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Livro de Educação, Estado e Cidadania (1)

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Universidade Federal do Piauí
Centro de Educação Aberta e a Distância
EDUCAÇÃO, ESTADO 
E CIDADANIA
Ferdinan Francisco do Nascimento
Ministério da Educação - MEC
Universidade Aberta do Brasil - UAB
Universidade Federal do Piauí - UFPI
Universidade Aberta do Piauí - UAPI
Centro de Educação Aberta e a Distância - CEAD
Ferdinan Francisco do Nascimento
Educação, Estado 
e Cidadania 
Cleidinalva Maria Barbosa Oliveira
Elis Rejane Silva Oliveira
Samuel Falcão Silva
Mariane de Meneses Costa Alves
Maria da Penha Feitosa
Carmem Lúcia Portela Santos
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
GOVERNADOR DO ESTADO
REITOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DO MEC
PRESIDENTE DA CAPES
COORDENADORIA GERAL DA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL
DIRETOR DO CENTRO DE EDUCAÇÃO ABERTA A DISTÂNCIA DA UFPI
Luiz Inácio Lula da Silva
Fernando Haddad
Wilson Nunes Martins
Luiz de Sousa Santos Júnior
Carlos Eduardo Bielshowsky
Jorge Almeida Guimarães
Celso Costa
Gildásio Guedes Fernandes
CONSELHO EDITORIAL DA EDUFPI Prof. Dr. Ricardo Alaggio Ribeiro ( Presidente )
Des. Tomaz Gomes Campelo
Prof. Dr. José Renato de Araújo Sousa
Profª. Drª. Teresinha de Jesus Mesquita Queiroz
Profª. Francisca Maria Soares Mendes
Profª. Iracildes Maria de Moura Fé Lima
Prof. Dr. João Renór Ferreira de Carvalho
COORDENAÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO
TÉCNICA EM ASSUNTOS EDUCACIONAIS
PROJETO GRÁFICO
DIAGRAMAÇÃO
REVISÃO
REVISOR GRÁFICO
A responsabilidade pelo conteúdo e imagens desta obra é do autor. O conteúdo desta obra foi licenciado tem-
porária e gratuitamente para utilização no âmbito do Sistema Universidade Aberta do Brasil, através da UFPI. 
O leitor se compromete a utilizar o conteúdo desta obra para aprendizado pessoal, sendo que a re-
produção e distribuição ficarão limitadas ao âmbito interno dos cursos. A citação desta obra em trabalhos 
acadêmicos e/ou profissionais poderá ser feita com indicação da fonte. A cópia deste obra sem autorização 
expressa ou com intuito de lucro constitui crime contra a propriedade intelectual, com sansões previstas no 
Código Penal.
N244e Nascimento, Ferdinan Francisco do
 Educação, Estado e Cidadania/ Ferdinan Francisco do 
Nascimento - Teresina: EDUFPI/UAPI
2010
 110 p.
 
ISBN: 978-85-7463-322-0
1- Educaç.ão e Cidadania. 2 - Educação e Estado. 3 - Políti-
ca e Educação
I. Título 
 C.D.D. - 379
Este texto é destinado a vocês que participam do programa de 
Educação a Distância da Universidade Aberta do Piauí (UAPI), vinculada 
ao consórcio formado pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), 
Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Instituto Federal de Educação, 
Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI), com apoio do Governo do Estado do 
Piauí, por meio da Secretaria de Educação e Cultura do Piauí (SEDUC-
PI).
O texto compõe-se de três unidades, contendo itens e subitens 
que discorrem sobre Educação, Estado e Cidadania.
Na unidade 1 abordamos os conceitos básicos de Estado, bem 
como seus elementos e o papel da educação dentro do Estado. 
Na unidade 2 enfatizamos o papel da educação para a construção 
da cidadania. 
E na unidade 3 analisamos a educação na perspectiva da nova 
ordem mundial.
UNIDADE 1
EDUCAÇÃO, ESTADO E SOCIEDADE
Elementos da Teoria Geral do Estado .............................................11
Conceitos básicos relacionados à democracia ...............................17
O poder na globalização ................................................................. 24
UNIDADE 2
EDUCAÇÃO E CIDADANIA
Noções básicas sobre conceitos de cidadania e direitos ................39
Movimentos sociais: lócus de uma educação para a cidadania ..... 42
UNIDADE 3
EDUCAÇÃO, DEMOCRACIA E GLOBALIZAÇÃO
Configuração da democracia e da cidadania nos dias atuais .........67
Identidade latino-americana e globalização ...................................78
Educação em direitos humanos e democracia ............................... 87
A participação da população na gestão da educação .....................99
37
09
65
UNIDADE 01
Educação, Estado e Sociedade
11EDUCAÇÃO, ESTADO E CIDADANIA
EDUCAÇÃO, ESTADO E 
SOCIEDADE
ELEMENTOS DA TEORIA GERAL DO ESTADO
Conceitos de Sociedade
	Para	encontrar	uma	definição	precisa	para	o	conceito	de	sociedade,	
Bonavides	 recorre	 a	 alguns	autores	que	melhor	 definiram	 tal	 conceito.	
Um	sociólogo	americano	define	a	sociedade	como	“todo	o	complexo	de	
relações do homem com seus semelhantes”.
Quando Toennies diz que a sociedade é o grupo 
derivado de um acordo de vontades, de membros que 
buscam, mediante o vínculo associativo, no interesse 
comum impossível de obter-se pelos esforços isolados 
dos indivíduos, esse conceito é irrepreensivelmente 
mecanicista (BONAVIDES, 2006, p. 57). 
No modelo mecanicista, o indivíduo é autônomo para mover-se, o 
que pode conduzi-lo à ascensão ou à queda de posição social, econômica 
ou	profissional.
 O modelo mecanicista de sociedade tem suas bases nos 
contratualistas no início da democracia liberal, fundamentado na razão 
como guia da convivência humana.
O contrato social (ou contratualismo) é um acordo entre 
os membros de uma sociedade, pelo qual reconhecem a autoridade, 
12 UNIDADE 01
igualmente sobre todos, de um conjunto de regras, de um regime político 
ou de um governante. O contrato social parte do pressuposto de que os 
indivíduos o irão respeitar. Esta ideia está ligada à Teoria da Obediência. 
As teorias sobre o contrato social se difundiram nos séculos XVI e XVII 
como forma de explicar ou postular a origem legítima dos governos e, 
portanto, das obrigações políticas dos governados ou súditos. 
 Outro autor, Del Vecchio (apud BONAVIDES), entende por 
sociedade como:
O conjunto de relações mediante as quais vários 
indivíduos vivem e atuam solidariamente em ordem a 
formar uma entidade nova e superior, oferece-nos ele o 
conceito de sociedade basicamente organicista (2006, p. 
57). 
	Del	Vecchio	dá	o	 seguinte	 conceito	para	organicismo:	 “Reunião	
de várias partes, que preenche em funções distintas e que, por sua ação 
combinada, concorrem para manter a vida do todo” (apud BONAVIDES, 
2006, p. 58). Então, baseado na teoria organicista, percebe-se que o 
homem tem uma vocação inata para a vida social, ou seja, ele não pode 
viver fora da sociedade.
Sociedade e comunidade 
 Fazendo uma análise sociológica da sociedade, percebemos 
que existe uma distinção entre sociedade e comunidade. Segundo o 
sociólogo Toennies, em Sociedade e Comunidade,	 “sociedade	 supõe	
a ação conjunta e racional dos indivíduos no seio da ordem jurídica e 
econômica”	(apud	BONAVIDES,	2006,	p.	62).	Já	a	comunidade	“implica	
a existência de formas de vida e organização social onde imperam; são 
essencialmente solidariedades feitas de vínculos psíquicos entre os 
componentes do grupo” (Idem, 2006, p. 62). Ela existe para amenizar e 
doar	formas	de	solidariedades:	simpatias,	emoções	e	confiança	entre	os	
indivíduos.
Na comunidade predomina a solidariedade mecânica, onde os 
indivíduos	 se	 identificam	 através	 da	 família,	 da	 religião,	 da	 tradição	 e	
dos costumes, permanecendo em geral independentes e autônomos em 
relação à divisão do trabalho social. A consciência coletiva aqui exerce 
todo seu poder de coerção sobre os indivíduos.
13EDUCAÇÃO, ESTADO E CIDADANIA
Na sociedade predomina a solidariedade orgânica, aquela 
típica das sociedades capitalistas, em que, através da acelerada divisão 
do trabalho social, os indivíduos se tornam interdependentes. Essa 
interdependência garante a união social, em lugar dos costumes, das 
tradições ou das relações sociais estreitas. Nas sociedades capitalistas, 
a consciência coletiva se afrouxa. Assim, ao mesmo tempo que os 
indivíduos são mutuamente dependentes, cada qual se especializa numa 
atividade e tende a desenvolver maiorautonomia pessoal.
Como a comunidade antecedeu a sociedade, esta não eliminou a 
comunidade. Ela ainda existe no interior da sociedade. 
Estado
 Para nos aproximarmos de um conceito de Estado, faz-se 
necessário esclarecer algumas palavras que designam diferentes 
 Solidariedade mecânica: Característica da fase primitiva 
da organização social que se origina das semelhanças psíquicas e 
sociais (e, até mesmo, físicas) entre os membros individuais. Para 
a manutenção dessa igualdade, necessária à sobrevivência do 
grupo, deve a coerção social, baseada na consciência coletiva (veja 
CONSCIÊNCIA COLETIVA), ser severa e repressiva. O progresso 
da divisão do trabalho faz com que a sociedade de solidariedade 
mecânica se transforme.
 Solidariedade orgânica: A divisão do trabalho, característica 
das sociedades mais desenvolvidas, gera um novo tipo de 
solidariedade, não mais baseado na semelhança entre os componentes 
(solidariedade mecânica), mas na complementação de partes 
diversificadas.	 O	 encontro	 de	 interesses	 complementares	 cria	 um	
laço social novo, ou seja, um outro tipo de princípio de solidariedade, 
com moral própria, e que dá origem a uma nova organização social 
- solidariedade orgânica. Sendo seu fundamento a diversidade, 
a solidariedade orgânica implica uma maior autonomia, com uma 
consciência individual mais livre.
14 UNIDADE 01
fenômenos, diferentes conceitos, diferentes processos e diferentes 
estruturas. Estes conceitos são: prática, prática política, poder, 
dominação, estado e sociedade civil.
Prática é	 uma	 ação	 que	 modifica	 ou	 que	 reproduz	 uma	
realidade. Essas práticas ocorrem durante todo o percurso 
histórico de forma contínua, sejam elas conscientes, planejadas, 
inconscientes e não intencionais.
