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Daniel (N Comentario)

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DANIEL
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 Introdução 
 Plano do livro 
 Capítulo 1 Capítulo 4 Capítulo 7 Capítulo 10 
 Capítulo 2 Capítulo 5 Capítulo 8 Capítulo 11 
 Capítulo 3 Capítulo 6 Capítulo 9 Capítulo 12 
 
INTRODUÇÃO 
 
I. POSIÇÃO NO "CÂNON" 
 Na Bíblia hebraica o livro de Daniel se encontra na terceira 
divisão, os Hagiographa, e não na segunda, na qual aparecem os livros 
proféticos. A razão disso não é que Daniel tenha sido escrito depois dos 
livros proféticos. Em algumas listas, pode-se observar, Daniel é incluído 
na segunda divisão do "cânon". Entretanto, o motivo pelo qual Daniel 
veio a ser colocado na posição que atualmente ocupa depende da posição 
de seu escritor na economia do Antigo Testamento. 
 Os autores dos livros proféticos eram homens que ocupavam a 
posição técnica de profeta; isto é, eram homens especialmente 
levantados por Deus para servir de mediadores entre Deus e a nação, 
declarando ao povo as palavras idênticas que Deus lhes tinha revelado. 
Daniel, porém, não foi profeta nesse sentido restrito e técnico. Foi antes 
um estadista na corte de monarcas pagãos. Na qualidade de estadista, 
possuía realmente o dom profético, embora não tenha ocupado o ofício 
profético, e é nesse sentido, aparentemente, que o Novo Testamento o 
chama de profeta (Mt 24.15). Portanto, Daniel foi estadista, inspirado 
por Deus para escrever o livro que tem seu nome, pelo que também esse 
livro aparece no "cânon" do Antigo Testamento na terceira divisão, entre 
os escritos de outros homens inspirados que não ocuparam o ofício 
profético. 
 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 2 
II. PROPÓSITO 
 No monte Sinai, no deserto, o Deus do céu e da terra depositou 
Sua afeição de modo peculiar sobre Israel, escolhendo essa nação para 
ser Seu povo e declarando que Ele seria seu Deus. Dessa maneira entrou 
em relação de concerto com Israel, manifestando tal relação por um 
poderoso ato de livramento. Seu propósito para com essa nação era que 
ela fosse um "reino de sacerdotes" e que Deus fosse seu governante. 
Assim foi estabelecida a teocracia (governo de Deus). Israel deveria ser 
uma nação santa, uma luz para iluminar os gentios e dar testemunho do 
conhecimento salvador do verdadeiro Deus a todos. 
 Israel, todavia, não foi fiel a esse alto propósito. Depois que já se 
achava por algum tempo na Terra Prometida, exibiu insatisfação com os 
princípios fundamentais da teocracia ao solicitar um rei humano, para 
que fosse semelhante às nações ao seu derredor. Em primeiro lugar lhe 
foi dado um homem mau como rei, e então um homem segundo o 
próprio coração de Deus. Davi, entretanto, era homem de guerra, pelo 
que não foi senão durante o reinado pacífico de Salomão que o templo, o 
símbolo externo do reino de Deus, foi edificado. Após a morte de 
Salomão rebelaram-se as tribos do norte, renunciando às promessas da 
aliança. Dessa ocasião em diante, tanto nos reinos do norte como do sul, 
a iniqüidade passou a caracterizar o povo, pelo que Deus anunciou Sua 
intenção de destruí-los (cf. Os 1.6; Am 2.13-16; Is 6.11-12, etc.). Os 
instrumentos que o Deus soberano empregou para realizar Seu propósito 
de fazer ponto final na teocracia foram os assírios e babilônios. Sob o 
poder dessas nações o povo teocrático foi levado em cativeiro, e o exílio 
ou período de "Indignação" foi iniciado (Is 10.25; Dn 8.19). O próprio 
exílio foi seguido por um período de expectativa e preparação para a 
vinda do Messias. Foi revelado que um período de setenta vezes sete 
tinha sido determinado por Deus para a materialização da obra 
messiânica (Dn 9.24-27). O livro de Daniel, um produto do exílio, serve 
para mostrar que o próprio exílio não seria permanente. Pelo contrário, a 
própria nação que havia conquistado Israel desapareceria da cena da 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 3 
história para ser substituída por outra e, de fato, por três outros grandes 
impérios humanos. Enquanto esses impérios estivessem em existência, 
entretanto, o Deus do céu erigiria outro reino que, diferentemente dos 
reinos humanos, seria ao mesmo tempo universal e eterno. O propósito 
de Daniel, por conseguinte, é ensinar a verdade que, embora o povo de 
Deus esteja escravizado em uma nação pagã, o próprio Deus é seu 
soberano e aquele que em última análise dispõe dos destinos, tanto dos 
indivíduos como das nações. 
 Essa verdade é ensinada por meio de um rico uso de símbolos e 
comparações, e o motivo dessa característica se encontra no fato que as 
revelações feitas a Daniel tiveram a forma de visão. O livro de Daniel, 
pois, pode assim ser chamado de obra apocalíptica, mas se eleva muito 
acima dos apocalipses pós-canônicos. A única obra que pode com justiça 
ser-lhe comparada é o livro neo-testamentário do Apocalipse. 
Essencialmente, Daniel exibe as qualidades de um livro verdadeiramente 
profético e suas comparações são usadas tendo em vista um propósito 
didático. 
 
III. AUTOR 
 O livro de Daniel é um produto do exílio e foi escrito pelo próprio 
Daniel. Pode-se notar que Daniel fala na primeira pessoa do singular e 
assevera que as revelações foram feitas a Ele (Dn 7.2,4 e segs.; 8.1 e 
segs. 8.15 e segs.; 9.2 e segs. etc.). Visto, entretanto, que esse livro 
forma uma unidade, segue-se que o autor da segunda porção (capítulos 7 
a 12) deve também ter composto a primeira (capítulos 1 a 6). O segundo 
capítulo, por exemplo, é preparatório para os capítulos 7 e 8, que 
desenvolvem seu conteúdo de modo mais completo e claramente o 
pressupõem. As idéias do livro refletem um ponto de vista básico e essa 
unidade literária tem sido reconhecida por eruditos de diferentes escolas 
de pensamento. O livro de Daniel reflete ambientes babilônicos e persas, 
e as alegadas objeções históricas (que serão discutidas no comentário) 
não são realmente válidas. Finalmente, uma aprovação indireta à 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 4 
autenticidade do livro parece encontrar-se nas seguintes passagens do 
Novo Testamento: Mt 10.23; 16.27 e segs.; 19.28; 24.30; 25.31; 26.64. 
 Na Igreja Cristã tem sido tradicionalmente mantido, devido às 
reivindicações do próprio livro, que o Daniel histórico foi seu autor. A 
primeira dúvida conhecida a ser lançada sobre esse ponto de vista veio 
da parte de Porfírio de Tiro (nascido cerca de 232-233 A. C.), um 
vigoroso oponente do Cristianismo, que sustentava que essa obra era 
produto de um judeu que vivera no tempo dos macabeus. Durante os 
séculos XVIII e XIX, particularmente este último, a opinião de Porfírio 
parece ter ocupado posição proeminente no mundo erudito. Foi 
largamente mantido que o livro de Daniel fora escrito por um judeu 
desconhecido, que vivera no tempo de Antíoco Epifanes. Os motivos 
para tal opinião eram a notável exatidão pela qual aquele período é 
descrito em Daniel, as supostas inexatidões históricas no livro, e a 
alegada linguagem mais recente empregada na composição da profecia. 
Algumas vezes, igualmente, podia-se verificar uma atitude de aversão 
para com o caráter sobrenatural do livro, o que evidentemente tinha 
levado certos homens a procurarem negar seu autêntico caráter profético. 
Recentemente, contudo, talvez principalmente como resultado do estudo 
de Hölscher ("Die Entstehung des Buches Daniel", em Theologische 
Studien und Kritiken XCII, 1919, págs. 113-138), tem sido mais 
evidente a tendência de reconhecer a antiguidade de muito material 
básico em Daniel. Mas até hoje é mantido – erroneamente, segundo 
acreditamos – que o livro, em sua presente forma, vem desde o segundo 
século A. C., mas que muito de seu material, particularmente na primeira 
porção, é muito mais antigo. 
 Será útil considerar de passagem algumas das objeções históricas 
que têm sido levantadas contra o livro de Daniel. 
 Em primeiro lugar é alegado que o uso do termo "caldeu" deixa 
entrever uma era posterior ao século VI A. C. Nolivro de Daniel esse 
termo é empregado num sentido étnico para denotar uma raça e é 
igualmente usado de modo mais restrito para indicar uma classe 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 5 
particular, a saber, os sábios. Segundo é alegado, porém, este último uso 
só teve origem muito depois do tempo de Daniel. Em resposta pode-se 
dizer que Heródoto (cerca de 440 A. C.,) fala dos caldeus como uma 
casta de tal modo que demonstra que assim deveria ser considerado já 
desde muito antes desse tempo. Mas, visto que as referências extra-
bíblicas são tão poucas, não sabemos bastante para asseverar que as 
representações em Daniel acham-se em erro. 
 Também têm alguns acusado que Daniel nunca teria sido admitido 
no sacerdócio babilônico nem teria sido feito seu cabeça. A leitura 
cuidadosa da profecia, entretanto, mostra que Daniel meramente exercia 
autoridade política (2.48-49). Não existe evidência de que ele tenha sido 
admitido ou iniciado em qualquer casta religiosa. Se o livro de Daniel 
fosse realmente de data posterior, como poderíamos conceber que o 
autor posterior pintasse Daniel a entrar numa casta pagã? 
 Algumas vezes tem sido mantido que não há alusões extra-bíblicas 
referentes ao relato da loucura de Nabucodonosor, pelo que concluem 
que essa narrativa bíblica não é histórica. Não obstante, o historiador 
Eusébio cita, de Abidenus, uma descrição sobre os últimos dias de 
Nabucodonosor na qual a linguagem é tal que subentende que algo 
estranho havia ocorrido perto do fim da vida do rei. Existem algumas 
similaridades nesse relato com o que é exposto em Daniel. Em Berosus, 
igualmente (registrado na obra de Josefo, Contra Acionem, 1.20) há 
certo reflexo sobre o fato da loucura do rei. Deveria ser salientado, 
entretanto, que mesmo que não houvesse ecos extra-bíblicos sobre o fato 
do desvario de Nabucodonosor, por si mesmo isso não significaria que o 
relato bíblico não é histórico. 
 A objeção a ter sido Daniel autor do livro também tem sido 
apresentada baseada no fato que a linguagem aramaica, na qual uma 
porção do livro foi escrita, pertence a um período posterior ao de Daniel. 
Apesar de que nada existe no próprio aramaico do livro de Daniel para 
excluir a autoria de Daniel, parece muito provável que os caracteres 
aramaicos são aqueles chamados aramaico "Reich" ou "Reino"; isto é, o 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 6 
que foi introduzido no Império persa por Dario I. Esse fato, entretanto, 
exclui Daniel como autor? De maneira alguma. É perfeitamente possível 
que o aramaico no qual o livro de Daniel se encontra escrito seja 
simplesmente uma modernização do aramaico no qual o livro foi 
originalmente composto. A questão da autoria do livro deve ser 
estabelecida sobre outras bases que não a da linguagem em que foi escrito. 
 
