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TEMA: AFRICANOS NO BRASIL CULTURA AFRICANA CULTURA AFRICANA Todos os direitos reservados à Editora Grupo UNIASSELVI - Uma empresa do Grupo UNIASSELVI Fone/Fax: (47) 3281-9000/ 3281-9090 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011. Proibida a reprodução total ou parcial da obra de acordo com a Lei 9.610/98. Rodovia BR 470, km 71, n° 1.040, Bairro Benedito Caixa postal n° 191 - CEP: 89.130-000. lndaial-SC Fone: (0xx47) 3281-9000/3281-9090 Home-page: www.uniasselvi.com.br Cultura Africana Centro Universitário Leonardo da Vinci Conteudista Tânia Cordova Conteudista Reitor da UNIASSELVI Prof. Hermínio Kloch Pró-Reitora de Graduação a Distância Prof.ª Francieli Stano Torres Pró-Reitor Operacional de Ensino Graduação a Distância Prof. Hermínio Kloch Diagramação e Capa Eloisa Amanda Rodrigues Revisão: Anuciata Moretto Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados. 1Africanos no Brasil 1 AFRICANOS NO BRASIL A escravidão negra foi uma das maiores questões presentes na história brasileira. Iniciada paulatinamente em 1532, com a colonização e estendida até 1888, com a assinatura da Lei Áurea, que aboliu e libertou a escravidão no país. Nestes três séculos e meio, o africano trazido como escravo desempenhou, no período colonial e no pós-independência, um importante papel para o desenvolvimento econômico. O tráfi co de africanos intensifi cou-se em toda a América, e especialmente na América Portuguesa, a partir de 1580. Antes desse período, os africanos escravizados eram destinados à Europa, sendo comercializados a partir da costa da África ou destinados às minas de prata na América Espanhola. A partir das difi culdades de se escravizarem índios, e com a ampliação da presença portuguesa na costa africana, aumentou o fl uxo de africanos cativos para o Brasil, fazendo com que se consolidasse o crescimento da produção açucareira nos engenhos do Nordeste e, posteriormente, no Sudeste. De acordo com Souza (2007), o comércio de escravos para o Brasil está organizado em três momentos. O primeiro compreende os anos de 1540 a 1580 e diz respeito aos africanos vindos da Alta Guiné, na região do rio Gâmbia. Estes africanos eram enviados para o trabalho nas plantações de cana e nos engenhos. Entre os anos de 1580 e 1690, os confl itos na região de Angola irão benefi ciar o comércio português, pois as guerras fi zeram muitos prisioneiros que eram negociados como escravos com os portugueses. Neste período, houve um crescimento signifi cativo da produção açucareira no nordeste brasileiro. Os holandeses que ocuparam algumas regiões no Nordeste, entre elas, o Recife. Também negociavam escravos com os chefes africanos. Entre os anos de 1640 a 1647 ocuparam a região de Luanda na África. Entre os anos de 1690 até a instituição formal do fi m do tráfi co atlântico em 1850, os portos em Angola e os portos da Costa da Mina foram os maiores fornecedores de escravos para o Brasil, com uma maior relação entre Salvador e a Costa da Mina, o Rio de Janeiro e Angola. De acordo com Souza (2007), os escravos que chegavam ao Brasil eram embarcados em alguns portos africanos, como: Luanda, Benguela e Cabinda, na costa de Angola, Ajudá e Lagos, na Costa da Mina, e mais tarde, no porto de Moçambique. - de Benguela vinham os ovimbundos; Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados. 2 Cultura Africana - de Luanda: dembos, ambundos, imbangalas, quiocos, lubas e lunas; - de Cabimda vinham congos e tios. Todos pertencentes ao grupo linguístico banto. Em São Luís do Maranhão e no Pará chegaram escravos vindos da Alta Guiné, principalmente de Bissau e de Cabo Verde. A região africana da Zambézia, também foi fornecedora de cativos para a colônia portuguesa na América. Os escravos vindos do Golfo da Guiné eram denominados de minas. Mais tarde, de acordo com Souza (2007), além das designações mais gerais de negro mina, ou negro da Guiné. Na Bahia, os escravizados vindos de áreas mais a Oeste eram chamados de jêjes e cultuavam os voduns. Prezado(a) estudante, a fi gura a seguir mostra uma negra mina. FIGURA 1 – MULHER MINA FONTE: Disponível em: <http://abentumba.blogspot.com.br/p/os-bantus.html>. Acesso em: 8 jun. 2012. Os iorubás, vindos da região mais a Leste foram denominados de nagôs e cultuavam os orixás, mitologicamente ligados à cidade de Ifé, de onde teriam se originado todos os reinos da região do Golfo da Guiné. Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados. 3Africanos no Brasil No século XIX, chegaram ao Brasil, mais especifi camente à Bahia, grupos africanos denominados de hauçás, aprisionados nas guerras contra os iorubás. Os hauçás eram islamizados e acabaram por manter e difundir práticas islâmicas na sociedade baiana. FIGURA 2 - CRIANÇA DO GRUPO ÉTNICO IORUBA FONTE: Disponível em: <http://www.nairaland.com/647752/modern-traditionalattire- nigeria/2>. Acesso em: 8 jun. 2012. Entre as infl uências culturais africanas, Souza (2007) sinaliza que a infl uência banto é a mais antiga e a mais disseminada por todo o Brasil. As manifestações culturais de infl uência banto são resultado de misturas mais antigas, incorporando elementos das culturas indígena, portuguesa e iorubá. Segundo essa mesma autora, a infl uência iorubá é mais forte na região de Salvador, que manteve fortes laços com a Costa da Mina. Em suma, diversas regiões brasileiras receberam diferentes grupos africanos. Esses grupos foram reagrupados no Brasil, com as denominações de: Angola, Congo, Benguela e Cabinda e identifi cados pelos portos de onde haviam sido embarcados na África. Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados. 4 Cultura Africana FIGURA 3 - NEGROS DE DIFERENTES NAÇÕES DE ETNIA BANTO FONTE: Disponível em: <http://abentumba.blogspot.com.br/p/os-bantus.html>. Acesso em: 8 jun. 2012. Caro(a) estudante, é inegável a presença dos diferentes grupos africanos no Brasil. Estes grupos, mesmo na condição de escravos, refi zeram elementos que faziam parte da cultura africana, inserindo ou justapondo-os aos elementos da cultura brasileira. Estudaremos a irradiação de elementos culturais no Brasil. À medida que o africano era inserido na sociedade brasileira tornouse afro-brasileiro. Usa-se o termo afro-brasileiro para indicar produtos de mestiçagens para os quais as matrizes são africanas. Matrizes estas, presentes na formação do povo e da cultura brasileira. Além dos traços físicos e marcas genéticas nas feições da população, a música e a religiosidade, talvez sejam, as manifestações culturais em que a presença africana esteja mais evidente. Desta forma, vamos nos apropriar das características culturais de matrizes africanas presentes na cultura brasileira. Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados. 5Africanos no Brasil 2 AS MANIFESTAÇÕES DAS RELIGIOSIDADES AFRICANAS Ao longo da história da humanidade, a religiosidade sempre esteve presente. Seja qual for a forma de devoção ou crença, as religiões sempre trouxeram princípios éticos, buscando o sentido da vida e tentando explicar a morte. Na África, a religião tem lugar central na cultura, sendo a esfera de onde vem toda a orientação para a vida, a garantia do bem-estar, da harmonia e da saúde. As práticas mágico-religiosas, por meio das quais os homens entram em contato com entidades sobrenaturais, espíritos, desuses e ancestrais constituíam- se em aspecto central na vida dos africanos. Assim como viria a ser na vida de seus descendentes. No Brasil, as religiões africanas foram transformadas, ritos e crenças de alguns povos se misturaram com os de outros, com os dos portugueses e índios. Nesse processo, muitas características africanas foram mantidas. (SOUZA,2007). Nos ritos africanos, o sobrenatural era (é) acionado por especialistas que dominavam os conhecimentos necessários, para que as entidades do além pudessem ajudar a solucionar, geralmente, questões da vida cotidiana. Com o passar do tempo, as práticas mágico-religiosas começaram a difundir-se em outros segmentos da sociedade. A recorrência a especialistas em curas e adivinhações se tornou uma prática comum entre as pessoas que buscavam novas orientações para seus problemas. Os especialistas se tornaram membros importantes de certas comunidades, usando seus serviços e conhecimentos. Nos grupos de origem banto, os ritos mais comuns estavam ligados: às adivinhações, curar doenças, amansar senhores, conquistar o sexo oposto, fechar o corpo contra agressões. Praticava-se uma diversidade de ritos que permitiam que as forças do além agissem, às vezes, por meio de possessões, com descidas dos espíritos invocados sobre o corpo do sacerdote, que tomados por eles permitiam que se comunicassem com os interessados, orientando-os na solução de problemas. (SOUZA, 2007). Prezado(a) estudante, os povos africanos misturaram-se aos povos que aqui se encontravam, como: índios, portugueses, entre outros e conferiram a estes características físicas e genéticas. Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados. 6 Cultura Africana Outras vezes, o acesso a informações sobrenaturais se dava pela leitura dos indícios do além, por meio dos oráculos que se utilizavam de consultas a pedras, contas, conchas, cabaças com conteúdos misteriosos, bacias de água, entre outros. Conforme o resultado das consultas, medidas deveriam ser tomadas para que a normalidade fosse reestabelecida, ou para que o objetivo fosse alcançado. Compostos com bebidas variadas e, às vezes, exóticas eram preparadas. Desta forma, deveriam ser feitos à base de ingredientes incomuns, como: extratos de plantas, penas de animais, secreções do corpo da pessoa sobre a qual se queria agir, entre outros. No Brasil, os ritos desse tipo eram chamados de calunduns, palavra de origem banto, que foi associada ao termo kimbundo quilundo, um nome genérico para qualquer espírito que possuísse uma pessoa. Na África, o termo quilundo era referente a qualquer possessão por espíritos. No Brasil, calundu também adquiriu um signifi cado semelhante, além de designar um estado de espírito sombrio. A partir do século XIX, o papel do calunduzeiro foi ocupado pelas mães e pais de santo dos candomblés da Bahia, do Rio de Janeiro, do Maranhão, de Porto Alegre e outras regiões do país e das umbandas do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Minas Gerais e de Goiás. Caro(a) estudante, o termo umbanda é utilizado para designar as religiões afro-brasileiras de origem banto, nas quais são cultuados ancestrais e espíritos da natureza, com forte presença de elementos das religiões indígenas e também infl uência do espiritismo, de origem europeia. O candomblé é outro conjunto de práticas e crenças mágico-religiosas de matrizes africanas que germinou no Brasil. O termo pertence à língua banta. No entanto, no Brasil refere-se, também a cultos de origem iorubá e daomeana. Caro(a) estudante! - Quando a infl uência é de origem iorubá ou nagôs, as principais entidades são os orixás. - Quando a infl uência é de origem daomeana ou jêjes, as entidades são voduns. Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados. 7Africanos no Brasil Orixás e voduns são entidades ancestrais e heróis divinizados fundadores de linhagens, reinos e cidades-estado, sendo não só a origem da organização social e política, como aqueles que orientam toda ação dos homens em sua vida terrena. (SOUZA, 2007). FONTE: Adaptado de: <http://gongofi la.blogspot.com.br/2009/08/religiosidadeafro- brasileira.html>. Acesso em: 27 jun. 2012. FIGURA 4 – ORIXÁS DO CANDOMBLÉ FONTE: Disponível em: <http://espadadeogum.blogspot.com.br/2010/04/comidas-de- santo.html>. Acesso em: 9 jun. 2012. No candomblé, os principais orixás são: ● Oxalá: divindade da criação dos seres humanos; soberano que tudo comanda. ● Xangô: divindade dos raios, relâmpagos e trovões. ● Ogum: divindade do ferro e dos ferreiros, deus das guerras. ● Oxossi: divindade das fl orestas e da caça. ● Omolu/Obaluayê: divindades da varíola e das doenças contagiosas. ● Oxumarê: divindade das chuvas e do arco-íris. ● Exu: mensageiro, guardião dos templos, das casas e das pessoas. Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados. 8 Cultura Africana ● Iemanjá: divindade das águas salgadas. ● Oxum: divindade das águas doces. ● Iansã: divindade das tempestades, dos ventos e dos relâmpagos. ● Ibejis: divindades das brincadeiras, da infância e da fecundidade. Os terreiros que abrigam candomblés e umbandas são espaços que reforçam as características da cultura africana, como: a arquitetura, as formas de festejar, os ritos e as danças. É no ritmo dos tambores, cujo som é um dos elementos que permitem que os espíritos desçam sobre médiuns, por meio dos quais eles se comunicam com os vivos. A música africana tem a sua maior expressão na cultura. (SOUZA, 2007). Nos terreiros, os diferentes ritmos africanos permitem a incorporação de uma entidade sobrenatural, que tem toque, cores, adereços, roupas, comidas e gestos próprios. Cada terreiro tem seus orixás e espíritos. Cada médium recebe determinadas entidades, em numero limitado. (SOUZA, 2008, p. 113). Entre os negros, não foram somente as religiões de origem africanas