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MÓDULO 03 - TEXTO 03

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Nos textos anteriores  compreendemos: o que é o DHANA e quais as suas dimensões
(respeitar, proteger, promover, prover); quais os atores envolvidos neste processo; quais
os titulares de direito e os agentes públicos (portadores de deveres); quais as
necessidades de identificarem-se e criarem-se novas competências (ações) para garantir
o cumprimento do DHANA (camadas da cebola) pelo Estado.
 Ainda entendemos que para criar novas competências é importante se reconhecer
enquanto titular de direito para  exigir seu direito, ou seja, reconhecer a alimentação 
adequada como um direito e identificar formas e medidas para prevenir as violações a
esses direitos ou repará-los (vamos aprofundar sobre participação e controle social no
último módulo ). É importante lembrar que alia-se ao direito de reclamar o direito de
obter resposta e ação em tempo oportuno. 
 Agora vamos conhecer como o poder público pode se organizar para criar novas
competências e/ou garantir as já existentes. Vamos falar sobre Políticas Públicas e sobre
a sua relação com a sociedade na construção de um fluxo virtuoso de ações
garantidoras de direitos sociais que estão expressos e garantidos na constituição federal
brasileira.
Políticas Públicas
O QUE É POLÍTICA?
 Política é um conceito geralmente mal compreendido, muito ligado aos espaços de
poder e práticas partidárias e legislativas onde nós, cidadãos e cidadãs, participamos
escolhendo representantes, por meio do voto, para representar-nos em espaços de
elaboração de leis e tomada de decisões de processos que nem sempre vão ao encontro
do que desejamos.
 Também está fortemente ligado ao imaginário, junto às, cada dia mais comuns, ‘fake
news’, que citam questões políticas, geralmente vinculadas à corrupção, a escândalos, a
roubos, à ineficiência e a processos antiéticos.
 Mas vamos compreender o sentido e o significado da palavra política?
 
 O termo política é um substantivo feminino que refere-se a “habilidade em relacionar-
se com os outros, tendo em vista a obtenção de resultados desejados” ou seja, é uma
forma de buscar construir consensos. Vejam uma situação prática. Quando temos um
conflito, é possível resolvê-lo de duas formas: por meio da força ou do diálogo. Ou
resolvemos uma tensão social por meio do consenso ou da violência. 
P o l í t i c a s P ú b l i c a s d e S e g u r a n ç a A l i m e n t a r e N u t r i c i o n a l ( S A N ) p a r a o c u m p r i m e n t o
d o D i r e i t o H u m a n o à A l i m e n t a ç ã o e N u t r i ç ã o A d e q u a d a s
01CURSO DE EXTENSÃO DIÁLOGOS SOBRE SOBERANIA E SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL:
DESAFIOS E PERSPECTIVAS PARA O FORTALECIMENTO DO SISAN NOS MUNICÍPIOS
MÓDULO 03 - TEXTO 03
E isso pode ser extrapolado para todas as dimensões da vida (por exemplo, em casa ou
no trabalho) e pode definir desde os rumos de um conflito doméstico até as decisões que
podem mudar os rumos de um país.
 As guerras, em seu sentido amplo, são resultado da falência das possibilidades
de diálogo e de conversa. São resultados da intolerância e da incapacidade de
construir consensos. As ditaduras são o exemplo mais radical da falta de diálogo. Visto
desta forma, percebemos que a política tem uma responsabilidade muito grande, pois é
só por meio dela, por mais difícil que seja, que podemos garantir o caráter democrático
dos processos. É só com participação e transparência que as relações conseguem chegar
a consensos. 