IV. LITERATURA 
 O estudioso poderá encontrar uma completa exposição sobre o 
moderno ponto de vista no comentário de James A. Montgomery (The 
International Critical Commentary Series). Esse mesmo ponto de vista é 
também exposto nos eruditos artigos de H. H. Rowley. O presente 
escritor tem procurado expor o livro do ponto de vista do Protestantismo 
ortodoxo em The Prophecy of Daniel (Grand Rapids, 1949). 
 
PLANO DO LIVRO 
 
I. DANIEL ELEVADO AO PODER -- 1.1-21 
 
II. O SONHO DO REI INTERPRETADO POR DANIEL -- 2.1-49 
 
III. O EPISÓDIO DA FORNALHA ARDENTE - 3.1-30 
 
IV. SEGUNDO SONHO INTERPRETADO POR DANIEL -- 4.1-37 
 
V. FESTA DE BELSAZAR E ESCRITA MISTERIOSA -- 5.1-30 
 
VI. DANIEL NA COVA DOS LEÕES -- 5. 31-6.28 
 
VII. VISÃO DE DANIEL SOBRE AS QUATRO FERAS -- 7.1-28 
 
VIII. VISÃO DE DANIEL SOBRE O CARNEIRO E O BODE -- 8.1-27 
 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 7 
IX. ORAÇÃO DE DANIEL -- 9.1-23 
 
X. PROFECIA SOBRE OS SETENTA VEZES SETE -- 9.24-27 
 
XI. A VISÃO DE DEUS -- 10.1-11.1 
 
XII. REVELAÇÃO SOBRE O FUTURO -- 11.2-20 
 
XIII. OS TEMPOS DE ANTÍOCO E DO ANTICRISTO -- 11.21-12.3 
 
XIV. CONCLUSÃO DA PROFECIA -- 12.4-13 
 
COMENTÁRIO 
 
I. DANIEL ELEVADO AO PODER - 1.1-21 
 
Daniel 1 
a) Expedição de Nabucodonosor (1.1-2) 
 
 No ano terceiro de reinado de Jeoaquim... (1). De conformidade 
com Jeremias (25.1; 46.2) a expedição de Nabucodonosor contra 
Jerusalém teve lugar no quarto ano de Jeoaquim. Daniel, entretanto, 
evidentemente emprega o método babilônico de computação, pelo qual o 
primeiro ano é considerado como o ano seguinte ao da subida do rei ao 
trono. Portanto, o primeiro ano seria igual ao segundo ano, conforme a 
maneira de computar da Palestina, e o terceiro ano (computação 
babilônica) e o quarto ano (da Palestina) seriam iguais e equivalentes. 
Por conseguinte, não há conflito com Jeremias. Jeoaquim, rei de Judá 
(1). Ele foi elevado ao trono pelo rei do Egito. Foi um rei perverso que, 
no seu quarto ano de reinado, se tornou súdito de Nabucodonosor, e que 
três anos mais tarde se revoltou. Reinou por onze anos e seu filho, 
também chamado Joaquim, o sucedeu no trono. Ver 2Rs 23.36-24.9; Jr 
22.18-19; 36.30. 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 8 
 Não é afirmado que Nabucodonosor tenha atacado Jerusalém na 
qualidade de rei. Pelo contrário, ele é chamado rei de Babilônia 
prolepticamente. Note-se, igualmente, que Daniel não assevera que 
Nabucodonosor tenha conquistado Jerusalém, como alguns críticos têm 
dito. Pode ser, conforme Berosus (Josefo, Contra Apionem 1.19; 
Antiguidades X. XI: 1) disse, que lhe chegou a notícia da morte de seu 
pai, e que ele regressou à Babilônia para assumir a posição de rei. 
 
b) Os jovens judeus na corte de Babilônia (1.3-16) 
 A etimologia da palavra Aspenaz (3) é incerta. O indivíduo, 
entretanto, era um delegado chefe ou oficial na corte. No versículo 3 não 
são mencionadas três classes diferentes; mas antes, a frase filhos de 
Israel é geral, e as outras duas, da linhagem real e dos nobres, são 
explicativas. O significado é: "israelitas, tanto da linhagem real como 
dos nobres". Entre esses o rei desejava aqueles que possuíssem mente sã 
e corpo são (4) e que pudessem, por conseguinte, servir mais 
eficientemente na corte. 
 A fim de realizar esse desígnio, o rei apontou uma ração de cada 
dia (5), tanto de seu próprio alimento como de seu vinho. No versículo 6 
são apresentados os jovens hebreus, e aprendemos que seus nomes foram 
mudados. Daniel assentou no seu coração não se contaminar com a 
porção diária (8), e a razão disso evidentemente foi que aquele alimento 
e bebida tinham sido consagrados mediante algum ritual pagão, e comê-
lo ou bebê-lo, na opinião de Daniel, torná-lo-ia culpado de adoração 
idólatra. Daniel, portanto, se aproximou do eunuco chefe e Deus tornou 
esse oficial favoravelmente disposto para com ele (9). O despenseiro 
(11; evidentemente um oficial debaixo das ordens do eunuco chefe) 
concedeu a Daniel o que ele solicitava, e no fim do tempo marcado a 
aparência dos jovens hebreus era melhor e estavam mais cheios de carne 
que aqueles que tinham compartilhado da ração do rei (15). Assim teve 
início o triunfo do poder e da graça de Deus na Babilônia. 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 9 
 As vidas dos quatro jovens estavam nas mãos de Deus. Ele lhes 
deu conhecimento (17) para que pudessem discernir entre o que era 
verídico na instrução que recebiam, que dizia respeito aos campos das 
letras (isto é, literatura) e sabedoria (isto é, ciência) (17). Daniel 
também obteve entendimento ou facilidade na interpretação de sonhos 
ou visões. Essa menção de visão e sonhos (17) é um reflexo exato do 
ambiente babilônico do livro. 
 O versículo 21 não significa que Daniel continuou somente até ao 
primeiro ano do rei Ciro. Antes, visto que o ano primeiro de Ciro foi o 
ano que marcou o término do exílio, esse fato é mencionado para 
demonstrar que Daniel continuou até mesmo nesse tempo. A linguagem 
não implica que ele não tenha continuado além dessa data. 
 
Daniel 2 
II. O SONHO DO REI INTERPRETADO POR DANIEL - 2.1-49 
 
a) O sonho de Nabucodonosor (2.1-16) 
 
 No segundo ano (1). Alguns pensam que esta frase entra em 
conflitocom o período de treinamento de três anos, mencionado no 
capítulo primeiro. Mas a frase "três anos" (1.5) necessita referir-se tão 
somente a certas porções de anos (cf., por exemplo, 2Rs 18.9-10; Jr 
34.14; Mc 8.31), pelo que o primeiro ano de treinamento poderia 
compreender parte do ano da subida de Nabucodonosor ao trono, e o 
terceiro ano poderia compreender parte do segundo ano de seu reinado 
(computação babilônica). O rei ficou tão perturbado com seu sonho que 
passou-lhe o seu sono (1). Por isso convocou imediatamente aqueles 
que acreditava serem capazes de dizer-lhe o significado de seu sonho. 
Esses homens desejaram saber qual o sonho, para que pudessem 
interpretá-lo (4). A palavra siríaco (4), isto é, "aramaico", parece 
designada para chamar a atenção ao fato que desde esse ponto até o fim 
do capítulo 7 a linguagem empregada é o aramaico. Pode ser, contudo, 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 10 
que a palavra sirva para indicar a linguagem na qual os caldeus falaram 
com o rei. Alguns críticos têm afirmado que tal declaração não poderia 
ser histórica; porém, à luz da recentemente descoberta (1942) carta de 
Adon, em aramaico, tal objeção já não tem valor (cf. "More Light on 
Daniel's First Verse" em Bible League Quarterly, n.º 203, 1950, págs. 
6-8, de F. F. Bruce). 
 No que tange ao aramaico usado no livro de Daniel, pode ser dito 
que nada existe nele que por si mesmo pudesse excluir ter sido 
empregado por Daniel. Se, entretanto, o presente aramaico provasse ser 
posterior, não afetaria a autoria de Daniel, mas meramente demonstraria 
que o aramaico original foi modernizado por um escritor de data 
posterior. É difícil determinar por qual razão são empregados dois 
idiomas no livro de Daniel; mas o próprio Daniel provavelmente assim 
escreveu, empregando o aramaico, ou linguagem do mundo, para aquelas 
seções de seu livro que versam principalmente sobre as histórias dos 
impérios mundiais, e empregando o hebraico para aquelas seções que 
desenvolvem o futuro do povo de Deus e de Seu reino. 
 O motivo pelo qual o rei não queria relatar seu sonho não era que 
o havia esquecido (versículo 5 deveria ser traduzido não o que foi me 
tem escapado, mas "a coisa é certa para mim"), mas que ele queria testar 
os sábios. 
 Sereis despedaçados (5). A crueldade contida nessa ameaça era 
generalizada na antiguidade, e caracterizava a maneira de tratar dos reis 
babilônicos. Os caldeus declaram sua incapacidade de relatar e 
interpretar o sonho, asseverando que tal conhecimento só pode ser 
encontrado entre os deuses cuja morada não é com a carne (11). 
Mediante essa confissão os caldeus fazem referência a Deus, pois mesmo 
no negro paganismo permanecia a persuasão que Deus existe (cf. Rm 
1.21). O rei, entretanto ficou indignado e ordenou que os sábios fossem 
executados (12-13). Daniel, sabiamente, interveio e solicitou um prazo 
(14-16). 
 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 11 
b) Oração de Daniel (2.17-23) 
 
 A interpretação é chamada de segredo (18), visto que se trata 
daquilo que não pode ser obtido pela razão humana isolada. Em resposta 
à revelação, Daniel bendisse a Deus em oração. A Deus pertence a 
sabedoria – Ele é onisciente e todo-sábio – e a força – pois governa tudo 
(20). O curso da história está nas mãos de Deus, que altera os tempos e 
as estações, e o destino dos governantes também está sob Seu controle. 
Quando a verdadeira sabedoria é encontrada entre os homens, essa é um 
dom de Deus, e o verdadeiro entendimento também vem da parte dEle 
(21). 
 Ele revela o profundo e o escondido (22), a saber, as 
maravilhosas obras de Deus visando a salvação dos homens. Foi a esse 
Deus soberano que Daniel expressou seus agradecimentos. 
 
