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Tiago (N Comentario)

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TIAGO 
 VOLTAR 
 Introdução 
 Plano do livro 
 Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5
 
INTRODUÇÃO 
 
I. AUTORIA 
 Há três pessoas com esse nome no Novo Testamento - Tiago, filho 
de Zebedeu; Tiago, filho de Alfeu; e Tiago, irmão de Jesus. Embora as 
Escrituras não sejam precisas sobre esta questão, a maioria dos eruditos 
concorda em identificar o autor desta epístola com Tiago, irmão de nosso 
Senhor. Tiago, filho de Zebedeu e irmão de João, foi morto por Herodes 
(At 12.2). Depois disso Pedro foi preso e, sendo solto milagrosamente, 
pediu que mandassem notícia a Tiago e aos irmãos (At 12.17). Tiago, 
filho de Alfeu, só vem mencionado nas listas dos apóstolos, e é possível 
que em Mc 15.40 a referência seja a ele. Não é muito plausível que uma 
pessoa que nos Evangelhos ocupa lugar tão obscuro viesse a escrever 
esta epístola que, tão evidentemente, procede de um homem de notável e 
forte personalidade, o qual obviamente ocupava posição de autoridade na 
Igreja. 
 Resta o Tiago, irmão de nosso Senhor; as referências que lhe são 
feitas em o Novo Testamento levam-nos a concluir que era homem de 
grande influência e distinção, especialmente na roda dos cristãos judeus. 
Nosso Senhor apareceu a um Tiago, depois da ressurreição (1Co 15.7) e, 
se bem que não esteja declarado, parece seguro admitir que se trata do 
Tiago seu irmão. À luz de Mt 13.55 e Jo 7.5 podemos concluir que, 
fossem os últimos acontecimentos da vida de nosso Senhor, fosse Sua 
morte, ou essa aparição depois de ressurreto, algum desses fatos 
contribuiu para a conversão dele. Vem indicado como fazendo parte do 
grupo em Jerusalém que orava e aguardava «a promessa do Pai» (At 
Tiago (Novo Comentário da Bíblia) 2 
1.14). Paulo, três anos depois de convertido, dirigiu-se a Jerusalém onde 
se avistou com Pedro, não vendo nenhum outro apóstolo, «salvo Tiago, 
irmão do Senhor» (Gl 1.19). Na conferência havida em Jerusalém, onde 
se discutiu a questão da admissão de gentios na Igreja, o presbítero que 
presidiu foi Tiago. Depois de Pedro, Paulo e Barnabé haverem falado, 
ele resumiu toda a discussão e propôs uma decisão que foi aceita por 
toda a assembléia, redigindo-se uma carta cuja fraseologia tem alguns 
paralelos muito impressionantes com esta epístola (At 15.6-29). Por 
ocasião de outra visita feita a Jerusalém, Paulo recebeu a destra de 
companhia da parte de Tiago, Cefas e João (Gl 2.9). E indo a Jerusalém 
pela última vez, relatou seu trabalho a Tiago e aos presbíteros que com 
ele estavam (At 21.18 e segs.). 
 Tiago, por conseguinte, ocupava uma posição de grande, se não 
suprema, autoridade na igreja mãe, em Jerusalém, presidindo as 
assembléias e pronunciando com autoridade a última palavra. O tom 
autoritário desta epístola condiz bem com a posição de primazia 
atribuída a ele. 
 
DATA E DESÍGNIO 
 Nem a evidência interna nem a externa ajuda muito em determinar 
com precisão a data desta epístola. O conteúdo da mesma certamente 
parece indicar uma forma primitiva de organização cristã na Igreja. 
Mayor e outras autoridades apresentam argumentos na defesa de uma 
data muito afastada (cerca de 45 A. D.), baseados no fato de a epístola 
omitir qualquer referência ao Concílio de Jerusalém e à resolução que lá 
fora tomada. Por outro lado, Wordsworth, Farrar e Ewald defendem uma 
data mais avançada (cerca de 62 A. D.), fundamentados no fato de a 
epístola ter sido escrita por Tiago pouco antes de seu martírio, a fim de 
corrigir certas interpretações errôneas da doutrina de Paulo quanto à 
justificação pela fé. A data mais primitiva, de um modo geral, parece ser 
preferível. O propósito da epístola é demonstrar que a fé no Senhor Jesus 
Cristo deve ser aplicada a todas as experiências e relações dos discípulos 
Tiago (Novo Comentário da Bíblia) 3 
cristãos. O que Tiago visa é fé em ação, daí sua ênfase marcante sobre o 
lugar das obras na vida cristã. Parece, do ensino desta epístola, que os 
judeus cristãos, aos quais ela se dirige, estavam em risco de considerar 
sem importância esta manifestação prática da fé. 
 
PLANO DO LIVRO 
 
I. INTRODUÇÃO - 1.1 
II. FÉ E PROVAÇÕES - 1.2-27 
III. FÉ E SOCIABILIDADE - 2.1-13 
IV. FÉ E OBRAS - 2.14-26 
V. FÉ E O DOMÍNIO DA LÍNGUA - 3.1-12 
VI. FÉ E SABEDORIA - 3.13-18 
VII. FÉ E CONTENDAS. - 4.1-17 
VIII. RIQUEZAS CORROMPIDAS - 5.1-6 
IX. RECOMENDA-SE PACIÊNCIA - 5.7-12 
X. FÉ E ORAÇÃO - 5.13-20 
 
COMENTÁRIO 
 
Tiago 1 
I. INTRODUÇÃO - 1.1 
 
 Tiago. Quanto à sua identidade, ver a Introdução. Servo, isto é, 
“escravo”. Parece que os apóstolos tinham prazer em se considerar 
assim. Cf. Rm 1.1; 2Pe 1.1; Ap 1.1. 
As doze tribos; não aos judeus, como raça, mas aos judeus cristãos 
que, havendo sido postos diante do grande princípio da fé, necessitavam 
de instruções práticas sobre a arte de viver a vida cristã. Empregando a 
palavra doze, ele não distingue necessariamente cada tribo de per si. É 
um termo coletivo que alude a todos aqueles que descendem de judeus. 
Tiago (Novo Comentário da Bíblia) 4 
Dispersão. A carta dirige-se especialmente aos que viviam entre gentios, 
fora dos limites da Palestina. 
 
II. FÉ E PROVAÇÕES - 1.2-27 
 
a) A atitude cristã em face do sofrimento (1.2-4) 
 Tentações (gr. peirasmos) significa provações com um propósito 
e efeito benéficos, ou sejam provações ou tentações divinamente 
permitidas ou enviadas. Em alguns contextos, entretanto (por ex. Lc 
4.13), usa-se a palavra para significar tentações do demônio. Veja-se 
também Tg 1.13-15, onde a forma verbal peirazo emprega-se neste 
mesmo sentido. Os destinatários da epístola estavam passando por 
provações, como judeus crentes que haviam aceitado o Senhor Jesus 
Cristo na qualidade de Messias; Tiago exorta-os a que não se aflijam 
com tais provas, mas pelo contrário tenham o sofrimento e as 
perseguições como gozo. Eram prova de que eles eram filhos (Hb 12.6; 
Sl 94.12) e de ser a sua fé uma realidade. Tais tentações eram várias (gr. 
poikilos), isto é, «variegadas» ou «de muitas cores». A palavra refere-se 
à variedade das provações, antes que ao seu número. A provação (lit. «o 
processo de testar, provar») de vossa fé produz perseverança (3). Prova 
aí pode referir-se à pressão das circunstâncias, causada pela perseguição. 
Tiago queria que esses cristãos primitivos compreendessem que tal 
provação era uma oportunidade de ser provada a têmpera deles e um 
modo de discipliná-los na coragem e perseverança. Neste sentido, tal 
provação devia até ser acolhida com prazer (cf. Rm 5.3). 
Paciência (3-4), isto é, “perseverança”, que capacita a pessoa a 
resistir ao aperto das circunstâncias externas. 
Essa graça da perseverança deve ter ampla liberdade, até completar 
sua obra, fazendo-nos perfeitos e íntegros, em nada deficientes (4). 
Perfeitos aí não quer dizer sem pecado, porém “maduros” ou 
“plenamente desenvolvidos”. A palavra grega é teleios, que significa ter 
alcançado seu fim, ter ficado completo. Quando se refere a pessoas, 
Tiago (Novo Comentário da Bíblia) 5 
indica primeiramente desenvolvimento físico; depois, em sentido ético, 
quer dizer pleno crescimento ou maturidade. Íntegros (gr. holokleros) 
significa completos em todas as partes, ou “em nada deficientes”, como 
Tiago mesmo diz (cf. 1Ts 5.23). 
 Alguns têm sugerido que tais expressões são tomadas de 
empréstimo aos sacrifícios da lei. A vítima era perfeita se era 
perfeitamente sadia, sem qualquer doença; era íntegra (inteira) se não lhe 
faltavam membros, se nada lhe era deficiente. O crente deve ser para 
com o Senhor o que Este exigia dos Seus sacrifícios. Deve ser 
inteiramente santificado ao Senhor dos exércitos. 
 
