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Jeremias (N Comentario)

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JEREMIAS
 VOLTAR 
 Introdução 
 Plano do livro 
 Capítulo 1 Capítulo 14 Capítulo 27 Capítulo 40 
 Capítulo 2 Capítulo 15 Capítulo 28 Capítulo 41 
 Capítulo 3 Capítulo 16 Capítulo 29 Capítulo 42 
 Capítulo 4 Capítulo 17 Capítulo 30 Capítulo 43 
 Capítulo 5 Capítulo 18 Capítulo 31 Capítulo 44 
 Capítulo 6 Capítulo 19 Capítulo 32 Capítulo 45 
 Capítulo 7 Capítulo 20 Capítulo 33 Capítulo 46 
 Capítulo 8 Capítulo 21 Capítulo 34 Capítulo 47 
 Capítulo 9 Capítulo 22 Capítulo 35 Capítulo 48 
 Capítulo 10 Capítulo 23 Capítulo 36 Capítulo 49 
 Capítulo 11 Capítulo 24 Capítulo 37 Capítulo 50 
 Capítulo 12 Capítulo 25 Capítulo 38 Capítulo 51 
 Capítulo 13 Capítulo 26 Capítulo 39 Capítulo 52 
 
INTRODUÇÃO 
 
I. AMBIENTE HISTÓRICO 
 Quando Deus chamou Jeremias ao ministério profético em 626 
A.C., a Assíria, senhora do mundo, sujeitara Judá ao seu domínio, 
cobrando-lhe tributo. Todavia, a própria Assíria gradualmente 
enfraqueceu, após a morte de Assurbanipal em 633 A. C. Certas 
províncias do império perderam-se em 614 A. C., e outras no cerco final 
de dois anos. Assurubalut foi o último monarca reinante, conservando-se 
em Harran durante, pelo menos, dois anos após a destruição de Nínive 
em 612 A. C. 
 Potencialmente, o trono da Assíria estava aberto a qualquer cabo 
de guerra do tempo. Neco, do Egito, conduziu as suas forças até ao norte 
da Palestina, defrontando e matando Josias, rei de Judá, em Megido em 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 2 
609 A. C., subjugando a Síria e pondo-se novamente em marcha até ao 
Eufrates. Foi, porém, enfrentado por Nabucodonosor da Babilônia, que 
desbaratou os seus exércitos na histórica batalha de Carquemis e o 
obrigou a recuar para as suas próprias fronteiras, pondo, assim, termo 
temporário à ambição egípcia de dominar o Oriente. Foi deste modo que 
Judá, até ali sujeito à Assíria, passou automaticamente para o controle da 
Babilônia. 
 Depois da morte trágica de Josias, o seu povo ungiu Jeoacaz, seu 
filho, rei em seu lugar. Neco, porém, depô-lo a favor de Jeoaquim, seu 
irmão, pensando que ele serviria melhor os interesses egípcios. Que esta 
convicção tinha bons fundamentos prova-o claramente o tratamento a 
que Jeoaquim sujeitou o profeta Jeremias. Depois de Carquemis, 
Nabucodonosor interessou-se menos por Judá, possivelmente por o 
descontentamento em Babilônia exigir o seu regresso imediato após ter 
sido desferido um golpe decisivo contra o Egito. Entretanto, Jeoaquim, 
confiante nas promessas egípcias de auxílio maciço, fez uma tentativa de 
sacudir o jugo de Babilônia. Em resultado disso, em 596 A. C., 
Nabucodonosor, consolidado o seu poder na pátria, atacou Jerusalém, 
prendeu Jeoaquim, filho do rebelde e agora seu sucessor, e levou-o com 
algum do seu povo para o cativeiro. Ao mesmo tempo, pôs Zedequias no 
trono. 
 O Egito não ousava arriscar uma guerra com Babilônia; em vez 
disso, procurava enfraquecer pela intriga os laços impostos por 
Nabucodonosor à Síria e Palestina. A Neco sucedeu no trono egípcio 
Psamético II, e presumivelmente foi ele quem procurou persuadir estes 
países a tomarem parte numa aliança com o Egito contra Babilônia. 
Zedequias foi um dos monarcas abordados, e parece haver fortes indícios 
de ter existido um partido pró-egito na corte. Ananias, o profeta, 
salientava-se bastante nesta conjuntura, mas Jeremias opôs-se 
firmemente à proposta. Ver, por exemplo, o capítulo 28, com o seu 
oráculo do jugo de ferro. 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 3 
 Jeremias opunha-se vigorosamente a estes funcionários da corte. 
Como porta-voz de Jeová, denunciava-os como falsos profetas, 
afirmando que as suas atividades pró-Egito eram contrárias à Sua 
vontade e teriam um resultado trágico. Sem dúvida se consideravam 
verdadeiros patriotas, e é evidente que o seu ódio feroz a Jeremias se 
fundamentava no fato de, na opinião deles, o profeta ser um traidor 
confesso. Chamando-lhes falsos profetas, Jeremias não implica 
necessariamente que fossem homens cruéis, mas antes que a sua intuição 
ou critério não eram inspirados por Iavé. A sua acusação contra os seus 
adversários é que não fora Iavé quem os mandara, mas que eles se 
destacam por iniciativa própria, pelo que as suas predições não se 
realizarão. Era, pois, aí que residia a falsidade. Falavam em nome de 
Iavé quando, afinal, Ele não lhes tinha ordenado que o fizessem. De tudo 
isto se depreende que a sinceridade não basta; só a inspiração divina é 
que faz de alguém um profeta. 
 É impossível dizer se Nabucodonosor tinha recebido um aviso 
direto do descontentamento que grassava, ou apenas boatos, mas o certo 
é que Zedequias foi intimado a avistar-se com ele e a descrever as 
condições na sua pátria. O seu regresso implica que deu garantias de 
fidelidade. É pena que, ao que parece, ele não tivesse a coragem e a força 
moral para resistir à influência de conspiradores pró-egipcistas como 
Ananias e os seus confederados. Jeremias instava constantemente com o 
rei para que permanecesse fiel ao seu compromisso, mas quando Hofra 
se tornou faraó em 589 A C., sucedendo a Psamético II, a influência 
egípcia na corte acentuou-se ainda mais e, em resultado de tramas 
urdidas em segredo, Zedequias foi finalmente induzido a faltar à sua 
palavra para com Nabucodonosor. O Egito foi lento no seu socorro, e o 
monarca babilônio tornou a pôr cerco a Jerusalém em 587 A. C. Por fim, 
apareceu o exército egípcio e os babilônios levantaram o cerco 
temporariamente. Foi nessa altura que Jeremias foi preso como desertor 
que procurava fugir para os caldeus (ver 37.11-15). 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 4 
 A repetição do assédio parece ter provocado uma crise. Jeremias 
tinha a certeza de que a sua intuição provinha de Deus, de que Ele lhe 
revelara os Seus propósitos de transformar Babilônia no instrumento da 
Sua vontade. A confiança no Egito, portanto, só poderia abrir caminho à 
tragédia e ao exílio. Além disso, os inimigos do profeta serviam-se do 
nome de Iavé para apoiar a sua política pró-egipcista. Por conseguinte, 
afirmavam que a atitude e as palavras de Jeremias enfraqueciam a 
vontade nacional de combater. 
 Esta luta revela-se de forma crucial na pessoa de Zedequias, que se 
erguia entre as duas facções, sendo atraído ora para um dos partidos, ora 
para o outro. Costuma-se dizer que Zedequias era um fraco, incapaz de 
tomar uma decisão e enfrentar as conseqüências. Percebe-se que 
Jeremias não o conseguiu influenciar de forma a fazê-lo manter-se firme 
no seu juramento de fidelidade para com Nabucodonosor. A batalha foi 
ganha pelos falsos profetas e Zedequias arriscou a sua sorte, mas pagou 
amargamente a sua decisão e delongas. O Egito revelou-se uma cana 
quebrada; o segundo cerco foi coroado de êxito, os babilônios 
comportavam-se de forma desapiedada e, com grande desgosto seu, 
Jeremias assistiu à amarga realização da sua profecia. 
 Este livro dá-nos pormenores referentes à vida de Jeremias até à 
sua partida forçada para o Egito. Depois, abatem-se as trevas sobre o 
profeta, atenuadas, se porventura o são, apenas por vagas tradições. Nada 
há que permita chegar a conclusões definitivas quanto à sua sorte. 
Segundo uma tradição cristã, alguns cinco anos depois da queda de 
Jerusalém, foi lapidado em Tahpanhes pelos judeus, que, mesmo então, 
se recusavam a comungar na sua visão e na sua fé. 
 
II. A MENSAGEM E ENSINO DE JEREMIAS 
 Politicamente, como vimos, o profeta perdeu, mas espiritualmente 
obteve retumbante vitória. Com Amós e Oséias, confiava em como, 
apesar de a idolatria e a infidelidade a Iavé acarretaram necessariamenteo castigo, Israel e Judá não seriam destituídos definitivamente da graça 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 5 
de Deus. Com esses profetas, comungava também na fé que o exílio 
como disciplina seria, não totalmente trágico, mas uma experiência 
corretiva. O estado como estado estava condenado, mas a fé em Iavé e a 
fé de Iavé no Seu povo escolhido permaneceriam e sobreviveriam àquele 
choque crucial. 
 Viu também que o antigo concerto centralizado no templo e no seu 
cerimonial era ineficaz. Assim, acabou por descortinar que Iavé 
escreveria um novo concerto no coração do "remanescente", através do 
qual a religião vital se manteria dinâmica e seria um veículo de bênção 
para além das fronteiras da nação. 
 Quando o livro da Lei encontrado por Hilquias nas ruínas do 
templo provocou a reforma do reinado de Josias em 621 A. C., parece 
evidente que, de princípio, Jeremias vibrou no mesmo entusiasmo que o 
monarca, emprestando a este a sua influência e auxílio. Parece 
igualmente evidente, porém, que, mais tarde, a sua confiança nesse 
avivamento começou a enfraquecer, considerando-o o profeta demasiado 
fácil e superficial para satisfazer os requisitos de Iavé. A grande 
necessidade era de uma mudança de coração, só possível num povo que 
depositasse a sua fé tão-somente em Iavé. Ora, a geração de Jeremias 
recusava-se a conceder essa centralidade de fé. 
 Muitos comentadores têm afirmado que Jeremias, com outros 
profetas, se opunha ao ritual de sacrifícios, considerando-o algo que não 
fora ordenado por Iavé e que Lhe repugnava. Todavia, a atitude de 
Jeremias será melhor interpretada se nós descortinarmos a lição de que, 
sempre que um sacrifício não constitui um verdadeiro índice da adoração 
e arrependimento do indivíduo, então esse sacrifício não terá valor, 
sendo, portanto, contrário ao desejo e vontade de Iavé. Quando muito, 
um sacrifício só poderia ser um meio para atingir o fim espiritual de um 
regresso contrito ao Senhor, jamais podendo constituir um fim suficiente 
em si. 
 