que estiveram presentes. O catolicismo e o islamismo também foram crenças difundidas entre os grupos africanos. No Brasil, os africanos cristãos se organizavam em irmandades que eram aceitas e estimuladas pela Igreja Católica e pela administração colonial. Os principais santos de devoção das irmandades de “homens prestos” eram Nossa Senhora do Rosário, Santa Efi gênia e São Benedito. As crenças religiosas africanas misturaram-se com o catolicismo, formando o que se chama de sincretismo religioso. Algumas divindades negras (orixás) foram identifi cadas como santos católicos: Oxalá, pais dos orixás, foi identifi cado com Nosso Senhor do Bonfi m; Xangô identifi cado como Santo Antônio e Ogum como São Jorge. FONTE: Adaptado de: <http://eduep.uepb.edu.br/biofar/n2v1/PLANTAS_MEDICINAIS. htm>. Acesso em: 27 jun. 2012. Caro(a) estudante, como já sinalizado, a religiosidade faz parte da vida dos seres humanos e através dela são expressados os mais variados sentimentos. Proibidas no passado, depois toleradas, as religiões afro-brasileiras são cada vez mais consideradas religiões válidas. Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados. 9Africanos no Brasil No entanto, o preconceito a estas manifestações religiosas ainda estão enraizadas na sociedade contemporânea. Presente nos terreiros de candomblé e umbanda. A música é um importante elemento cultural africano, difundido nas Américas. No próximo item, discutiremos sobre a música e outras expressões da cultura africana. IMPORTANTE: A palavra preconceito diz respeito à ideia, opinião ou sentimento em relação a algo já preconcebido como desfavorável ou negativo. 3 A IRRADIAÇÃO DE ELEMENTOS CULTURAIS AFRICANOS NA CULTURA BRASILEIRA Além de ser central nos cultos religiosos, a música de infl uência africana, na qual o tambor é o instrumento mais importante, também é fundamental em muitas outras ocasiões como festas e danças. A música africana infl uenciou fortemente a música contemporânea, tanto a popular quanto a erudita. Os ritmos populares como o samba, a rumba, a salsa, o jazz e o calipso, difundidos do continente americano para o resto do mundo, tem raízes africanas. A música africana se assenta na percussão. Na variedade de instrumentos, sobretudo,o tambor que ao lado de outros instrumentos, como: o berimbau, o agogô e o reco-reco são utilizados nas danças e festas. Os africanos trazidos à força para as Américas encontraram aqui os instrumentos musicais europeus, como: o pandeiro, a viola e a rabeca e não tardaram em adotá-los. Absorveram também a música que agradava aos senhores e misturando-a com a sua, inventaram novos gêneros e estilos que mantiveram a essência africana. Nas congadas, maracatus, capoeiras e reisados, os ritmos musicais africanos estão na base do movimento corporal. Nos sambas de roda e de umbigada, nos jongos, no frevo e outras danças. Os passos são mais ou menos fi éis aos que eram realizados pelos primeiros africanos e afrodescendentes que dançaram em terras brasileiras. Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados. 10 Cultura Africana FIGURA 5 – BATUQUES DE TERREIRO FONTE: Disponível em: <http://colecaoitan.org/festas.html.>. Acesso em: 9 jun. 2012. Entre as danças populares está o bumba meu boi, ou o boi-bumbá. Espécie de teatro dançado e cantado no qual é contada a história de um empregado negro que mata o boi preferido do patrão para satisfazer o desejo de sua mulher grávida de comer carne. Vendo-se numa enrascada, procura um feiticeiro para que, por meio de forças mágicas faça o boi ressuscitar. Esta prática deu origem a uma das maiores festas popular da Amazônia, o Boi de Parintins, na qual elementos indígenas ganham primeiro plano, sobrepondo-se à infl uência de culturas africanas, em muitas das quais o boi é um elementos central e cujos ritos mágico-religiosos estão presentes na ressurreição do boi. (SOUZA, 2007). FONTE: Adaptado de: <http://goncalopontesrj.blogspot.com.br/2011/08/cultura- africana-no-brasil.html>. Acesso em: 27 jun. 2012. Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados. 11Africanos no Brasil FIGURA 6 – BOI-BUMBÁ FONTE: Disponível em: < http://colecaoitan.org/festas.html>. Acesso em: 9 jun. 2012. Outra dança de matriz africana, presente na sociedade contemporânea, é a capoeira que consiste na luta dançada, na qual dois antagonistas dão golpes de pernas e cabeças, usando as mãos como apoio, saltando de um lado para outro. A capoeira é uma das manifestações culturais afro-brasileiras mais difundidas no país e também no exterior. FIGURA 7 - BATIZADO DE CAPOEIRA ANGOLA FONTE: Disponível em: <http://comunicanazare.blogspot.com.br/2009/11/batizado-de- capoeira-angola-palmares.html>. Acesso em: 8 jun. 2012. Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados. 12 Cultura Africana Até 1920, a prática da capoeira era proibida no Brasil. Nos anos de 30, tornou-se uma das marcas da identidade brasileira, ao lado do samba. Passou a ser ensinada por mestres capoeiristas sob duas vertentes de ensino: a capoeira Angola e a Regional. Os elementos africanos da capoeira são: os instrumentos musicais (tambor e berimbau), a formação da roda, a ginga, os ritmos, as letras dos pontos cantados e os passos da dança luta. A primeira academia de capoeira Angola aberta no Brasil, foi em 1935 pelo mestre Pastinha, em Salvador, na Bahia. Mestre Pastinha, contava ter aprendido a luta com um escravo vindo de Angola, chamado Benedito. A vertente angolana da luta defende a posição de que esta luta teria surgido em Angola. O primeiro divulgador da capoeira Regional, que defende a posição de que a capoeira é formada pela contribuição de diversas etnias africanas, foi o mestre Bimba. O jogo da capoeira na roda constitui-se num diálogo de corpos onde dois capoeiristas partem do berimbau e iniciam movimentos corporais de perguntas e respostas. Aos poucos toda a roda vai entrando no jogo-dança. A capoeira é um elemento defi nidor da identidade brasileira, mais do que uma atividade física. Ela agrega religiosidade, música, história, integração e movimento corporal. Na esfera material, a infl uência africana se dá, sobretudo, na culinária. A presença mais signifi cativa encontra-se no estado da Bahia, onde o uso da pimenta e do azeite de dendê é presença constante na cozinha baiana. Pratos como o acarajé, vatapá, caruru, aluá, ximxim de galinha, mugunzá são destaques das matrizes africanas na culinária brasileira. Estes pratos mantêm receitas parecidas com as feitas na África. Além dos pratos, os africanos introduziram no Brasil um bom número de vegetais como, por