b) A necessidade de sabedoria (1.5-8) 
 As provações podem trazer muita perplexidade; precisamos de 
muita sabedoria, se temos de enfrentá-las vitoriosamente, ou, como no 
caso de Paulo, se temos de nos gloriar nas tribulações. Sabedoria 
significa, em geral, conhecer o melhor fim e os melhores meiosde 
atingi-lo. Tiago tem em mente, em primeiro lugar, a compreensão eficaz 
dos modos de o crente agir. A sabedoria de cima torna-se necessária para 
apontar esses modos e dirigir a ação. Tal sabedoria se obtém por uma 
completa dependência de Deus, expressa na oração. Por conseguinte, se 
alguém é falho em sabedoria, peça-a a Deus, que é infinitamente sábio, e 
de Sua sabedoria dá liberalmente e não lança em rosto (5). Ele não nos 
repreende por nossa falta de sabedoria, porém do Seu tesouro ilimitado 
Se deleita em dar, segundo nossa necessidade. Note-se que a promessa se 
acompanha de certeza: e lhe será dada. Liberalmente (gr. haplos), isto 
é, simples, incondicional e generosamente, com mão larga. 
Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando (6). Dúvida, 
hesitação acerca de Deus, dependência de algo ou de alguém que não 
seja Deus, são realmente incredulidade. Não deve haver vacilação, nem 
discussão, nem indecisão no pedir; e não deve haver espírito dobre, a 
querer em parte seus próprios métodos e em parte os métodos de Deus. 
Semelhante à onda do mar.... (6); isto é, num estado de contínua 
Tiago (Novo Comentário da Bíblia) 6 
agitação, erguendo-se e abatendo-se entre a confiança em Deus e a 
incredulidade; mudando de idéia ou de direção; a mostrar instabilidade e 
falta de controle divino. 
Tal instabilidade é a marca do homem de ânimo dobre (8); gr. 
dipsychos, lit. “de duas almas”, pessoa de afeições divididas e de 
vontade insubmissa, a querer abarcar os dois mundos. Tal pessoa não 
deve sonhar em obter resposta às suas orações. Uma condição de 
resposta a orações é ânimo singelo. 
 
c) Verdadeiras riquezas (1.9-12) 
 A pessoa pobre, de posição humilde, que aceita o evangelho, 
ergue-se por sua fé a um nível superior, e nisso pode encontrar mais um 
incentivo para perseverar contente (9). Por outro lado, o rico, que se 
tornou crente e aprendeu quais são os verdadeiros valores da vida, torna-
se um alvo especial de perseguição e de várias provações, e com isso tem 
muito a perder (10). É trazido à condição humilde (9) de seus irmãos 
mais pobres e levado a aceitar o que, do ponto de vista do mundo, é uma 
posição humilhante, qual seja a de fazer parte de uma irmandade de 
gente pobre. Deve então alegrar-se e aceitar isso como da mão dAquele 
que é Sabedoria infalível, uma vez que agora aprendeu a olhar as 
riquezas em sua verdadeira perspectiva. As riquezas temporais são 
transitórias, de curta duração como os canteiros de erva ou as flores das 
campinas sob o açoite dos vendavais e do sol escaldante, que as cresta e 
faz perecer a beleza de suas formas e cores (a formosura do seu 
aspecto). Assim, igualmente, o rico murchará em seus caminhos, isto 
é, em meio às suas preocupações mundanas. 
O rico, que se converteu, pode regozijar-se por haver-se livrado de 
tal destino e por possuir uma herança e uma coroa de vida (12) que não 
pode desvanecer-se. Sua humilhação aos olhos do mundo, portanto, não 
é realmente humilhação, mas é causa de profunda e duradoura alegria. O 
homem, seja de elevada, seja de humilde posição, que suporta a 
provação e não sucumbe a ela, é de fato bem-aventurado, pois quando 
Tiago (Novo Comentário da Bíblia) 7 
for provado («aprovado») receberá a coroa da vida (12). Depois da 
prova vem a recompensa. Passada a tentação, se o crente suportou a 
prova e ficou firme até ao fim, recebe a coroa de vencedor, coroa da 
vida. Esta não deve ser confundida com a vida eterna, que é dom gratuito 
de Deus a quantos crêem no Senhor Jesus Cristo. A coroa da vida é o 
prêmio especial oferecido aos que perseveram na fidelidade. 
 
d) Donde procedem as tentações (1.13-18) 
 Tiago aqui contrasta a desculpa, que a pessoa tentada apresenta, 
com a verdade a respeito da tentação; evidentemente refere a excitação 
para o mal, e não a prova do caráter a que acabou de aludir (vejam-se os 
versos 3,4). 
Ninguém.... diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode 
ser tentado pelo mal, e ele mesmo a ninguém tenta (13). Alguns têm 
visto contradição entre estas palavras e declarações tais como as de Hb 
11.17 e 1Co 10.9. Nestes casos, porém, a tentação vem de fora, ao passo 
que Tiago se refere aí à tentação ou prova de dentro, que surge de 
paixões e apetites desgovernados. A fraqueza em ceder a tais desejos 
maus não pode ser excusada, lançando-se em Deus a responsabilidade 
dos mesmos (cf. 1Co 10.13). A verdadeira procedência das tentações 
deve-se procurar não em Deus, mas no próprio homem. 
Cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai 
e seduz (14). A cobiça, quando alimentada no coração, produz o pecado; 
porque o que o homem pensa em seu coração, isso ele é. Quando se cede 
ao desejo da satisfação própria, daí irrompe a mazela mortal do pecado, 
que por sua vez produz o temível fruto da morte (cf. Rm 8.6). 
O pecado, uma vez consumado (“plenamente desenvolvido, 
amadurecido”) gera a morte (15), “O pecado, filho de desejo 
incontrolado, cresce e, por seu turno, dá à luz um filho, a morte” 
(Cambridge Bible). A morte é o produto acabado, a «obra perfeita» 
(verso 4) do pecado. 
Tiago (Novo Comentário da Bíblia) 8 
 Longe de ser Deus a origem das tentações, Ele é o autor e doador 
de todos os bens. E também o Pai das luzes (17), o Criador e Fonte 
última da luz física, intelectual e espiritual (cf. 1Jo 1.5). NEle não pode 
haver variação, nem sombra de mudança (17). O sol e a lua variam. 
Podem ser eclipsados e deixar-nos às escuras. Não é assim com Deus. 
Toda bênção que gozamos, devemo-la à Sua bondade infalível e à Sua 
graça e misericórdia inalteráveis. Além do mais, Ele deliberadamente 
quis fazer de nós Sua progênie escolhida. 
Foi de Seu querer que fôssemos gerados pela Palavra da verdade, a 
fim de sermos como que primícias das suas criaturas (18). Pode ser 
que Tiago estivesse pensando nos judeus cristãos, agora feitos novas 
criaturas em Cristo, como primeiros feixes, ou penhores, da grande 
colheita mundial dos remidos (cf. Rm 16.5; 1Co 16.15), Ou pode seu 
pensamento ser que os crentes são «a nata da criação» (gr. aparche), 
oferta de primícias a Deus, antecipando a redenção de todas as coisas, 
pela qual a criação espera (cf. Rm 8.18-23). 
 