 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 6 
III. AUTORIA 
 Trata-se de um problema muito complexo que não pode ser 
eficazmente abordado numa breve introdução como esta. Em 
Introduction to the Old Testament, de E. J. Young, encontrar-se-á 
formulada a posição conservadora acompanhada de um sumário das 
várias correntes críticas. O próprio livro diz que Baruque, o escriba, 
escreveu as profecias que Jeremias pronunciou (ver especialmente 
36.32), e declara que "ainda se acrescentaram a elas muitas palavras 
semelhantes". Duma maneira geral, Baruque parece ter sido fiel 
amanuense de Jeremias e, note-se, acompanhou-o até ao Egito (Jr 43.6). 
 As próprias profecias não vêm em ordem cronológica, o que pode 
causar confusão numa mentalidade ocidental, habituada a encarar tais 
problemas de uma maneira lógica. Em The New Bible Handbook, de G. 
T. Manley, o leitor encontrará um esquema das datas prováveis 
correspondentes aos vários capítulos. O problema resulta ainda mais 
complicado por haver grandes diferenças entre o texto hebraico e o dos 
Setenta deste livro, fenômeno que se verifica mais nele do que em 
qualquer outro. Estas diferenças não dizem respeito apenas às palavras 
mas afetam a ordem de apresentação do conteúdo. Para uma breve 
análise das discrepâncias e uma hipótese de explicação, ver 
Introduction to the Old Testament, de E. J. Young, obra a que já se fez 
referência. No corpo do comentário, apontam-se sempre os passos em 
que a versão dos Setenta parece derramar luz sobre o texto hebraico. 
 
IV. O CARÁTER DO PROFETA 
 Jeremias era, de fato, um homem de Deus, sensível a toda a 
influência espiritual, suscetível de profunda emoção, dotado de visão 
clara e critério cristalino. Não podia ser comprado nem cavilosamente 
convencido. Seguia o caminho traçado pelo seu espírito, este sempre 
apoiado no sentimento de adoração que vivia dentro dele. Foi um 
homem de Deus do princípio ao fim e, portanto, um patriota fiel até à 
tragédia. Não era cego para o pecado e loucura do seu povo. Descortinou 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 7 
com profunda amargura o nexo férreo entre o pecado e o castigo, e 
previu o exílio como uma punição inevitável e irrevogável, a não ser que 
se verificasse uma conversão. Foi para a provocar que despendeu sem 
reservas todo o seu esforço. Essencialmente, foi um mediador impelido 
pelo patriotismo e pela fé em Deus. 
 Daí a veemência das suas emoções e mensagens, ora contra o seu 
povo, ora intercedendo junto do Senhor. Daí também o seu isolamento, a 
sua agonia de espírito, os seus cruciais conflitos íntimos. A sua paixão 
iluminava-lhe os passos, o que facilitou a sua tarefa, embora tornando-a 
desagradável. Viu a condenação, mas não a tragédia final. Tanto Israel 
como Judá tinham um futuro em Deus, o Qual seria a sua justiça. 
Haveria um novo concerto. Em Deus leu promessas, não futilidade, pelo 
que "ficou firme como vendo o invisível". Neste vulto descarnado, 
clamante, vemos o que Deus ousa pedir ao homem, e o que um homem 
assim pode dar. A descoberta do Jeremias autêntico pode bem constituir 
o renascimento de quem o descobre. 
 
PLANO DO LIVRO 
 
 Este livro extenso não se presta facilmente a qualquer divisão 
satisfatória, pelo que analisá-lo não passa, duma maneira geral, de formular 
uma opinião subjetiva. Seria talvez razoável dividir "Jeremias" em dois livros, 
terminando o primeiro no capítulo 25 e abrangendo o segundo do capítulo 26 
até ao fim. A razão desta divisão é que, duma maneira geral, os oráculos 
proféticos dominam na primeira metade, e a narrativa na segunda. 
 
MENSAGENS REFERENTES AO POVO ESCOLHIDO DE 
DEUS - 1.1-25.38 
 
I. A CHAMADA DO PROFETA - 1.1-19 
 
II. A INTIMAÇÃO DA NAÇÃO - 2.1-6.30 
 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 8 
III. AS ILUSÕES ACERCA DA SEGURANÇA DO TEMPLO 
 - 7.1-10.25 
 
IV. JEREMIAS E O CONCERTO - 11.1-12.17 
 
V. AS CINCO ADVERTÊNCIAS - 13.1-27 
 
VI. SOMBRAS DE TRAGÉDIA - 14.1-21.14 
 
VII. REIS E PROFETAS DE JUDA: A VISÃO DO FIM - 22.1-25.38 
 
NARRATIVAS HISTÓRICAS - 26.1-52.34 
 
VIII. PROFECIAS E ACONTECIMENTOS DURANTE 
 O REINADO DE JEOAQUIM - 26.1-24 
 
IX. A SENSATEZ DO PROFETA - 27.1-29.32 
 
X. UM FUTURO E UMA ESPERANÇA - 30.1-34.22 
 
XI. PROFECIAS E ACONTECIMENTOS DURANTE 
 O REINADO DE JEOAQUIM - 35.1-36.32 
 
XII. PROFECIAS E ACONTECIMENTOS DURANTE 
 O REINADO DE ZEDEQUIAS - 37.1-39.18 
 
XIII. PROFECIAS E ACONTECIMENTOS EM JUDÁ - 40.1-42.22 
 
XIV. PROFECIAS E ACONTECIMENTOS NO EGITO - 43.1-44.30 
 
XV. A MENSAGEM DE JEREMIAS A BARUQUE - 45.1-5 
 
XVI. PROFECIAS CONTRA NAÇÕES ESTRANGEIRAS 
 - 46.1-51.64 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 9 
XVII. RETROSPECTO - 52.1-34 
 
COMENTÁRIO 
 
MENSAGENS REFERENTES AO POVO ESCOLHIDO DE 
DEUS - 1.1-25.38 
 
I. A CHAMADA DO PROFETA - 1.1-19 
 
Jeremias 1 
a) Elementos acerca do profeta (1.1-3) 
 
 A chamada de Jeremias baseou-se num profundo sentido da 
iniciativa de Deus, como se ele tivesse sido predestinado para o cargo de 
profeta desde que nasceu, antes, até, de concebido - um caso de 
determinismo espiritual. Os vv. 1 e 2 dão-nos pormenores referentes à 
descendência de Jeremias e data em que foi chamado. 
 Anatote (1), a moderna Anata, alguns quatro quilômetros e meio 
para nordeste de Jerusalém. 
 No décimo terceiro ano do seu reinado (2), isto é, 626 A. C. 
 Até que Jerusalém foi levada em cativeiro (3), ou seja, no ano 
586 A. C., quando Nabucodonosor destruiu a cidade. O ministério de 
Jeremias prolongou-se para além desta data e durou uns cinqüenta anos 
ao todo. 
 
b) A consagração do profeta (1.4-10) 
 
 Assim veio a mim a palavra do Senhor (4). Os vv. 3 e 4 sugerem 
que ela veio, não de uma forma súbita, mas sim de uma forma persistente 
(em hebraico way'hi, "continuou a vir"). 
 Te santifiquei (5), ou separei. Não do ponto de vista ético, embora 
isso se seguisse naturalmente. 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 10 
 As ordens que recebeu (6-7) eram igualmenteclaras. Existe nestes 
dois versículos um contraste entre o recuo ante uma tarefa difícil e o 
insuflamento de inspiração para que ela fosse realizada. Jeremias é o 
mais psicológico de todos os profetas. 
 Protesta: Sou uma criança (6; Septuaginta, "demasiado novo"), 
dando a entender que a sua falta de capacidade era devida à sua 
juventude. Todavia, esta objeção é arredada no próprio momento em que 
é feita, e o futuro profeta sujeita-se com pleno consentimento da sua 
personalidade - atitude típica de Jeremias, para quem a vontade de Deus 
deve vir em primeiro lugar, logo que for conhecida. 
 Deus. . . tocou (9) nos lábios de Jeremias, tornando-o Seu 
mensageiro, com poder para destruir ou recriar. É esta a incumbência 
dupla que explica o que tão freqüentemente intrigou os comentadores de 
épocas transactas, a saber, o pessimismo e, paradoxalmente, a esperança 
de Jeremias. O seu pessimismo não brota de um sentimento de 
fatalidade, mas sim da catástrofe inevitável que se produzirá se houver 
um afastamento das veredas da fé e da fidelidade. No entanto, mesmo 
que aconteça o pior, Jeremias sabe que o castigo de Deus não passa do 
prelúdio de um dia melhor. Como noutros profetas, a profecia era 
condicional; o castigo seria abolido se a nação se arrependesse da sua 
maldade. 
 
c) A declaração feita ao profeta (1.11-16) 
 
 A chamada de Jeremias está imediatamente associada com duas 
visões que lhe podem ter sido concedidas para comprovar a sua vocação 
e dar-lhe coragem. A revelação autêntica a missão que lhe é confiada. 
Através destas visões, Deus faz determinada declaração ao profeta e, 
através dele, ao povo. 
 A visão da amendoeira (11) revela ao leitor como Jeremias amava 
e compreendia a natureza sob o seu aspecto de agente revelador de Deus. 
Há aqui um trocadilho que gira em torno de duas palavras hebraicas: 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 11 
amendoeira (shaked) e "desperto" (shoked). A amendoeira é a primeira 
árvore a despertar na primavera; assim também Iavé desperta e Se ergue 
em castigo. 
 Uma panela a ferver (13); literalmente, uma panela sobre a qual 
alguém sopra - aliás, segundo outra tradução, um caldeirão, ou seja, uma 
vasilha utilizada para vários fins, como culinária, lavagens, etc. Aponta-
se para a banda do norte, dando a entender que é daí que se deve esperar 
castigo. O texto é difícil, mas o sentido é bem claro. 
 Se descobrirá (14); seguindo a versão da Septuaginta, "se 
soprará", dando a entender que Iavé transformará um povo setentrional 
em agente do Seu castigo. O motivo deste é a idolatria (16), que equivale 
a infidelidade e implica tensão entre dois amos, Baal contra Iavé. 
 
d) A exortação ao profeta (1.17) 
 
 O desânimo de Jeremias (17) ao compenetrar-se do conteúdo 
daquela profecia é combatido pela ordem que recebe de não se 
atemorizar. 
 
e) Consolação para o profeta (1.18-19) 
 
 Essa consolação é que Iavé estará com ele, tornando-o invencível 
(19). 
 
II. A INTIMAÇÃO DA NAÇÃO - 2.1-6.30 
 
 Depois da chamada de Jeremias e das visões que lhe são 
concedidas para o fortalecer em espírito, registra ele que recebeu a 
palavra do Senhor (1). Todas as suas mensagens são inspiradas por Deus. 
Esta seção contém duas delas (2.1-3.5 e 3.6-6.30). 
 
 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 12 
a) A primeira mensagem de Jeremias (2.1-3.5) 
 
Jeremias 2 
 1. A DECLARAÇÃO A ISRAEL (2.1-3). Israel foi outrora a 
noiva de Iavé (2), tão bela quão pura, santidade para o Senhor (3; ver 
Os 2.2-20). 
 