	 Guareschi	(2003)	define	prática política como uma ação 
humana intencional que transforma relações sociais. Segundo esse 
autor, podem existir vários tipos de prática política, dependendo do 
tipo de relação social. A política não pode ser reduzida ao que diz 
respeito ao poder público. Ela encontra-se dentro das famílias, das 
fábricas, das escolas, ou seja, dentro da esfera privada.
Embora haja boas razões para se enfocar a esfera 
pública	como	palco	específico	da	política,	onde	se	situa	
o sistema político, e especialmente o estado, o domínio 
teórico	 da	 política	 é	 bem	 mais	 amplo	 (GUARESCHI,	
2003, p. 125).
Não é necessário que haja Estado nem políticos para que a 
política possa acontecer. Ela é uma característica intrínseca à vida 
social humana. 
Por poder entendemos ser a capacidade de produzir uma 
mudança	que	é	específica	de	cada	prática.	Toda	prática	para	que	
possa ser exercida precisa de certa quantidade de poder. O poder 
econômico seria a capacidade de transformar a natureza. Poder 
ideológico, capacidade para formar subjetividades. Poder político, 
capacidade para formar relações sociais.
O poder político precisa de meios para exercer a sua ação. Esses 
meios, também chamados de meios de produção da política, são as 
organizações como: o Estado, os partidos, os sindicatos, as associações 
de	bairros,	etc.	E	esse	modo	de	produção	será	eficiente	de	acordo	com	a	
capacidade de mobilizar as pessoas para ação coletiva, ou seja, de fazer 
com que as pessoas participem engajadas na luta, nas atividades.
 Guareschi alerta para a confusão que é feita entre poder e 
dominação. Segundo ele: 
Poder é a capacidade para transformar práticas (poder 
político, capacidade para formar relações sociais); 
A prática política 
de gênero: que (re) 
produz relações de 
gênero que lutam, 
como entre homens 
e mulheres; que (re)
produz relações 
educacionais, como 
entre professores e 
alunos, etc.
Saiba Mais
Há	diferentes	tipos	de	
práticas: 
prática econômica 
– pela sua natureza e 
valor de uso; 
prática científica 
– transforma os 
conhecimentos em 
ciência; 
prática política 
– transforma tais 
relações sociais.
Saiba Mais
15EDUCAÇÃO, ESTADO E CIDADANIA
dominação,	 porém,	 é	 definida	 como	 a	 distribuição	
desigual do poder. Mesmo numa sociedade igualitária, 
utópica, haverá política e poder; mas não haverá 
dominação	(GUARESCHI,	2003,	p.127).
 
Quando um poder está enraizado em determinado grupo ou 
pessoa, podemos dizer que este grupo ou pessoa está dominando. 
Após	alguns	conceitos	definidos,	podemos	fazer	um	ensaio	sobre	
o	que	seja	o	Estado.	Na	definição	de	Max	Weber,	Estado	é	o	aparelho	
que monopoliza o uso legítimo da força em um determinado território. 
Para o autor, o Estado é uma relação de homens dominando homens, 
mediante a violência, considerada legítima. E para que essa relação 
exista é necessário que os dominados obedeçam à autoridade dos que 
têm o poder.
Dentro da tradição marxista, o Estado seria a expressão jurídico-
política da sociedade burguesa. O seu papel, na sociedade capitalista, 
seria defender os interesses da classe dominante. 
 Na visão de Durkheim, que sempre foi preocupado com a coesão 
social, a função do Estado seria realizar e organizar o ideário do indivíduo 
e assegurar-lhe pleno desenvolvimento moral através da educação 
pública.
Podemos agora destacar a relação entre sociedade civil e Estado: 
Sociedade civil é um conceito geralmente empregado 
para designar aquelas instituições que representam 
aspectos da vida social, que possuem relações 
estritamente externas com o Estado. Isso quer dizer 
que elas existem independentemente, e possuem 
certa autonomia diante do Estado; têm seus próprios 
mecanismos de reprodução, mas interagem de muitas 
maneiras com o Estado. Exemplos seriam a família, as 
igrejas,	as	fábricas,	etc.	(GUARESCHI,	2003,	p.	130).	
 Esta dicotomia é rejeitada por alguns teóricos, alegando que todos 
os aspectos da vida social estariam relacionados com o Estado e que as 
ações deste estão presentes na vida cotidiana das pessoas.
Esta teoria do modelo de Estado centrado nas classes subdivide-
se em três variantes: a teoria instrumentalista, a teoria estruturalista 
e a teoria crítico-ideológica. 
Teorizamos algo para nos proporcionar a compreensão de certos 
aspectos	de	uma	situação	particular,	e	não	para	afirmar	algo	como	geral	
16 UNIDADE 01
para todas as situações. No caso da teoria sobre o Estado, essas teorias 
variam de realidades concretas.
Essas teorias não se dão de forma aleatória, existem recursos 
metodológicos na análise do Estado. Para explicar o que é o Estado, 
como age, trabalhamos com hipóteses, porque comprovar concretamente 
é difícil. 
Alguns estudiosos criaram instrumentos metodológicos para 
entender o Estado. Esses estudos nos comprovam que o Estado é 
capitalista, dominado pelos capitalistas. 
O mecanismo de seleção do Estado capitalista se dá através de 
um amplo conjunto de mecanismos institucionais que sob condições 
normais desempenham três funções cruciais:
a) Função de seleção negativa: os interesses anticapitalistas 
são excluídos da atividade do Estado;
b) Função de seleção positiva: quando as alternativas políticas 
escolhidas	servem	aos	interesses	dos	grupos	capitalistas	específicos;
c) Função de seleção disfarçada: mantém a aparência de 
neutralidade.
Para provar o caráter de classe do Estado, a estrutura do Estado 
é tal que faz com que certas ações dele se tornem impossíveis e outras 
prováveis, isto é, o Estado sistematicamente coloca discriminações no 
processo de criação e desenvolvimento de suas políticas. Isso aparece 
bem claro a partir da apresentação dos assuntos que o Estado coloca à 
mesa das discussões: alguns pontos são excluídos já da própria agenda.
A análise do modelo de Estado centrado no Estado ganha mais 
relevância nos dias atuais do que o modelo de Estado centrado nas 
classes. Isso se deve ao fato de o Estado possuir interesses distintos; 
e do Estado possuir capacidades distintas, devido a suas propriedades 
organizacionais e seu poder repressivo. Isso dá ao Estado uma espécie 
 Teoria instrumentalista: diz que o Estado é um simples 
instrumento nas mãos das classes; a teoria estruturalista: dizque o 
próprio Estado materializa em si, em sua estrutura, a classe e a teoria 
crítico-ideológica: tenta responder à pergunta: o que é o Estado? 
Tendo como resposta que o Estado é uma instituição que serve aos 
interesses da classe dominante, e que aparece de forma dissimulada, 
se apresentando igual para todos.
17EDUCAÇÃO, ESTADO E CIDADANIA
de autonomia, que é fundamentada no poder e nos projetos do mesmo.
Uma versão moderada da centralidade do poder vê no Estado um 
grau de centralização da burocracia e nas classes o interesse de agentes 
classistas. Já uma versão radical argumenta que fatores centrados no 
Estado são os determinantes mais importantes das diferenciações nos 
resultados políticos, as classes têm importância ocasional e secundária. 
Uma	versão	intermediária	afirma	que	são	os	fatores	histórico-conjunturais	
que	influenciam	e	medeiam	tanto	os	fatores	de	classe	como	de	Estado.
Segundo Guareschi (2003), o debate sobre o modelo centrado 
no Estado está em plena atualidade, e talvez a versão historicizada 
(intermédia) seja a mais apropriada como orientação de pesquisa, pois 
deixa a porta aberta às várias possibilidades. Acontece, contudo, que em 
geral: 
a) As políticas que o Estado persegue são fortemente matizadas 
por interesses de classes em seus aspectos instrumentais: os agentes 
de classe intervêm na formação dessas políticas, diretas e indiretamente;
b) As estruturas do Estado incorporam, de fato, mecanismos 
seletivos	específicos	de	uma	determinada	classe;	estes	carregam	consigo	
discriminações de classe, nos processos de formação dessas políticas;
c) Os interesses dos administradores do Estado os levam, 
como regra geral, a cortejar os membros da classe economicamente 
dominante de tal modo que somente diante de circunstâncias muito 
excepcionais esses administradores tentariam contrariar o poder e 
os interesses dessa classe;
d)	 Ocasionalmente,	 conflitos	 de	 classes	 escolherão	 como	
objeto de luta as estruturas de Estado, modelando os conteúdos e 
formas básicas dessas estruturas e mecanismos. 
CONCEITOS BÁSICOS RELACIONADOS À DEMOCRACIA
Segundo	 o	 pensador	 francês	 Rousseau,	 jamais	 houve	 e	
jamais haverá a verdadeira democracia, somente se houvesse um 
povo de deuses esse povo se governaria democraticamente. 
	Estas	 afirmações	 de	 Rousseau	 nos	 levam	 a	 perceber	 que	
as formas históricas de democracia muitas vezes encontram 
sustentabilidade em tais palavras. Segundo Bonavides:
Partindo do conceito de que ela deve ser o governo do 
povo,	para	o	povo,	verificar-se-á	que	as	formas	históricas	
referentes à prática do sistema democrático tropeçam 
Jean Jacques 
Rousseau	(Genebra,	
28 de junho de 1712 
— Ermenonville, 2 de 
julho de 1778) foi um 
filósofo	suíço,	escritor,	
teórico político e um 
compositor musical 
autodidata. Uma das 
figuras	marcantes	do	
Iluminismo francês, 
Rousseau	é	também	
um precursor do 
romantismo.
Saiba Mais
18 UNIDADE 01
por	 vezes	 em	 dificuldades.	 E	 essas	 dificuldades	
procedem exatamente (...) de não lograrmos alcançar 
a perfeição, na observância deste regime, o que, de 
outra parte, não invalida, em absoluto, segundo dizem, 
a diligência que nos incubiria fazer por praticá-lo, visto 
tratar-se da melhor e mais sábia forma de organização 
do poder, conhecida na história política e social de todas 
as civilizações (BONAVIDES, 2006, p. 286).
Outros autores também abordaram sobre a democracia de 
forma a não aceitá-la como perfeição, mas também não a negando.
Respondendo	 aos	 quantos	 fazem	 objeção	 ao	 sistema	
democrático de governo, o reformista do liberalismo 
inglês,	Lord	Russel,	dessa	maneira	se	exprimia:	“Quando	
ouço falar que um povo não está bastantemente 
preparado para a democracia, pergunto se haverá algum 
homem bastantemente preparado para ser déspota”;
Ainda	 temos	 a	 ironia	 fina	 do	 inglês	 Churchill:	 “A	
democracia é a pior de todas as formas imagináveis 
de governo, com exceção de todas as demais que já 
experimentaram”; 
Marnoco e Sousa, jurisconsulto português do início 
do	 século	 XX,	 escrevia	 que:	 “A	 melhor	 justificação	 do	
princípio democrático resulta da impossibilidade de 
encontrar outro que lhe seja superior” (BONAVIDES, 
2006, p. 286).
