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Capitulo Digital - Julgamento e Tomada de Decisao

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Programa de
Habilidades e Competências
Julgamento e tomada de decisão
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A primeira impressão que temos é a de que a segunda seta é maior que a primeira. No 
entanto, estamos diante de um caso de ilusão de ótica: as duas setas são idênticas (se você 
duvida, pode medir!). O que nos confunde é a imagem dos indicativos das setas, se fechado ou 
aberto. 
Quando observamos a imagem rapidamente, não reparamos nessa sutileza. Isso ocorre 
porque, inicialmente, nosso cérebro processa as informações da imagem de maneira automática 
e cria uma coerência para a interpretação da fi gura. Num segundo momento, com mais atenção 
e com a ajuda da régua, tomamos consciência da ilusão de ótica, o que só é possível porque o 
cérebro operou no modo mais elaborado.
Hoje, por causa de uma proposta teórica dos psicólogos Keith Stanovich e Richard 
West, sabemos que existem dois sistemas diferentes de processamento cerebral: o sistema 
automático e o sistema elaborado.
O sistema automático é intuitivo, implícito, rápido e emocional. Ele não exige esforço 
mental.
As conclusões a que esse sistema chega aparecem naturalmente, pois não são voluntárias 
e não dependem de nossa vontade. A maior parte das decisões que tomamos se baseia no 
sistema automático. Já o sistema elaborado é consciente, trabalhoso, explícito e lógico. Ele exige 
esforço mental e concentração. As conclusões que esse sistema produz partem de operações 
mentais voluntárias, que, por esse motivo, são mais complexas e elaboradas.
Veja esta imagem:
Sistema de Processamento Cerebral – Elaborado x Automático
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Diante de um problema que pressupõe uma tomada de decisão, o sistema automático nos 
oferece respostas rápidas e intuitivas, enquanto o sistema elaborado gera várias possibilidades, 
que podem, posteriormente, ser confi rmadas, corrigidas ou negadas.
Em ações simples do cotidiano, como reconhecer que objeto está mais próximo de você 
ou desviar de uma bola lançada em sua direção, não há nenhuma necessidade de recorrer ao 
sistema elaborado. O sistema automático é bastante efi ciente nessas situações. No entanto, 
quando estamos aprendendo a fazer algo, como a praticar um novo esporte, precisamos recorrer 
ao sistema elaborado, pois os movimentos que temos que fazer ainda não estão naturalizados.
Quando uma pessoa está aprendendo a dirigir, ela precisa de toda a concentração para 
fazer os movimentos corretos com as mãos e os pés. O sistema elaborado está trabalhando 
a todo vapor. Como é praticamente impossível fazer duas tarefas simultâneas que exigem o 
processamento cerebral mais elaborado, quem está aprendendo a conduzir um veículo não 
consegue multiplicar 56 por 75 enquanto dirige. Com prática, as operações cognitivas exigidas 
por essa tarefa passam a ser processadas pelo sistema automático. Agora, é possível tentar 
fazer contas de cabeça e dirigir ao mesmo tempo, ou dirigir e falar, ou ouvir música, como 
acontece com a gente.
Os dois sistemas operam juntos, mas a maioria das nossas atitudes e decisões corriqueiras 
são tomadas pelo sistema automático. O sistema elaborado é acionado quando o sistema 
automático não consegue enxergar padrões coerentes e previamente aprendidos. Essa foi uma 
estratégia fantástica que a natureza encontrou para acelerar o processamento de informações 
que usamos para tomar decisões.
Esse modo automático de processar informações é muito útil. Entretanto, apesar de ser 
altamente efi caz, o sistema automático não é infalível e, em algumas situações, pode nos induzir 
a percepções errôneas e, portanto, levar a decisões equivocadas.
Como é impossível fi car com o sistema elaborado checando todas as informações, 
podemos treinar para tornar o sistema elaborado mais sensível quando estamos diante de 
decisões importantes. É isso o que muitos executivos aprendem em suas carreiras. 