c) A interpretação do sonho (2.24-49) 
 
 Quando Daniel reapareceu perante o rei procurou deixar claro que 
não viera dar a interpretação do sonho mediante seu próprio poder, mas 
deu a glória a Deus (28). O sonho foi de natureza escatológica, isto é, 
tinha a ver com o fim dos dias ou, em outras palavras, com a era 
messiânica (cf. At 2.16-17; 1Tm 4.1; Hb 1.1). Daniel relata o conteúdo 
do sonho descrevendo o colosso que o rei tinha visto, cujas diversas 
porções eram feitas de diferentes metais. A cabeça de ouro foi 
identificada como o próprio Nabucodonosor, e isso provavelmente 
significa que devemos compreender o império babilônico representado 
por seu grande rei. Outras partes da imagem, segundo Daniel, 
representam outros reinos. 
 Diferentes interpretações a respeito dessa simbologia têm sido 
aventadas. A maioria dos eruditos críticos que negam a autenticidade de 
Daniel acreditam que os quatro impérios representados pelo colosso são: 
Babilônia, Média, Pérsia e Grécia. Tem sido sustentado por alguns dos 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 12 
advogados dessa posição que, visto que a Média não existia como 
império separado após a queda da Babilônia, que o livro de Daniel está, 
portanto, laborando em erro. Há, entretanto, fortes razões para que essa 
identificação seja rejeitada (ver The Prophecy of Daniel, págs. 275-
294). Objeções a esse ponto de vista serão destacadas conforme for 
prosseguindo a exposição. De tempos em tempos os eruditos 
conservadores têm identificado os reinos como Babilônia, Medo-Pérsia, 
o Império de Alexandre, e os sucessores de Alexandre. Mas, em sua 
maioria, a posição conservadora tradicional tem sido a identificação 
desses reinos como Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia e Roma. Essa é a 
única posição que pode interpretar corretamente o versículo 44, um 
versículo que declara distintamente que o reino messiânico seria erigido 
nos dias dos reinos já mencionados. Os dois primeiros pontos de vista 
assumem que o reino messiânico será erigido após os quatro impérios 
humanos, e isso está definidamente contra o ensino do versículo 44. 
 O ensino dispensacionalista interpreta os dez dedos da imagem 
como a representar um tempo que o Império Romano será revivificado e 
dividido em dez reinos. Deve-se notar, entretanto, que menção nenhuma 
é feita quanto ao número dos artelhos. 
 A pedra cortada, sem mão (34) representa o Messias e o 
crescimento do reino messiânico, reino esse que é descrito como de 
duração eterna e de origem divina (44), assim ficando contrastado com 
os impérios humanos e temporais do colosso. 
 Deus é Deus dos deuses... (47). A confissão do Nabucodonosor 
em realidade não se eleva acima do nível do politeísmo. Ele reconhece a 
superioridade do Deus de Daniel; contudo, não O adora como o único 
verdadeiro Deus. 
 Não é necessário imaginar que o engrandecimento de Daniel (48) 
tenha envolvido necessariamente o profeta nas superstições de Babilônia. 
Podemos estar certos que um homem de devoção total a Deus, tal como 
ele foi, o conservaria livre de tal conspiração. 
 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 13 
Daniel 3 
III. O EPISÓDIO DA FORNALHA ARDENTE 3.1-30 
 
 Uma estátua (1). Era costume entre os reis assírios erigirem 
estátuas de si mesmos. Que aquela fosse uma estátua do próprio 
Nabucodonosor, entretanto, não é expressamente afirmado. É possível 
que o fato de Daniel haver identificado a cabeça de ouro com o rei (2.38) 
e sua própria satisfação devido ao número de suas conquistas (entre as 
quais, provavelmente, Jerusalém podia ser agora incluída) tenha levado 
Nabucodonosor a ficar cheio de orgulho, erigindo aquela estátua tanto 
em honra de seu deus como em sua própria honra. 
 De ouro (1). Não é preciso entender necessariamente que a estátua 
tenha sido feita de ouro sólido, pois pode ter sido recoberta de ouro. 
Também é possível que tenha sido posta sobre um pedestal, e na forma 
de um obelisco que, na base, tinha três metros de largura. O aspecto 
grotesco da estátua não é argumento contra a historicidade do relato e 
uma evidência de haver sido genuína é o emprego do sistema 
sexagésimo babilônico. 
 Campo de Dura (1) é um lugar vasto entre montanhas, cuja exata 
localização não tem sido determinada, embora a palavra duru (um muro 
que fecha)seja regularmente comum em babilônico. 
 Objeção contra a autenticidade do livro de Daniel tem sido 
aventada por causa da presença de alegadas palavras gregas no verso 5. 
Os nomes de três dos instrumentos musicais (a saber, os que são 
traduzidos como harpa, sambuca e saltério) têm sido algumas vezes 
considerados como de origem grega. Caso sejam gregas, assim diz o 
argumento, então certamente Daniel não as teria conhecido, visto que 
viveu tão antes do levantamento da cultura grega. Não obstante, ainda 
que tais palavras fossem realmente de origem grega, de forma alguma 
seguir-se-ia que Daniel não poderia tê-las usado, visto que a cultura 
grega se espalhou desde bem cedo e havia soldados gregos no exército 
de Nabucodonosor (ver The Prophecy of Daniel, pág. 87). 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 14 
 O caráter injusto da acusação contra os companheiros de Daniel 
deveria ser notado (12). Seus acusadores declaram-nos judeus, assim 
frisando que eram estrangeiros, com a possível implicação que, sendo 
estrangeiros, não seriam leais. Note-se, ainda, a declaração que o rei 
havia honrado aqueles judeus, deixando subentendido que lhes faltava 
gratidão. Tem sido levantada a questão por que Daniel não é mencionado 
nesse capítulo. Várias sugestões têm sido feitas tentando dar resposta, 
mas, nenhuma delas é satisfatória. Visto que a Bíblia não menciona 
Daniel nesse ponto, é inútil especular sobre a questão. 
 Tomado de ira, o rei ordena que os três homens acusados lhe 
fossem trazidos à presença, oferecendo-lhes oportunidade de negar a 
acusação (14). O versículo 16 oferece alguma dificuldade e seria mais 
apropriado traduzir sua última parte como: "... não necessitamos, com 
respeito a esse assunto, defender-nos perante ti". Em outras palavras, os 
três reconhecem a verdade da acusação e, em lugar de se defenderem, 
estão dispostos a deixar seu caso nas mãos de Deus. O versículo 17 não 
lança qualquer dúvida sobre a capacidade de Deus para salvar, mas 
antes, salienta Sua habilidade ética, isto é, se Deus em Sua vontade 
puder livrar, Ele o fará. 
 Em resposta, Nabucodonosor ordena que a fornalha seja aquecida 
sete vezes mais do que o costumeiro e os três são projetados no meio das 
chamas (19). O versículo 25 apresenta o espanto do rei ao perceber que, 
em adição aos três judeus, havia na fornalha alguém "semelhante ao filho 
dos deuses". Por meio da abertura no fundo da fornalha, o rei viu uma 
quarta pessoa e, embora falando do ponto de vista de um homem 
estribado na superstição babilônica, reconheceu a presença de um Ser 
sobrenatural, alguém da raça dos deuses. O rei pagão, naturalmente, não 
podia reconhecer a verdadeira identidade dAquele que estava em sua 
presença. Alguns têm pensado que se tratava de um anjo que apareceu na 
fornalha; mais provavelmente, porém, temos aqui uma manifestação pré-
encarnada do Filho de Deus. 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 15 
 No livramento dos três foi realizado um grande milagre por Deus. 
Milagre é um ato, realizado no mundo externo pelo poder sobrenatural 
de Deus, contrário ao curso comum da natureza (embora não 
necessariamente levado a efeito contra os meios ordinários da natureza), 
e seu propósito é servir de sinal ou comprovação. Um milagre, por 
conseguinte, não deve ser considerado meramente como uma obra 
poderosa, mas como uma obra poderosa designada a comprovar os 
propósitos redentores de Deus. A milagrosa libertação da fornalha 
ardente tinha o propósito de demonstrar a soberania do verdadeiro Deus 
sobre a nação que havia feito cativa Israel. 
 Nabucodonosor reconhece a superioridade do Deus de Israel 
porquanto não há outro Deus que possa livrar como este (29). 
Embora o rei tenha progredido além do que disse em 2.47, não havia 
ainda falado movido por um coração dominado pela fé. 
 
Daniel 4 
IV. SEGUNDO SONHO INTERPRETADO POR DANIEL 4.1-37 
 
a) O sonho de Nabucodonosor (4.1-18) 
 
 A doxologia (1-3), com a qual tem início o quarto capítulo, 
apresenta algumas dificuldades, visto que sua linguagem exibe 
familiaridade com o pensamento bíblico, e alguns mantêm que isso é de 
estranhar, tendo vindo da parte de um monarca pagão. Não nos devemos 
esquecer, todavia, que Daniel exercia influência sobre o rei e que a 
linguagem teocrática do edito provavelmente se deve à influência de 
Daniel. 
 Nabucodonosor assevera que havia tido um sonho que os caldeus 
não tinham podido interpretar, mas que Daniel, no qual há o espírito 
dos deuses santos (8) havia interpretado o sonho. Essa frase particular 
poderia ser parafraseada como "aquilo que pertence à verdadeira deidade 
pode ser encontrado em Daniel". Talvez o motivo pelo qual o rei não 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 16 
convocou Daniel imediatamente tenha sido, não que ele se esquecera de 
Daniel, mas por haver percebido que o sonho dizia respeito à humilhação 
que teria de sofrer nas mãos do Deus de Daniel. Ele nada queria ter com 
o Deus de Daniel, até que fosse obrigado a apelar para Ele, impelido por 
necessidade extrema. 
 Nos versículos 10-18 é relatado o conteúdo do sonho. No meio da 
terra (10); isto é, a árvore ocupava sobre a terra uma posição central que 
assim atraía a atenção. Evidentemente o rei reconheceu a si mesmo nesse 
simbolismo. 
 Um vigia, um santo (13); isto é, um vigia que era santo; somente 
um indivíduo é referido aqui. A linguagem é própria do paganismo, pois 
foi o rei quem falou. Provavelmente o rei, ao mencionar o vigia, se 
referia aos anjos que conhecia devido à religião babilônica. No versículo 
16 o tronco da árvore é personificado. Seu coração deveria ser 
transformado "para" o que não era humano. 
 Isso seria feito até que passem sobre ele sete tempos (ou períodos 
de tempo, cuja duração não é declarada). Visto que a duração do tempo 
não é revelada, não nos assiste o direito de identificar a duração em 
termos de anos. O rei interpreta o decreto como tendo sido originado nos 
santos (17), mas essa interpretação pagã é repudiada por Daniel, que 
afirma tratar-se do decreto do Altíssimo que viera sobre o rei (24). 
 
