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Filosofia e Politicas Públicas

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Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 
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MÓDULO DE: 
FILOSOFIA E POLÍTICAS EDUCACIONAIS 
AUTORIA: 
GABRIELE GREGGERSEN 
Copyright © 2008, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 
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Módulo de: Filosofia e Políticas Educacionais 
Autoria: Gabriele Greggersen 
Primeira edição: 2008 
CITAÇÃO DE MARCAS NOTÓRIAS 
Várias marcas registradas são citadas no conteúdo deste módulo. Mais do que simplesmente listar esses nomes 
e informar quem possui seus direitos de exploração ou ainda imprimir logotipos, o autor declara estar utilizando 
tais nomes apenas para fins editoriais acadêmicos. 
Declara ainda, que sua utilização tem como objetivo, exclusivamente a aplicação didática, beneficiando e 
divulgando a marca do detentor, sem a intenção de infringir as regras básicas de autenticidade de sua utilização 
e direitos autorais. 
E por fim, declara estar utilizando parte de alguns circuitos eletrônicos, os quais foram analisados em pesquisas 
de laboratório e de literaturas já editadas, que se encontram expostas ao comércio livre editorial. 
Todos os direitos desta edição reservados à 
ESAB – ESCOLA SUPERIOR ABERTA DO BRASIL LTDA 
http://www.esab.edu.br 
Av. Santa Leopoldina, nº 840/07 
Bairro Itaparica – Vila Velha, ES 
CEP: 29102-040 
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Apresentação 
Cara/os alunas/os, 
Bem-vinda/os a esse módulo de Filosofia e Políticas Educacionais. Espero que estejam 
muito motivados e com grandes expectativas, pois neste módulo vamos compreender melhor 
o papel da Filosofia e das Políticas de Educação. 
O fim desse material não é estritamente acadêmico, mas antes didático, no sentido de 
comunicar a filosofia numa linguagem informal, inteligível e prazerosa, sem a preocupação 
com precisão e detalhe. O aluno mais versado em filosofia poderá se encarregar de 
aprofundar os diversos pontos, em caso de necessidade e interesse, através dos textos de 
apoio. Não se pretende formar filósofos, mas educadores com gosto pela filosofia, capazes 
de se valer dela para incrementar e aprofundar a sua didática e ampliar o seu repertório com 
conhecimentos elementares da filosofia e políticas educacionais. 
 Então, relaxe e deixe-me conduzi-los através dos principais pensadores e temas da história 
da filosofia e das políticas. 
 
Objetivo 
Despertar o gosto pela filosofia e sua prática cotidiana, através da reflexão crítica, da 
capacidade contemplativa, desenvolvimento de habilidades e atitudes filosóficas, linguísticas, 
científicas, artísticas, literárias, éticas, políticas e religiosas, sob a perspectiva político-
educacional. 
 
 
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Então, espero que você não apenas aprenda, mas também consiga desfrutar e se divertir 
nessas verdadeiras viagens e navegações que pretendemos empreender juntos nas 
próximas unidades. 
“Vejo” vocês na próxima! 
Atenção! As atividades sugeridas no corpo do módulo são apenas para desenvolver o 
seu autoestudo dirigido. Não haverá cobrança e nem há como nós, tutores, darmos 
qualquer feedback a essas atividades. Mas elas serão fundamentais para seu preparo 
para as atividades e avaliação on-line, mas principalmente para o seu preparo para a 
prova presencial, pois muitas questões poderão reaparecer nessas avaliações. 
 
Ementa 
Aproximação e estudo crítico das Filosofia, em seus vários campos com a Educação, com 
foco no aspecto político social. 
Reflexão filosófica sobre os principais temas que fundamentam a filosofia de todos os 
tempos e lugares. 
Aproximação e estudo crítico das principais correntes da reflexão filosófica com ênfase na 
filosofia da educação e suas tendências, no Brasil e mundo. 
 
Sobre o Autor 
Graduada em Teologia e Pedagogia, Especializada em Administração Escolar, Mestrado em 
Filosofia da Educação e Doutorado em Educação pela Universidade de São Paulo; 
 
 
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Pós-Doutora em História das Idéias Contemporâneas do Instituto de Estudos Avançados da 
Universidade de São Paulo; 
Professora, coordenadora de projetos de Educação à Distância e autora na área de 
Pedagogia e Filosofia. 
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SUMÁRIO 
UNIDADE 1 ........................................................................................................ 9 
O quê, quando, como, onde .................................................................................................. 9 
UNIDADE 2 ...................................................................................................... 16 
Clássicos da Filosofia I ........................................................................................................ 16 
UNIDADE 3 ...................................................................................................... 24 
O pensamento Aristotélico .................................................................................................. 24 
UNIDADE 4 ...................................................................................................... 35 
Clássicos da Filosofia III ...................................................................................................... 35 
UNIDADE 5 ...................................................................................................... 44 
Clássicos da Filosofia IV: Do Renascimento à Modernidade .............................................. 44 
UNIDADE 6 ...................................................................................................... 55 
Lógica, é lógico! .................................................................................................................. 55 
UNIDADE 7 ...................................................................................................... 61 
A metafísica ........................................................................................................................ 61 
UNIDADE 8 ...................................................................................................... 71 
Filosofia da Ciência I ........................................................................................................... 71 
UNIDADE 9 ...................................................................................................... 80 
Filosofia da ciência II ........................................................................................................... 80 
UNIDADE 10 .................................................................................................... 93 
Epistemologia ...................................................................................................................... 93 
UNIDADE 11 .................................................................................................. 102 
Filosofia da linguagem ...................................................................................................... 102 
UNIDADE 12 .................................................................................................. 109 
Filosofia Analítica .............................................................................................................. 109 
UNIDADE 13 .................................................................................................. 119 
Filosofia e Literatura .......................................................................................................... 119 
 
 
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UNIDADE 14 .................................................................................................. 126 
Filosofia da Mente ............................................................................................................. 126UNIDADE 15 .................................................................................................. 137 
Estética e Arte ................................................................................................................... 137 
UNIDADE 16 .................................................................................................. 146 
Filosofia, Psicanálise e Religião. ....................................................................................... 146 
UNIDADE 17 .................................................................................................. 155 
Filosofia Política ................................................................................................................ 155 
UNIDADE 18 .................................................................................................. 162 
Filosofia da Educação ....................................................................................................... 162 
UNIDADE 19 .................................................................................................. 170 
Filosofia Ética I .................................................................................................................. 170 
UNIDADE 20 .................................................................................................. 177 
Ética II ............................................................................................................................... 177 
UNIDADE 21 .................................................................................................. 189 
Tendências e Políticas Públicas da Educação – Panorama Histórico............................... 189 
UNIDADE 22 .................................................................................................. 200 
Políticas Públicas da educação - Panorama Histórico Recente ........................................ 200 
UNIDADE 23 .................................................................................................. 212 
Políticas Públicas da Educação: Tendências Pedagógicas .............................................. 212 
UNIDADE 24 .................................................................................................. 222 
Políticas Públicas de Educação: Dando nome aos bois .................................................... 222 
UNIDADE 25 .................................................................................................. 232 
Políticas Públicas de Educação - A Aprendizagem como Processo ................................. 232 
UNIDADE 26 .................................................................................................. 242 
Políticas Curriculares e Afirmativas ................................................................................... 242 
UNIDADE 27 .................................................................................................. 249 
Políticas Curriculares e Afirmativas ................................................................................... 249 
UNIDADE 28 .................................................................................................. 258 
Realidades Políticas e a Avaliação ................................................................................... 258 
 
 
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UNIDADE 29 .................................................................................................. 270 
Pós-modernismo ............................................................................................................... 270 
UNIDADE 30 .................................................................................................. 278 
Questões da atualidade .................................................................................................... 278 
GLOSSÁRIO .................................................................................................. 286 
BIBLIOGRAFIA .............................................................................................. 290 
 
