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UNIVERSIDADE TIRADENTES CURSO TECNOLÓGICO DE PETRÓLEO E GÁS GEOLOGIA DO PETRÓLEO NOTAS DE AULA Edição 2 Prof. Cláudio Borba Aracaju, 2009 2 Olá, Esta apostila reúne o conteúdo das aulas da disciplina Geologia do Petróleo , com carga horária total de 72 horas, e visa suprir a carência de livros textos em português, além de adaptar o tema para a realidade brasileira. O curso de geologia do petróleo é baseado na experiência de mais de 20 anos do autor, e tem uma abordagem predominantemente prática, como deve ser um curso de Tecnologia de Petróleo. Os exercícios propostos, desde a escolha de uma área para prospecção, passando pela interpretação sísmica, elaboração de prospectos, confecção de mapas, cálculo de volumes até a previsão de produção de um reservatório, permitem ao aluno ter ao final do curso uma visão integrada do processo de geologia de exploração e produção de petróleo. 3 1. Introdução Geologia é a ciência que estuda a estrutura, composição e história do planeta Terra. Lida com o espaço (desde a escala microscópica, exemplo: poros das rochas; até milhares de quilômetros, exemplo: bacias sedimentares) e com o tempo (em geral os fenômenos geológicos são da ordem de milhares a milhões de anos). As aplicações de geologia são inúmeras: prospecção de minérios e pedras preciosas, engenharia, meio ambiente, águas subterrâneas e exploração e produção de Petróleo. 1.1- Principais Ramos da Geologia A geologia é dividida em diversas áreas (ramos), que costumam constituir disciplinas de um curso de graduação em geologia. • Mineralogia -> estudo dos minerais • Petrologia -> estudo das rochas • Paleontologia -> estudo dos fósseis • Geofísica -> física da terra, pura e aplicada • Geologia Estrutural -> deformações das rochas • Geotectônica -> dinâmica da Terra na grande escala • Geoquímica -> química da terra, orgânica e inorgânica • Sedimentologia -> processos de deposição • Estratigrafia -> estudo das camadas e sua origem • Geologia Histórica -> história e evolução da Terra • Geologia Econômica -> depósitos minerais • Geologia Ambiental -> impacto ou potencial de impacto no meio ambiente • Geologia do Petróleo -> Aplicação dos conceitos geológicos na descoberta e gerenciamento de acumulações de petróleo Vários ramos da geologia apresentam aplicação direta na exploração e produção de petróleo: • Mineralogia -> Os minerais formam as rochas. • Petrologia -> Rochas são as geradoras e armazenadoras de petróleo • Paleontologia -> Utilizada na datação das rochas e na determinação do ambiente deposicional. • Geofísica -> Aplicação dos métodos indiretos de investigação, entre eles a símica, uma das principais ferramentas da indústria do petróleo. • Geologia Estrutural -> Identificação e entendimento de armadilhas (trapas) para acumulação de petróleo 4 • Geotectônica -> Identificação de bacias propícias para a geração e acumulação de petróleo. • Geoquímica -> Reconhecimento de rochas geradoras e tipos de petróleo. • Sedimentologia -> Reconhecimento do ambiente de deposição, importante para caracterizar os reservatórios e rochas geradoras. • Estratigrafia -> Reconhecimento de camadas promissoras, comparação entre diferentes áreas e bacias. • Geologia Histórica -> Identificação de épocas mais propícias para se encontrar petróleo. • Geologia Econômica -> Petróleo é um recurso mineral. • Geologia Ambiental -> Impacto da perfuração,produção, refino e distribuição no meio ambiente Portanto, a Geologia do Petróleo é a aplicação dos conhecimentos de geologia na exploração e produção de petróleo. Apresenta forte interação forte com Engenharia de Reservatórios, Geofísica, Avaliação de Formações e Economia do Petróleo 1.2 - O Processo Geologia do Petróleo A cadeia produtiva do petróleo começa nos estudos geológicos, com o objetivo de se descobrir uma acumulação petrolífera. Esta fase é chamada de EXPLORAÇÃO. Com uma acumulação descoberta, chamada de Campo de Petróleo, os projetos de produção nas descobertas de petróleo começam nos estudos geológicos. Esta etapa é chamada de CARACTERIZAÇÃO DE RESERVATÓRIOS, que utiliza fortemente o conhecimento da geologia. O acompanhamento da produção de um campo de petróleo igualmente requer conhecimento geológico, cada vez mais detalhado. É a etapa de GERENCIAMENTO DE RESERVATÓRIOS, que tem forte interação com a Engenharia de Reservatórios. 5 Figura 1.1 – Processo de Geologia de Petróleo A própria geologia do petróleo é dividida em áreas, que se tornam especialidades entre geólogos de petróleo. As principais são: • Petrologia e Diagênese -> estudo das rochas, dos poros e do cimento. • Paleontologia/Bioestratigrafia -> estudo dos fósseis, datações de camadas e ambientes. • Geofísica do Petróleo -> métodos sísmicos, magnetométricos e gravimétricos de prospecção. • Geologia Estrutural -> estudo das falhas e fraturas nas acumulações de petróleo, estudo dos campos de tensões. • Geoquímica -> subdividida em orgânica e inorgânica. Estuda a geração e alterações do óleo e a formação dos precipitados nos reservatórios, entre muitos outros. • Sedimentologia -> estuda os processos e produtos da deposição das rochas. • Estratigrafia -> Estuda a origem e relações enre as camadas. Construção de colunas estratigráficas, aplicação no zoneamento de reservatórios • Avaliação de Formações -> Técnicas de determinação qualitativa e quantitativa das propriedades das rochas e fluidos. Inclui a perfilagem e os testes de formação. • Modelagem Geológica -> Construção de modelos bidimensionais e tridimensionais de bacias e de campos de petróleo 6 1.3 – Onde está o petróleo A existência de petróleo necessita de uma bacia sedimentar , uma região topograficamente baixa onde são depositados os sedimentos provenientes da erosão das áreas mais elevadas, também chamadas de áreas- fonte. Nem toda bacia é petrolífera. Caso esta bacia contenha petróleo em quantidade comercial, os locais onde este ocorre é chamado de campo de petróleo . Um campo de petróleo pode conter um ou mais reservatórios de petróleo. Para extrairmos o petróleo dos reservatórios, utilizamos poços . Lembre-se: NÃO DESCOBRIMOS POÇOS DE PETRÓLEO. DESCOBRIMOS RESERVATÓRIOS. O poço é apenas uma obra de engenharia utilizada para a procura e extração do petróleo. Figura 1.2 – Conceitos importantes na geologia de petróleo: bacia, campo e reservatório 1.3 - Fontes de dados geológicos 7 Os principais dados utilizados em estudos geológicos visando a exploração e produção de petróleo são: • Imagens de satélite, fotografias aéreas • Métodos geofísicos: sísmica, gravimetria, magnetomeria • Poços: amostras de calha, testemunhos, perfis elétricos (perfilagem), testes de formação • Afloramentos: naturais, cortes de estrada, pedreiras, minas subterrâneas • Modelagens matemáticas 1.4. - Etapas da Exploração de Produção de Petróleo Campo de petróleo é um conjunto de acumulações contidas em uma área da bacia sedimentar. Pode conter um ou mais reservatórios de petróleo. Assim como uma bacia pode conter um ou mais campos de petróleo (ou nenhum). Um longo caminho é trilhado até que um campo de petróleo entre em produção. O processo pode levar vários anos, principalmente em áreas marítimas, onde a implantação da infraestrutura é complexa e onerosa, além dos licenciamentos ambientais serem mais demorados. As principais etapas do processo são listadas abaixo. 1.4.1 - Busca de Bacias Sedimentares candidata a te r petróleo Somente áreas onde existem rochas sedimentares ricas em matéria orgânica (rochas geradoras) e com capacidade de armazenamento (rochas reservatório) são propícias à existência de petróleo. Essas áreas são as Bacias Sedimentares.Portanto, pode-se descartar de imediato para a exploração de petróleo as áreas do planeta que não são bacias sedimentares. Mas não basta a existência de uma bacia sedimentar. A bacia sedimentar deve ter os seguintes requisitos básicos (itens que serão abordados com maior detalhe no capítulo referente aos Sistemas Petrolíferos): • -> rochas geradoras 8 • -> reservatórios • -> estruturas potenciais Figura 1.3 – Mapa Geológico da América do Sul, com a localização das principais bacias sedimentares. 1.4.2 - Leilão (BID) feito pela agência reguladora (ANP) Até 1994, a exploração e producao de petróleo no Brasil era monopólio estatal, exercido pela Petrobras. Com a nova lei do Petróleo, aprovada pelo Congresso Nacional em 1994, outras empresas passaram a atuar no setor, reguladas pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). Para isso, a ANP promove leilões de blocos exploratórios, com as seguintes características: - áreas (blocos exploratórios) são colocadas para licitação, os chamados BIDs (o último, em 2008, foi o BID-9). 9 - empresas dão lances, sozinhas ou em sociedade (parcerias). - os vencedores assumem compromisso de pesquisar a área (realização de levantamento sísmico e perfuração de poços). Figura 1.4 – Blocos exploratórios e de produção no Brasil (ANP 2002). 