b) Interpretação e cumprimento do sonho (4.19-37) 
 
 Ao ouvir a descrição do sonho, Daniel ficou perplexo, pois ele 
mesmo desejava o bem para o rei, mas percebeu que o sonho continha o 
anúncio de um julgamento contra o rei da parte de Deus. 
 Quase uma hora (19); a frase é idiomática; não significa que 
Daniel tenha ficado assombrado pelo espaço de quase uma hora; pois 
poderíamos traduzi-la corretamente como "por um momento". Então 
Daniel interpreta o sonho e adverte o rei sobre o que deve ser feito se o 
período de tranqüilidade, antes do julgamento, tiver de ser prolongado 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 17 
(27). Geralmente é assumido que, se Nabucodonosor se tivesse 
arrependido, seria afastada a calamidade ameaçada. O texto, entretanto, 
não menciona o afastamento do julgamento predito. 
 Parece que o pensamento é que o julgamento ameaçado viria a fim 
de conduzir Nabucodonosor ao conhecimento do verdadeiro Deus (25). 
Entretanto, caso ele se arrependesse de seus pecados, gozaria de um mais 
prolongado período de tranqüilidade. 
 Jerônimo, e muitos que o seguiram, interpretaram o versículo 27 
como se este dissesse: "Redime teus pecados por meio de esmolas e tuas 
iniqüidades demonstrando misericórdia aos pobres". Isso, naturalmente, 
ensinaria salvação por meio do mérito das obras humanas; tal 
pensamento, entretanto, é estranho não só para esse versículo, como 
também para a Bíblia inteira. 
 As palavras de Daniel não significam: "Redime teus pecados por 
meio de esmolas", mas antes, quebra (isto é, interrompe) teus pecados, 
por meio de ações justas. Em outras palavras, aqui há em vista um 
mandamento que visa ao arrependimento, voltando-se do mal para 
praticar o bem. É uma perversão do texto forçá-lo para que ensine a 
doutrina da salvação por meio do mérito humano. 
 O versículo 30 deveria ser observado, visto que reflete com tanta 
exatidão a atitude de Nabucodonosor. Eleera primariamente um 
edificador, e não um guerreiro, e suas próprias declarações, preservadas 
em inscrições cuneiformes, mostram seu orgulho na cidade e no palácio 
que ele reconstruiu. 
 O julgamento sobreveio a Nabucodonosor conforme fora predito, 
e ele foi expulso do meio dos homens, aparentemente afetado da 
enfermidade conhecida como licantropia (33). No fim do tempo predito, 
voltou ao rei a sua razão e com um coração de fé louvou ao verdadeiro 
Deus (34-37). 
 
 
 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 18 
Daniel 5 
V. FESTA DE BELSAZAR E ESCRITA MISTERIOSA - 5.1-30 
 
 O quinto capítulo de Daniel, embora tenha sido freqüentemente 
atacado como inexato em suas afirmações é, não obstante, digno de 
atenção devido à sua exatidão. 
 Houve tempo quando o nome Belsazar foi muito difícil para ser 
explicado pelos expositores, visto que seu nome não aparece nos 
monumentos antigos. Por isso, enquanto que alguns procuravam por 
vários meios identificá-lo, outros negavam completamente sua 
existência. Entretanto, o nome do rei, conforme discussão subseqüente 
salientará, tem sido encontrado em tabletes cuneiformes e não pode 
haver dúvidas quanto à sua historicidade. Dessa forma fica demonstrado 
que a Bíblia está correta em sua menção sobre Belsazar. 
 O rei Belsazar (1). Essa afirmação tem sido criticada (mui 
habilmente pelo prof. H. H. Rowley em "The Historicity of the Fifth 
Chapter of Daniel" em The Journal of Theological Studies, vol. 
XXXII, págs. 12-31), em vista do fato que Belsazar nunca reinou como 
monarca único e nunca é designado como rei (sharru) nas inscrições 
cuneiformes. Além disso, é mantido que não há evidência que demonstre 
que Belsazar tenha governado sobre o trono como subordinado a 
Nabonido, seu pai. 
 Em réplica a essas acusações podemos notar, em primeiro lugar, 
que a palavra aramaica malka (rei) não precisa ter o sentido de monarca 
ou rei único (ver R. D. Wilson, Studies in the Book of Daniel, 1917, 
págs. 83-95). Outrossim, um dos documentos cuneiformes afirma que 
Nabonido confiou o trono a Belsazar. Ora, segue-se que, se o trono tem 
sido confiado a um homem e que esse homem administra as questões do 
reino, então está agindo como rei. Foi precisamente esse o caso de 
Belsazar. 
 Embora Belsazar seja consistentemente chamado de "filho do rei", 
nos documentos cuneiformes é, contudo, apresentado a desempenhar 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 19 
também funções reais (ver The Prophecy of Daniel, págs. 115-118, 
onde há evidências sobre isso). Com toda a probabilidade havia uma co-
regência entre Nabonido e Belsazar, na qual Belsazar ocupava uma 
posição subordinada. Entretanto, em vista do fato que ele era o homem 
sobre o trono com quem Israel tinha de tratar, é designado rei no livro de 
Daniel. Nenhuma objeção válida pode ser levantada contra esse uso. 
 Grande banquete (1). Aqui, novamente, encontramos a exatidão 
deste capítulo, pois grandes banquetes, eram uma característica da 
antiguidade. O termo mil evidentemente deve ser considerado como um 
número arredondado e serve para indicar o tamanho do banquete. Era 
costume, nas festas orientais, que o rei se assentasse numa plataforma 
elevada, separada dos hóspedes. Portanto, na declaração que Belsazar 
bebeu na presença dos mil (1) temos outra instância sobre a exatidão do 
capítulo. 
 No versículo 2 é dito que Nabucodonosor foi pai de Belsazar e 
visto que parece não ter sido esse realmente o caso, alguns comentaristas 
tem considerado que o texto neste ponto labora em erro. Entretanto, dado 
que o uso da palavra "pai" nos idiomas semíticos, era vago, não há 
necessidade de haver erro aqui. A palavra "pai" podia ser usada pelo 
menos de oito maneiras diferentes e é possível que seu emprego aqui 
tenha meramente o sentido de ancestral. 
 Na estucada parede (5). Escavações têm demonstrado que a 
parede do palácio tinha uma fina camada de esboço pintado esse esboço 
era branco pelo que qualquer objeto escuro movendo-se à sua superfície 
tornava-se distintamente visível. 
 Quando viu a mão o rei ficou assombrado despertando do estupor 
de sua bebedeira e prometeu que o homem que pudesse ler o escrito na 
parede seria feito no reino, o terceiro dominador (ou "triúnviro") (7). A 
palavra traduzida como terceiro dominador significa "um dos três" e 
isso incluiria, na ordem de autoridade, Nabonido, Belsazar e Daniel. O 
emprego da palavra implica que o próprio Belsazar era apenas o segundo 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 20 
no reino. Isso é um sinal de exatidão tal que seria inconcebível se o livro 
de Daniel fosse um produto do segundo século A. C.. 
 Falou a rainha, e disse (10). O fato da rainha haver se dirigido ao 
rei também atesta igualmente sobre a notável exatidão do presente 
capítulo. Na Babilônia a rainha mãe ocupava a mais proeminente posição 
no palácio real. Devido à sua intervenção foi chamado Daniel. Ele 
rejeitou a recompensa real e, após pregar ao rei no to- cante à sua 
perversidade (18-23) prosseguiu para interpretar o estranho escrito (25-
28). Cada uma das palavras contém um duplo sentido: MENE, 
enumerado; isto é, Deus havia enumerado (mena) os dias da duração do 
reino; TEQUEL, um siclo, que indicava que Belsazar havia sido pesado 
(na balança) e encontrado deficiente; PERES, teu reino é dividido 
(peres) e dado aos medos e persas (paras). A palavra paras parece 
salientar que os persas seriam o poder dominante perante o qual 
Babilônia sucumbiria. 
 Ao ler o escrito, Daniel leu UFARSIM (25), mas, ao dar a 
interpretação, empregou a forma PERES (28). O U é a conjunção 
aramaica "e", que seria omitida ao ser dada a interpretação. Farsim é uma 
forma plural, enquanto que peres é singular. À base de algumas versões 
antigas parece que peres é a forma original e que o plural farsim 
possivelmente pode ser considerada como obra de um escriba que talvez 
tivesse em mente a palavra que significa persas (paras). 
 
VI. DANIEL NA COVA DOS LEÕES - 5.31-6.28 
 
 O versículo 31 do capítulo quinto pertence realmente ao sexto 
capítulo e assim é tratado aqui. A menção de Dario, o medo, constitui 
um problema, visto que Dario é desconhecido na história secular. Têm 
sido feitas tentativas para identificá-lo com Cambises, Astíages, Ciaxares 
e Gobrias, mas, na opinião do presente escritor, essas tentativas não são 
convincentes. O período da queda de Babilônia é um tanto obscuro e é 
possível que Dario tenha sido uma figura que de outro modo passaria 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 21 
despercebida, a quem Ciro confiou o trono. Embora sua identidade ainda 
não tenha sido estabelecida, por si mesmo isso não indica que ele não 
tenha sido uma figura histórica. Nem se segue que o escritor de Daniel 
tenha concebido, como tem sido afirmado por alguns, que houvesse um 
império medo separado, após a queda de Babilônia. É dito que Dario foi 
medo simplesmente por motivo de sua descendência de sangue; não é 
aqui afirmado que ele tenha sido rei dos medos. 
 Nesse mesmo contexto (verso 28) os medos e persas aparecem 
juntos e em 6.8 é mencionada a lei dos medos e dos persas (e não 
meramente a dos medos). Toda a evidência, no livro de Daniel, salienta o 
fato que o reino que se seguiu à Babilônia foi o da Média-Pérsia, e não 
apenas o da Média. 
 