e) Responsabilidade para com a Palavra (1.19-27) 
 Aparentemente havia alguns cristãos judeus que pensavam poder a 
vida cristã ser estimulada por meio de discussões, os quais gostavam 
mais de falar que de ouvir. Não raro suas falas degeneravam em debates 
coléricos, daí resultando muito rancor que nem recomendava a sã 
doutrina, nem promovia santidade de vida, nem produzia o fruto da 
justiça. Em vista do que foi declarado (veja-se o verso 18), convém-nos 
ser prontos para ouvir e acatar a Palavra, tardios para dizer o que 
sentimos e, acima de tudo, tardios para nos irarmos sob provocação, 
porque tal ira nunca Se coaduna com a justiça de Deus que O leva a 
tratar o pecado com imparcialidade (19-20). 
Além disso devemos despojar-nos de toda impureza e acúmulo de 
maldade (21); toda inclinação para a impureza deve ser repelida (cf. Cl 
3.8-9). A Palavra é semente que requer solo limpo onde possa medrar. 
“Assim extirpai toda a malícia, que cresce e prolifera em excesso, e 
Tiago (Novo Comentário da Bíblia) 9 
preparai um solo de modéstia e humildade para a Palavra, a qual lança 
raízes no íntimo com força de salvar as vossas almas” (Moff.). O ouvir, 
entretanto, é inútil, se não leva à prática de uma vida santa. 
Tendo sido feitos novas criaturas em Cristo, cumpre-nos andar em 
obediência à fé revelada nas Escrituras, porquanto é possível, por 
argumentos sofísticos, enveredar alguém num estado de segurança 
carnal, enganando-se a si mesmo (22). 
O mero ouvinte da Palavra é comparado ao homem que contempla 
num espelho o seu rosto natural (23). Contemplar aí sugere um olhar 
de relance, que deixa apenas uma impressão casual (24). A Palavra de 
Deus é, por assim dizer, um espelho da alma, que nos mostra o que 
realmente somos; se somente lhe relanceamos a vista e nenhum esforçofazemos para conformar com ela a nossa vida, a impressão logo se 
desfará. O mero ouvir a Palavra não leva a nenhum resultado permanente 
ou prático na vida do ouvinte (cf. Rm 2.13). 
 Contudo, Tiago reconhece que a Palavra também é uma lei; o 
homem que olha para ela com cuidado não somente vê sua imagem real, 
mas igualmente o ideal e as possibilidades da vida cristã. Esse tal, se 
persiste no seu estudo, meditando na lei de Deus e pondo-a em prática na 
vida diária, será bem-aventurado em assim fazer (25). A lei da liberdade 
(25; cf. Sl 19.7; Rm 8.2). A lei de Cristo traz liberdade e não consiste 
tanto em frear como em guiar e guardar a nova vida em Cristo. O 
verdadeiro crente deleita-se em realizar a vontade de Deus, «cujo serviço 
é perfeita liberdade». Mas, embora a lei seja «da liberdade», seus 
preceitos sem embargo exigem obediência. 
Requer que o homem, cuja religião seja real e não uma profissão 
vazia, refreie sua língua (26), isto é, subjugue o ímpeto de dar expressão 
à malícia, a críticas rancorosas e apressadas dos outros, e a discussões 
acrimoniosas já referidas antes. O termo grego threskeia significa 
religião no seu aspecto, formas e cerimônias exteriores. Tiago emprega 
de propósito a palavra, para estabelecer um contraste entre a religião vã e 
a verdadeira; esta se revela em obras tais como o frear da língua, o cuidar 
Tiago (Novo Comentário da Bíblia) 10 
dos necessitados e guardar-se livre de espírito mundano (cf. Mt 25.31-
46). Parece que na primitiva Igreja as viúvas eram alvo de cuidado 
especial (At 6.1). Nas condições sociais então vigentes, a perda do 
esposo podia constituir-se severa aflição, que levava a muito sofrimento 
e tentação. 
 
Tiago 2 
III. FÉ E SOCIABILIDADE - 2.1-13 
 
 No verso 1 devemos adotar a redação “Tendes a fé em nosso 
Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas?”, sendo a 
inferência que, se assim fazemos, não somos realmente cristãos. Uma 
outra interpretação é que os crentes não devem permitir seja entravado 
seu progresso na vida cristã com uma indevida deferência aos ricos, e ao 
mesmo tempo uma falta de reconhecimento aos pobres. 
 Tiago figura um cidadão rico, muito bem vestido, cujas jóias e 
vestes deslumbrantes são indício de sua opulência, a penetrar numa 
assembléia cristã, não necessariamente uma sinagoga judaica, se bem 
que muitos ainda freqüentassem aqueles centros onde Moisés era lido e 
se davam instruções nas Escrituras. Ao mesmo tempo entra lá um pobre, 
com vestes amarrotadas, desbotadas e sujas (2). 
Era fácil os crentes mostrarem consideração indevida ao rico, 
convidando-o a ocupar lugar de honra, enquanto o irmão andrajoso era 
deixado de pé, ou lhe ofereciam um lugar no soalho para se sentar (3). 
Procedendo assim mostravam que faziam distinções antipáticas 
(“divididos em vossa mente”), e julgavam as pessoas com parcialidade 
(4), “Julgavam com maus pensamentos” baseados no princípio de que as 
vestes custosas de uma pessoa indicavam-na como companheira 
desejável” (Century Bible). Os juízes orientais caracterizavam-se por 
seu favoritismo. Perdia-se com isto todo senso de irmandade cristã, 
ignorando-se o exemplo do Senhor Jesus, visto como todos, ricos e 
pobres por igual são preciosos para Deus. Na sua presença em nada 
Tiago (Novo Comentário da Bíblia) 11 
importam vestes magníficas ou esfarrapadas. Considerar as pessoas por 
essa forma era infringir diretamente a lei de Moisés (cf. Dt 1.17). 
 Lembra-lhes então Tiago que Deus é especialmente gracioso para 
com os pobres. Não escolheu Deus os que para o mundo são pobres, 
para serem ricos em fé e herdeiros do reino? (5). E uma indagação 
surpreendente, afirmativa tanto quanto interrogativa. Embora pobres dos 
bens deste mundo, tinham fé em Cristo, a qual os tornava possuidores 
das mais primorosas bênçãos e dava-lhes direito ao reino dos céus. Eram 
essas, todavia, as pessoas a quem os destinatários da epístola estavam no 
perigo de desprezar, ao passo que cortejavam aos ricos. 
Não eram estes, os ricos, que se opunham ao evangelho e oprimiam 
os que o aceitavam, especialmente aqueles em circunstâncias menos 
felizes, e até os arrastavam aos tribunais, onde a administração da justiça 
estava miseravelmente corrompida? Perseguindo os cristãos, os 
perseguidores tinham o costume de blasfemar do nome e do ensino de 
Cristo (6-7). 
 Tiago agora chega à conclusão a que se encaminhava o seu 
argumento. Se eles cumpriam a lei do reino, a lei régia, como 
apresentada em Lv 19.18 (cf. também Mc 12.28-33; Rm 13.8-10; Gl 
5.14), faziam bem. Mas, se se deixavam levar de respeitos humanos, 
cometiam pecado e eram argüidos pela lei como transgressores (9). O 
apóstolo então antecipa-se a uma possível objeção. Por que dar tanta 
importância a essa questão de acepção de pessoas? E um agravo de 
pouca monta, que de certo não deve ser levado tão a sério. Rebate ele o 
argumento assinalando que toda a lei é quebrada pela transgressão de um 
só ponto. 
A lei régia é a lei soberana de Deus como um todo, e como um todo 
ela demanda cumprimento. Um dos testes da guarda dessa lei é nossa 
atitude para com nosso próximo. Existe uma lei superior ao código de 
Moisés. É a lei da liberdade em Cristo (veja-se 1.25), obediência 
espontânea do crente á vontade revelada de Deus. É por esta que seremos 
julgados. Daí pois “falai e procedei como devem os que esperam ser 
Tiago (Novo Comentário da Bíblia) 12 
julgados pela Lei da liberdade. Porque quem não demonstra misericórdia 
será julgado sem misericórdia” (12-13 Wey.). Sob o governo divino 
colhemos o que semeamos, e com o juízo com que julgamos seremos 
julgados. No grande dia, embora a justiça submeta todo o mundo às 
últimas penalidades da lei, Deus fará que a misericórdia triunfe sobre o 
Juízo, levando à Sua glória os que, havendo sido perdoados estão prontos 
a perdoar e por Seu amor a mostrar misericórdia (cf. Mt 6.14; 25.31-46). 
Isto posto, passamos com naturalidade ao pensamento da seção seguinte. 
 
