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SOFONIAS VOLTAR Introdução Plano do livro Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 INTRODUÇÃO I. AUTOR E DATA O livro de Sofonias é o nono na coleção da literatura profética dos hebreus. Em muitos particulares é um dos típicos "profetas menores", mas assinala "a primeira coloração de profecia com apocalipse". Sofonias era homem realista, sóbrio e controlado, ainda que não lhe faltassem poderes impressionantes de imaginação e poderosas e realísticas figuras de linguagem. É certo que ele era jovem quando escreveu sua profecia, mui provavelmente com não mais de vinte e nove anos de idade, quando começou a profetizar. Foi contemporâneo de Jeremias entre os profetas, e do bom rei Josias, de Judá. Alguns eruditos (por exemplo, Kirkpatrick, Doctrine of the Prophets, pág. 237 e segs.) comprazem-se em dizer que Naum também foi contemporâneo de Sofonias e que Sofonias surgiu perto do fim do ministério daquele, o qual, naturalmente, dizia respeito exclusivamente à cidade de Nínive. Mas, não podemos concordar com tido isso, pois, argumenta-se, a destruição de Nínive não teve lugar senão em 612 A. C. e Naum deve ser considerado como profeta mais próximo desse acontecimento do que do período coberto por 640-621 A. C., que foi a época em que Sofonias deve ter aparecido. (Ver anotação, quanto a isso, na obra de Ellison, Men Spoke from God, pág. 70). O aparecimento de Jeremias parece ter sido imediatamente depois das primeiras profecias de Sofonias. Há aqueles que asseveram que eram os dois profetas praticamente da mesma idade, porém, não existe prova Sofonias (Comentário da Bíblia) 2 sobre qualquer combinação íntima entre os dois. Efetivamente, em certos pontos, Jeremias percebeu a fraqueza e o perigo do reavivamento generalizado e súbito de Sofonias. Indubitavelmente Jeremias se regozijou com as reformas provocadas pela pregação de Sofonias, realizada por Josias; mas parece que Jeremias podia ver além – talvez por já ter vivido mais que o outro profeta – e que considera uma parte da reforma como mera formalidade externa, um gesto próprio de um movimento popular, e não uma purificação sincera e espiritual, dotada de qualidade de permanência. Sofonias foi o primeiro profeta no período de duas gerações. Provavelmente já se tinham passado setenta anos desde que tinham sido ouvidas as vozes dos profetas do período da ascendência dos assírios – Isaías e Miquéias. A sorte que coube a Samaria, em 712 A. C., servia de solene memória sobre o poder, a majestade e a retidão de Deus. É possível que os cinqüenta anos anteriores ao reinado de Josias se tenham caracterizado por uma nova queda na degeneração e na esterilidade, na história de Judá. Seja como for, o vigor e o zelo da juventude de Sofonias eram qualidades necessárias em vista da situação que prevalecia, e são qualidades facilmente discerníveis em seu livro. A franqueza e o tom imperdoável dos pronunciamentos de julgamento são qualidades típicas de um homem jovem que possui fortes convicções e manifesta um grau incomum de sensibilidade moral e dedicação. O zelo reformador do jovem rei Josias (639-609 A. C.) tinha paralelo apropriado na fervorosa pregação do novo jovem profeta. Ambos "vieram ao reino para um tempo tal como aquele" e a juventude de ambos e os anos difíceis que os moldaram prepararam-nos bem para desempenhar um digno papel naquela nova era. O dr. George Adam Smith sugere que o nome de Sofonias, que significa "Jeová tem guardado (ou ocultado)", pode indicar que seu nascimento teve lugar durante o tempo da matança efetuada por Manassés. (The Book of the Twelve Prophets, Vol. 2, pág. 47). Sofonias (Comentário da Bíblia) 3 De qualquer modo, o que é certo é que quando, na providência de Deus, Sofonias se apresentou no palco dos acontecimentos de Judá, ele marcou o início do uma nova linha de profetas que deveria incluir Jeremias, Habacuque, Obadias e Ezequiel (além de Naum, se for aceita a data posterior para sua profecia), todos os quais procuraram salvar Judá da sorte que já tinha envolvido o reino do norte. Por conseguinte, é possível dizer com certeza que o corpo principal do livro deve ser associado com a reforma ligada com Josias, que teve lugar em 621 A. C., e é razoável supor que a pregação de Sofonias foi uma das causas contribuintes dessa reforma. Portanto, podemos concluir que a data provável foi cerca de 627 A. C. II. CIRCUNSTÂNCIAS DE SUA ELOCUÇÃO Conforme já foi indicado, as circunstâncias dentro das quais Sofonias foi chamado a profetizar eram, a um e ao mesmo tempo, perigosas e promissoras. Durante o longo reinado de Manassés (696-642 A. C.), o perverso filho do bom rei Ezequias, o estado moral e religioso de Judá se tinha tristemente deteriorado (2Cr 33.1-11). Durante todo o seu reinado ele se tinha