida. Pontos separados simples foram dados com fio 2-0 nailon, para coabitação da ferida cirúrgica. Curativos
compressivos foram indicados com intuito de diminuir a possibilidade de seroma, sendo trocados diariamente. No pós
cirúrgico foi dado continuidade a antibióticoterapia com Enrofloxacina a 2,5% e foi usada o Meloxicam como analgésico. Após
a cirurgia foi coletado em formol tamponado a 10% fragmentos (3cm3) das massa tumoral mamária, sendo o material proces-
sado e incluído em parafina, laminado a cinco micrometros, corado através da coloração de hematoxilina e eosina (HE) e
encaminhado para exame histopatológico.
O laudo histopatologico revelou que a técnica cirúrgica realizada apresentou uma margem de segurança satisfatória
e que o tumor mamário era misto composto por adenocarcinoma tubular complexo associado a melanoma, infiltrados inflama-
tórios e focos de necrose. Após a retirada dos pontos com 12 dias, o paciente seguiu uma dieta alimentar indicada para
perda de peso e foi avaliado a cada 6 meses com exames hematológicos e radiológicos.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
Relatos de adenocarcinomas mamários descritos por De Nardi et al. (2002), O’Brie et al. (2001) e Jones et al.
(2000) descrevem que esses tumores são freqüentes em cadelas. Mas não foram encontrados relatos na literatura científica
da ocorrência de melanoma em glândula mamária e nem relatos deste tumor associado à adenocarcinomas. Pudemos
observar que o animal se enquadrava nos fatores predisponentes das neoplasias mamárias conforme os relatos de Withrow
& Macewen (1996), Morrison (1998), Zuccari et al. (2001) e Perez et al. (1998). Após 24 meses os exames do paciente não
apresentavam sinais de metástase ou aparecimento de nova massa tumoral, o que confronta os relatos de Yamagami (1996)
sobre a recorrência de tumores com diâmetros acima de 3 cm. Portanto foi possível observar que adenocarcinoma e
melanoma podem acometer glândulas mamárias de fêmeas caninas da raça Poodle e que mesmo em pacientes idosos é
possível a indicação da mastectomia. Neste caso, mesmo havendo o risco de doença metástatica, foi importante a decisão
terapêutica tomada para melhorar a qualidade de vida do paciente e modificar a progressão da doença.
REFERÊNCIAS
1 De Nardi A.B., Rodaski S., Sousa R.S., Costa T.A., Macedo T.R., Rodigheri S.M., Rios A. & Piekarz C.H. 2002. Prevalência de neoplasias
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em cadelas. 2004. Tese (Doutorado em Medicina Veterinária) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista,
Botucatu. f. 90.
3 Jones T.C., Hunt R.D. & King N.W. 2000. Patologia Veterinária. 6 ed. Manole, São Paulo, p. 1200-1240.
4 Morrison W.B. 1998. Cancer in dogs and cats: Medical and Surgical Management. Baltimore: Williams &Wilkins, p. 592-598.
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7 Thonson R.G. 1990. Patologia Veterinária Especial. 1 ed. São Paulo. Manole, P. 750-760.
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Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 4): s1327-s1328, 2007.
ISSN 1678-0345 (Print)
ISSN 1679-9216 (Online)
Adenocarcinoma primário de íris em cão
Primary adenocarcinoma in iris in dog
Patrícia Arrais 1 & Paulo César Rodrigues Tabanez 2
1Clínica Veterinária PRONTOVET, médica veterinária, MS.
2Clínica Veterinária PRONTOVET, médico veterinário, MS.
patrícia@prontovet.vet.br
ABSTRACT
Primary iris adenocarcinoma is an uncommon tumor in dogs. The diagnosis is usually done through detection of the tumor in just
one eye without signs of another neoplasm. A four years old male Doberman was admitted in Prontovet hospital presenting a mass in the
left iris associated with anterior uveitis, blepharospasms and epiphora with purulent ocular secretion. No clinical or laboratorial alterations
were detected and aspirative citology presumed malignancy. Ocular globe was enucleated and histopatology revealed primary adenocar-
cinoma in iris.
Key words: adenocarcinoma, iris, dog.
INTRODUÇÃO
As neoplasias do globo ocular podem comprometer tanto a visão quanto a vida do paciente, pois podem ser
benignas e de desenvolvimento lento ou malignas. Desta forma, o diagnóstico precoce pode não só permitir a funcionalidade
do órgão como também a sobrevida. Neoplasias intra-oculares são relativamente incomuns em cães. Os tumores do segmento
anterior de cães são quase sempre divididos entre primários (52%) ou secundários, ou seja, metastáticos para o olho (42%).
A úvea anterior parece ser a porção ocular mais acometida por tumores metastáticos em função da sua estrutura vascular [2].
O melanoma é a neoplasia mais freqüente da úvea anterior, e corresponde a mais de 50% dos casos. Os tumores de corpo
ciliar têm sido relatados mais frequentemente em cães maiores de oito anos de idade embora sem predisposição por sexo.
Os adenocarcinomas primários de íris são bem menos relatados que suas metástases à distância [4]. Não se sabe ao certo
se existe alguma predisposição racial, mas, no entanto, o pastor alemão e o cocker spaniel americano são as raças mais
reportadas [3]. O aspirado por agulha fina e a histopatologia concluem o diagnóstico. O aspirado por agulha fina de massas
intra-oculares tem sido um procedimento pouco relatado em oftalmologia veterinária, pois se atribui ao procedimento maior
risco de sangramento em relação a seres humanos, em função da maior vascularização da íris canina [1].
RELATO DO CASO
Um cão, Dobermann marrom de quatro anos de idade, não castrado, nascido em Brasília-DF, foi atendido à
clínica, na mesma região, apresentando um quadro de hiperemia conjuntival, epífora, blefaroespasmo, secreção ocular
purulenta e prurido no olho esquerdo que se desenvolvia há 30 dias. A biomicroscopia ocular com lâmpada de fenda revelou
um nódulo de íris medindo cerca de 1 cm de diâmetro entre nove e uma hora, ocupando todo o meridiano superior da íris,
expandindo-se para a câmara anterior e através da pupila. Além disso, havia intensa congestão escleral e pressão intra-
ocular diminuída (10 mmHg, aferida com tonopen). Não havia outras alterações sistêmicas e os exames complementares
estavam todos normais. Realizamos uma punção aspirativa por agulha fina da massa que revelou proliferação de células
dispostas em agrupamentos tridimensionais, por vezes, apresentando projeções papilares, exibindo cariomegalia e
hipercromasia nuclear discretas.