Daniel 6 
 Dario nomeou 120 "sátrapas" ou "protetores do reino" para cuidar 
do novo país conquistado. Essa declaração não está fora de harmonia 
com a história secular. Desde que Daniel se distinguiu em sua posição 
(3), a inveja apareceu entre os outros e procuraram um meio de destruí-
lo. 
 Foram Juntos (6); essa frase pode ser melhor traduzida como 
"foram pactuados", isto é, agiram em harmonia. 
 Fazer uma petição (7), isto é, um pedido religioso, visto que o rei 
seria considerado como único representante da deidade. Muitos críticos, 
por considerarem impossível tal ação durante os dias dos reis persas, 
acreditam que esse relato não é histórico. Entretanto, apesar de que possa 
haver certas dificuldades no relato,ao mesmo tempo o rei bem poderá ter 
sido vencido pela sutil lisonja da proposta e tenha cedido a ela. A 
insensata e iníqua decisão do rei, porém, não levou Daniel a ser infiel a 
Deus. Tendo continuado a orar (10), Daniel não se tornou culpado de 
ostentação, mas evidentemente assim orava para que pudesse ser visto 
somente por aqueles que desejavam espioná-lo. 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 22 
 Tem sido levantada objeção contra o relato da cova dos leões, 
objeção essa edificada sobre a premissa de que a cova deve ter sido 
construída de maneira particular. Com toda a probabilidade havia uma 
abertura no alto, pela qual Daniel foi baixado na cova e pela qual mais 
tarde o rei falou com Daniel e, igualmente, uma abertura em um dos 
lados, pela qual as feras eram alimentadas. Provavelmente foi esta última 
entrada que foi fechada pela pedra e pelo selo; a abertura pelo alto 
evidentemente era alta demais para permitir que qualquer homem 
escapasse por ela. 
 Na punição dos acusadores (24) não precisamos assumir, como no 
caso de alguns comentaristas, que 120 sátrapas juntamente com suas 
esposas e filhos, foram projetados na cova. O grupo de acusadores 
provavelmente era pequeno, e somente esses, como instigadores do 
ataque contra Daniel, indubitavelmente foram os únicos castigados. 
 Note-se a frase aqueles homens que tinham acusado (isto é, 
caluniado) Daniel (24), que parece destacar os culpados dos restantes. 
Não é preciso imaginar que o autor desse nobre relato tenha introduzido 
um absurdo, afirmando que todos, os sátrapas e suas famílias foram 
lançados na cova e tivessem caído no poder dos leões antes de chegar ao 
fundo da cova. 
 A exatidão do relato deve ser frisada, visto que, de acordo com o 
costume persa, os parentes de um homem eram punidos por causa de seu 
crime. 
 O capítulo termina com uma declaração sobre a prosperidade de 
Daniel no reinado de Dario, e no reinado de Ciro, o persa (28). A 
designação de Ciro mostra que ele era de diferente descendência real da 
de Dario, que era medo. Entretanto, o reino sobre o qual ambos 
reinavam, era o mesmo; não houve primeiramente por um medo e então 
por um persa. 
 
 
 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 23 
Daniel 7 
VII. VISÃO DE DANIEL SOBRE AS QUATRO FERAS - 7.1-28 
 
 O assunto deste capítulo é o mesmo do capítulo segundo. O sonho 
que Daniel viu e as visões da sua cabeça (1) não foram originados em 
sua mente ou cérebro, mas antes, vieram à sua cabeça e foram 
intelectualmente apreendidos. O sonho e as visões eram revelações 
especiais e divinamente impostas, conforme subentende o resto do 
capítulo. Estamos tratando, portanto, não com um sonho comum de 
Daniel, mas com uma revelação da parte do próprio Deus. 
 No sonho, os quatro ventos do céu combatiam no mar grande 
(2). O mar representa a humanidade (cf. versículo 17); não se trata do 
Mediterrâneo nem de qualquer mar particular o que aqui é referido, mas 
simplesmente o abismo vasto e ilimitado. Os quatro ventos cardeais 
simbolizam os poderes celestes e esses poderes celestes põem em 
movimento as nações do mundo. 
 A primeira fera a emergir do mar corresponde à cabeça de ouro da 
imagem (2.32). O simbolismo do leão e das asas de águia (4) representa 
a Babilônia, conforme se pode ver por meio de Jr 4.7; 49.19; Hb 1.8; Ez 
17.3. É difícil perceber como um escritor, que vivesse muito tempo 
depois da destruição do império babilônico, poderia aprender acerca 
desse simbolismo. A Babilônia é representada pela mais majestosa das 
criaturas. A alteração que se verificou nesse animal evidentemente se 
refere ao evento da loucura de Nabucodonosor e sua subseqüente 
restauração. Tanto externa como internamente, um processo de 
humanização teve lugar. 
 A segunda fera a surgir do mar tem um aspecto duplo. Os pés de 
um dos lados estavam levantados para o propósito do animal adiantar-se, 
enquanto que os pés do outro lado não estavam assim levantados (5). À 
fera é ordenado que devore a carne que já estava em sua boca. Têm sido 
feitas tentativas para identificar as três costelas, mas provavelmente é 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 24 
melhor considerar o número como arredondado e não buscar 
identificações específicas. 
 A terceira fera que se levantou do mar é um leopardo ou 
"pantera", animal notável por sua velocidade e agilidade. Nas suas 
costas (6); essa frase também pode ser traduzida como "sobre seus 
lados", e pode ser que, à semelhança das representações de feras com 
asas, vistas na Babilônia, essa fera tivesse asas de seus lados. As asas 
evidentemente denotam rapidez. 
 Quatro cabeças (6). Não se referem aos quatro reis persas 
mencionados em Dn 11.2, nem aos quatro sucessores das conquistas de 
Alexandre, mas antes, têm em vista simbolizar o caráter universal desse 
reino ou seja, os quatro quadrantes da terra. Em Dn 2.39 é dito que esse 
reino "terá domínio sobre toda a terra". 
 O quarto animal é introduzido com particular solenidade. E 
indescritível, pois no reino animal não há nada que se lhe compare. A 
descrição salienta apenas o caráter destruidor da fera. 
 Diferente (7). No aramaico é empregado um particípio que pode 
ser traduzido como "agia diferentemente". Há três pontos, no 
aparecimento dessa quarta fera, que exigem atenção especial: primeiro, é 
mencionada a própria fera; segundo, são mencionados os dez chifres 
sobre a cabeça da fera; e terceiro, é mencionado o pequeno chifre. 
Parece, portanto, que, devido à ordem da declaração, temos em frente 
uma história que se vai desdobrando. Depois de contemplar a fera, 
Daniel passou a contemplar os dez chifres e então contemplou outra 
ponta pequena (8). Essa ponta ou "chifre" é descrita como "pequena", 
mas agia constantemente como se fosse grande. Dessa maneira, aparece 
um contraste. Esse pequeno chifre não cresce em tamanho, como aquele 
que é mencionado no capítulo oitavo. A descrição da ponta como 
pequena serve para chamar atenção para os olhos e para a boca, que dizia 
blasfêmias e coisas presunçosas contra Deus. 
 O versículo 9 introduz uma cena celestial de julgamento. Foram 
postos. O pensamento é que os tronos foram colocados em preparação 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 25 
para o julgamento. O ancião de dias; a significação literal da frase é: 
"um avançado em dias". A figura que se achava sobre o trono, por 
conseguinte, era a de uma Pessoa idosa e venerável. O simbolismo 
tenciona significar que Deus está assentado sobre o trono, pronto para 
pronunciar o julgamento. A cena do julgamento é majestosamente 
concebida e a tensão com que é antecipado o pronunciamento do juízo é 
intensificada pelo fato que, durante toda a preparação da cena, Daniel 
ouve a boca da pequena ponta a dizer coisas grandiosas (11). Na visão, o 
julgamento cai primeiramente sobre a quarta fera, um julgamento que a 
destrói completamente. Quando a pequena ponta é destruída, então 
desaparece inteiramente o poder do quarto reino (11). As três primeiras 
feras que foram vistas na visão perdem o poder do governar, mas não 
obstante recebem a permissão de continuar existindo até a vinda do 
tempo que Deus determinou (12). 
 O versículo 13 introduz um novo aspecto na cena, pois o 
julgamento não fica concluído pela destruição das feras, mas inclui 
também o estabelecimento do reino do filho do homem. 
 Nas nuvens (13); isso é, acompanhado pelas nuvens. Essa 
descrição tem o propósito de expressar a deidade dAquele que vem nas 
nuvens, pois se trata de um simbolismo que expressa julgamento (cf. Is 
19.1; Sl 104.3; 18.10-18; Mt 24.30; Mc 13.26; Ap 1.7). Leia-se "um 
filho do homem" e não o filho do homem; pode-se traduzir literalmente 
"a semelhança de um filho de homem". Trata-se de uma personagem em 
forma humana, distinguida das feras que representavam os quatro reinos 
dos homens. Não é declarado explicitamente que a figura fosse um 
homem, mas que era semelhante a um homem. Dessa maneira, trata-se 
de uma personagem semelhante a homem, diferente das feras que se 
elevaramdo mar. Essa figura celestial é escoltada majestosamente 
perante o ancião de dias, e é lhe entregue um reino eterno e universal 
(14). 
 É agora necessário inquirir quanto à interpretação da visão. Pode-
se observar três pontos de vista: 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 26 
 1. Entre os eruditos que não sustentam que Daniel tenha sido o 
autor do livro, é geralmente imaginado que as quatro feras que 
emergiram do mar representam os seguintes reinos: Babilônia, Média, 
Pérsia e Grécia. Visto que tal ordem de reinos nunca ocorreu 
historicamente, tais eruditos assumem conseqüentemente que quanto a 
esse ponto o livro de Daniel é culpado de um erro histórico. Há diversos 
argumentos aduzidos por aqueles que favorecem a identificação dos 
reinos que acabamos de mencionar. É mantido, por exemplo, que se 
Roma, e não a Grécia, é representada pela quarta fera, então a profecia 
não concorda com a história. 
 Quando, em 476 D. C., o império romano chegou ao fim, não se 
levantaram dele dez reinos. Portanto, argúem que a quarta fera não pode 
significar Roma. Em oposição a esse raciocínio, contudo, pode-se dizer 
que o número dez não deve ser pressionado e considerado literalmente; 
trata-se de um número arredondado, e o simbolismo das dez pontas 
meramente tem referência a uma segunda fase da história da fera. Pode-
se salientar, outrossim que aqueles que vêem na quarta fera uma 
referência à Grécia também têm grande dificuldade para identificar os 
dez reis ou reinos. De fato, é impossível fazer tal identificação. 
Usualmente são feitas tentativas para descobrir dez reis sucessivos após 
a morte de Alexandre, enquanto que a fase do simbolismo das dez pontas 
recai não sobre a sucessão mas sobre a contemporaneidade dos reinos; as 
dez pontas existem durante uma segunda fase da história da fera. 
 É mantido, ainda, que a pequena ponta do capítulo sétimo deve ser 
identificada com a pequena ponta do capítulo oitavo. Ora, esta última 
ponta é expressamente identificada (8.23) como um rei que se levantaria 
da Grécia, pelo que aqueles concluem que a pequena ponta do capítulo 
sétimo também deve levantar-se da Grécia e que, por conseguinte, a 
quarta fera deve representar a Grécia, e não Roma. Todavia, em resposta 
a isso duas coisas podem ser afirmadas. Em primeiro lugar, a descrição 
da pequena ponta do capítulo sétimo e a da pequena ponta do capítulo 
oitavo demonstram além de qualquer dúvida, que sua intenção não é 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 27 
serem identificadas. Se alguém alistar as características de cada uma 
dessas pontas e notar cuidadosamente o que é dito a respeito de cada 
qual, ficará impressionado com a dessemelhança entre as duas. Em 
segundo lugar, se alguém comparar cuidadosamente tudo quanto é dito 
no capítulo sétimo concernente à fera sem descrição (versículo 7) com a 
descrição do bode (Grécia) no oitavo capítulo, descobrirá quão 
essencialmente diferentes são os dois chifres. Diferem no que respeita à 
origem, à natureza e ao destino. 
 Alguns também argúem que Dario é representado como um medo 
que governou depois de Belsazar e antes de Ciro. Entretanto, tal 
declaração não é completamente exata; em porção alguma do livro de 
Daniel é dito que Dario governou antes de Ciro. Também tem sido dito, 
além disso, que Dario é chamado de medo enquanto que Ciro é 
denominado persa, sendo assim destacada uma distinção racial. 
Entretanto, essa distinção racial tem a ver com os próprios indivíduos e 
não com o reino sobre o qual reinaram, reino esse que, no livro de 
Daniel, é o reino dos caldeus. Finalmente, alguns argúem que, de 
conformidade com Dn 5.28 o reino seria dividido entre os medos e os 
persas. 
 Com respeito a esses argumentos, deveríamos notar que embora 
Dario seja identificado como medo, não se segue de maneira alguma que 
o império sobre o qual ele governou foi a Média. Tal dedução é non 
sequitur. Além disso, quando é dito que o reino seria dividido (v. 28), a 
significação é que sua presente forma (a forma que tinha quando 
Belsazar era rei) seria quebrada e seria entregue ao inimigo, os medos e 
os persas. Esse versículo não significa que uma parte do reino seria 
entregue aos medos e que outra parte seria entregue aos persas. À luz das 
considerações acima, portanto, sentimo-nos constrangidos a rejeitar a 
identidade das quatro feras que consideram a Grécia como representada 
pela quarta fera. (Nota: O estudioso que quiser ler uma defesa capaz 
sobre a identificação esboçada acima, deveria consultar a obra de H. H. 
Rowley, Darius the Mede and the Four World Empires, 1935. Quanto 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 28 
à posição conservadora examinar The Prophecy of Daniel, págs. 275-
294). 
 Os advogados da posição esboçada acima identificam a figura 
celestial semelhante a um Filho de homem com o povo de Israel, "os 
santos do Altíssimo". Em apoio a essa interpretação apelam para 7.18,27 
onde é dito que o reino será dado aos santos. Entretanto, os santos 
recebê-lo-ão como algo que lhes será confiado pelo Filho do homem, 
para possuí-lo para sempre. O Filho do homem é apresentado como uma 
figura sobrenatural, pelo que não é possível identificá-lo com os santos. 
Pelo contrário, como reis, eles reinam em Seu reino. 
 2. A segunda interpretação é mantida pela escola de pensamento 
dispensacionalista. Essa concorda com o ponto de vista tradicional que 
identifica os reinos como Babilônia, Média-Pérsia, Grécia e Roma. 
Acredita-se, porém, que haverá um Império Romano revivificado que 
será dividido em dez reinos, pelo que as dez pontas da fera são 
comparadas com os dez artelhos da imagem que aparece no segundo 
capítulo. Esse período dos dez reinos, segundo dizem, ocorrerá após o 
retorno de Cristo para vir buscar Seu povo. A pequena ponta significa 
um príncipe do Império Romano revivificado que será inspirado 
satanicamente. Entretanto, precisamos deixar a discussão detalhada sobre 
esse ponto de vista ao considerarmos a passagem em 9.24-27. 
 3. A interpretação que este escritor acredita ser correta é a 
seguinte. Visto que as quatro feras emergem do mar (humanidade), 
representam, portanto, reinos que têm origem humana e, 
conseqüentemente, são ao mesmo tempo temporais e não universais. A 
primeira fera representa a Babilônia. A segunda, conforme demonstrado 
por seu duplo caráter, representa a Média-Pérsia, e não a Média apenas. 
A terceira representa a Grécia. E a quarta fera simboliza o Império 
Romano histórico. 
 Quanto às dez pontas, representam os reinos que deverão existir 
durante a segunda fase da história da quarta fera. Não se segue 
necessariamente que esses reinos devam levantar-se imediatamente 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 29 
depois da queda de Roma, mas tão somente que serão capazes de traçar 
sua origem até Roma. São contemporâneos somente no sentido que 
existem durante esse período particular; não será necessário que sejam 
realmente contemporâneos. 
 Quando chegar ao seu fim esse segundo período, virá um terceiro 
período, que é introduzido mediante o aparecimento da pequena ponta. 
Pelo próprio simbolismo não é possível dizer se essa pequena ponta 
representa um homem, um governo, uma coligação de governos ou uma 
ideologia. Só se sabe que fará oposição aos santos até que o julgamento 
de Deus traga a destruição completa da quarta fera. 
 O reino dado ao Filho do homem não é humano, mas tem origem 
divina, e é ao mesmo tempo universal e eterno. A figura celestial 
representa os santos, mas conforme mostra o simbolismo, é um 
Personagem divino. Era essa visão que nosso Senhor tinha em mente ao 
chamar a Si mesmo de Filho do homem. 
 Quanto a mim, Daniel, o meu espírito foi abatido (15). Na 
própria visão, Daniel se apresenta a fim de mostrar como ele foi afetado 
pelo que viu. 
 Os santos do Altíssimo (18); não os judeus, em distinção aos 
gentios, mas sim, os redimidos, isto é, os crentes verdadeiros, que seriam 
um reino de sacerdotes e nação santa (Êx 19.16). Não fundaram por si 
mesmos o reino,mas receberam-no como algo confiado pelo Filho do 
homem, para quem foi dado o reino. 
 Foi dado o juízo (22). Esse versículo expressa o resultado final da 
guerra que a pequena ponta fará contra o povo de Deus. O juízo será 
feito por Deus a favor de Seu povo, pelo que ficam em eterna e segura 
possessão do reino. 
Um tempo, e tempos, e metade dum tempo (25). Essas palavras 
caracterizam a intensidade da perseguição movida pela pequena ponta. A 
duração do período indicado pela palavra tempo não é indicada e, 
conseqüentemente, não podemos garantir que se trate de um ano. A 
própria expressão é cronologicamente indefinida, ainda que seu 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 30 
significado seja bastante claro. O poder da pequena ponta aparecerá por 
um tempo, e então por dois tempos. Assim é expresso simbolicamente 
que a intensidade do poder da pequena ponta será dobrada. Parece que 
esse poder continuará a crescer, e deveríamos esperar que isso seria dito 
pelas palavras quatro tempos assim perfazendo um total de sete tempos 
simbolizando completo e perfeito triunfo da parte do perseguidor. 
Entretanto em lugar disso, encontramos a menção de "metade dum 
tempo", e assim aprendemos a respeito do súbito fim do poder da 
pequena ponta, um fim realizado, segundo acreditamos, pelo julgamento 
divino e pela volta do Senhor do céu. 
 