 Mas harmonizar conflitos, escutar e pensar coletivamente para construir isso, não é
fácil. Para fazer a escuta e considerar todos os pontos de vista, há de se ter tempo e
paciência. Fazer política, de certa forma, pode ser interpretado como a “arte do diálogo,”
do saber ouvir, do respeito, da tolerância, do “caminho do meio”, de propor possibilidades
que articulem e acolham o conjunto de necessidades da maioria. Políticas, num contexto
de democracia, devem respeitar todas estas etapas. Em tempos de autoritarismo e
ditadura, estes processos são desconsiderados e as decisões políticas são  “simplificadas
e centralizadas”. Por decisões superiores, às vezes retira-se da política sua
característica principal, o diálogo, e ela passa a ser uma expressão de poder
autoritário e se encaminha para um caminho de retrocesso na democracia.
 Nos regimes democráticos, a política é a atividade de todos os cidadãos que se ocupam dos
assuntos públicos com seu voto, sua participação em partidos políticos ou com seu ativismo
social. Não é, portanto, uma atividade restrita aos representantes dos partidos políticos eleitos
por meio do voto popular. Vivemos numa conjuntura em que a política é  super questionada,
pois é confundida com as ações dos políticos ‘profissionais’, principalmente, representada pelos
maus políticos. Mas é importante saber que todas as pessoas que se envolvem com uma
causa pública, seja pela via da organização de um partido político, seja por meio de
uma campanha pública, ativismo em movimento social ou organização não
governamental, está praticando política. Dessa forma, todas as nossas ações são políticas e
motivadas por decisões ideológicas, isto é, por nossas crenças, nossas formas de compreender e
viver em sociedade. Tudo que fazemos na vida tem consequências e somos responsáveis por
nossas ações, e a omissão, em qualquer aspecto da vida, significa deixar que os outros
escolham por nós.
 Perceba que estamos fazendo política ao compartilhar nossas experiências para o
fortalecimento da segurança alimentar e nutricional e após o que aprendemos sobre circuitos
alimentares, soberania, DHANA, você consegue perceber que até comer é um ato político?
Agora que já sabemos o que é política podemos avançar para a definição de política pública, mas
antes precisamos entender qual o sentido do termo público. “Público” em geral, carrega algumas
inverdades que precisam ser pensadas, por exemplo: Se é público é para pobres! Público é
gratuito e por isso não tem o mesmo valor de algo que é pago! Na verdade, o termo público
quer dizer  “para todos” os cidadãos. 
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Primeiro, e como já dito, o que define o caráter público da política está mais em sua
intenção de responder um problema público, do que na natureza jurídica estatal ou
não- estatal do tomador de decisão. Assim, a política pública envolve vários atores e
níveis de decisão, embora seja materializada nos governos. 
Segundo, implica em pensar na própria formação do problema público, uma vez que
são os contornos da definição de um problema público (conhecimento do problema,
relevância para a coletividade, atores envolvidos, relações de poder e outros aspectos)
que dão à política o adjetivo “pública”.
E, em hipótese alguma, pode ser visto como um “pacote mínimo para pobres que não
podem “comprar” serviços privados. Público é uma expressão do Estado como portador
de deveres.
 As políticas públicas são um conjunto de regramentos e diretrizes que orientam a
ação do poder público e que mediam as relações entre atores da sociedade civil e o
Estado.É comum a ideia de que as políticas públicas são feitas e executadas diretamente
pelos representantes do Estado, o que até ocorre, mas não necessariamente.  A premissa
principal para ser pública é que seu processo de elaboração e execução seja
submetido ao diálogo com a sociedade e norteado pelos interesses públicos
(JAIME,2019). São formuladas e apresentadas em documentos (leis, decretos, planos e
programas) que orientam as ações públicas e, normalmente, envolvem a alocação de
recursos públicos, oriundos dos impostos arrecadados. É, portanto, a forma de devolução
de bens e serviços públicos aos cidadãos que pagaram os seus impostos.
 Importa destacar que a essência conceitual de políticas públicas é o problema público
e isto implica em dois pontos:
 Para que um tema seja considerado como problema público deve-se levar em
consideraçãotanto a quantidade das pessoas atingidas (os atores envolvidos em sua
definição), quanto o entendimento que sua resolução é coletivamente relevante. Neste
caso, como afirma Secchi (2010), um problema só se torna público quando os atores
políticos intersubjetivamente o consideram problema (situação inadequada) e público
(relevante para a coletividade). 