1.4.3 - Aquisição exploratória Adquirido o bloco exploratório, são inicialmente realizados levantamentos geofísicos (principalmente sísmica 2D e 3D), visando definir as áreas mais favoráveis para a perfuração de poços exploratórios. Tipos de Levantamento de dados: -> Levantamento geofísico: - Gravimetria/magnetometria - Sísmica 2D 10 - Sísmica 3D -> Levantamento geológico: - Poços anteriores perfurados na área - Trabalhos de campo 1.4.4 - Interpretação dos dados obtidos na aquisiçã o exploratória A partir do levantamento, processamento e interpretação sísmica, são gerados mapas que indicam as melhores posições para locação de poços. Esses mapas também fornecem estimativa do volume de petróleo da área. Dependendo desse volume, será ou não viável a perfuração de poços. As principais etapas da interpretação sísmica são: -> interpretação sísmica de horizontes (camadas) em tempo sísmico -> conversão dos horizontes para profundidade -> confecção de prospecto de poço exploratório -> análise econômica e de risco do projeto 1.4.5 - Perfuração do poço exploratório Somente com a perfuração é que são obtidos dados diretos, como a presença de reservatórios e de petróleo com viabilidade de produção comercial. A perfuração de poços consta das seguintes atividades: -> acompanhamento geológico do poço, durante a perfuração. -> perfilagem (avaliação de formação). -> decisão sobre abandono ou completação do poço. -> teste de formação (avaliação de formação). -> decisão perfuração de poços adicionais. 1.4.6 - Plano de Avaliação Realizada a descoberta pelo poço exploratório, a empresa deve fazer um plano de avaliação da área, devidamente aceito e aprovado pela ANP. No plano de avaliação são propostas ações como a perfuração de poços de extensão e a realização de testes de formação. O objetivo é obter uma estimativa das reservas de petróleo e se é viável transformar a concessão de exploração em uma concessão de produção. 11 1.4.7 - Declaração de Comercialidade => Campo de Pe tróleo Sendo favoráveis os resultados da avaliação exploratória, é feita junto à ANP a Declaração de Comercialidade. Nesta fase é determinado o ring fence (área de delimitação) da acumulação de petróleo, que passa a se chamar de Concessão de Produção ou Campo de Petróleo. A área do ring fence geralmente é menor do que a concessão exploratória original, cobrindo somente a projeção em superfície dos reservatórios encontrados (mais uma faixa de segurança). Campos de petróleo onshore (terrestres) descobertos após 1994 recebem o nome de pássaros da fauna brasileira, enquanto os campos offshore (marítimos) recebem o nome de animais da fauna marinha. 1.4.8 - Plano de Desenvolvimento Declarada e aceita a comercialidade, o campo de petróleo deve ter um plano de desenvolvimento submetido e aprovado à ANP. Neste plano, válido para o prazo de concessão de 25 anos, deve conter informações como: -> Perfuração de Poços de poços produtores e injetores -> Mapeamento dos reservatórios e cálculo de volumes -> Estimulações -> Previsão de Produção e Injeção -> Coleta, escoamento e medição -> Instalações 1.4.9 - Recuperação Suplementar A produção de petróleo em um campo é feita através de poços produtores. Com o tempo, o reservatório perde pressão e a produção naturalmente cai. É possível obter um ganho adicional de petróleo com a reposição da pressão do reservatório, feita com injeção de fluidos como água, gás ou vapor. Além de repressurizar os reservatórios, a injeção de fluidos visa deslocar (empurrar) o óleo em direção aos poços produtores. A injeção de água produzida também visa não descarta-la no meio ambiente. A injeção de fluidos visando a melhoria da recuperação, também chamada de recuperação suplementar, requer um conhecimento bastante 12 detalhado da geologia da área. Atualmente são confeccionados modelos virtuais 3D que auxiliam na compreensão dos reservatórios. 1.4.10 – Abandono O petróleo é um recurso finito, não renovável. Ao final da vida de um campo (exaustão), a área deve ser desativada, com a remoção das instalações e o arrasamento dos poços. Alguns reservatórios exauridos poderão servir para descarte de fluidos indesejáveis, como água produzida em campos vizinhos ou mesmo de CO2 produzido por indústrias. 13 Exercício I – A escolha de uma Bacia Sedimentar par a Exploração de Petróleo Sua empresa adquiriu em leilão um bloco exploratório. Com base nas coordenadas geográficas que limitam o bloco, localizar a posição do bloco (estado, situação onshore ou offshore e bacia sedimentar). Utilize para isso o mapa geológico do Brasil. Cada grupo de alunos (segundo a ordem alfabética) trabalhará com uma área limitada pelas coordenadas geográficas. Poderão trabalhar em grupo, mas o relatório será individual. • Localize (cordenadas geográficas) a área a ser estudada. Sugestão: GoogleEarth • Identifique em que bacia está localizada a área. Pesquise o tipo de bacia, se a bacia já produz petróleo, e, em caso positivo, em que campos de petróleo, e em quais reservatórios. • Descreva a proximidade de facilidades, refinarias, centros consumidores, rodovias. • Descreva as prováveis dificuldades de ordem logística e ambiental. • Faça um plano de trabalho resumido para a área, incluindo um plano de levantamento sísmico e de poços exploratórios a serem perfurados na área. Sugestão para local de pesquisa: • Livro GEOLOGIA, TECTÔNICA e RECURSOS MINERAIS DO BRASIL -CPRM), Capítulo X, pag. 541-576. Pode ser baixado de www.cprm.gov.br • Google (pesquisar pelo nome da bacia) • Atlas Geográfico 14 Figura 1.5 – Localização de uma área a partir de coordenadas geográficas. Nome Latitude Longitude Bacia Situação Estado Campos Produtores Reservatório Observações Exemplo 3o50´ / 4o00´ Sul 62o47´/ 62o57´Oeste Solimões Terra AM Rio Urucu Arenito Localização na floresta amazônica, Área sensível devido a floresta. Refinaria mais próxima em Manaus... Adrielle - Ariovaldo 10o32´ / 10o42´ Sul 36o49´/ 36o59´Oeste Bruna - Cristiano 11o04´ / 11o14´ Sul 36o21´/ 36o31´Oeste Duanny - Isabel 9o03´ / 9o13´ Sul 35o32´/ 35o42´Oeste Jayse - Julio 5o10´ / 5o20´ Sul 36o35´/ 36o45´Oeste Kelmer - Milena 5o00´ / 5o10´ Sul 36o20´/ 36o30´Oeste Pedro - Ronney 6o50´ / 7o00´ Sul 43o14´/ 43o24´Oeste Samanta - Soélio 22o50´ / 23o00´ Sul 41o20´/ 41o30´Oeste Verônica - Vinícius 18o34´ / 18o44´ Sul 38o50´/ 39o00´Oeste Walber - Zenon 26o20´ / 26o30´ Sul 47o30´/ 47o40´Oeste 15 2. RochasSedimentares e Ambientes de Deposição As rochas sedimentares são de longe as mais importantes na geologia do petróleo, pois são nessas rochas que o petróleo foi gerado e acumulado. As rochas sedimentares são formadas por sedimentos que se depositaram ao longo do tempo, passaram por soterramento e compactação e finalmente se tranformaram em rochas. Algumas rochas, por processos de erosão dos terrenos e soerguimentos, voltaram à superfície, e estão expostas nos afloramentos. As que permaneceram em profundidades somente são atingidas através de perfurações. São elas que podem conter acumulações de petróleo. Por serem produtos de deposição, costumam se apresentar em camadas. 2.1 - Etapas da Formação de Rochas Sedimentares • 1- Intemperismo -> é a alteração física e química de uma rocha pré- existente. Responsável pela formação dos solos • 2- Erosão -> é a remoção do solo e de rochas por agentes como a água e o vento. • 3 –Transporte -> é a transfência, de um lugar para o outro, por agentes como a água dos rios, das correntes marinhas ou mesmo pelo vento. • 4 – Deposição -> quando o agente transportador de sedimento perde energia, o sedimento é depositado. • 5 – Soterramento -> o sedimento depositado é soterrado, devido ao mecanismo de afundamento de uma bacia sedimentar e do próprio peso da pilha de sedimentos acuumulados. • 6 – Diagênese -> a compactacao dos sedimentos pelo peso gerado pelo soterramento, mais a acao de fluidos, produz a transformação do sedimento em rocha sedimentar. 16 Figura 2.1 – Processos Sedimentares atuando numa bacia 2.2 - Classificação das Rochas Sedimentares • SILICICLÁSTICAS -> formadas por clastos (grãos) a base de silicatos (principalmente quartzo, feldspato e argilas). Exemplo: arenito • QUÍMICAS -> formadas pela precipitação de sais (cloreto de sódio, cloreto de potássio, sulfato de cálcio). Exemplo: camadas de sal (evaporitos) • BIOQUÍMICAS -> formadas por produtos da atividade biológica (conchas, corais, algas calcárias). Exemplo: calcário • ORGÂNICAS -> formadas pela deposição de matéria orgânica. Exemplo: carvão 2.2.1 - Rochas Sedimentares Siliciclásticas As rochas siliciclasticas costumam ser classificadas pelo tamanho do grão predominante do sedimento que a originou. Assim, cascalhos formam os conglomerados, areia forma o arenito e argilas formam os argilitos. Quando o argilito apresenta estrutura laminada (folhas), recebe o nome de folhelho. 17 Atualmente, os reservatórios mais importantes das bacias brasileiras são rochas siliciclásticas, principalmente arenitos. Em Sergipe, conglomerados são reservatórios do Campo de Carmópolis. Figura 2.2 – Classificação granulométrica das rochas sedimentares 2.2.2 - Rochas Sedimentares Bioquímicas As mais comuns são as CARBONÁTICAS, formadas por carbonato de cálcio, em geral fragmentos de conchas, oolitos, oncolitos, restos de algas calcárias e de corais. De acordo com o tamanho do grão, podem ser classificadas como: CALCILUTITOS (grão de tamanho lama) CALCARENITOS (grão de tamanho areia) CALCIRRUDITOS (grão de tamanho cascalho) Composição mineral predominante: CALCITA , DOLOMITA 18 Figura 2.3 – Exemplos de rochas carbonáticas As bacias brasileiras não têm muita tradição em reservatórios de petróleo carbonáticos (embora tenham sido os primeiros reservatórios descobertos na Bacia de Campos). Contudo, são os principais reservatórios das camadas Pré-Sal nas bacias de Campos e Santos, e a tendencia é ganharem importância nos próximos anos. Um tipo especial de rocha carbonática são os Microbialitos . São construções calcárias formadas pelo crescimento de algas e organismos unicelulares (p. ex. Cianofícias). Essas construções levam o nome de ESTROMATÓLITOS, sendo um dos registros de vida mais antiga na Terra (2 Ba). Terão importância crescente na indústria do petróleo, pois constituem os reservatórios do “Pré-Sal”, neste caso, de idade cretácea (em torno de 100 milhões de anos). 