 
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UNIDADE 1
O quê, quando, como, onde 
Objetivo: Compreender o significado e conceituação da filosofia. 
O filósofo é “aquele que se encontra num quarto escuro”, 
à procura de um gato preto que não está lá. 
E ele o encontra..." 
 Guimarães Rosa 
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Só para esquentar a cabeça e chegar à mesma conclusão de muitos pensadores, como 
Marx, por exemplo, de que ela não passa de uma náusea, que só serve para ludibriar as 
pessoas? Acontece que se não fosse pela sistematização de algumas ideias por homens 
como Marx e Engels, entre outros, muitos acontecimentos da história não teriam se dado no 
mundo (Revolução Russa, a Revolução Francesa, a Independência de Colônias, etc.). 
Você também pode achar que a filosofia é reservada àquelas cabeças privilegiadas que 
“sabem tudo”. 
 A verdade é que só é possível fazer filosofia, quando se tem consciência da própria 
ignorância. Se não, se soubéssemos de tudo, para que gastar tempo e neurônios 
filosofando? 
As grandes perguntas da humanidade, para as quais ainda não se tem resposta, os mistérios 
que trazem o espanto, são precisamente o que empurra o homem para a filosofia. 
E sempre que nos deparamos com o desconhecido, temos medo e nos sentimos inseguros, 
não é mesmo? O que diferencia o filósofo do homem comum e do cientista é que o filósofo 
não foge dos mistérios, mas tenta encará-los, mesmo sem garantia de solução precisa e 
resultados imediatos. 
Pois é, sei que muitos de vocês têm certos temores da filosofia. Bem, eu lhes digo que não 
poderia haver melhor condição para se ter sucesso num módulo como esse. Talvez você 
fique mais tranquilo em saber disso - a filosofia aprecia e estimula em grande parte essa 
atitude de susto e espanto. 
Ela faz perguntas o tempo todo, pois parte do pressuposto de que nós, seres humanos não 
temos domínio sobre a totalidade do real, Em princípio só pode entender a filosofia ou até 
filosofar quem concorda com Sócrates, quando dizia: “Só se sei que nada sei!”. 
Então, quer dizer que todo mundo filosofa quando faz perguntas sobre coisas que confessa 
ignorar? Em princípio, sim. Principalmente, quando quiser entendê-las a fundo e em 
comparação ao um todo. 
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A filosofia não quer descobrir quem matou fulano como um detetive, mas qual a natureza do 
assassinato e da morte em geral. Não quer desvendar a cura para determinada doença, mas 
o que é ser doente, o que é ser sadio. Nesse sentido, todos nós filosofamos. Não o tempo
todo, é claro, mas em alguns momentos especiais, que tendem a passar como uma brisa de 
vento numa tarde ensolarada. 
Entretanto, a maioria das pessoas não se dá conta de que está filosofando e acha que só os 
nerds, que vivem enfiados nos livros e a meio palmo do chão da realidade da vida “real”, 
filosofam. E o que consideram realidade, normalmente se refere às coisas materiais, ao 
mundo do trabalho e do consumo, enfim, ao visível e palpável “aqui e agora”, 
Na verdade, quando Sócrates pronunciou essas palavras, que se tornaram célebres, ele o 
fez porque algumas pessoas haviam perguntado ao Oráculo de Delfos quem ele considerava 
ser o mais sábio de todos os seres humanos e ele respondeu que era Sócrates. 
E qual foi a reação do sábio ao ficar sabendo disso? Ele 
disse humildemente: “Só sei que nada sei”. 
 Com isso, ele demonstrava toda a humildade necessária 
para a reflexão filosófica. Pois, quem é que precisa de 
filosofia, se já é um espertalhão sabe-tudo? Sim, isso vale 
também para você e para mim. Se você ou eu achamos 
que não existem mistérios no mundo, podemos desembarcar imediatamente desse navio. 
Pois ele é movido pela convicção de que “navegar é preciso” sempre!Esse, aliás, será o 
nosso lema. 
Como a filósofa brasileira Marilena Chauí (2000, 11-12), deixa claro em seu livro Convite à 
Filosofia, que muito nos inspira, filosofar é refletir, mas não sobre qualquer coisa e sim, sobre 
as grandes questões da vida: 
1. Por que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos e fazemos o que fazemos?
Isto é, quais os motivos, as razões e as causas para pensarmos o que pensamos,
dizermos o que dizemos, fazermos o que fazemos?
http://pt.wikipedia.org/wiki/Oraculo_de_delfos
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2. O que queremos pensar quando pensamos, o que queremos dizer quando falamos, o que
queremos fazer quando agimos? Isto é, qual é o conteúdo ou o sentido do que
pensamos, dizemos ou fazemos?
3. Para que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos, fazemos o que fazemos?
Isto é, qual é a intenção ou a finalidade do que pensamos, dizemos e fazemos?
Essas três questões podem ser resumidas em: O que é pensar, falar e agir? 
E elas pressupõem a seguinte pergunta: Nossas crenças cotidianas são ou não um saber 
verdadeiro, um conhecimento? Como vimos, a atitude filosófica inicia-se indagando: O que 
é? Como é? Por que é? Dirigindo-se ao mundo que nos rodeia e aos seres humanos que 
nele vivem e com ele se relacionam. São perguntas sobre a essência, a significação ou a 
estrutura e a origem de todas as coisas. 
Já a reflexão filosófica indaga: Por quê?, O quê?, Para quê?, dirigindo-se ao pensamento, 
aos seres humanos no ato da reflexão. São perguntas sobre a capacidade e a finalidade 
humanas para conhecer e agir. 
Então, a filosofia é um filosofar, ou seja, uma ação concreta, ao invés da condição daquele 
que anda olhando para o céu e em um minuto cai no primeiro buraco à sua frente. O filósofo 
alemão, Immanuel Kant, dizia que o filósofo é aquele que tem a cabeça aberta para o cosmo, 
enquanto os pés permanecem firmemente fincados no chão. E nisso toda a filosofia oriental, 
desde a chinesa até a greco-judaica, concordaria com a ocidental. 
Por outro lado, não é apenas quando fazemos perguntas que nos flagramos filosofando. 
Sempre que citamos algum provérbio popular, contamos uma história ou mencionamos 
algum livro religioso ou de sabedoria, ou recitamos algum poema, estamos nos aproximando 
“perigosamente” do campo da filosofia. 
E ao mesmo tempo, quase sem querer, acabamos ingressando também no campo da 
educação. Isto é, porque será que todos os pensadores da filosofia ocidental e o oriental 
foram mestres educadores, sem exceção? Bem, por estarem engajados precisamente nisso 
que chamamos de “grandes questões” da vida, também estaremos engajados em buscar 
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respostas e com isso também as queremos compartilhar com outros seres em busca de 
resposta. 
Em suma, a filosofia sempre envolve esse elemento de abertura para a totalidade do real, 
para o desconhecido, para o que se encontra e vai além do aqui e agora, da transcendência 
em contraposição à imanência. 
Mas a filosofia também acontece quando emitimos juízos de valor, ou consideramos algo 
justo, belo, verdadeiro ou inteligente. Acontece ainda quando temos que decidir que 
profissão escolher; com que tipo de pessoas andar; com quem se casar; ou mesmo, que 
roupa usar; ou confiar ou não em uma pessoa determinada para fechar um importante 
negócio. 
Fazendo isso, usamos necessariamente algum padrão de comparação ou pressuposto. 
Nesse sentido, como destaca o prof. Marco Antonio Franciotti, num dos textos propostos 
para este estudo, a filosofia pode ser comparada com a geografia. Ou seja, ela se ocupa de 
criar mapas orientativos da conduta e das decisões 
humanas. Nesse sentido ela também se aproxima da 
teologia, como ele tão bem destaca. 
Sem a filosofia, o mundo fica preto e branco, pois 
ninguém saberia distinguir as matizes de cor, seria 
desprovido de mistérios e, portanto, de encanto, de 
criatividade e de liberdade. 
 Seria vazio de expressões artísticas de todo tipo: 
literatura, teatro, cinema, pintura, escultura, etc. Se não fosse pela filosofia, as cidades 
funcionariam como uma máquina e não, como verdadeiras polis, ou seja, cidades, regidas 
pela política, ou arte do bom convívio e pela cidadania, que é o respeito ao direito e espaço 
do outro. 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Polis
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 O próprio ser humano se confundiria com um autômato. Sem filosofia, não haveria família. 
Todos viveriam como iguais num mundo perfeitamente eqüitativo e massificado. 
Todos tratariam os outros como número. Não haveria organizações com visão de futuro, não 
haveria a conquista do espaço e outras conquistas da ciência. Não haveria amor, nem 
amizade; muito menos fé e paz. 
Sem a filosofia, nem sequer haveria as outras áreas do conhecimento, pois, se para 
Aristóteles, a “teologia é a mãe de todas as ciências”, a filosofia é, no mínimo, o pai... 
Está certo que a filosofia não acaba com as injustiças e não basta termos uma Declaração 
Universal dos Direitos Humanos e o Estatuto da Criança e do Adolescente decretados para 
os termos realizados em ação. Mas já é alguma coisa. Como dizia o famoso educador Paulo 
Freire, que, como todo bom educador, não estabelece grande diferença entre a educação e 
filosofia: “a educação não pode tudo, mas pode alguma coisa”. 
Então, o quê é a filosofia mesmo? É claro que não existe uma definição precisa, mas uma 
das coisas é saber perguntar com uma atitude crítica, que tem dois pólos: o da aceitação das 
coisas que nos pareciam incompreensíveis e insólitas, e a da rejeição daquilo que se prova 
absurdo ou sem sentido. 
A crítica filosófica equivale, assim, a uma rede: tudo depende do tamanho da malha, como 
lemos em “Dois modos de ser crítico” de Josef Pieper proposto para essa unidade. 
Ela tem que reter o peixe que queremos pegar, mas também tem que deixar passar a bota 
imprestável, que não serve para nada. Já o peixe que queremos fisgar presta para muita 
coisa, até mesmo para o colocarmos num aquário e o ficarmos só admirando. 
Mas haveria um momento certo para filosofar? Não, na verdade esse momento se dá de 
repente, sem a gente tê-lo planejado: num passeio, numa conversa solta na cozinha, num 
bate-papo da internet ou mesmo no ponto, esperando o ônibus chegar. 
Mas na verdade, podemos localizar a origem da prática sistemática da filosofia na 
Antiguidade, particularmente entre os povos orientais e os gregos. Pretendemos apresentar-
http://www.unhchr.ch/udhr/lang/por.htm
http://www.unhchr.ch/udhr/lang/por.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L8069.htm
http://sl.wus0.com/quclk.go?rd=http://www.hottopos.com/videtur29/ljargport.htm&res=42&crid=0455091837cf1315&pos=3&mr=10&qu=admira%e7%e3o
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lhes alguns dos clássicos da filosofia nas próximas unidades. Depois trataremos de assuntos 
diversos, sem pretensão de que ninguém se torne expert em nenhum deles, não se 
preocupem!!! 
Então, a filosofia não é esse bicho de sete cabeças, com que alguns autores o pintam. Na 
verdade muitas vezes querem reservar para si o direito a esse saber ou impedir que outros o 
detenham. Nesse sentido, quem ainda não leu O Mundo de Sofia, de J. Gaadner, deveria 
fazê-lo. 
Não se trata de um livro acadêmico, mas perfeitamente compreensível. O autor pretende 
fazer o contrário de alguns intelectuais indigestos, desmistificando e popularizando a filosofia 
através da literatura de ficção. 
É claro que você que passa mal só de ver a grossura de livros assim (e sem uma só figurinha 
para refrescar...) terá as suas dificuldades no começo. Mas todas as leituras básicas e 
complementares aqui propostas foram cuidadosamente selecionadas e certamente o farão 
passar por experiências jamais vividas antes, e que o transportarão para tempos e lugares 
que talvez nunca virá aver de verdade. 
E certamente você terá bem mais desenvoltura na conversa com seus amigos e superiores 
se tiver lido muitos desses textos considerados clássicos do patrimônio da cultura comum a 
toda a humanidade.. 
O que acharam da nossa primeira unidade? 
Bem, ainda temos uma porção de textos para ler nesse módulo. 
“Vejo” vocês na próxima! 
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UNIDADE 2
Clássicos da Filosofia I 
Objetivo: Situar historicamente e contextualizar a origem de alguns conceitos sobre o 
pensamento filosófico e as maiores ideias e sabedorias de todos os tempos. 
Olá minha gente, 
Hoje vamos começar a nossa breve “viagem” para contextualização histórica da filosofia, a 
começar pelas regiões encantadoras da filosofia clássica. Para isso, nós nos inspiraremos 
em alguns clássicos da mitologia grega. Um dos fatores do nosso “encantamento” por essa 
filosofia são os mitos que balizavam o 
pensamento filosófico e as maiores ideias e 
sabedorias de todos os tempos. 
Mas é importante que você saiba que o estudo 
de filosofia não é sinônimo de “história da 
filosofia” ou dos “pensadores”, embora também 
nos propuséssemos a tratar desse assunto ao 
longo das unidades. Pois a história e os 
pensadores ajudam a nos situar historicamente e 
contextualizar a origem de alguns conceitos. 
Se bem que em filosofia, mais do que em 
qualquer outro campo do saber, nunca se sabe 
ao certo a autoria das ideias, pois, no fundo, 
ninguém é original. Como dizia Paulo Freire “ninguém ensina ninguém, todos aprendemos 
em cooperação e interação uns com os outros”. 
O universo da filosofia pré-socrática é muito vasto, vocês devem saber, e em grande parte 
desconhecido pelos longos séculos que nos separam dele. Nada que pudesse ser esgotado 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega
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em qualquer curso de infinita duração. Mas quem sabe consigamos despertar curiosidade 
suficiente em você para que se aventure a fazer suas investigações e incursões, por sua 
própria conta e risco e, por que não, um dia até estude a filosofia mais a fundo. 
Bem, de acordo com o resumo dos “Principais períodos da Filosofia” de Marilena Chauí da 
unidade passada, vamos começar pela filosofia grega. Outros a chamam de filosofia clássica 
ou antiga. O período helenístico foi o áureo da cultura grega. É claro, que antes dela, já havia 
toda uma filosofia oriental, com grande quantidade de pensadores. Infelizmente, os 
ocidentais pouco sabem dela. 
E a grande maioria dos filósofos dessa época eram também “educadores”, uma vez que 
costumavam ter discípulos (até Jesus Cristo seguiu essa estratégia pedagógica e muito 
filósofos a seguem até hoje) e fundar “escolas”. 
Nesse sentido, um dos primeiros filósofos desse período de que se tem registro foi Tales de 
Mileto (aprox. 580 a.C.), aquele que, dizem as más línguas, caiu num buraco, de tão “no 
mundo da lua” que andava. Ele fundou a chama escola “jônica”, que era basicamente 
“materialista” e procurava explicar o mundo todo, a partir da astronomia, a física, fenômenos 
meteorológicos, fazendo investigações científicas, principalmente com substâncias. Assim, a 
filosofia se “misturava” com a alquimia e a metafísica (calma, vamos estudá-la mais adiante). 
O discípulo de Tales, Anaximandro (aprox. 611- 547 a.C), defendia a ideia de que tudo 
tivesse se originado de um fluido invisível, intangível e infinito. Acreditava ainda que todos os 
corpos fossem compostos por substâncias observáveis, antecipando teorias modernas sobre 
a origem do cosmo. Sua teoria elucida as sensações de calor, frio, ocasionadas pelos 
elementos da natureza, terra, ar e fogo. 
Outro filósofo, que era defensor da ideia de uma substância primeira foi Anaxímenes, 
seguidor da filosofia Jônica, que foi um dos primeiros a defender que a luz da lua é 
proveniente do sol. 
Ele defendia que essa substância primeira devia ter sido gasosa. As transformações da 
natureza eram explicadas pela rarefação e condensação do ar. Ele foi o primeiro a identificar 
 