IV. FÉ E OBRAS - 2.14-26 
 
 Este parágrafo é o ponto crucial da epístola e contém declarações 
que têm dado lugar a infindáveis debates na Igreja. Foi este parágrafo 
que levou Martinho Lutero a proferir sua famosa crítica, quando chamou 
esta carta «epístola de palha». Mas a declaração do apóstolo em seu 
conjunto é eminentemente razoável. Procura ele mostrar a diferença que 
há entre uma fé viva e ativa, e a que existe apenas no nome. “Meus 
irmãos, qual é o proveito se alguém disser que tem fé, mas não apresenta 
obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?” (Moff.). 
Não há antagonismo aqui entre o ensino de Tiago e o de Paulo. Este 
ensina que a justificação diante de Deus não é nunca pelas obras da lei, 
mas pela fé em Cristo (Rm 4.1-5.2). O apóstolo vê necessidade de frisar 
isto ao procurar orientar os que pensam que, pela guarda da lei, podem 
achar a salvação. Ao mesmo tempo ele daria todo seu apoio à alegação 
de Tiago de que a fé que não se exterioriza na vida prática e na conduta, 
não passa de consumada zombaria, e que ninguém é justificado perante 
Deus que ao mesmo tempo não seja justificado praticamente perante os 
homens (ver Tt 1.16; 3.7-8). A fé, sendo a raiz, deve naturalmente dar 
origem às obras, que são os frutos. Tiago precisa dar ênfase a este lado 
da questão, visto que a situação por ele enfrentada é quase oposta àquela 
de que Paulo trata nos primeiros capítulos de Romanos. 
Tiago (Novo Comentário da Bíblia) 13 
 Para ilustrar o seu ponto, Tiago figura a conduta impiedosa de 
quem despede companheiros cristãos tiritantes de frio e famintos, 
dizendo-lhes apenas “Desejo que passeis bem; aquentai-vos e alimentai-
vos bem” (16, Wey.), e deixa de lhes prover às necessidades corporais. 
De que vale a fé que presencia tais sofrimentos e não se dispõe a acudir-
lhes benevolamente? 
Tiago presidia a Igreja de Jerusalém que sofrera (e provavelmente 
naquela época ainda estava sofrendo) em conseqüência da fome predita 
por Ágabo (ver At 11.28-30). Podia entãofalar de experiência própria. 
“Votos de Felicidade” é uma frase oca, a não ser que a pessoa que os 
formula concorra para isso (Plauto). De que servem meras palavras 
desacompanhadas da prática da misericórdia? Crença religiosa, mesmo 
que seja ortodoxa, que não resulta em ação, é morta, porque lhe falta 
poder. O mero assentimento a um dogma nenhum poder tem para 
justificar ou salvar (cf. Rm 2.13). «Ninguém é justificado pela fé, a 
menos que esta o faça justo». 
 Tiago enfrenta agora uma possível objeção. Supõe o caso de 
alguém a argüir. Tu tens fé e eu tenho obras: mostra-me essa tua fé, 
sem as obras, e eu, com as obras, te mostrarei a minha fé (18). Então 
declara, de modo prático, que a pretensão de ter fé, independente de 
obras de caridade ou misericórdia, é inteiramente vã; porque visto como 
a fé não pode ser discernida senão por seus efeitos (isto é, boas obras), 
segue-se que a pessoa cuja vida não produz boas obras presumivelmente 
não tem fé. 
 Diariamente, pela manhã e à tarde, os judeus piedosos recitavam o 
Shema, cujas palavras iniciais são, “Ouve, ó Israel, Jeová nosso Deus, 
Jeová é um”. Este monoteísmo era um artigo fundamental do credo. Mas 
apenas assentir nele sem que daí resultassem obras, isso não levava 
ninguém acima do plano dos demônios, os quais também crêem no mesmo 
fato. A crença dos demônios evidentemente não tem valor; eles 
estremecem quando pensam em enfrentar o Deus único em juízo. Tal fé, 
que pode ser descrita como simples crença intelectual, não é a fé que salva. 
Tiago (Novo Comentário da Bíblia) 14 
 Tiago não leva adiante seu arrazoado, mas escarnece ligeiramente 
do homem insensato. O adjetivo no grego é kenos, que significa 
«vazio», sugerindo o devoto insensível, de cabeça oca, de uma religião 
de mero formalismo. E prossegue dando dois exemplos de justificação, 
tirados do Velho Testamento. 
Primeiro chama atenção para nosso pai Abraão (21; cf. Gl 3.6-7), 
que foi justificado pelas obras, quando, em inteiro devotamento e 
obediência incondicional à ordem de Deus, ofereceu Isaque (ver Gn 22). 
Tiago e Paulo concordam que foi quando Abraão creu em Deus, que 
isto lhe foi imputado para justiça (Gn 15.6), isto é, foi justificado pela 
fé perante Deus. Porém, quando pela fé ofereceu Isaque no altar, foi 
justificado pelas obras perante os homens, visto como demonstrou com 
isso a realidade de sua confiança em Deus. 
Amigo de Deus (23); foi esta a caracterização mais alta que já se 
fez de uma pessoa. Deus admitiu Abraão em Sua intimidade, nada lhe 
ocultando (Gn 18.17), e sobre ele derramando as mais excelentes 
bênçãos. Evidencia-se deste exemplo que a fé de Abraão não foi mera 
crença na existência de Deus, e sim um princípio que o levou a confiar 
nas promessas divinas, a agir pela vontade de Deus, a amar e a obedecer 
a essa vontade. Suas obras justificaram-lhe a fé e provaram a 
genuinidade da mesma. 
 A segunda ilustração é Raabe (cf. Js 2.1 e segs.; Hb 11.31). A fé 
que ela tinha no Deus de Israel era de tal qualidade que se expressou em 
fazer ela o que pôde para proteger os Servos do Senhor. 
 
No verso 26 Tiago conclui e sumariza todo o argumento. “A morte 
se patenteia pela ausência de atividade física e pela presença da 
corrupção; assim a fé, sem santidade prática, não mostra atividade e se 
corrompe” (Century Bible). Fé genuína resulta em boas obras. Estas não 
oferecem maior segurança à nossa posição perante Deus, porém são 
evidências da fé, pela qual alcançamos essa posição. 
 
Tiago (Novo Comentário da Bíblia) 15 
Tiago 3 
V. FÉ E O DOMÍNIO DA LÍNGUA - 3.1-12 
 
 Pela linguagem expressamos os nossos pensamentos e revelamos 
se o que nos domina é nossa própria vontade ou se é a obediência à 
vontade de Deus. Tiago inicia esta seção com um aviso «Não vos 
apresseis em ser mestres» (Moff.) Parecia haver uma ansiedade da parte 
de muitos para falar em público, enquanto falhavam em reconhecer que a 
qualificação fundamental do mestre é saber. Talvez também houvesse a 
tendência de confundir fluência de linguagem com erudição. Os mestres 
levam sobre si grande responsabilidade e serão julgados com especial 
rigor em virtude da influência exercida sobre os outros. 
Note-se o verso 2 “Todos tropeçamos em muitas coisas”. O verbo 
grego é ptaio, tropeçar ou escorregar (cf. 2-10). O perigo do pretenso 
mestre está no falar desenfreado, que leva a declarações irrefletidas e 
demonstrações de mau gênio. Tiago não diz que todo o mundo 
deliberadamente usa mal a língua, mas que esta é às vezes mal 
empregada por todas as pessoas, involuntariamente. Quem nunca é 
culpado de um deslize cometido com a língua, quem nunca profere uma 
palavra ociosa ou vã, esse é perfeito (2), isto é, plenamente instruído, 
bem equilibrado e bem aparelhado para aceitar a responsabilidade de 
ensinar a outros e de frear toda inclinação menos digna. A expressão 
todo o corpo pode-se aplicar à Igreja de Cristo, tanto quanto às paixões 
e apetites. Se esta interpretação for adotada aqui, significará que o 
homem plenamente instruído nas coisas de Deus está aparelhado para 
exercer o governo na Igreja de Cristo. 
 O escritor reforça seu ensino acerca da língua disciplinada, 
empregando as ilustrações do cavalo e do freio (3), dos navios e 
respectivos lemes (4); do fogo e da selva (5-6), dos animais bravios (7-8) 
da fonte d'água (11), da árvore e seus frutos (12). No caso dos cavalos, 
são subjugados por freio e brida, tornando-se úteis ao homem, cuja força, 
em comparação, é pequena. Todo o corpo deles é dirigido pelo domínio 
Tiago (Novo Comentário da Bíblia) 16 
da boca. Assim também os navios são dirigidos empregando-se os lemes, 
de tamanho relativamente pequeno, aliás a sorte dos navios depende dos 
lemes. Ambas estas figuras ilustram a grande influência exercida por 
uma coisa tão pequena, a língua. 
 No verso 5b adote-se a redação da ARA, “Vede como uma fagulha 
põe em brasas tão grande selva!”. Uma coisa diminuta como uma faísca 
pode ser a origem de tremenda conflagração, de resultados desastrosos, 
ilustrando assim os danos causados pela língua. 
Mundo de iniqüidade (6); gr. ho kosmos tes adikias, “mundo de 
injustiças”. A palavra grega kosmos primeiramente exprime ordem, e 
depois mundo, ou universo, como sistema ordenado; adikia denota “falta 
de retidão”, comumente traduzida por «iniqüidade». Aqui, como em 
1.27; 2Pe 1.4; 2.20, “mundo” é isso “separado de Cristo e oposto a Ele; é 
a esfera em que a vida é puramente egoísta” (Century. Bible). A língua, 
este mundo de maldade, está colocada entre nossos membros e mancha o 
corpo todo, visto como toda palavra má deixa sua impressão no caráter 
da pessoa, maculando-a. Põe em chamas a carreira («roda») da 
existência humana, como é posta ela mesma em chamas pelo inferno 
(6). A língua descontrolada é posta em chamas pelo diabo, e o fogo 
propaga-se a todas as paixões inferiores da natureza humana. 
 Depois de falar nos estragos causados pela língua desgovernada, 
Tiago passa a tratar de sua fúria, usando a figura de animais selvagens. 
Enquanto o homem tem sido capaz de domar toda espécie de animal 
bravio, como feras, aves, répteis e peixes, a língua ninguém pode 
domar (8). Nada a subjuga, a não ser a graça de Deus. É um mal 
inquieto, que não se pode dominar ou governar, carregado de veneno 
mortífero (8; cf. Sl 140.3). Em toda esta descrição Tiago tem em mente, 
de modo particular, a língua do caluniador detrator murmurador e 
boateiro. Serpentes venenosas não oferecem maior perigo à vida do que 
tais pessoas à paz e à reputação alheia. 
Segue se nos vv. 9-12 uma representação gráfica do outra 
característica da língua, a incoerência. A língua, que é capaz de louvar o 
Tiago (Novo Comentário da Bíblia) 17 
Eterno Deus o de Lhe manifestar a glória, também é capaz de pilhérias 
ofensivas ao próximo, feito á semelhança do mesmo Deus. Embora esta 
observação tenha aplicação geral, Tiago sem dúvida tinha em mente a 
atitude de judeus para com cristãos, ou mesmo cristãos judeus fanáticospara com gentios podiam erguer a voz em louvores altissonantes a Deus, 
e em bendizer-lhe o Nome, sendo igualmente prontos em vociferar 
terríveis imprecações contra os que não adoravam à maneira deles, mas 
que não obstante eram criaturas, da mesma forma que eles, feitas à 
mesma imagem de Deus. Veja-se a incoerência da bênção e da maldição, 
a procederem da mesma boca! Certamente isso não devia acontecer. 
Tiago chama atenção para a natureza, e pergunta se uma fonte lança de si 
ao mesmo tempo água doce e água salobra, figura muito natural na 
Palestina, onde não era difícil encontrar fontes de água salgada, outras 
sulfurosas e salobras. 
Acaso, meus irmãos, pode a figueira produzir azeitonas? (12). A 
resposta é clara. Assim não pode a mesma fonte dar água salgada ou 
água doce. Se tal acontecesse, a água doce perderia sua qualidade 
característica ou se arruinaria com a água salobra. De igual modo, 
quando os mesmos lábios proferem louvores a Deus e maldições aos 
homens, os louvores se corrompem ou perdem seu valor. Como é 
incongruente tal maneira de proceder! 
 