oposto ao reavivamento religioso que havia caracterizado o reinado de seu pai. Manassés edificou novamente os altares que seu pai havia derrubado e restaurou a aviltante adoração da natureza associada à adoração de Baal. Superstição, adoração das estrelas e até mesmo sacrifícios humanos, se tornaram parte de uma religião de formalidades e cerimônias externas privada de realidade interna e sem convicções espirituais ou éticas. (Ver Apêndice I a Reis, pág. 391, "A Religião de Israel no período da Monarquia"). É possível fotografar tudo isso como "o sinal de uma alma desesperadamente ansiosa a procurar, cegamente, como propiciar os misteriosos poderes divinos – a volta fanática à religião de seu avô" (I.S.B.E.), mas, quando muito não passava de um externalismo e de um Sofonias (Comentário da Bíblia) 4 sincretismo religioso que pagava muita deferência aos senhores assírios e, para os profetas, não passava de uma clara e precipitada iniqüidade. Aqueles que haviam tentado preservar a pureza da adoração a Jeová tinham sido recompensados por seus esforços, com a perseguição e até mesmo com a morte. "Manassés derramou muitíssimo sangue inocente, até que encheu a Jerusalém de um ao outro extremo" (2Rs 21.16). É verdade, naturalmente, que Manassés se arrependeu dessa atitude antes de sua morte e que "humilhou-se muito perante o Deus de seus pais" (2Cr 33.12). Também é evidente que as más tendências de seu reinado não haviam conquistado inteiramente o apoio do povo. Uma vez mais, havia um remanescente que não havia dobrado os joelhos; havia aqueles que desejavam e trabalhavam para a vinda de tempos melhores. Era esse fator que tornava aquele período ao mesmo tempo promissor e perigoso. Josias tornou-se rei de uma nação, dentre a qual muitos ansiavam por uma religião mais pura e estavam prontos tanto para ouvir Sofonias como para seguir o rei em seu zelo reformador. Também se deve fazer menção da invasão da Média e da Assíria pelos citas, em 632 A. C., que transformou seus campos frutíferos em um deserto, como se uma nuvem de gafanhotos tivesse passado por eles. "A guerra era sua principal atividade, e serviram de terrível flagelo para as nações da Ásia Ocidental. Romperam a barreira do Cáucaso em 632 A. C. e, avançando através da Mesopotâmia, pilharam a Síria e estavam prestes a invadir o Egito quando Psamético I os comprou com ricos presentes" (Porter, I. S. B. E., pág. 2.706). O relato dessa invasão, que é dado por Heródoto, no Livro IV de sua História, tem recebido alguma confirmação mediante pesquisas recentes sobre a questão e serve para explicar o decadente poder da Assíria, o que permitiu Josias levar a efeito suas reformas e deu à Babilônia a oportunidade de assumir a ascendência. Alguns eruditos, por outro lado, duvidam da exatidão do relato de Heródoto, em vista dos erros demonstráveis ali contidos e porque ele é nossa única fonte de autoridade para a história de que os citas chegaram tão ao sul e ao oeste a Sofonias (Comentário da Bíblia) 5 ponto de chegarem a fronteiraegípcia. Além disso, é argumentado que, visto que estamos a tratar de uma "linguagem escatológica tipicamente vaga, em que tudo é visto através de uma nuvem de poeira", os julgamentos aqui anunciados não podem referir-se àquela invasão. (Ver Ellison, Men Spoke from God, págs. 81, 68). Não é essencial, entretanto, supor que a invasão cita é aqui retratada, mas é razoável sustentar que, sabendo a respeito como com certeza sabia, Sofonias teria visto nela um quadro do que aconteceria se Judá persistisse em seu presente curso de rebelião contra o Senhor. Em realidade, a invasão cita parece não ter atingido Judá de forma alguma; seu opressor, afinal de contas, e o instrumento do julgamento de Deus, foi a Babilônia. III. A MENSAGEM DE SOFONIAS Sofonias era habitante de Jerusalém. Isso é óbvio em vista de certas referências a locais específicos da cidade, que só poderiam ter sido feitas por alguém que estivesse bem familiarizado com eles (cf. 1.4, "deste lugar"; ver também 1.10,11,12). Na cidade, o profeta observava a populaça, que se inclinava a viver mediante a força e a fraude entre si mesmos, mostrando-se idólatra e cética para com Deus. Suas primeiras profecias, por esse motivo, estão envolvidas numa melancolia sem alívio; o traço negro na face de Deus é mui claramente perceptível no quadro que temos em 1.1-3.8. Desse ponto em diante, todavia, soa uma nova nota – a esperança de salvação universal e a restauração final para Judá. A seção de 3.9-20 é tão diferente da que a antecede que alguns eruditos a separam do resto do livro; porém, não há razão pela qual isso deva ser feito. É verdade que o grande peso da pregação profética de Sofonias dizia respeito ao julgamento, súbito, iminente e desastroso, contra Judá e as nações circunvizinhas. Contudo, freqüentemente