O citoplasma mostrava-se ora escasso ora abundante e denso e, configurando aspecto maligno. Foram realizadas
radiografia torácica e ultra-sonografia abdominal, as quais não revelaram lesões primárias ou metastáticas. O animal foi
encaminhado então à iridectomia pararessecção do nódulo, mas em função da invasão da massa para esclera e segmento
posterior, optou-se pela enucleação. Todo material foi encaminhado para análise histopatológica revelando um adenocarcinoma
primário de íris. Não houve complicações trans ou pós-operatórias. Nenhum tratamento quimio ou radioterápico foi instituído
e o paciente está sendo acompanhado há um ano sem sinais de alteração no olho direito ou de doenças neoplásicas sis-
têmicas.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
Os tumores da úvea anterior são pouco comuns em cães e podem ser primários ou secundários. Os adenocarcinomas
correspondem a menos de 25% deste total e normalmente são metastáticos. O diagnóstico de neoplasia intraocular primária
em relação àquelas metastáticas para o olho, é parcialmente pela exclusão de um sítio primário. Os exames físicos e laboratoriais
normais, o diagnóstico por imagem negativo para neoplasia primária, juntamente com a presença de uma massa intra-
Arrais P. & Tabanez P.C.R. 2007. Adenocarcinoma primário de íris em cão.
Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1327-s1328.
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ocular unilateral, normalmente permite estabelecer o diagnóstico de neoplasia ocular primária [5]. A escolha do tratamento
das neoplasias de íris depende do grau de malignidade do tumor, sua localização e tamanho da massa, porém é sempre
cirúrgico. As técnicas podem variar entre a exérese do nódulo, a enucleação do globo ocular e a exenteração da órbita. A
maior indicação de excisão cirúrgica de massas de íris deve ser para aqueles tumores pequenos, localizados na margem
pupilar da íris e em pacientes nos quais o olho contra lateral já tenha sido perdido por outras causas [3]. A despeito do que
refere a literatura em relação a maior risco de hemorragia intra-ocular secundaria a agulha fina, acreditamos que neste caso
não haveria tal risco em função da posição da massa e do fato de a mesma ser grande e estar bem próxima à córnea,
tornando-a mais firme. A terapia de escolha nos casos de adenocarcinoma de íris tem sido a enucleação ou exenteração,
embora o tratamento com 5-fluoruracil tenha sido descrito após a cirurgia de exérese de tumor e os resultados parecem
promissores [3]. O potencial curativo da enucleação e a chance de desenvolvimento de metástases pós-cirúrgicas têm sido
estudados e permanece controverso. Desta forma, o paciente deve ser acompanhado por longo tempo para avaliação do
risco de desenvolver metástases à distância.
REFERÊNCIAS
1 Augsburger J.J., Shields J.A., Folberg R., Lang W., O’Hara B.J. & Clarissi J.D. 1985. Fine needle aspiration biopsy in the diagnosis of
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2 Collins B.K. & Moore C.P. 1991. Canine anterior uvea. In: Gelatt K.N. (Ed). Veterinary ophthalmology. 1.ed. Philadelphia: Lea & Febiger, pp.
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3 Collins B.K. & Moore C.P. 1991. Canine anterior uvea. In: Gelatt K.N. (Ed). Veterinary ophthalmology. 1.ed. Philadelphia: Lea & Febiger, pp.
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4 Glickstein J.M. & Allen H.L. 1974. Malignant ciliary body adenocarcinoma in a dog. Journal of American Veterinary Medical Association.
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Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 4): s1329-s1331, 2007.
ISSN 1678-0345 (Print)
ISSN 1679-9216 (Online)
Osteossarcoma extra esquelético
no tecido subcutâneo facial em cão
Extraskeletal osteosarcoma in the facial subcutaneous tissue in dog
Magyda Arabia Araji Dahroug 1, Silvio Henrique de Freitas 2, Cristiane Macedo Carmona 1,
Manuela Arruda e Silva 1 & Claudia Gorgulho Nogueira Fernandes 2
1Residente de clínica cirúrgica do HOVET-UNIC. 2Professor do departamento de Cirurgia da faculdade de Medicina Veterinária – UNIC.
3Professor do departamento de Clínica médica da faculdade de Medicina Veterinária – UNIC.
ABSTRACT
Extraskeletal osteosarcoma is a rare malignant neoplasm in dogs. The diagnosis is based on histopathology and on the exclusion
of primary osseous neoplastic foci through appropriate exams. A five-year-old female, mixed bred was presented to the surgical service of
the Veterinary Hospital from Universidad of Cuiaba with a hard subcutaneous mass on the left lateral facial region. Diagnosis was reached
through histological analysis after the realization of nodulectomy.
Key words: osteosarcoma, estraskeletal, oncology, soft tissues, neoplasia.
INTRODUÇÃO
Neoplasias malignas, identificadas como osteossarcomas, já foram identificadas na maioria das espécies, sendo
mais freqüentes em cães, especialmente nas raças gigantes. Esses tumores originam-se mais freqüentemente na metáfise
dos ossos longos, onde é maior a taxa de substituição do tecido ósseo, contudo, os osteossarcomas podem ocorrer em
qualquer local, inclusive nos sesamóides [6].
Osteossarcoma extra-esquelético (OSEE) é uma neoplasia mesenquimal maligna rara de partes moles que não
tem conexão com a estrutura esquelética e nos cães, mais frequentemente, tem origem em órgãos viscerais [2,5,6]. Geralmente
acomete cães idosos, sem predisposição sexual, sendo as raças rottweiller e beagle as mais afetadas [7].
Os osteossarcomas extra-esqueléticos do tipo justacorticais, são tumores que têm origem na superfície do osso,
e não envolvem a cavidade medular. Esses tumores se compõe tipicamente de tecido fibro-ósseo bem diferenciado, mas
maligno. Não apresentam tendência para metástase, mas há recorrência local em seguida a uma remoção cirúrgica incom-
pleta [6].
Essa neoplasia é caracterizada pela produção de osteóide ou osso, algumas vezes acompanhada por cartilagem.
A etiologia do OSEE em cães é desconhecida, embora trauma tenha sido relatado na formação de osteossarcoma ocular em
gatos [1]. Osteossarcomas extra-ósseos não têm causa definida, embora alguns registros sugiram a participação de células
pluripotenciais indiferenciadas na etipatogênese dessa alteração [10].
O diagnóstico de osteossarcoma depende da identificação da produção de osteóide e de osso reticulado por
células estromais inequivocamente anaplásicas. Diversas variantes morfológicas do tumor possuem características histológicas
diferentes, embora a maioria demonstre um comportamento clínico semelhante [6].
Os tumores malignos que surgem no tecido conjuntivo mesenquimatoso compartilham muitas características,
independente do fato de sua origem ser em tecidos fibroso, vascular ou adiposo. Neste aspecto, eles requerem margens de
excisão cirúrgica bastante largas. Nesses pacientes, podem-se aumentar significamente os tempos de sobrevida pelo uso
de doxorrubicina e/ou cisplatina [4].