Daniel 8 
VIII. VISÃO DE DANIEL SOBRE O CARNEIRO E O BODE 
 - 8.1-27 
 
a) A visão é descrita (8.1-14) 
 
 Na cidade de Susã (2). Algumas versões adicionam, "no castelo". 
Tratava-se de Susã, a capital da Pérsia, que no Antigo Testamento é 
constantemente designada como a "fortaleza". Não devemos pensar que 
Daniel estivesse realmente presente na Pérsia, a contemplar a visão ali, 
mas antes que, ao contemplar a visão (2), na visão se encontrava em 
Susã. 
 Um carneiro (3); o carneiro com os dois chifres representa a 
Média-Pérsia (ver versículo 20). 
 As marradas do carneiro (4) simbolizam as rápidas conquistas dos 
reis persas. 
 Um bode (5); o bode representa a Grécia (ver versículo 21), 
enquanto que a ponta notável (ou "conspícua") representa o primeiro 
rei, a saber, Alexandre (ver versículo 21). 
 O simbolismo do bode a ferir o carneiro (7) significa a conquista 
da Média-Pérsia pela Grécia. 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 31 
Aquela grande ponta foi quebrada (8); assim é simbolizada a 
morte de Alexandre. Os quatro chifres que se levantaram em seu lugar 
(8) representam os quatro reinos nos quais foi dividido o império de 
Alexandre, a saber, a Macedônia, a Trácia, a Síria e o Egito. No 
versículo 9, a ponta que apareceu, em realidade não é descrita como 
pequena, mas é dito que "saiu da pequenez", isto é, do estado de ser 
pequeno. Tendo começado como algo pequeno, aquela ponta foi 
crescendo até tornar-se grande em poder. 
 A terra formosa (9); trata-se de uma designação de Canaã, a 
Terra prometida (cf. Jr 3.19). 
 Exército do céu (10); isto é, as estrelas (cf. Jr 33.22); o simbolismo 
se refere aos santos, que são os objetos do ataque. O príncipe (11) é o 
próprio Deus. O fato que se engrandeceu (ou agiu grandiosamente) até 
Deus, consiste na remoção dos sacrifícios do templo. 
No versículo 14 a duração da desolação causada pelo chifre é 
estabelecido como duas mil e trezentas tardes e manhãs (ou dias). Isso 
não significa 1.150 dias, mas realmente 2.300 dias. A expressão "tardes e 
manhãs" (provavelmente baseada em Gn 1) significa um dia. O período 
total das abominações de Antíoco Epifânio se estenderia de 171 A. C. a 
165 A. C., e então o santuário seria restaurado. 
Enquanto Daniel, em sua mente, buscava compreender a visão, um 
anjo semelhante a homem se pôs ao seu lado (15). 
 No versículo 19, no determinado tempo do fim, não se refere ao 
fim de todas as coisas, nem ao fim do julgamento, mas ao fim do período 
de aflições que sobrevirão sobre Israel. No último tempo da ira (19); 
isto é, o fim do período do aparecimento de Antíoco Epifânio. 
 Feroz de cara (23); isto é, alguém que é obstinado, inexorável; a 
referência aqui é a Antíoco. Entendido em adivinhações (23); isto é, 
alguém que seria mestre em dissimulações. 
 Sem mão (25); isto é, sem o concurso de mão humana. Deus é que 
porá fim no poder do tirano. 
 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 32 
Daniel 9 
IX. ORAÇÃO DE DANIEL - 9.1-23 
 
 Livros (2). Esse termo evidentemente Se refere às Escrituras. Pelo 
estudo dos escritos de Jeremias, Daniel entendeu que o período de exílio 
se prolongaria por setenta anos (Jr 25.12). Portanto, Daniel voltou-se 
para Deus, em súplica, por causa dos pecados de seu povo. 
 Nos versículos 4-14 Daniel reconhece a culpa de Israel e, nesse 
reconhecimento, inclui sua própria pessoa. 
 Os versículos 15-19 constituem um apelo pedindo a misericórdia e 
o perdão de Deus. Enquanto Daniel ainda estava ocupado em oração 
veio Gabriel da parte de Deus para tornar Daniel sábio de entendimento 
(20-23). 
 