 A política pública desta forma poder ser vista como uma ação intencional, cujas
estratégias orientam as decisões relativas à alocação de bens e serviços públicos, assim
como os modelos de gestão a serem adotados para sua implementação, execução,
monitoramento e avaliação.
 Essa forma de observar a política pública se aproxima do modelo de análise do Ciclo
de Políticas Públicas, o qual considera a política pública como um ciclo deliberativo,
formado por vários estágios, constituindo um processo dinâmico e de aprendizados,
conforme a figura a seguir.
 
03CURSO DE EXTENSÃO DIÁLOGOS SOBRE SOBERANIA E SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL:
DESAFIOS E PERSPECTIVAS PARA O FORTALECIMENTO DO SISAN NOS MUNICÍPIOS
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Como a SAN é identificada como um problema público?  Quem participa da definição
da SAN como 'problema público?
Como a SAN é incluída na Agenda Pública? Como ela toma forma? A partir de um
programa de governo? De um planejamento orçamentário? De uma legislação? De
forma residual ou estruturante?
Quais são as alternativas elencadas para a resolução do problema indicado? Por que
algumas alternativas e não outras? Que experiências nos permitem analisar tais
alternativas? Quais os objetivos e metas estabelecidos? Quais os métodos, programas,
estratégias ou ações que poderão alcançar os objetivos?
Como se dá o processo de tomada de decisão sobre quais caminhos e alternativas
seguir?
Como ocorre o processo de planejamento, da execução e de implementação? Como
será transformado o que foi pensado em prática? Como será operacionalizada a
política pública (planos, programas, projetos, ações, instrumentos, equipamentos)?
Quem são os atores e como estarão envolvidos neste processo (burocratas; atores
políticos e sociais)
Como se dará a avaliação? Que resultados podem ser alcançados? O que deve ser
alterado?
 Ressalta-se que tal ciclo é uma forma analítica, pois geralmente na prática os
estágios/fases se misturam e as sequências se alternam. De todo modo, é um modelo
bem utilizado no processo de elaboração de políticas públicas e nos permite trazer
questionamentos em todas estas fases, nos ajudando a refletir sobre a política pública de
SAN (sua relevância, trajetória, institucionalização e implementação).
 Para cada fase deste Ciclo de Políticas Públicas podemos fazer perguntas do tipo:
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 Podemos concluir então que…
 As políticas públicas fazem parte do exercício de poder e organização do Estado,
ocorrem no contexto social, e como tal, são dinâmicas e estão em constante
transformação. Assim, as políticas  públicas fazem parte de um processo dinâmico, com
negociações, pressões, mobilizações, alianças ou coalizões a depender dos interesses
envolvidos. 
 Entender a formação de uma agenda, por exemplo sugere ponderar que ela pode ou
não refletir interesses dos diferentes setores da sociedade, dependendo de mecanismos
que viabilizem a participação dos sujeitos, bem como da mobilização social de cada setor.
(JAIME,2019)
 
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POLÍTICA PÚBLICA DEVE:
SER TRANSPARENTE, EXPLÍCITA E
DEFENSÁVEL;
PROMOVER ACESSO A DIREITOS
COLETIVOS, BEM ESTAR E JUSTIÇA SOCIAL.
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POLÍTICA NACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL (PNSAN)
 Vamos entender um pouco sobre da Política Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional (PNSAN).  A criação da PNSAN, pelo Decreto 7.272, de 25 de agosto de 2010
pode ser percebida como um ápice da consolidação da Segurança Alimentar e Nutricional
(SAN) na agenda pública brasileira. A política de SAN é o resultado de uma forte e
contínua mobilização social voltada para o combate à fome e miséria de anos, mas que se
intensificaram na década de 1990, agregando outros setores da sociedade, dialogando
com o governo, que toma a decisão política de incorporar a proposta na agenda de
governo.