exemplo: o quiabo, o maxixe, o jiló, o inhame, o cará, feijões, várias espécies de banana, diversos tipos de abóbora. O africano difundiu em terras brasileiras o cultivo do arroz e o seu uso como prato diário. A feijoada, um dos pratos mais famosos da culinária brasileira, foi incorporada ao cotidiano dos africanos escravizados que no geral, alimentavam-se de cereais como milho e também de feijão. O prato consiste na mistura de partes menos nobres do porco, como: orelha, pés, rabos que geralmente não eram consumidas pelos senhores. Estas partes eram cozidas, em um mesmo recipiente, com feijão preto, sal, pimenta. Aos poucos a feijoada foi identifi cada como infl uência africana. Todavia, é relevante destacar que a presença do feijão no Brasil, é anterior à presença africana. Outro aspecto material da presença africana na cultura brasileira são as técnicas de produção e confecção de objetos. Entre os escravos trazidos da Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados. 13Africanos no Brasil África, encontravam-se ferreiros, mineiros, oleiros, tecelões e escultores que disseminaram não só as técnicas de confecção como também seus padrões estéticos, presentes nas formas, nas decorações, nas cores, entre outros. De acordo com Souza (2007), várias técnicas de tecer cestas, utilizadas entre as populações rurais brasileiras, se assemelham mais às africanas do que as indígenas, que também praticavam a cestaria. FONTE: Adaptado de: <artistoria.wordpress.com/tag/cultura-afro-brasileira/>. Acesso em: 27 jun. 2012. A arte de esculpir está presente em todas as sociedades humanas desde as mais remotas épocas, e confi gura uma das primeiras manifestações do trabalho humano. Na Idade da Pedra, por exemplo, quando os homens modelavam o barro ou poliam pedaços de rocha, colocando neles suas visões de mundo, beleza, mitos e divindades, já estavam organizando expressões simbólicas que representavam objetos e situações cotidianas. Entre os povos africanos, a confecção de esculturas e máscaras representa uma das expressões artísticas mais signifi cativas. Algumas sociedades como os Dogon, no Mali, os Iorubás, os Nok, no norte da Nigéria se destacaram cultural e religiosamente, por meio da confecção destes objetos. Caro(a) estudante, é importante destacar que a religião foi constantemente revelada por meio da arte e que as esculturas eram compreendidas, como elementos que permitiam ao homem manter contato com o sobrenatural. FIGURA 8 - ESTATUETA “AKUA-BA” (arte ashanti, Gana, acervo MAE-USP) FONTE: Disponível em: <http://cordilheirasdoconhecimento.blogspot.com. br/2010_05_01_archive.htm>. Acesso em: 13 jun. 2012 Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados. 14 Cultura Africana IMPORTANTE: O povo Ashanti que vivem na região de Gana, quase não esculpem em madeiras com exceção dos talismãs da fertilidade. Para os povos africanos, as esculturas eram objetos de rituais, de comunicação com os deuses e uma maneira de se mostrar e distinguir-se das demais sociedades. Não podemos esquecer, caro(a) estudante, que a África é habitada por várias etnias, que apresentam diferenças culturais, estéticas e religiosas de uma região para outra. Ou até mesmo em uma mesma região. Nesse aspecto, a arte africana não pode ser vista como homogênea, pois cada comunidade possui seu próprio estilo. FIGURA 9 - RAINHAMÃE CHOKWE, ANGOLA FONTE: Disponível em: <http://fr.wikipedia.org/wiki/Fichier:Statuette_ ChokweMus%C3%A9e_ethnologique_de_Berlin.jpg>. Acesso em: 13 jun. 2012 Diferente da concepção artística ocidental, a arte africana está fundamentada na religiosidade, onde o artista não trabalha expressando a individualidade e, sim a coletividade, ou seja, o artista interpreta os valores de sua cultura e concretiza-o em sua obra. Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados. 15Africanos no Brasil Sobre o artista africano é importante destacar que a posição deste dentro de cada comunidade poderá variar. Em algumas, o seu trabalho é, às vezes, mais importante que a de um agricultor, por exemplo. A escultura é a expressão da visão que a comunidade possui do mundo. A africana está repleta de abstração, de simbolismos. A maioria das esculturas africanas utiliza a madeira como material, uma vez que para os africanos, a árvore é guardiã de poderes mágicos. Todavia, encontram-se entre as sociedades africanas, esculturas de pedra, marfi m, ouro, cobre e bronze. FIGURA 10 – ESCULTURA DE TERRACOTA DO POVO NOK FONTE: Disponível em: <http://civilizacoesafricanas.blogspot.com.br/2009/12/ civilizacao-nok.html>. Acesso em: 13 jun. 2012. Curiosidade da Figura 10 - Nok era uma civilização originária do norte da Nigéria que se desenvolveu entre 500 a.C. e 200 d.C.. As mais antigas esculturas africanas foram encontradas nesta região. A arte nok é representada por cabeças humanas feitas de terracota com enfeites nas orelhas, lábios). Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados. 16 Cultura Africana FIGURA 11 - GU (DEUS DA GUERRA E PATRONO DOS ARTESÃOS E FERREIROS NA MITOLOGIA TRIBAL DO DAOMÉ, ATUAL BENIM FONTE: Disponível em: <http://claudiozeiger.blogspot.com.br/2011/12/guvodun-ewe- fon-togo-e-benim.html>. Acesso em: 12 jun. 2012. Curiosidade da Figura 11- GU (deus da guerra e patrono dos artesãos e ferreiros na mitologia tribal do Daomé, atual Benim). Os daomeanos utilizavam madeira e metal para esculpir. FIGURA 12 - ESCULTURA IORUBÁ (ESTATUETAS IBEJI) FONTE: Disponível em: <http://artistoria.wordpress.com/tag/arte-africana/>. Acesso em: 12 jun. 2012. Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados. 17Africanos no Brasil Curiosidade da Figura 12 - Estas estatuetas fazem parte da cultura iorubá (Nigéria e Benin), na qual ocorre o maior número de nascimentos de gêmeos no mundo: de cada onze crianças nascidas nasce um par de gêmeos. Os iorubá acreditam que essas crianças trazem consigo proteção divina e se tornam divindades quando morrem. Quando um par de gêmeos nasce, um sacerdote é consultado e decide se os pais devem encomendar um par de estatuetas que representem os dois fi lhos, ou se uma ibeji será feita apenas se um deles morrer. Os iorubá creem que os dois gêmeos partilham uma só alma, por isso, quando um dos gêmeos morre ainda criança, uma ibeji fi ca no lugar do irmão que morreu e recebe os mesmos cuidados destinados à criança viva: é banhada, ganha roupas, enfeites, alimento e anda com a família. A presença africana é profunda na cultura brasileira. Suas marcas estão impregnadas também na língua portuguesa. As línguas africanas como o quimbundo, o quicongo, o