19 Figura 2.4 – Microbialitos. Adaptado de www.phoenix.org.br. 2.2.3 - Sedimentos Químicos (Evaporitos) São depósitos formados por PRECIPITAÇÃO QUÍMICA, constituídos por CaCO3 (calcita), CaSO4 (gipsita), SiO2 (sílica) e, mais comumente, NaCl (halita). Os mais comuns são os EVAPORITOS, produtos da evaporação da água salgada em lagos ou golfos, em geral sob clima árido. Podem formar grandes depósitos de sal. Nas bacias brasileiras, os principais exemplos são as espessas camadas de sal precipitadas nos mares restritos da época da separação dos continentes sulamericano e africano. Em Sergipe, camadas de cloreto de potássio (Silvinita) são explotados em Rosário do Catete, pela Vale. 20 Figura 2.5 – Deposição atual de evaporitos, em região desértica na Região de El Paso (Texas, EUA) 2.2.4 - Rochas Sedimentares Orgânicas O acúmulo de matéria lenhosa em pântanos pode dar origem a camadas de carvão. A matéria orgânica depositada no fundo de mares e lagos junto com sedimentos argilosos, também pode dar origem a folhelhos ricos em matéria orgânica: folhelhos (“xistos”) betuminosos e rochas geradoras de petróleo. Para se transformar em carvão, a matéria orgânica lenhosa, composta por celulose, deve passar por um processo de maturação, que ocorre durante o soterramento. A transformação envolve compactação, perda de água e de oxigênio, e enriquecimento em carbono. Matéria lenhosa (celulose) -> turfa -> lignito -> hulha -> antracito 21 2.3 - Ambientes de Sedimentação 2.3.1 - Importância dos ambientes de sedimentação n a exploração e produção de petróleo Os sedimentos são depositados nos ambientes de sedimentação de uma bacia sedimentar. Em cada ambiente são depositados sedimentos com características próprias. Esses sedimentos terão diferentes propriedades como rochas reservatório de petróleo: espessura, volume, porosidade e permeabilidade. Alguns ambientes são propensos à deposicão de rochas reservatório. Outros são propensos à deposição de rochas selantes e geradoras. Conhecer o ambiente deposicional é importantíssimo na prospecção de petróleo. 2.3.2 - Tipos de Ambientes • Continentais -> Leques aluviais, rios, lagos, desertos, glaciares • Transicionais -> Praias, deltas, estuários • Marinhos -> Plataforma, talude, bacia oceânica 22 Figura 2.6 – Ambientes continentais observados em uma paisagem atual 2.3.2.1 - Leques Aluviais Os leques aluviais se formam em áreas próximas ao sopé de montanhas (Figura 2.6), e tem este nome devido à forma de leque dos depósitos. Os sedimentos são depositados em forma de cone, geralmente em frente de escarpas íngremes. A sedimentação ocorre devido à súbita mudança de velocidade das correntes. São constituídos por sedimentos grossos (cascalhos). Com a distância, grada para ambiente fluvial. As rochas Sedimentares resultantes são conglomerados e arenitos grossos, em geral ricos em fragmentos de rocha do embasamento (ígneas e metamórficas). Os conglomerados e arenitos grossos podem formar reservatórios de petróleo. Devido a sua composição heterogênea e a pouca seleção granulométrica, em geral não têm boa qualidade como reservatório. 23 Figura 2.7 - Conglomerado depositado em leques aluviais, Bacia de Santa Bárbara, Caçapava do Sul – RS, Proterozóico Superior (ca. 600 Ma) 2.3.2.2 - Leques Deltaicos Quando um leque aluvial encontra diretamente um corpo de água (lago ou mar), é denominado de LEQUE DELTAICO (FAN DELTA). Os sedimentos se assemelham com os de leque aluvial, porém algumas estruturas sedimentares são distintas. Reservatórios importantes como os que produzem no Campo de Carmópolis, são conglomerados provenientes de leques deltaicos. 24 Figura 2.8 – Leque Deltaico 2.3.2.3 - Ambiente FluvialSão os ambientes formados por rios. Dependendo da fisiografia do terreno, da presença ou não de vegetação, do tipo de sedimento e da energia, os rios podem ser classificados em: - Encaixados - Entrelaçados ( braided ) - Meandrantes - Anastomosados Cada tipo produz depósitos com características próprias. Os de maior interesse para a geologia do petróleo são os entrelaçados e os meandrantes. Rios Entrelaçados ( braided ) são rios que possuem mais de um canal. Formam-se quando há muita variação no volume de fluxo, comuns em regiões áridas e com pouca vegetação. Formam depósitos extensos e muito ricos em areia e pouca argila. Foram muito frequentes no passado geológico, quando ainda não haviam plantas terrestres. 25 Figura 2.9 - Arenitos de origem fluvial (rios entrelaçados) – Formação Serraria Bacia de Sergipe-Alagoas, BR-101, Malhada dos Bois – SE Rios Meandrantes são os que apresentam canais em forma curva. São comuns em declives suaves e terras baixas, com substrato facilmente erodível e com presença de vegetação. Apresentam planícies de inundação ricas em argila. Uma característica importante é a freqüente migração dos canais. 26 Figura 2.10 – Depósitos meandrantes. As areias depositam-se nas barras (“ilhas” e margens dos canais, e as argilas na planície de inundação. Os ambientes fluviais apresentam grande interesse na geologia do petróleo, pois originaram importantes reservatórios de petróleo e gás. Os rios Entrelaçados originaram depósitos extensos, ricos em arenito e pobres em folhelho. Exemplo: Formação Serraria da Bacia de Sergipe-Alagoas. Os rios meandrantes originam depósitos mais limitados, sendo os arenitos mais finos e ricos em intercalações de folhelhos. 27 Figura 2.11 – Seção geológica estratigráfica de um campo de petróleo, mostrando em sua base um importante reservatório de origem fluvial. 2.3.2.4 - Ambiente Eólico A sedimentação eólica (pelo vento) ocorre em áreas desérticas, mas também pode estar presente nas áreas litorâneas, ou associados aos depósitos fluviais. O vento pode transportar poeira e areia. A deposição de areias pelo vento origina estruturas chamadas de dunas eólicas. 28 Figura 2.12 – Depósitos eólicos (duna) e rocha resultante (arenito eólico) Figura 2.13 – Depósitos eólicos atuais e antigos 29 Arenitos eólicos geralmente formam reservatórios (de petróleo e de água) de qualidade excelente, devido à boa seleção dos grãos e a pequena quantidade de argila. Ocorrem em alguns campos de petróleo da bacia de Sergipe-Alagoas (Formação Serraria e Formação Penedo) 2.3.2.5 - Ambientes Lacustres Lagos são corpos d’água localizados sobre continentes. São importantes ambientes de sedimentação. Comumente tem origem tectônica: bacias formadas pela movimentação de falhas. Podem ser muito rasos a extremamente profundos (ex: Lago Baikal, Rússia, tem profundidade de 1500m !). No fundo dos lagos se depositam argilas por decantação. No fundo dos lagos as águas podem ser muito pobres em oxigênio (redutoras), facilitando a preservação da matéria orgânica. Nas margens do lago depositam-se areias trazidas por rios que desaguam no lago. Podem se formar acumulações de conchas, resultando na formação de calcários (coquinas) Lagos e Tectônica de Placas No início de um processo de separação de continentes, antes da formação de um oceano, formam-se lagos. Os lagos preenchem o Rift Valley (rifte ). Parte dos depósitos da Bacia de Sergipe-Alagoas são lacustres da fase rifte, antes da chegada da sedimentação marinha. Atualmente esse proceso está ocorrendo no Grande Vale da África (Rifte Africano). Depósitos Lacustres são muito importantes para a geologia do petróleo. Folhelhos lacustres podem constituir excelentes rochas geradoras. É o caso das formações Barra de Itiúba e Coqueiro Seco, na Bacia de Sergipe-Alagoas. Já os arenitos e coquinas de margens de lago podem constituir rochas reservatório. 30 Figura 2.14 – Sistema de riftes do leste africano. O continente está se partindo em duas placas tectônicas. Nas áreas de ruptura formam-se grandes falhas que originam lagos. Esses lagos atuais são análogos para os que se formaram durante a separação América do Sul e África, e que resultaram em importantes depósitos das bacias brasileiras (e da costa atlântica africana). 31 Figura 2.15 – Exemplo de um lago formado pela atividade tectônica. O graben (bloco rebaixado pela ação das falhas) é uma bacia sedimentar usualmente constituída por lago. 2.3.2.6 - Ambiente Deltaico Deltas são protuberâncias na linha de costa, produzida pelo acúmulo de sedimentos trazidos por um rio. Podem ser LACUSTRES ou MARINHOS, dependendo do tipo de corpo d’água que recebe o rio. Podem ser dominados por RIOS, MARÉS ou ONDAS. Exemplos de deltas recentes são o do Mississipi (EUA) e Nilo (Egito), de onde veio a palavra delta (a foz do Nilo, vista do alto, lembra a letra grega delta). No Brasil o exemplo mais famoso é o delta da foz do Rio São Francisco, aqui em Sergipe, divisa com Alagoas. 