	Enfim,	ao	logo	da	história	moderna	temos	na	democracia	a	melhor	
forma de participação do povo nas decisões políticas. A ideia de soberania 
popular que permeia nossa sociedade ganha credibilidade na medida em 
que o povo é livre para escolher seus representantes. Não importa a 
significação	que	se	lhe	empreste,	ela	é	uma	força	condutora	dos	destinos	
da sociedade contemporânea. São raros os governos, sociedades ou 
estados que não se proclamem democráticos.
Modalidades de democracia
a) Democracia direta – A Grécia, mais precisamente Atenas, foi 
o berço da democracia direta, onde o povo reunido na Ágora – praça 
pública - discutiam os problemas da cidade, ou seja, exerciam o poder 
político.	 “A	praça	 representava	o	grande	 recinto	da	nação:	diariamente	
o povo concorria ao comício, cada cidadão orador, quando preciso. Ali 
Sir Winston Leonard 
Spencer Churchill 
(Woodstock,	30	de	
novembro de 1874 
— Londres, 24 de 
janeiro de 1965) foi 
um estadista britânico, 
escritor, jornalista, 
orador e historiador, 
famoso principalmente 
por sua atuação como 
primeiro-ministro do 
Reino	Unido	durante	
a Segunda Guerra 
Mundial.
Saiba Mais
19EDUCAÇÃO, ESTADO E CIDADANIA
eram discutidas todas as questões do Estado, nomeavam-se generais, 
julgavam-se crimes” (BONAVIDES, 2006, p. 290-291). 
Porém, a crítica moderna feita à democracia antiga é que apenas 
os cidadãos podiam participar da vida política da cidade, e os cidadãos 
representavam apenas uma porcentagem mínima da população da cidade. 
A maioria dos indivíduos que compunham as cidades era escrava. Então, 
muitos	autores	afirmam	que	na	Grécia	não	houve	democracia	verdadeira.
 Como experiência histórica, a democracia direta dos gregos foi 
a mais bela lição moral de civismo que a civilização clássica legou aos 
povos ocidentais.
b) Democracia indireta (representativa) – Passamos agora da 
democracia direta à concepção de democracia indireta, a dos tempos 
modernos, caracterizada pela presença do sistema representativo. No 
Estado moderno não dá mais para todos os cidadãos se reunirem em 
uma praça pública e discutirem os problemas da cidade, mesmo porque 
o Estado moderno já não é o Estado - cidade, mas o Estado - nação, de 
larga base territorial, sob a égide de um princípio político severamente 
unificador,	que	 risca	sobre	 todas	as	 instituições	sociais	o	seu	 traço	de	
visível	supremacia.	Então,	não	dá	mais	para	se	reunir	em	praça,	pois	“até	
mesmo a imaginação se perturba em supor o tumulto que seria congregar 
em praça pública toda a massa do eleitorado, todo o corpo de cidadãos, 
para fazer as leis, para administrar” (BONAVIDES, 2006, p. 293).
Além do mais, o homem da democracia grega era completamente 
diferente do homem da democracia moderna, pelo fato do grego ser 
integralmente político e o homem moderno ser apenas um acessório 
político, porque suas garantias políticas são validadas por um sistema 
jurídico que valida sua condição de sujeito.
Podemos entender a democracia indireta, segundo Bonavides, 
como:
A moderna democracia ocidental, de feição tão distinta 
da antiga democracia, tem por bases principais a 
soberania popular como fonte de todo poder legítimo, 
que se traduz através da vontade geral. (...) O sufrágio 
universal, com pluralidade de candidatos e partidos; a 
observância constitucional do princípio da distinção de 
poderes, com separação nítida no regime presidencial 
e aproximação e colaboração mais estreita no regime 
parlamentar; a igualdade de todos perante a lei; a 
manifesta adesão ao princípio da fraternidade social; a 
20 UNIDADE 01
representação como base das instituições políticas; a 
limitação de prerrogativas dos governantes; o Estado de 
direito, com a prática e proteção das liberdades públicas 
por parte do Estado e daordem jurídica, abrangendo 
todas as manifestações de pensamento livre; 
liberdade de opinião, de associação e de fé religiosa; 
a	 temporalidade	 dos	 mandatos	 efetivos;	 e,	 por	 fim,	 a	
existência plenamente garantida das minorias políticas, 
com direitos e possibilidades de representação, bem 
como das minorias nacionais, onde estas por ventura 
existirem (2006, p. 295).
Estas são as características da democracia indireta, onde o poder 
é do povo, mas o governo é dos representantes que governam em nome 
do povo, eleitos de forma democrática através do sufrágio universal por 
um determinado período denominado de mandato.
c) Democracia semidireta – Se na democracia direta o povo 
participava diretamente na discussão das coisas públicas, e na democracia 
indireta ele delega poderes para seus representantes legislarem em nome 
do povo, na democracia semidireta o povo ainda delega tais poderes aos 
seus representantes, mas este, o povo, acompanha de perto a atuação 
daqueles que foram eleitos. Este acompanhamento se dá através de 
mecanismos garantidos constitucionalmente. Determinadas instituições, 
como o referendum, a iniciativa, o veto e o direito de revogação fazem 
efetiva a intervenção do povo, lhe garantindo um poder de decisão 
em última instância. Vale ressaltar que não são todas as constituições 
federais modernas que garantem essas modalidades de participação 
efetiva da sociedade nas decisões diretas dos poderes.
 O Estado de Direito é uma situação jurídica, ou um sistema 
institucional, no qual cada um é submetido ao respeito do direito, 
do simples indivíduo até a potência pública. O Estado de direito é 
assim ligado ao respeito da hierarquia das normas, da separação dos 
poderes e dos direitos fundamentais. Em outras palavras, o Estado de 
Direito é aquele no qual os mandatários políticos (na democracia: os 
eleitos) são submissos às leis promulgadas.
21EDUCAÇÃO, ESTADO E CIDADANIA
As constituições pós Segunda Guerra empregaram alternativas 
de participação indireta através de agremiações que fazem o intercâmbio 
entre a sociedade civil e o poder, são os partidos políticos. Eles surgiram 
da necessidade de participação da classe trabalhadora nas decisões 
políticas. A pressão da camada inferior produziu a necessidade de se criar 
mecanismos de participação popular nas instâncias de poder com o teor 
reivindicatório. Eles representam a expressão ideológica das camadas 
da sociedade, onde nascem para áreas do Estado e suas instituições.
Os partidos políticos estão representando a vontade do povo.
	 A	 confiança	 que	 eles	 têm	 recebido	 no	 exercício	 de	
uma missão para a qual todos os povos democráticos 
hão delegado a parte mais considerável de suas forças, 
mostra claramente que o século político parece pertencer 
hoje aos partidos. Deixou de pertencer ao povo como 
massa numérica na anárquica e duvidosa expressão de 
seu voto direto e plebiscitário para pertencer ao povo-
organização, ao povo-massa, cuja vontade se enraíza 
e canaliza, pois através dos condutos partidários 
(BONAVIDES, 2006, p. 297).
Porém, há uma descrença generalizada nos partidos políticos 
que leva ao surgimento de vigilância social, tornando a democracia 
indireta em semidireta, como é o caso da constituição brasileira 
de 1988. Ela atua através de institutos garantidos pela legalidade 
decorrente de um estatuto que fora escrito de forma racional 
pelos representantes do povo devido à pressão da sociedade civil 
organizada através dos movimentos sociais. São eles:
 Referendum – O referendum é um modelo de participação 
política onde o povo tem o poder de sancionar leis. O parlamento 
elabora a lei, mas ela só terá validade jurídica e obrigatória depois 
 A democracia do Estado social é a democracia do Estado 
partidário, que não se confunde com a democracia parlamentar e 
representativa do Estado liberal. Nela, são os partidos a expressão 
mais viva do poder. Caracteriza-se como democracia coletivista, 
social, onde a compreensão dos valores humanos terá de fazer-se 
sempre com referência a grupos e não a indivíduos (BONAVIDES, 
2006, p. 300).
Parlamento é a 
assembleia dos 
representantes eleitos 
pelos cidadãos nos 
regimes democráticos 
e exercem 
normalmente o poder 
legislativo.
Saiba Mais
22 UNIDADE 01
da aprovação popular, que se dá através de votação dos cidadãos, que 
votarão a favor ou contra, por sua aceitação ou por sua rejeição.
 Segundo Bonavides, o referendum apresenta as seguintes 
vantagens:
Serve de anteparo à onipotência eventual das assembléias 
parlamentares; torna verdadeiramente legítima pelo 
assenso popular a obra legislativa dos parlamentos; 
dá	 ao	 eleitor	 uma	 arma	 com	 que	 sacudir	 o	 “jugo	 dos	
partidos”; faz do povo, menos aquele espectador, não 
raro adormecido ou indiferente às questões públicas, do 
que um colaborador ativo para a solução dos problemas 
delicados	 e	 da	 mais	 alta	 significação	 social;	 promove	
a educação dos cidadãos; bane das casas legislativas 
a	 influência	 perniciosa	 das	 camarilhas	 políticas;	 retira	
dos	“bosses”	o	domínio	que	exercitam	sobre	o	governo	
(BONAVIDES, 2006, p. 307).
É através do referendum que o Estado é vigiado pela sociedade 
contra as atitudes nefastas de legisladores corruptos e sem compromisso 
com a coisa pública. Mas existem os inconvenientes do referendum, pois 
à medida que o povo tem o poder de decidir ocorre o oposto com as 
câmaras legislativas e aí elas saem desprestigiadas com a diminuição 
de seus poderes. O povo também é despreparado para discutir o que é 
público e isso leva a uma abstenção muito grande e os projetos de leis 
são aprovados sem um debate mais preciso, além do enfado causado 
pelo debate popular em torno de questões sem nenhuma importância.
Plebiscito – O plebiscito também é uma modalidade de decisão 
popular	ou	de	consulta	direta	ao	povo.	Ele	consiste	em	conceder	confiança	
a um homem com ampla base de sustentação popular. Se no referendum 
vota-se num texto, no plebiscito vota-se por um nome.
Iniciativa – Este talvez seja o instituto da democracia semidireta 
que mais atende às exigências populares. 