umbundo e o iorubá, marcaram não só o vocabulário do português no Brasil, mas também a sintaxe e fonética. ● Verbos como: cochichar, cochilar, fungar, xingar, zanga. ● Os substantivos: bagunça, cachaça, caçula, cafuné, quitute. ● E adjetivos: como capenga, dengoso, encabulado, zonzo entre tantos outros termos que utilizamos no dia a dia, são de origem africana. É por meio da palavra, que os grupos africanos guardavam e transmitiam suas histórias, garantindo a manutenção da identidade que une os membros de um grupo e os diferenciava dos que pertencem a outros grupos. No Brasil, os contos, os provérbios, os mitos de origem dos orixás, das linhagens que governam os terreiros, as palavras utilizadas nos ritos religiosos e nas adivinhações, transmitidas dos mais velhos aos mais novos, são aspectos fundamentais das comunidades negras (SOUZA, 2007). Nas sociedades africanas, os griots eram os guardiões da tradição oral. Eram os responsáveis por manter na memória dos grupos o referencial de sua existência e constituição. No Brasil, diversos grupos africanos mantiveram a prática de difundir oralmente os contos e mitos de sua terra natal, com o intento de preservar a memória. Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados. 18 Cultura Africana FIGURA 13 – OS GRIOTS (CONTADORES DE HISTÓRIAS) FONTE: Disponível em: <http://baudashistoriasepoemas.blogspot.com.br/2010_06_01_ archive.html>. Acesso em: 8 jun. 2012. Nas manifestações como o candomblé e congada, por exemplo, a memória dos grupos é constantemente reforçada pela palavra nos pontos cantados. Na sociedade contemporânea, a importância da palavra reaparece entre as sociedades africanas, numa das mais signifi cativas manifestações afrobrasileiras, o rap. Nesta manifestação, a força da musicalidade africana está presente nos ritmos marcados e repetitivos. A palavra cantada no rap remete a características das sociedades africanas que narram fatos do cotidiano e fazer crônicas dos acontecimentos. As letras das músicas de rap, de acordo com Souza (2007), denunciam a opressão e a marginalização a que estão submetidos os habitantes das periferias dos grandes centros urbanos, em sua grande maioria, negros e mestiços. Ainda, segundo a mesma autora, o rap surge em momento em que a adoção dos valores do mundo branco dominante não é mais vista como necessária no caminho da ascensão social e as raízes africanas são valorizadas em vez de negadas. Caro(a) estudante, a África está presente: nos ditos, nas histórias, nas canções, nos brinquedos infantis, nas festas, nas danças populares, na maneira como se cumprimenta, no jeito de estar em casa e na rua. Em suma, a África está presente nas ações cotidianas. No entanto, o reconhecimento de todas estas contribuições na formação do Brasil é recente. Para que os grupos étnicos africanos ganhassem visibilidade na sociedade brasileira foram necessários Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados. 19Africanos no Brasil diversos movimentos e manifestações em prol deste reconhecimento. Entre as medidas legais que vêm sendo adotadas está à obrigatoriedade de tratar das culturas afro-brasileiras e da história da África na escola. Se refl etirmos a fundo, é espantoso e contraditório que em uma sociedade democrática como é o Brasil, seja necessário que este reconhecimento se dê pela força de lei. Assim, caro(a) estudante, no próximo item discutiremos sobre a Lei n° 10.639 instituída em 09 de janeiro de 2003 e que tornou obrigatório tratar da temática Cultura e História africana e afro-brasileira no currículo escolar. 4 UM CONTINENTE NO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO BÁSICA Várias políticas de reparação, reconhecimento e valorização da população afro-brasileira vêm sendo concretizadas na sociedade contemporânea. Uma dessas ações, como já sinalizado, é a Lei n° 10.639 que tornou obrigatório o ensino de História e Cultura Africana e Afro-Brasileira no currículo da Educação Básica no país. Esta lei é importante na medida em que a sociedade brasileira se apropria e reconhece o valor da história e da cultura africana, trazida pelos escravizados para o Brasil e mantida pelos seus descendentes ao longo dos tempos. No entanto, a inserção desta lei no contexto brasileiro não é algo espontâneo. Pelo contrário, ela é resultante da atuação de políticos e, principalmente, da pressão exercida por grupos de defesa dos direitos dos negros. Ou seja, a Lei n° 10.639 é um produto da união de forças vindasda sociedade brasileira como o Movimento Negro, por exemplo, que ao longo da história do país apresentou inúmeras reivindicações dos direitos dos negros no Brasil. Concomitante à instauração da Lei n° 10.639, o governo Federal criou em março de 2003, a SEPPIR (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial) e instituiu a Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial. O objetivo dessas ações é promover alteração positiva na realidade vivenciada pela população negra e rumar para uma sociedade democrática, justa e igualitária, revendo os desumanos séculos de preconceitos, discriminação a que foram submetidos os afro-brasileiros. Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados. 20 Cultura Africana Nesse sentido, podemos afi rmar que, atualmente no Brasil se tem criado condições para uma maior abertura para se discutir os problemas da sociedade negra, como as conferências contra a intolerância racial. Esse movimento se organiza em associações, grupos de apoio, fundações, entre outros. Com o objetivo de buscar a efetivação dos direitos à igualdade, promover a equidade entre a sociedade, através de ações afi rmativas e políticas de integração social. FONTE: Adaptado de: <http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_16791/artigo_ sobre_movimento_negro>. Acesso em: 27 jun. 2012. As chamadas políticas de ação afi rmativa ou políticas compensatórias são muito recentes na história das ideologias antirracistas. Estas ações visam oferecer aos grupos discriminados e excluídos um tratamento diferenciado para compensar as desvantagens devidas à sua situação de vítimas do racismo e de outras formas de discriminação. As ações afi rmativas atendem às determinações do Programa Nacional de Direitos Humanos, aos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil. Com o intento de combater o racismo e a discriminação, como a Conferência da ONU em Durban, África do Sul em 2001. No Brasil, a Lei n° 10.639, tem com um dos principais objetivos educar a população para as relações étnico-raciais. Estas relações dizem respeito à reeducação dos diferentes grupos étnicos e dependem de ações que priorizem trabalhos conjunto, articulações entre processos educativos escolares, políticas públicas, movimentos sociais. É importante destacar, que as mudanças éticas, culturais, pedagógicas e políticas nas relações étnico-raciais não se limitam à escola. No entanto, exigem esforços da sociedade como um todo. De acordo com as Diretrizes Curriculares, a educação das relações étnico-raciais deverá oportunizar aprendizagens, trocas de conhecimento, desenvolvimento de projetos que visem a construção de uma sociedade justa, igual, equânime aos diferentes grupos étnicos. Caro(a) estudante, o art. 26 da Lei n° 10.639 institui que: Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, ofi ciais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. Incluindo no Parágrafo 1º que O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e políticas pertinentes à História do Brasil. (BRASIL, 2012). Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados. 21Africanos no Brasil Para dimensionarmos a importância desta Lei no Currículo da Educação Básica, vamos compreender alguns dos princípios que a norteiam. 4.1 CONSCIÊNCIA POLÍTICA E HISTÓRICA DA DIVERSIDADE - à igualdade básica de pessoa humana como sujeito de direitos; - à compreensão de que a sociedade é formada por pessoas que pertencem a grupos étnico-raciais distintos, que possuem cultura e história próprias, igualmente valiosas e que em conjunto constroem, na nação brasileira, sua história; - ao conhecimento e à valorização da história dos povos africanos e da cultura afro-brasileira na construção histórica e cultural brasileira; - à superação da indiferença, injustiça e desqualifi cação com que os negros, os povos indígenas e também as classes populares às quais os negros, no geral, pertencem, são comumente tratados. FONTE: Lei n° 10.639, 09 jan.2003. Disponível em: <www.vcsimulados.com.br/divulgacao/ dcn.pdf>. Acesso em: 27 jun. 2012. Este princípio deve conduzir: 4.2 FORTALECIMENTO DE IDENTIDADE E DE DIREITOS O princípio deve orientar para: - o desencadeamento de processo de afi rmação de identidades, de historicidade negada ou distorcida; - o rompimento com imagens negativas forjadas por diferentes meios de comunicação, contra os negros e povos indígenas; - as excelentes condições de formação e de instrução que precisam ser oferecidas, nos diferentes níveis e modalidades de ensino, em todos os estabelecimentos, inclusive os localizados nas chamadas periferias urbanas e nas zonas rurais. FONTE: Lei n° 10.639, 09 jan.2003. Disponível em: < www.nre.seed.pr.gov.br/ franciscobeltrao/.../web_orientacoes_pa.ppt>. Acesso em: 27 jun. 2012. Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados. 22 Cultura Africana 4.3 AÇÕES EDUCATIVAS DE COMBATE AO RACISMO E A DISCRIMINAÇÃO O princípio encaminha para: - a conexão dos objetivos, estratégias de ensino e atividades com a experiência de vida dos alunos e professores, valorizando aprendizagens vinculadas às suas relações com pessoas negras, brancas, mestiças, assim como as vinculadas às relações entre negros, indígenas e brancos no conjunto da sociedade; - condições para professores e alunos pensarem, decidirem, agirem, assumindo responsabilidade por relações étnico-raciais positivas, enfrentando e superando discordâncias, confl itos, contestações, valorizando os contrastes das diferenças. FONTE: Lei n° 10.639, 09 jan.2003. Disponível em: < www.construirnoticias.com.br/asp/ materia.asp?id=1008>. Acesso em: 27 jun. 2012. Compreender como se estrutura as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o ensino da História e Cultura Afro-brasileira e Africana, bem como os princípios que a norteiam, é fundamental para a inserção da temática em sala de aula. Uma vez, que esta vem se tornando um dos elementos essenciais para que seja refeito o caminho pelo qual se construiu uma imagem negativa dos povos africanos. A partir daí, desconstruir ideologias e mentalidades discriminatórias e preconceituosas que permeiam a sociedade contemporânea. A Lei orienta que os conteúdos pertinentes a esta temática sejam trabalhados no contexto de todo o Currículo da Educação Básica, especialmente nas disciplinas de Arte, Literatura e História do Brasil. No entanto, as outras áreas do conhecimento escolar não estão isentas de integrarem essa temática à produção e ressignifi cação de seus saberes. Pelo contrário, se hoje, o discurso que perpassa a escola é um discurso pautado na interdisciplinaridade do conhecimento, como não agregar esse tema a outras disciplinas do currículo! Caro(a) estudante, no último item deste curso apresentaremos algumas sugestões para trabalhar a cultura africana em sala de aula numa perspectiva interdisciplinar. Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados. 23Africanos no Brasil 5 POSSIBILIDADES INTERDISCIPLINARES PARA O ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA A proposta de atividades interdisciplinares vem adquirindo importância no contexto escolar, particularmente quando se trata de iniciativas que possibilitam a abordagem integrada das diferentes áreas do conhecimento. Nesse aspecto, é essencial proporcionar a integração dos conhecimentos e competências dos educadores e educandos, no que diz respeito à cultura dos povos africanos que passou muito tempo despercebida nos currículosescolares. A temática África e afro-brasileiros que tem seu ponto de partida na História, poderá ser trabalhada em outras disciplinas. Embora, a Lei nº 10.639 cite as disciplinas de História, Artes e Língua Portuguesa como norteadoras do trabalho. É possível a interação das diferentes áreas do conhecimento no processo de inserção dessa temática na produção do conhecimento escolar. Refl etiremos sobre algumas disciplinas e a temática África e afrobrasileiros. 5.1 O ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA E A DISCIPLINA DE HISTÓRIA Em História é necessário, primeiramente, desmistifi car visões equivocadas acerca do negro somente como escravo, da África como continente primitivo e atrasado, da passividade quanto à escravidão e do mito da democracia racial. Como ação introdutória, é pertinente abordar as representações elaboradas sobre os africanos, identifi cando e desconstruindo os argumentos racistas e estereotipados. É importante, também, destacar o uso adequado de conceitos, evitando o anacronismo e o esquecimento das características da história africana. Como ações podem ser desenvolvidas as seguintes: ● O trabalho com as histórias dos grandes reinos africanos como o Maili, Songai, entre outros, anteriores ao período das grandes navegações. ● A abordagem da história da civilização egípcia, enfatizando que esta civilização está localizada no norte da África. ● O exame da história do Brasil, anterior à ocupação europeia. ● A análise da história do Brasil a partir do negro, destacando sua importante Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados. 24 Cultura Africana contribuição nos diferentes momentos da história do país. ● A revisão da escravidão sob a ótica da exploração e resistência escrava como fator determinante para o processo abolicionista. ● A visita a museus, também é um recurso importante ao ensino da história dos negros do Brasil. 