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é finalizada com uma breve discussão sobre os desafios e as oportunidades do setor de telecomunicações no Brasil que possui características próprias adquiridas durante sua evolução. O minicurso que você ministrou foi um grande sucesso, com a adesão de vários alunos que tiveram notas excelentes. A ideia do curso foi boa para melhorar a sua comunicação com o público e se sentir mais confiante. Algum tempo depois, você recebe uma ligação de uma secretária de Brasília. Você não contava com uma audiência tão diversificada no dia da sua apresentação, durante o evento de telecomunicações e agora é convidado por um grupo de políticos para dar uma palestra em Brasília e para falar sobre o contexto atual do cenário das telecomunicações. Este grupo está preocupado com a votação de algumas leis que estão por vir e eles sabem que muitas vezes os cargos públicos são ocupados por leigos e é importante que Diálogo aberto U1 - Introdução às telecomunicações36 eles sejam instruídos para exercer melhor suas atividades públicas. Sua tarefa agora será instruir sua audiência com linguagem direta e simples. Assim, você aceita o convite e parte para o próximo desafio. Quase que instantaneamente, você começa a preparar o conteúdo da apresentação. Visto que o objetivo é uma apresentação mais específica, você decide voltar ao seu primeiro modelo de apresentação, por contexto histórico. No contexto histórico do Brasil, você começa a partir do momento em que parou na sua primeira apresentação. Além disso, você separa o contexto em períodos de transição, explicando os aspectos mais importantes entre cada um deles, mas ainda tem dúvidas sobre como vai abordar o panorama brasileiro. Assim, você começa a se questionar: como relacionar o contexto brasileiro com os acontecimentos externos da mesma época? Será possível explicitar de forma clara como as interfaces das políticas públicas funcionam? E com relação aos desafios e oportunidades do setor de telecomunicações no Brasil, eles têm ideia do que está por vir? Estas são as informações que você deve passar para sua audiência e deve estar preparado para responder às diversas dúvidas que possam surgir. Na Seção 1.1, fechamos o assunto da tecnologia de comunicação no ano de 1888. Algum tempo depois, estas tecnologias também chegaram ao Brasil. Inicialmente, o desenvolvimento e a expansão da infraestrutura foram estabelecidos por iniciativa privada na qual participaram empreendedores nacionais e internacionais. Nesta época, a configuração organizativa caracterizava-se pela extrema fragmentação do poder de outorgar concessões, na forma de exploração de serviços, nas diretrizes e metas de ampliação ou cobertura territorial dos serviços e no estabelecimento de tarifas. Desta forma, para um Brasil que conquistara independência quase recentemente, isso era uma grande oportunidade de mercado para companhias internacionais já estabelecidas no setor de infraestrutura para sistemas de comunicação. Além disso, as facilidades econômicas proporcionadas pela telecomunicação conhecidas pelos homens de negócio alimentavam um crescimento mundial da indústria das comunicações. O estabelecimento de um dos primeiros sistemas Não pode faltar U1 - Introdução às telecomunicações 37 de comunicação do Brasil se deveu pela iniciativa do empreendedor Irineu Evangelista de Sousa. Em 1872, Irineu teve o privilégio de explorar as comunicações telegráficas por 20 anos, lançando a comunicação por cabo submarino entre o Brasil e a Europa, de acordo com Herce (2015). Até o fim do século XIX e metade do século XX, os sistemas de comunicação foram estabelecidos gradualmente pelas capitais do país ligando as várias regiões remotas e de difícil acesso, conforme aponta Nascimento (2008). Durante o século XX, o modelo privado de gestão permaneceu até o fim dos anos de 1960. Havia vários organismos que controlavam a exploração sobre a comercialização dos sistemas de comunicação. A Companhia Telefônica Brasileira (CTB), subsidiária da Canadian Traction Light and Power Company, possuía dois terços dos assinantes no Brasil em 1957. A maior parte se concentrava nas áreas dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Havia também a Companhia Telefônica Nacional (CTN), filial da International Telephone and Telegraph, no Rio Grande do Sul. Em Minas Gerais e no Espírito Santo havia as subsidiárias da CTB. Nesta época, existiam aproximadamente 900 concessionárias municipais. Apesar de servir o propósito inicial de expandir o acesso a sistemas de comunicação, sofria com a ausência de coordenação e de objetivos comuns de desenvolvimento e ampliação dos serviços. Neste modelo, empresas privadas e públicas prestavam serviços de telecomunicação no Brasil e a prioridade era atender áreas de maior poder econômico, político e social. Como resultado, gerou-se uma situação de extrema precariedade que se desviava das diretrizes governamentais de modernização da infraestrutura. O desenvolvimento do país era dificultado, pois havia diferenças regionais na existência e na prestação de serviços, conforme aponta Nascimento (2008). Após o início da década de 1960, houve um movimento estratégico importante para se mudar o cenário das comunicações. Reflita Você já imaginou se grande parte das tecnologias de comunicação tivesse nascido no Brasil? Reflita sobre essa situação. U1 - Introdução às telecomunicações38 Nascimento (2008) afirma que até os anos de 1950 não existia uma preocupação para se criar políticas públicas que viabilizassem um maior controle pela regulamentação e organização do setor. Desta forma, no início dos anos de 1960, a política básica para as telecomunicações constituía-se em, primeiro, criar o Conselho Nacional de Telecomunicações (CNT), subordinado à Presidência da República, com as atribuições de coordenar, supervisionar e regulamentar o setor de telecomunicações; segundo, autorizar a criação da Empresa Brasileira de Telecomunicações S/A (Embratel) que tinha a finalidade de tratar dos sistemas de comunicação de longa distância nas principais cidades do país – a primeira intervenção governamental direta se deveu pela Embratel, que inicialmente operava parte dos serviços de ligação internacional –; terceiro, instituir o Fundo Nacional de Telecomunicações (FNT), que proporcionava o financiamento das atividades da Embratel. A aprovação do Código Brasileiro de Telecomunicações (1962) forneceu as bases para ações normativas e executivas do Estado. Posteriormente, em 1967, o Ministério das Comunicações (Minicom) é formado, como aponta Nascimento (2008). Dentro deste contexto, a interconexão urbana no início dos anos de 1970 ainda não tinha bom nível de qualidade tecnológica. Este problema foi contornado pela criação de uma sociedade de economia mista. Em 1972, é autorizada a criação da Telecomunicações Brasileiras S/A (Telebras) que tinha objetivo de operar o Sistema Nacional de Telecomunicações e estava sob responsabilidade do Minicom. O principal objetivo do governo era adquirir todas as companhias telefônicas existentes e realizar a integração do seu sistema em cada estado por uma empresa-polo (por exemplo: Telesp em São Paulo, Telerj no Rio de Janeiro, Telemig em Minas Gerais e assim por diante). Houve um salto de 1,4 milhões para 5 milhões de terminais instalados no país, marcando este período com uma expansão expressiva. Na mesma época, a Telebras implantou o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (CPqD) em Campinas, São Paulo, para o desenvolvimento tecnológico do setor. No CPqD, foi estabelecido uma política industrial visando à consolidação de um parque brasileiro voltado à demanda da Embratel. Como resultado desta época, podemos citar alguns dos principais acontecimentos, de acordo com Nascimento (2008). U1 - Introdução às telecomunicações