O veto e o referendum (...) asseguram ao povo que ele não 
será submetido a uma legislação que não queira, mas não 
obrigam juridicamente o parlamento a legislar. Conferem 
tão somente ao povo o poder de embargar aquelas leis 
da	assembléia	parlamentar	que	se	lhe	afigurem	nocivas,	
ao passo que a iniciativa popular proporciona ao corpo 
de cidadãos o exercício de uma verdadeira orientação 
governamental, consubstanciada na capacidade jurídica 
de propor formalmente a legislação que no seu parecer 
23EDUCAÇÃO, ESTADO E CIDADANIA
melhor consulte o interesse público (BONAVIDES, 2006, 
p. 311).
 O cidadão tem o poder de fazer com que as leis funcionem, e é 
frequente a combinação entre o referendum e a iniciativa quando o povo 
entra	em	conflito	com	o	parlamento,	prevalecendo	a	decisão	da	iniciativa.
 Direito de revogação – Em alguns sistemas constitucionais de 
democracia semidireta o povo tem o poder de cassar o mandato eletivo 
de um funcionário ou parlamentar antes do término de seu mandato.
O direito de revogação é muito usado na Suíça e nos EUA e a 
modalidade mais empregada é o “recall”, que é a forma de revogação 
individual. Com ele, o indivíduo é capacitado a destituir funcionários cujo 
comportamento, por qualquer motivo, não lhe esteja agradando.
Determinado número de cidadãos, em geral a décima 
parte do corpo de eleitores, formula, em petição assinada, 
acusações contra o deputado ou magistrado que decaiu 
da	confiança	popular,	pedindo	sua	substituição	do	lugar	
que ocupa, ou intimando-o a que se demita do exercício 
de seu mandato. Decorrido certo prazo sem que haja 
demissão requerida, faz-se votação, à qual, aliás, 
pode concorrer, ao lado de novos candidatos, a 
mesma pessoa objeto do procedimento popular. 
Aprovada a petição, o magistrado ou funcionário 
tem	o	seu	mandato	revogado.	Rejeitada,	considera-
se eleito para o novo período (BONAVIDES,2006, 
p. 314).
 Esta modalidade de poder popular funciona principalmente 
na esfera municipal. 
 O veto - Segundo Maurice Duverger, o silêncio do povo 
equivale à aceitação, por isso foi criado o veto, que é um instrumento 
 
 Segundo Nildo Viana, os ‘’partidos políticos" atuais são 
organizações onde predomina a burocracia na sua estrutura e que 
se fundamentam na ideologia da representação política, e não no 
acesso direto do povo às decisões políticas, e possuem como objetivo 
conquistar o poder político estatal, além de serem expressões políticas 
de alguma oligarquia" econômica ou tradicional.
Petição inicial é a 
peça processual que 
instaura o processo 
jurídico, levando ao 
Juiz-Estado os fatos 
constitutivos do direito, 
também chamada de 
“causa	de	pedir”,	os	
fundamentos jurídicos 
e o pedido.
Saiba Mais
24 UNIDADE 01
de participação popular no exercício do poder. Com ele, o povo 
pode se manifestar contrário a uma medida ou lei, já devidamente 
elaborada pelos órgãos competentes e em vias de ser posta em 
execução.
O PODER NA GLOBALIZAÇÃO
A globalização não muda em nada as desigualdades 
que existem no mundo. Apesar de aumentar as integrações, as 
interdependências, aumenta também as contradições em todos 
os níveis. Tais contradições ou integrações ocorrem desde uma 
simples tribo até a terra como um todo.
 Esse entrelaçamento de nações, nacionalidades, etnias, minorias, 
grupos e classes sociais reproduz 
diversidades e desigualdades sociais, econômicas, 
políticas e culturais, em distintas gradações e múltiplos 
arranjos. Se há algo que se reproduz e acentua, em escala 
mundial, é o desenvolvimento desigual e combinado 
das relações e produções materiais e culturais. A não-
contemporaneidade, que já é um fato no âmbito da 
nação, generaliza-se e aprofunda-se no da sociedade 
global. São vários os universos culturais e materiais, 
reais e imaginários, que se entrecruzam e superpõem, 
complementam e divorciam, integram e antagonizam 
(IANNI, 2003, p. 127).
Isso ocorre em todo o mundo, independente de condição 
socioeconômica ou da religiosidade, pode ser islamismo, orientalismo, 
fundamentalismo, africanismo, latino-americanismo, budismo, 
cristianismo, protestantismo. Independente de cor, podem ser bran-
Maurice Duverger 
(5 de junho, 1917, 
Angoulême, França), 
cientista político e 
sociólogo.
Saiba Mais
 
 A globalização é um dos processos de aprofundamento da 
integração econômica, social, cultural, política, com o barateamento 
dos meios de transporte e comunicação dos países do mundo no 
final	 do	 século	 XX	 e	 início	 do	 século	 XXI.	 É	 um	 fenômeno	 gerado	
pela necessidade da dinâmica do capitalismo de formar uma aldeia 
global que permita maiores mercados para os países centrais (ditos 
desenvolvidos), cujos mercados internos já estão saturados.
25EDUCAÇÃO, ESTADO E CIDADANIA
cos, amarelos, negros, aborígines latino-americanos e caribenhos e 
outros	 grupos	 étnicos	 ou	 raciais.	 Independente	 de	 profissão,	 podem	
ser operários, camponeses, mineiros, empregados, funcionários, 
supervisores,	 técnicos,	 engenheiros,	 administradores,	 profissionais	
liberais, gerentes, proprietários, membros de igrejas, intelectuais, 
relações artísticas, caciques, líderes carismáticos e outros. Todas 
estas	 caracterizações	ou	determinações,	 além	dos	 significados	 sociais	
específicos	 de	 cada	 situação	 e	 lugar,	 também	 são	 simbolizadas	 ou	
estigmatizadas ideologicamente.
Essas desigualdades e contradições que ocorrem em todo o tipo 
de	sociedade	acentuam-se	mais	em	sociedades	estratificadas	em	grupos	
e classes sociais, que desdobram-se em desigualdades e hierarquias. 
Tem-se como consequência a má distribuição da produção, em que uma 
minoria se apropria da parte maior do excedente produzido e para a 
maioria só restam as migalhas. Assim se produzem e reproduzem padrões 
e valores socioculturais, signos e símbolos, estereótipos e ideologias que 
constituem uma parte fundamental do tecido da sociabilidade burguesa, 
em âmbito local, regional, nacional, continental e mundial.
A globalização, ao longo de sua história, tem no seu processo de 
formação forças que buscam a acomodação para equalizar interesses no 
sentido de reforçar estruturas de apropriação e dominação econômica. 
Ao longo dessa história sucedem-se os lemas que 
denotam o empenho de governantes de alguns países 
mais fortes em desenhar a face e o destino de outros 
países, continentes ou mesmo o mundo todo; progresso, 
evolução, reforma, revolução, industrialização, 
 O processo de globalização diz respeito à forma como os países 
interagem e aproximam pessoas, ou seja, como se interliga o mundo, 
levando em consideração aspectos econômicos, sociais, culturais e 
políticos. Com isso, gerando a fase da expansão capitalista, em que 
é	possível	 realizar	 transações	financeiras,	expandir	seu	negócio	até	
então restrito ao seu mercado de atuação para mercados distantes 
e emergentes, sem necessariamente um investimento alto de capital 
financeiro,	 pois	 a	 comunicação	 no	 mundo	 globalizado	 permite	 tal	
expansão, porém, obtêm-se como consequência o aumento acirrado 
da concorrência.
26 UNIDADE 01
urbanização, revolução de expectativas, crescimento, 
desenvolvimento, modernização, racionalização. 
Muitas vezes acompanhados de governos: liberais, 
bonapartistas, bismarckianos, fascistas, nazistas, 
falangistas, nasseristas, populistas, stalinistas e outros. 
Um lema ambicioso está sintetizado na expressão 
"nova ordem econômica mundial", geralmente pensada 
e falada em inglês, com sotaque norte-americano e os 
ingredientes do neoliberalismo. Em todos os casos, 
arrogam-se a ilusão de generalizar seus interesses e 
ideais, acomodar divergências e tensões, instituir as 
linhas principais da face e destino do mundo (IANNI, 
2003, p. 129).
 A forma como ocorre o processo de globalização leva 
toda instância da vida social, econômica e cultural da sociedade 
a criar uma rede de relações que aprofundam a interdependência 
das nações, povos, classes, grupos, indivíduos. A distância e o 
isolamento se tornam cada vez mais ilusórios. O mundo todo torna-
se um só.
O mundo globalizado mantém uma interdependência que 
não é somente econômica, mas também social, política e de 
seguridade. Ocorrem em todo o planeta possibilidades e dilemas 
sobre os quais a sociedade global apenas começa a tomar 
medidas	e	as	ciências	sociais	também	apenas	começam	a	refletir.	
A	 interdependência	 crescente	 que	 se	 verifica	 na	 sociedade	 de	
massa também leva ao surgimento dos problemas globais da 
humanidade, que são as necessidades de enfrentar coletivamente 
as catástrofes ecológicas, o combate às epidemias, à droga e à 
violência organizada, etc.
O que se percebe é que as decisões com relação 
aos problemas globais estão concentradas em 
algumas instituições, organizações, agendas, 
empresas, corporações, conglomerados. Denominam-
se internacionais, multilaterais, multinacionais, 
transnacionais, mundiais ou globais (IANNI, 2003, p. 
130). 
Os principais centros de comando da economia mundial podem 
ser elencados em número de quatro, que são: a Organização das Nações 
Unidas (ONU); as instituições ligadas ao sistema monetário mundial, 
como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Internacional de 
Impacto da 
globalização: A 
globalização afeta 
todas as áreas 
da sociedade, 
principalmente a 
comunicação, o 
comércio internacional 
e a liberdade de 
movimentação, 
com diferentes 
intensidades, 
dependendo do nível 
de desenvolvimento e 
integração das nações 
ao redor do planeta.
Saiba Mais
27EDUCAÇÃO, ESTADO E CIDADANIA
Reconstrução	e	Desenvolvimento	 (BIRD);	as	empresas,	 corporações	e	
conglomerados multinacionais; e em quarto lugar estão os interesses das 
classes dominantes em escala nacional global.
Primeiro	 vamos	 analisar	 uma	 espécie	 de	 “governo	
mundial”. Orgãos que poderiam ter o poder de decisão geral, 
de forma isenta sobre os problemas mundiais, não tomam 
asprovidências necessárias. É o caso da Organização das 
Nações	Unidas	(ONU),	com	as	suas	diversas	ramificações	de	
cunho político, econômico, social e cultural. Ela se apresenta 
como uma espécie de governo mundial, mas não dispõe das 
condições jurídico-políticas para agir como tal. Ela é presa 
aos países mais ricos que têm poder de decisão. Basta 
lembrar da guerra do Golfo e a invasão do Iraque, em que 
a sua decisão era de não invasão, mas os Estados Unidos 
tomaram	a	decisão	final,	e	aí	ocorreu	a	invasão	e	a	guerra.