5.2 O ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA E A GEOGRAFIA De acordo com as Diretrizes Curriculares, para o Ensino de Geografi a, esta área do conhecimento deve criar estratégias que levem os alunos a pensar a realidade geografi camente e despertar a consciência espacial. Para isto, deverá ser empreendida uma educação que contemple a heterogeneidade, a diversidade, a desigualdade e a complexidade do mundo atual. FONTE: Disponível em: <www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1915-6. pdf>. Acesso em: 27 jun 2012. No que diz respeito à cultura e história africana podem ser desenvolvidas as seguintes ações em Geografi a: ● Mostrar o continente africano, através de imagens das idades, buscando desmistifi cá-las como locais de miséria e guerras étnicas. ● O uso de mapas que mostrem quais povos africanos foram escravizados e trazidos para o Brasil e analisar a sua infl uência na história e cultura brasileira. ● Trabalhar a diversidade geográfi ca do continente africano, de modo a descobrir a variedade de climas, de vegetação, relevo, idiomas e culturas. ● Abordar as diferentes organizações sociais e econômicas dos países africanos. ● Trabalhar áreas demarcadas, a territorialidade para o africano e os quilombos como espaços de resistência e produção de cultura. Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados. 25Africanos no Brasil 5.3 O ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA E A EDUCAÇÃO FÍSICA As ações desenvolvidas na disciplina de Educação Física devem levar o educando a desenvolver atividades lúdicas que envolvam o corpo e propiciem o conhecimento de outras culturas. As Diretrizes Curriculares que orientam o Ensino da Educação Física, trazem a capoeira como conteúdo básico por meio de uma abordagem teóricometodológica que procura apresentar a história da capoeira, a diferença de classifi cação e estilos da capoeira. Enquanto jogo/luta/dança, musicalização e ritmo, ginga, confecção de instrumentos, movimentação, roda, entre outros. Todavia, outras danças africanas podem ser resgatadas como a congada e o maracatu. 5.4 O ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA E A DISCIPLINA DE ARTE As habilidades e competências desenvolvidas a partir da disciplina de Artes levam o aluno a compreender a importante contribuição dos elementos culturais africanos nas expressões artísticas brasileiras. Como ações podem ser desenvolvidos os seguintes trabalhos: ● Pesquisar e organizar a confecção de instrumentos musicais e seus signifi cados para os africanos e afro-brasileiros como o abe, caxixi, chocalho, cuíca, ganzá, entre outros. ● Organizar festivais de dança. ● Pesquisar e confeccionar objetos de ornamentos corporais e artesanato africano. ● Organizar rodas de contação de história baseados nos mitos e lendas africanas, entre outras ações que resgatem, deem visibilidade e valorizem a presença africana na sociedade brasileira. 5.5 A LÍNGUA PORTUGUESA, A LITERATURA E A HISTÓRIA DA ÁFRICA No campo da literatura, existem excelentes trabalhos direcionados para o Ensino Fundamental. Contos, romances e fi cções históricas possibilitam Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados. 26 Cultura Africana acessar parte da mentalidade africana. Existe no Brasil, uma série de obras que evidenciam as tradições, a cultura, as relações sociais, aspectos econômicos, políticos entre outros. Que permitem compreender o pensar sobre a construção da memória, da identidade e como esta se transforma em narrativa de experiências. No entanto, ao trabalhar a narrativa literária de forma interdisciplinar na perspectiva de utilizá-la como aporte teórico metodológico na compreensão da História da África deve-se estar atentos para o fato de que a obra literária mostra uma realidade que lhe é própria, ou seja, a sua realidade fi ccional. No entanto, é possível através dela compreender processos sociais e uma possível refl exão sobre determinada estrutura social. A apresentação de escritores como Joel dos Santos Rufi no, Ana Maria Machado, Geni Guimarães, Aroldo Macedo, entre outros, bem como de compositores e cantores como Gilberto Gil, Milton Nascimento, artistas como Di Cavalcanti, Cândido Portinari, Tarsila do Amaral que incluem a fi gura do negro em suas obras. São possibilidades que mostram e valorizam o pensamento africano e afro-brasileiro nas expressões culturais e que oportunizam ações didáticas em sala de aula. Entre as ações desenvolvidas na disciplina de Língua Portuguesa, cita-se: ● A leitura e a análise de textos para identifi car visões estereotipadas sobre os diferentes grupos étnicos raciais que compõem a sociedade brasileira. ● O estudo de peculiaridades das línguas, identifi cando a infl uência de diferentes matrizes linguísticas africanas na língua portuguesa escrita e falada no Brasil. ● A redação de textos a partir da análise de dados sobre relações raciais e desigualdades. ● A utilização de gêneros textuais que abordem o tema das relações raciais ou do escravismo africano. Procurando identifi car a visão da sociedade sobre esta questão. ● A elaboração de um dicionário das palavras do nosso vocabulário que tem origem africana. ● Revisitar a literatura brasileira em diferentes momentos da história analisando como os autores das diferentes épocas percebiam o negro e as relações étnico-raciais. Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados. 27Africanos no Brasil As outras disciplinas que compõem o Currículo Escolar na Educação Básica Brasileira como: a Biologia, a Matemática, a Física, a Língua Estrangeira, a Filosofi a, poderão articular saberes para a ressignifi cação e releitura da História da África e Afro-brasileiros. Caro(a) estudante, na contemporaneidade, vivemos momentos em que não somente os movimentos negros vêm reivindicando mais oportunidades de acesso a ações igualitárias. Outros grupos também têm manifestado,reivindicando, lutado pelo acesso, pela dignidade de serem inseridos em uma sociedade mais justa, mais igualitária. Chegamos ao fi m deste curso, lembrando de que o objetivo foi apresentar de maneira geral o continente africano e a relação que ele mantém com a sociedade brasileira. Principalmente as relações mantidas, a partir da inserção do africano como escravo na sociedade brasileira e as práticas difundidas na sociedade brasileira que confi gura os aspectos culturais. Compreender o continente africano dissociado de uma visão monolítica é fundamental para o trabalho do professor na atualidade. Desta forma, conhecer as sociedades africanas, a maneira como se organizavam, as manifestações culturais, pode levar à superação do preconceito que ainda estão presentes no imaginário social contemporâneo. Entre eles, pode-se ser citado o preconceito associado à noção de raça e a ideia da existência de uma direção linear na evolução da humanidade, de sociedades mais primitivas para civilizações mais estruturadas, mais complexas. Perceber a diversidade das sociedades africanas pode auxiliar no convívio com o diferente. Como sugestão de leitura e conhecimento, recomendo a você visitar a página da Fundação Palmares, no endereço: www.palmares.gov.br Espero encontrá-lo(a) em outros cursos de formação. Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados. 28 Cultura Africana AUTOATIVIDADE 1 A escravidão negra representa um dos momentos mais cruéis na história brasileira. Iniciada, paulatinamente, em 1532, com a colonização e estendida até as últimas décadas do século XIX, contou com milhões de africanos desembarcados em solo brasileiro. Estes africanos desempenharam um importante papel no desenvolvimento e manutenção da economia. De acordo com dados historiográfi cos, o tráfi co de escravos para a colônia portuguesa na América organiza-se em três fases. Caracterize estas fases. 2 A escultura representa uma das primeiras manifestações do trabalho humano. Em cada sociedade está atividade teve sentido e signifi cados próprios e distintos. Descreva a fi nalidade da escultura para as sociedades africanas. 3 Entre as estratégias de valorização da presença africana no Brasil, está a instituição da Lei nº 10.639. Esta Lei não é um produto da burocracia, mas da união de forças vindas da sociedade brasileira. Descreva o signifi cado desta lei para o Ensino da Cultura Africana na Educação Básica. Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados. 29Africanos no Brasil GABARITO 1 A escravidão negra representa um dos momentos mais cruéis na história brasileira. Iniciada, paulatinamente, em 1532, com a colonização e estendida até as últimas décadas do século XIX, contou com milhões de africanos desembarcados em solo brasileiro. Estes africanos desempenharam um importante papel no desenvolvimento e manutenção da economia. De acordo com dados historiográfi cos, o tráfi co de escravos para a colônia portuguesa na América organiza-se em três fases. Caracterize estas fases. R.: O(A) estudante deve informar que a primeira fase ocorre entre os anos de 1540 a 1580. Os africanos enviados para a colônia portuguesa na América são provenientes da Alta Guiné e destinados a trabalhar nas plantações de cana-de-açúcar e nos engenhos da região Nordeste. A segunda fase compreende os anos de 1580 a 1690, a consolidação e ampliação da produção açucareira nos engenhos do Nordeste e depois no Sudeste demandavam por mão de obra que foi suprida pelo trabalho escravo africano. A difi culdade de escravizar o índio também foi um fator que contribuiu para a intensifi cação do tráfi co negreiro nesta fase. A terceira fase se dá a partir de 1690 e estende-se até a instituição formal do tráfi co negreiro em 1850. Os portos de Angola e Costa da Mina foram os mais expressivos fornecedores de cativos para a colônia portuguesa neste período. 2 A escultura representa uma das primeiras manifestações do trabalho humano. Em cada sociedade está atividade teve sentido e signifi cados próprios e distintos. Descreva a fi nalidade da escultura para as sociedades africanas. R.: O(A) estudante deve informar que para as diferentes sociedades africanas, a escultura está associada à religiosidade e que estas eram compreendidas como elementos que permitiam ao homem manter contato com o sobrenatural. Outra informação, diz respeito à compreensão da escultura a partir da diversidade de povos africanos no continente. Uma vez, que a arte não deve ser compreendida como monolítica ou homogênea, pois cada sociedade tem seu próprio estilo. Sobre a matéria-prima utilizada nas esculturas, é relevante destacar o uso da madeira e da árvore, enquanto considerado elemento sagrado para os africanos. 3 Entre as estratégias de valorização da presença africana no Brasil, está a instituição da Lei n° 10.639. Esta Lei não é um produto da burocracia, mas da união de forças vindas da sociedade brasileira. Descreva o signifi cado desta lei para o Ensino da Cultura Africana na Educação Básica. Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados. 30 Cultura Africana R.: O(A) estudante deve tecer informações que possibilitem a refl exão sobre o contexto de surgimento desta lei, onde a percepção incorra sobre as reivindicações que ao longo dos anos foram feitas pelos movimentos de defesa das causas negras no Brasil. Deve também informar sobre a obrigatoriedade desta temática no Currículo Escolar da Educação Básica e as possibilidades de trabalho na escola. Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados. 31Africanos no Brasil REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n° 10.639, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases (Lei n°.9394/1996) e tornou obrigatório o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira no Ensino Fundamental e Médio.Disponível em: < www.ppe.uem.br/publicacoes/seminario_ppe_2008/ pdf/c018.pdf>. Acesso em: 27 jun.2012. CORDOVA, Tânia. História da África. Indaial: Grupo UNIASSELVI, 2010. HERNANDEZ, Leila Leite. A África na Sala de Aula: visita à história contemporânea, São Paulo: Selo Negro, 2008. KI –ZERBO, Joseph. A Hominização. In: História da África Negra. Publicações Europa- América, s/d. p. 54-55. LOPES, Nei. Bantos, malês e identidade negra. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. SILVA, Alberto da Costa e. A África explicada aos meus filhos. Rio de Janeio: Agir, 2008. SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil Africano. 2. ed. São Paulo: Ática, 2007. ______. África e Brasil Africano. 3. ed. São Paulo: Ática, 2008.
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