descobrimos que aqueles que mais claramente discernem os julgamentos de Deus contra o Sofonias (Comentário da Bíblia) 6 mundo em geral, são aqueles que também vêem o arco-íris de Seu amor e misericórdia arqueados no horizonte do futuro. Sofonias, pois, apesar de ter predito os julgamentos que sobreviriam a Judá, viu-os como um expurgo necessário e essencial para que Judá se tornasse a nação bendita do Senhor e Sua criada perante o mundo inteiro. PLANO DO LIVRO I. PROFECIA GERAL SOBRE OS JULGAMENTOS DE DEUS – 1.1-2.3 a. O julgamento declarado (1.1-6) b. O julgamento definido (1.7-13) c. O julgamento descrito (1.14-18) d. O julgamento ainda poderia ser evitado (2.1-3) II. PROFECIA DETALHADA SOBRE OS JULGAMENTOS DE DEUS – 2.4-3.8 a. Filístia (2.4-7) b. Moabe e Amom (2.8-11) c. Egito (2.12) d. Assíria (2.13-15) e. Jerusalém (3.1-8) III. BÊNÇÃO PROMETIDA – 3.9-20 a. Ao remanescente de Judá (3.9-13) b. Ao inteiro Israel de Deus (3.14-20) Sofonias (Comentário da Bíblia) 7 COMENTÁRIO I. PROFECIA GERAL SOBRE OS JULGAMENTOS DE DEUS - 1.1-2.3 Sofonias 1 a) O julgamento declarado (1.1-6) O livro tem início com uma anotação biográfica mais ou menos usual, uma espécie de assinatura do autor (cf. Os 1.1; Zc 1.1; Am 1.1), embora aqui essa anotação seja um tanto longa e detalhada. G. A. Smith frisa que no Antigo Testamento não era comum recuar a genealogia de um homem para além de seu avô, exceto no caso de algum propósito especial, ou a fim de incluir algum ascendente famoso (The Book of the Twelve Prophets, Vol. 2, pág. 47). Se isso efetivamente aconteceu no caso da chamada de Sofonias, fica de pé o interessante problema se o Ezequias referido é o bom rei de Judá (2Rs 18; 2Cr 29) ou não. A despeito do fato que as palavras "rei de Judá" são omitidas após o seu nome, parece não haver dificuldade insuperável na questão, pois ele foi notavelmente grande e sua fama não necessitava de tal etiqueta para denotar quem era ele. Assim sendo, segue-se em primeiro lugar que Sofonias era homem jovem. Quatro gerações o separam de seu ilustre ancestral, pelo que a conclusão de G. A. Smith parece correta, "Em 627, Jeremias se chama de mera criança, e dificilmente Sofonias, já teria ultrapassado os vinte anos" (Jr 1.6-7). Segue-se, igualmente, que Sofonias era de sangue real e isso adiciona interesse à sua "condenação contra a casa real, por sua imitação das maneiras estrangeiras e pelos grandes erros praticados pelos seus dirigentes" (Cam. Bible, pág. 96). Uma alternativa para essa teoria que considera Sofonias um "príncipe real", é a apresentada por Sellin, segundo o qual Cusi (1), que significa "etíope" (isto é, egípcio), indicaria que o avô de Sofonias havia Sofonias (Comentário da Bíblia) 8 sido ardente partidário do Egito, durante os negros dias de Manassés e que havia dado esse nome a seu filho, um nome bastante estranho para um hebreu. Mas isso exigiria imediatamente explicação, em vista do fato que, em Dt 23.8, é dito que nenhum egípcio ou etíope podia ser admitido na comunidade judaica, a não ser que pudesse exibir uma pura ascendência judaica por pelo menos três gerações. A árvore genealógica de Sofonias, por conseguinte, recua por três gerações mais e é isso que justifica sua extensão incomum e não tanto qualquer dignidade real ligada ao nome de Ezequias, que teria sido chamado "rei de Judá", se o Ezequias aqui referido fosse aquela bem conhecida figura de um passado que para Sofonias não estava ainda distante. Nos dias de Josias... rei de Judá (1), pode, naturalmente, significar qualquer período entre 639 a 609 A. C., mas, a tonalidade de 1.2-3.8 é tal que sugere que essas profecias devem ter sido feitas antes da grande reforma de Josias, no décimo oitavo ano de seu reinado, isto é, em 621 A. C. (2Rs 22.3). Outros pontos de vista em conflito com esse têm sido sugeridos. Dois pontos típicos levantados se centralizam em duas referências. Primeiro, a frase resto de Baal (4) poderia subentender que a reforma já era passada há muito tempo; e segundo, os filhos do rei (8) são referidos como se já fossem homens adultos. Pode-se dizer, entretanto, que a primeira frase é um texto duvidoso (a Septuaginta diz: "os nomes de Baal") e que a última pode significar não mais que a família real em geral. Além disso, os vícios particulares e as práticas condenadas neste livro são exatamente aqueles que Josias extirpou. Pouca possibilidade de dúvida resta de que essa frase tem de ser situada dentro do período entre 630 e 621 A. C. O julgamento predito é lançado contra Judá e, especialmente, contra todos os habitantes de Jerusalém (4). Essa visitação, reputada no versículo 7 como o dia do Senhor, é exibida a destruir tudo "da face da terra" (2); gado, aves, peixes do mar e homens, são mencionados cada um por sua vez. Até mesmo os ídolos, que parece ser o sentido da