Uma outra distinção destes centros de tomada de 
decisões encontramos, além da ONU, nas instituições ligadas 
ao sistema monetário mundial, como o Fundo Monetário 
Internacional	(FMI)	e	o	Banco	Mundial	(BIRD).	Tais	instituições	
financeiras	têm	sido	capazes	de	induzir,	bloquear	ou	reorientar	
políticas econômicas nacionais. Elas dispõem de todas as 
condições para atuar: são legítimas, têm recursos e capacidade de agir 
em todos os continentes.
O sistema econômico mundial funciona de forma nebulosa ao 
olho do homem comum, mas de fácil interpretação ao ser bem analisado. 
Funciona na hipótese de uma moda internacional ajustada através do 
câmbio e não se resume somente ao monetário, mas a um conjunto 
de	relações	comerciais	e	fiscais	que	são	reguladas	por	um	conjunto	de	
orgãos.
(...) As relações monetárias internacionais são regidas 
não apenas por estas normas do fundo, mas também 
por acordos e consultas entre as nações através de 
instituições internacionais: o Acordo Geral sobre Tarifas 
e Comércio (GATT), a Organização para Cooperação 
e Desenvolvimento Econômico (OECD), o Banco para 
Liquidações Internacionais (BIS) e outras organizações 
regionais, bem como a Conferência das Nações Unidas 
sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) (IANNI, 
2003, p. 132).
Fundo Monetário 
Internacional (FMI) 
é uma organização 
internacional que 
pretende assegurar o 
bom funcionamento 
do	sistema	financeiro	
mundial pelo 
monitoramento das 
taxas de câmbio 
e da balança de 
pagamentos, através 
de assistência técnica 
e	financeira.	Sua	sede	
é	em	Washington,	DC,	
Estados Unidos da 
América.
Saiba Mais
28 UNIDADE 01
Percebemos que o político e o econômico são 
indissociáveis para que o sistema funcione. Isso torna os 
países membros dependentes, ao mesmo tempo que são 
independentes.
Os mercados nacionais de capitais estão, também, em 
processo de globalização. As ações e decisões estão cada vez 
mais agilizadas graças ao avanço da tecnologia. 
Os avanços tecnológicos ocorridos nos anos recentes 
nos sistemas de telecomunicações e de computação 
também têm desempenhado um papel fundamental no 
processo de globalização dos mercados; já melhoraram 
de forma incomensurável os mecanismos de transmissão 
dos pagamentos entre países e têm permitido adquirir, 
analisar e difundir informações com mais rapidez e 
menos	custo	(WEST	apud	IANNI,	2003,	p.	133).
O mercado mundial é manipulado por forças de 
instituições que organizam e controlam o sistema monetário 
internacional. Isso seguindo os princípios do neoliberalismo. 
Provocam o reforço da ordem econômica internacional 
vigente, garantindo supremacias, associações e 
subordinações dos países, uns com relação aos outros, 
e também das classes sociais, umas com relação às 
outras, em escala mundial (IANNI, 2003, p. 134-135).
 As consequências dos programas de ajustamento 
de economias aos interesses dos poderosos ditados pelo FMI 
recaem sobre milhões de pessoas dos países devedores, 
principalmente sobre os menos favorecidos economicamente:
 
[...] A aplicação do programa de ajustamento estrutural, 
em um grande número de países devedores, favorece a 
globalização de uma política macroeconômica colocada 
sob o controle do FMI e do Banco Mundial, que atuam 
em nome de interesses poderosos, os dos Clubes de 
Paris e Londres e dos Sete Grandes. Esta nova forma 
de	dominação,	que	se	pode	denominar	de	“colonialismo	
de mercado'”, subordina povos e governos ao jogo 
anônimo e às manipulações deliberadas das forças 
deste mercado, uma situação sem precedente histórico 
nesta escala (IANNI, 2003, p. 134).
A Organização das 
Nações Unidas (ONU) 
foi	fundada	oficialmente	
a 24 de outubro 
de 1945, em São 
Francisco, Califórnia, 
por 51 países, logo 
após	o	fim	da	Segunda	
Guerra Mundial. A 
primeira Assembleia 
Geral ocorreu a 10 
de janeiro de 1946 
(Westminster	Central	
Hall,	localizada	em	
Londres). A sua sede 
atual é na cidade de 
Nova Iorque.
Saiba Mais
Neoliberalismo 
é uma doutrina 
econômica que 
defende a absoluta 
liberdade de mercado 
e uma restrição à 
intervenção estatal 
sobre a economia, 
só devendo esta 
ocorrer em setores 
imprescindíveis e 
ainda assim num grau 
mínimo (minarquia). É 
nesse segundo sentido 
que o termo é mais 
usado hoje em dia.
Saiba Mais
29EDUCAÇÃO, ESTADO E CIDADANIA
 Apenas os países ricos têm acesso ao consumismo, devido às 
políticas ditadas pelo FMI e o Banco Mundial. Mas essa realidade é 
dissimulada pela política econômica global, que submete as economias 
nacionais. 
 Um outro centro de comando - não mais e nem menos importante 
que os outros são as empresas, corporações e conglomerados ditos 
multinacionais, transnacionais, mundiais, globais ou planetários. Elas 
formam uma espécie de shopping center global e estão distribuídas no 
mundo	todo.		“Tanto	assim	que	certas	partes	do	mundo	dão	a	impressão	de	
uma vasta disneylândia, já que a mercadoria aparece como divertimento, 
algo lúdico, simulacro fascinante do real impossível” (IANNI, 2003, p.136).
A globalização encontra-se em todo lugar
 Com o mundo globalizado, o que temos é um verdadeiro 
depósito de mercadorias, organizado por alguns e disperso por todo o 
mundo. 
Os homens que dirigem as empresas globais são 
os primeiros homens na história que possuem a 
organização, a tecnologia, os recursos e a ideologia para 
fazer uma tentativa plausível de administrar o mundo 
como uma unidade integrada (...). A empresa global é 
a primeira instituição na história humana dedicada ao 
planejamento centralizado em escala mundial. Uma 
vez	que	sua	finalidade	básica	 consiste	em	organizar	e	
integrar a atividade econômica em todo o mundo, de 
modo a maximizar o lucro global, esta empresa constitui 
 O Banco Mundial é uma agência do sistema das Nações Unidas, 
fundado a 1 de julho de 1944, por uma conferência de representantes 
de	44	governos,	em	Bretton	Woods,	New	Hampshire,	EUA,	e	que	tinha	
como	missão	 inicial	financiar	a	reconstrução	dos	países	devastados	
durante a Segunda Guerra Mundial. Atualmente, sua missão principal 
é	 a	 luta	 contra	 a	 pobreza	 através	 de	 financiamento	 e	 empréstimos	
aos países em desenvolvimento. Seu funcionamento é garantido por 
quotizações	definidas	e	reguladas	pelos	países	membros.	É	composto	
por	184	países	membros.	Sede:	Washington,	DC,	EUA.
30 UNIDADE 01
uma estrutura orgânica da qual se espera que cada parte 
sirva ao todo (IANNI, 2003, p.136).
Neste sentido, o homem já não é mais o homem na sua essência, 
ele se automatiza à medida que é controlado pela máquina, pelo relógio, 
pelo gerente, etc. A sua vontade não mais lhe pertence, mas pertence ao 
empresário, ao patrão, e ele trabalha para satisfazer suas necessidades 
físicas para estar pronto para o trabalho no dia seguinte.
O predomínio dos interesses das classes dominantes, tanto em 
nivel	nacional	como	global,	tem	sido	cada	vez	mais	garantido	pela	eficácia	
e expansão da indústria cultural. Nela, a indústria do entretenimento 
é orquestrada de modo a divertir, distrair e interpretar, com base em 
informações escassas, fragmentárias, seletivas.
 
Em escala crescente, as audiências mundiais são 
alcançadas pelas mensagens que criam a ilusão de uma 
aldeia global, de um vasto simulacro da realidade, da vida 
social. Tudo que é real se desmancha no simulacro de 
um video-clip monumental, construído à volta do mundo. 
Assim se produz e reproduz a multidão de solitários 
povoando o silêncio de milhões (IANNI, 2003, p.117).Não podemos fugir do mundo da cultura. Estamos contaminados 
em todas as partes, a ponto de, inconscientemente, embebedarmo-nos 
acreditando estar no real. Tanto no trabalho como no descanso não 
fugimos da força da produção cultural. No descanso principalmente, no 
sentido de não nos voltarmos para a realidade social.
A indústria cultural pode ser vista como uma técnica 
social, por meio da qual trabalham-se mentes e 
corações.	 É	 claro	 que	 a	 sua	 eficácia	 é	 desigual;	
inclusive é contrabalançada pela criatividade cultural de 
indivíduos, grupos e classes em diferentes condições 
de vida e trabalho. Mas é uma expressão inegável da 
cultura mundial e está presente no modo pelo qual os 
indivíduos e a coletividade informam-se, divertem-
se, ocupam seu tempo livre, pensam os .problemas 
reais e imaginários. Grande parte dos trabalhadores 
assalariados de todo o mundo, do campo e da cidade, de 
todas as etnias, culturas, línguas e religiões, é alcançada 
pelas mensagens da indústria cultural (IANNI, 2003, p. 
138).
31EDUCAÇÃO, ESTADO E CIDADANIA
A indústria cultural faz com que o que antes era necessidade hoje 
seja desejo. Desejo este que cria a sociedade do ter, do possuir, pois 
o mundo trata as pessoas pela suas posses, pela sua griffe, pela sua 
etiqueta. A indústria cultural é alimentada pela tecnologia eletrônica, 
que hoje exerce o papel de intelectual das massas. É lógico que esse 
intelectual das massas é alimentado por intelectuais da elite. São eles 
que criam, organizam e elaboram os programas, as artes, as músicas, 
etc., com imagens, cores, formas, sons, movimentos, falas, ritmos, 
espaços voltados para embebedar as massas. 
Resumindo,	estes	são	alguns	dos	principais	centros	de	comando	da	
socidade global. Eles podem ser paralelos, independentes, convergentes, 
mas têm o poder de decidir sobre a vida das pessoas.
 
Todas as principais formas de poder global prevalecentes 
no mundo contemporâneo estão articuladas segundo 
os princípios da economia de mercado, da apropriação 
privada, da reprodução ampliada do capital, da 
acumulação capitalista em escala global. Mas a economia 
é sempre também política, os fatores da produção, ou 
as forças produtivas são sempre também sociais. As 
relações, os processos e as estruturas de apropriação 
econômica são sempre também de dominação política, 
envolvendo antagonismos e integração sociais (IANNI, 
2003, p. 139).