VI. FÉ E SABEDORIA - 3.13-18 
 
 Depois de apresentar esses argumentos impressivos, Tiago passa a 
uma pergunta - Quem entre vós é sábio e entendido (gr. epistemon)? 
(13) “De acordo com Mayor, epistemon usa-se no grego clássico para 
indicar pessoa perita ou cientista, em oposição ao que não tem 
conhecimentos especiais ou adestramento» (Century Bible). A pergunta 
faz-nos retroceder ao verso 1. Tiago ainda está tratando daqueles que 
desejavam ser mostres na Igreja. Para os tais, a sabedoria deve sempre 
ser uma qualificação indispensável. 
Tiago (Novo Comentário da Bíblia) 18 
Há uma distinção entre conhecimento e sabedoria. O sábio é aquele 
que tem fé, é submisso a Deus e ensinado por Ele. É possível alguém 
conhecer muita coisa e ter pouca sabedoria. É necessário que um mestre 
possua as duas coisas. Se somos ou não capazes de perceber notável 
diferença entre sábio e dotado de conhecimentos, isto é de pouca 
importância. O ponto prático que Tiago quer sublinhar é que todo aquele 
que se arroga uma superioridade que lhe dá direito de ensinar os outros, 
esse deve provar do modo prático e modestamente tal superioridade, por 
meio de seu bom procedimento entre seus companheiros cristãos. «A 
sabedoria tanto nos ensina fazer como falar» (Sêneca). A expressão 
condigno proceder (13) significa uma vida que manifesta verdadeira 
bondade. 
 Há entretanto uma sabedoria falsa ou espúria, simulada, que 
produz inveja e rivalidades. Onde tais sentimentos existem, não há lugar 
para ninguém se gloriar sobre outrem, baseado em privilégios superiores 
(14). Vê-se a falsidade de tal pretensão nos motejos amargos que tais 
pessoas proferem contra os que diferem das opiniões deles. Tal espécie 
de sabedoria não é dom divino, recebido nos termos de 1.5-8. 
É terrena (cf. “a sabedoria do mundo”, 1Co 1.20), inteiramente 
falha de iluminação espiritual. É natural ou animal. O grego é 
psychikos, termo que descrevo o homem em Adão (isto é, «natural»), 
em contraste com pneumatikos, “espiritual”. Daí limitar-se tal sabedoria 
à vida meramente física ou animal, sem relação com o divino. 
É demoníaca, isto é, de origem satânica, procedendo dos 
demônios, ou com eles se assemelhando. Sua fonte é a mesma que põe 
em chamas a carreira da existência humana (ver o verso 6). 
“Onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão” (16); gr. 
akatastasia, isto é, desordem, distúrbio, tumulto; daí vem, como aqui, 
revolução ou anarquia. 
 Em vivo contraste com essa falsa sabedoria está a verdadeira. 
Quanto à sua origem, é lá do alto (cf. verso 15). Sua natureza não é 
terrena, sensual, demoníaca; antes é sobrenatural tanto na origem como 
Tiago (Novo Comentário da Bíblia) 19 
em sua natureza e suas conseqüências. Sua excelência é sétupla: pura 
pacífica, meiga, conciliadora, misericordiosa, de bons frutos, simples e 
sincera (cf. Gl 5.22 e segs.; 2Pe 1.5-9). Tiago dirige a atenção para as 
características íntimas da pessoa sábia, visto como que é íntimo é de 
primeira importância Pura quer dizer livre de mancha ou contaminação 
seja qual for. Quem no seu íntimo não é moralmente puro não começou 
ainda a ser sábio. 
Pacífica, isto é, não dada a conflitos ou dissensões. Não pode haver 
paz real sem pureza ou retidão. Meiga, tratável, “docemente razoável”, 
gentil. Gentileza aí não é tanto ternura ou meiguice, como é 
imparcialidade, contrastando com imoderação, exorbitância. “A 
mansidão de Cristo” é o padrão do crente, que o leva a submeter 
interesses pessoais a finalidades mais elevadas. 
Indulgente, isto é, fácil de se persuadir; conciliatória, pronta a ser 
dirigida (gr. eupeithes, pronta a obedecer; donde complacente). 
Plena de misericórdia e de bons frutos, isto é, sempre disposta a 
tomar a iniciativa de mostrar compaixão e oferecer perdão; produzindo 
bons frutos (obras); porque uma língua governada pela graça divina pode 
tornar-se forte influência para o bem. 
Sem parcialidade, isto é, não dada a contendas ou disputas acerca 
de honrarias. Sem hipocrisia, isto é, sincera, sem pretender ser o que 
não é, dizendo só aquilo em que se possa confiar (Moff. “retilíneo, sem 
rodeios”). 
Ora, é em paz que se semeia o fruto da justiça, para os que 
promovem a paz (18). Quem possui sabedoria semeia a boa semente 
que produz justiça, retidão. Semeia em paz, porque é pacificador. “A 
messe da justiça é semeada em paz por aqueles que fazem a paz”. 
 