palavra maksheloth que nesta e noutras versões é traduzida como Sofonias (Comentário da Bíblia) 9 "tropeços" (cf. Ez 14.3-4,7), não escaparão e os indivíduos iníquos que os adoram não serão poupados. Parece que o profeta considerava Jerusalém como a origem do desmedido mal e da idolatria daquele período. Quando Deus age em tais julgamentos, Ele começa pela casa de Deus. Todos os traços da adoração a Baal, o deus dos fenícios, dizia o Senhor, exterminarei (4). O último vestígio dessa idolatria (que parece ser o sentido em que devemos compreender as palavras resto de Baal) desapareceria e os quemaris (4; ver 2Rs 23.5), isto é, os sacerdotes de Baal que se vestiam de negro, juntamente com os sacerdotes infiéis de Jeová, seriam destruídos igualmente (4). Em adição aos sacerdotes falsos, seriam destruídos os adoradores falsos de todas as camadas sociais. Estes são descritos nos versículos 5 e 6. Primeiro, os que sobre os telhados se curvam ao exército do céu (5). Isso, indubitavelmente, era alguma superstição astrológica, que nunca é aludida pelos profetas enviados ao reino do norte, e que parece que devia seu poder em Jerusalém à influência da Assíria. Em seguida, aqueles que se inclinamjurando ao Senhor, e juram por Malcã (5); isto é, aqueles que procuravam amalgamar a legítima adoração a Jeová com os cultos pagãos dos povos vizinhos. Malcã significa "reis deles", e julga-se que se refira a Moloque, o deus fenício, cuja adoração, que incluía o atroz sacrifício de crianças (2Rs 23.10; Jr 8.31), podia ser encontrada em Judá, no tempo de Sofonias. Julga-se que tivesse origem cananéia (Dt 12.29-31; 18.9-14). Uma antiga tradição tenta associar Moloque com Milcom, o deus nacional de Amom; porém, pouco há capaz de substanciar essa idéia (H. D. B., 617, 627). Finalmente, aqueles que deixam de andar em seguimento do Senhor, e os que não buscam ao Senhor (6); isto é, aqueles que não se preocupam com Deus, e se mostram totalmente indiferentes. Cf. o versículo 12, "assentados sobre as suas fezes", e ver anotação ali. Sofonias (Comentário da Bíblia) 10 b) O julgamento definido (1.7-13) Quer aqueles falsos adoradores Lhe dessem atenção ou não, o Senhor Jeová viria no dia do Senhor (7). Ele santificou os seus convidados (7). Em sua soberania, Ele já havia santificado (consagrado) ou nomeado, aqueles que haveriam de destruir Israel. Sem dúvida alguma, nesta passagem, Sofonias tinha em vista alguma terrível visitação da providência de Deus, ou algum inimigo que se aproximava, tal como os citas. Porém, "esse fato não nos deve levar a supor que os profetas chamassem qualquer grande visitação de Deus pelo nome de "o dia do Senhor" (A. B. Davidson em Cam. Bible, pág. 113). G. A. Smith salienta que, para Sofonias, o dia do Senhor começa a assumir aquilo que chamamos de "sobrenatural". As cores severas ainda estavam entrelaçadas com guerra e cerco, ainda que mescladas com vagos e solenes terrores vindos de uma outra esfera, pela qual a história parece haver sido tragada... Em suma, para Sofonias o dia do Senhor tende a tornar-se o último Dia. Seu livro é "a primeira coloração de profecia com apocalipse" (The Twelve Prophets, Vol. 2, pág. 49). Por conseguinte, sua mensagem pode ter imediatamente em foco uma ameaça tal como a dos citas, que avançavam de suas fortalezas no norte para ameaçar a Assíria e o Egito; porém, claramente olha para além disso, contemplando os julgamentos do fim. Nos versículos anteriores, Sofonias já tinha indicado algumas das seções da comunidade de Jerusalém contra as quais cairia o julgamento. Agora ele incluía a ímpia aristocracia (8), que imitava os hábitos e modas dos estrangeiros. Vestidura estranha (8) é, lit., "vestidura estrangeira". Em segundo lugar, o profeta adverte os que eram culpados de violência e engano (9). Saltam sobre o umbral (9). Aqui temos uma referência aos sacerdotes de Dagom, que evitavam andar pelo umbral de seu templo, visto que o ídolo havia caído sobre o mesmo (1Sm 5.5). (Cam. Bible, pág. 115). Sofonias (Comentário da Bíblia) 11 Os versículos 11-13 são lançados contra aqueles que, em sua luxúria, mostravam-se independentes de Deus e de Suas reivindicações sobre eles. Esta passagem inteira revela quão intimamente familiarizado estava Sofonias com Jerusalém e seus principais logradouros públicos, como, por exemplo, a porta do peixe (10), a segunda parte (10; algumas versões dizem "o segundo quarto"), uma parte da cidade, ao norte, da qual direção o perigo mais tarde haveria de ameaçá-la, e Mactés (11), alguma "caverna" (conforme a palavra é traduzida em Jz 15.19), esta também no lado norte da cidade, onde seriam socados por seus adversários como num almofariz (cf. Pv 27.22). Seu uso de povo de Canaã (Kena'an), revela o quão acostumado estava com o costume que identificava "cananeu" com "negociante". Cf. Os 