 É nessa nova realidade mundial que se forma um modelo de 
sociedade livre e controlada ao mesmo tempo. Livre pelo modelo liberal de 
sociedade e controlada pela indústria que mostra esse tipo de liberdade 
como única, verdadeira e real. 
 Um intelectual é uma pessoa que usa o seu "intelecto" para 
estudar,	 refletir	 ou	 especular	 acerca	 de	 ideias,	 de	modo	 que	 o	 uso	
do	seu	intelecto	possua	uma	relevância	social	e	coletiva.	A	definição	
do intelectual é realizada, principalmente, por outros intelectuais 
e	 acadêmicos.	 Estes	 definem	 o	 termo	 segundo	 seus	 próprios	
posicionamentos	intelectuais,	fato	este	que	complexifica	a	definição.	
Autores	como	Bobbio,	Lévy	e	Demo,	citados	na	Bibliografia,	concordam	
com	um	aspecto	em	comum:	o	intelectual	é	definido	pelo	meio	social	
no qual vive e/ou no qual estabelece sua trajetória social.
32 UNIDADE 01
O neoliberalismo é bem uma expressão de economia 
política da sociedade global. Forjou-se na luta contra o 
estatismo, o planejamento, o protecionismo, o socialismo, 
em defesa da economia de mercado, da liberdade 
econômica concebida como fundamento da liberdade 
política, condição de prosperidade coletiva e individual. 
A Guerra Fria, na qual ocorreu a industrialização do 
anticomunismo, foi o seu ninho. E a crise dos países do 
Leste Europeu, inclusive da União Soviética, ou seja, dos 
regimes	de	economia	planificada,	é	interpretada	como	a	
vitória dos seus ideais, a gloriosa realização das suas 
verdades (IANNI, 2003, p. 139-140).
 A diferença do neoliberalismo para o liberalismo clássico é que 
o liberalismo clássico era voltado para a sociedade nacional, e o 
neoliberalismo	enraíza-se	diretamente	no	mercado	mundial,	no	fluxo	de	
capital, tecnologia, força de trabalho, mercadoria, lucro, mais-valia. Não 
existe fronteira para esse modelo de mercado. 
 Mas, nada vai contra os princípios do liberalismo clássico de 
liberdade, igualdade, propriedade e contrato, só que agora tudo está sob o 
controle das multinacionais, corporações, conglomerados, organizações 
que estão em poucos lugares e em todos os lugares.
O neoliberalismo, através do FMI e do Banco Mundial, tem imposto 
a governantes de muitos países do Terceiro Mundo a política econômica 
das gandes corporações, empresas, conglomerados, etc. Essa política 
econômica baseia-se nos princípios do mercado livre, no jogo das forças de 
mercado da livre empresa, livre iniciativa, competitividade, produtividade, 
lucratividade, economias de escala, vantagens comparativas, divisão 
internacional do trabalho, mão invisível. É baseado no princípio de 
liberdade, da democracia, do livre comércio que o neoliberalismo se 
mantém e fundamenta a liberdade política baseada na soberania popular. 
Seu lema principal está resumido na ideia de que a liberdade econômica 
é	o	fundamento	da	liberdade	política.	“Entretanto,	a	função	reguladora	é	
sistematicamente exercida pelas instituições mundiais, tais como o FMI, 
o	BIRD,	o	GATT	e,	também,	por	bancos	privados	de	maior	envergadura’’	
(IANNI, 2003, p. 141) .
Não podemos esquecer nem negar a social-democracia que 
floresce	com	a	sociedade	global	em	vários	países		continentes.	
Ela	se	beneficia	bastante	do	clima	criado	com	a	Guerra	
Fria, a indústria do anticomunismo, o temor da luta de 
33EDUCAÇÃO, ESTADO E CIDADANIA
classes, o medo da revolução social. A expansão do bloco 
socialista, soviético ou não-capitalista, impressionou 
alguns setores sociais nos países dominantes, 
associados e dependentes (IANNI, 2003, p. 141-142). 
 Na social-democracia, o Estado de bem-estar social mostrou 
que existe uma forma de distribuição do produto do trabalho coletivo, de 
forma a atender parcela menos favorecida da população. O trabalhador 
tem acesso à saúde, à educação, à moradia, a benefícios sociais, 
baseado no princípio de que o Estado é quem cobra os tributos, mas 
esses tributos devem ser revertidos como forma de benefício social para 
a sociedade. 
 Porém, nem o neoliberalismo nem a social-democracia consegue 
organizar a economia mundial, devido às reivindicações dos diferentes 
setores da sociedade. A economia mundial é dinâmica, ela se renova a 
todo o tempo e lugar, até mesmo naqueles países de conomia intocável, 
pois	onde	tem	ser	humano	existe	questão	social.	“A	dinâmica	da	produção	
ampliada do capital frequentemente se impõe sobre a vida social, política 
e	cultural’’	(IANNI,	2003,	p.	143).
 Todas essas condições são favoráveis para o surgimento dos 
mais variados modelos políticos e de desenvolvimento da sociedade. 
 A social-democracia	 é	 uma	 ideologia	 que	 surgiu	 no	 fim	 do	
século XIX e início do século XX por partidários do marxismo que 
acreditavam que a transição para uma sociedade socialista poderia 
ocorrer sem uma revolução, mas por meio de uma evolução 
democrática. A ideologia social-democrata prega uma gradual reforma 
legislativa	 do	 sistema	 capitalista	 a	 fim	 de	 torná-lo	 mais	 igualitário,	
geralmente tendo em meta uma sociedade socialista.
 Estado de bem-estar social ou Estado-providência (em 
inglês:	Welfare	state)	é	um	tipo	de	organização	política	e	econômica	
que coloca o Estado (nação) como agente da promoção (protetor 
e defensor) social e organizador da economia. Nesta orientação, o 
Estado é o agente regulamentador de toda a vida e saúde social, 
política e econômica do país em parceria com sindicatos e empresas 
privadas, em níveis diferentes, de acordo com a nação em questão. 
34 UNIDADE 01
Nesse contexto surgem as perspectivas socialistas, como organização 
de uma sociedade onde predomina uma politica econômica controladaúnica e exclusivamente pelo Estado, e em que a democracia realiza-se 
simultaneamente como democracia política, social, econômica e cultural.
Na globalização as contradições sociais também globalizam-se. O 
que era desigual no âmbito regional agora é desigual em âmbito mundial. 
Mas a parte pior recai sobre os países pobres do terceiro mundo. A forma 
como cresce a produção ampliada do capital, cresce o processo de 
proletarização, de pauperização. 
Alcança níveis mais amplos e acentuados a alienação 
material e espiritual de africanos, asiáticos, caribenhos, 
latino-americanos. Simultaneamente, as mesmas 
populações apropriam-se de padrões, valores, ideais, 
signos, símbolos, formas de pensar e imaginar, com 
os quais se armam para se defender, resistir, lutar e 
emancipar-se (IANNI, 2003, p. 144).
No capitalismo global subsistem e desenvolvem-se as 
contradições entre as próprias classes dominantes em todos os níveis 
– nacional e mundial. Neste ponto, reabre-se o problema da construção 
da hegemonia. Seria impossível conceber formas de poder global, ou a 
hipótese de um Estado supranacional, sem levar em conta as condições 
e possibilidades de construção da hegemonia. Desde logo coloca-se o 
problema	da	dificuldade,	 ou	melhor,	 impossibilidade,	 de	 construção	de	
uma hegemonia propriamente global.
A	primeira	dificuldade	é	que	nem	o	neoliberalismo,	nem	a	social-
democracia, nem o socialismo, ou qualquer outra forma de poder, 
democrático ou autoritário, pode colocar-se como autônomo. Existem 
os avanços e recuos. O que ocorre nos níveis político, social e cultural 
não só ocorre em ritmos distintos, mas também de modo desigual, 
contraditório, desencontrado. A globalização em curso produz e reproduz 
desigualdades e antagonismos, e isso polariza grupos, classes, etnias, 
minorias e outros setores das sociedades nacionais e da sociedade 
global. 
Outra	dificuldade	diz	respeito	às	estruturas	de	poder	já	constituídas,	
que tomaram a dianteira na administração do mundo, estarem baseadas 
em países fortes, predominantes, imperialistas. São países que controlam 
a economia mundial, manipulando recursos e decisões, canalizando 
vantagens e favorecimentos.
35EDUCAÇÃO, ESTADO E CIDADANIA
Há	também	na	construção	da	hegemonia,	em	escala	
mundial, redução progressiva das diferenças que fundam 
a alienação de amplos setores da população mundial. As 
mais diversas formas de organização da vida e trabalho, em 
todos os países, sempre estiveram atadas a alguma forma de 
expropriação de excedentes, distribuição desigual do produto 
do trabalho coletivo, alienação do trabalho e do trabalhador.
Também na formação desse controle mundial 
está	 o	 	 reconhecimento,	 preservação	 e	 florescimento	 das	
diversidades, em que todas as categorias sociais, étnica, 
religiosa e outras sejam garantidas pelas condições 
institucionais, jurídico-políticas e materiais para preservarem, 
modificarem	 ou	 desenvolverem	 os	 seus	 modos	 de	 ser,	 sentir,	 pensar,	
agir, sonhar, imaginar. 
Por	fim,	a	construção	da	hegemonia	implica	também	a	construção	
da cidadania, em escala mundial. Isso só pode acontecer se no âmbito 
de uma sociedade global aberta existir uma espécie de sociedade civil 
global, isenta das estruturas de dominação que garantem a alienação de 
muitos por alguns. Somente nesta sociedade pode nascer o cidadão do 
mundo. Neste caso, a cidadania traz consigo a soberania, traduzindo a 
essência da hegemonia.
Acesse os sites:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Globaliza
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cidadania
Baseado nos textos lidos na Unidade I produza um texto 
relacionando Educacão, Estado e Sociedade.
Alienação aqui se 
refere à diminuição 
da capacidade dos 
indivíduos em pensar e 
em agir por si próprio.
Saiba Mais
36 UNIDADE 01
Nesta unidade abordamos os elementos da Teoria Geral do 
Estado, conceitos de Estado e de sociedade, como se processa a 
relação sociedade e Estado por meio dos processos democráticos, 
conceitos e formas de democracia, ainda os institutos da democracia 
semidireta e a maneira como o poder está distribuído no mundo.
UNIDADE 02
Educação e Cidadania
39EDUCAÇÃO, ESTADO E CIDADANIA
EDUCAÇÃO E CIDADANIA
NOÇÕES BÁSICAS SOBRE CONCEITOS DE CIDADANIA E 
DIREITOS
 O termo “cidadania” é muito usado entre os grupos que 
lidam diretamente e indiretamente com questões sociais. Ele 
aparece na fala de políticos e intelectuais, militantes políticos, nos 
meios de comunicação, etc. Nas décadas de 60 e 70, no Brasil, o 
tema	cidadania	tinha	uma	conotação	pejorativa.	Hoje,	a	cidadania	é	
assunto de debate de diversas obras sociais que reivindicam saúde, 
educação,	fim	da	discriminação	sexual	e	racial,	etc.,	além	do	mais,	é	
um assunto discutido tanto nos países capitalistas como nos países 
socialistas. 