32 Figura 2.16 – Parte do Delta do Mississipi, mostrando as partes integrantes do sistema deltaico (Orariu & Bhattacharya 2006). Figura 2.17 – Delta do Rio São Francisco. Notar na costa alagoana os depósitos de areia retrabalhados pelo vento (dunas do Pontal do Peba, na cor branca). No lado de Sergipe (Cabeço, em cor verde deivido à vegetação de mangue), depositam-se argilas na área dos mangues. O Rio São Francisco traz uma grande quantidade de sedimentos depositados na área da foz. 33 Figura 2.18 – Depósitos deltaico-lacustres da Formação Feliz Deserto, em Neópolis (SE). Em amarelo, delgadas camadas de arenito em meio aos folhelhos. Os arenitos representam as areias trazidas por rios e depositadas em barras na desembocadura dos rios junto ao lago. Deltas são importantíssimos na geologia do petróleo, em especial na Bacia de Sergipe-Alagoas. Depósitos deltaicos, pelo seu grande volume de sedimento, constituem importantes reservatórios de petróleo. Os arenitos costumam ser bem selecionados, formando reservatórios de boa qualidade. Na Bacia de Sergipe-Alagoas, vários campos de petróleo produzem em reservatórios de origem deltaica: Pilar e Furado em Alagoas (deltas lacustres). 34 Figura 2.19 – Seção vertical e horizontal de um modelo 3D de reservatórios deltaicos da Formação Barra de Itiúba, Bacia de Sergipe-Alagoas. Laranja = arenitos grossos, amarelo = arenitos finos, verde = folhelhos. 2.3.2.7 - Ambientes Marinhos O ambiente marinho é formado por vários sub-ambientes: plataforma continental, talude e planície abissal. A transição entre os ambientes continentais é chamada de ambiente costeiro (praias, baías, estuários). A fonte de sedimentos são os rios que chegam aos oceanos através dos deltas. A Plataforma Continental é a parte rasa, próxima ao continente, cujo substrato é formado por crosta continental. Recebe sedimentação deltaica vinda dos rios, e sedimentos trazidos pelas correntes marinhas. Em áreas de pouco ingresso de sedimentos em suspensão e com clima quente, podem ser depositados carbonatos, inclusive com formação de recifes. Este ambiente recebe o nome de Plataforma Carbonática. O Talude é a região íngreme que separa as águas rasas da plataforma continental das ãguas profundas da planície abissal. Apesar de ser representado com exagero nos desenhos, sua inclinação não é assim tão 35 grande: cerca de 1-5 graus. Mesmo assim é suficiente para que ocorram fenômenos como escorregamentos (avalanches de sedimento) e formação de cânions submarinos quando há rebaixamentos do nível do mar. Figura 2.20 – Elementos fisiográficos de um ambiente marinho 36 Figura 2.21 – Ambientes de uma Plataforma Carbonática Turbiditos São depósitos formados por correntes deturbidez (mistura de água + sedimentos formando um fluxo denso que desce o talude e deposita o material na planície abissal. A fonte de sedimentos são as areias da plataforma continental, que são desestabilizadas em geral por rebaixamentos do nível do mar. Podem formar extensos depósitos de arenito em água profunda. TURBIDITOS SÃO OS PRINCIPAIS RESERVATÓRIOS BRASILEI ROS. Os sedimentos finos, depositados por suspensão, são denominados sedimentos pelágicos . Figura 2.22 – Formação de depósitos turbidíticos em águas profundas. Os principais reservatórios de petróleo em produção no Brasil, especialmente da Bacia de Campos, têm essa origem. Depósitos Marinhos e Petróleo As Plataformas carbonáticas podem constituir importantes reservatórios de petróleo em rocha calcária. Não são comuns no Brasil, mas são frequentes no Oriente Médio e no México. 37 Os turbiditos são os principais reservatórios brasileiros (cerca de 90% da produção!). São os principais reservatórios dos campos gigantes da Bacia de Campos. Em Sergipe, ocorrem nos campos de Guaricema (o primeiro campo offshore descoberto no Brasil) e Piranema (este o primeiro campo nordestino de água profunda). 38 Exercício II – Prática de Rochas Sedimentares (no l aboratório) Neste exercício trabalharemos no laboratório de geologia, em equipes de 5 alunos. O objetivo é reconhecer as principais rochas sedimentares, apontando suas características principais. 39 3. Geologia Estrutural Aplicada Geologia estrutural é o ramo da geologia que trata da deformação das rochas e seus produtos. A deformação é a principal responsável pela formação das trapas (armadilhas onde o petróleo é retido). As rochas sedimentares originalmente estão dispostas em camadas horizontais. Mas deformações posteriores podem fazer com que fiquem inclinadas, até mesmo verticais. A existência de rochas geradoras e reservatórios é necessária para a existência de petróleo em uma bacia. Mas raramente essas rochas acumularão petróleo se não houverem estruturas responsáveis pelo seu aprisionamento. 3.1. - Estruturas nas Rochas São feições lineares e planares existentes nas rochas. Podem ter origem deposicional (ESTRUTURAS SEDIMENTARES) e deformacional (FRATURAS e FALHAS). São importantíssimas na geologia do petróleo 3.1.1 - Estruturas Sedimentares São originadas pela deposição do sedimento. As principais são a laminação (escala milimétrica) e a estratificação (escala decimétrica a métrica). Originalmente essas estruturas se apresentam horizontais, mas podem se apresentar inclinadas pelas deformações produzidas pela tectônica. 40 3.1.2 - Direção e Mergulho de Camadas (atitude) Direção é a interseção do plano da camada com um plano horizontal. É o ângulo que esta interseção faz com o norte. Mergulho é o ângulo de inclinação do plano (linha de maior declive e perpendicular à direção), em relação à horizontal. A direção e mergulho são obtidas a partir do mapeamento de camadas em subsuperfície (dados de poços ou sísmica 3D), de perfilagem de poços (perfis dipmeter e de imagem) e diretamente de afloramentos (utilizando-se bússola). Aplicação: • Na construção de mapas estruturais: uma das ferramentas mais básicas da geologia do petróleo. • Previsão da profundidade onde encontrar determinada camada. • Planejamento de poços. 41 Figura 3.1 – Conceito de direção e mergulho de uma camada 42 Exercício III: obtenção da direção e mergulho de um a camada Neste exercício resolvido mostramos como pode ser obtida a direção e mergulho de uma camada através do “método dos 3 pontos”, uma aplicação da geometria descritiva na geologia do petróleo. Percebe-se a importância de se conhecer alguns conceitos da matemática básica: geometria e trigonometria . -> as profundidades estão em valores negativos por ser a cota em relação ao nível do mar. Esta é uma convenção utilizada na geologia de subsuperfície. 43 44 45 46 3.1.3 - Estruturas formadas pela deformação As principais estruturas que se superpõem, isto é, deformam, as estruturas primárias, são: • Fraturas • Veios • Diques • Falhas • Dobras • Domos 3.1.3.1 - Fraturas São fissuras nas rochas, de tamanho variado, produzidas por: • a) resfriamento • b) ressecamento • c) tensões O fraturamento ocorre quando as tensões impostas à rocha são maiores do que sua resistência. É resultante da deformação rígida (ou rúptil). Podem formar regiões de alta permeabilidade onde fluidos irão circular. São os conhecidos reservatórios fraturados. 3.1.2.2 - Falhas São fraturas onde houve o deslocamento relativo dos blocos. São extremamente comuns na natureza e extremamente importantes no mundo do petróleo. Nas falhas, a separação entre os blocos é denominada de rejeito. De acordo com a movimentação, são classificadas em: Falhas Normais – o maior esforço compressivo é vertical (gravidade), resultando em rebaixamento do bloco da capa. A maioria das falhas das bacias sedimentares brasileiras é normal. Falhas Inversas – o maior esforço compressivo é horizontal, resultando no cavalgamento do bloco da capa. 47 Falhas Transcorrentes – O esforço máximo e o mínimo são horizontais, e o intermediário é vertical, resultando em movimentação horizontal de blocos. As falhas são diretamente responsáveis pela formação de bacias sedimentares como os riftes, constituídos por grabens. Podem também compartimentar reservatórios. Seu conhecimento pode inclusive orientar a perfuração de poços. Figura 3.2 – Componentes de uma falha normal 48 Figura 3.3 – Tipos de falhas segundo a movimentação Figura 3.4 – Grabens e horsts formados pela ação de falhas normais. Os grabens podem formar bacias sedimentares. Exemplo: Bacia do Recôncavo, Bacia de Sergipe-Alagoas (em seu estágio inicial), Graben do Reno, Grande Vale da África. 49 Figura 3.5 - Falha de Salvador, limita o embasamento (Cidade Alta) da Bacia do Recôncavo (Cidade Baixa). A Bacia do Recôncavo é um rift (graben) formado no inicio da separação dos continentes América do Sul e África. A Bacia do Recôncavo foi a primeira produtora de Petróleo no Brasil. Figura 3.6 – Aplicação prática da geologia estrutural nos campos de petróleo: as falhas controlam as acumulações de óleo (em verde). Para atingir e drenar os reservatórios, foram planejados poços direcionais paralelos aos planos de falha (Trabalho apresentado no IOR – SPE 2004). 50 3.2.1.3 - Dobras São deformações de natureza plástica, produzidas por esforços. A formação de muitas cadeias de montanhas (ex: Cordilheira dos Andes) está associada aos dobramentos. Na geologia do petróleo, sua importância está na geração de armadilhas (trapas) para a acumulação de petróleo. A parte convexa da dobra é denominada de anticlinal. É a parte da estrutura mais favorável para a acumulação (trapeamento) de petróleo, desde que existam reservatórios e capeadores. A parte côncava é denominada sinclinal. Podem ser sítios de rochas geradoras, mas normalmente não são áreas interessantes para o trapeamento de petróleo. Figura 3.7 – Esquema de uma dobra, com anticlinal e sinclinal Figura 3.8 – Importância das dobras na acumulação de petróleo 51 4. Sistemas Petrolíferos É o conjunto de elementos e processos geológicos necessários para gerar e armazenar petróleo, incluindo uma rocha geradora matura, rotas de migração, rochas reservatórios, armadilhas e selos. Relação genética existente entre uma rocha geradora ativa e as acumulações de óleo e gás dela resultantes. 