Referências
» Prof. Dr. Celso Lopes de Souza, Programa Semente.
» O livro “Rápido e devagar”, escrito por Daniel Kahneman;
» O Ted Talk “Como fazer escolhas difíceis”, apresentado pela fi lósofa e advogada 
Ruth Chang. Disponível em: <www.ted.com/talks/ruth_chang_how_to_make_hard_
choices?language=pt-br>
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No seu dia a dia, você tem que tomar muitas decisões.
Por exemplo: pela manhã, você prefere leite quente ou frio? Nas refeições, você coloca 
feijão sobre o arroz ou arroz sobre o feijão? Hoje, você decidiu usar uma camisa estampada 
ou lisa? Ontem, você escolheu ou não um tipo de música para ouvir? Em breve, você irá ou não 
alterar a foto do seu perfi l em alguma rede social?
A maioria dessas escolhas não envolve grandes riscos e não acarreta consequências que 
possam alterar o percurso de sua vida ou comprometer suas relações pessoais.
Mas existem decisões que podem modifi car signifi cativamente seu comportamento 
ou impactar suas relações pessoais de forma desastrosa. Por exemplo: não usar o cinto de 
segurança é uma decisão que pode provocar de uma simples multa de trânsito à perda da vida. 
Postar certo comentário preconceituoso a respeito de uma pessoa (conhecida ou não) num 
aplicativo de troca de mensagens pelo celular pode provocar sérios danos à imagem dela e a 
você mesmo.
Avaliar o impacto de uma decisão, observar os possíveis riscos gerados por ela e refl etir 
sobre os ganhos e perdas de nossas ações são procedimentos que devem regular nosso 
comportamento cotidiano, pois são partes integrantes de um domínio fundamental de nossa 
vida: a habilidade em tomar decisões responsáveis.
Analisando nossos comportamentos habituais, pode-se dizer que a maioria dos 
julgamentos que fazemos e das ações que realizamos é apropriada. Quando somos 
questionados sobre as razões que motivaram tais julgamentos ou ações, acreditamos que 
tomamos as decisões racionalmente e que raramente somos infl uenciados pela forma com que 
um problema se apresenta.
No entanto recentes pesquisas realizadas no campo da neurociência revelam que somos 
muito menos racionais do que acreditamos ser e que nossas decisões estão sob constante 
infl uência de fatores externos e internos, que são conhecidos como vieses.
Um pouco antes, mostramos, de maneira simplifi cada, que nossas ações podem ser 
regidas por dois sistemas cerebrais: o sistema automático, que é intuitivo, impulsivo e rápido, e o 
sistema elaborado, que é racional, consciente e lento.
Atualmente, o que se sabe é que os pensamentos que nos conduzem a julgamentos e ações 
estão constantemente contaminados por dados e referências que enviesam nossas avaliações, o 
que pode nos induzir a equívocos.
Certezas Incertas e o Viés da Disponibilidade
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Um desses vieses é o viés da disponibilidade, abordado cientifi camente em um trabalho 
dos psicólogos Amos Tversky e Daniel Kahneman, de 1973, intitulado Availability: a heuristic 
for judging frequency and probability. De forma resumida, entende-se que nossos processos 
mentais que julgam a frequência e a probabilidade de certas ocorrências estão sob infl uência da 
facilidade com que certas informações vêm à mente.
Vejamos um exemplo. Quem você acha que possui, em média, a maior remuneração no 
Brasil: professores universitários ou jogadores profi ssionais de futebol?
A maior parte das pessoas não hesita em responder: são os jogadores de futebol.
Certamente, essa avaliação está sob infl uência da frequência com que tomamos 
conhecimento dos valores salariais de certos jogadores de sucesso, porque esses dados são 
mais acentuadamente divulgados na mídia do que os salários dos professores universitários.