 2. A CONTENDA COM ISRAEL (2.4-13). Iavé aviva a memória de 
Israel lembrando-lhe toda a Sua misericórdia para com esse povo (6-7) e 
provando-lhe que não fora Ele quem faltara ao prometido. Israel é que 
havia contaminado a terra (7); os seus profetas tinham profetizado por 
Baal (8), principal deus dos fenícios, cujo culto havia sido introduzido 
em Israel depois de Salomão se haver aliado com essa nação. 
 Chittim (10), o povo de Kition, uma cidade em Chipre. Alguns 
eruditos identificam Chittim com os hititas. Quedar (10), representa o 
oriente, assim como Chittim representa o ocidente. Os vv. 11 e 12 
resumem o horror do profeta ao compenetrar-se da apostasia do seu 
povo. Ao contrário das nações pagãs, que permaneciam fiéis às suas 
divindades, Israel preferia deuses que não lhe davam lucro a Iavé, o seu 
próprio Deus. Até os céus pasmavam de tal sacrilégio. 
 A imagem cisternas rotas (13) sugere água estagnada que se 
escapa facilmente pelas fendas, contrastando com a água pura de uma 
fonte perene (literalmente viva). 
 
 3. A HUMILHAÇÃO DE ISRAEL (2.14-19). Neste parágrafo, 
vemos como o pecado assoberba uma nação. Israel, nascido livre, vai-se 
transformar num escravo. 
 Escravo nascido em casa (14); havia duas espécies de escravos: 
os adquiridos por compra e os nascidos em casa do amo, que eram sua 
propriedade permanente. A infidelidade a Deus não é apenas uma coisa 
má; acarreta também prejuízos bem tristes (15). Conduz ainda à 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 13 
dependência de alianças estrangeiras, com a conseqüente corrupção 
espiritual e moral. 
 Nofe Tachphanes (16); cidades egípcias. O primeiro era o nome 
que os hebreus davam a Mênfis, capital do Baixo Egito, não longe do 
Cairo moderno. O seu ensinador trágico seria a catástrofe com toda a 
amargura que acarreta, visto não teres o Meu temor contigo (19). 
 Sihor (18) significa "rio lamacento" e parece referir-se ao Nilo. 
 
 4. A DEGENERAÇÃO DE ISRAEL (2.20-28). 
 Te andas encurvando e corrompendo (20). Ver verso 2. Os 
profetas comparavam freqüentemente a idolatria à infidelidade conjugal. 
 Vide excelente (21); ver. Is 5.1-7, onde temos um emprego 
paralelo desta metáfora. Os versículos 22-25 descrevem o caráter 
arraigado da sua iniqüidade e da sua espantosa teimosia em continuar no 
seu pecado. Jeremias compara o seu povo a uma fera do deserto no cio, 
possuída de tão forte desejo sexual que qualquer macho que a pretenda a 
poderá encontrar sem fadiga, como se fosse a fêmea a perseguir o 
macho. 
 Amo os estranhos e após eles andarei (25). Os estranhos são 
outros deuses. O anseio dos israelitas de participar nas práticas idólatras 
das nações pagãs era tão grande que estavam resolvidos a não permitir 
que qualquer coisa os impedisse de o fazer. 
 No tempo da tua tribulação (28). A hora de provação que se 
aproximava obrigá-los-ia a reconhecer com vergonha quão inúteis eram 
aqueles objetos de pau e de pedra. Como um ladrão, seriam apanhados 
em flagrante (26-27; ver também o verso 36). O seu apelo de auxílio (27) 
seria inevitavelmente rejeitado devido à falsidade dos seus protestos de 
inocência (ver vv. 23 e 35). 
 
 5. A EXPLICAÇÃO A ISRAEL (2.29-37). Deus explica as razões 
dos infortúnios que se abatem sobre Israel. 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 14 
 Desligamo-nos de Ti (31). Apesar da bondade do Senhor para 
com os israelitas (ver vv. 6-7), eles haviam afirmado a sua completa 
independência, não demonstrando sequer o menor vestígio de comezinha 
gratidão humana (32). 
 
Jeremias 3 
 6. AS EXORTAÇÕES A ISRAEL (3.1-5). Insta-se com Israel 
para que se volte para Iavé. A idolatria é uma vez mais comparada com a 
prostituição. No caso de infidelidade conjugal, reconhecem que não há 
arrependimento fácil. A sua infidelidade para com Deus foi grosseira em 
extremo e descarada; no entanto, parecem pensar que basta mostrar 
indícios de desejar reconciliação para que o Senhor os receba de novo de 
braços abertos (5). É isto o que dizem, mas, ao mesmo tempo, 
prosseguem nas práticas condenáveis que o seu Senhor detesta. 
 Árabe (2), isto é, nômade. 
 Chuva tardia (3); a chuva temporã vem no outono, e a tardia na 
primavera. É muito necessária para que o trigo cresça e se desenvolva. 
 Desde agora (4); provavelmente, desde a reforma de Josias. 
 
b) A segunda mensagem de Jeremias (3.6-6.30) 
 
 Embora o tema geral das duas mensagens seja o mesmo, a saber, a 
apostasia e idolatria de Israel, existe, no entanto,uma diferença 
acentuada. Na primeira mensagem não se descortina o menor vislumbre 
de perdão; aqui, na segunda, oferece-se distintamente uma garantia de 
perdão desde que o arrependimento seja genuíno e sincero. 
 
 1. O CONTRASTE DESFAVORÁVEL ENTRE JUDÁ E 
ISRAEL (3.6-10). 
 O profeta vê que o rebelde Israel (6; literalmente, "Israel 
apóstata", duas palavras que definem Israel como uma encarnação da 
apostasia) fora enviado para o exílio como castigo pelo seu adultério; no 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 15 
entanto, Judá não descortina ali qualquer advertência; pelo contrário, 
finge-se fiel mas continuam ausentes todas e quaisquer provas de 
autêntica conversão (6-10). 
 Falsamente (10); a reforma no reinado de Josias não fora muito 
profunda; Judá converteu-se fingidamente, isto é, à superfície. 
 
 2. A CHAMADA URGENTE A ISRAEL (3.11-18). Israel, 
quebrantado e exilado, é convidado a arrepender-se. 
 Aleivosa Judá (11); apesar de maiores privilégios, tal como a 
sucessão de reis da mesma família, o templo, os levitas, e o exemplo e 
aviso de Israel, Judá revela-se infiel. 
 Convertei-vos, Ó filhos rebeldes (14). Este apelo divino baseia-
se na relação misericordiosa que Deus mantém com o Seu próprio povo. 
 Eu vos desposarei (14; traduzindo à letra, "sou marido"; ver 
31.32). Usam-se duas metáforas: filhos e marido. Os israelitas são filhos 
que deixaram a casa de seu Pai e uma mulher que se divorciou. 
Juntamente com Isaías e Miquéias, Jeremias sabe que Deus Se deleita na 
misericórdia. Se se arrependerem penitentemente, Ele fará com que 
regressem para adorar em Sião, seu lar. 
 Naquele tempo (17); quando Israel se voltar para o Senhor e 
regressar do exílio, a glória de Jeová no meio do povo eclipsará a glória 
e manifestação da presença associada com a arca do concerto (16). O 
profeta contempla já em espírito o tempo em que Jerusalém será 
purificada de toda a idolatria. Jeremias parece ter perdido a fé em Judá, 
mas, no entanto, oculta o seu pessimismo, na esperança de que, depois 
do exílio, Judá e Israel correspondam ao que Deus deles pretende e 
tornem a entrar no gozo da sua herança (18). 
 
 3. O REGRESSO INCONDICIONAL DO POVO A IAVÉ (3.19-
4.4). Prevalece também a esperança otimista de que o exílio de Judá 
garantirá a salvação de Israel. Todavia, Jeremias não pode deixar de ver 
a perversão infiel, com todas as suas terríveis conseqüências - o castigo 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 16 
da apostasia. Contudo, ouve uma espécie de antífona de choro no norte, 
filhos penitentes e o Deus perdoador e salvador que ora admoesta, ora 
afaga (21-22). Tanto Israel como Judá estão aqui em foco, ou talvez Judá 
seja aqui sinônimo de Israel. 
 Nos lugares altos (21), lugar onde vulgarmente se pranteava. Foi 
nos lugares altos que Israel cometeu o seu pecado, e é ali que se ouve a 
voz da penitência. 
 A confusão devorou (24), ou, melhor, "a vergonha", isto é, a 
adoração de Baal. Os profetas chamavam freqüentemente a Baal "boset", 
isto é, "vergonha", pois o culto de Baal era uma vergonha para Israel. À 
triste confissão do v. 25 responde Iavé em termos que revelam a natureza 
consistentemente condicional da salvação. 
 Jazemos (25), ou, segundo outra tradução, "vamos jazer". 
 
Jeremias 4 
Se voltares ... para Mim voltarás (4.1). 
Abominações (1); palavra que ocorre primeiramente em Os 9.10, 
sendo aplicada em Jeremias e Ezequiel aos falsos deuses e a tudo quanto 
diz respeito à sua adoração. Não basta a reforma moral; tem que haver 
uma íntima circuncisão de coração, uma purificação da vida na presença, 
não do "eu" ou da sociedade, mas de Deus. Assim, se tirares... não 
andarás (condição da libertação); não andarás longe da presença de 
Deus; a gravidade de rejeitar esta oferta vem sublinhada no verso 4. A 
nação pecaminosa preferiu rebelar-se, e a história ensina-nos como 
foram amargos os frutos que ela colheu - a fúria de Jeová que saiu como 
fogo (4). 
 
 4. A INAUDITA CALAMIDADE QUE ASSOLARÁ O PAÍS 
(4.5-31). A invasão futura (5-18). Jeremias implorava um 
arrependimento profundo, mas a sua esperança foi desiludida. Não se 
verificou qualquer sinal externo de um regresso íntimo a Deus, e o 
profeta não teve outro remédio senão pronunciar a sentença. O flagelo 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 17 
designado proveniente do norte (6) espera já no limiar da porta. As 
profecias relacionadas com estes agentes da vingança de Jeová 
prolongam-se até ao final do capítulo 6. 
 Tocai a trombeta (5), em hebraico shophar. O toque de trombeta 
era sinal de perigo grave. O leão sai do seu covil (7), feroz destruidor de 
nações e cidades. Provavelmente uma referência a Nabucodonosor. 
 Tereis paz (10). Este verso tem causado perplexidade e 
dificuldades. Jeremias nunca profetizou que Jerusalém teria paz. A 
Septuaginta diz: "E eles dirão", isto é, os falsos profetas do verso 9, que 
afirmavam ao povo que esperasse a paz. 
 Um vento (12), outra metáfora de destruição, o siroco do deserto, 
um vento quente, escaldante, ciclônico, desapiedado. Assim seria 
também a ação de Iavé exercida sobre o país culpado. O mesmo grave 
castigo transparece em várias metáforas: nuvens, tormenta, carros, 
cavalos, águias (grifos ou milhafres) (13). A sentença de desolação é 
anunciada de Dã, o limite setentrional do país; e de Efraim, apenas a 15 
quilômetros de Jerusalém (15), soa a voz de aviso. 
 Vigias (16), isto é, sitiadores que diariamente vigiarão a cidade e 
os seus habitantes. 
 Nos vv. 19-22 o profeta tem uma visão extraordinária de castigo 
inevitável que excede os seus limites de resistência. Nota-se a dor da sua 
alma (19-20), a pergunta que ecoa no seu espírito (21) e a resposta do 
seu Deus (22). As suas palavras estorcem-se na agonia que o tortura. 
 Ah, entranhas minhas, entranhas minhas! Estou ferido no meu 
coração (19). O coração é a sede da inteligência, enquanto que as 
entranhas, segundo a psicologia hebraica, são a sede das emoções. Mas 
Jeremias não tem quaisquer ilusões; o castigo é justo, a marca negra do 
pecado sobre um povo abandonado. 
 Nesta passagem (23-26), o simbolismo é tão forte que sentimos 
vibrar nela um frêmito de horror. A descrição do profeta constitui um 
dos trechos mais vívidos e comoventes na literatura sacra. O cosmos 
tomba no caos; as montanhas vacilam, o homem desaparece, as aves 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 18 
abandonam os céus, e a terra fértil transforma-se num deserto - é o sopro 
de Deus, a bomba super-atômica divina. Voltamos ao primeiro capítulo 
do Gênesis, quando tudo eram trevas e confusão. "Falei, diz Iavé, e não 
Me arrependi" (versão da Septuaginta); "assim o propus e não Me 
desviarei disso" (28), tão terrível é o pecado que envolve todo o mundo. 
Jeremias nada via senão sofrimento irremediável, sem esperança. Todas 
estas tristes predições se cumpriram no derrubamento final de Jerusalém 
em 586 A. C. 
 Algumas autoridades consideram que esta segunda mensagem de 
Jeremias, começada em 3.6, é constituída por vários oráculos, alguns 
escritos, até, em Anatote e outros em Jerusalém. Seja como for, há em 
toda a mensagem uma unidade bem definida que justifica que a tratemos 
como um todo. Descortinamos nela a mesma ênfase sobre o pecado 
inveterado de uma nação caduca e a condenação inevitável por um Deus 
santo que, mesmo assim, está disposto a mostrar-Se bondoso se o povo 
se arrepender. 
 