4.1 - Elementos do Sistema Petrolífero Rocha geradora é uma rocha rica em matéria orgânica. Rota de migração são os caminhos através das rochas que o óleo percorre desde a rocha geradora atéa trapa. Rocha reservatório é uma rocha na qual o petróleo pode se acumular. Precisa ter porosidade (o espaço entre os grãos nos quais o óleo pode acumular) e permeabilidade (ligações entre os poros que possibilita ao petróleo se mover entre eles). Rocha selante (ou capeadora) é uma rocha que barra o movimento do petróleo. Trapa é uma configuração estrutural e/ou estratigráfica que focaliza o petróleo em uma acumulação. 52 Figura 4.1 – Elementos do Sistema Petrolífero 4.2 - Processos do Sistema Petrolífero Geração –> o soterramento da rocha geradora até temperaturas e pressões suficientes para converter a matéria orgânica nela presente em hidrocarbonetos. Migração –> O movimento dos hidrocarbonetos desde a expulsão da rocha geradora até a armadilha (trapa). Acumulação –> Quando o volume de hidrocarbonetos que chega na trapa é maior do que as perdas. Preservação –> manutenção das características do petróleo durante o longo tempo de permanência na trapa. Sincronismo –> Os eventos do sistema petrolífero precisam ocorrer numa ordem definida para resultarem em acumulações. 53 4.2.1 - Geração Querogênio é o polímero resultante da maceração da matéria orgânica. Sua composição depende da composição da matéria orgânica inicial, é o precursor do petróleo. É insolúvel nos ácidos orgânicos, devido ao seu enorme peso molecular. Quando se quebra (geração) transforma-se em betume, que é solúvel. Classificação do Querorênio • Tipo I: lacustre , associada a óleo, IH > 600, H/C (1.5-1.8), algal/amorfa, “oil shales”. • Tipo II: marinho , mais óleo, IH (200-600), H/C (1.0-1.3), liptinita(pólens, esporos,cutículas), geradora de 90% dos óleos . Tipo III: continental , gás, carvão, pouco óleo, IH (25-250), H/C (<1.0), lenhosa. Figura 4.2 – Diagrama de maturação da matéria orgânica 54 4.2.2 - Migração É o movimento do petróleo de sua fonte até as rochas reservatórios. Migração primária ou expulsão: é o movimento do petróleo gerado para fora da rocha geradora. Migração secundária: é o movimento posterior do petróleo até as rochas reservatórios da trapa. A migração ocorre das áreas mais baixas para as mais altas porque o petróleo é mais leve que a água que preenche os poros das rochas. A migração pode ser local ou a grandes distâncias, até centenas de quilômetros, através de falhas ou de rochas permo-porosas. 4.2.3 - Reservatório Reservatório é uma rocha com capacidade de armazenar fluidos (óleo, gás ou água). Normalmente o espaço onde os fluidos estão armazenados são os poros. Para que o fluido possa circular no reservatório (isto é, ser produzido), é necessário que o reservatório tenha permeabilidade. 4.2.3.1 - Porosidade É a percentagem de espaço vazio na rocha que pode conter fluidos. Porosidade total refere-se a todos os poros da rocha. Porosidade efetiva é o volume total dos poros interconectados, isto é, aqueles que permitem o fluxo dos fluidos. Excluem-se os poros isolados. Porosidade primária é aquela formada durante a deposição da rocha. Porosidade secundária é aquela formada pela alteração das rochas após a sedimentação, quando alguns grãos são dissolvidos por ácidos naturais. 55 Figura 4.3 – Arenito poroso visto no microscópio. Observam-se os grãos (cor branca) e o espaço poroso (porosidade), na cor azul. A cor azul é devida à resina impregnada durante a confecção da lâmina. 4.2.3.2 - Permeabilidade É a medida da capacidade das rochas de permitir a circulação de fluidos. Rochas permeáveis : nelas os fluidos circulam facilmente. Tem muitos poros, grandes e conectados. Exemplo: arenitos. Rochas impermeáveis : nelas os fluidos não circulam. Tem granulometria mais fina, ou variada, com poucos poros, pequenos e sem conexões. Exemplo: folhelhos ou argilitos. 4.2.4 – Trapas (Armadilhas) São situações geométricas em que rochas-armazenadoras (reservatórios) de petróleo, ficam em contato com rochas selantes, acima. Desta forma, o petróleo, menos denso do que a água e com tendência a subir pelas forcas de empuxo, tem este movimento interrompido pela camada 56 selante (capeadora). Normalmente as rochas selantes são folhelhos. Camadas de sal também são selos altamente eficientes. Figura 4.4 – Exemplo de trapa formada por uma anticlinal. A camada de reservatório contém os fluidos (gás, o fluido mais leve, acima; óleo e água, o fluido mais denso, abaixo). Em cinza as rochas selantes impedem que o gás e o óleo escapem da estrutura. Figura –4.5 – Tipos de trapas formadas por estruturas (dobras e falhas) 57 5. O Método Sísmico A sísmica é uma das ferramentas fundamentais na exploração de petróleo. Normalmente toda perfuração de poço (especialmente poços exploratórios) é precedida de um levantamento sísmico. O objetivo do levantamento sísmico é apontar as áreas mais favoráveis para a ocorrência de petróleo, diminuindo assim o risco de perfuração de poços secos. Trata-se de um método indireto de se conhecer a geologia de uma área. O método sísmico é baseado na emissão e recepção de ondas acústicas na subsuperfície. A reflexão produzida por contrastes de propriedades das camadas permite a obtenção de informações. É como se fosse um “ultrassom” da Terra, embora com freqüências de onda muito menores do que o ultrassom utilizado na medicina. 5.1 – Fundamentos do método As diversas camadas que constituem as bacias sedimentares apresentam propriedades acústicas diferentes (densidade e velocidade de propagação da onda acústica), que são função de sua composição e propriedades físicas como a porosidade. O produto da velocidade de propagação da onda com a densidade é denominado de impedância acústica . Quando duas camadas com impedância acústica diferentes estão em contato (ou seja, há uma interface), configura-se um refletor, caracterizado por um valor de refletividade (Figura 5.1). É este refletor, que será captado em um levantamento sísmico. Um conjunto de refletores gera uma imagem sísmica que será interpretada e transformada em uma imagem geológica do terreno. 58 Figura 5.1 – Conceito de impedância acústica e refletividade. 5.2 - Etapas do Método Sísmico O método sísmico é constituído por várias etapas: Aquisição, Processamento e Interpretação. 5.2.1 - Aquisição É o trabalho realizado no campo (ou no mar), onde são geradas ondas acústicas (através de explosão de dinamite, ar comprimido ou de vibradores), e sua reflexão é captada por geofones (ou hidrofones, no caso de aquisição marítima). Sísmica 2D –> é adquirida através de linhas de tiro relativamente espaçadas, gerando como resultado seções sísmicas 2D. Sísmica 3D -> é adquirida uma grande densidade de dados, através de linhas de tiro pouco espaçadas. O resultado é um volume sísmico (3D), que tem como resultado um nível de detalhe muito maior do que o 2D. Sismica 4D -> é uma sísmica 3D obtida em épocas (tempos) diferentes com os mesmos parâmetros de aquisição, em geral em campos produtores de petróleo. Permite identificar modificações nas propriedades do reservatório com o tempo de produção. 59 VSP (sísmica de poço) –> o geofone é colocado no interior de um poço, enquanto a fonte acústica é colocada na superfície. Serve para calibrar o modelo de velocidade da área e investigar a geologia nas proximidades do poço. Figura 5.2 – Aquisição sísmica (A), e seção sísmica resultante (Bend 2008). 5.2.2 - Processamento Sísmico O objetivo do processamento é transformar o dado adquirido em um volume de dados pronto para a interpretação. O processamento sísmico requer uma forte base matemática dos profissionais envolvidos, assim como softwares especializados. Consta das seguintes etapas principais: • - eliminação de ruídos • - ordenamento dos dados • - empilhamento• - análise de velocidades 60 Figuras 5.3 e 5.4 – A configuração geométrica de tiros e geofones num levantamento sísmico faz com que um refletor horizontal tenha uma forma de hipérbole em uma seção em tempo (maior a distancia entre a fonte e o receptor, maior será o tempo da reflexão). Uma das funções do processamento é corrigir a curvatura aparente da reflexão. Extarido de Bend (2008). 61 5.2.3 – Interpretação sísmica Trata-se da obtenção de informações geológicas (camadas, falhas, dobras, indicação de fluidos) a partir do dado sísmico. Consiste em “traduzir” uma imagem sísmica para uma imagem geológica. No Exercício IV faremos na prática uma interpretação sísmica. O procedimento básico é: 1 – rastrear refletores, que provavelmente correspondem a limites de camadas. 2 – Identificar interrupção de refletores, candidatos à falhas ou terminações das camadas. 3 – Confeccionar mapas das superfícies rastreadas nas seções sísmicas. 4 – Converter as superfícies interpretadas (em tempo de reflexão) para valores em profundidade. Figura 5.5 – Seção sísmica da costa da Austrália. Notar os diversos blocos deslocados por falhas falhas. Fonte: AAPG Explorer. 62 Figura 5.6 – Mapa Estrutural Sísmico de um refletor. As cores quentes (amarelo) indicam menores valores de tempo sísmico (isto é, profundidades mais rasas). Portanto, as áreas em amarelo são os pontos mais favoráveis para acumulação de petróleo (trapa estrutural). A malha de pontos são os pontos de tiro, espaçados de 5 pontos para fins de visualização. 