RELATO DE CASO
Um canino SRD fêmea, com cinco anos de idade, foi atendido no setor de clínica cirúrgica do Hospital Veterinário
da Universidade de Cuiabá (UNIC), apresentando assimetria facial, devido a uma massa tumoral do lado esquerdo, medindo
cerca de 15 centímetros de diâmetro, com evolução de quatro meses. A massa tinha consistência firme, aderida, alopécica,
normotérmica, sem úlceras, eritemas ou sensibilidade. O proprietário relatou que ao tratar uma vez com antinflamatórios, por
conta própria, o nódulo apresentou discreta diminuição de volume, apresentando recidiva quando suspenso o tratamento.
A par disto, demonstrava bom estado físico geral.
Foi realizado exame radiológico do crânio que revelou aumento de volume de tecidos moles com alguns pontos
de calcificação medindo cerca de 0,3cm de diâmetro, sem comprometimento ósseo, na face esquerda do crânio. Na radiografia
Dahroug M.A.A., Freitas S.H., Carmona C.M., Silva M.A. & Fernandes C.G.N. 2007. Osteossarcoma extra esquelético no tecido
subcutâneo facial em cão. Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1329-s1331.
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de tórax, havia ausência de metástase pulmonar. Ao hemograma e bioquímica sérica para dosagem de alanina amino-
transferase (ALT) e creatinina, não foram observadas alterações dignas de nota.
O animal foi submetido à nodulectomia. Ao finalda cirurgia, colocou-se um dreno na região da exérese com a
finalidade de drenar edemas conseqüentes da manipulação cirúrgica.
A massa tumoral foi enviada ao Laboratório de Patologia do HV-UNIC para análise histopatológica, o qual
revelou o osteossarcoma justacortical.
Durante o pós-operatório foram realizadas limpezas com solução de cloreto de sódio 0,9% através do dreno,
pomada cicatrizante na região suturada, antinflamatórios e antibióticos via oral. Os pontos cirúrgicos foram retirados após
dez dias da intervenção cirúrgica.
Atualmente, o animal encontra-se em excelente estado de saúde, apresentando ferida cirúrgica completamente
cicatrizada e sem recidivas.
DISCUSSÃO
Osteossarcomas cutâneos e subcutâneos sem envolvimento ósseo primário são considerados raros [10]. Osteos-
sarcomas extra-esqueléticos são tumores incomuns que mais freqüentemente têm origem nos cães, em órgão visceral [6]. O
paciente deste caso clínico era um cão e a localização da massa tumoral era na região facial esquerda.
Em geral essa enfermidade ocorre com maior freqüência em cães de raças grandes ou gigantes, com idade
média de sete anos e meio e em região metafisária dos ossos [3]. Não há predileção racial ou sexual claramente definida [7].
O paciente pertence a uma raça de porte grande, com idade de cinco anos e não apresentava alteração óssea.
Os locais de maior incidência deste tipo de tumoração (extra-esquelético) no cão, em um estudo de 169 casos
foram às glândulas mamárias, sistema digestório, tecido subcutâneo, fígado e baço, havendo ainda relatos em glândulas
salivares e tireóide, pulmão, rim, bexiga, olhos e mesentério [7,11]. Metástases são comuns, mas os pulmões estão menos
envolvidos que nos osteossarcomas esqueléticos [8]. O paciente do relato apresentava tumoração no tecido subcutâneo da
face. No exame radiológico de tórax, o paciente não encontrava nenhuma alteração pulmonar sugestiva de metástase.
Na variedade mais comum, o achado clínico do osteossarcoma é a presença de osteoblastos fusiformes que, nos
estudos histológicos, são visualizados como células triangulares ou fusiformes curtas com núcleos ovóides e distendidos,
habitualmente bastante compactadas [6]. No exame histopatológico do paciente do relato, observou-se massa neoplásica
constituída por tecido fibro-ósseo bem diferenciado, contudo demonstrando características de células de malignidade, o quê
permitiu concluir o diagnóstico de osteossarcoma justacortical.
O prognóstico para o OSEE em cão é pobre, tendo um prognóstico médio de sobrevida em torno de dois meses
[1], sendo portanto desfavorável, resultante do comportamento biológico, extremamente agressivo dessa neoplasia [10]. No
entanto o paciente deste relato apresenta boa condição clínica, com ausência de recidivas e metástases, após três meses
da exérese cirúrgica do tumor.
No momento da intervenção cirúrgica, é recomendado obter margem de segurança ao realizar a exérese do
tumor [4]. Neste caso, por se tratar de um osteossaroma extra-equelético na região facial, como também o tamanho do nódulo
que ocupava a região da face, isso não foi possível.
Existe portanto, a possibilidade de tratamento quimioterápico para possibilitar uma sobrevida maior ao animal.
Neste paciente, a quimioterapia ainda não foi realizada por motivos econômicos do proprietário. Dentre os protocolos
quimioterápicos recomendados temos: Cisplatina e doxorrubicina; carboplatina; carboplatina e doxorrubicina; loboplatina [9].
CONCLUSÃO
Considerando o estudo bibliográfico, concluiu-se que osteossarcoma em tecido subcutâneo extra-esquelético é
uma enfermidade rara no cão.
Neste caso clínico, a boa avaliação clínica e o auxílio de exames complementares de diagnóstico, tais como o
radiológico e o histopatológico, nos ajudou a tratar o animal, embora a massa esteja localizada numa região de acesso
cirúrgico complicado, sem portanto, obter margens de segurança devido a grande extensão do tumor.
É sabido também que a procura precoce por tratamento aumenta a expectativa de sobrevida do paciente com
este tipo de tumoração, além da associação da cirurgia com a quimioterapia, quando houver possibilidade e indicação.
REFERÊNCIAS
1 Araújo A.C.P., Gaiga L.H., Seitz A.L., Dreimeier D. 2006. Osteossarcoma extra-esquelético primário testicular em cão criptorquida. Acta
Scientiae Veterinariae. 34(2): 197-200.
2 Bane B.L., Evans H.L., Ro J.Y. 1990. Extraskeletal osteosarcoma. A clinicopathology review of 26 cases. Cancer (New York, EUA). 66: 62-70.
3 Costa F.S., Tostes R.A., Farias M.R., Sampaio R.L., Perez J.A. 2001. Metástase cutânea de osteossarcoma em um cão - relato de caso.
Brazilian Journal Veterinary Research Animal and Science. 38: 240-242.
Dahroug M.A.A., Freitas S.H., Carmona C.M., Silva M.A. & Fernandes C.G.N. 2007. Osteossarcoma extra esquelético no tecido
subcutâneo facial em cão. Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1329-s1331.