Jeremias 5 
 5. A CORRUPÇÃO DE JERUSALÉM (5.1-9). Em 5.1-31, a 
cidade é sujeita a um escrutínio moral inexorável. Se este capítulo vem 
no devido lugar, o profeta procura vindicar a severidade de Deus, isto é, 
através duma teodicéia válida. Como Diógenes da Grécia, sente que, se 
se procurasse em toda Jerusalém, não se encontraria um homem honesto 
cuja presença evitasse a catástrofe - pobres ou ricos (4-5), todos são 
ímpios na sua vida e nas suas ações. 
 Dai voltas às ruas de Jerusalém (1). A busca é baldada, motivo 
esse que explica porque a nação está indefesacomo um homem 
habituado a viver na cidade e que, de súbito, se encontra abandonado 
numa floresta onde as feras pululam (6). De fato, os habitantes de 
Jerusalém tinham descido ao nível de animais. Quando Deus os 
alimentara (7), haviam prostituído a Sua generosidade, comportando-se 
como cavalos bem fartos e eivados de sensualidade (8). 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 19 
 6. A CHAMADA AO DESTRUIDOR (5.10-19). O otimismo dos 
negligentes vem pintado nos vv. 10-18. Os agentes de Deus irão dar 
início à tarefa de purificação (10-11), mas os condenados (12-17) 
acalentam a esperança infundada e louca de que Iavé nada fará. 
 Subi (10), uma chamada ao inimigo para que encete o seu 
trabalho. 
 Negam ao Senhor e dizem: "Não é Ele" (12), ou seja, Ele nada 
fará do que Jeremias profetizou. O texto aqui é difícil, mas deve ser 
possível aplicar a razão anteriormente dada, a saber, que os seus profetas 
são falsos e fúteis, pois não compreendem nem procuram salientar que, 
para haver salvação, o arrependimento tem de seguir ao pecado. 
 Uma nação cuja língua ignorarás (15); no mundo antigo, uma 
língua diferente era sempre causa de receio e preocupação, pois os povos 
que se serviam de outros idiomas não entenderiam quaisquer apelos de 
misericórdia. 
 A sua aljava (16), uma comparação digna de nota. Como a 
sepultura, as suas armas nunca se saciam. 
 
 7. A TEIMOSIA E LOUCURA DO POVO (5.20-31). Nesta 
passagem vemos, dum lado, Deus como governador moral e, do outro, o 
Seu povo rebelde. O mundo que Deus criou não se consegue libertar da 
Sua inexorável vontade soberana (22); só o Seu povo tem essa liberdade 
(23-24); esta única diferença sempre caracterizou o homem. 
 Ao mar (22); o profeta cita o mar para ilustrar o poder e majestade 
de Deus. Poder-se-á porventura brincar com um Deus assim? Se o mar é 
temível - e quem não o receia? - não o será Ele também? 
 Coração rebelde e pertinaz (23); não só é um povo que recai no 
pecado como também se mostra abertamente hostil. 
 Nos vv. 26-31 o profeta tem em mente três classes de indivíduos: 
os ricos que oprimem os pobres, os falsos profetas enganadores, e os 
sacerdotes que dominam através deles. A nação pouco se preocupa com 
a vontade divina, o que acarreta como péssima conseqüência nem se 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 20 
fazer justiça nem haver da parte dos profetas e sacerdotes o desejo de 
serem algo de diferentes do que são - mentirosos e guias falsos. 
 O Meu povo assim o deseja (31). O mal, contanto que seja 
praticado durante um período suficientemente longo, é aceito como 
inevitável pela arraia miúda. 
 
Jeremias 6 
 8. O ASSALTO A JERUSALÉM (6.1-5). A conclusão da segunda 
mensagem de Jeremias sublinha a catástrofe inevitável que ameaça tão 
de perto uma nação impenitente e incorrigível. O agente destruidor 
designado por Deus vai atacar Jerusalém, e soa novamente a nota de 
alarme. O mal espreita do norte - a ruína em toda a sua tragédia. O 
profeta personifica aqui a destruição que paira sobre a cidade. O toque de 
trombeta de aviso soará de Tecoa e também de Bete-Haquerém (1). 
 Filhos de Benjamim (1); pode tratar-se de uma chamada aos 
membros da sua própria tribo, dos quais deviam haver muitos na capital, 
ou talvez o profeta se dirigisse a toda a cidade de Jerusalém. Tecoa (1), 
local situado a uns dezoito quilômetros ao sul de Jerusalém. Parece haver 
aqui um trocadilho com as palavras "bater" e "tocar", que têm as mesmas 
letras que a palavra "Tecoa". O facho (1), literalmente, uma chama, isto 
é, um sinal que assumia talvez a forma de uma espécie de farol. Bete-
Haquerém (1), localidade mencionada apenas aqui e em Ne 3.14. O 
nome significa, traduzindo à letra, "casa da vinha"; agora geralmente 
identificado com um local chamado "montanha franca", que oferece uma 
iminência conspícua muito apropriada para se erguer ali um facho de 
sinalização. À medida que o inimigo se aproxima do norte, estas 
localidades ao sul do Jerusalém deverão preparar-se para orientar os 
fugitivos na sua fuga da capital. 
 Pastores (3); o inimigo do norte é comparado a pastores com os 
seus rebanhos, comendo a erva por todos os lados; tudo será devorado e 
nada restará. 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 21 
 Preparai a guerra (4), ou, literalmente, "santificai a guerra", isto 
é, oferecei sacrifícios para assegurar a vitória. A exortação visa ao 
começo das hostilidades, e é o inimigo fora das muralhas da cidade que 
assim se anima à refrega. A sua persistência é tal que, se se malograr o 
ataque durante o dia, a noite dar-lhe-á a vitória (4-5). O profeta prediz 
em nome do Senhor que a vitória será absoluta e definitiva. 
 
 9. A RUÍNA FUTURA (6.6-15). 
 Cortai árvores (6); cortavam-se árvores para construir 
edificações de assédio, mas este verso aponta também para a devastação 
causada pelo inimigo. Utilizando uma vinha como metáfora, Jeremias 
diz-nos que os vindimadores andarão de lado para lado, colhendo até ao 
último bago de uva e deixando a vinha desolada (9). De Israel nada 
restará, e Judá enfrentará extinção e exílio semelhantes. Mas a tragédia 
daquela época é tal que, nas nuvens sombrias que se acumulam, persiste 
o otimismo dos dirigentes religiosos. 
 Torna a tua mão (9), palavras dirigidas a Nabucodonosor ou ao 
comandante em chefe do exército sitiante. 
 Casas... herdades... mulheres (12), males futuros semelhantes 
aos já mencionados em Dt 28.30. 
 Curam a ferida (14), ou, traduzindo à letra, "a ruptura". O 
rompimento entre o Deus santo e a nação pecaminosa é tratado leviana e 
superficialmente, mas aproxima-se o dia da tribulação. 
 
 10. O APELO DE JEOVÁ E A DESOBEDIÊNCIA DE JUDÁ 
(6.16-21). O Senhor apela uma vez mais para o povo através do profeta 
para que procure "as veredas antigas" (16). Com a promessa contida 
neste verso, compare-se Mt 11.29. Jeremias baseava todos os seus apelos 
na experiência colhida no passado, mas o povo recusava-os. Portanto, o 
céu e a terra opõem-se-lhes como testemunhas. 
 Sabá (20) fica no sudoeste da Arábia, país famoso pela boa 
qualidade do seu incenso; ver 7.21. 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 22 
 Armarei tropeços (21); para Jeremias, como para os seus 
antecessores, causas intermediárias eram coisa que não existia; tudo se 
atribuía a Deus. 
 
 11. A CRUELDADE DO INIMIGO E A INCORRIGIBILIDADE 
DO POVO (6.22-30). Uma vez mais, e para arrancar a nação à sua fatal 
apatia otimista, o inimigo é vivamente pintado em cores aterrorizadoras. 
 Espanto há em redor (25); ver 20.10; 46.5; 49.29; Jó 18.11; Sl 
31.13; por isso os fugitivos são aconselhados a não andarem pelo 
caminho (25), isto é, pela estrada aberta. 
 Cinge-te de saco (26), ou seja, chora por ti própria. Nos vv. 27-30 
temos patenteada a sombria intuição do profeta, que verifica uma vez 
mais que a sua função se assemelha à de uma torre de atalaia e à de uma 
fortaleza (27). As metáforas aqui são difíceis. Jeremias sentia que a sua 
tarefa seria semelhante à do um refinador de prata, mas agora constata 
que o seu fogo não conseguira separar a prata da escória, isto é, por 
contraste com o que se passa na refinação dos minerais, a vontade 
humana pode-se recusar a aceitar o fogo refinador. Em tais casos, Deus 
entrega a alma nessas condições ao destino que ela escolheu. Também o 
apóstolo Paulo pinta esta teimosia da parte das nações gentias em Rm 
1.18-32. 
 Já o fole se queimou (29); segundo outra versão, "os foles sopram 
com força"; ver 9.7. 
 Prata rejeitada (30). Com esta sombra tão escura termina a 
segunda mensagem de Jeremias e a primeira parte das suas profecias. 
 