 
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diferenças qualitativas em função de alterações quantificáveis, o que foi fundamental para o 
desenvolvimento do que chamamos hoje de “método científico”. 
Além dessa linha mais físico-química, temos a matemática. Lembram do famoso teorema 
dos triângulos retângulos? Pois é, a fórmula da relação entre seus lados e seus ângulos 
recebeu o nome de Pitágoras, em homenagem a esse filósofo. 
Ao lado de Tales, Pitágoras (530 a.C.) foi uma das principais figuras do pensamento 
matemático antigo. Ele fundou uma escola que tinha elementos mais religiosos e místicos, do 
que propriamente filosóficos, procurando fazer a síntese entre o pensamento mitológico e o 
científico, que já estava fazendo seus primeiros ensaios. Para os pitagóricos, a totalidade das 
coisas pode ser reduzida a números, formas geométricas e a harmonia musical. 
Do ponto de vista religioso, eles conceberam uma teologia reencarnacionista e uma ética 
moralista, através da qual o corpo poderia ser vencido pela alma, de modo que a pessoa 
pudesse evoluir para graus mais elevados de existência nas vidas futuras. Para eles os 
corpos celestes seguem uma dança ou música, que pode ser 
terapêutica para o ser humano. Com isso, contribuíram muito 
para a matemática, a astronomia e a teoria musical. 
De resto, podemos “classificar” (nunca faça isso de modo 
absoluto) a filosofia entre epicuristas e estóicos. Como o próprio 
nome diz, os epicuristas seguiam as ideias de Epicuro, aprox. 
(341-270 a.C). 
 “Aproveitamos a “deixa” para comentar que em filosofia é bom 
nunca pensar que um seguidor traduza todas as ideias do seu 
“mestre” literalmente”. Por isso, costumamos chamá-los de “epígonos” (continuador das 
doutrinas do seu “mestre”). 
Epicuro fundou a sua escola em um jardim, o que era comum na época. Sua metodologia, 
além de “ecologicamente correta” era também boa para a saúde física, já que o filosofar se 
dava em movimento, ou seja, caminhando. Daí surgiu o nome de filósofos “peripatéticos”, 
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que significa “filósofos andantes”. Basicamente, fundavam sua cosmovisão no princípio do 
prazer. Dizem que grandes pensadores, como Marx e Nietzsche foram influenciados por 
essa escola. 
Já os estóicos (aprox. 300 a.C) estão no outro extremo da luta contra os desejos materiais e 
busca dos ideais metafísicos e abstratos. Eles se inspiraram principalmente em Sócrates, 
mas também nos céticos e seu moralismo, que beira o maniqueísmo. 
Eu sei, são “ismos” demais para a sua cabeça. Concordo. Mas é bom conhecê-las, inclusive 
para impedir cair nelas (ou quem sabe até, “aderir” a alguma delas, rsrsrs). 
Mas vamos em frente. Outros dois pensadores importantes da época ocupavam 
posicionamentos opostos sobre o estado “natural” das coisas. Um defendia a mudança, 
como princípio geral e o outro, a permanência. Heráclito defendeu a ideia de que “você não 
pode se banhar no mesmo rio duas vezes”. 
Ele também acreditava que tudo havia se originado do fogo, mas de um criador inteligente. 
Criou assim a teoria do Logos ou de uma Razão Criativa por trás de todas as coisas. Como 
veremos na unidade sobre a Filosofia da Religião, sua tese era panteísta (crença de que 
Deus está em tudo), posteriormente adotada pelos estóicos. 
Todo tipo de mudança geraria paradoxos, que foram estudados por um discípulo seu, 
chamado Zenão, considerado um dos fundadores do estoicismo. A preocupação dessa 
escola com a consistência lógica da mudança nas coisas representou uma importante base 
para a lógica científica. 
Já os seguidores de Parmênides (aprox. 515 a.C), fundaram a chamada Escola de Eléia, que 
defendia o estado de estabilidade esférica de todos os seres. Toda e qualquer mudança 
dessa estabilidadeé, segundo eles, contraditória e não-lógica. A única coisa de que se pode 
ter certeza é da unidade do ser. 
Temos no mundo grego pré-socrático ainda os pluralistas, que substituíram a ideia de uma 
só substância pela de várias, que usualmente são a terra, o ar, a água e o fogo, que se 
 