OBJETIVOS E DIRETRIZES DA PNSAN
A PNSAN tem como objetivo geral promover a segurança alimentar e nutricional, na forma do art.
3o da Lei no 11.346, de 15 de setembro de 2006, bem como assegurar o direito humano à
alimentação adequada (DHAA) em todo território nacional. E tem como base as seguintes
diretrizes:
I - promoção do acesso universal à alimentação adequada e saudável, com prioridade para as
famílias e pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional;
II - promoção do abastecimento e estruturação de sistemas sustentáveis e descentralizados, de
base agroecológica, de produção, extração, processamento e distribuição de alimentos;
III - instituição de processos permanentes de educação alimentar e nutricional, pesquisa e
formação nas áreas de segurança alimentar e nutricional e do direito humano à alimentação
adequada;
IV - promoção, universalização e coordenação das ações de segurança alimentar e nutricional
voltadas para quilombolas e demais povos e comunidades tradicionais de que trata o art. 3o,
inciso I, do Decreto no 6.040, de 7 de fevereiro de 2007, povos indígenas e assentados da
reforma agrária;
V - fortalecimento das ações de alimentação e nutrição em todos os níveis da atenção à saúde,
de modo articulado às demais ações de segurança alimentar e nutricional;
MÓDULO 03 - TEXTO 03
FONTE: ADAPTADO DA ABRANDH (2013)
MÓDULO 03 - TEXTO 03
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VII - apoio a iniciativas de promoção da soberania alimentar, segurança alimentar e
nutricional e do direito humano à alimentação adequada em âmbito internacional e a
negociações internacionais baseadas nos princípios e diretrizes da Lei no 11.346, de
2006; e
VIII - monitoramento da realização do direito humano à alimentação adequada.
 Pelas diretrizes podemos perceber alguns elementos importantes e norteadores da
política, que é a distribuição de papéis para diferentes atores sociais e políticos, a
participação social, descentralização das ações e a intersetorialidade. Com relação aos
papéis das diferentes esferas de governo, o caráter descentralizado confere à União,
estados e municípios a responsabilidade conjunta nas etapas de formulação,
implementação, avaliação e monitoramento das ações de SAN, de acordo com seus
alcances e realidades locais. Nas três esferas, as ações podem ser executadas por
diferentes setores, como educação, agricultura, saúde, assistência, desafiando a
fragmentação dos conhecimentos no âmbito das políticas públicas específicas. Essas
ações, pautadas em um objetivo comum, compartilhadas entre os diferentes setores,
incluindo ou não,  governo e sociedade civil fazem parte do que conhecemos por
intersetorialidade. No tocante à PNSAN, os setores envolvidos têm de estar alinhados
aos objetivos e diretrizes que orientam a política, contribuindo para a garantia da SAN, em
consonância com suas competências e especificidades  (JAIME, 2019).
 No próximo módulo vamos aprofundar sobre como se dá a execução dessa política e
toda sua complexidade.
ABRANDH. Ação Brasileira pela Nutrição e Direitos Humanos. O direito humano à alimentação e à
nutrição adequadas e o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Brasília:
ABRANDH, 2013.
JAIME, Patrícia. Políticas públicasde alimentação e nutrição. Rio de Janeiro: Atheneu, 2019. 
INCUBES. Material de apoio do curso MULTIPLICASSAN. João Pessoa: INCUBES, 2018.
RAIS. Caderno metodológico para formação de multiplicadores em SAN/DHAAS. Brasília: 
RAIS, 2016. Disponível em: http://www4.planalto.gov.br/consea/publicacoes/direito-humano-a-
alimentacao-adequada/caderno-metodologico-para-formacao-de-multiplicadores-em-san-e-
dhaas/4-caderno-metodologico-para-formacao-de-multiplicadores-em-san-e-dhaas.pdf.
SECHI, Leonardo. Políticas Públicas. Conceitos, esquemas análiticos, Casos Práticos. São Paulo:
Cengage learning, 2010
Referência Bibliográfica

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