Tiago 4 
VII. FÉ E CONTENDAS - 4.1-17 
 
a) A origem das discórdias (4.1-6) 
Tiago (Novo Comentário da Bíblia) 20 
 A seção precedente encerra-se mencionando a paz e a justiça. Ao 
invés dessa paz, no entanto, as pessoas a quem Tiago escrevia tinham 
guerras e contendas (1). As contendas (gr. machoi, «lutas») referem-se, 
neste caso, a disputas acerca de doutrina. Suas alterações e controvérsias 
causavam desordem nas reuniões, originando-se tal situação, em última 
análise, de paixões (prazeres) que militavam nos membros deles (gr. 
strateuo «guerrear», stratos, exército acampado). As paixões 
acampavam nos membros, possuíam-nos e dirigiam-nos como se fora 
um exército de ocupação. Disputas nem sempre são causadas por 
circunstâncias exteriores; muitas vezes são o resultado de paixões 
íntimas. 
Cobiçais, e nada tendes (2). Cf. os pecados do Davi (ver 2Sm 11) 
e Acabe (1Rs 21.2-4). O desejo torna-se a paixão dominante da alma, 
mas o coração natural jamais se contenta ou satisfaz com nada que o 
mundo possa oferecer. Matais e invejais, e nada podeis obter (2). 
Todas as vossas lutas e contendas e todos os vossos esforços por 
satisfazer vossos desejos são de todo inúteis e acabam apenas infrutíferos 
e em insatisfação. A razão é Nada tendes, porque nada pedis (2). Não 
tendes feito de vossas necessidades o assunto de fervorosas orações. 
Deus tem abundantes provisões de Sua graça, disponíveis para os que 
pedem. Mas vós deixais de pedir e por isso não recebeis. E mesmo 
quando pedis, não recebeis porque o que vos leva a pedir são motivos 
errados (3). Vossas orações são egocêntricas, interessadas só com a 
satisfação dos vossos desejos, de modo que Deus, que é fiel, não pode 
conceder o que pedis. Não pedis bênçãos para os outros, nem mesmo 
para vós aqueles dons divinos que são maiores e melhores. Pedis 
somente para satisfazer os instintos inferiores de vossa natureza. Aí está 
a causa dessa agitação profana que produz confusão e luta. 
O termo cobiças (3) refere-se à satisfação do desejo de prazeres, no 
caso em foco o prazer de exercer poder sobre pessoas rivais, de humilhá-
las. A ARA tem simplesmente “prazeres” (gr. hedone a satisfação de 
desejos pecaminosos). 
Tiago (Novo Comentário da Bíblia) 21 
Adúlteros e adúlteras (4). Os melhores MSS trazem apenas “vós 
adúlteras”, como se Deus quisesse acusar-nos de ser iguais a esposas 
infiéis. Tiago retrata nestes termos impressionantes a infidelidade da 
alma para com Deus. Mundanismo é adultério espiritual. 
Mundo(4) é a ordem de coisas que nos cerca, ou esse espírito que 
em nós é cego para o valor e a realidade das coisas espirituais. O 
mundano é governado pelos desejos da carne, ou pelas maneiras e 
costumes que o cercam, e recusa reconhecer o direito que Deus tem de 
governar. É claro, então, que o procedimento do mundo e seus objetivos 
estão fundamentalmente em desacordo com o caráter de Deus e Sua 
vontade revelada com relação aos Seus filhos. Há duas amizades, a de 
Deus e a do mundo. São incompatíveis e irreconciliáveis, e temos 
portanto de escolher para nós uma das duas. Note-se no verso 4 a frase 
aquele que quiser.... No mundo espiritual a escolha que fizermos de 
amigos determinará quem será nosso inimigo. A pessoa que deseja ser 
amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus. «Andarão dois juntos, se 
não houver entre eles acordo?» (Am 3.3). 
 O verso 5 é algo obscuro. Westcott e outros, embora não 
dogmatizem, traduzem assim a primeira sentença, «Supondes que é em 
vão que a Escritura afirma ?» o consideram a segunda parte do versículo 
como uma declaração independente, e não o objeto direto do verbo 
«afirma». Se for aceito este arranjo, não havendo razão para não o ser, 
Tiago pergunta se podemos imaginar que tantas admoestações contra o 
mundanismo no verso 4 e através de toda a Escritura sejam frases vazias, 
sem sentido. A Escritura fala solenemente contra este mal e recusamos 
ouvir seus avisos em risco de nossas almas. 
 Quanto à segunda parte do versículo, variam as interpretações. O 
espírito que habita em nós é considerado por alguns como sendo o 
espírito do mal que, desde a queda, tem habitado e vem corrompendo o 
homem natural, e é a fonte de onde surge a inveja. Por outra parte, 
podemos aceitar a versão da ARA: “o Espírito que ele (Deus) fez habitar 
em nós anseia por nós com ciúme”. Neste caso a alusão é à obra graciosa 
Tiago (Novo Comentário da Bíblia) 22 
do Espírito Santo que é entristecido e agravado quando nos mostramos 
infiéis a Cristo e a Deus, que tão ricamente nos tem abençoado. Ele 
suspira por nós com um santo ciúme, desejando possuir-nos totalmente, 
visto como não pode satisfazer-se com o nosso coração dividido. Esta 
interpretação parece ser preferível à primeira. “O ciúme, embora 
ordinariamente considerado um mal, às vezes foi empregado para ilustrar 
a mais terna afeição (2Co 11.2; Gl 4.17-18)” (Cambridge Bible). 
 O espírito mundano deles tinha sido a causa fundamental de Deus 
negar-lhes o que pediram. Suplicaram e não receberam porque 
suplicaram mal, impropriamente. Ele porém nunca recusa Sua graça aos 
que pedem. Com efeito, pedir graça é recebê-la mais e mais (6). Em 
apoio de sua afirmação, Tiago cita Pv 3.34 (LXX); cf. 1Pe 5.5. O 
obstinado orgulho recusa entregar-se a Deus; sente-se suficiente em si 
mesmo para enfrentar a guerra moral, e não vê necessidade em se 
aproximar do trono da graça, como suplicante, confessando que os 
atrativos do mundo são muito fortes e que somente a graça divina pode 
neutralizá-los. 
Tal atitude não pode ter a aceitação de Deus. Pelo contrário, Deus 
resiste a ela. A palavra grega antitasso, originalmente um termo militar 
significando dispor em ordem de batalha, usa-se na voz média para 
significar dispor-se contra. Deus resiste, deixando que os malfeitores 
renitentes sigam sua carreira determinada, com eventual retribuição. No 
entanto, aos que são bastante humildes para reconhecê-Lo, sabendo que 
são fracos e inclinados ao mal, Deus Se debita em lhes dar livremente de 
Sua graça. 
 
b) Submissão a Deus (4.7-10) 
 Havendo contrastado o soberbo com o humilde, e a atitude divina 
em resistir a um e em conceder Sua graça ao outro, Tiago prossegue 
apresentando o permanente segredo da vitória na guerra contra o 
mundanismo e o pecado. Consiste ele em duas atividades, sujeição a 
Deus e resistência ao diabo (7). Nisto estão combinadas perfeitamente as 
Tiago (Novo Comentário da Bíblia) 23 
verdadeiras atividades da fé e das obras. Pela fé sujeitamo-nos a Deus 
numa entrega mais completa e mais profunda, e deixamos do combater 
contra Ele. No ato da sujeição preparamo-nos para o conflito com o 
maligno; e ao mesmo tempo nossos poderes de resistência se fortalecem 
o multiplicam. Veja-se também 1Pe 5.8-9. 
 Segue-se agora uma série de injunções práticas, que têm especial 
aplicação àqueles que procuram o caminho de Deus mais perfeitamente 
o que não mais combatem contra Ele. 
Devem chegar-se a Deus, e em fazê-lo, têm a certeza de que Deus 
Se chegará a eles (8). Deus nunca recusa ir ao encontro daqueles que 
sinceramente buscam Sua face. O caso aqui significa mais do que o 
aproximar-se de Deus pela oração. Quer dizer uma comunhão íntima, um 
andar com Ele, tal como no caso de Enoque. Contudo tal privilégio 
demanda adequada preparação. Daí, purificais as mãos... limpai o 
coração (8). A última injunção dirige-se principalmente aos que eram de 
ânimo dobre (veja-se 1.8), isto é, os que porfiavam por manter-se leais 
ao Senhor e ao mundo. Submetendo-se a Deus, Este devia ser tudo em 
todos (cf. também Sl 24.3-4). Mãos purificadas simbolizam nossas 
atividades; coração limpo representa a própria cidadela de nossa 
personalidade. 
 Vem depois um convite ao arrependimento: Afligi-vos, lamentai e 
chorai (9). A lembrança do comprometimento anterior com o mundo 
frisava a necessidade de profundo e verdadeiro arrependimento. O riso, a 
alegria impensada, egoística e voluptuosa do mundo, o divertimento dos 
insensatos, do que fala Pv 10.23, devem ceder lugar ao choro, e o 
semblante carregado (gr. katepheia, denotando o rosto deprimido, 
expressão de sofrimento) devo tomar o lugar do gozo. Cf. Lc 18.13. O 
verdadeiro penitente não se atreve “a levantar os olhos ao céu”. 
Ao seu redor não há nada erguido enquanto o perdão e a graça do 
Deus o não levantam e o põem de pé. (10). Quando nos humilhamos e 
diante dEle ficamos contritos, Ele Se deleita em nos abrir os tesouros de 
Sua graça. Uma prática que veio depois, a qual parece prenunciada aqui, 
Tiago (Novo Comentário da Bíblia) 24 
ora os pranteadores o penitentes se deitarem no chão e rolarem no pó. 
Somente depois de perdoados ora que se levantavam; sacudiam de si a 
poeira e se vestiam com melhores roupas. 
 
c) É verberada a difamação (4.11-12) 
 Falar mal dos outros, isto é, as pessoas atacarem-se umas às outras 
moralmente, é ofender a majestade da lei divina. O sentido geral do 
argumento é que falar contra um irmão é condená-lo, e condenar ou 
lavrar sentença é ato privativo dos juízos. Esse andar atrás de faltas 
alheias, ou essa difamação de irmãos implica que a lei é inadequada no 
seu julgamento. Além disso, a lei de Cristo proíbe julgar (Mt 7.1 e segs.) 
e, conseqüentemente, fazer isso é quebrar a lei. O Legislador é o único 
verdadeiro e último Juiz; Ele é o único que tem poder de salvar e fazer 
perecer (12). Quem é que se atreve a usurpar o ofício e a prerrogativa do 
Juiz supremo, julgando o seu próximo? A verdadeira humildade inculca 
uma recusa deliberada de se assumir uma atitude de juiz sobre os outros, 
impondo antes uma posição de estrita obediência à lei. 
 