 Mas a pergunta é: o que é cidadania? Existe cidadania ou 
cidadanias? Veja o que diz Maria de Lourdes Covre:
Para muita gente ser cidadão confunde-se com 
o direito de votar. Mas quem já teve alguma 
experiência política - no bairro, escola, igreja, 
sindicato, etc. -sabe que o ato de votar não garante 
nenhuma cidadania se não vier acompanhado 
de determinadas condições de nível econômico, 
político,	social	e	cultural	(COVRE,	1998,	p.	8-9).
 
Ser cidadão não é apenas votar; ser cidadão é ter direitos e 
deveres	como	manda	a	Carta	dos	Direitos	Humanos	da	Organização	
das Nações Unidas (ONU) de 1948. Sobre a proposta mais profunda 
de cidadania, Covre comenta:
 
[...] todos os homens são iguais ainda que perante 
Cidadania (do latim 
civitas,"cidade") é o 
conjunto de direitos 
e deveres aos quais 
um indivíduo está 
sujeito em relação à 
sociedade em que 
vive.
Saiba Mais
A Declaração 
Universal dos 
Direitos Humanos é 
um dos documentos 
básicos das Nações 
Unidas e foi assinada 
em 1948. Nela são 
enumerados os 
direitos que todos 
os seres humanos 
possuem.
Saiba Mais
40 UNIDADE 02
a lei, sem discriminação de raça, credo ou cor. E ainda: 
a todos cabe o domínio sobre seu corpo e sua vida, o 
acesso a um salário condizente para promover a própria 
vida, o direito à educação, à saúde, à habitação, ao 
lazer. E mais: é direito de todos poder expressar-se 
livremente, militar em partidos políticos e sindicatos, 
fomentar movimentos sociais, lutar por seus valores. 
Enfim,	 o	 direito	 de	 ter	 uma	 vida	 digna	 de	 ser	 homem	
(COVRE,	1998,	p.	9).
Com relação a seus deveres:
[...] Ele deve ser o próprio fomentador da existência dos 
direitos de todos, a ter responsabilidade em conjunto pela 
coletividade, cumprir normas e propostas elaboradas e 
decididas coletivamente, fazer parte do governo, direta 
ou indiretamente, ao votar, ao pressionar através dos 
movimentos sociais, ao participar das assembléias – no 
bairro, sindicato, partido ou escola. E mais, pressionar o 
governo municipal, estadual, federal e mundial (em nível 
de grandes organismos internacionais como o Fundo 
Monetário	Internacional	–	FMI)	(COVRE,	1998,	p.	9).
Esses direitos e deveres são difíceis de ser efetivados, porque 
quem detém o poder faz com que as coisas funcionem de forma a atender 
a seus interesses e não ao interesse de todos. Quem ainda faz valer 
os direitos, se souberem usá-la, é a Constituição de cada país. Ela é 
uma arma nas mãos de todos os cidadãos que serve para encaminhar e 
conquistar as propostas de igualdade. É através da reivindicação que o 
indivíduo pode chegar a exercer sua cidadania. Para isso, ele deve saber 
que tem o direito de reivindicar os direitos. 
As pessoas devem saber que não são somente receptoras de 
direitos, são acima de tudo sujeitos dos direitos que lhes cabem. Não 
devem esperar que as soluções dos problemas venham espontaneamente, 
mas devem fazer com que as instituições funcionem.
A cidadania pode ser dividida em direitos civis, políticos e sociais:
Os direitos civis
 Os direitos civis dizem respeito basicamente ao direito de se dispor 
do próprio corpo, do direito de ir e vir, de segurança, etc. O direito ao que 
é natural, que é o direitoao nosso próprio corpo, é muito pouco respeitado 
Constituição é o 
conjunto de leis, 
normas e regras 
de um país ou de 
uma instituição. 
A Constituição 
regula e organiza o 
funcionamento do 
Estado. É a lei máxima 
que limita poderes e 
define	os	direitos	e	
deveres dos cidadãos. 
Nenhuma outra lei 
no país pode entrar 
em	conflito	com	a	
Constituição.
Saiba Mais
41EDUCAÇÃO, ESTADO E CIDADANIA
para a maioria da população do mundo. No caso brasileiro, o período da 
ditadura militar foi um atentado contra a cidadania, com a cassação da 
liberdade de expressão, de ir e vir, com a tortura e o assassinato de quem 
ia contra a ordem vigente. Atualmente, temos o esquadrão da morte, 
somos obrigados a nos recolher cedo, a cercar nossas casas com muros 
altos, cercas elétricas, ou seja, somos tolhidos no nosso direito de ir e 
vir. Temos o trabalho escravo em fazendas, principalmente nas regiões 
Norte e Nordeste.
O que torna a análise mais grave é que essas pessoas que 
são tolhidas em seus direitos civis são pessoas das camadas menos 
privilegiadas economicamente, advindas da classe trabalhadora, levadas 
à marginalidade devido ao modelo de produção da vida material, o 
chamado capitalismo selvagem.
A luta pelos direitos civis tem sido bastante intensa. Mas, para que 
eles sejam respeitados, dependemos da existência dos direitos políticos, 
que por si dependem de regimes democráticos.
Os direitos sociais
 Os direitos sociais dizem respeito ao atendimento de necessidades 
básicas como alimentação, habitação, saúde, educação, etc. Isso quer 
dizer que as pessoas devem ter trabalho e ser bem remuneradas para 
poder ter acesso a todos esses bens com dignidade.
Os direitos políticos
 Os direitos políticos dizem respeito a ter livre expressão de 
pensamento político, direito de votar e ser votado, direito à prática 
religiosa, ao relacionamento com outros homens em sindicatos, 
partidos, movimentos sociais, escolas, conselhos, associações de 
bairro, etc.
Esses direitos, vinculados uns aos outros, dão sustentação 
a uma vida digna fazendo com que direitos e deveres sejam 
respeitados e que tenhamos uma sociedade mais harmônica e 
saudável.
Janett Ramirez é 
mestre em educação 
pela	PUC-Rio.	
Membro da equipe 
de Formação de 
Promotores Populares 
da Novamérica e 
do Comitê Local da 
Revista	Nuevamérica	/
Novamérica.
Saiba Mais
42 UNIDADE 02
MOVIMENTOS SOCIAIS: LÓCUS DE UMA EDUCAÇÃO PARA A 
CIDADANIA - JANETT RAMIREZ 
A	sociedade	brasileira	é	uma	sociedade	que	vem	se	modificando	
muito rapidamente, tornando-se cada vez mais complexa, contraditória 
e atravessada por ambiguidades de todo tipo. A lei e a incivilidade 
cotidiana, preconceitos e discriminações, direitos e privilégios, 
a defesa dos legítimos direitos e o corporativismo, a experiência 
democrática e práticas autoritárias, a reivindicação de direitos e a 
prática clientelista fazem do Brasil uma sociedade heterogênea e 
desigual.
No entanto, nesse contexto complexo e nessa dinâmica 
conflitiva	 é	 que	 se	 situa	 a	 questão	 da	 cidadania	 como	 problema	
teórico, histórico, político e como esperança. Ela é construída num 
espaço sujeito aos imprevistos dos acontecimentos, entre a trama 
da história, da cultura e da política, assim como num terreno no 
qual estão presentes uma tradição autoritária e excludente e muitas 
tentativas, em geral, frustradas de superá-la.
É importante assinalar que essa sociedade apresenta também 
sinais	de	‘’uma	sociedade	civil	emergente,	com	práticas,	experiências	
e acontecimentos que reatualizam a invenção democrática, onde 
se	 afirmam	 e	 renovam	 práticas	 de	 representação,	 interlocução	 e	
negociação	de	interesses’’	(TELLES,	1994,	p.	93-102).
Para compreendermos o processo de construção da cidadania 
numa sociedade como a brasileira, nos aproximaremos dela a partir das 
lutas dos movimentos sociais. Partiremos da problematização do próprio 
conceito de movimento social. Este será analisado no âmbito dos novos 
movimentos sociais e do movimento popular. O segundo eixo refere-
se mais ao processo histórico da construção da cidadania no contexto da 
sociedade brasileira. Esta aproximação será feita a partir das lutas dos 
movimentos sociais, com especial ênfase no período de 1970 a 1990. Por 
último, abordaremos a questão de educar para a cidadania no contexto 
dos movimentos sociais.
Movimentos sociais: uma categoria controvertida
Movimento	 social	 é	 uma	 categoria	 difícil	 de	 se	 definir	
conceitualmente e muito controvertida. Tem tido ao longo do tempo 
diferentes	significados.	 ‘’O	 termo	"movimentos	sociais"	surgiu	por	volta	
Movimento social é 
uma expressão técnica 
usada para denominar 
organizações 
estruturadas com a 
finalidade	de	criar	
formas de associação 
entre pessoas e 
entidades que tenham 
interesses em comum, 
para a defesa ou 
promoção de certos 
objetivos perante a 
sociedade.
Saiba Mais
43EDUCAÇÃO, ESTADO E CIDADANIA
de 1840, com Lorenz Von Stein, na sociologia acadêmica. Com 
essa categoria pretendia-se estudar os movimentos europeus desse 
momento: o movimento proletário francês e o comunismo e socialismo 
emergentes	(SCHERER-WARREN,	1989,	p.	12).
Essa categoria foi desenvolvida, posteriormente, no âmbito do 
marxismo para representar a organização da classe trabalhadora em 
sindicatos e partidos que buscavam a transformação das relações 
capitalistas de produção. Por isso, conforme Doimo, 
até início dos anos de 1960, falar em ‘movimentos 
sociais’	 significava	 referir-se	 à	 luta	 do	 proletariado	
e acreditar na sua organização racional, isto é, 
diagnósticos claramente baseados em premissas 
científicas,	metas	previamente	definidas	e	regras	e	
normas	eficazes	para	alcançar	os	objetivos	(DOIMO,	
1995, p. 39).
A partir dos anos de 1970, o termo movimentos 
sociais começa a designar múltiplas formas 
espontâneas de participação, organizadas em torno 
da esfera da cultura e em contestação à lógica capitalista 
e da racionalidade dominante. São os denominados, 
atualmente, de novos movimentos sociais (Idem, 1995, 
p. 37).