Isso contribui para criar a falsa impressão de que, na média, jogadores de futebol são muito 
bem remunerados. Ao mesmo tempo, é um lugar-comum apontar o descaso da sociedade e dos 
governantes com relação ao ensino universitário, com destaque para os salários pouco atraentes 
dos professores.
Assim, considerando as informações que estão mais disponíveis, é razoável que uma 
pessoa pense que, no Brasil, os jogadores de futebol são mais bem remunerados do que os 
professores universitários. No entanto, cerca de 83% dosjogadores profi ssionais de futebol no 
Brasil ganham menos do que dois salários mínimos por mês e só 2% dessa categoria recebe 
mais que 20 salários mínimos mensais. Na média, o salário de professores nas universidades 
públicas é cerca de dez vezes maior que o salário médio dos jogadores de futebol.
Obter essas informações é muito importante, pois sabemos que questões salariais podem 
infl uenciar decisivamente nossas escolhas profi ssionais.
Atualmente, os neurocientistas sabem que pessoas que se deixam conduzir pelo 
sistema automático são acentuadamente mais infl uenciadas pelo viés da disponibilidade, 
comparativamente às pessoas que exercitam um maior estado de vigilância. Esse estado – que 
podemos identifi car com as ideias de prudência, de responsabilidade, de temperança, de atenção 
– é constantemente valorizado na Filosofi a e na Literatura, como forma de evitar julgamentos 
precipitados e decisões equivocadas. Homero, em uma passagem célebre da Ilíada, dizia: “Olha 
ao mesmo tempo para frente e para trás”. É uma forma de dizer, poeticamente, que devemos 
desconfi ar das avaliações impulsivas, sobretudo em questões mais relevantes para nossas vidas.
» Prof. Dr. Celso Lopes de Souza, Programa Semente.
» O Ted Talk “Dan Ariely pergunta: temos controle sobre as nossas decisões? “ Disponível 
em: <www.ted.com/talks/dan_ariely_are_we_in_control_of_our_own_decisions?language=pt-br>
» O site Lupa (https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/) é a primeira agência que faz a verifi cação 
quanto à legitimidade (fact-checking) de notícias divulgadas no Brasil. Afi nal, divulgar fatos 
também deve ser uma decisão responsável!
Referências
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De acordo com o modelo que estamos adotando para as operações que regem nossos 
processos mentais, o sistema automático é rápido, tem baixo consumo de energia, é acionado 
involuntariamente e resolve grande parte dos problemas cotidianos que não exigem grandes 
refl exões; já o sistema elaborado é lento, tem grande consumo de energia e é acionado 
voluntariamente quando operações mentais elaboradas são requeridas.
Na evolução da espécie humana, a luta pela sobrevivência impôs o desenvolvimento e a 
predominância do sistema automático. Por exemplo, diante de um predador carnívoro, tínhamos 
que reagir instantaneamente – lutar ou fugir – ou a morte prematura nos alcançaria. Nessa 
circunstância, grande parte de nossa energia era reservada para a ação muscular, com redução 
do fl uxo sanguíneo para nossas vísceras e para nosso cérebro. Portanto, nada mais natural que a 
prevalência do sistema econômico.
Além disso, esse tipo de comportamento, tendo em vista nossa percepção limitada 
do tempo, foi muito útil por permitir interagir com o ambiente em busca de satisfazer as 
necessidades fi siológicas mais básicas, como fome, sede, frio, calor, reprodução, repouso, 
excreção, sono. Essa ação em busca da satisfação imediata é, primordialmente, conduzida pelo 
sistema automático.
Mas, ao voltar nossa atenção para a sociedade moderna, notaremos que raramente iremos 
deparar com algum predador carnívoro. Para certa parcela da população, alimentos, estímulos 
sexuais e itens que nos confortam não representam mais artigos de difícil acesso. Nesse 
sentido, se deixamos o sistema automático ainda prevalecer em todas as decisões que envolvem 
recompensa a curto prazo, essa conduta pode nos levar à obesidade, ao vício, à impulsividade 
generalizada, à dependência em jogos eletrônicos etc.