12.7 nota. Sem dúvida é nesse sentido que devemos entender aqui essa expressão. Todas essas classes seriam resolutamente buscadas para serem punidas. Nenhuma só escaparia quando Deus viesse esquadrinhar a Jerusalém com lanternas (12), para castigar aqueles que se haviam degenerado moral e espiritualmente e se tinham tornado um ditado para ócio e indiferença (cf. Jr 48.11-12). Assentados sobre as suas fezes (12; lit. "engrossados em suas fezes"). Essa frase é um quadro de vinho que foi deixado em repouso por longo tempo. O profeta a emprega a fim de descrever aqueles que, por falta de humilhadora disciplina da adoração a Deus, se tinham tornado "grosseiros" e insensíveis para com Jeová. Que revelação seria o julgamento vindouro para aqueles que pensam que Deus é moralmente indiferente e que Lhe dizem: O Senhor não faz bem nem faz mal (12); em outras palavras, "O Senhor nunca faz coisa alguma" (Moffatt). No versículo 13, a frase edificarão casas... era uma frase comum que significa que não desfrutariam do fruto de seus labores (Cam. Bible, pág. 117). Sofonias (Comentário da Bíblia) 12 c) O Julgamento descrito (1.14-18) Esta passagem descreve, com algum detalhe, o Dia do Senhor. Seria um dia de indignação, de angústia, de ânsia, de alvoroço, de desolação, de trevas, de escuridão, de nuvens, de densas trevas, de trombeta e de alarido (15-16). Não existe descrição mais vívida sobre o "dia do Senhor" do que esta. Indubitavelmente, tal como aquele "dia" falado por Amós, Oséias, Isaías, Miquéias e, de modo mais completo que todos os outros, por Joel, estas profecias foram parcialmente cumpridas nos julgamentos que caíram contra Judá e as nações circunvizinhas durante o sexto século A. C. Porém, deve ficar claro que essa aplicação da passagem não exaure sua significação. Não é necessário que acreditemos que as palavras de Sofonias foram literalmente cumpridas nos conseqüentes julgamentos que sobrevieram a Judá e às nações ao redor. De fato, não o foram, porque esperam o "dia" quando o julgamento universal será descarregado contra toda a perversidade, quando a ira de Deus derramar- se-á contra todos aqueles que não conhecem a Deus nem obedecem ao Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Aquele será um dia de ira e lamentações e tristezas para todos os iníquos; foi a versão da Vulgata sobre o versículo 15, Dies irae dies illa, que inspirou as palavras iniciais do bem conhecido hino medieval de Tomé de Celano (cerca de 1250 D. C.) que versa sobre o último juízo. A descrição que se segue aqui tem características comuns com as de outros profetas. Juntamente com a exibição física de nuvens e densas trevas (15); cf. Am 5.18,20; Is 13.10; Jl 3.15; com o senso de alarme (ou grito) (16); cf. Am 1.14; 2.2; os homens serão totalmente incapazes de escapar e seus tesouros amontoados não lhes servirão de coisa alguma (cf. Ez 7.19; Is 13.7) contra o fogo do seu zelo (18; cf. Na 1.2; Ez 36.5; 38.19) até que Ele faça uma destruição total. Sofonias (Comentário da Bíblia) 13 Sofonias 2 d) O julgamento ainda poderia ser evitado (2.1-3) Ó nação que não tens desejo (1). Aqui o profeta apela para Judá. Algumas versões traduzem: "ó nação que não tens vergonha". Outras: "Ó nação descarada" (G. A. Smith); "não desejável, indigna da graça ou favor de Deus" (Calvino). São convocados a se reunirem (em heb., qasnah, isto é, "juntar palha ou gravetos"). "Amontoai-vos e escondei- vos, antes que vos torneis como palha arrastada" (Moffatt). A tradução real do versículo primeiro é obscura, e Ellicott prefere ler simplesmente "Abaixa-te, etc.". Porém, se o texto exato é incerto, o sentido é claro. Trata-se de uma solene convocação para que a nação se penitencie, relembrando ao povo que a oportunidade para o arrependimento estava passando e que o "dia" estava se aproximando rapidamente deles como um tufão ameaçador. Poderiam buscar a Jeová humilhando-se e observando Seu justo julgamento, e assim, buscando-O em vista da desolação que deles se aproximava, ainda poderiam ser escondidos no dia da ira do Senhor (3). A invasão cita contra o sul e o ocidente de Canaã não incluiu Jerusalém em seu avanço; na providência de Deus os judeus foram escondidos dessa ameaça. Ora, quando Sofonias é impelido a predizer outrocataclismo, de natureza semelhante, mas que envolveria Jerusalém mais diretamente, não podia livrar-se das idéias que a invasão dos citas sugeriam; nem podia desfazer-se da crença que Deus, em Sua misericórdia, encontraria um caminho de escape, realmente não para todos, mas para os mansos (3), ou, melhor ainda, os humildes. Anaw, a palavra hebraica aqui empregada, é o vocábulo tão freqüentemente usado nos Salmos e pelos profetas para descrever os adoradores devotos a Jeová e traz consigo a sugestão de uma atitude para com Deus, e não de uma atitude