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8 Lima M.A., Rivas L.G., Grecco M.A.S. & Drumond J.M.N. 1998. Osteossarcoma extra-esquelético primário da região frontal. Revista da
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9 Rodaski S. De Nardi, A. B. 2006. Quimioterapia Antineoplásica em cães e gatos. Curitiba: Bio Editora, pp.201-207.
10 Silveira L.M.G., Cunha F.M., Biasi C., Silva P.T.D., Kolber M., Ferrigno C.R.A . 2006. Osteossarcoma estra-esquelético no tecido subcutâneo
de um cão: Relato de caso. Clínica Veterinária. 64: 89-90.
11 Stimson E.L. 2000. Extraskeletal osteosarcoma in the duodenum of a cat. Journal of the American Animal Hospital Association. 36: 332-336.
www.ufrgs.br/favet/revista
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Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 4): s1333-s1334, 2007.
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ISSN 1679-9216 (Online)
Disgerminoma unilateral em cadela
Unilateral dysgerminoma in female dog
Ana Cláudia Conte Dune 1 & Gervásio Henrique Bechara 2
1Aluna da Pós-graduação em Patologia Animal do Programa de Medicina Veterinária da FCAVJ/UNESP.
2Prof. Dr. do Departamento de Patologia Animal da FCAVJ/UNESP.
ABSTRACT
This work reports the case of a nine-year-old Rottweiller female dog that presented prolonged oestrus, vomiting and progressive
emaciation. An enlarged mass of firm consistency in the hypogastric area was noticed through abdominal palpation. Ultrasonographic
examination showed a structure of irregular and heterogeneous contours, with solid portions and cavities with anechoic content. Radio-
graphic examination of the thorax showed no metastasis. After exploratory lapatoromy has taking ovariosalpingohysterectomy fragments
of the mass were sent for histopathological analysis. Cells large polyhedral in nests or cords divided into compartments by thin stranous of
connective tissue with large centrally placed nuclei and mitotic figures. Was diagnosed rare ovarian tumor, dysgerminoma.
Key words: ovary, tumor, female dog.
INTRODUÇÃO
O disgerminoma é uma neoplasia ovariana maligna. Morfologicamente assemelha-se ao seminoma testicular,
porém este tumor de ovário é muito raro em animais. Em humanos representa apenas 2% das neoplasias deste órgão [1,2].
A ocorrência do disgerminoma é mais freqüente em pacientes com disgenesias gonadais, incluindo o pseudo-
hermafroditismo. Normalmente metade dos casos apresentam sintomas clínicos endócrinos e em alguns casos, causa
elevação da gonadotrofina coriônica (HCG) [3,4].
A histogênese deste tumor não é bem definida, há evidências de se tratar de um seminoma de células germinativas
masculinas em um ovário bissexual[2-4].
Clinicamente as cadelas podem apresentar cios irregulares, febre, piometra, descarga vaginal, vômito e diarréia [1].
Macroscopicamente este tumor apresenta as seguintes características: massa macia, ovóide, de 6 a 15 cm de
diâmetro maior, de coloração acinzentada a marrom amarelado [1,2].
Histologicamente o disgerminoma é composto por células poliédricas dispostas em lençóis ou cordões entremeadas
por delicados septos de tecido conjuntivo. Os núcleos das céluas neoplásicas são grandes e centrais com nucléolos proe-
minentes. As figuras de mitose, áreas de necrose e hemorrágicas são comuns [2].
No estroma, que é escasso, se identifica uma intensa resposta inflamatória linfoplasmocitária. Também pode ser
abundante, fibroso e apresentar granulomas epitelióides. Em pequena porcentagem, apresenta marcado pleomorfismo
celular, com abundantes mitoses e menor resposta inflamatória no estroma. Estas formas se associam a um pior prognóstico;
aproximadamente 3% apresentam células sinciciais, com secreção de HCG [3,4].
RELATO DE CASO
Trata-se de um caso de uma cadela com 9 anos de idade, da raça Rottweiller, que apresentava cios irregulares
a cada 3 semanas em média (estro prolongado); tem histórico reprodutivo de 5 partos eutócicos. O proprietário também
relatou vários episódios de vômitos e emagrecimento progressivo.
No exame clínico constatou-se a presença de uma massa palpável abdominalmente em região hipogástrica. Foi
realizado um hemograma completo e verificou-se leucocitose por neutrofilia sem desvio à esquerda.
O exame ultra-sonográfico abdominal mostrou uma estrutura de contornos irregulares, heterogênea com conteúdo
anecogênico.
No exame radiográfico do tórax não foram encontradas metástases.
O animal foi encaminhado para a realização de uma laparotomia exploratória que evidenciou a presença de uma
massa ovóide com 10 cm de diâmetro maior no ovário esquerdo. Optou-se por realizar a ovariossalpingoisterectomia (OSH).
Os fragmentos desta massa foram enviados para exame histopatológico. Este revelou a presença de células
grandes poliédricas em lençóis ou cordões, separadas por finos septos de tecido conjuntivo com núcleos grandes e
centralizados, cromatina frouxa, nucléolos proeminentes. As figuras de mitose, áreas de necrose e pleomorfismo moderado
também estão presentes.
Dune A.C.C. & Bechara G.H. 2007. Disgerminoma unilateral em cadela.
Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1333-s1334.
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DISCUSSÃO
Apesar de não ter constatado, nesta cadela, disgenesia gonadal ou pseudohermafroditismo [3,4], a massa retirada
na OSH apresentava características histopatológicas compatíveis com um caso de disgerminoma [2].
A cadela apresentou sintomas clínicos endócrinos (estro prolongado) decorrentes da elevação da HCG provocada
pelo tumor [3,4]. Assim como outros sinais inespecíficos desencadeados por esta neoplasia [1].
O exame macroscópico da massa durante a laparotomia exploratória mostrou semelhanças com o descrito na
literatura [2].
CONCLUSÃO
Considerando os aspectos clínicos, a macroscopia e a microscopia da massa retirada na OSH conclui-se tratar
de um caso raro de disgerminoma.
REFERÊNCIAS
1 Cotran R.S., Kumar V. & Robbins S.L. 1992. Female Genital Tract In: Pathologic Basis of Disease 5.ed WB Sauders Company pp.1073-1074.
2 Moulton J.E. 1978. Female Genital Tract In: Tumors in Domestic Animals 2.ed University of California Press pp. 336.
3 Roura L.C. 2004. Atlas de Imagens de Ginecologia e Obstetrícia (SEGO) 13p. Disponível em: <http:// www.gineconeus.org/atlas/ovario/
histologia/ovariohist_10.htm>. Acessado em 02/2007.
4 Stannard A.A. 2005. Ovaryan tumors in animals. 1: 5-10. Disponível em: <http://www.med.unne.edu.ar/pathology/rev6/dysgerminoma_col.htm>.
www.ufrgs.br/favet/revista
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Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 4): s1335-s1337, 2007.