5.3 - Resolução Sísmica A sísmica não resolve tudo, pois possui uma limitação de resolução (o tamanho de uma feição que consegue detectar). A resolução sísmica diminui com a profundidade, e é ainda menor nas áreas onde a qualidade do dado é precária. A resolução depende do conteúdo de freqüências e da velocidade média: R ~ v/4f Comparação entre sísmica e poço • Sísmica : fornece dados onde não há poços. Em campos de petróleo, fornece importantes dados entre os poços. • Poço: dado vertical de alta freqüência (alta resolução), o que não existe na sísmica. Se não existir sísmica, o dado entre os poços é interpretado. • O ideal é trabalhar com informação de sísmica + poços + dados de produção. 63 Figura 5.7 – Comparação entre cinco camadas com características diferentes (profundidade, velocidade de propagação da onda e freqüência dominante de um levantamento sísmico). No caso da Camada E, a resolução é de apenas 42m. Isto significa que, neste caso, não podemos enxergar o limite de uma camada que tenha menos do que 42m. 5.4 - Anomalias de Amplitude e IDH (Indicação Diret a de Hidrocarboneto) • Amplitude -> atributo que mede o deslocamento máximo (positivo ou negativo) de um pulso (reflexão). • Anomalia de amplitude -> aumento ou redução localizada da magnitude de uma reflexão. Pode ser um indicativo de mudanças da propriedade da rocha (por exemplo, porosidade) ou de existência de hidrocarboneto leve (óleo ou gás). • Bright spot -> anomalia de amplitude negativa. Pode estar relacionada a acumulação de gás ou óleo. • Solução não única : um reservatório espesso de óleo, um reservatório delgado de gás, ou um folhelho de baixa densidade, podem resultar em bright spots similares. 64 Figura 5.8 – Anomalia de amplitude negativa (bright spot) associada à camadas de arenito portadoras de hidrocarboneto, no Mar do Norte (Cartwright, 2003). Figura 5.9 – Utilização de anomalia de amplitude para mapeamento de qualidade de um reservatório da Bacia de Campos (Bruhn et al. 2003, trabalho apresentado na OTC). 65 5.5 - Conversão Tempo-Profundidade O dado sísmico normalmente é fornecido em (x, y, t), sendo t o tempo de ida e volta de propagação da onda desde a superfície até o refletor. É também conhecido como tempo duplo (TWTD). Na conversão tempo-profundidade, devemos transformar t em d (profundidade). Como v = d/t , sabendo a velocidade média das camadas até o refletor, podemos obter a profundidade (d). Como é obtida a velocidade ? Resposta: de perfis sônicos de poços da área ou do processamento sísmico (Velans). Exemplo: TWTD = 2,0 s (2000 ms) e V= 3000m/s … é o tempo de ida e volta, então para termos o tempo só de ida, dividimos por 2: Então: TWT = 1,0 s V = d/t -> d=t*v -> prof = 3000 * 1 = 3000m 66 Exercício IV – Interpretação de Seção Sísmica O Golfo do México é uma das mais importantes áreas petrolíferas do mundo. Neste exercício interpretaremos uma linha sísmica na Plataforma Continental do Texas. Exercício: 1. Marcar o fundo do mar. 2. Interpretar os principais refletores – utilize diferentes cores. 3. Interpretar falhas (interrupções de refletores) 4. Identificar estruturas (falhas, anticlinais, sinclinais, domos de sal). 5. Localizar pontos potenciais para a perfuração de poços exploratórios. 6. Estimar a profundidade do fundo do mar, do refletor de interesse e do poço proposto (considere Vm=3000 m/s e Vágua = 1550m/s). 67 68 69 Exercício V – Construção de um mapa estrutural sísm ico O mapa de pontos corresponde à posição de um refletor sísmico potencial camada de um reservatório de petróleo. Os valores estão expressos em segundos (tempo duplo - ida e volta – da onda ir e voltar da superfície até o refletor). A linha em negrito corresponde à seção sísmica interpretada no Exercício IV. As principais falhas da seção também já estão desenhadas no mapa. O mapa de pontos corresponde à posição de um refletor sísmico potencial camada de um reservatório de petróleo. Os valores estão expressos em segundos (tempo duplo - ida e volta – da onda ir e voltar da superfície até o refletor). Pede-se: 1 - Desenhar as curvas de nível no mapa de pontos, com intervalo de 0,1s 2 - Localizar os altos e baixos estruturais (anticlinais e sinclinais). 3 - Posicionar um ponto interessante para a locação de um poço. 4 - Qual a profundidade da zona de interesse, considerando velocidade média de 3000m/s ? (velocidade na água = 1550 m/s). 5 - Qual a profundidade que terá o poço proposto ? Considere lâmina d’água de 500m. 6 - Qual a área da(s) estrutura(s) candidatas a ter acumulação de petróleo (como aproximação, utilize para cálculo a fórmula da área da elipse): A= (π * a * b) 70 71 6. Prospectos Exploratórios O prospecto é um documento que resume as justificativas para a perfuração de um poço, o projeto do poço, a previsão das camadas que serão atravessadas pelo poço e a análise econômica da locação. Deve incluir: Mapa estrutural com o ponto da locação, Seção sísmica e geológica, coordenadas e profundidade dos objetivos, profundidade final, quadro de previsões geológicas e resumo da análise econômica. Orientações sobre amostragens, testes de formação e perfilagem a srem efetuadas no poço, também constam no prospecto. 6.1 - Nomenclatura de poços 1 – Pioneiro -> é o primeiro poço a ser perfurado em uma estrutura. 2 – Estratigráfico -> é um poço de investigação geológica em uma área, não necessariamente com o objetivo de encontrar petróleo. 3 – Extensão -> após um pioneiro ter encontrado petróleo, poços de extensão são perfurados na área para delimitar a jazida. 4 – Pioneiro Adjacente -> poço perfurado em uma estrutura vizinha a uma acumulação descoberta. 5 – Jazida mais rasa -> Poço visando reservatórios mais rasos em uma acumulação já descoberta. 6 – Jazida mais profunda -> Poço visando reservatórios mais profundos, ainda não atingidos por poços, em uma acumulação já descoberta. 7 – Desenvolvimento -> Poços para produção em uma concessão. 8 – Injetor -> Poços injetores de água ou de gás em uma concessão. 9 – Especial ->Poços para captação de água, para aquisição de dados, para injeção de vapor etc. Nomenclatura Petrobras para poços exploratórios: 1-UNIT-1-SE (nome do local) Nomenclatura ANP: 1-UTSA-1-SE (nome da empresa) 72 Figura 6.1 – Quadro de Previsões geológicas – parte integrante do prospecto 6.2 - Análise Econômica Um projeto exploratório deve ser viável economicamente, isto é, a produção de petróleo a ser descoberto deve ser suficiente para cobrir o investimento feito, os custos operacionais, impostos e também o risco envolvido (poços secos, por exemplo). Normalmente as companhias de petróleo utilizam programas de análise probabilística, a partir de uma série de dados de entrada baseadas no conhecimento geológico da área e na experiência profissional dos técnicos envolvidos no projeto. O resultado da análise fornece indicadores econômicos como o VPL (valor presente líquido), tempo de retorno (em quanto tempo de produção o projeto se pagará), etc. Os parâmetros que mais influenciam na economicidade de um projeto exploratório é o volume da jazida, o risco, o preço do petróleo e os custos. Faremos abaixo um exemplo bastante simplificado de análise econômica (que pode ser rapidamente feito com a utilização de uma planilha Excel). 73 A partir do mapeamento sísmico, podemos estimar o volume de rocha reservatório da estrutura mapeada, a partir da área de fechamento (A) e de uma espessura estimada (h). A espessura (h) é de difícil resolução em sísmica, daí a importância de se conhecer, a partir de áreas próximas ou análogos, o reservatório objetivo. No caso de uma área de 10 km2 (um campo de petróleo de tamanho médio) e espessura de reservatório de 10m, teremos um volume de rocha de: Vr = A * h Vr = 10m * 10.000.000m2 Vr = 100.000.000m3 Acontece que o petróleo se encontra no espaço poroso dessa rocha reservatório, portanto, para saber o volume poroso (Vp), devemos multiplicar o volume de rocha pela porosidade (phi), em valores decimais. Para o caso de uma porosidade esperada de 15%: Vp = Vr * phi Vp = 100.000.000 m3 * 0,15 Vp = 15.000.000 m3 Acontece ainda que não existe petróleo puro preenchendo os poros. Sempre há uma certa quantidade de água, a chamada saturação de água (Sw). O volume de óleo (Vo) é obtido pela multiplicação do volume poroso (Vp) pela saturação de óleo (So = 1 – Sw). Para uma saturação de óleo de 65%, teremos: Vo = Vp * So Vo = 15.000.000 m3 * 0,65 Vo = 9.750.000 m3 Para termos o volume do óleo medido em condições de superfície, devemos considerar o Fator Volume de Formação, que é o encolhimento do óleo devido ã liberação do gás em solução quando a pressão cai abaixo da pressão de saturação. Consideraremos um Bo=1,3 m3/m3.É claro que esse gás 74 também será aproveitado e valorado. Mas para uma simplificação, consideraremos aqui somente o volume de óleo. O Volume de óleo do reservatório, mas nas condições de superfície é denominado Volume de Óleo Original In Plane (VOIP): VOIP = Vo / Bo VOIP = 9.750.000 m3 / 1,3 VOIP = 7.500.000 m3 Para saber o quanto de petróleo o reservatório produzirá (Volume Recuperável - Vrec, multiplicamos este valor pelo Fator de Recuperação estimado (FR), estimado em 20% neste exemplo. O FR varia bastante, a depender da qualidade da rocha e do petróleo, além da tecnologia empregada. A maior parte do petróleo ficará preso no reservatório. Vrec = VOIP * FR Vrec = 7.500.000 m3 * 0,2 Vrec = 1.500.000 m3 Na fase exploratória da pesquisa de petróleo, ainda não sabemos se este petróleo realmente existe ! Notar também que muitas variáveis (espessura, porosidade, FR) estão estimadas com um elevado grau de incerteza. Devemos então ponderar o volume estimado da acumulação com um fator de risco (ou de chance), baseado no conhecimento de sistemas petrolíferos. Sabe-se que, em todo mundo, somente uma fração de poços exploratórios perfurados (cerca de 10-20%) são bem sucedidos. Os restantes são secos. Com a melhora da tecnologia de imageamento sísmico e conhecimento das bacias, esse percentual tem sido aumentado. No exemplo estudado, são estimados alguns fatores de chance do sistema petrolífero: • Geração: F.C. = 100% • Migração: F.C. = 50% • Trapa (geometria) : F.C. = 100% • Reservatório = 70% • Sincronismo = 80% O Fator de Chance total (Fc) é o produto de cada fator acima. 