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o processo de criação/estabelecimento d’Outro? Como esta prática contribui para a luta anticolonial e anticapitalista global? O que passa a ser possível se abrimos mão da nossa presumida ou autoconferida prerrogativa à certeza epistemológica e segurança ontológica? Ao abandonar-se o desejo pelo entendimento, a violência não mais domina a mente autodeterminada dotada da capacidade de conhecer. Na verdade, a própria noção da mente autodeterminada começa a minguar visto que defronta-se com sua própria limitação. Portanto, confiar nos textos da filósofa não é um chamado para aceitar ou absorver um determinado argumento. Na verdade, tal confiança floresce pacientemente pois o que guia a leitora é a inseparabilidade da existência. 197 A Dívida Impagável, de Denise Ferreira da Silva, materializa parceria entre a Oficina de Imaginação Política e a editora Living Commons, e marca assim o inicio de uma série de publicações por vir. Concebemos a tradução para além da versão de uma língua para outra, como intervenção na imaginação política de um contexto específico, e do qual esta pode vir a se expandir. Neste sentido, esta publicação (re)compõe uma constelação de ações contínuas, apresentações, publicações, leituras de Tarot, entre outras iniciativas e atividades, anteriores e ainda porvir, em parceria com Denise Ferreira da Silva e em conjunção à multiplicidade de suas práticas, dentre as quais a escrita. Textos que foram préviamente publicados em inglês, alguns também em português, foram reelaborados por Ferreira da Silva de modo a se articularem aqui como capítulos introduzidos por “(Di)Ante(s) do texto”, escrito para (con)figurar este livro-evento. Essa articulação significou a expansão dos textos, reformulações e precisões que trazem uma renovada potência. Acreditamos, junto com a autora, que nos gestos de poética negra feminista habita uma “práxis radical” portadora de germes de pensar e viver “Outra-mente”. Esperamos também que esta seja uma public- ação, isto é, que o livro assuma os contornos de uma ação pública, contribuíndo para o fortalecimento e a (re)distribuição de ferramentas, assim como produzindo condições de possibilidade para mover novas e singulares emergências para enfrentar as urgências do passado-presente-futuro e, em particular, em relação à necessidade de interromper a violência total que estrutura e reencena dioturnamente o “Mundo Ordenado pela tríade colonial-capital-racial” e para exigir a “restauração do valor total expropriado de terras nativas e corpos escravos”. Vale também lembrar que este livro é uma iniciativa coletiva que plasma o trabalho e afeto de inúmeras pessoas às quais gostaria 198 de agradecer nominalmente, a começar por Denise Ferreira da Silva, pela parceria de anos, confiança e generosidade em relação a trabalharmos na tradução ao português brasileiro de alguns de seus textos, contribuíndo assim com a publicação e distribuição de seus escritos, e com as leituras, discussões e afetos que estes movem. A Valentina Desideri pela parceria, amizade e conversas infinitas. A Jota Mombaça e Michelle Mattiuzzi pela parceria, amizade e (des)confiança e aqui em particular pela potência de sua “Carta à leitora preta do fim dos tempos”. A Pedro Daher por seu “O abrir-mão para o futuro” e minucioso trabalho conjunto de tradução e revisão dos textos de Ferreira da Silva. A Diego Ribeiro pelas composições e desenhos de nossas publicações. A Gabi Ngcobo, Jochen Volz, Júlia Rebouças, Lars Bang Larsen e Sofia Olascoaga, pelo convite a participar de Incerteza Viva – 32a Bienal de São Paulo, que gerou as condições materiais, simbólicas e institucionais para darmos em 2016 o pontapé inicial da Oficina de Imaginação Política. A Rita Natálio e Thiago de Paula pelo trabalho, convivência e conversas durante a Bienal. A Benjamin Seroussi e à Casa do Povo pela parceria que permitiu a continuidade de nosso programa desde então e, agora, a impressão desta publicação, garantindo a distribuição gratuita. Acredito que tudo que faço é uma maneira de agradecer, como diz Mercedes Sosa, gracias a la vida. Porém, agradecer é um gesto que contém certa dimensão de risco, afinal onde começar e onde parar? Sendo assim, gostaria de agradecer a Ana Dupas pelo amor, aprendizados e vida vivida em con-junções, e a Akin, que abriu novas dimensões do viver. Gostaria também de agradecer a você que está lendo estas linhas, gracias. Amilcar Packer, dezembro de 2019. OIP é uma iniciativa implicada em práticas performativas por justiça social. Suas principais atividades consistem em grupos de estudo, leituras públicas, debates e oficinas, práticas de escrita e tradução coletiva, publicações impressas e on-line, buscando produzir, distribuir e desenvolver ferramentas de imaginação radical. lugar de agência e afetos entre modos de fazer, aprender e cuidar intervenção nos sistemas de (re-)produção e invenção de mundos implicação ética nas contradições e paradoxos das coletividades oficina imaginação política Edição: Oficina de Imaginação Política e Living Commons, 2019. Tradução: Amilcar Packer e Pedro Daher. Revisão: Amilcar Packer e Pedro Daher. Projeto gráfico: Amilcar Packer e Diego Ribeiro. Impresso em dezembro de 2019 pela gráfica Forma Certa, em tipologia Vremena, miolo em papel polém, capa e inserções em colorplus. FERREIRA da SILVA, Denise - A Dívida Impagável, (São Paulo: 2019). ISBN 978-85-7715-615-3 APOIO: Denise Ferreira da Silva é Professora Titular e Diretora do Instituto de Justiça Social (GRSJ) da Universidade de British Columbia. Seu trabalho relacionado à arte inclui textos para publicações ligadas às Bienais de Liverpool e São Paulo de 2016, Veneza 2017 e documenta 14, bem como colaborações como os filmes Serpent Rain (2016) e 4Waters- Deep Implicancy (2018), com Arjuna Neuman; e eventos (performances, palestras e sessões privadas) e textos relacionados, como Poethical Readings e o Sensing Salon, com Valentina Desideri. 9 7 8 - 8 5 - 7 7 1 5 - 6 1 5 - 3ISBN _Hlk17041433 _GoBack