para com os homens. O homem manso não é, necessariamente, o homem fraco, mas aquele que se inclina ou humilha Sofonias (Comentário da Bíblia) 14 debaixo da mão de Deus, em contraposição com os "orgulhosos" e os "praticantes do mal". Não há menção da misericórdia de Deus neste passo, é verdade. O evangelho de Sofonias parece severamente moral quando ordena ao povo que procure a retidão e a mansidão. Porém, não devemos entender que ele se tinha esquecido ou que compreendia diferentemente que é na misericórdia de Deus que começam nossas esperanças. II. PROFECIA DETALHADA SOBRE OS JULGAMENTOS DE DEUS - 2.4-3.8 Tem sido posta em dúvida a autenticidade de quase cada versículo desta passagem, por um ou outro crítico. O capítulo 1 foi escrito em medida elegíaca; aqui essa medida é partida e abandonada, nos versículos 8-12. Certas palavras, encontradas mais freqüentemente nos escritos pós-exílicos, ocorrem aqui e acolá, e certa diferença de tonalidade é considerada como sinal de mão de outro escritor. Todas essas objeções são inconclusivas e podem ser respondidas. Certas palavras, como por exemplo, o emprego de "manso" e "mansidão", como termos religiosos, indubitavelmente aparecem com maior freqüência nos salmos e profetas pós-exilícos, porém, isso não prova que não tenham podido ter sido usados no tempo de Sofonias (cf. Êx 10.3; Nm 12.3; Is 2.9; Mq 6.8). As objeções levantadas contra os versículos 8-15 são habilidosamente sumarizadas no artigo de F. C. Eiselen, na I.S.B.E., pág. 3.145. Afirmam alguns que Moabe e Amom (4-7) ficavam afastadas demais do caminho tomado pelos citas, ao longo da costa marítima. Em segundo lugar, dizem que nos versículos 8 e 10 fica pressuposta uma destruição de Jerusalém. Em terceiro lugar, a atitude do profeta para com Judá (9-10) é aparentemente diferente da que demonstra no capítulo 1. Finalmente, a qinah, ou métrica elegíaca é quebrada nos versículos 8-11, após haver predominado no restante da passagem. Sofonias (Comentário da Bíblia) 15 Contra essas objeções pode ser respondido com justiça que, se for mantido o ponto de vista que o profeta não está aqui predizendo a invasão dos citas, mas a alguma outra invasão subseqüente e semelhante a ela, algumas dessas dificuldades desaparecem imediatamente. Por exemplo, ficaria solucionada facilmente a primeira dificuldade, embora devamos relembrar também que o que o profeta está a anunciar no capítulo 1 é um julgamento universal do qual qualquer invasão, mesmo a dos citas, é apenas figurativa. A segunda objeção não parece inteiramente válida. No que diz respeito à terceira, deve-se observar que as promessas são feitas apenas para o resto da casa de Judá (7), o que está de conformidade com o julgamento anunciado no capítulo 1. A interrupção na medida elegíaca, nos versículos 8-11, pode indicar ou não uma imperfeição no texto. Ou então, pode ser explicada pelo fato que, na oratória dessa espécie, não se pode insistir sobre a consistência no uso de uma determinada métrica. A passagem inteira de 2.4-15 é uma série de profecias a respeito de certas nações circunvizinhas e de outras, como a Etiópia (12), que representam as terras distantes. A conjunção porque (4) liga-a com o julgamento de âmbito mundial proclamado no primeiro capítulo. a) Filístia (2.4-7) Segundo Heródoto (1.103-106), essa nação ficava no caminho dos invasores citas, que vieram do norte, porém, essa invasão não se espalhou muito fora da planície costeira. A profecia, entretanto, tem em mente uma área de terras maior que essa, como se pode verificar novamente nos versículos 8-11. Esta profecia prediz que essa região, rica em terras aráveis e em povos, seria reduzida, conforme se vê novamente nos versículos 8-11, a uma área privada de população e própria apenas para as ovelhas. Sofonias (Comentário da Bíblia) 16 Gaza será desamparada (4); no sentido de despovoada. Note-se o jogo de palavras aqui. No hebraico, o versículo 4a diz 'azzah 'azubhah, e o versículo 4b diz 'eqron te 'aqer. Asdode seria expulsa por um ataque de surpresa (se interpretarmos o meio-dia com o sentido de "quando menos esperar-se"), ou então por um golpe ousado e súbito que estaria terminado "por volta do meio dia". Os quereteus (5; cf. 2Sm 8.18) eram um clã de filisteus, que aparentemente ocupavam a costa marítima. "Diz-se que os filisteus vieram de Caftor (Am 9.7; Dt 2.23; Jr 47.4), que pode ser Creta" (Cam. Bible, pág. 122), e, em conseqüência, a Septuaginta traduz esse nome por "cretenses". Canaã, terra dos filisteus (5) seria destruída como os primitivos habitantes da terra (cf. Js 13.2-3), e a estreita faixa de terras costeiras tornar-se-ia um lugar com cabanas para os pastores, e currais para os rebanhos (6), que "à noite se deitariam nas casas de Asquelom, e pastariam ao lado de Ecrom (7; Moffatt). O emprego do termo "Canaã", como sinônimo da Filístia, não ocorre em nenhum outro lugar do Antigo Testamento, embora que, nas inscrições egípcias e no Antigo Testamento seja usado num sentido que cobre tanto essa como outras regiões baixas da Palestina. b) Moabe e Amom (2.8-11) A profecia denuncia a "grandiloqüente arrogância" de Moabe e Amom, e nada pode ser mais drástico e destrutivo do que o quadro de sua desolação, no versículo 9, a saber, o campo de urtigas e poços de sal (cf. Jz 9.45), e a assolação perpétua (cf. Os 9.6). O desaparecimento de Moabe e Amom teve lugar muito antes da vinda de Cristo, mas não se verificou senão muito depois do reinado de Josias e, talvez, do de Jeoaquim. O desaparecimento total da antiga glória de Moabe, de conformidade com esta profecia, tem freqüentemente sido comentado pelos modernos arqueólogos. Sofonias (Comentário da Bíblia) 17 c) Egito (2.12) O Egito é aqui chamado de Etiópia, segundo pensa G. A. Smith, em vista de sua longa sujeição a dinastias etíopes. Outros descobrem razão para isso na íntima conexão existente entre o Egito e a Etiópia como aliados em tempo de guerra (cf. Jr 46.2-9; Ez 30.5-9). Essa profecia foi cumprida quando Nabucodonosor conquistou o Egito, no trigésimo sétimo ano de seu reinado, em 586 A. C. d) A Assíria (2.13-15) A medida elegíaca (15) é reiniciada aqui, onde temos a predição sobre a completa destruição do império assírio, "o clímax e a fonte do paganismo". Isso sucedeu em 612 A. C. "Aconteceu 230 anos depois que Israel sentiu pela primeira vez o peso dos exércitos da Assíria. Aconteceu mais de cem anos depois que sua supremacia fora aceita por Judá. Agora o colosso havia começado a cambalear. Assim como ela havia ameaçado, agora estava sendo ameaçada. As ruínas com que ela havia pontilhado a Ásia ocidental, a tais ruínas ela seria reduzida em sua própria glória inexpugnável e antiga. Foi o fim de uma época" (G. A. Smith, The Twelve Prophets, Vol. 2, pág. 66). Ouriço (15). Esta versão acompanha a Septuaginta. Em heb. a palavra é qippodh, "porco-espinho". Smith observa que a melhor tradução aqui seria o nome de aves que naturalmente fariam ninhos nos capitéis, ou seja, a "galinhola-real". Aqueles que favorecem o "ouriço", como esta versão, dizem que tão grande seria a assolação que as colunas e seus capitéis jazeriam derrubados por terra; as janelas vazias ecoariam o cântico de pássaros e as glórias dos interiores das mansões de Nínive seriam desnudadas ao olhar curioso dos passantes e aosefeitos destruidores do vento e das condições atmosféricas. Sofonias (Comentário da Bíblia) 18 Moffatt traduz o versículo 14b como segue: "Corujas piam em suas janelas" (lendo aqui qom, "coruja", em lugar de qol, "voz") e "abutres em suas escadarias" (lendo aqui, em lugar de horebh, "desolação", a preferência da Septuaginta, 'orebh, "abutre"). E certo que nada parecia mais improvável do que isso, quando a profecia foi proferida; porém, sucedeu tal qual o profeta havia predito. A nação que governava o mundo foi reduzida a nada. O lugar que anteriormente havia sido o centro do orgulho e da glória se transformou em nada mais que "uns poucos montões e monumentos em um deserto, à vista dos quais o viajante balança a cabeça". Assim passageira é a glória terrena e incertas são as suas recompensas. A frase assobiará, e meneará a sua mão (15) expressa intenso desprezo e desdém. (Cf. Ez 27.36; Lm 2.15-16; Na 3.19). Sofonias 3 e) Jerusalém (3.1-8) A cidade é acusada de impureza e injustiça (1), a exibir desobediência e altivez para com os profetas (2a), e indiferença para com Deus e independência dEle (2b). Todos os seus líderes eram igualmente culpados, os príncipes de violência e crueldade, e os juízes de ganância e engano (3). A última porção deste versículo seria melhor traduzida como "nada deixam para a manhã seguinte". Os próprios profetas eram levianos e criaturas aleivosas, ou, melhor ainda, "fanfarrões e traidores" (G. A. Smith). "A figura expressa por "levianos" é o do borbulhar sobre a água que ferve (Gn 49.4; Jz 9.4) e a palavra caracteriza os profetas como blasonadores, extravagantes e arrogantes em suas próprias imaginações e presunções" (A. B. Davidson, Cam. Bible, pág. 129). Aleivosas é vocábulo que indubitavelmente inclui a idéia de deslealdade ou falsidade para com Deus. No livro de Provérbios é palavra freqüentemente empregada como paralelo para "iníquo" e Sofonias (Comentário da Bíblia) 19 transmite a idéia de alguém que age infielmente para com a lei moral. Isso faria com que a acusação do profeta envolvesse conduta imoral (cf. Jr 23.14; 29.23). Além disso, a cidade inteira se havia esquecido que o Senhor, que não pode praticar qualquer injustiça, estava em seu meio (5). "Manhã por manhã raia Sua justiça" (Moffatt). Quão insensata, pois, era Jerusalém no seu orgulho e arrogância quando