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Mastocitoma faríngeo em um cão
Pharynx mastocytoma in a dog
Fabiano Zanini Salbego 2, Alceu Gaspar Raiser 1, Alexandre Mazzanti 1, Charles Pelizzari 2,
Rafael Festugatto 2, Diego Vilibaldo Beckmann 2, Soraia Figueiredo de Souza 2, Fabíola Dalmolin,
Marina Mori da Cunha 2, Rosmarini Passos dos Santos 3, Lourenço Sausen 3 & Desidere Pereira 3
1Professor – DCPA – UFSM. 2Pós-Graduando – PPGMV – UFSM. 3Graduando Medicina Veterinária – UFSM.
ABSTRACT
Mastocytomas are neoplasm proliferations of the mastocyte, presents in the skin or in the mucous membranes. These tumors
represent about 7 to 20% of thecutaneous neoplasms in dogs, that could happen in any age, being more common in adult animals. Masto-
cytomas occurrence is related in several parts of the body of dogs, evolving the skin or the mucous membranes, however mastocytomas
occurrence in the pharynx area of the dog, it is not commonly observed. The definitive diagnosis is accomplished by the histophatologic
exam and the histologic classification of the tumor it is used to guide the therapy and the prognostic. Although there are several associated
conducts for the neoplasm treatment, the surgical treatment is the election technique to treat these tumors. This report aimed at describing
a case of degree III mastocytoma, located in the pharynx area of a dog and the results obtained in front the diagnostic and therapeutic
approaches to the case.
Key words: mastocytoma, dog, neoplasm, pharynx.
INTRODUÇÃO
A principal função dos mastócitos é produzir e armazenar potentes mediadores químicos do processo inflamatório
[3]. Estas células possuem importância comprovada nas doenças de hipersenssibilidade. Os mastocitomas são proliferações
de carcterísticas neoplásicas dos mastócitos presentes na pele ou nas mucosas [4] e representam de 7 a 20 % das neoplasias
cutâneas do cão [1]. Estes tumores podem ocorrer em qualquer idade, porém são mais comumente encontrados aos 8 anos,
sem predisposição para um dos sexos [2].
Estes tumores podem desenvolver-se em quase qualquer localização, porém são encontrados mais comumente
na pele e tecido subcutâneo [2], sendo que, a maioria dos mastocitomas são observados como massas solitárias na pele do
tronco e da região perineal (50%), seguidos das extremidades (40%) e da região da cabeça e pescoço (10%) [1].
Segundo a literatura [5], 6% de todos os tipos de tumores são mastocitomas, enquanto que aproximadamente
50% dos mastocitomas no cão são malignos [1], mas como a diferenciação histológica entre os tipos maligno e benigno
freqüentemente é difícil, deve-se, considerar todos os mastocitomas como sendo potencialmente malignos.
Os locais mais comuns de ocorrência de metástases no cão são o baço, fígado e os linfonodos regionais, podendo
ocorrer envolvimento da medula óssea, sendo incomum as metástases pulmonares [1]. Alguns mastocitomas permanecem
contidos estritamente na pele, porém outros se apresentam infiltrativos, atingindo grandes profundidades, podendo atingir
os lifonodos regionais [4].
Os sinais clínicos são dependentes do tamanho do tumor, de sua localização e das complicações sistêmicas
secundárias. Os animais podem apresentar vômito, anorexia, diarréia e melena, sendo esses dois últimos sinais explicados
pelas úlceras gastroduodenais encontradas em 83% dos cães com mastocitomas [2]. O diagnóstico definitivo é obtido
através do exame histopatológico [6].
É importante que após o diagnóstico, seja feita a avaliação da terapia profilática para as ulceras gastroduodenais
[7] e se realize a classificação do mastocitoma, pois o resultado da classificação afeta o prognóstico e as decisões terapêu-
ticas [1].
O tratamento deve considerar uma série de fatores, entre eles a idade, a raça, o estado geral, o tamanho do
paciente, o local de ocorrência, a classificação do tumor, a disponibilidade de equipamentos e a motivação do proprietário
[4]. A terapia pode incluir uma mescla de procedimentos clínicos e cirúrgicos, como a excisão cirúrgica, radioterapia,
quimioterapia, imunoterapia, criocirurgia e eletrocirurgia, ou ainda a combinação entre os diferentes meios terapêuticos,
que geralmenteé a mais utilizada. A excisão cirúrgica abrangente constitui o tratamento de escolha para os mastocitomas
no cão [2]. O prognóstico após uma extirpação cirúrgica completa varia grandemente em função da classificação do tumor.
Este relato tem o objetivo de chamar a atenção para a localização de um mastocitoma em área não comum de
prevalência.
Salbego F.Z., Raiser A.G., Mazzanti A., Pelizzari C., Festugatto R., Beckmann D.V., Souza S.F., Dalmolin F., Cunha M.M., Santos
R.P., Sausen L. & Pereira D. 2007. Mastocitoma faríngeo em um cão. Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1335-s1337.
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RELATO DO CASO
Um cão macho, sem raça definida, com 11 anos de idade e pesando 10 kg, foi trazido ao hospital veterinário por
apresetnar disfagia e dificuldade respiratória há cerca de duas semanas. Ao exame clínico constatou-se aumento de volume
na região da faringe, próximo à região cervical ventral junto ao linfonodo retrofaríngeo. O paciente apresentava sialorréia e
dor discreta a moderada ao exame de palpação. Pela a inspeção da cavidade oral com auxílio de um laringoscópio, observou-
se o aumento de volume que se projetava na mucosa da orofaringe, em direção à luz da faringe, porém sem ulceração ou
solução de continuidade. O tecido tinha aspecto firme e apresentava superfície regular. O paciente urinava e defecava
normalmente, embora as fezes de consistência normal apresentassem cor levemente enegrecida.
O cão foi submetido a exame radiográfico da região retrofaringea e torácica além de biópsia aspirativa da massa
tecidual. O exame radiográfico não revelou indícios de metástases pulmonares ou de alterações ósseas na região do tumor,
já o aspirado identificou a presença de inúmeros mastócidos, sugerindo a ocorrência de mastocitoma.
Baseado neste achados o decisão frente à terapia, foi a opção pela excisão cirúrgica. Foi então realizada coleta
de sangue para exames laboratoriais de rotina e o animal foi medicado preventivamente com antagonistas H2 e anti-
histamínicos. Após preparação adequada com banho e tricotomia ampla da região cervical ventral o animal foi submetido à
antissepsia com álcool-iodo-álcool. Previamente ao procediemtno, cerca de 30 minutos antes, o paciente recebeu ampicilina
sódica (20mg/kg) por via intravenosa. A pré medicação foi realizada com maleato de acepromazina (0,05 mg/kg) associado
a citrato de fentanila (2 ìg/kg) por via intramuscular. A inducão anestésica foi realizada com propofol (5 mg/kg) por via
intravenosa e a manutenção com halotano vaporizado em oxigênio puro. A analgesia transoperatória foi assegurada com
suplementação de citrato de fentanila por via intravenosa.