75 Fc = geração * migração * Trapa * Reservatório * Si ncronismo Fc = 1,0 * 0,5 * 1,0 * 0,7 * 0,3 Fc = 0,105 Ou seja, temos 10,5% de chance de encontramos petróleo nesta estrutura. Devemos então ponderar o Volume de petróleo recuperável (Vrec) pelo fator de chance, para obter o Volume Riscado (Vrisc). Vrisc = Vrec * Fc Vrisc = 1.500.000m 3 * 0,105 Vrisc = 157.500m 3 Sentiram o drama ? De um volume de rocha mapeada de 10.000.000 m3, provavelmente só conseguiremos retirar 157.000 m3. É por isso que a atividade de petróleo é um negócio de risco. É comum expressar os volumes de petróleo na unidade inglesa (barril – bbl), principalmente em análises econômicas e transações comerciais. Para converter m3 em barril, multiplicamos por 6,28. Vrisc (bbl) = 157.500 m 3 * 6,28 Vrisc (bbl) = 985.960 bbl Em janeiro de 2009 o preço do petróleo estava em 50 dólares o barril. Descontando o custo operacional de produção e impostos, a empresa fica com cerca de 20 dólarers, neste exemplo: Valor = U$ 985.960 * 20 Valor = U$ 19.719.200 Ou seja, o investimento (perfuração do poço, instalações) deve ser menor do que este valor para que o projeto seja viável. Na realidade, uma análise econômica mais precisa envolve a curva de produção e dos preços e 76 até da taxa de juros ao longo do tempo, a fim de se obter o VPL (valor presente líquido) do projeto. • Figura 6.2 – Exemplo de análise econômica simplificada em uma planilha Excel. EXEMPLO DE ANÁLISE ECONÔMICA SIMPLIFICADA Área (km2) 5,00 Espessura do Reservatório (m) 10,00 Volume de Rocha (m3) 50.000.000,00 Porosidade (%) 15,00 Volume Poroso (m3) 7.500.000,00 Saturação de óleo (%) 65,00 Volume de óleo no Reservatório (m3) 4.875.000,00 Fator Volume de Formação Óleo - Bo (m3/m3) 1,30 Óleo in Place - VOIP (m3) 3.750.000,00 Fatores de chance (%) Geração 50 Reservatório 50 Geometria (trapa) 100 Sincronia 80 Fator de Chance Total 20 Fator de Recuperação - FR (%) 20,00 Volume de Óleo Recuperável (m3) 750.000,00 Volume de Óleo Recuperável (bbl) 4.717.500,00 Volume de Óleo Recuperável COM RISCO (bbl) 943.500,00 Preço do óleo (U$/bbl) 120,00 Custo operacional (U$/bbl) 20,00 Impostos, Royalties (%) 50,00 Preço de realização do óleo (U$) 40,00 Valor da Acumulação (U$) 37.740.000,00 Investimento (U$) 20.000.000,00 77 Exercício VI – Elaboração de um Prospecto Explorató rio A interpretação sísmica realizada nos exercícios IV e V originou uma locação exploratória. Os resultados da interpretação serão utilizados na confecção do prospecto, que deverá conter: • 1. Mapa de Localização • 2. Justificativa: falar da geologia da área, das estruturas que motivaram o projeto do poço, potenciais reservatórios. • 3. Mapa estrutural com a posição do poço (do Exercício IV) • 4. Seção sísmica com a posição do poço (do Exercício V) • 5. Quadro de Previsões Geológicas • 6. Análise Econômica 78 79 7. Bacias Sedimentares Brasileiras Cerca de 50% do território brasileiro é coberto por bacias sedimentares, nem todas petrolíferas (Figura 7.1). Figura 7.1 – Bacias Brasileiras (em verde) 7.1 - Tectônica de Placas e Bacias Sedimentares A origem das bacias sedimentares está diretamente associada à tectônica de placas (Figura 7.2). A própria classificação das bacias é baseada nesta teoria. 80 Figura 7.2 – Esquema de separação de placas, inicialmente com formação de bacias riftes (grabens limitados por falhas),passando a bacias de margem passiva. 7.2 - Bacias Intracratônicas • Grandes dimensões (milhões de km2), em forma de “prato” localizadas sobre áreas estáveis (crátons) • Poucas falhas • Camadas tabulares, com grande continuidade • Subsidência lenta • Exemplos: Bacia do Paraná, Bacia do Solimões, Bacia do Parnaíba. • Pouco favoráveis para petróleo, mas ocorre (Bacia do Solimões). Exemplos: • Bacia do Paraná (SP-PR*-SC-RS-MS,ARG,URU,PAR) • Bacia do Solimões (AM**-PA) • Bacia do Parnaíba (MA-PI) • Bacia dos Parecis (MT) *gás e folhelho (“xisto”) betuminoso ** óleo e gás 81 Figura 7.3 – Seções geológicas de Bacias intracratônicas (Petri & Fulfaro 1983). 7.3 - Bacias Rifte • Dimensões da ordem de 300 x 50 km. • Forma alongada. • Limitada por falhas (são grandes grabens), em geral assimétricos (uma falha principal em uma das bordas, e falhas menos expressivas na margem oposta). • Domínio de falhas normais. • Subsidência rápida. • Muito favoráveis à ocorrência de petróleo. • Exemplo: Bacia de Reconcavo (BA), Bacia de Sergipe-Alagoas na fase inicial, Bacia de Taubaté, Riftes Africanos. 82 Figura 7.4 – Rifte do Recôncavo-Tucano-Jatobá, formado no início da separação dos continentes América do Sul e África. A bacia do Recôncavo foi a primeira a produzir petróleo no Brasil. (http://www.phoenix.org.br/images/Tuc_mapa.gif). 7.4 - Bacias de Margem Passiva • Ocorrem em margens continentais longe de limites de placas. • Paralelas à linha de costa. É comum apresentarem apresentam parte onshore e parte offshore. • Subsidência pode ser rápida devido ao resfriamento da crosta. • Falhas normais e domos de sal são estruturas frequentes. • Com as descobertas na plataforma continental brasileira, passaram a ser áreas de grande interesse petrolífero. • Exemplos: • Bacia de Pelotas (RS) • Bacia de Santos (SC-PR-SP) • Bacia de Campos (RJ-ES) • Bacia do Espírito Santo (ES) • Bacia de Almada(BA) • Bacia de Sergipe-Alagoas (SE-AL) • Bacia de Pernambuco-Paraíba (PE-PB) • Bacia Potiguar (RN-CE) • Bacia de Barreirinhas (PA) 83 • Obs: As bacias do Recôncavo/Tucano/Jatobá são riftes que não evoluíram para margem passiva. As bacias marginais apresentam uma estratigrafia (empilhamento de camadas) semelhante, produto de sua evolução. Destaca-se uma camada espessa de sal, depositada numa época de mar restrito e clima árido, que produziu a deposição de evaporitos. As rochas que estão abaixo dessa camada de sal são os famosos “reservatórios pré-sal”. Em Sergipe, o “pré-sal” é o próprio reservatório do Campo de Carmópolis, que já produz petróleo há mais de 50 anos, a cerca de 800m de profundidade. Mas nas Bacias de Santos e Campos, está a mais de 5000m de profundidade. Figura 7.5 – Resumo da estratigrafia (camadas) das bacias marginais brasileiras e africanas do Atlântico Sul. 84 Figura 7.6 – Coluna estratigráfica da Bacia de Sergipe-Alagoas (Sub-bacia de Alagoas) (Campos Neto et al, 2007). 85 Figura 7.7 – Seção Geológica da Sub-Bacia de Alagoas. Figura 7.8 – Seção Sísmica da Bacia de Santos. Notar os domos de sal. Fonte: AAPG Explorer, 2009. 86 7.5 - Recursos Petrolíferos do Brasil O petróleo ocorre nas bacias de Campos, Santos, Espírito Santo, Recôncavo, Sergipe-Alagoas, Potiguar e Solimões. As primeiras descobertas no Recôncavo (Candeias) e em Sergipe- Alagoas (Tabuleiro dos Martins), na década de 1950. Os maiores volumes na Bacia de Campos (Campos Gigantes de Marlim, Albacora, Roncador), descobertos nas décadas de 1980-1990, em arenitos turbidíticos. A mais nova fronteira são as águas profundas (pré-sal) das Bacias de Santos e Campos (Estruturas Tupi, Júpiter, Pão de Açúcar). Figura 7.9 – Campos petrolíferos da Bacia de Campos (Fonte:ANP). 87 Figura 7.10 – Evolução das reservas de petróleo no Brasil, fruto principalmente da atividade exploratória (Fonte: ANP). 7.6 - Recursos Petrolíferos de Sergipe (e Alagoas) O menor estado brasileiro tem um relativo destaque no setor mineral e energético. Cerca de 40% do PIB provém do setor de petróleo. As acumulações de petróleo e gás estão todas na Bacia de Sergipe-Alagoas. A maioria dos campos de petróleo em Sergipe está localizada numa estrutura chamada de Alto de Aracaju: Carmópolis, Riachuelo, Siririzinho (Reservatórios na Formação Muribeca, Membro Carmópolis). O Campo de Carmópolis é o maior campo gigante onshore do Brasil. Em águas rasas, na costa próxima a Aracaju estão os campos de Camorim (Reservatórios na Formação Muribeca, Membro Carmópolis), Guaricema e Dourado (Reservatórios da Formação Calumbi). Guaricema foi a primeira descoberta offshore do Brasil. O campo de Piranema (Reservatórios turbidíticos da Formação Calumbi) foi o primeiro produtor em água profunda na Região Nordeste). Em Alagoas (onshore), destacam-se os campos de Pilar e Furado (produtores em arenitos deltaicos da fase rifte da evolução da bacia de Sergipe-Alagoas). 88 Figura 7.11 – A Bacia de Sergipe-Alagoas, com a localização dos principais campos de petróleo (Fonte: CPRM). 89 Figura 7.12 – Seção geológica esquemática pela Bacia de Sergipe-Alagoas, desde Aracaju até Maceió. Figura 7.13 – Seção geológica do Campo de Carmópolis (Mohriak et al. 1997). 