III. AS ILUSÕES ACERCA DA SEGURANÇA DO TEMPLO 
 - 7.1-10.25 
 
 Para Judá, o templo era sacrossanto e, portanto, impregnável a 
todos os ataques. Se acontecesse o pior, Iavé sem dúvida interviria para 
salvar a cidade onde colocara o Seu nome. Ora, Jeremias afirma aqui 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 23 
justamente o oposto. Também Silo era considerada inviolável,mas foi 
derrubada. O "sermão no templo" aqui reproduzido não menciona o 
alarme e a fúria que provocou. Todavia, no capítulo 26 essa informação 
é-nos dada entre os sumários históricos da segunda parte do livro, 
indicando-nos também o perigo a que o profeta se expôs no seu arrojado 
testemunho. Se, de fato, o capítulo 26 pertence à mesma época que estes 
"sermões no templo", então o ano seria 608 A. C., ou seja, o começo do 
reinado de Jeoaquim. Esta seção constitui a terceira mensagem de 
Jeremias e divide-se em duas partes. 
 
a) O Sermão no Templo (7.1-8.3) 
 
Jeremias 7 
 A chamada do profeta ao povo para que se reúna às portas do 
templo é mais breve na Septuaginta do que no texto massorético: "Ouvi a 
palavra do Senhor, todos de Judá". 
 
 1. UM AVISO (7.3-20). A mensagem começa com uma 
advertência. Que a nação ponha os olhos no destino de Silo. 
 Põe-te à porta (2). O profeta deverá proclamar a sua mensagem 
numa das portas do templo, ficando o povo no átrio exterior separado do 
interior pelas respectivas portas. Talvez esta mensagem fosse transmitida 
durante qualquer dos grandes festivais, quando haveria normalmente 
grande ajuntamento de povo às portas do templo. 
 Os vossos caminhos e as vossas obras (3); "caminhos", hábitos 
profundamente arraigados; "obras", os atos, individualmente 
considerados que acabam por constituir tais hábitos. 
 Templo do Senhor (4); a tríplice repetição destina-se a dar mais 
ênfase. Compare-se com a frase de Cristo: "Na verdade, na verdade, vos 
digo". O templo é a casa de Deus e Sua propriedade peculiar (10). 
Portanto, o próprio templo constituiria um apelo ao povo para que este 
fosse santo, como sugeria o seu simbolismo, isto é, um povo separado. 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 24 
Se assim não sucedesse, então Iavé abandonaria o templo e, portanto a 
nação (realidade esta salientada também por Ezequiel nas suas 
profecias), sendo o resultado o derrubamento e o exílio. Se, porém, se 
arrependerem, Deus será com eles. As palavras vos farei habitar neste 
lugar (3) podem ser traduzidas: "Então habitarei convosco", isto é, no 
templo. O problema moral é evidente: o templo como covil de ladrões 
não é digno da Sua presença; como Silo, fica deserto; a arca em si é 
impotente para salvar Israel. 
 Furtareis vós e matareis (9); no hebraico, estes verbos 
encontram-se no infinito, um modo utilizado quando se deseja sublinhar 
fortemente a ação. 
 Somos livres (10). O povo imaginava, como se depreende, que, 
observando os ritos religiosos, seria liberto da abominação a que o 
profeta tão freqüentemente aludia. 
 Caverna de salteadores (11), isto é, um local de abrigo nos 
intervalos entre atos criminosos e de violência. Ver Mt 11.17; Lc 19.46. 
 Silo (12); uma localidade na estrada principal de Jerusalém para 
Siquém. A arca foi ali colocada nos dias de Josué, e a destruição desta 
localidade em parte alguma vem mencionada no Velho Testamento. O Sl 
78.60 diz-nos que Deus a abandonou. Os vv. 16-20 parecem constituir 
uma interrupção na mensagem pronunciada no templo, a não ser que 
representem um interlúdio simbolizando o fim calamitoso dos rebeldes 
impenitentes e profanos. 
 Rainha dos céus (18), a Istar dos babilônios, ao que parece 
principalmente adorada pelo elemento feminino. As palavras "bolos" e 
"rainha" têm um ar estranho em hebraico, destinando-se talvez a indicar 
a origem estrangeira desse culto. 
 
 2. OBEDIÊNCIA, NÃO SACRIFÍCIO (7.21-28). Jeremias 
proclama o princípio mais seguro da obediência. A oferta queimada, 
segundo a lei levítica, era inteiramente consumida, mas, quando se 
tratava de outros sacrifícios, os sacerdotes e adoradores comiam tais 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 25 
ofertas. Se, porém, se tratava de uma mera cerimônia, então a oferta 
queimada seria "comum", não "espiritual", visto não indicar um coração 
arrependido; por isso, podia ser comida por haver perdido a sua validade 
espiritual. 
 O verso 22 é clássico. Segundo os críticos na sua generalidade, 
aquilo que Jeremias proclama é que Deus nunca instituíra todo aquele 
sistema ritual de sacrifícios, supondo-se existir um conflito entre profeta 
e sacerdotes. Todavia, a corrente está tomando lentamente outra direção, 
opondo-se a essa posição extrema. O que Jeremias denuncia em termos 
categóricos nesta passagem é o sacrifício que não corresponde a um 
coração arrependido e que não conduz a um comportamento reto. Se não 
houver obediência ética, nenhum sacrifício poderá ser eficaz. Toda a 
corrente profética condena o ritualismo oco. O concerto entre Iavé e 
Israel baseava-se no Decálogo, e tinha a honra de ocupar o lugar mais 
sagrado no santuário. 
 Dai ouvidos à Minha voz (23); a citação não é exata; a que mais 
se aproxima é Êx 19.5. A obediência à lei moral vinha sempre em 
primeiro lugar. 
 Mas não ouviram (24); é difícil reconciliar esta passagem com 
2.2, a não ser que se interprete 2.2 como uma referência ao período que 
se seguiu imediatamente ao Êxodo, e 7.24 a um período, digamos, perto 
do final das peregrinações pelo deserto. 
 No propósito do seu coração malvado (24); literalmente, na 
teimosia; ver 3.17. A forma mais abreviada, nos Setenta, dos versículos 
27 e 28 talvez seja preferível: "Dir-lhes-ás esta palavra". 
 
 3. LUTO NACIONAL (7.29-8.3). O apelo ao povo para que 
pranteie baseia-se no fato de Jeová ter rejeitado aquela geração. No vers. 
29 não vem ninguém mencionado, mas o verbo em hebraico é feminino, 
o que aponta para Jerusalém ou para a nação personificada. Cortar o 
cabelo era sinal de luto profundo (traduzindo à letra, "corta a coroa"); ver 
Jó 1.20; Mq 1.16. Alguns comentadores descortinam aqui uma referência 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 26 
ao voto do nazireado (Nm 6.7). Jerusalém quebrara os seus votos, e 
assim, como o nazireu infiel, mais lhe valia cortar o cabelo, símbolo e 
sinal desse estado. 
 Puseram as suas abominações (30); 2Rs 21.5 conta-nos que 
Manassés profanou assim o templo. 
 Tofete (31) (a Septuaginta: "lugar alto") significa provavelmente 
"lareira" (tefath); ver Is 30.33. Para denotar o sentimento de horror 
despertado pelo costume pagão de sacrificar crianças, as vogais da 
palavra original, tefath, foram transformadas de forma que ela fosse lida 
e pronunciada tofet. Foi por este processo paralelo que o termo melec se 
transformou em Molec, uma divindade pagã, isto é, utilizando as vogais 
de boseth (vergonha). Esta última palavra é também freqüentemente 
empregada por Baal (senhor), isto é, Is-boseth por Is-baal. Ofereciam-se 
sacrifícios de crianças ao ídolo Molec, e, para os adoradores de Jeová, o 
termo "molec", que significava "vergonha", exprimia adequadamente o 
seu horror. O vale de Ben-Hinom ficava do lado oposto do vale de 
Quedrom. Era aqui que se realizavam esses sacrifícios abomináveis, pelo 
que o vale de Ben-Hinom passou a ter um apelativo vergonhoso. A visão 
que torturava Jeremias era a desse lugar imundo atulhado de cadáveres. 
Esse culto abominável estava assim relacionado com a morte. O seu 
santuário tornar-se-ia no seu cemitério. Muito a propósito, portanto, no 
verso 31 Jeremias diz que a sua origem nunca foi o coração de Deus. 
Geena (ge, vale), sinônimo de inferno, deriva deste toponímico. 
Ninguém os espantará (33), ou, melhor, ninguém os assustará e porá 
em fuga. 
 
Jeremias 8 
 Tirarão (8.1). Para explicar esta barbaridade, sugeriram-se muitas 
hipóteses: 1. tratar-se-ia de um ato propositado, meditado, para insultar 
os vencidos, que se demonstraria serem assim incapazes de defender 
sequer as cinzas de seus pais ou o templo do seu Deus; 2. essa medida 
seria motivada pelo desejo de encontrar despojos, pois freqüentemente 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 27 
enterravam-se com os mortos grandes tesouros; 3. acontecimento fortuito 
ao escavar-se uma cova para acender uma fogueira; ou 4, ao proceder-se 
a terraplanagens para o assédio. A primeira hipótese é a mais provável. 
Todos tinham pecado e todos seriampunidos, incluindo os mortos. A 
doutrina do castigo futuro não foi plenamente desenvolvida; daí, o 
castigo dos mortos sob a forma indicada nesta passagem. 
 Expô-los-ão (2); os corpos celestes que haviam adorado serão 
impotentes no dia do castigo. 
 
b) A desobediência e idolatria do povo (8.4-10.25) 
 
 Algumas autoridades pensam que esta seção é a contrapartida 
métrica do sermão do templo, com que Jeremias começa a sua terceira 
mensagem. 
 1. MÚSICA FÚNEBRE (8.4-17). São feridas três notas, como que 
numa harpa de condenação. Nos vv. 4-7 tange-se a nota de um espírito 
cheio de maldade, renitentemente oposto ao arrependimento. As aves 
obedecem às leis desconhecidas e instintivas da migração, mas o povo de 
Iavé recusa-se a obedecer ao instinto mais profundo do coração de 
procurar o lar eterno. 
 Os vv. 8 e 9 dizem-nos que os escribas e os sábios apontam ao 
povo o caminho errado. A lei torah ou melhor, direção, apontaria o 
caminho certo e conduziria a Deus; mas eles, com as suas falsas 
instruções, desviam o povo para longe do Senhor. O falso ensino poderia 
consistir em afirmar que os sacrifícios em si, independentemente da 
obediência ética, seriam o suficiente. Por outro lado, segundo algumas 
autoridades, poderíamos ver aqui a discordância de Jeremias da 
centralização de sacrifícios ordenada por Josias na reforma sacerdotal, de 
acordo com Dt 12.1-7. Na ausência de dados concretos, esta passagem 
permanece ambígua. 
 Escribas (8); é esta a primeira referência aos escribas como uma 
profissão, no Velho Testamento. É evidente que, como classe, eram 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 28 
muito ativos no tempo de Josias (2Cr 34.13), e podem ter tido a sus 
origem no reinado de Ezequias (ver Pv 25.1). 
 Os vv. 10-12 não ocorrem na Septuaginta, sendo quase idênticos a 
6.12-15. 
 Nos vv. 13-17 escutamos as notas sombrias da condenação; já não 
há uvas na vide nem figos na figueira, e a folha caiu (13); nem 
tampouco restará um remanescente para manter viva a fé. Será esse o 
resultado da presença do inimigo que virá do norte - isto, é claro, se não 
houver um regresso a Iavé. Os castigos ameaçados, por mais severos que 
sejam, são sempre condicionais. 
 O Senhor nosso Deus nos fez calar (14); traduzindo à letra, 
"decretou a nossa ruína". Nos deu a beber água de fel (14), ou, segundo 
outras versões, veneno, o que, é claro, constitui uma metáfora. A vida é 
amarga. Dã (16) ficava tudo ao norte, e já fora alcançada pelo inimigo, 
que não se deixa apaziguar nem encantar (17), como se costuma fazer 
com as serpentes. 
 