A mudança de movimentos sociais para novos movimentos sociais 
é explicada por diferentes autores. Para Cruz (1987), o modelo social 
Marxismo é o conjunto 
de	ideias	filosóficas,	
econômicas, políticas 
e sociais elaboradas 
primariamente por 
Karl Marx e Friedrich 
Engels e desenvolvidas 
mais tarde por outros 
seguidores. Interpreta 
a vida social conforme 
a dinâmica da luta 
de classes e prevê 
a transformação 
das sociedades de 
acordo com as leis 
do desenvolvimento 
histórico de seu sistema 
produtivo.
Saiba Mais
 
Feminismo é um movimento sociopolítico que luta pela igualdade 
das	 mulheres	 em	 relação	 aos	 homens.	 Já	 foi	 definido	 como	 uma	
ideologia que objetiva a igualdade - ou o que seria mais preciso - 
a igualdade entre os sexos. Contudo, há autoras feministas que 
procuram demonstrar como a própria concepção de sexo biológico 
advém de uma compreensão simbólica do mundo que é orientada pela 
concepção	de	gênero.	Outros	estudiosos	definem	o	feminismo	como	
um	 conjunto	 de	 ideias	 políticas,	 filosóficas	 e	 sociais	 que	 procuram	
promover os direitos e interesses das mulheres na sociedade civil. No 
entanto, os feminismos, em suas múltiplas formas (como veremos a 
seguir), estão relacionados a desejos, políticas e interesses de outros 
grupos civis, não somente de mulheres. 
44 UNIDADE 02
imperante	entre	1945	até	 finais	dos	anos	de	1960	 teve	 três	pontos	de	
rupturas e como resposta a cada uma delas surgiram propostas de auto-
organização. A primeira ruptura, de natureza social (crise de família, de 
relações	pais	e	filhos,	perda	de	fé	nas	crenças	tradicionais),	teve	como	
resposta os movimentos feministas e de jovens. 
O segundo momento de esgotamento da sociedade provocou 
a	 ruptura	 do	 modelo	 vigente	 de	 Estado	 (ineficiência	 administrativa,	
incapacidade de prestar serviços, deterioração da legitimidade) e 
estimulou o aparecimento de movimentos de vizinhança e das associações 
de moradores.Por último, a ruptura do modelo de desenvolvimento 
(crise econômica, recessão e desemprego, contaminação ambiental, 
esgotamento de recursos naturais, carreira armamentista etc.) fez surgir 
os	movimentos	ecológicos,	cooperativistas,	pacifistas,	etc.	Assim,	com	a	
revolução pós-industrial, o movimento operário deixa de ser o personagem 
central da história social e econômica, cede espaço ao campo cultural, 
que se torna o lugar onde se dão as principais contestações e lutas.
Estes novos movimentos são o resultado do questionamento dos 
valores culturais e morais, das antinomias dos movimentos políticos 
tradicionais, da explosão dos movimentos que sacudiram a Europa no 
final	do	ano	de	1960,	da	desmistificação	dos	regimes	socialistas	do	leste,	
da erosão dos esquemas teóricos clássicos marxistas. Eles apresentavam 
os direitos humanos como bandeira de luta, as ações diretas como meios 
de atuação e contestavam a política institucional vigente. 
Importante assinalar que, para Cruz (1987), essa foi uma época 
otimista que propugnava a possibilidade - através desses movimentos 
sociais - da transformação social, da construção de uma sociedade 
radicalmente democrática, da criação de um outro poder com força 
sociopolítica alternativa à lógica do Estado capitalista. A emergência 
dos novos movimentos sociais como fato político-social e cultural foi 
expressão da crise social e de um despertar da cidadania: “[...] se as 
instituições estão numa encruzilhada, isso se deve à emergência de 
novas demandas sociais, representadas, antes de mais nada, por 
esse despertar da cidadania que são os novos movimentos sociais” 
(p. 98).
Para o autor, todos os "novos movimentos sociais" coincidem com 
necessidades não só básicas como radicais, sendo essas demandas um 
desafio	e	uma	esperança	para	a	democracia.
‘’Estas	 necessidades	 são	 a	 busca	 de	 autonomia	 das	
45EDUCAÇÃO, ESTADO E CIDADANIA
atividades econômicas, a desconcentração do poder, a 
liberdade como construção cultural de uma nova ordem 
moral, o respeito ao meio ambiente e a necessidade de 
democratizar	a	democracia’’	(CRUZ,	1987,	p.	99).
Na visão de Touraine (1995), nas últimas décadas deu-se a crise da 
filosofia	do	progresso	devido	às	catástrofes,	crises	econômicas,	aumento	
da miséria, campos de concentração, totalitarismos, etc. Ante estas 
situações apresentaram-se duas possíveis saídas. A primeira refere-se 
à	 eficácia	 econômica	 que	 supõe	 uma	 visão	 de	mundo	 economicista	 e	
unitária, marcada pelo neoliberalismo e pelo processo de globalização. 
A segunda, situada no âmbito de uma política cultural ou ética, refere-
se	à	defesa	das	 identidades.	Essa	 luta	pela	afirmação	das	 identidades	
culturais pode, no entanto, conduzir à fragmentação cultural e política 
ou ao diálogo entre culturas e o reconhecimento da diversidade cultural. 
Para Touraine,
a saída dessa situação passaria pelo esforço para lutar 
contra esse esfacelamento e para dizer que podemos 
combinar	eficácia	e	identidade,	na	condição	de	se	centrar	
sobre a capacidade que têm os indivíduos, os grupos, 
as categorias e as coletividades de construírem sua 
própria experiência. Seja o tema dos direitos do homem 
ou os temas humanitários (...) mas que são da mesma 
natureza, o que a gente poderia chamar de capacidade 
de elaborar um projeto de vida, de ter a liberdade, de 
ter responsabilidade. É a nova maneira de conceber os 
movimentos sociais hoje.
[...] movimento social é sempre uma reivindicação de 
liberdade, quer dizer, de capacidade de construir seu 
próprio projeto de vida, contra o autoritarismo político, 
contra a miséria econômica, contra a discriminação 
racial, etc. Os movimentos sociais são hoje a expressão 
organizada de defesa do sujeito (p. 33-34).
Doimo	 (1995)	 afirma	 que	 é	 preciso	 tomar	 certo	 cuidado	 com	 a	
utilização do conceito novos movimentos sociais, apesar dele fazer 
parte do vocabulário dos analistas sociais, porque ele não é aceito 
unanimemente por todos os estudiosos do tema. Existem diversas 
posições.	 Uns	 contestam,	 afirmando	 que	 o	 novo	 não	 resulta	 tão	 novo	
assim, apresentando demandas que existiram também no passado. 
Doimo	 afirma	 que	 Touraine	 não	 abre	 mão	 das	 organizações	
racionais e da busca de uma certa unidade que, superior a todos os 
46 UNIDADE 02
particularismos, corporativismos ou insensatos, caracteriza o genuíno 
movimento	social:	“aquele	que	capta	as	tendências	centrais	da	cultura,		
coloca-se na luta de face com a classe dirigente” (DOIMO, 1995, p. 42).
Eles reconhecem como novos só aqueles que respondem às 
demandas	 atuais,	 como	 os	 ecológicos	 e	 pacifistas.	 Outros,	 apesar	 de	
coincidir em caracterizar os novos movimentos sociais como diversos, 
fragmentários e localizados, propõem tentativas práticas de se voltar 
ao caráter de unidade, buscando manter o velho desejo de um grande 
sujeito de transformação social como no passado. 
A	 autora	 afirma	 também	 que	 ao	 nos	 referirmos	 aos	 novos	
movimentos sociais estamos utilizando uma categoria cunhada por 
intelectuais	 europeus	 para	 dar	 conta	 do	 perfil	 de	 condutas	 coletivas	 e	
das diversas demandas que, após os anos de 1970, passaram a girar em 
torno da crise do padrão assistencial-previdenciário do welfare state e 
das transformações da própria sociedade industrial.
Landinelli	 (apud	 CAMACHO,	 1987,	 p.	 216)	 considera	 os	 novos	
movimentos sociais como uma dinâmica gerada pela sociedade civil 
que	 se	 orienta	 para	 a	 defesa	 de	 interesses	 específicos.	 Sua	 ação	 se	
dirige para o questionamento - seja de modo fragmentário ou absoluto - 
das estruturas de dominação prevalecentes e sua vontade implícita de 
transformar parcial ou radicalmente as condições sociais. Segundo ele, 
os movimentos sociais não têm que ser necessariamente organizados. 
Eles podem ser locais, regionais, classistas, pluriclassistas, etc. 
Após termos nos aproximado do pensamento de alguns autores 
sobre o conceito de movimentos sociais e novos movimentos sociais, 
procuraremos ressaltar algumas de suas características.
Para Gunder e Fuentes (1989), os novos movimentos sociais 
caracterizam-se pela sua grande heterogeneidade. Demostram muita 
variedade e mutabilidade, mas têm em comum a mobilização individual 
baseada num sentimento de ética e (in)justiça e num poder social 
baseado na mobilização social contra as privações e exclusões e pela 
sobrevivência e identidade. Outra característica que pode ser assinalada 
é	a	afirmacão	de	 sua	autonomia	em	 relação	ao	poder	estatal.	Eles	 se	
mobilizam e se organizam independentemente do Estado, de suas 
instituições e dos partidos políticos.
Há	 várias	 tentativas	 de	 classificação	 desses	 movimentos.	 Para	
alguns, podem ser agrupados em três tipos: os movimentos contra projetos 
tecnológicos, militares, burocráticos; os movimentos de emancipação 
-	 eco-pacifismo,	 feminismo,	 direitos	 humanos;	 e,	 em	 terceiro	 lugar,	
47EDUCAÇÃO, ESTADO E CIDADANIA
os movimentos de busca, em que se agrupam múltiplos movimentos 
culturais em busca de estilos de vida diferentes. Para outros, esses 
movimentos se agrupam ern dois tipos: os emancipativos ou ofensivos, 
que oferecem uma perspectiva de mudança social e de liberação de um 
coletivo importante, e os de resistência, que oferecem traços de oposição 
e	rejeição	à	sociedade	moderna	(MARCONDES,1996,	p.	28-29).
A composição dos movimentos sociais agrupa especialmente 
membros das novas classes médias que desejam uma participação 
política e social menos dirigida pelas elites, grupos excluídos que sofrem 
as consequências do sistema neoliberal e membros das velhas classes 
médias que se vinculam aos movimentos diante de problemas locais e 
pontuais que podem afetá-los. Para Gunder e Fuentes (1989), no ocidente 
predominam os movimentos de classe média; no sul, de classe popular e 
uma mistura de ambos no Leste Europeu.
Alguns	 autores,	 como	 Wolkmer	 (1993),	 afirmam	 que	 o	 papel	
que os novos movimentos sociais estão desenvolvendo

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