Com o paciente em decúbito dorsal, a incisão foi feita de forma paralela ao eixo longitudinal do pescoço sobre a
região da faringe e levemente ventral a ela, para a realização de traqueostomia temporária. Com a traqueostomia realizada,
utilizou-se a mesma incisão para a exploração, dissecando-se em profundidade para abordar o tecido tumoral. Uma vez
localizado, o tecido foi cuidadosamente dissecado na tentativa de isolamento, porém como se encontrava bastante friável,
rompeu durante a manipulação. O linfonodo retrofaingico medial foi juntamente removido por apresentar-se com aspecto
alterado. O tecido foi integralmente removido, com margem de segurança, a área operatória exaustivamente lavada e
efetuada a hemostasia local. Os planos anatômicos abordados foram reduzidos com poliglactina 910 no 2-0 em padrão de
sutura isolado simples e a sutura da pele realizada com mononailon no 4-0 em mesmo padrão de sutura. A sutura da traquéia
foi realizada com fio de mononailon no 3-0 com pontos isolados simples unindo os anéis traqueais e sutura contínua na
adventícia. Ao final do procedimento, realizou-se faringostomia para a alimentação do paciente.
A analgesia pós-operatória foi assegurada pela administração de sulfato de morfina (0,3mg/kg) durante as
primeiras 24 horas, associada ao uso de flunixin meglumine (1,1 mg/kg) por um período de três dias. O paciente apresentou
traços de sangue vivo nas fezes que se resolveu até o final do 3o dia. Durante o pós-operatório imediato a condição respiratória
apresentou melhora significativa, sendo que a deglutição apresentou-se normalizada aos 10 dias de pós-operatório, com a
remoção da sonda de faringostomia e instituição de dieta pastosa per os. A dieta sólida foi administrada a partir do 15o dia
de pós-operatório. Após o exame histopatológio o tumor foi classificado como um mastocitoma de grau III.
DISCUSSÃO
Os sinais clínicos apresentados pelo paciente aqui relatado eram semelhantes àqueles descritos na literatura. A
coloração escurecida das fezes antes da cirurgia eram provavelmente decorrentes de lesões oriundas dos distúrbios
gastrintestinais, que afetam cerca de 83% dos cães portadores dessa neoplasia [2].
Embora várias alternativas para a terapia antineoplásica estivessem disponíveis, a opção pela ressecção cirúr-
gica foi adotada porque, devido a dados de literatura, a proporção entre mastocitomas benignos e malignos no cão é de
50%, porém a diferenciação histopatológica entre ambos é difícil, e dessa forma é sugerido que se consideram todos os
mastocitomas como potencialmente malignos [1]. Além disso, a terapia cirúrgica é considerada por alguns autores [2] como
o tratamento de escolha para os mastocitomas no cão.
A realização de biópsia por aspiração previamente à cirurgia, permitiu a realização de medidas terapêuticas
profiláticas para evitar a formação de úlceras gastrintestinais [7]. A eficácia da terapia profilática foi constatada no período
pós-operatório, em que os sinais de lesão gastrintestinal desapareceram em 72 horas. O diagnóstico definitivo foi obtido por
exame histopatológico [6] que classificou a neoplasia como mastocitoma de grau III. O envolvimento do linfonodo retrofaringico
medial confirma o poder infiltrativo destes tumores [4] e demonstra que um dos locais mais comuns para ocorrência de
metástases são os linfonodos regionais [1]. Devido ao alto índice de morbidade desse tipo de tumoração é recomendável a
monitorização por inspeções periódicas no pós-operatório.
CONCLUSÃO
O procedimento terapêutico empregado demonstrou-se eficiente na resolução do problema em questão permitindo
o retorno do paciente as suas atividades normais de forma satisfatória. O diagnóstico prévio a terapia demonstrou-se
fundamental para a correta conduta profilática das lesões gastrintestinais e o diagnóstico definitivo indispensável para o
prognóstico futuro do animal.
Salbego F.Z., Raiser A.G., Mazzanti A., Pelizzari C., Festugatto R., Beckmann D.V., Souza S.F., Dalmolin F., Cunha M.M., Santos
R.P., Sausen L. & Pereira D. 2007. Mastocitoma faríngeo em um cão. Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1335-s1337.
s1337
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www.ufrgs.br/favet/revista
Supl 4
s1339
Neuropatia paraneotlásica associada ao mastocitoma canino
Paraneoplastic neuropathy associated with canine mast cell tumor
Sabrina Marin Rodigheri 1, Carlos Roberto Daleck 2, Sabryna Gouveia Calazans 3,
Simone Crestoni Fernandes3, Jane Regina França Cesar 3, Andrigo Barboza De Nardi 4,
João Humberto Teotônio de Castro 3, Márcio César Vasconcelos Silva 3,
Thiago Demarchi Munhoz 5 & Luiz Gustavo Gosuen Gonçalves Dias 3
1Pós-graduando do Programa de Cirurgia Veterinária, FCAV – UNESP / Jaboticabal. 2Professor do Departamento
de Clínica e Cirurgia Veterinária, FCAV – UNESP / Jaboticabal. 3Pós-graduando do Programa de Cirurgia Veterinária,
FCAV – UNESP / Jaboticabal. 4Professor do curso de mestrado em Cirurgia e Anestesiologia Veterinária - UNIFRAN.
5Pós-graduando do Programa de Medicina Veterinária, FCAV – UNESP / Jaboticabal.
smrodigheri@yahoo.com.br
ABSTRACT
Paraneoplastic syndromes comprise a diverse group of clinical anomalies associated with neoplasias that occur in a location
distant from the primary tumor or of your metastasis. Paraneoplastic neuropathy are rare disturbs in dogs, but represent significant morbidity
and are useful as diagnostic and prognostic indicators. This present study work report the occurrence of two cases report of paraneoplastic
neuropathy in dogs with mast cell tumor, considering the clinical signs, diagnosis and treatment used.
Key words: oncology, paraneoplastic syndromes, nervous system, dog.
INTRODUÇÃO
As síndromes paraneoplásicas representam um grupo heterogêneo de alterações clínicas associadas ao câncer
que decorrem de ações não invasivas do neoplasma [1,7]. A incidência destas alterações ainda é desconhecida na medicina
veterinária, mas aproximadamente 75% dos pacientes humanos com câncer apresentam algum distúrbio paraneoplásico [7].