 2. O CORAÇÃO DOENTE (8.18-9.26). Trata-se de uma 
passagem profundamente comovente que exprime o desgosto do profeta 
ao contemplar a catástrofe inevitável que em breve se abaterá sobre o seu 
povo. O verso 18 é difícil. A tradução literal é a seguinte: "Ó minha 
alegria na dor, o meu coração está doente", mas o significado é claro - 
"incurável é o meu desgosto" segundo a Septuaginta sugere. Oh, se eu 
pudesse consolar-me na minha tristeza! O meu coração desfalece em 
mim". O hebraico significa: "o meu coração está gravemente ou 
repugnantemente doente". 
 Passou a sega, findou o verão (20). A sega e o verão são estações 
distintas. A sega nos campos durava de abril a junho, vindo mais tarde a 
colheita dos frutos estivais. Jeremias diz ao povo o que acontecerá 
quando passarem as estações. A Presença já não se encontra em Sião; 
não há colheita para enfrentar a fome que se aproxima, nem médico para 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 29 
cuidar dos doentes. O profeta choraria com a perenidade com que uma 
fonte corre. 
 Gileade (22) era uma região montanhosa além-Jordão, tendo sido 
o primeiro território israelita a cair nas mãos do inimigo. Ungüento (22); 
não se sabe ao certo qual o produto a que o original se refere. Todavia, 
vem já mencionado em Gn 37.25. 
 
Jeremias 9 
 O sentimento (9.2-8) muda agora de piedade avassaladora para 
uma amargura compreensível. O povo é uma raça de traidores e, se a sua 
fidelidade lho consentisse, Jeremias abandoná-lo-ia por completo. Além 
disso, toda aquela corrupção acarretaria como santa reação o castigo de 
Deus. Volta a ouvir-se o cântico de lamento do seu coração (9-11). Os 
vv. 12-15 ensinam-nos novamente qual é a colheita resultante da 
infidelidade e da falta de adoração. 
 Nem andaram nela (13); isto refere-se, não à voz de Deus, mas à 
Sua Lei, ambas mencionadas neste verso. 
 Alosna... água de fel (15), duas coisas que aparecem sempre 
juntas e que, como metáforas, representam qualquer experiência 
desagradável. O povo será sujeito ao sofrimento mais amargo. 
 Provavelmente os vv. 16-21 revelam outro elemento na tristeza do 
profeta - um laivo de ironia no tocante às carpideiras profissionais. De 
que valem essas mulheres (compare-se com 2Cr 35.25; Mt 9.23) quando 
a morte (personificada) entra pela janela? O único descanso que o 
coração de Jeremias pode conhecer baseia-se no fato de, para além da 
sabedoria ou da força, se encontrarem a misericórdia, justiça e retidão de 
Deus (23-24), coisas estas que são o Seu deleite. 
 Eles transtornaram as nossas moradas (19); compare-se com 
2Rs 25.9. 
 Este oráculo (25-26) parece isolado onde se encontra, mas revela o 
caráter incisivo da mensagem moral de Jeremias. Embora circunciso, 
Judá é deficiente em dedicação íntima, pelo que se encontra sujeito ao 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 30 
castigo de ser tão pagão e tão exposto à punição como as nações que o 
cercam. O ritual pode ser perfeito e, no entanto, não evitar a condenação 
ética. Esta passagem antecipa o ensino de Paulo sobre a distinção entre a 
circuncisão da carne e a do coração. 
 Todos os que cortam os cantos do seu cabelo (26). O texto 
parece referir-se ao costume de certas tribos árabes, que cortavam o 
cabelo em forma circular, em honra de Baco (Heródoto 3.18), hábito este 
proibido em Lv 19.27. 
 
Jeremias 10 
 3. A IMPOTÊNCIA DOS ÍDOLOS (10.1-16). Esta passagem 
encerra uma polêmica devastadora contra o conceito central da idolatria 
por alguém que a conhecera em primeira mão e que fora respeitado 
apenas pela fé monoteísta acalentada pelos melhores elementos do seu 
povo. Algumas autoridades interrogam-se se esta passagem, que sugere 
um ambiente diferente, provém ou não do punho de Jeremias. Ou teria 
sido escrita por Isaías? O estilo é semelhante ao deste profeta, que 
estabelecia forte contraste entre Iavé, criador de todos, e os deuses 
impotentes de Babilônia. O problema continua em aberto. 
 Sinais dos céus (2), isto é, portentos celestes, como cometas, 
meteoros, etc., fenômenos a que os povos pagãos davam grande 
importância. 
 Os vv. 6 e 7 vêm omitidos na Septuaginta. 
 Ensino de vaidade é o madeiro (8) ou, traduzindo à letra, "a 
instrução dos ídolos é como um madeiro". Significa isto que a instrução 
dos ídolos não é melhor do que os próprios ídolos. A idolatria não possui 
valor moral nem espiritual. 
 Társis (9) era o limite do mundo antigo. A Septuaginta diz 
"Cartago"; muitos identificam Társis com Tartessus, na Espanha. Ufaz 
só se encontra mencionada aqui e em Dn 10.5, sendo freqüentemente 
identificada com Ofir, terra proverbial pelo seu ouro. 
 A Septuaginta omite o verso 10. 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 31 
 No verso 16 lemos que Israel "é a vara da sua herança", mas seria 
melhor traduzir, como noutra versão, "a tribo da sua herança". A 
polêmica em si é impressionante. O profeta encarava os deuses como 
blocos inertes e mudos de madeira, zombando deles e chamando-lhes 
espantalhos de jardim que só servem para trabalho tão vil, e não um 
poder sagrado para disciplinar o rebelde coração humano. Por toda a 
parte, a idolatria expõe-se à mesma ironia mordaz. 
 É interessante notar que o verso 11, isolado, vem escrito, não em 
hebraico, mas em aramaico, o que leva os peritos a pensarem que se trata 
duma nota marginal interpolada no texto para sugerir aos judeus uma 
resposta àqueles que os desejassem desencaminharpara a idolatria. Os 
vv. 12 a 16 vêm repetidos em 51.15-19. 
 
 4. O EXÍLIO É IMINENTE (10.17-25). A nota de condenação que 
aqui escutamos junta-se à de 9.22. A comunidade como personalidade 
coletiva é exortada a fazer as malas e preparar-se para a marcha 
desolada, caminho do exílio. 
 Ajunta da terra a tua mercadoria (17), isto é, prepara-te para a 
fuga. A palavra hebraica para "mercadoria" só ocorre aqui. 
 Ó habitadora da fortaleza (17); há uma tradução mais fiel: "tu 
que habitas no assédio". 
 Arrojarei (18), metáfora muito forte: o único ponto em que este 
verbo é sinônimo de enviar todo um povo para o exílio. A desolação do 
coração do povo vem expressa nos vers. 19 e 20; tudo isto é o triste 
resultado da má orientação dos dirigentes (literalmente pastores) que, 
tendo perdido contato com Iavé, estavam impossibilitados de conduzir o 
povo à segurança. O lar ancestral transformar-se-ia num covil de chacais 
(22). No vers. 23 o profeta confessa as suas limitações, no verso 24 faz a 
sua suplica, e no vers. 25 implora vindicação. Como Moisés no passado, 
Jeremias intercede pelo seu povo (23-24). 
 Castiga-me, ó Senhor, mas com medida (24). Aquele "me" não 
se refere ao profeta mas à nação, cujo triste destino o enche de desgosto. 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 32 
 O verso 25 vem repetido no Sl 79.6-7. O profeta parece voltar-se 
encolerizado contra uma nação que Deus encarregara de executar os 
Seus propósitos retributivos sobre Judá (25). Paradoxalmente, esta ira é 
viável e justa. 
 
IV. JEREMIAS E O CONCERTO - 11.1-12.17 
 
 Esta seção contém a quarta mensagem de Jeremias, dotada de um 
apêndice (12.7-17). O concerto a que aqui se alude infere provavelmente 
a descoberta do livro da Lei (2Rs 22.8), que se supõe geralmente ser o 
livro do Deuteronômio sob a influência do qual Josias, em 621 A. C., 
promoveu a rededicação da nação, sendo o culto centralizado em 
Jerusalém. Isto significava a cessação e abolição de atos de culto nos 
santuários locais espalhados pelo país. O seu sentimento de que aquilo 
fora ordem de Deus com uma maldição para todos quantos não se 
sujeitassem a ela marca presumivelmente a idéia de Jeremias de que a 
reforma de Josias provinha de Jeová e poderia, portanto, ser eficaz. É 
impossível determinar a data em que este trecho se enquadra. Todavia, 
parece que Jeremias não tinha ainda saído da sua Anatote natal, pois 
descobre uma conspiração contra ele (11.18-21), o que o pode ter levado 
a abandonar aquele local. 
 
a) O tema da quarta mensagem de Jeremias (11.1-12.5) 
 
Jeremias 11 
 1. O CONCERTO (11.1-5). Ouvi as palavras deste concerto 
(2), que Jeová fizera com o Seu povo em Horebe tendo ele prometido 
obediência. Marcou ele o seu livramento da fornalha de ferro (4), em 
hebraico kur, um forno de fundição que simboliza grande sofrimento; 
compare-se com Dt 4.20; 1Rs 8.51; Is 48.10. Jeová ordenou assim ao 
profeta que advogasse a causa do concerto, e ele responde, tanto a essa 
ordem como aos termos do concerto: 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 33 
 Amém, ó Senhor (5). Uma terra que manasse leite e mel (5). 
Fora do Pentateuco, esta expressão só ocorre em Jeremias (que a usa 
duas vezes, aqui e em 32.22) e em Ez 20.6,15. 
 
 2. INCOMPATIBILIDADE ENTRE A RELIGIÃO E A FORÇA 
(1.6-8). 
 A versão dos Setenta não inclui os vv. 7 e 8 mantendo apenas a 
frase mas não cumpriram (8). 
 Trouxe (8); sentimos que Jeremias afirmava a visão e desejo do 
rei, mas é duvidoso se concordou com o vigor com que Josias a 
concretizou. Jeremias, idealista, era também realista. Via que um 
concerto externo é absolutamente destituído de valor, a não ser que tenha 
sido intimamente consentido. Só a conversão sincera o poderia realizar, 
mas neste caso era isso justamente o que faltava, e daí o sentimento de 
Jeremias de que se perdera a bênção. 
 