X. PROFECIA SOBRE OS SETENTA VEZES SETE - 9.24-27 
 
 Esta notável seção declara que um período definido de tempo 
havia sido decretado por Deus para a realização da restauração de Seu 
povo da escravidão. O tema geral, a saber, a decretação de um período 
de setenta setes, estabelecido no versículo 24, e os detalhes são tratados 
nos três versículos subseqüentes. Será necessário discutir a significação 
de praticamente cada palavra desta breve seção. 
Setenta semanas (24). A palavra que usualmente é traduzida como 
semanas seria mais exatamente traduzida como "setes". Significa um 
período dividido em sete porções, sendo que a duração exata desse 
período dividido em sete não é estabelecida. A palavra aparece 
primeiramente no hebraico e poderíamos parafraseá-la como "um 
período de setes, de fato, setenta deles". 
 Estão determinadas; isto é, os setes haviam sido decretados por 
Deus como o período em que seria realizada a redenção messiânica. 
Sobre; isto é, no tocante ao povo de Daniel e a Jerusalém, a cidade santa. 
A revelação desse período decretado, portanto, tem referência direta à 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 33 
oração de Daniel. O tempo do exílio estava quase no fim; o que restaria, 
pois, para o povo de Deus? Em resposta, foi revelado que, com respeito a 
esse povo, havia sido determinado um período de setenta setes, no qual 
a salvação deles seria realizada. 
 Os setenta setes foram determinados com o propósito expresso de 
produzir seis resultados, três dos quais negativos e três dos quais 
positivos. 
 Para extinguir a transgressão; transgressão que de outro modo 
estaria aberta e nua e que tinha de ser fechada e eliminada, para que não 
mais seja considerada como existente. 
 Dar fim aos pecados e expiar a iniqüidade. A linguagem implica 
que seria oferecido um sacrifício necessário, à base do qual seria 
perdoada a iniqüidade. Assim, o resultado negativo obtido é a abolição 
da maldição que separa Deus do homem. A natureza dessa maldição 
transparece no uso das palavras transgressão, pecados e iniqüidade. 
 São em seguida descritos os três resultados positivos. 
 Trazer a justiça eterna. Essa justiça será transmitida vinda do 
exterior, a saber, de Deus por intermédio do Messias. Essa expressão 
positiva corresponde à primeira negativa; é removida a transgressão e, 
em seu lugar, é introduzida a justiça eterna de Deus, que, segundo 
aprendemos em o Novo Testamento, é recebida pelo crente 
exclusivamente por meio da fé. 
 Selar a visão e a profecia. A referência aqui é à dispensação do 
Antigo Testamento, durante a qual o profeta era o representante de Deus 
perante a nação; e a visão era um dos meios pelo qual Deus tornava 
conhecida Sua revelação aos profetas. Profeta era um israelita levantado 
por Deus como porta-voz credenciado, para transmitir as palavras de 
Deus ao povo. Deus fazia Sua vontade conhecida dos profetas por meio 
de sonhos e visões (ver Nm 12.1-8). A instituição profética inteira era 
típica do grande Profeta que viria e, visto que estava sob Moisés,compartilhava do caráter preparatório da era do Antigo Testamento. 
Quando cessou esse método de revelação, a própria dispensação do 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 34 
Antigo Testamento chegou ao seu fim, isso é o que é dito com a selagem 
da visão e da profecia. 
 Para ungir o Santo dos santos. Esta frase difícil, que literalmente 
traduzida seria "uma santidade de santidades", aparentemente se refere 
ao fato do Messias ter sido imbuído do Espírito do Senhor. Pode-se 
assim ver que os seis objetivos que seriam realizados são todos 
messiânicos, e pode-se notar que, quando nosso Senhor ascendeu ao céu, 
cada um desses propósitos tinha sido cumprido. 
 Nos versículos 25-27 são estabelecidos os detalhes sobre o período 
de setenta setes. 
 O versículo 25 estabelece o início desse período e a duração do 
tempo até o aparecimento do Messias. A Daniel é ordenado saber e 
entender a mensagem. 
 Desde a saída da ordem. A tradução deste último termo significa 
apenas "palavras", O texto se refere à "saída de uma palavra" da parte de 
Deus, e não à expedição de algum edito da parte de qualquer monarca 
persa. Ao mesmo tempo, os efeitos da saída dessa palavra apareceram na 
história humana, e isso sucedeu durante o primeiro ano do reinado de 
Ciro, quando permitiu que os judeus retornassem à sua terra. O terminus 
a quo, por conseguinte, dos setenta setes, foi o ano 538-537 A.C. Essa 
palavra que procedeu de Deus se referia à restauração da cidade de 
Jerusalém à sua condição anterior. 
 Até ao Messias, o Príncipe; algumas versões traduzem: "até ao 
ungido"; isto é, alguém que é ao mesmo tempo ungido e também 
príncipe, ou, em outras palavras, alguém que é sacerdote e príncipe. 
Existe apenas Um para Quem podem aplicar-se essas palavras, a saber, 
Jesus, que é o Cristo. Desde o terminus a quo da profecia até o 
aparecimento do ungido é dito que restavam "sete setes e sessenta e dois 
setes". É possível que os sete setes representam o período antes do 
primeiro retorno do exílio sob Zorobabel e da obra de Esdras e Neemias 
haver sido completada, enquanto que os sessenta e dois setes 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 35 
representam o período entre esse tempo e o primeiro advento de Jesus 
Cristo. Os setes deveriam ser considerados números simbólicos. 
 O versículo 26 trata daquilo que deverá ter lugar após o término 
dos sessenta e dois setes. Dois acontecimentos são mencionados, mas 
não é esclarecido se esses sucederão durante o septuagésimo sete ou não, 
nem quanto tempo depois do término dos sessenta e dois setes. Em 
primeiro lugar é dito que o ungido será tirado. Esse Messias é que foi 
"tirado" por meio da crucificação. 
 E não será mais. Por essa expressão é estabelecida a completa 
rejeição do Messias, tanto pelos homens como por Deus. 
 Em segundo lugar, esse versículo menciona a sorte de a cidade o 
santuário (isto é, Jerusalém e o templo), que seriam destruídos pelo 
povo do príncipe que há de vir. Parece que aqui temos uma clara 
profecia acerca da destruição de Jerusalém durante o reinado de 
Vespasiano. Até ao fim, isto é, da destruição, continuariam a guerra e a 
desolação. 
 Ele firmará um concerto (27); melhor tradução seria "ele fará o 
concerto prevalecer". As palavras hebraicas são incomuns. Algumas 
vezes são interpretadas como se significassem simplesmente "fazer um 
concerto". Tal interpretação porém é incorreta, pois não faz justiça ao 
original que pode significar apenas fazer "prevalecer" um concerto ou 
"tornar firme um concerto". Fica subentendido que tal concerto já existia, 
mas que seus termos e condições foram agora tornados efetivos. Quem é 
esse que faz prevalecer o concerto? 
 Muitos pensam que o sujeito da frase seja o príncipe que há de 
vir do versículo 26, e ligam-no a Antíoco Epifânio ou ao governante de 
um futuro Império Romano revivificado. Entretanto a palavra príncipe 
encontra-se aqui em posição subordinada, e é muito improvável que 
essa palavra seja o sujeito do versículo 27. É melhor considerar o sujeito 
como o Messias, visto que Ele é a Pessoa mais proeminente desta 
passagem. O concerto que deverá prevalecer seria o concerto da graça 
pelo qual o Messias, por meio de Sua vida e morte, obtém a salvação 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 36 
para Seu povo. O septuagésimo sete (um número simbólico) se refere, 
dessa maneira, ao tempo da vida terrena de nosso Senhor. 
 Na metade desse sete o Messias, por meio da Sua morte, faz 
cessar os sacrifícios judaicos (cf. Hb 8.13). 
 E sobre a casa (ou "pináculo") das abominações virá o 
assolador. Em resultado ou conseqüência da morte do Messias alguém 
que é assolador (isto é, o príncipe romano Tito) aparece sobre "a asa das 
abominações" (isto é, sobre o pináculo do templo). Por essa linguagem é 
dado a entender a completa destruição do templo. Esse estado de 
destruição continuará até à consumação ou "fim completo", que foi 
determinada por Deus e tem sido derramada sobre a desolação (isto é, as 
ruínas de Jerusalém e do templo). 
 Esta profecia sobre os setenta setes é uma das mais difíceis de todo 
o Antigo Testamento e, embora as interpretações quase formem legião, 
limitar-nos-emos a discussões de três que podem ser consideradas de 
importância particular. 
 1. Aqueles que não sustentam o caráter digno de absoluta 
confiança e a autoridade divina das Escrituras, afirmam que a passagem 
se refere a Antíoco Epifânio. A desolação descrita no versículo 27, 
portanto, seria provocada por Antíoco; a pessoa ungida do versículo 25 
usualmente é considerada como o sacerdote Onias III, e a passagem 
inteira é privada de seu caráter messiânico. As objeções a esse tipo de 
interpretação, no entanto, são tão sérias que é impossível considerá-la 
como correta. 
 2. Uma interpretação largamente difundida hoje em dia é o da 
escola de pensamento dispensacionalista. Os advogados desse ponto de 
vista naturalmente diferem entre si em alguns pontos, mas sua posição é 
essencialmente a que segue. 
 O início dos setenta setes é usualmente considerado como o ano 
vigésimo do reinado de Artaxerxes, que se afirma ser 445 A. C. (ver Ne 
2). O período de sete setes se refere à restauração do exílio e à 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 37 
reconstrução de Jerusalém, e o período de sessenta e dois setes nos leva 
até à entrada triunfal de Cristo em Jerusalém. 
 As promessas feitas no versículo 24, entretanto, segundo esse 
ponto de vista, não foram cumpridas por ocasião do primeiro advento de 
Cristo e o septuagésimo sete não se segue imediatamente ao sexagésimo 
nono sete. Antes, entre esses dois setes consecutivos intervém um longo 
parêntese que é conhecido como a "era da Igreja", um período que não 
foi revelado aos profetas do Antigo Testamento. Quando esse parêntese 
tiver terminado, então Jesus Cristo retornará a Seu povo e o 
septuagésimo sete (de sete anos de duração) terá início. 
 O príncipe do versículo 26, fará aliança com muitos judeus pelo 
espaço de um sete. Como retribuição à fidelidade que os judeus lhe 
demonstrarão, ele lhes permitirá que reconstruam o templo e realizem 
sacrifícios. No meio desse sete (isto é, após 3 1/2 anos, ele violará a 
aliança, e terá começo uma feroz perseguição que se prolongará pelos 3 
1/2 anos restantes do sete, quando Cristo então retornará em companhia 
de Seus santos a fim de reinar por mil anos. Pela exposição esboçada 
acima, pode ser verificado que o presente escritor considera que as 
dificuldades que esse ponto de vista tem de vencer são muito grandes. 
 3. A interpretação messiânica tradicional envolve menos 
dificuldades do que as outras e, ao mesmo tempo, faz justiça à 
linguagem do texto. Segundo esse ponto de vista os setenta setes servem 
como número simbólico para o período que fora decretado para a 
realização da salvação messiânica (versículo 24). No versículo 25 é nos 
ensinado que se seguem dois segmentos de tempo desde a saída da 
palavra da parte de Deus para reconstruir Jerusalém até o aparecimento 
de Cristo. Depoisde se terem passado esses dois segmentos de tempo, o 
Messias seria tirado do meio dos viventes por meio da morte, e 
Jerusalém e o templo seriam destruídos pelos exércitos romanos de Tito. 
O Messias entretanto, faria os sacrifícios judaicos cessarem por meio de 
Sua morte, e faria isso no meio do septuagésimo sete. Em conseqüência, 
o templo seria destruído e a destruição continuará até o fim determinado 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 38 
por Deus. O ponto exato do término do período de setenta setes não é 
revelado. A ênfase recai antes muito mais sobre os grandes resultados 
que esse período produzirá do que sobre seu início e fim. 
 