 
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combinariam e lutariam entre si. Com isso, o mundo sairia do caos e entraria nele novamente 
num eterno retorno. 
Pode-se considerar essa uma resposta alternativa e religiosa para a crença geral dos gregos 
em deuses personificados, sendo Zeus o maior de todos. 
 Um de seus defensores, Anaxágoras, acreditava numa “teoria da evolução cósmica”, que 
supõe que haveria uma mente mundial, 
responsável pela mudança e evolução das 
coisas. 
Eles também desenvolveram uma teoria da 
matéria, que influenciou outra escola, a dos 
atomistas. Eles deram um passo a mais em 
relação aos pluralistas. Inferiram que a matéria 
se compõe de partículas ínfimas, chamadas de 
átomos (que significa indivisível – hoje com a 
teoria nuclear já sabemos que eles são, sim, 
divisíveis), teoria essa bastante estudada por 
Demócrito, cuja visão de mundo era totalmente 
materialista. 
Para ele, o átomo, daí o nome, é a menor partícula da matéria. Assim, as sensações de frio, 
calor, gosto, cheiro são provocadas pela mudança de tamanho, forma e combinação de 
átomos das coisas. 
Ele também desenvolveu uma psicologia, fisiologia, teoria do conhecimento, ética e política 
deterministas, seguindo as leis da física. 
Mais uma palavra sobre os filósofos pré-socráticos, os já mencionados sofistas. Eles foram 
os primeiros a se autodenominar professores. Isso não soa bem, não é? Já que atrelamos a 
palavra “sofista” a “enganador”, “trapaceiro” e “malandro”. 
 
 
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Mas na verdade eles introduziram uma metodologia bastante interessante para se filosofar. 
Eles eram conhecidos como filósofos peripatéticos (isto é, não ensinavam numa sala de aula 
de quatro paredes, mas enquanto andavam pelos bosques e campinas). 
Eles tiveram um papel importante no desenvolvimento das cidades gregas de monarquias 
puramente agrárias para democracias comerciais. Mas na medida em que esses 
comerciantes novos-ricos tomavam o poder, sem a educação dos aristocratas, eles 
passavam a contratar as aulas dos sofistas para se prepararem para a vida política e social. 
Eles lhes ensinavam a falar em público e a fugir dos cobradores. 
Apesar da sua contribuição para o desenvolvimento grego, entretanto, eles acabaram 
adquirindo má-fama, por sua demagogia, mentiras e falta de ética. 
Um deles, Protágoras, dizia que “o homem é a medida de todas as coisas”. (E muitos 
pensadores da atualidade pensam assim até hoje, já repararam? Bem, vamos deixar isso 
para a última aula, certo?) Ou seja, cada um é responsável pelos seus atos e pela definição 
do bem e do mal. 
Eles negavam a existência de um conhecimento ou verdade objetiva, acreditando que tanto a 
ciência natural quanto a teologia tinham pouca importância, por terem nenhuma influência 
significativa sobre a vida cotidiana. Sua máxima era uma bastante conhecida entre nós: a do 
mínimo esforço para o proveito máximo. Ou para os íntimos: a lei de Gérson. 
Já no período clássico da filosofia grega, destacaram-se três 
pensadores, sendo que um foi discípulo de outro. 
O primeiro foi Sócrates (469-399), que viveu no auge da cultura e da 
economia do império grego. Nesse período floresciam não apenas a 
arte e a literatura, mas também a filosofia, pela relação de mestres e 
discípulos que formavam as chamadas “escolas” de pensadores 
que se reuniam nos mencionados jardins. 
Reuniam-se frequentemente numa delas, a chamada “academia”, em homenagem ao seu 
dono e doador, Academos (daí até hoje a palavra academia e seus derivados). 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Socrates
 
 
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Uma das discussões mais populares girava em torno de formas de argumentar melhor para 
quem estava endividado ou precisava se apresentar aos tribunais por um motivo ou outro. 
Por ensinarem as pessoas a se “safarem” de situações complexas, usando meios antiéticos, 
o nome de “sofista” continua sendo pejorativo até os dias de hoje, pois, na verdade, eles 
pouco se importavam com as grandes questões da vida, como a verdade, mas muito mais 
com técnicas para alcançar os objetivos interesseiros de cada um valendo-se das “armas” da 
retórica e da oratória. 
Tudo indica que a figura de Sócrates, da qual se tem tão pouca certeza, quanto de outras, se 
existiu mesmo ou passou de uma figura mitológica, abria uma exceção a essa regra. Mas 
sua filosofia é amplamente reconhecida como válida para o campo da filosofia, ao contrário 
de outras que até hoje se encaram mais como lendas, do que personagens históricos. Dizem 
até que o método socrático, também chamado de "maiêutico", inspirou-se na mãe de 
Sócrates, que teria sido parteira e teria financiado seus estudos e atuação como filósofo 
"livre". Mas o que se pode dizer, para citar novamente Chauí (2000, 44, 45): 
Como homem de seu tempo, Sócrates concordava com os sofistas em um ponto: por um 
lado, a educação antiga do guerreiro belo e bom já não atendia às exigências da sociedade 
grega, e, por outro lado, os filósofos cosmologistas defendiam ideias tão contrárias entre si 
que também não eram uma fonte segura para o conhecimento verdadeiro. (Nota: 
Historicamente, há dificuldade para conhecer o pensamento dos grandes sofistas porque não 
possuímos seus textos). Restaram fragmentos apenas. 
Por isso, nós os conhecemos pelo que deles disseram seus adversários - Platão, Xenofonte, 
Aristóteles - e não temos como saber se estes foram justos com aqueles. 
Os historiadores mais recentes consideram os sofistas verdadeiros representantes do 
espírito democrático, isto é, da pluralidade conflituosa de opiniões e interesses, enquanto 
seus adversários seriam partidários de uma política aristocrática, na qual somente algumas 
opiniões e interesses teriam o direito para valer para o restante da sociedade. 
 
 
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Discordando dos antigos poetas, dos antigos filósofos e 
dos sofistas, o que propunha Sócrates? Propunha que, 
antes de querer conhecer a Natureza e antes de querer 
persuadir os outros, cada um deveria primeiro e antes 
de tudo, conhecer-se a si mesmo. 
A expressão “conhece-te a ti mesmo” que estava 
gravada no pórtico do templo de Apolo, patrono grego 
da sabedoria, tornou-se a divisa de Sócrates. 
Por fazer do autoconhecimento ou do conhecimento que os homens têm de si mesmos a 
condição de todos os outros conhecimentos verdadeiros, é que se diz que o período 
socrático é antropológico, isto é, voltado para o conhecimento do homem, particularmente de 
seu espírito e de sua capacidade para conhecer a verdade. 
Sugerimos várias leituras para complementar essa unidade, o que fazemos em todas elas. 
Entre as leituras desta unidade, recomendamos a leitura do famoso “Mito da caverna” que se 
encontra na República de Platão, na versão de Marilena Chauí, bem como os demais textos 
de Platão, atribuídos a seu mestre Sócrates. 
Boa leitura e até a próxima unidade! 
 
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UNIDADE 3
O pensamento Aristotélico 
Objetivo: Conhecer o pensamento de Aristóteles, suas convicções, crenças, através dos 
escritos feitos por Platão. 
Minha gente, 
Sei que vocês devem achar que com Sócrates e Platão e os contadores de histórias ou 
mitologias que os antecederam, já temos filosofia suficiente para darmos conta da 
Antiguidade. Errado! 
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A diferença do mais importante discípulo de Sócrates em relação ao seu mestre foi que 
Platãodeixou um legado escrito, seu e do seu mestre, tanto que fica difícil diferenciar um de 
outro nos seus escritos. 
Sócrates acreditava que escrever as coisas faz com que elas se degradem e caiam no 
esquecimento. Por isso nunca escreveu nada, da mesma forma que Cristo. 
Ele saía pelas praças e ruas de Atenas, fazendo as perguntas que ninguém mais fazia. 
Chauí (200, 45-46) registra um desses debates entre Sócrates e seus discípulos, em que ele 
aponta para a importância de certos conceitos, discutindo, antes de tudo, o que eles são em 
si (a coragem, a beleza, a justiça e a amizade). E com tais perguntas, ele conseguia o que 
queria: fazer com que, através do espanto e do susto, eles descobrissem que, no fundo, 
ignoravam todos esses conceitos que diziam conhecer. Esse também era conhecido como 
método da ironia, que era parte integrante do seu método mais amplo. A ironia estava em 
fazer os outros perceberem que, no fundo, não conheciam os conceitos sobre os quais 
queriam discutir. 
Pois é, assumindo a sua própria ignorância primeiro, ele conquistava autoridade para 
convencer as outras pessoas (ou melhor, conscientizá-las) de que também não sabiam. Ele 
descobriu que ninguém que pensa que sabe alguma coisa pode aprender. Então, 
ironicamente, esse mesmo não-saber é o que faz as pessoas buscarem o saber, e, no final 
das contas, saber alguma coisa, a parte boa da ironia. 
E esse método de tirar as pessoas de sua zona de conforto para galgar o saber também foi 
um dos diferenciais da pedagogia de Piaget e Vigotski, que são atualíssimos. Então, 
surpreendia novamente quando, ao invés de responder a essas coisas, fazia novas 
perguntas, levando seus interlocutores mesmo chegarem às respostas pretendidas, se é que 
ele mesmo as tinha. Sua estratégia parecia ser antes, a do “só sei que nada sei”, buscando, 
partindo da ignorância, chegar à essência, idéia, valor ou verdade das coisas, em 
contraposição à sua opinião. 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Platao
 