 3. REGRESSO DO ANTIGO PECADO (11.9-17). Este trecho 
registra a atração exercida pelo pecado ancestral e o seu castigo 
inevitável. Quando o vigor está ausente, a reforma superficial sacode de 
si a sua camuflagem ética e regressa rapidamente aos velhos ídolos e à 
antiga iniqüidade. 
 Uma conjuração (9), não necessariamente uma conjuração 
formal; tudo o que isto significa é que, apesar do que acontecera, o povo 
estava decidido a prosseguir na sua idolatria. 
 O verso 10 prova que a reforma de Josias deixara já de ser eficaz, 
mesmo externamente. No reinado de Jeoaquim, o povo, juntamente com 
o seu rei, regressou à idolatria, como o porco para a lama. Jeremias vê 
assim que uma religião sem vigor não exerce qualquer influência 
redentora pelo que o castigo estava mais próximo do que nunca (11-12). 
Iavé traz o castigo sobre os falsos deuses que eles adoram, e tanto deuses 
como povo são impotentes para o evitar. 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 34 
 Tu, pois, não ores por este povo (14), solene proibição ao profeta 
contra qualquer intercessão a favor daquela nação idólatra que adorava 
vergonhosamente Baal. A maior parte deste verso encontra-se também 
em 7.16. A corrupção fora longe demais, e só o castigo poderia purificar 
a nação. 
 O Meu amado (15), isto é, Judá. O vv. 16 só pode ser 
compreendido com o auxílio da versão dos Setenta, sendo o seu sentido 
geral que o ritual desprovido de realidade é anátema à vista do Deus 
santo de Israel. 
 Oliveira (16), árvore muito comum na Palestina. Oséias (14.6) 
utiliza uma metáfora semelhante para se referir a Judá. Esta oliveira é 
estéril, e por isso é consignada às chamas, isto é, ao castigo. 
 
 4. A IRA DE ANATOTE (11.18-23). Esta descrição das conjuras 
urdidas contra Jeremias pelos habitantes da sua terra natal é introduzida 
abruptamente. Neste breve parágrafo temos três cenas: na primeira é o 
povo que fala (19); na segunda fala o profeta (20); e na terceira ouvimos 
a voz de Deus (21-23). Anatote era o local onde se fixara a casa 
sacerdotal de Abiatar, íntimo amigo de Davi, deposto por Salomão a 
favor da casa rival mais recente de Zadoque, que a partir de então 
exerceu a primazia sacerdotal em Jerusalém, atingindo, assim, uma 
posição de grande poder, fortuna e influência. Tínhamos aqui, pois, 
todos os elementos essenciais que contribuem para o aparecimento da 
amargura. A cólera surge facilmente numa terra como Anatote sempre 
que um filho ou um parente não comunga no sentimento local, 
especialmente quando favorece, ou parece favorecer, a facção oposta. 
Numa hora assim, a religião sob o seu pior aspecto engendra uma ira 
desapiedada. 
Portanto, quando Jeremias, criado entre os sacerdotes de Anatote, 
apoiou como profeta a destruição de todos os santuários provincianos 
(como é quase certo que fez durante algum tempo), por inferência 
desejava que fosse suprimido o santuário existente em Anatote, o que 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 35 
constituía uma ofensa mortal. Abiatar fora sacerdote e usufruíra dos 
privilégios respectivos antes do nascimento de Zadoque! O amor pode 
transformar-se em aversão desde que haja provocação suficiente. A vaga 
de azedume e ódio que se ergueu contra Jeremias pode ser avaliada pela 
maneira como ele apelou para o tribunal de Iavé, desejando que os 
desejos e intenções dos seus conterrâneos fossem repudiados com 
desprezo e castigados por esse mesmo tribunal. A inocência do profeta 
(19) era a de um cordeiro desconhecedor do perigo. 
 Fruto (19), palavra que talvez devesse ser alterada para "seiva" 
(em hebraico leah em vez de lechem). 
 Rins (20), sinônimo de emoção. Coração (20), sede da 
inteligência ou da razão. 
 
 
Jeremias 12 
 5. O PROBLEMA DA PROSPERIDADE DOS ÍMPIOS (12.1-5). 
Jeremias conclui a sua quarta mensagem com uma referência ao secular 
problema do êxito dos ímpios. O profeta encontra-se entre os mais 
ousados de todas as gerações que se ergueram no seu sofrimento e 
interpelaram a soberania divina sobre o problema da prosperidade que 
parece acompanhar as ações dos ímpios e ateus. A cólera (3-4) arde 
dentro dele contra as intençõeshomicidas dos seus antagonistas em 
Anatote, gente má mas próspera! Todavia, Deus não está à mercê das 
perguntas do homem, sejam quais forem as anomalias da vida humana. 
Jeremias não recebe qualquer solução direta para o seu problema, sendo-
lhe, em vez disso, ordenado que se prepare para uma prova ainda mais 
dura a que a sua fé e coragem vão ser sujeitas. O primeiro sofrimento, 
que é comparado a uma corrida contra atletas rivais, constitui apenas 
disciplina preliminar para uma luta muito mais afincada. Se essa luta era 
demasiado para ele, como se comportaria o profeta ao ter de defrontar 
cavalos de corrida (5)? E se, quando a terra estava em paz, se sentia tão 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 36 
preocupado, qual seria a sua reação nos tempos difíceis que o futuro 
reservava (simbolizados pela "enchente do Jordão")? 
 Plantaste-os (2). Em 2Sm 7.10, aplica-se a toda a nação a 
metáfora de uma árvore. Aqui, essa mesma metáfora é aplicada aos 
ímpios. 
 A enchente do Jordão (5; em hebraico ga'on, inchaço, orgulho, 
majestade), indicando a vegetação selvática, frondosa e infestada de 
animais da região quente e pantanosa das margens do rio Jordão 
(compare-se com 49.19; 50.44; Zc 11.3). 
 
b) O lamento de Iavé (12.6-17) 
 
 Nos vv. 6-11 Deus fala a Jeremias; nos vv. 12-17, Deus fala 
através de Jeremias. Esta seção constitui um apêndice à quarta 
mensagem de Jeremias, que acaba de chegar ao seu termo. A dor do 
profeta, como a de Oséias, com quem tem bastantes características em 
comum, levava-o a sentir que ela tinha a sua contrapartida em Deus. Este 
lamento divino, no seu enquadramento histórico, vem registrado em 2Rs 
24.1-2, onde encontramos pormenores e datas (598 A. C.). 
 A minha casa (7); expressão provavelmente utilizada aqui no 
sentido mais amplo de "o meu país" em vez de em referência ao templo. 
 Como leão (8); Judá rugiu contra o Senhor como um leão, 
assumindo uma atitude hostil. 
 Ave de várias cores (9); assim como as aves atacam outras de 
plumagem com a qual não estão familiarizadas, assim também Israel, 
diferente das outras nações, foi atacado por elas. 
 A minha vinha (10); a nação é mencionada por meio de várias 
metáforas - casa, herança amada da minha alma, vinha. Os pastores, isto 
é, os dirigentes, começaram a destruir a vinha, e o inimigo externo 
concluiu essa tarefa. 
 Os meus maus vizinhos (14) sofrerão, conforme se prediz (14-
17), o mesmo destino que Judá, ou seja, o exílio; esses agressores sírios, 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 37 
moabitas e amonitas serão semelhantemente punidos pela ação do 
inimigo comum, Babilônia, a não ser que passem a adorar o Deus vivo e 
aprendam a jurar pelo Seu nome (16). Note-se uma vez mais o caráter 
condicional da profecia. 
 
Jeremias 13 
V. AS CINCO ADVERTÊNCIAS - 13.1-27 
 
 Desconhece-se a data exata destas advertências. Os vv. 18 e 19 
referem-se provavelmente a Jeoaquim e a sua mãe, a rainha Neusta (597 
A. C.). A primeira parte, prenhe de catástrofes, poderia abranger o 
reinado de seu pai, Jeoaquim, portanto 608-597 A. C. 
 
a) A primeira advertência (13.1-11) 
 
 É esta transmitida por meio do símbolo do cinto de linho. Trata-se 
de uma parábola traduzida em atos e que ensina que a adoração dos 
ídolos constitui a ruína absoluta da verdadeira adoração em corrupção de 
alma. Por outro lado, o culto de Iavé era louvor, glória, criação íntima. 
Com respeito a este aviso parabólico, há quatro "andamentos": primeiro, 
é ordenado ao profeta que obtenha um cinto (vv. 1 e 2); segundo, que o 
leve ao Eufrates (vv. 3-5); depois, que o vá buscar ao Eufrates (vv. 6 e 
7); e, finalmente, vem a explicação da parábola (vers. 8-11). Os 
primeiros três passos eram preparatórios e o quarto explicativo. O 
destino apontado a Jeremias é ambíguo. O Eufrates da passagem não 
devia ser o grande rio desse nome, a uns 380 quilômetros de Jerusalém. 
Provavelmente, a vila mencionada era Pará, cerca de quatro quilômetros 
e meio da terra natal de Jeremias, Anatote. (A palavra hebraica Perath é 
o nome que designa o Eufrates). É claro que, se se tratava de uma visão e 
não de uma viagem verdadeira, a distância deixaria de ser tomada em 
conta. 
 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 38 
b) A segunda advertência (13.12-14) 
 
 O verso 12 contém a parábola de aviso; no verso 13 vem ela 
explicada. O simbolismo do odre de vinho exprime a advertência que, 
assim como a bebida forte perturba a marcha do pensamento do homem, 
assim também será o julgamento enviado por Iavé, que embriagará os 
homens de Judá, os quais se chocarão uns com os outros, sendo 
destruídos. A embriaguez é a abdicação da clareza de espírito tão 
essencial para tomar decisões em horas de crise. Os habitantes de 
Jerusalém não terão cabeça nem forças para se defenderem ou para 
distinguirem entre amigos e inimigos (ver também 25.15-28; Ez 23.31-
34; Is 51.17; Sl 60.3). 
 
c) A terceira advertência (13.15-17) 
 
 Nesta passagem, Jeremias previne o seu povo contra a arrogância 
para com Iavé. 
 Não vos ensoberbeçais (15). Criam os gregos que o orgulho 
(hybris) atraía os golpes dos deuses. 
 Nos montes tenebrosos (16); traduzindo à letra, "os montes 
crepusculares". Refere-se esta expressão à situação difícil dos viajantes 
surpreendidos pela noite antes de chegarem a uma estalagem acolhedora. 
Dai glória (16); frase idiomática hebraica equivalente a "confessai os 
vossos pecados" (ver Js 7.19). 
 
d) A quarta advertência (13.18-19) 
 
 O acolhimento desdenhoso dispensado às mensagens de Jeremias 
foi a causa da queda daquele povo orgulhoso. Daí a ordem dada ao 
profeta de se dirigir pessoal e diretamente à casa real. 
 Humilhai-vos e assentai-vos (18). O rei e rainha mencionados são 
provavelmente Jeoaquim e Neusta, sua mãe (cerca de 597 A. C.). 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 39 
 As cidades do sul (19), isto é, Neguebe, nome dado à região 
estéril no sul de Judá. As cidades deste território deserto são notadas por 
serem as que se encontram mais protegidas das invasões, o que acentua o 
caráter drástico do cativeiro de Judá, todo o Judá... sim, inteiramente 
(19). 
 
e) A quinta advertência (13.20-27) 
 
 A última advertência de castigo revela mais claramente do que 
nunca que ele é devido à pertinácia no pecado. As palavras finais estão 
repassadas de energia. O verso 21 é obscuro. Driver traduz: "Que dirás tu 
quando ele puser sobre ti como cabeça aqueles a quem tu próprio 
ensinaste a serem teus amigos?" Épocas houve em que os babilônios 
tinham sido amigos e aliados de Judá. Assim, por exemplo, Ezequias 
cultivara a amizade de Merodaque-Baladã, fato este a que o nosso verso 
talvez se refira. 
 Ai de ti, Jerusalém! Não te purificarás? Até quando ainda? 
(27). O provérbio do verso 23 é bem conhecido e axiomático. O pecado 
pode-se tornar tão habitual que determina o destino de cada um; o nexo 
de pecado e castigo é imutável e indestrutível. Tal castigo é ainda mais 
apropriado por ser infligido por aqueles em cujo ânimo Jerusalém se 
procurara insinuar. 
 