É fato que nem todos os objetivos da vida são metas a longo prazo. Curtir encontros com 
amigos, deliciar-se com a comida favorita ou simplesmente não fazer nada é parte da vida e 
desfrutar desses momentos é muito importante. Entretanto, por vezes, satisfações a curto prazo 
podem gerar confl itos com a recompensa a longo prazo. O prazer imediato por um doce pode 
colocar em risco o tão sonhado sucesso de uma dieta. Todos concordam que basta um pequeno 
gole de uma bebida alcoólica, levando a uma imediata satisfação de um desejo, para arruinar a 
longa batalha de um indivíduo contra o vício. É um problema de controle de impulso.
Portanto, indivíduos que são capazes de manter seu autocontrole, a fi m de alcançar 
resultados mais duradouros e mais consistentes, colocam o sistema elaborado em ação quando 
estão em situações delicadas.
É sabido que o ser humano, quando submetido a condições de sobrecarga física ou 
psicológica, tende a deixar o sistema automático prevalecer na busca de satisfações imediatas. 
Pessoas sob pressão ou submetidas a emoções negativas também apresentam difi culdade em 
acionar o sistema elaborado, responsável pelo autocontrole e pela tomada de decisão a longo 
prazo.
Controle Emocional
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Muitas vezes, a disponibilidade das informações é infl uenciada pelas nossas lembranças, 
que podem ser ativadas em nossa mente por vários motivos. Costumamos memorizar o que é 
mais recente ou foi mais traumático.
Nosso estado emocional interfere em nossas lembranças. Pesquisas mostram que, quando 
estamos alegres, lembramo-nos mais facilmente de fatos alegres. Além disso, tendemos a 
avaliar e a julgar determinadas informações de modo mais positivo. Por outro lado, quando 
estamos deprimidos, lembranças tristes nos ocorrem com mais facilidade, e temos a tendência 
de fazer avaliações mais pessimistas.
Pesquisadores concordam que o autocontrole, embora apresente um componente genético, 
funciona como um músculo, podendo ser desenvolvido quando submetido a um treinamento 
correto. Manutenção do autoconhecimento, busca pela motivação em se autorregular, ter 
cuidado em analisar os riscos e pensar sempre nas consequências a longo prazo são regras 
essenciais para a tomada de decisões responsáveis.
Assim, para fácil memorização, utilize-se da imagem do farol de trânsito, semáforo, sinal, 
ou mesmo sinaleiro, dependendo do contexto no qual ele esteja relacionado e observe as etapas 
de parar, organizar e analisar todos os elementos necessários à tomada da decisão, em seguida, 
pense, analise e refl ita sob possíveis consequências em optar por uma decisão ou outra, e por 
fi m e o mais signifi cativo, tome sua decisão, o mais independente em relação ao estresse, ao 
preconceito, com seu controle de impulso ativo, e seu estado de vigilância em ação, lembre-se 
de que o impulso não controlado pode destruir um projeto a longo prazo, e o mais importante, 
que as habilidades de autocontrole, autodisciplina, resiliência e persistência, o que conhecemos 
como “força de vontade” estarão sendo totalmente requisitadas!
Que você possa tomar muito boas decisões!!! 
» Prof. Dr. Celso Lopes de Souza, Programa Semente.
» O Ted Talk “Três maneiras de se planejar a longo prazo”, apresentado por Ari Wallach, 
indica maneiras efi cazes de aprender a pensar e a se planejar em uma perspectiva de longo 
prazo. Disponível em: <www.ted.com/talks/ari_wallach_3_ways_to_plan_for_the_very_long_
term?language=pt-br>
» O livro “O poder do hábito”, de Charled Duhigg, explora a ciência por trás da do nascimento 
dos hábitos e estratégias efi cazes para modifi cá-los.
Referências

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