 
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Assim, suas perguntas sempre giravam em torno do fundamento último, da base das coisas, 
não penas individuais e isoladas, sobre a ética de cada um, mas sobre o bem comum, sobre 
as coisas relativas à cidadania e a boa convivência. 
Com isso, é claro que ele não se tornava muito popular, diante dos sofistas que não estavam 
nada contentes em ser lembrados de sua própria ignorância. 
 Tornando-se uma concorrência desleal, não apenas pelo seu método revolucionário e sua 
ênfase na verdade das coisas, que os outros preferiam mais é falsear e contornar, mas o 
pior: sem cobrar um tostão de seus discípulos, já que era financiado por sua mãe, que era 
parteira. Sócrates se inspirou nela para dar nome a esse método das perguntas e do diálogo. 
Maiêutica quer dizer isso mesmo – ajudar os outros a conceber a verdade das coisas. 
Mas tudo isso são apenas boatos, que não têm fundamentação histórica certa comprovada. 
Há quem defenda até que Sócrates e Platão não passassem de personagens lendários. 
Em todos os casos, diz a história que esse seu jeito, ele incomodava também aos 
governantes, já que fazia o povo pensar e 
refletir, o que sempre representou uma 
ameaça para eles. Então ele acabou sendo 
acusado de várias coisas, que não cometeu, 
não se defendendo em nenhum momento 
contra seus acusadores: 
Por que Sócrates não se defendeu? “Porque”, 
dizia ele, “se eu me defender, estarei aceitando 
as acusações, e eu não as aceito. 
Se eu me defender, o que os juízes vão exigir 
de mim? Que eu pare de filosofar. Mas eu 
prefiro a morte a ter que renunciar à Filosofia. 
O julgamento e a morte de Sócrates são 
 
 
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narrados por Platão numa obra intitulada Apologia de Sócrates, isto é, a defesa de Sócrates, 
feita por seus discípulos, contra Atenas. 
Sócrates nunca escreveu. O que sabemos de seus pensamentos encontra-se nas obras de 
seus vários discípulos, e Platão foi o mais importante deles. 
Se reunirmos o que esse filósofo escreveu sobre os sofistas e sobre Sócrates, além da 
exposição de suas próprias ideias, poderemos apresentar como características gerais do 
período socrático: 
 A Filosofia se volta para as questões humanas no plano da ação, dos 
comportamentos, das ideias, das crenças, dos valores e, portanto, se preocupa com 
as questões morais e políticas. 
 O ponto de partida da Filosofia é a confiança no pensamento ou no homem como um 
ser racional, capaz de conhecer-se a si mesmo e, portanto, capaz de reflexão. 
Reflexão é a volta que o pensamento faz sobre si mesmo para conhecer-se; é a 
consciência conhecendo-se a si mesma como capacidade para conhecer as coisas, 
alcançando o conceito ou a essência delas. 
 Como se trata de conhecer a capacidade de conhecimento do homem, a preocupação 
se volta para estabelecer procedimentos que nos garantam que encontramos a 
verdade, isto é, o pensamento deve oferecer a si mesmo caminhos próprios, critérios 
próprios e meios próprios para saber o que é o verdadeiro e como alcançá-lo em tudo 
o que investiguemos. 
 A Filosofia está voltada para a definição das virtudes morais e das virtudes políticas, 
tendo como objeto central de suas investigações a moral e a política, isto é, as ideias 
e práticas que norteiam os comportamentos dos seres humanos tanto como indivíduos 
quanto como cidadãos? (...) 
 É feita, pela primeira vez, uma separação radical entre, de um lado a opinião e as 
imagens das coisas, trazidas pelos nossos órgãos dos sentidos, nossos hábitos, pelas 
tradições, pelos interesses, e, de outro lado, as ideias. 
 
 
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 As ideias se referem à essência íntima, invisível, verdadeira das coisas e só podem 
ser alcançadas pelo pensamento puro que afasta os dados sensoriais, os hábitos 
recebidos, os preconceitos e as opiniões. 
 A reflexão e o trabalho do pensamento são tomados como uma purificação intelectual, 
que permite ao espírito humano conhecer a verdade invisível, imutável, universal e 
necessária. 
 A opinião, as percepções e imagens sensoriais são consideradas falsas, mentirosas, 
mutáveis, inconsistentes, contraditórias, devendo ser abandonadas para que o 
pensamento siga seu caminho próprio no conhecimento verdadeiro. 
 A diferença entre os sofistas, de um lado, e Sócrates e Platão, de outro, é dada pelo 
fato de que os sofistas aceitam a validade das opiniões e das percepções sensoriais e 
trabalham com elas para produzir argumentos de persuasão, enquanto Sócrates e 
Platão consideram as opiniões e as percepções sensoriais, ou imagens das coisas, 
como fonte de erro, mentira e falsidade, formas imperfeitas do conhecimento que 
nunca alcançam a verdade plena da realidade. 
Mas além de Platão e Sócrates, o mundo grego não teria sido o mesmo sem outra terceira 
figura memorável Aristóteles, cuja grande diferença em relação a Sócrates e Platão é ter 
desenvolvido um sistema completo dos saberes, ou seja, uma metafísica. Em outras 
palavras ele criou uma física ou ciência que vai além (é esse o significado dos prefixos 
“meta” ou “trans”) dela mesma, dando explicação a todo o universo e à essência das coisas. 
Outra diferença importante é que Aristóteles superou o chamado dualismo de seus mestres. 
Para ele as coisas não se dividem em dois extremos opostos: o estático e o dinâmico; o 
mundo das ideias e o da matéria; o corpo e a alma; sendo que o corpo constitui o “cárcere da 
alma”. 
Platão preconizava que o corpo deveria ser domado pela alma como um cavalo xucro. Já 
para Aristóteles, tudo, inclusive o corpo e a alma se constituem de um misto que se encontra 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Especial:Search?search=aristoteles&fulltext=Pesquisa
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entre dois extremos: o ato e a potência. Nada se encontraabsolutamente estático entre eles 
nem mesmo as ideias, ou principalmente elas. 
Vamos dar um exemplo prático: Se eu segurasse uma pedra agora mesmo no ar, vocês 
diriam que ela tem energia? “É claro que não, ela está parada!”, sugeririam alguns. Mas na 
verdade, mesmo parada, a pedra contém energia, coisa que vocês deveriam ter aprendido 
em suas aulas de física mecânica. Ts, ts, ts! Lamentável! Pois a física é para Aristóteles a 
ciência que mais se parece com a filosofia e com a própria natureza, que para ele foi criada 
do nada pelo Ato Puro, que é Deus. 
A pedra tem, sim, uma energia, que se chama potencial. Basta uma coisa, para que ela se 
manifeste em ato: abrir a mão. Não precisa nem jogar a pedra para cima, já que a força da 
gravidade se encarrega de transformar a energia potencial em cinética sozinha. 
Assim são as coisas do mundo: nem ato puro, nem potência pura e só. É preciso distinguir o 
que é ato e o que, potência. Algumas características já se realizaram em ato, enquanto as 
outras ainda se encontram em potência. 
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É mais fácil observar essa dinâmica numa criança. Ela está constantemente desenvolvendo 
potenciais, enquanto o adulto parece ter “congelado” em alguns aspectos. Realização Pura 
de todas as potencialidades seria a perfeição, que só o Primum Móbile (Primeiro Movedor) 
de todo o universo pode apresentar. Potência pura, quem sabe um feto, mas até esse já tem 
energia potencial transformada em ação, desde que a vida surgiu nele. 
Quanto à sua metafísica, Chauí (2000, 49-50) comenta que Aristóteles apresenta uma 
verdadeira enciclopédia de todo o saber que foi produzido e acumulado pelos gregos em 
todos os ramos do pensamento e da prática considerando essa totalidade de saberes como 
sendo a Filosofia. 
Esta, portanto, não é um saber específico sobre algum assunto, mas uma forma de conhecer 
todas as coisas, possuindo procedimentos diferentes para cada campo de coisas que 
conhece. Além de a Filosofia ser o conhecimento da totalidade dos conhecimentos e práticas 
humanas, ela também estabelece uma diferença entre esses conhecimentos, distribuindo-os 
numa escala que vai dos mais simples e inferiores aos mais complexos e superiores. Essa 
classificação e distribuição dos conhecimentos fixou, para o pensamento ocidental, os 
campos de investigação da Filosofia como totalidade do saber humano. 
Cada saber, no campo que lhe é próprio, possui seu objeto específico, procedimentos 
específicos para sua aquisição e exposição, formas próprias de demonstração e prova. Cada 
campo do conhecimento é uma ciência (ciência, em grego, é episteme). 
Aristóteles afirma que, antes de um conhecimento constituir seu objeto e seu campo 
próprios, seus procedimentos próprios de aquisição e exposição, de demonstração e de 
prova; deve, primeiro, conhecer as leis gerais que governam o pensamento, 
independentemente do conteúdo que possa vir a ter. 
O estudo das formas gerais do pensamento, sem preocupação com seu conteúdo, chama-se 
lógica, e Aristóteles foi o criador da lógica como instrumento do conhecimento em qualquer 
campo do saber. A lógica não é uma ciência, mas o instrumento para a ciência e, por isso, na 
classificação das ciências feita por Aristóteles, a lógica não aparece, embora ela seja 
 
 
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indispensável para a Filosofia e, mais tarde, tenha se tornado um dos ramos específicos 
dela... 
Mais adiante, ela nos fornece um quadro bastante resumido do sistema de ciências 
desenvolvido por Aristóteles. 
Vejamos, pois, a classificação aristotélica: 
 Ciências produtivas: ciências que estudam as práticas produtivas ou as técnicas, isto 
é, as ações humanas cuja finalidade está para além da própria ação, pois a finalidade 
é a produção de um objeto, de uma obra. 
 São elas: arquitetura (cujo fim é a edificação de alguma coisa), economia (cujo fim é a 
produção agrícola, o artesanato e o comércio, isto é, produtos para a sobrevivência e 
para o acúmulo de riquezas), medicina (cujo fim é produzir a saúde ou a cura), pintura, 
escultura, poesia, teatro, oratória, arte da guerra, da caça, da navegação, etc. 
Em suma, todas as atividades humanas técnicas e artísticas que resultam num 
produto ou numa obra. 
 Ciências práticas: ciências que estudam as práticas humanas enquanto ações que 
têm nelas mesmas seu próprio fim, isto é, a finalidade da ação se realiza nela mesma, 
é o próprio ato realizado. 
 