Aquele que tem "surrado nações, arruinado suas trincheiras, esvaziado suas ruas até que ninguém mais ande por ali" e destruído suas cidades a ponto de não haver "uma alma que nelas habite" (6, Moffatt) estava pronto para cortar a santa cidade de outrora. Àquelas nações havia sido feito um apelo para que se humilhassem debaixo da poderosa mão de Deus e para que aceitassem Sua disciplina (7). Ele ter-se-ia mostrado gracioso para com elas, porém, não Lhe tinham dado ouvidos, e pereceram. Portanto, Sofonias apela, em nome de Deus, a Jerusalém, para que a cidade se volte para Ele (8), pois Ele certamente destruiria tudo quanto se levantasse contra Ele. Duas coisas são dignas de nota nesta passagem. Até este ponto não temos verificado a mesma aguda sensibilidade ética tal como Miquéias demonstra; tão somente temos visto algumas poucas referências indiretas aos pecados sociais (exemplo, 2.3). Aqui, porém, Sofonias mostra que tais pecados estavam longe de ser esquecidos. De fato, até parece que ele reservou tal acusação para o fim. Para Sofonias, como para os outros profetas, a injustiça social era o cúmulo da iniqüidade, o pecado supremo, a acusação irretorquível contra a corrupta adoração do povo a Deus. Em segundo lugar, há poucas dúvidas que "as cores apocalípticas" começam a aparecer aqui. Sofonias se elevava muito acima e muito além das iniqüidade de Judá e das nações, e até mesmo além dos acontecimentos de um futuro iminente, chegando até ao período e ao julgamento do fim. Sofonias (Comentário da Bíblia) 20 III. BÊNÇÃO PROMETIDA - 3.9-20 a) Ao remanescente de Judá (3.9-13) Estes versículos falam sobre um dia quando, em resultado dos juízos disciplinares de Deus, haverá conversão de âmbito mundial. Para Deus, o julgamento não é um fim em si mesmo. Ele não castiga gratuitamente. Seu juízo é sempre justo, e aqui vemos esse castigo realizar um propósito beneficente e remidor. Estes versículos se referem, primariamente, ao remanescente castigado e humilhado, um povo humilde e pobre (12), que sairia do cativeiro depois que sua cidade fosse destruída pelos caldeus. Porém, também pode ser percebida uma aplicação mais lata dessa passagem, pois, tal como no restante de seu livro, a visão do profeta, aqui, é de alcance mundial. O julgamento do dia da ira do Senhor cairá contra todos (2.4-15) e, semelhantemente, as bênçãos do Evangelho serão tão universais como o juízo (2.11; 3.9-10). O texto hebraico dos versículos 9 e 10 não é claro, e tem havido muita discussão em torno da sua admissibilidade após os versículos 1-8. Não obstante, é claro o sentido da passagem, a saber, que da Etiópia, que era considerada o fim do mundo, e de além, haveria aqueles para quem Deus daria lábios puros, pelo que todos, judeus e gentios (cf. Is 66.19-20), poderiam invocar o nome do Senhor através de nova e melhor aliança, e servi-Lo com um mesmo espírito (em heb., "com um ombro"). b) Ao inteiro Israel de Deus (3.14-20) Os versículos finais são de tonalidade tão diferente que alguns eruditos uniformemente sustentam que pertencem a dias posteriores, quando o remanescente já havia regressado do exílio para a sua própria terra. Mas, mesmo que assim tivesse sido, não seria inconsistente com a Sofonias (Comentário da Bíblia) 21 mais plena inspiração do livro considerado como um todo; mas, a possibilidade desses versículos serem a voz autêntica de Sofonias está longe de poder ser refutada. Indubitavelmente, o profeta está falando aqui com veia poética a respeito dos grandes dias futuros quando o Senhor seria Rei sobre Seu povo redimido (cf. Is 44.6), e quando não teriam mais tribulações. Mediante seu emprego do tempo perfeito "profético" (ver versículo 15), ele se projeta no futuro e descreve as coisas que ainda não eram realidade como se elas já tivessem acontecido. O Senhor estaria entre eles, um guerreiro para livrá-los (cf. Is 42.13), Alguém que se encheria de alegria por causa deles, renovando sempre Seu amor, e exultando com um cântico festivo (conforme diz Moffatt no versículo 17). Além disso, podemos conceber o profeta a olhar para a frente, através dos séculos, para um dia de bênção universal para o Israel de Deus. Essa magnificente nota profética também é ouvida nos últimos capítulos de Isaías, porém, no caso de Sofonias, não passa de uma visão mal divisada e apenas parcialmente compreendida. "Ele ainda não havia descoberto a visão suficientemente grande para seu cântico. Já tinha a melodia; mas ainda não havia descoberto seu tema, e a palavra profética teria de progredir até uma concepção mais vasta sobre a redenção, antes que pudesse elevar-se até sua antiga majestade" (Orchard, Oracles of God, pág. 123). J. T. Carson. SOFONIAS INTRODUÇÃO PLANO DO LIVRO COMENTÁRIO Sofonias 1 Sofonias 2 Sofonias 3
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