Sabe-se que os neoplasmas podem induzir o desenvolvimento de lesões no sistema nervoso mediante efeitos
indiretos ou paraneoplásicos, ou seja, na ausência de compressão tecidual, infiltração local ou metastática. Nestas condi-
ções, não são detectadas células tumorais nas diferentes estruturas neuronais, incluindo cérebro, medula espinhal, nervos
cranianos, nervos periféricos ou junções neuromusculares [3]. Estas complicações neurológicas podem acompanhar o
desenvolvimento tumoral ou anteceder a detecção clínica do neoplasma [5].
As neuropatias paraneoplásicas (NP) podem ser classificadas como centrais ou periféricas e clínicas ou subclínicas.
Estudos demonstram que as neuropatias periféricas subclínicas acometem de 17 a 50% dos pacientes humanos com
câncer, mas apenas 2 a 5% manifestam a doença clinicamente [3]. A prevalência das NP em animais é desconhecida,
existindo apenas relatos esporádicos sobre estas alterações. Autores demonstraram a presença de lesões em nervos
periféricos de 59% dos cães com carcinoma broncogênico, 59% com adenocarcinoma mamário, 48% com melanoma, 47%
com insulinoma, 39% com osteossarcoma e 32% com mastocitoma [2].
RELATO DE CASO
Foram encaminhados ao Serviço de Oncologia do Hospital Veterinário “Governador Laudo Natel”, FCAV-UNESP/
Jaboticabal, dois animais da espécie canina manifestando sinais neurológicos associados ao crescimento de nódulos
cutâneos.
O primeiro paciente, um macho, doberman pinscher, nove anos de idade, apresentava tetraparesia não relacio-
nada a trauma, com evolução de 24 horas. O proprietário referiu que há duas semanas o animal demonstrou fraqueza em
membros pélvicos, a qual evoluiu gradualmente a tetraparesia. Além disso, foi relatada a presença de um nódulo cutâneo
localizado na região inguinal com crescimento acelerado e evolução de oito dias. Ao exame físico foi constatado que o tumor
apresentava 7cm de diâmetro, consistência firme, abrangência dermosubcutânea e intenso edema peri-tumoral. O exame
neurológico revelou nocicepção profunda preservada, hiporreflexia e hipotonia muscular em membros torácicos e pélvicos.
Não foram detectadas alterações em nervos cranianos.
O segundo paciente, uma fêmea, sem raça definida, 12 anos de idade, apresentava apatia, hiporexia, incoor-
denação e inclinação da cabeça, com evolução de 24 horas. O proprietário referiu a presença de um nódulo cutâneo
localizado em lateral do tórax com dois meses de evolução. Ao exame físico foi constatado que o tumor apresentava oito
centímetros de diâmetro, abrangência dermosubcutânea, consistência firme e intenso edema peri-tumoral. O exame neuro-
lógico revelou síndrome vestibular periférica caracterizada por “head tilt” e nistagmo horizontal com fase rápida para a
esquerda. Não foram detectadas alterações em nervos cranianos e reflexos espinhais. A avaliação clínica dos condutos
auditivos não demonstrou alterações.
Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 4): s1339-s1341, 2007.
ISSN 1678-0345 (Print)
ISSN 1679-9216 (Online)
Rodigheri S.M., Daleck C.R., Calazans S.G., Fernandes S.C., Cesar J.R.F., De Nardi A.B., Castro J.H.T., Silva M.C.V., Munhoz T.D.
& Dias L.G.G.G. 2007. Neuropatia paraneotlásica associada ao mastocitoma... Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1339-s1341.
s1340
Objetivando a avaliação clínica completa dos pacientes e a exclusão das principais causas de neuropatia em
cães, procedeu-se à realização de alguns exames laboratoriais, incluindo hemograma, urinálise, glicemia, alanino amino-
transferase, creatinina e cálcio ionizado. Foram detectadas alterações apenas no hemograma do segundo paciente, incluindo
anemia normocítica normocrômica regenerativa (Ht=12%) e leucocitose por neutrofilia (Lt=16.000). Nos dois pacientes, a
avaliação citológica do tumor conferiu o diagnóstico de mastocitoma. A avaliação radiográfica do tórax não revelou altera-
ções compatíveis com metástase pulmonar.
O primeiro paciente foi submetido a avaliação radiográfica da coluna tóraco-lombar, em incidências látero-lateral
e ventro-dorsal, porém não foram visibilizadas alterações. A análise do líquor deste paciente não revelou alterações signi-
ficativas. O segundo paciente foi submetido a transfusão sangüínea e administração de ranitidina (2mg/kg, via subcutânea)
e difenidramina (1mg/kg, via intra-muscular). No dia seguinte ao atendimento, foi realizada análise do líquor, a qual também
não demonstrou alterações significativas.
Devido a suspeita de NP e impossibilidade de ressecção cirúrgica imediata de ambos neoplasmas foi instituída
quimioterapia antineoplásica pré-operatória. O protocolo quimioterápico incluiu a administração de prednisona (1mg/kg, a
cada 24 horas, via oral) e sulfato de vimblastina (2mg/m2, a cada 7 dias, via intra-venosa), e foi associado a terapia com
ranitidina (2mg/kg, a cada 12 horas, via oral) e difenidramina (4mg/kg, a cada 24 horas, via oral).
A resposta terapêutica foi semelhante nos dois pacientes, ocorrendo resolução completa do quadro neurológico
poucos dias após o início da quimioterapia. No sétimo dia de tratamento, ambos proprietários referiram ausência de altera-
ções sistêmicas e redução significativa do diâmetro tumoral. Após a terceira sessão de quimioterapia foi realizada a exérese
cirúrgica dos neoplasmas. A avaliação histopatológica confirmou o diagnóstico de mastocitoma grau II em ambos pacientes.
O primeiro paciente encontrava-se em boas condições clínicas 60 dias após a cirurgia, isento de alterações neurológicas. O
segundo paciente apresentou recidiva neoplásica irresponsiva à quimioterapia 90 dias após a cirurgia, evoluindo a óbito.
Durante o seu período de sobrevida não apresentou sinais de comprometimento neurológico.
DISCUSSÃO
Os distúrbios paraneoplásicos do sistema nervoso têm se tornado freqüentes em seres humanos, porém em
animais a incidência destas alterações ainda é desconhecida [3,7,8].
Embora a patogênese das NP não tenha sido elucidada, acredita-se que a origem das lesões neurológicas seja
auto-imune, não havendo relação com distúrbios metabólicos, nutricionais, traumáticos, infecciosos ou tóxicos [3,5,8]. Estudos
sorológicos em seres humanos demonstraram a existência de anticorpos antineurais em pacientes com NP. Pesquisas
recentes revelam que alguns anticorpos podem servir como marcadores para NP específicas, bem como para determinados
tipos tumorais [8]. Em animais, ainda não existem estudos relacionados a pesquisa destes anticorpos, desta forma, não foi
realizadaa mensuração dos anticorpos antineurais nos pacientes referidos.