d) Planejar sem consultar a Deus (4.13-17) 
 Volta-se Tiago a outra forma de dar combate a Deus, a saber, o 
mundanismo no sentido de fazer planos para o futuro sem levar Deus em 
conta. Os negociantes judeus iriam aos centros comerciais da época, isto 
é, Antioquia, Alexandria, Damasco, Corinto, etc., e em cada uma dessas 
praças de comércio gastar tempo considerável. Comprar, vender e 
lucrar (13) são atividades legítimas (13); tornam-se porém corrompidas 
e imorais se desempenhadas sem qualquer referência a Deus e à Sua 
vontade, e sem consideração à brevidade da vida (cf. Pv 27.1 e Lc 12.16-
21). 
Não sabeis o que sucederá amanhã (14). A vida é de todo em todo 
precária, e Deus não deixou ao alcance de nenhuma de Suas criaturas 
controlar o futuro por um momento que seja. Daí o absurdo de fazer 
cálculos à parte de Deus. Tiago não condena fazer planos para o futuro.Tiago (Novo Comentário da Bíblia) 25 
Nosso Senhor manda que sejamos prudentes e previdentes. O que ele 
condena é planejar sem consideração a Deus, acrescentando uma 
pergunta incisiva para ilustrar o ponto. 
Que é a vossa vida? (14). A própria pergunta é uma reprimenda, 
porém a resposta é dura e inflexível. A vida humana, na melhor das 
hipóteses, vista à luz da eternidade, é apenas como neblina, que aparece 
por instante e logo se dissipa. O apóstolo relaciona a vida do homem 
com uma vontade mais elevada que a sua, e procura corrigir a falsa 
maneira de encarar as atividades humanas, lembrando a seus leitores que 
a vontade de Deus, é suprema e que os planos deles, quanto ao futuro, 
devem levar o timbre Deo volente (se Deus quiser). Eles todavia têm 
cometido a falta de exultar na sua suposta auto-suficiência, 
vangloriando-se, com efeito, de que podem viver independentemente de 
Deus. 
O homem que vive mais seguro é o que menos confiança tem em si 
mesmo. A verdadeira sabedoria e a verdadeira humildade conservam 
Deus continuamente em vista. 
 
O argumento encerra-se com uma aplicação impressionante. Diz o 
apóstolo, praticamente, “Mostrei-vos o que é direito fazer; todo fracasso 
de vossa parte em realizá-lo é, portanto, pecado” (17; Moff.). O perigo 
está em que, embora concordando com a verdade abstrata da brevidade 
da vida e da incerteza quanto ao futuro, prossigam praticamente como 
antes, fazendo planos para o futuro sem consideração à vontade de Deus. 
Tal atitude é da própria essência do pecado. Este consiste não só em 
fazer o mal, mas em deixar de fazer o bem que se conhece. Se não 
agimos na inteira dependência de Deus, pecamos. «Pecado é qualquer 
falta de conformidade com a vontade de Deus». Quando Ele faz 
conhecida a Sua vontade, é de nossa responsabilidade agir em 
conformidade com ela. 
 
 
Tiago (Novo Comentário da Bíblia) 26 
Tiago 5 
VIII. RIQUEZAS CORROMPIDAS - 5.1-6 
 
 Esta seção apresenta uma severa denúncia contra os ricos que têm 
granjeado prosperidade mediante opressão. Os tais são condenados, não 
por serem ricos, mas porque suas riquezas foram mal adquiridas, 
permanecendo sobre elas as marcas da corrupção. Tiago concita-os a 
chorar e a lamentar por causa das desventuras que lhes sobrevirão. 
Os orientais são muito efusivos na expressão de suas mágoas. Ouro, 
prata e vestuários (cf. Mt 6.19; At 20.33) eram os principais artigos de 
que se compunha a riqueza no Oriente. 
Corruptas... comidas de traça.... enferrujadas (2-3). Emprega-se 
ai o perfeito profético, em que se fala do futuro como se já tivesse 
ocorrido. «O destino inevitável da riqueza deles é referido como se já se 
tivesse realizado» (Century Bible). Apesar de todas as evidências 
externas de prosperidade e de brilhante sucesso, as vestes deles, aos 
olhos divinos, estavam comidas de traça; sua prata e seu ouro, em que 
confiavam, estavam corroídos; o seu deslustre testemunhava contra eles. 
Se estas palavras tiveram ou não seu cumprimento imediato nas 
desgraças que precederam a destruição de Jerusalém, permanece o 
princípio geral de que enfrentarão, um dia, inevitável retribuição os que 
parecem viver confiados em riquezas apodrecidas. 
 A principal oposição aos cristãos, naquela época, partia dos ricos. 
Vejam-se as notas sobre 2.1-7. Aqui o apóstolo passa a especificar outras 
razões de queixa e mostra como as riquezas deles se têm corrompido. 
Não somente cerravam suas entranhas de compaixão pelos pobres, mas 
os salários justos e legais, devidos aos trabalhadores que ceifavam seus 
campos, esses eram retidos por eles (4; cf. Lv 19.13; Dt 24.15; Jr 22.13; 
Ml 3.5). Pintando assim o quadro da luta entre o capital e o trabalho, 
Tiago não hesita em acusar de fraude os opressores. 
E embora os gritos e apelos dos oprimidos encontrassem ouvidos 
moucos da parte dos opressores, penetravam nos ouvidos do Senhor 
Tiago (Novo Comentário da Bíblia) 27 
dos exércitos (4). “Jeová Sabaote”, Senhor das hostes, ou dos Exércitos 
é um freqüente designativo de Deus no Velho Testamento, e significa 
Sua onipotência pela qual governa o mundo, defende o Seu povo e 
castiga os ímpios. Ele não é um espectador indiferente (cf. Êx 3.7-10). 
Procedendo daquele modo, os ricos só faziam acumular tesouros para 
os últimos dias (3). Tiago sente em sua alma o iminente juízo a desabar 
sobre a Santa Cidade, quando os judeus mais ricos foram despojados de 
tudo, seguindo-se um reinado de terror, que prevaleceu onde quer que se 
achassem judeus. Todavia o caso sugere também que tais condições, aí 
descritas, prevalecerão grandemente ao chegar ao fim a presente 
dispensação. 
 Ainda outra acusação lhes faz o apóstolo, qual seja a de viverem 
regaladamente, enquanto socialmente são cruéis. Tendes engordado os 
vossos corações, como em dia de matança (5). Tão absortos têm estado 
nos seus queridos regalos que se têm engordado, por assim dizer, 
inconscientes de sua própria condenação, como animais que Se cevam 
para o matadouro. Simplesmente acumulam dinheiro para os 
saqueadores levarem, tornando-se para estes uma presa mais rica devido 
ao tesouro amontoado. Isto porém não é tudo. 
Procedendo assim, têm condenado e matado o justo (6). Os 
pobres, a gente piedosa estava à mercê deles, e sem misericórdia era 
tratada. Tinham de viver de suas rendas magras; quem quer que destas os 
privasse era por Deus considerado assassino. «Mata a seu próximo quem 
o priva de seu meio de vida, e quem defrauda o assalariado de seu salário 
é um homicida». Os pobres nenhum meio tinham de remediar a situação, 
pelo que se sujeitavam a tais sofrimentos sem murmurar. O desamparo 
das vítimas agravava a culpa dos opressores. 
 
IX. RECOMENDA-SE PACIÊNCIA 5.7-12 
 
 Pondo de parte os opressores e voltando-se para os oprimidos, o 
apóstolo faz um apelo cordial para que estes sejam pacientes até a vinda 
Tiago (Novo Comentário da Bíblia) 28 
do Senhor (7). Deseja que a esta bendita esperança eles se apeguem. 
Será o tempo em que todas as injustiças serão corrigidas e toda opressão 
acabará. Os que padecem, devem aguardar esse dia, e nessa espera 
devem ser longânimos até para com os que os oprimem. Reforça este 
conselho à paciência com ilustração e doutrina. Devem nisso olhar o 
futuro. 
O lavrador aguarda com paciência (7). O agricultor lavra a terra, 
semeia a semente e através de todas as vicissitudes de clima, espera 
pacientemente a safra. As primeiras e as últimas chuvas (7), na Terra 
Santa, eram de importância decisiva para o lavrador, porque, Se 
faltassem ou se se atrasassem, a fome seria inevitável. Assim, os cristãos 
devem exercer paciência, fortalecendo e firmando seus corações com a 
convicção de que a vinda do Senhor está próxima (8). O fato de Se 
fazer referência clara e explícita, neste primitivo documento, à “bem-
aventurada esperança” da Igreja, invalida o argumento de que foi uma 
idéia que os cristãos esposaram em época posterior, com o 
desenvolvimento da doutrina. Pelo contrário, foi essa uma crença 
mantida e alimentada desde o dia da ascensão, quando os anjos 
asseguraram aos discípulos que, perplexos, olhavam para o céu, “este 
Jesus... assim virá do modo como o vistes subir” (At 1.11). 
 Um resultado prático dessa espera paciente será o 
desenvolvimento de um espírito de boa disposição e o livramento do 
pecado da murmuração, tanto quanto do espírito irritável e dado às 
críticas. Tal espírito provoca e merece castigo divino. Tiago está atento 
ao fato de que o juízo de Deus pede severas contas do comportamento 
dos crentes, tanto quanto dos opressores deles. Demais disto, por que 
haverão de ser mal-humorados, irritáveis, rabugentos, se o juiz está às 
portas (9), pronto para julgar os opressores e socorrer os oprimidos? 
Como exemplo dos que tiveram de enfrentar sozinhos e sofrer o mal, o 
apóstolo lembra os profetas, que falaram em nome do Senhor. Refere-
se, sem dúvida, principalmente aos profetas do Velho Testamento, todos 
os quais, quase sem exceção, sofreram perseguição. Mas osprofetas na 
Tiago (Novo Comentário da Bíblia) 29 
Igreja Cristã, de igual modo, tais como Paulo, Estêvão e Tiago, 
expuseram-se às mesmas provações dos seus predecessores. «Eis que 
temos por felizes aos que perseveraram firmes» (11; cf. Mt 5.11). 
 De uma alusão geral aos profetas, dados como exemplo de aflição 
e paciência, Tiago passa ao caso particular de Jó. A paciência deste 
interpreta-se à luz do propósito do Senhor. Foi mais do que uma 
resistência corajosa no sofrimento e ruína. Foi paciência que teve de ser 
exercida com relação aos três amigos que insistiam em afirmar que os 
infortúnios de Jó eram resultado de pecado secreto. A jubilosa conclusão 
a que esse patriarca chegou foi que o Senhor é cheio de terna 
misericórdia (11). Opresso além da medida, pôde dizer “Ele sabe o meu 
caminho; prove-me e sairei como o ouro” (Jó 23.10). Foi isto certamente 
uma vitória da fé. 
 Excitados e sob irritação (cf. verso 9), estavam sempre tentados a 
perder o domínio da língua, pecado este contra o qual Tiago já escreveu 
claramente. Daí a exortação prática do verso 12. Deviam contentar-se em 
falar com simplicidade e verdade, abstendo-se de emitir juramentos, 
fosse em nome do céu, fosse no da terra. Deviam ser tão verazes e 
corretos que uma palavra simples fosse bastante para ser acreditada. 
 