 
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São elas: ética, em que a ação é realizada pela vontade guiada pela razão para 
alcançar o bem do indivíduo, sendo este bem as virtudes morais (coragem, 
generosidade, fidelidade, lealdade, clemência, prudência, amizade, justiça, modéstia, 
honradez, temperança, etc.); e política, em que a ação é realizada pela vontade 
guiada pela razão para ter como fim o bem da comunidade ou o bem comum. 
 Para Aristóteles, como para todo grego da época clássica, a política é superior à 
ética, pois a verdadeira liberdade, sem a qual não pode haver vida virtuosa, só é 
conseguida na polis. Por isso, a finalidade da política é a vida justa, a vida boa e bela, 
a vida livre. 
 Ciências teoréticas, contemplativas ou teóricas: são aquelas que estudam coisas que 
existem independentemente dos homens e de suas ações e que, não tendo sido feitas 
pelos homens, só podem ser contempladas por eles. Theoria, em grego, significa 
contemplação da verdade. 
 O que são as coisas que existem por si mesmas e em si mesmas, independentes de 
nossa ação fabricadora (técnica) e de nossa ação moral e política? São as coisas da 
Natureza e as coisas divinas. 
Aristóteles, aqui, classifica também por graus de superioridade as ciências teóricas, indo da 
mais inferior à superior: 
 
 
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1. Ciência das coisas naturais submetidas à mudança ou ao devir: física, biologia, 
meteorologia, psicologia (pois a alma, que em grego se diz psychê, é um ser natural, 
existindo de formas variadas em todos os seres vivos, plantas, animais e homens); 
2. Ciência das coisas naturais que não estão submetidas à mudança ou ao devir: as 
matemáticas e a astronomia (os gregos julgavam que os astros eram eternos e 
imutáveis); 
3. Ciência da realidade pura, que não é nem natural mutável, nem natural imutável, nem 
resultado da ação humana, nem resultado da fabricação humana. Trata-se daquilo 
que deve haver em toda e qualquer realidade, seja ela natural, matemática, ética, 
política ou técnica, para ser realidade. 
É o que Aristóteles chama de ser ou substância de tudo o que existe. A ciência teórica 
que estuda o puro ser chama-se metafísica; 
4. Ciência teórica das coisas divinas que são a causa e a finalidade de tudo o que existe 
na Natureza e no homem. Vimos que as coisas divinas são chamadas de theion e, por 
isso, esta última ciência chama-se teologia. 
A Filosofia, para Aristóteles, encontra seu ponto mais alto na metafísica e na teologia, de 
onde derivam todos os outros conhecimentos. A partir da classificação aristotélica, definiu-se, 
no correr dos séculos, o grande campo da investigação filosófica, campo que só seria 
desfeito no século XIX da nossa era, quando as ciências particulares se foram separando do 
tronco geral da Filosofia. 
Assim, podemos dizer que os campos da investigação filosófica são três: 
1. . O do conhecimento da realidade última de todos os seres, ou da essência de toda a 
realidade; 
2. . O do conhecimento das ações humanas ou dos valores e das finalidades da ação 
humana: das ações que têm em si mesmas sua finalidade, a ética e a política, ou a 
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vida moral (valores morais) e a vida política (valores políticos); e das ações que têm 
sua finalidade num produto ou numaobra: as técnicas e as artes e seus valores 
(utilidade, beleza, etc.); 
3. . O do conhecimento da capacidade humana de conhecer, isto é, o conhecimento do
próprio pensamento em exercício.
 Aqui, distinguem-se: a lógica, que oferece as leis gerais do pensamento; a teoria do 
conhecimento, que oferece os procedimentos pelos quais conhecemos; as ciências 
propriamente ditas e o conhecimento do conhecimento científico, isto é, a epistemologia. 
Vai até aqui a segunda parte dos nossos “clássicos da filosofia”, pessoal! Mas na unidade 
que vem tem mais! 
Leiam os textos disponibilizados nessa unidade, participem do primeiro fórum do curso e me 
aguardem para a próxima! Até lá! 
 
 
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UNIDADE 4 
Clássicos da Filosofia III 
Olá minha gente, 
A essa altura, você já deve ter se identificado com alguma linha clássica da filosofia ou 
(espero) pelo menos simpatizado com algum pensador e detestado outros. E isso é 
perfeitamente normal. Mas é melhor que você se esforce por se manter imparcial até o final 
do curso – sei que é difícil, mas é importante que você dê ouvidos a todas as abordagens 
possíveis, antes de tirar conclusões precipitadas. Quanto mais fizer isso, mais certeza terá 
sobre a filosofia de vida, que quer adotar para si mesmo. Isso inclui aquela tendência que eu 
estarei voluntária ou involuntariamente propondo nas entrelinhas desse curso. Então vamos 
avançar mais um pouco. 
Como dizia na unidade passada, três grandes 
pensadores marcaram a filosofia clássica grega: 
Sócrates, Aristóteles e Platão. Depois deles, do 
século IV até o nascimento do cristianismo, 
predominaram quatro escolas, que se dedicavam 
principalmente às questões da ética e da religião: 
A dos epicuristas, fundada em 306 a.C. por Epicuro, 
funcionava no jardim de sua casa em Atenas. Ele foi 
muito influenciado pela filosofia física dos atomistas, 
implantando algumas modificações nela. Ao invés da movimentação aleatória dos átomos 
em todas as direções, ele admitia o elemento do acaso e a imprevisibilidade na sua teoria 
física, dando base para a doutrina do livre arbítrio. Ele valorizava a ciência apenas na medida 
em que pudesse ser útil para a tomada da acondecisão e a defesa contra o medo dos 
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deuses e da morte. O objetivo da vida humana - defendia ele - era de alcançar o máximo de 
prazer, que para ele era sinônimo de ausência de sofrimento. 
Os epicuristas, apesar de terem sido conhecidos por seus baixos padrões morais de vida, 
levada despreocupadamente, tinham uma ética materialista que muito influenciou Marx em 
suas teorias sociais e políticas. E se assistiram o filme Sociedade dos Poetas Mortos, terão 
uma ideia de como eles pensavam, na figura daquele professor carismático, que vivia a 
repetir: Carpe Diem – Viva o Dia. 
Já a escola dos estóicos foi fundada em Atenas, por volta de 
310 a.C., tendo sido precedida pelos cínicos, que rejeitavam as 
instituições sociais e os valores materiais. A liberdade pode ser 
conquistada apenas depois da negação da ambição ou busca 
por riquezas e dedicação plena à razão e virtude. Essa escola 
influenciou os maiores pensadores do império greco-romano. 
Eles seguiam a filosofia de Heráclito, quanto aos quatro 
elementos básicos de que se compõe a natureza e na sua 
adoração do Logos, que consideravam ser a síntese da energia, lei, razão e providência da 
natureza. Isso é possível na medida em que a razão humana faz parte da divina. Isso resulta 
no universalismo, a ideia de que todos participavam de uma divindade única, abriu alas para 
uma religião única, o cristianismo. 
De outro lado, a escola dos céticos, muito influenciada pela dos estóicos e pela crítica dos 
sofistas ao conhecimento objetivo, foi bastante forte desde o terceiro século, principalmente 
entre os platonistas. Uma das suas ferramentas básicas, segundo Zenão de Eléia, era a 
lógica, capaz de desconstruir de forma elegante qualquer positivismo. Sua doutrina básica é 
que o ser humano não pode ter conhecimento sobre a realidade e que o caminho para a 
felicidade, portanto, encontra-se na total suspensão do julgamento. Eles não acreditavam em 
qualquer possibilidade de certeza. 
Finalmente, o neoplatonismo, uma das escolas filosóficas e religiosas mais importantes como 
contraponto ao cristianismo, foi fundado no terceiro século d. C. por Plotino e outro filósofo 
 