XI. A VISÃO DE DEUS - 10.1-11.1 
 
Daniel 10 
 A revelação registrada neste capítulo foi dada a Daniel no ano 
terceiro de Ciro (1), o que demonstra que ele continuou na Babilônia 
mesmo depois do tempo mencionado em 1.21. Por qual motivo ele não 
retornou à Palestina com Zorobabel, não é dito. Deve-se notar que 
Daniel menciona seu nome babilônio, Beltessazar, aparentemente 
movido pelo desejo, agora que o Império Babilônio havia caído, de 
preservar sua identidade entre seu próprio povo. 
 Trata duma guerra prolongada (1). Com toda a probabilidade a 
significação é "por um longo tempo", visto que a palavra Saba, que aqui 
é traduzida "guerra", tem sido encontrada nos tabletes de Mari com o 
sentido de "tempo". Na ocasião em que essa revelação foi feita a Daniel, 
ele estava ocupado em lamentações, indubitavelmente ocasionadas pela 
reflexão sobre os pecados do seu próprio povo. 
 Vi um homem (5); a revelação é uma teofania ou aparição pré-
encarnada do Filho eterno. A linguagem da descrição nos faz lembrar da 
linguagem de Ez 1 (cf. também Ap 1.13-15). A visão produziu em 
Daniel um efeito de enfraquecimento (8). 
 Daniel, homem muito desejado (11). Cf. 9.23. Sendo-lhe 
assegurado que era homem desejado por Deus, Daniel é encorajado e 
preparado a ouvir a mensagem que segundo é informado, diz respeito 
aos derradeiros dias (14), isto é, à era messiânica. 
 É relatado primeiramente (20) que Aquele que falava haveria de 
pelejar contra o príncipe dos persas (isto é, o poder espiritual por 
detrás dos deuses da Pérsia), e quando se saísse Ele vitorioso (saindo eu, 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 39 
isto é, vitorioso da batalha), apresentar-se-ia o príncipe da Grécia e seria 
igualmente combatido. 
 Somente Miguel estava à mão para prestar ajuda, assim como, no 
primeiro ano de Dario, o medo, Aquele que falava o havia ajudado 
(10.21; 11.1; cf. versículo 13). Assim sendo, havia severas provações 
que o povo de Deus teria de atravessar. 
 
Daniel 11 
XII. REVELAÇÃO SOBRE O FUTURO - 11.2-20 
 
 O versículo 2 significa que três reis haveriam de surgir depois de 
Ciro, e que o quarto depois deles despertaria todo o reino da Grécia. Os 
reis, portanto, deveriam ser Ciro e mais três que ainda surgiram -- 
Cambises, Smerdis e Dario Histaspes – e o quarto, Xerxes. 
 Um rei valente (3); isto é, Alexandre, o Grande. Quando 
Alexandre subisse ao poder, seu reino seria partido. Ao falecer na 
Babilônia, Alexandre tinha cerca de trinta e dois anos de Idade. Por 
ocasião de sua morte seus doze generais dividiram os ganhos entre si. 
Por algum tempo Arideus, um dos guardiões de um dos filhos de 
Alexandre, foi quem governou, mas logo o império foi partido em quatro 
divisões. 
 O rei do Sul (5); isto é, o rei do Egito (Cf. versículo 8). A dinastia 
que governou o Egito, depois da partilha do reino de Alexandre, era 
conhecida por Ptolemaica, enquanto que aquela que governou a Síria era 
conhecida por Selêucida. O rei do sul é Ptolomeu Soter (322-305 A. C.), 
enquanto que o príncipe mencionado é Seleuco. 
 A filha do rei do Sul (6); isto é, Berenice, a filha de Ptolomeu, 
que se casou com Antíoco II, mas que foi incapaz de manter-se em vista 
da rivalidade de outra esposa, Laodice. Antíoco finalmente se divorciou 
de Berenice e Laodice encorajou seus filhos a assassinarem Berenice. 
 Do renovo das suas raízes (7). O irmão de Berenice (isto é, de 
sua linha ancestral) veio contra o exército do norte e conseguiu eliminar 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 40 
Laodice pela morte. As Escrituras, então, continuam relatando as 
diversas batalhas e guerras entre os Ptolomeus e os Selêucidas, até o 
aparecimento de Antíoco Epifânio. 
 
XIII. OS TEMPOS DE ANTÍOCO E DO ANTICRISTO - 11.21-12.3 
 
 Um homem vil (21). Com essa descrição é apresentado Antíoco 
Epifânio. Por meio de lisonjas ele se aliou aos reis de Pérgamo, e os 
sírios cederam a ele. Ele era mestre em astúcia e traição, pelo que seus 
contemporâneos apelidaram-no de Epimanes (maluco), em lugar do 
título que ele mesmo se deu, Epifanes (ilustre). 
 O príncipe do concerto (22). A identificação deste príncipe não é 
certa, mas a linguagem parece referir-se a algum príncipe que mantinha 
relações de aliança com Antíoco. 
 Subirá (23); uma declaração geral da elevação de Antíoco ao 
poder. 
 Caladamente (24). Quando todos se julgavam seguros, ele surgiu. 
Ele tomaria as mais férteis das províncias e as fortalezas da terra do 
Egito. 
 Os versículos 25-28 descrevem a primeira campanha de Antíoco 
contra o Egito, uma campanha na qual o Ptolomeu egípcio não pôde 
resistir em vista da traição daqueles que deveriam tê-lo apoiado. 
 Antíoco (27) demonstrou hospitalidade para com seu inimigo, 
mas, em realidade violou o costume da hospitalidade oriental proferindo 
palavras mentirosas. Por ocasião de seu retorno Antíoco voltou o coração 
contra o santo concerto (28), isto é, a terra da Palestina. 
 O versículo 29 descreve outra campanha contra o Egito, que é a 
terceira. Aparentemente tinha havido ainda uma segunda campanha, 
sobre a qual o livro de Daniel faz silêncio. Deve-se notar, 
incidentalmente, que esse relato inteiro é transcrito no tempo verbal 
futuro. Segundo o escritor sagrado, esses acontecimentos ainda não se 
Daniel (Novo Comentário da Bíblia) 41 
tinham desenrolado, mas deveriam ocorrer no futuro. O relato, por 
conseguinte, apresenta-se como verdadeira profecia. 
 Navios... lhe causarão tristezas, e voltará e se indignará (30). A 
presença dos romanos obrigou Antíoco a partir do Egito e assim, tomado 
de ira voltou sua atenção para a Palestina. Jerusalém foi atacada em um 
sábado e um altar pagão foi erigido sobre o altar das ofertas queimadas. 
Certos Judeus apóstatas foram pervertidos (32), e serviram para 
materializar os desígnios do conquistador, mas muitos entre os judeus, os 
verdadeiros eleitos, sofreram a morte não querendo ceder a Antíoco (cf. 
1 Mac 1.62). Nessa ocasião homens de verdadeira fé foram capazes de 
instruir a outros, embora sofressem grandemente (33). 
 O pequeno socorro (34) que ajudou os fiéis se refere 
aparentemente a Judas Macabeu. Alguns dos sábios que o seguiram 
tropeçaram por causa da severidade da perseguição. Ao mesmo tempo, a 
rebelião de Judas Macabeu foi bem sucedida, e, a 25 de dezembro de 165 
A. C., foi rededicado o altar do templo. 
 Os vv. 36-45 se revestem de particular interesse. Muitos 
expositores acreditam que dão prosseguimento à descrição a respeito de 
Antíoco. Mas, há certa dificuldade nessa posição, entretanto, visto que a 
morte de Antíoco foi muito diferente da que é aqui descrita. A 
interpretação que pode ser chamada de tradicional na Igreja Cristã é a 
que considera esses versículos como referências ao Anticristo. Antíoco 
Epifânio, que perseguiu a congregação judaica pouco antes do primeiro 
advento de Cristo, pode ser considerado como tipo do Anticristo, que 
perseguirá a Igreja pouco antes do segundo advento de Cristo. 
 O versículo 36 estabelece que o rei aludido se engrandecerá 
sobre todo o deus, uma descrição que não pode ser bem aplicada a 
Antíoco Epifânio. Semelhantemente, é difícil ver em que Antíoco teria 
demonstrado falta de respeito para com os deuses de seus pais (37). 
 A linguagem dos versículos 40-45 ensina que no fim da era 
presente o Anticristo ocupar-se-á de um feroz conflito.