Além da natureza auto-imune, acredita-se na participação de citocinas pró-inflamatórias e na influência das
vasculopatias na patogênese das NP [5]. Sabe-se que os grânulos dos mastócitos contém uma série de compostos biologi-
camente ativos, incluindo histamina, heparina, sulfato de condroitina, fator ativador de plaquetas, fator de necrose tumoral,
prostaglandinas, leucotrienos, hidrolases ácidas, catepsinas e carboxipeptidades. Desta forma, a degranulação dos mastócitos
neoplásicos induz uma série de manifestações sistêmicas, incluindo ulceração gástrica, inflamação peri-tumoral, alterações
cardiopulmonares, tempo de sangramento prolongado e atraso na cicatrização [4]. A ocorrência destes dois casos de NP em
cães com mastocitoma alerta para a necessidade de pesquisas relacionando a degranulação mastocitária com distúrbios
neurológicos.
Conforme observado nos referidos casos, as NP podem ser manifestadas como lesões focais ou difusas. Os
principais sinais clínicos de NP periférica referidos em literatura são fraqueza, intolerância a exercícios, hipotonia muscular,
paresia ou paralisia de membros torácicos e/ou pélvicos, atrofia muscular neurogênica e reflexos espinhais reduzidos ou
ausentes, conforme observado no primeiro paciente [2].
O diagnóstico definitivo das NP é extremamente difícil, constituindo-se do histórico do paciente (exclusão de
trauma, intoxicação ou sinais clínicos de doença sistêmica), exame físico e neurológico, eletroneuromiografia e exclusão de
outras enfermidades que possam ocasionar neuropatias, conforme foi realizado nos referidos casos [6]. Um grande número
de etiologias podem ser atribuídas às diferentes neuropatias em cães, incluindo distúrbios metabólicos, nutricionais, infec-
ciosos, tóxicos, traumáticos, degenerativos e idiopáticos [6]. Em ambos pacientes referidos não foram detectadas alterações
clínicas e laboratoriais compatíveis com doença sistêmica concomitante à neoplasia. Além disso, a excelente recuperação
dos pacientes após a instituição da quimioterapia antineoplásica, com ausência de recidiva dos sinais neurológicos após a
exérese tumoral, sugerem a ocorrência de NP. Em seres humanos, o tratamento das NP é baseado no tratamento da neoplasia
primária ou mestastática, imunossupressão e/ou administração de glicocorticóides, porém, resultados satisfatórios são
observados apenas na ausência de desmielinização ou degeneração axonal severas [5,6].
CONCLUSÃO
As neoplasias malignas podem induzir síndromes neurológicas paraneoplásicas clínicas ou subclínicas, especial-
mente envolvendo o sistema nervoso periférico. Desta forma, é importante incluir as NP no diagnóstico diferencial de cães
idosos com distúrbios neurológicos, bem como, incentivar pesquisas relacionadas a patogenia, métodos de diagnóstico e
tratamento destas alterações em animais.
Rodigheri S.M., Daleck C.R., Calazans S.G., Fernandes S.C., Cesar J.R.F., De Nardi A.B., Castro J.H.T., Silva M.C.V., Munhoz T.D.
& Dias L.G.G.G. 2007. Neuropatia paraneotlásica associada ao mastocitoma... Acta Scientiae Veterinariae. 35: s1339-s1341.
s1341
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Supl 4
s1343
Acta Scientiae Veterinariae. 35(Supl 4): s1343-s1344, 2007.
ISSN 1678-0345 (Print)
ISSN 1679-9216 (Online)
Aspectos epidemiológicos do TVT em cães atendidos no Hospital
de Clínicas Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Epidemiologic aspects of TVT in dogs attended
in the Veterinary Hospital of Rio Grande do Sul
Ruben Lundgren Cavalcanti 1, Cristine M. De Carli 2, Rosemari Teresinha de Oliveira 2,
Luciana Oliveira de Oliveira 2 & Cristiano Gomes 2,3
1Médico Veterinário Autônomo. 2Serviço de Oncologia Veterinária do HCV-UFRGS.
3Mestrando do Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias/Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
ABSTRACT
Transmissible venereal tumor is a contagious venereal tumor that affect dogs. It commonly occurs in the external genitalia and
is usually transmitted at coitus. The odd of this paper is evaluate the data about the transmissible venereal tumor in the local canine community.
We analyzed 89 dogs attended in the Veterinary Hospital of the University of Rio Grande do Sul between January 2002 and july 2005 with
diagnostic of TVT. We evaluated the breed, sex, age, therapeutic modality, chemotherapy application, localization, direct contact with
roaming dogs. 44 dogs were analyzed about the therapy utilized, tumor total remission and contagious form. The most of animals were
female. The mean age was 5 years-old and all animals were sexually active. This disease was more frequently in mixed breeds with 78,6%
of the cases. 80% came from the high density areas of homeless dogs. All of the 44 animals analyzed were treated with vincristine
chemotherapy. 36 dogs (80%) were completely cured with 1 to 12 application of vincristine and 9 dogs were not cured. 41 animals lived in
areas with high prevalence of homeless dogs and had direct contact with them.
Key words: Oncology, transmissible venereal tumor, chemotherapy.
INTRODUÇÃO
O tumor venéreo transmissível (TVT) é uma neoplasia reticuloendotelial benigna comum em cães e que geralmente
tem crescimento local venéreo, afetando a genitália externa e interna e áreas extra-genitais [1,4-6]. Atinge cães de diferentes
idades, embora acometa principalmente animais sexualmente maduros entre 4-5 anos [6]. Ocorre em diferentes raças,
fazendo parte do grupo de risco os cães de guarda, assim como os que habitam áreas de alta densidade e com alta prevalência
de animais abandonados, predominando nestes casos, cães sem raça definida – SRD e abandonados [6]. O tumor é
transmitido por implantação celular durante o coito ou por transplante mecânico através de lambida ou outra interação entre
o cão portador e o cão suscetível, sendo que as fêmeas são mais suscetíveis ao contágio que os machos [2,5,6]. Para que o
tumor se desenvolva é necessário que a pele e a mucosa apresentem escoriações ou solução de continuidade. A deposição
de células tumorais sobre a pele e a mucosa íntegras não permite o crescimento do TVT [5]. Com relação ao diagnóstico, os
proprietários mais atentos procuram atendimento médico veterinário devido à presença de secreção sanguinolenta vaginal
ou peniana, tumefação genital, odor ou aparecimento de massas neoplásicas visíveis, além de hematúria. Com o desenvol-
vimento do TVT, observa-se tecido nodular, hemorrágico e friável, pouco demarcado, sendo que, freqüentemente, a lesão
pode apresentar ulcerações. Esta neoplasia pode apresentar aspecto de couve-flor ou de placas [3,5,6]. O diagnóstico do TVT
é baseado na anamnese e nos exames macro e microscópico da lesão, sendo a confirmação microscópica

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