90 8. Noções de Petrofísica Petrofísica é o estudo das propriedades físicas da rocha, realizado com medidas diretas e indiretas. Tem aplicação na estimativa da capacidade de armazenamento (volumes) e da qualidade dos reservatórios. Seu estudo tem grande interface com a ENGENHARIA DE RESERVATÓRIOS e com a GEOFÍSICA. Principais Propriedades Petrofísicas • Porosidade • Permeabilidade • Compressibilidade • Saturação de fluidos • Argilosidade • Molhabilidade • Permeabilidade relativa • Pressão capilar 8.1 - Porosidade É a quantidade de poros em um reservatório. Costuma ser expressa em percentagem (%) na comunicação oral ou em relatórios, mas para cálculos matemáticos, seu valor é decimal (0 a 1). A porosidade original de um arenito, logo após a sua deposição, é em torno de 35% (0,35%), mas com a compactação, esse valor pode ser bastante reduzido. Porosidades comuns em reservatórios variam de 10 a 25%. Normalmente o limite mínimo para reservatórios de óleo é 8% e para gás é 6%. Abaixo desses valores, normalmente o reservatório não produz. • Porosidade Total -> relação entre o volume total de poros e o volume total da rocha. PhiT = VpT / VT • Porosidade Efetiva -> relação entre o volume total de poros INTERCONECTADOS e o volume total da rocha. É a porosidade que realmente interessa nos reservatórios. PhiE = VpE / VT 91 Tipos de Porosidade • Intergranular • Microporosidade (< 2 micra) • Dissolução (secundária) • Fratura Medidas de Porosidade A medida da porosidade pode ser obtida de duas formas: • Perfilagem -> fornece medidas contínuas, de 0,2 em 0,2m. Baseada em perfis densidade, neutrão e sônico. • Testemunhos -> medida feita em laboratório, a partir de plugs de testemunhos. É uma medida direta, porem puntual e demorada. • Normalmente se utiliza a medida obtida da perfilagem, mas calibrada com os testemunhos. Figura 8.1 – Tipos de Porosidade 92 8.2 – Permeabilidade É a propriedade do meio poroso que se caracteriza pela facilidade com que um fluido pode atravessar esse meio quando lhe é aplicado um gradiente de pressão. É uma medida de condutividade ao fluido, do meio poroso (Henry Darcy, 1856) Unidade: 1 darcy (fluxo de 1cm3/s de um fluido com viscosidade de 1cp atraves de uma seção de 1 cm2 quando submetido a um dP de 1 atm/cm3. Como 1 darcy é um valor muito alto, a permeabilidade é mais frequentemente reportada em milidarcy (mD, a milésima parte do darcy). Q = K . A . dP(fluxo linear) µµµµ . L Q = vazão , A = área da seção transversal, dP = diferencial de pressão, µ – viscosidade do fluido, L – comprimento, K – permeabilidade Fatores que controlam a permeabilidade - Geometria do meio poroso (porosidade, granulometria, orientação, empacotamento, cimentação, teor de argila, seleção). - Dissolução, dolomitização, fraturas (em carbonatos). - Acamamento (Kh > Kv) Valores de Permeabilidade • Baixíssima < 1 mD • Baixa 1-10 mD • Regular 10-100 mD • Boa 100-1000 mD • Excelente >1000 mD Relação entre porosidade e permeabilidade • Normalmente a permeabilidade cresce com a porosidade, mas essa relação nem sempre ocorre. É comum a relação linear entre porosidade o logaritmo da permeabilidade. • Porosidade alta x permeabilidade baixa -> rochas de granulometria muito fina e argilosas, folhelhos, rochas com poros não conectados • Porosidade baixa x permeabilidade alta -> reservatórios fraturados 93 Obtenção da Permeabilidade • Plugs de testemunhos (medida puntual mas direta). • Regressões utilizando perfis • Teste de formação (medida indireta) • Minipermeametria em testemunhos Figura 8.2 – Escoamento de um fluido em meio poroso. Para oque o fluido escoe é necessária a permeabilidade. Figura 8.3 – Relação entre porosidade e a permeabilidade (notar escala logarítmica no eixo da permeabilidade). Existe uma relação, mas muitos pontos caem fora da reta (fonte:Dutton et al. 2003). A partir dessa relação é possível estimar a permeabilidade a partir da porosidade (uma medida de mais fácil obtenção). 94 8.3 - Saturação de fluidos É a medida das quantidades relativas dos fluidos que ocupam o espaço poroso de um reservatório, expresso em percentagem para fins de comunicação, ou decimal para fins de cálculos. • Sw + So + Sg = 1 Sw – saturação de água So – Saturação de óleo Sg – saturação de gás Sempre existe uma quantidade de água no espaço poroso, mesmo em reservatórios com óleo. Na prática, adotamos Sw=50% como um valor limite para reservatório produtor de óleo. Acima desse valor de saturação de água, mesmo tendo óleo, o reservatório só produz água. A saturação de água é obtida principalmente a partir da perfilagem, e calibrada com ensaios de laboratório. 8.4 - Permeabilidade Relativa É a permeabilidade ao fluxo de um determinado fluido (Ko), na presença de um segundo fluido no meio poroso. Tem ENORME impacto na recuperação do petróleo. É comum as permeabilidades relativas serem expressas na forma de curva, já que dependem da saturação dos fluidos envolvidos. A Permeabilidade relativa depende da: - Saturação de fluidos - Molhabilidade - Geometria dos poros Saturação de água irretutível (Swi ) é a fração de água não móvel no reservatório. Em geral Swi varia de 10 a 25%. Saturação de óleo residual (Sor ) é a quantidade de óleo não móvel (que não será produzido). Em geral Sor varia de 20-40%. 95 Molhabilidade Tendência que um determinado fluido tem de se espalhar em uma superfície sólida em presença de outro fluido não miscível. É função, principalmente, da rugosidade do poro (tortuosidade). Influencia na pressão capilar, na permeabilidade relativa e nas medidas de resistividade dos perfis. Impacto na recuperação do reservatório (primária, secundária e terciária). Rocha Molhável à água : - Swi elevada (>20%) - Krw em Sor baixa (< 40%) - Cruzamento Krw x Kro em Sw > 50% Rocha Molhável ao óleo: - Swi baixa (~15%) - Sor alta (40%) -> baixo FR - Cruzamento das curvas em Sw < 50% - Frequente em reservatórios carbonáticos. Molhabilidade e Eficiência de Recuperação • Produção Inicial -> água em fase descontínua (Swi) e óleo fase contínua: produção de óleo • Transição -> produção de óleo + água • Final -> água em fase contínua e óleo em fase descontínua (Sor): produção de água. 96 Figura 8.4 – Relação entre saturação de fluidos e permeabilidade relativa. A presença de mais de um fluido modifica o potencial de outro fluido escoar. Quatro exemplos de saturação são identificados (pontos a, b, c, and d), correspondentes às saturações de 1.0, 0.9, 0.6, e 0.2 respectivamente (Fonte: Leetaru 2008). 8.5 - Pressão Capilar É a diferença de pressão na interface de contato de dois fluidos imiscíveis, dos quais um deles molha preferencialmente a rocha. A pressão capilar normalmente está ligada (inversamente proporcional) ao tamanho das gargantas de poros. A pressão capilar é o principal mecanismo de retenção de petróleo em uma trapa de petróleo. O petróleo fica retido na trapa porque a pressão capilar da rocha capeadora é muito grande, não permitindo o deslocamento do óleo. 97 Po – Pw = (rw – ro) g h = Pc Figura 8.5 – Obtenção da pressão capilar através da injeção de mercúrio em amostras de rocha. Em A, a baixa Pc permite que uma elevada saturação de mercúrio seja rapidamente alcançada, o que não acontece em B, onde pressões muito elevadas são requeridas para o mercúrio ocupar os poros. 8.6 - Compressibilidade É a razão entre a variação fracional de volume (da água, do óleo ou da formação) e a variação de pressão. A compressibilidade desempenha um papel importante durante a vida produtiva do reservatório. Compressibilidade da Formação: razão entre a variação do volume de poros e a pressão. Um exemplo de como a pressão age na rocha: com a produção de um reservatório, a pressão cai. Isto faz com que o volume dos fluidos (principalmente do gás e do óleo) aumente, ocupando o espaço do fluido que saiu do reservatório. É por isso (devido à compresibilidade) é que não ficam “vazios” na rocha com a produção de petróleo, respondendo à freqüente pergunta “não tem perigo do terreno afundar ?”. 98 Cf = (dVp/Vp) / dP 8.7 - Argilominerais e Argilosidade É a quantidade de argila presente nas rochas reservatório. Em geral prejucicam a qualidade do mesmo, já que podem tamponar os poros. A argilosidade pode ser medida diretamente (difratometria de raios X , microscópio eletrônico) ou indiretamente (perfilagem). Influência das Argilas: • Clorita -> sensível aos ácidos, produz (falso) aumento de Sw nos cálculos de perfis. • Esmectitas -> sensível à água doce (dano), aumento de Sw em perfis. • Ilita -> migração de finos (dano de formação), aumento de Sw em perfis. • Caulinita -> migração de finos (dano de formação), aumento de Sw 8.8 – Fluidos dos Reservatórios Os fluidos, apesar de diretamente não fazerem parte do assunto (na disciplina Reservatórios são considerados um assunto a parte – “Propriedades dos Fluidos”), têm íntima relação com a petrofísica, já que residem e transitam no sistema poroso. Originalmente, as rochas tem como fluido a água. Somente em condições excepcionais, esta água é substituída por óleo ou gás, dando origem às valiosas acumulações de petróleo. 8.8.1 – Óleo Alguns conceitos: Petróleo -> mistura constituída predominantemente de hidrocarbonetos, no estado sólido, líquido ou gasoso. 99 Óleo -> petróleo no estado líquido nas condições de reservatório, e que permanece líquida nas condições de superfície Classificam-se em parafínicos (melhores) e asfaltênicos. API do óleo = (141,5 / SG)-131,5 SG -> densidade específica (0,76-1,0) Óleo leve API > 31 Óleo médio 22-30,9 API Óleo pesado 10,1-21,9 API Óleo Extrapesado < 10 API Bo -> Fator volume de formação do óleo . É a razão entre o volume de óleo nas condições de reservatório e as condições de superfície. Como o óleo perde gás quando chega à superfície (devido à perda de pressão), o Bo é sempre maior do que 1 (costuma variar de 1 a 2). 8.8.2 – Gás Gás Natural -> petróleo
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