VI. SOMBRAS DE TRAGÉDIA 14.1-21.14 
 
 Esta seção contém a quinta, sexta e sétima mensagem de Jeremias 
com os respectivos apêndices, e intercalados também vários 
acontecimentos na vida do profeta. 
 
a) A quinta mensagem de Jeremias (14.1-15.9) 
 Esta mensagem diz respeito à seca e à intercessão do profeta. 
 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 40 
Jeremias 14 
 1. A DESOLAÇÃO DA TERRA (14.1-6). A desolação do país era 
completa, abrangendo-o na sua inteireza (2), bem como aos nobres (3), 
ao solo (4), e aos muitos animais (5-6). O Senhor dirigiu a Sua palavra a 
Jeremias acerca desta seca e todas as suas conseqüências devastadoras, 
desgraça que inspirou as orações do profeta. No oriente, as secas 
constituem um acontecimento que inspira terror. O problema 
fundamental, "porquanto não há erva" (5-6) vem expresso duas vezes. 
 
 2. A SÚPLICA DO PROFETA (14.7-9). A descrição é poética, 
aproveitando o profeta o acontecimento como símboloapropriado da 
seca espiritual. O Deus vivo abandona o povo ao seu pecado; Ele não 
permanece mais do que uma noite, como um viandante (8). 
 Não nos desampares (9), o ponto culminante da intercessão. 
 
 3. A CONFIDÊNCIA DO SENHOR (14.10-12). Ordem 
inexorável, esta do verso 11, de o profeta não orar pelo seu povo. 
 Pela espada e pela fome e pela peste (12), combinação esta que 
ocorre sete vezes em Jeremias. 
 
 4. A DECLARAÇÃO RESPEITANTE AOS FALSOS PROFETAS 
(14.13-16). Jeremias pode apenas alegar (13) que os profetas tinham 
mentido ao povo, predizendo uma falsa paz. Mentirosos assim não 
podiam ser Seus embaixadores; profetizavam baseados apenas na sua 
autoridade ímpia. No entanto - e aqui é que reside a tragédia - o povo 
desejava ser iludido pelo que o castigo cairia tanto sobre os ludibriadores 
como sobre os ludibriados. 
 
 5. A LAMENTAÇÃO DO VERDADEIRO PROFETA (14.17-22). 
Como Abraão fizera outrora por Sodoma, assim também Jeremias ousa 
agora continuar a interceder, invocando fortes argumentos. 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 41 
 Não anules o Teu concerto conosco (21), implora ele. Mais 
ainda, Jeremias apóia-se no nome e caráter divino na relação existente 
entre Jeová e o Seu povo. 
 Não és Tu, somente, ó Senhor, nosso Deus? Portanto, em Ti 
esperaremos (22). Israel violara o concerto, mas o Deus de Israel jamais 
o faria! 
 
Jeremias 15 
 6. A DECLARAÇÃO DO SENHOR (15.1-9). Todavia, o Senhor 
mostra-Se inabalável. Responde à oração do profeta; Moisés e Samuel 
haviam intercedido na antiguidade; não seria a Minha alma com este 
povo (1); compare-se com Êx 32.11-14,30-32; Nm 14.13-24; Dt 9.18-
20,25-29; 1Sm 7.8-9; 12.19-25; Sl 49.6-8. O castigo está já destinado 
para Judá - a espada, cães, aves de rapina e os animais da terra (3). 
 Padejá-los-eis (7), ou, segundo outra tradução, "padejei-os". 
 A que dava à luz sete (9). Jerusalém, tão prolífica e próspera, 
ficará sem filhos (7). 
 
b) Apêndice dialogado (15.10-21) 
 
 Jeremias torna-se introspectivo. Sente-se invadido pela angústia de 
se ter transformado numa maldição para o seu povo, mas Iavé fortalece o 
seu espírito e ainda o justificará. O verso 11 é difícil. Os vv. 12-14 
referem-se ao exílio. A absoluta solidão do homem de Deus vem 
expressa nos vv. 15-18. Tem de se pôr ao lado do Senhor contra os seus 
próprios conterrâneos, embora contra a sua inclinação e vontade. 
 Me encheste de indignação (17). O seu brado é de desespero; 
chegou ao extremo. 
 Por que dura a minha dor continuamente? (18). Deverá Iavé 
ser para mim como uma fonte que se evapora em tempo de estiagem? O 
Senhor responde. No final deste diálogo, vem o penhor do livramento se 
a obediência for ininterrupta: 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 42 
 Se apartares o precioso do vil (19), isto é, se esclareceres a 
diferença eterna entre o bem e o mal, "serás como a Minha boca" e 
continuarás a ser o Meu profeta. 
 Os vv. 20-21 constituem uma repetição substancial de 1.18-19. 
 
c) A sexta mensagem de Jeremias (16.1-17.18) 
 
Jeremias 16 
 O tema desta mensagem é acentuado pela ordem divina dada ao 
profeta de não se casar. O país será ensombrado pela tragédia, pois o 
pecado irá recolher a sua seara de castigo inevitável. 
 Não tomarás para ti mulher (16.2), pois as crianças nascidas em 
Judá morrerão sem haver quem as sepulte. 
 Morrerão de enfermidades dolorosas (4); à letra, "mortes de 
doença", isto é, mortes provocadas por doenças debilitantes ou fome. 
Todos serão devorados pelas aves e pelos animais ferozes. O profeta não 
se deverá juntar aos pranteadores (5) - literalmente, ao pranto estridente 
produzido pela dor - aos que se entregam a festejos (8) e à vida 
doméstica (9). A causa é a idolatria, e o castigo é inevitável, a saber, o 
exílio (13). 
 Não usarei de misericórdia convosco (13), o que é o cúmulo, 
sem dúvida, da severidade. 
 Nem lhes darão a beber do copo de consolação (7) 
possivelmente uma alusão aos banquetes fúnebres que, na sua origem, 
talvez representassem uma forma de comunhão com os mortos. Do copo 
de consolação (7), servido nos funerais. 
 Uma terra (13); no hebraico, encontramos o artigo definido, "a 
terra". O povo não ignorava a terra para onde seria levado. 
 Os vv. 14 e 15 parecem deslocados - talvez interpolação de um 
escriba exprimindo alegria depois do exílio. Por outro lado, podem 
constituir um desabafo que alivia a pressão mortal sobre o coração do 
profeta. Estes vv. repetem-se em 23.7 e seguintes. 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 43 
Prosseguem agora as ameaças dos vv. 9-18 depois da interrupção 
causada pelos dois vv. 14 e 15. As sombras adensam-se. Como para os 
peixes e animais, só o cativeiro e a morte aguardam os cidadãos 
condenados de Jerusalém. Mais tarde, até os pagãos participarão no 
refúgio em Iavé facultado pela cidade. E esta a fiel expectativa de 
Jeremias para quando o castigo tiver passado, talvez um paralelo do 
otimismo compensador dos vv. 14 e 15. 
 Saberão que o Meu nome é o Senhor (21), isto é, Jeová. 
 Pescadores (16); Amós serve-se de uma metáfora semelhante 
(Am 4.2); o mesmo fazem Habacuque (1.15) e Ezequiel (12.13). 
 Em dobro (18); compare-se com Is 40.2; o significado é 
"amplamente". Profanaram a minha... herança (18); ao fim e ao cabo, 
os ídolos eram coisas mortas e, portanto manchavam a terra, herança de 
Deus. 
 
Jeremias 17 
O pecado de Judá é como a escrita indelével de um estilete de ferro 
ou de uma ponta de diamante (17.1). Utilizavam-se estiletes de ferro para 
gravar inscrições em superfícies duras, como rochedos ou pedras (ver Jó 
19.24). As pontas de diamante eram empregadas para cortar outros 
diamantes não menos duros. A verdade é que a nação se classifica na 
mesma categoria de dureza, pois o pecado está permanentemente 
gravado no seu coração. O fogo do castigo de Jeová será tão perdurável 
como esse pecado (4). 
 Dos seus bosques (2); isto é, os "aserim". Ver a nota respeitante a 
1Rs 14.23. 
 Ó minha montanha (3), expressão que se supõe geralmente 
referir-se a Jerusalém. 
 Por causa do pecado (3). A seguir à descrição do pecado (1-2) e 
do castigo de Judá (3-4) vem o contraste entre o homem que confia no 
homem (5-6) e aquele que confia em Deus (7-8). A condição 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 44 
desesperada do coração humano sem diagnóstico e cura espiritual vem 
descrita nos vv. 9 e 10. 
 Enganoso é o coração... e perverso (9); ou, segundo outra 
tradução, "desesperadamente doente". Em 15.18 e 30.12 a mesma 
palavra vem traduzida por "incurável". 
O rico néscio vem fotografado no verso 11. 
 As deixará (11), isto é, a fortuna deixará e abandonará o rico. 
Através das Escrituras, o termo "louco ou sinônimos refere-se à 
insensatez moral e não à intelectual. A sensibilidade de Jeremias vem 
revelada nas palavras finais, que constituem um brado de vindicação. 
 Escritos sobre a terra (13), uma metáfora que exprime o que não 
tem duração: "desaparecerão como palavras escritas na areia. 
 Pastor (16); a mesma palavra é alhures empregada para designar 
reis ou dirigentes; aqui aplica-se ao próprio profeta. 
 
d) Apêndice referente ao Sábado (17.19-27) 
 
 Como o trecho precedente, também este tem um apêndice. Diz ele 
respeito ao sábado e assinala a transição da poesia para a prosa 
suscitando igualmente um problema de ordem cronológica. Para o 
profeta, que, necessariamente, amava o sábado, a sua profanação deve 
ter sugerido o desagrado divino. 
 À porta dos filhos do povo (19), a porta junto à qual Jeremias 
recebe ordens para se colocar e instruir todos os carregadores que ali 
entravam no dia de descanso; não se logrou identificar entre as várias 
portas da cidade, palácio ou templo. 
 A proibição do verso 27 sugere uma das portas da cidade. 
 Quanto às palavras finais, ver 21.14; 49.27; 50.32; Am 1.3-2.5. 
 
Jeremias 18 
e) A sétima mensagem de Jeremias (18.1-17) 
Jeremias (Novo Comentário da Bíblia) 45 
 1. UMA ILUSTRAÇÃO (18.1-10). Este discurso

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