 
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37 
menos conhecido. Plotino fundou suas ideias sobre Platão, os pitagóricos e Filo, um filósofo 
judaico que tentou a síntese do pensamento grego com o judaísmo. Para Plotino, o papel 
principal da filosofia é de preparar os indivíduos para a experiência de êxtase no 
relacionamento com Deus. Deus, ou o Um, o Logos, do qual emana todo o universo, por um 
processo misterioso de superabundância de energia, encontra-se além da compreensão 
racional, sendo a fonte da realidade. 
O maior objetivo da vida é de purificar-se da dependência do conforto material, e por meio da 
meditação filosófica, preparar-se para o encontro transcendental com Ele. Grandes 
pensadores da Idade Média foram influenciados primeiro pelo Neoplatonismo, do que por 
Platão, cujos escritos só lhes foram resgatados e trazidos anos mais tarde pelos árabes. 
A essas alturas do campeonato, Cristo já havia surgido, cumprido sua missão e encarregado 
seus discípulos de implantarem e expandirem o cristianismo pela terra. Os chamados “pais 
da igreja” ou primeiros que sistematizaram a teologia cristã, realizando estudos profundos 
dos filósofos pagãos. Com isso, estabeleceram um diálogo entre os mesmos e os 
ensinamentos de Cristo e das Sagradas Escrituras. Dessa forma, é possível estabelecer 
várias intersecções e sobreposições entre os mesmos, principalmente os neoplatônicos. 
Santo Agostinho, que foi professor de retórica, oratória e filosofia em Roma e Tagaste, 
passou de uma vida devassa e imoral para o cristianismo, sob a influência de sua mãe, 
Mônica, que, apesar de cristã, ainda praticava diversos ritos greco-judaicos. Ele se destacou 
no esforço de reconciliação do cristianismo com a filosofia pagã. Desenvolveu ainda um 
sistema de pensamento, que se tornou base para diversas ciências modernas, como a 
historiografia, a psicologia, a crítica literária e a psicanálise. 
Sua influência fez com que o cristianismo sofresse forte influência do (neo)platonismo, pelo 
menos, até o século XIII, quando o pensamento aristotélico se tornou predominante. Para ele 
a filosofia e a religião são complementares e não opostas, e a fé é pressuposta à razão. Mas 
a alma continua sendo supervalorizada em relação ao corpo. 
 
 
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Agostinho, que é considerado iniciador não apenas da psicanálise, foi também da filosofia da 
história, que via como uma luta dramática entre o bem e o mal, como se pode observar na 
sua obra clássica, Cidade de Deus, mas não de forma dualista. 
O livro de Fernando Meireles, que virou filme, inspirado em um bairro do subúrbio do Rio, 
assim chamado, como vocês devem lembrar, pouco ou nada tem a ver com Agostinho, a não 
ser o tema do mal, misturado com o bem numa realidade brasileira bem concreta. 
Para Agostinho, existem três cidades: a cidade de Deus, que começa no aqui e no agora e 
se cumpre no Reino de Deus; a cidade do mal, que começa igualmente aqui e termina na 
perdição eterna; e a cidade mista, que é a que predomina na história. De acordo com 
Agostinho, a verdadeira felicidade só pode ser obtida no além, na comunhão com Deus. A 
pouca felicidade que podemos ter hoje, representa um aperitivo da que poderemos obter na 
eternidade. Sua visão do tempo, memória e experiência religiosa interna inspirou grande 
parte da metafísica e filosofia da religião posterior. 
Depois dele, no séc.VI, Boécio reavivou o interesse 
pela filosofia grega ao traduzir importantes obras, 
principalmente Aristotélicas. Sua principal obra A 
Consolação da Filosofia, tornou-se basilar para a 
formação da filosofia cristã. No século IX houve uma 
tentativa de interpretar o cristianismo à luz do 
panteísmo neoplatônico. 
Já no séc. XI, o reavivamento do pensamento 
filosófico começou em decorrência do contato 
crescente entre religiosos de diferentes partes do 
mundo ocidental. As obras de Platão, Aristóteles e 
outros pensadores gregos foram traduzidas pelos 
estudiosos árabes e trazidas para a Europa. Filósofos muçulmanos, judeus e cristãos 
interpretaram e esclareceram esses escritos, no esforço por conciliar a filosofia com a fé 
religiosa e providenciar bases racionais para a fé cristã. O legado desses autores 
 
 
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estabeleceu o fundamento do escolasticismo, que era criticado por não se interessar tanto 
por novas descobertas, e mais pelo debate das grandes questões da vida. 
Esse método é confundido ou substituído por aquele adotado pelos jesuítas na América 
Latina e na Europa, depois da Idade Media, no período da contra-reforma, que infelizmente 
levou o mesmo nome. O que foi sistematizado como Ratio Studiorum, com a lista dos “livros 
proibidos” (que aparece no livro e filme O Nome da Rosa) preservava apenas a rigidez e 
clima da época da “Santa inquisição”. A metodologia partia da quaestio disputata, muitas 
vezes vindas do povo era discutida com claras regras de respeito à opinião e dignidade do 
outro. Só após a lectio, ou leituras comuns de textos relacionados à questão, partia-se para a 
discussão, primeiro, arrolando as posições a favor, e depois, contra a questão. Ao final, o 
“mestre” encerrava com a determinatio, que era na verdade, uma provocação para mais 
questões. Era, portanto uma educação bastante democrática, que deu base para a 
democratização do ensino. A riqueza de tais debates levou à fundação das primeiras 
universidades. Assim, o método de ensino-aprendizado nessa época era o da argumentação 
dialética e dialógica, associada à filosofia neoplatônica e árabe, e à poesia judaica. 
A visão contrária ao realismo escolástico, o nominalismo, defendia que somente os objetos 
individuais e concretos existem e que os universais, as formas essenciais e as ideias usadas 
para classificar as coisas, não passam de etiquetas, negando a existência de substâncias 
intangíveis. O famoso romance Abelardo e Heloísa. Essa história dramática aparentemente 
verídica ocorrida entre Heloísa e o filósofo Pedro Abelardo iniciou-se em Paris, no período 
entre o final da Idade Média e o início da Renascença (séc. XII). Ela gira em torno da 
polaridade entre nominalistas, vulgarmente conhecidos como materialistas e os escolásticos, 
também conhecidos como idealistas. Acabou assim por criar uma síntese dialética, mais 
conhecida por conceitualismo, que atribuía aos nomes um caráter particular e aos seus 
sentidos, o universal. Com isso, pode fazer distinção entre a lógica e a metafísica, pelo que 
estabeleceu as bases da escolástica e da síntese tomista, que acrescentou à influência 
neoplatônica, a lógica, epistemologia e ética aristotélica. 
O extenso período da Idade Média costuma ser dividido em três fases: a 
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Patrística, ou Antiguidade Tardia, ou Idade Média Antiga, que vai do início no séc. V até o 
séc. X; a 
Alta Idade Média, que começa aprox. em 1.050, com as cruzadas, o 
nascimento da cultura gótica e a superação do sistema feudal, 
unificando a Europa; e a 
Baixa Idade Média, que se estende do século XIV até o XV, pautada 
pela luta política e desenvolvimento das ciências, além do surgimento 
de uma nova espiritualidade, buscada no isolamento individual ou em 
grupos, as chamadas ordens. 
Os pensadores de maior destaque são, respectivamente, Santo 
Agostinho e Boécio, para a primeira fase; São Abelardo e Santo Tomás de Aquino, para a 
segunda – esse é o ápice com o surgimento das Universidades e campos do saber mais 
sistematizados, embora ainda não fragmentados -; e Guilherme de Ockham. Na terceira fase, 
marcada ainda em meados do séc. XIV pela Peste negra, expansão do comércio e o 
surgimento de líderes messiânicos, era forte ainda o mencionado nominalismo, sobre a qual 
Umberto Eco escreveu seu famoso O Nome da Rosa e que muitas vezes faz o público 
reduzir todo período da Idade Média a essa fase final. 
A escolástica destacou-se no período da Alta Idade Média como um 
método de estudo e ensino bastante inovador e democrático. 
Infelizmente ele foi posteriormente distorcido e esvaziado pelos jesuítas 
e outros religiosos da contra-reforma. Ele era dividido em três fases: 
lectio, disputatio e determinatio. Na lectio, todos liam uma determinada 
quantidade de livros e autores, sagrados e profanos em comum, 
levantando questões sobre eles ou colhendo questões teológicas 
provenientes do povo. A disputatio, que vinha logo em seguida, era a fase do debate, em que 
eram seguidas regras muito claras de respeito ao próximo e à verdade. O debate não 
poderia ter prosseguimento, se não estivesse claramente fundamentado ou na autoridade ou 
na razão. O mestre só interferia com conceitos e preleções no final, procurando fazer uma 
 
 
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síntese entre os argumentos contra e a favor da coisa em disputa, mas que normalmente 
levava a uma nova questão a ser discutida numa próxima aula. 
Muitos anos mais tarde, o filósofo alemão Hegel viria a denominar esse método de 
“dialético”, sendo suas fases da “tese”, da ”negação da tese” e da “negação da negação da 
tese”. Outros epígonos passaram a chamá-las de “tese”, “antítese” e “síntese”. 
Esse método combinava muito bem também com o 
currículo da época pelo fato de ter sido altamente 
“holístico”, composto pelas chamadas “artes liberais”, que 
hoje poderiam ser chamadas de “competências e 
habilidades” básicas para uma formação humana integral. 
Ele resgatava e refletia o ideal de educação como paidéia, 
palavra altamente complexa, cujo sentido já foi perdido 
pelas línguas e culturas ocidentais, como deixou claro o 
historiador alemão, Werner Jaeger. 
Apesar desses pensadores importantíssimos para o avanço 
do saber, que eram todos religiosos, a igreja medieval 
costuma ser pintada como “vilã da história”. 
O que os historiadores só descobriram recentemente é que, se não tivessem sido os 
mosteiros e os monges estudiosos dos antigos escritos, que se preservaram nos lugares 
religiosos, não teria havido renascimento. Isso é evidente, pois os mosteiros e monastérios 
eram os únicos lugares que os bárbaros não ousaram invadir após a queda de Roma. O fato 
de os seminaristas da época e candidatos à batina terem tido tempo e vontade de sobra para 
o estudo e tradução desses documentos contribuiu muito. 
Apesar de ser conhecida como Idade das Trevas, devido à Santa Inquisição, as ordens 
mendicantes que pregavam a autoflagelação e as doenças que dizimavam populações 
inteiras, os mil anos iniciados com a invasão da biblioteca de Alexandria – o marco do 
império cultural greco-romano, terminando com a Queda do último pedaço do Império 
 