X. FÉ E ORAÇÃO 5.13-20 
 
 Este parágrafo final da epístola contêm uma de suas notas 
características. Desde o princípio Tiago vem insistindo na necessidade 
de orar e no valor da oração. Nenhuma filosofia de oração tem para 
oferecer, mas ele próprio cultivava o hábito de orar. Uma tradição a seu 
respeito diz terem-se calejado os seus joelhos, ficando como os de 
camelo, devido ao hábito constante de orar. Por conseguinte, seu 
conselho aos que sofrem é que orem, pois daí vem auxílio e conforto. 
Quanto aos que sentem alegria, aconselha-lhes que cantem louvores. A 
palavra alegre é no grego euthymeo (formada de eu, “bem”, e thymos, 
«alma»), que significa forte sentimento, seja de emoção ou paixão. Se 
Tiago (Novo Comentário da Bíblia) 30 
alguém se sente assim, lembre-se de Deus em sua alegria e cante 
louvores. Oração e louvor devem ser os centros ao redor dos quais a vida 
se movimente. 
 Nos versos 14-15 o apóstolo trata da função da oração ao lado do 
leito dos enfermos; estes versos têm dado lugar a muita controvérsia. A 
orientação que Tiago apresenta é importante, visto sua relação com a 
vida da Igreja Cristã. Entre os seus membros deve haver a amizade mais 
íntima possível e simpatia. Os presbíteros devem estar prontos para em 
todo o tempo servir a qualquer membro da igreja com oração, simpatia e 
conselho espiritual. Devem ser homens que possam elevar a Deus 
oração de fé, e que atendam chamados para visitar doentes e aflitos. 
Vem declarado como devem os presbíteros proceder na presença de 
enfermos. Devem orar sobre estes, ungindo-os com óleo em nome do 
Senhor (14). Aqui não há lugar algum para o rito romanista da extrema 
unção, o qual é administrado apenas aos moribundos. Os doze apóstolos, 
ao serem enviados, “curavam numerosos enfermos, ungindo-os com 
óleo” (Mc 6.13). Parece ser este o outro único exemplo, no Novo 
Testamento, do emprego desse método. O óleo em si podia ter 
qualidades terapêuticas, e Deus podia abençoar os meios empregados 
com relação aos enfermos. Todavia Tiago diz que a oração da fé 
salvará o enfermo, e o Senhor o levantará. Nada indica que Tiago 
proibisse o uso de meios. O fato de Deus poder curar e algumas vezes 
cura mesmo sem o emprego de meios, não nos deve levar a pensar que 
recorrer à medicina é desonrá-Lo. O descrente usa a medicina sem 
oração; o crente pode usar a oração com a medicina, contudo ambos, 
afinal, dependerão de Deus. Se houver cometido pecados, ser-lhe-ão 
perdoados (15). A causa fundamental das enfermidades e sofrimentos é 
o pecado; Tiago aí parece sugerir que a doença faz parte do castigo 
divino pelos pecados cometidos. O fato de serem chamados os anciãos 
(gr. presbyteroi), os quais, sendo despertados e aparelhados pelo 
Espírito Santo, tendo eles, conforme o indica o nome, maturidade 
espiritual, eram designados a exercer cuidado espiritual e a supervisão da 
Tiago (Novo Comentário da Bíblia) 31 
Igreja ao lado dos bispos ou supervisores (gr. episkopoi), implicaria em 
Si mesmo, até certo ponto, um reconhecimento de fracasso. 
 Passa agora Tiago ao assunto das orações de uns pelos outros. 
Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos 
outros, para serdes curados (16). Nenhuma justificativa há aqui da 
prática viciosa da confissão auricular. A orientação aí se refere ao que foi 
dito antes. Quando os anciãos ungiam o doente, este provavelmente 
animava-se a confessar suas faltas a Deus em oração, a fim de que os 
circunstantes tivessem certeza do seu arrependimento, ou, talvez, para 
que tivessem alguma explicação das causas que deram lugar à 
enfermidade. Ou ainda, Tiago pode referir-se a pecados que têm 
ofendido ambas as partes e não a pecados que não têm relação com a 
vida de outrem. Neste caso a confissão seria o meio de procurar perdão 
mútuo, no espírito da recomendação de nosso Senhor em Mt 5.23-24. 
Confissão indiscriminada não é coisa que se deva fomentar: é tal como 
semear germes de doença no espírito e na vida dos outros. A maior coisa 
que podemos fazer pelo próximo está declarada nas palavras, orai uns 
pelos outros (16). «O escritor insiste no hábito da oração intercessória, 
para que, quando vier a doença, a cura se realize mais rapidamente, na 
ausência de impedimentos espirituais ao exercício dos poderes 
sobrenaturais, agindo por meios naturais» (Cambridge Bible). 
 Ilustrando a oração eficaz, Tiago se volta para o Velho 
Testamento. Lembra a seus leitores que Elias era homem semelhante a 
nós, sujeito aos mesmos sentimentos (17), e no entanto orou 
fervorosamente, primeiro para que não chovesse, e depois para que 
chovesse, sendo respondidas as duas orações (1Rs 17-18). Elias soube 
usar o instrumento poderoso da oração eficaz. Pela oração ele se tornou o 
que foi, e exerceu o poder que manifestou. Muito pode, por sua 
eficácia, a súplica do justo (16); «a súplica do justo pode muito em seus 
efeitos», isto é, opera com tanta eficácia que dá lugar a grandes e 
benditos resultados. O homem que ora deve ser justo, isto é, deve estar 
em relações justas com Deus e o próximo. As palavras fervorosa e 
Tiago (Novo Comentário da Bíblia) 32 
eficaz empregam-se para traduzir o vocábulo grego energoumene. 
Energeo significa operar com eficácia, e aqui nenhuma referência tem à 
energia da oração. Para o justo a oração é dinâmica: é proveitosa, induz e 
persuade. 
 A epístola termina abruptamente, não com uma palavra de 
despedida, mas com uma exortação. Se algum entre vós se desviar da 
verdade (19), isto é, da fé e obediência à verdade, é dever e privilégio do 
cristão procurar restaurá-lo. 
Quem o fizer, compreenda que aquele que converte o pecador do 
seu caminho errado, salvará da morte a alma dele, e cobrirá 
multidão de pecados (20). Embora não especifique a maneira de 
realizar isso, todo o contexto dá a entender que o método particular, na 
mente do escritor, de restaurar o pecador é o da oração. Pela oração 
restaura-se o que erra, as almas se salvam da morte e se purificam do 
pecado. Quem se desvia de Cristo está em perigo de morte. Tiago queria 
que tais pessoas fossem trazidas de volta ao verdadeiro convívio de 
Cristo e à experiência do Seu perdão. «Aquele que recupera o que se 
extraviou da verdade, recupera a alma tanto quanto a pessoa, e cobre 
com o véu do amor uma multidão de pecados» (Williams, Students' 
Commentary). A fé operosa evidencia-se, não somente por uma vida 
devotada ao Senhor, como também se interessando pelo bem dos outros, 
particularmente pelos irmãos em Cristo. 
 
 Andrew McNab 
 
 
 
 
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