 
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Romano, a Constantinopla - foi extremamente importante para o desenvolvimento posterior 
da ciência e da tecnologia. 
Nesse sentido, é difícil estabelecer uma linha clara de passagem da Idade Média para o 
Renascimento. Muitos autores como Dante (A Divina Comédia), João Milton (Paraíso 
Perdido) e pensadores como Erasmo de Rotterdam (Utopia) e Tomás A. Kempis (Imitação de 
Cristo), embora fossem renascentistas, demonstram ainda fortes traços do pensamento 
medieval, que também pode ser entendido como pensamento antigo e judaico cristianizado.É claro que a discussão sobre o que deve predominar como critério de verdade - a tradição 
da igreja e das Escrituras ou a razão - durou praticamente o período todo, sendo que o 
triunfo da razão sobre a fé foi brindado pelos filósofos renascentistas e do Iluminismo ou 
Época das Luzes. 
Antes, tanto os antigos quanto os medievais olhavam para as coisas como quem está numa 
casa, a mirar (daí vêm as palavras admiração e mirante) o céu estrelado lá fora, onde se 
encontra o reino das divindades e entidades maravilhosas, vendo coisas que iam além do 
mero “olhar”. 
A diferença em relação ao homem renascentista e moderno, é que ele resolveu 
simplesmente dar as costas para a janela e passar a ”olhar” somente para as quatro paredes 
do seu próprio domínio doméstico e controlável, fazendo de conta que o que está lá fora não 
existe, não interessa, ou não é passível de discussão pública ou científica. Ele simplesmente 
não quer mais saber ou “falar sobre” a realidade externa ao “aqui e agora”. Nesse sentido, o 
homem moderno fez predominar o nominalismo sobre o escolasticismo e a imanência sobre 
a transcendência. Para Ockham não existe essência nas coisas. Elas são o que o homem vê 
nelas, como as interpreta e como as chama. As coisas não passam de nomes, mais o menos 
como Carlos Drummond de Andrade descreve o mundo consumista moderno no poema “Eu, 
etiqueta”. 
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É claro que a fé não é totalmente negada ou separada 
da razão, isso seria simplesmente impossível ou uma 
inversão das coisas. Um dos movimentos que trabalhou 
contra a negação da transcendência foi o da Reforma, 
cujos ideais eram, entre outros, a luta contra a venda de 
indulgências e os absurdos da Santa Inquisição. 
Batalhavam ainda pela tradução da Bíblia para o 
vernáculo, e assim, pelo acesso a ela por toda gente do 
povo. Mas, como lemos no texto de Chauí, 
paradoxalmente o que os reformadores conseguiram foi 
estabelecer uma separação definitiva entre fé e razão, 
submetendo a última à primeira e promovendo o 
ceticismo contra a ciência e a razão. 
Na próxima unidade falaremos mais do período moderno. Por hora, leiam atentamente os 
textos propostos, preparem-se para a primeira bateria de exercícios e até a próxima! 
Para um resumo conciso e linha do tempo dos pensadores da educação, recomendamos a 
Linha do Tempo da Filosofia, disponível em 
<http://www.filosofia.com.br/bio_popup.php?id=%2055>. Acesso 30 Jan. 2012. 
http://www.filosofia.com.br/bio_popup.php?id=%2055
 
 
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UNIDADE 5 
Clássicos da Filosofia IV: Do Renascimento à Modernidade 
Objetivo: Estudar os filósofos que mediaram o pensamento medieval e o moderno, no 
chamado Renascimento. 
Olá minha gente! 
Apostos para mais um emocionante estudo? Espero que sim, pois eu estou, e muito! 
Comentamos na unidade passada acerca dos filósofos e pensamento medieval e suas 
controvérsias entre materialismo e idealismo; fé e razão. Vamos nos dedicar agora aos 
filósofos que tentaram fazer, por assim dizer, o “meio de campo” entre o pensamento 
medieval e o moderno, no chamado renascimento. 
Para começar, podemos citar René Descartes, filósofo e matemático, que simbolizava o 
conhecimento como uma árvore, dotada de vários “ramos” do saber. O tronco, o que será? 
Acertou quem disse “a Filosofia, é claro”! E a seiva para alimentar os ramos e as folhas, o 
que é? Nada menos, do que a matemática. 
Por outro lado, um dos detalhes em que ele não pensou foi que, se alguém um dia 
resolvesse subir na árvore para se especializar em algum dos “ramos”, constatará duas 
coisas: quanto mais subisse, maior seria o risco de queda, e maior a sua distância em 
relação a outros ramos. Daí que ele tenha sido considerado um dos maiores céticos de todos 
os tempos. 
Na verdade, o Renascimento, termo cunhado pelo historiador Jules Michelet para se referir à 
redescoberta do “homem mundano” (em contraste com o metafísico e religioso), teve seus 
prenúncios já no séc. XIV na Itália, espalhando-se pelo resto da Europa nos sécs. XVI e XVII. 
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Nesse meio tempo, a Europa feudalista medieval já se havia transformado em uma 
sociedade urbana, dominada por instituições políticas centralizadas, com uma economia 
comercial e educação laica. 
Ela teve repercussões principalmente na arte, com grandes obras como as de Giotto, Virgílio, 
Ovídio, Cícero e Sêneca. Os ideais de harmonia e proporção culminaram com o legado de 
Rafael, Miquelângelo, Leonardo da Vinci, no séc. XVI. 
Esses pensadores deram continuidade à 
tradição gramática e retórica medievais do 
tomismo, escotismo e ockhamismo, com sua 
herança do aristotelismo e platonismo. 
Essa época foi marcada por grandes avanços 
e descobertas na matemática, na medicina, 
com a tradução das obras de Hipócrates, com 
as teorias de Copérnico e Kepler na 
astronomia. A invenção da imprensa 
representou uma verdadeira revolução 
tecnológica e cultural, aumentando a 
quantidade e acessibilidade de livros ao público, tornando o trabalho intelectual algo 
colaborativo, ao invés de solitário. Na indústria bélica, deve-se lembrar da invenção da 
pólvora. 
O período é marcado principalmente pelas Grandes Navegações e a descoberta do Novo 
Mundo; pelo fenômeno urbano, com o surgimento de cidades importantes como Florença, 
Milão, Bolonha, Oxford e Cambridge, que já haviam sido traçadas na Alta Idade Média, em 
que foram desenvolvidas técnicas de contabilidade e administração financeira e comercial. 
A historiografia tornou-se, assim, um ramo da literatura, mais do que um campo próprio de 
estudo. Trata-se de um movimento que se deu pela gradual adoção da cultura clássica e 
antiga, como padrão universal de toda a cultura, rompendo com predomínio do pensamento 
escolástico cristão. Também houve um renascimento dos pais da igreja, pois o objetivo era 
 
 
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trazer a formação humanista clássica para todos os setores da vida social, inclusive o 
eclesiástico. 
Com isso, retomou-se a valorização do aperfeiçoamento do corpo e treino físico na 
educação, bem como das artes. Fortaleciam-se ainda os valores da família como centro de 
poder. Grandes e poderosas famílias como os Médici na Espanha, marcaram a história 
dessa época de mudança decisiva de paradigmas. 
Ao invés de compreender o universo criado, o objetivo da humanidade passa a ser o de 
dominar a natureza pelo método científico, desenvolvido por Francis Bacon, cujo sistema se 
tornou base da ciência e da tecnologia modernas. As ideias de liberdade e democracia 
medievais foram mantidas e incrementadas pelo humanismo e pela teoria constitucionalista 
inglesa. 
Já os iluministas ou enciclopedistas, crivados pelos ideais da Revolução Gloriosa, 
Independência dos Estados Unidos e a Revolução Francesa preferiram mudar de metáfora. 
O saber não era mais entendido como uma árvore, mas uma 
fonte de luz, da qual emanam vários raios luminosos. 
Adivinha, qual seria o nome dessa fonte? A razão humana é 
claro, que dá nome a todas as demais coisas e que determina 
sua verdade, realidade e bondade. Em outras palavras, o 
homem se independeu completamente de Deus e da 
transcendência, declarando sua total independência. 
O século XVI foi marcado ainda pela Reforma, que modificou 
em muito o pensamento ocidental, particularmente o liberal e 
instituiu o protestantismo, como mostra Weber em A Ética Protestante e o Espírito do 
Capitalismo. 
Sua tese básica nesse livro é que o cristianismo protestante se instalou logo após a reforma, 
precisamente na Europa e nos Estados Unidos, onde o “Espírito” era o de que “tempo é 
dinheiro”, ou seja, o que importa é produzir e render capital. Dessa forma, o cristianismo 
 
 
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