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2011 Morfologia da língua Portuguesa Prof.ª Elisabeth Penzlien Tafner Copyright © UNIASSELVI 2011 Elaboração: Prof.ª Elisabeth Penzlien Tafner Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 469 M124m Tafner, Elisabeth Penzlien Morfologia da língua portuguesa / Elisabeth Penzlien Tafner. Indaial : UNIASSELVI, 2011. 193 p. : il. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-392-1 1. Língua Portuguesa - Morfologia I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. Ensino a Distância. II. Título. Impresso por: III aPresentação Olá! Antes de começarmos nossa caminhada, gostaríamos de dizer a você algumas palavras iniciais sobre a disciplina de Morfologia. Ao longo de nossos estudos pretendemos explorar a morfologia, que se ocupa da descrição das formas linguísticas mínimas (os morfemas) e de suas combinações nas palavras da língua. Para você ir se acostumando, chamamos de formas linguísticas aos elementos da língua, de extensão variável, que possuem significação. Quando falamos de funções, estamos nos referindo às funções morfológicas (substantivos, adjetivos etc.) que as formas linguísticas podem assumir. A morfologia é um assunto que pode ser abordado sob diferentes perspectivas, depois dos avanços da ciência linguística. Para a elaboração deste Caderno de Estudos optamos por um tratamento mais tradicional, pensando em você, caro(a) acadêmico(a), que, mesmo estando a distância, foi o centro das atenções em cada página. Por questões didáticas, tentamos deixar as fronteiras entre um assunto e outro bem delimitadas. Entretanto, é bom que você saiba que as discussões teóricas que têm como foco a Língua Portuguesa podem divergir em alguns conceitos. Nem tudo é tão bonitinho e arrumadinho como parece, nas remissões a outras leituras que fazemos ao longo do Caderno, ou, em outros momentos, quando você estiver preparando suas aulas, pesquisando materiais, você certamente vai perceber que nem todos falam a mesma língua... Portanto, ao longo do texto, você encontrará indicações de leituras complementares que serão úteis para conhecer outros pontos de vista que tratam do assunto e também para aprofundar seus conhecimentos. Futuramente, você poderá fazer a sua opção por alguma das vertentes teóricas que discutem a riqueza da nossa língua. Vamos começar! Prof.ª Elisabeth Penzlien Tafner IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI VII UNIDADE 1 – ESTRUTURA E FORMAÇÃO DAS PALAVRAS ................................................... 1 TÓPICO 1 – ESTRUTURA DAS PALAVRAS .................................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 PALAVRA E MORFEMA ..................................................................................................................... 3 2.1 ELEMENTOS MÓRFICOS .............................................................................................................. 5 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 10 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 13 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 14 TÓPICO 2 – PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS ....................................................... 17 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 17 2 DERIVAÇÃO ......................................................................................................................................... 17 3 COMPOSIÇÃO ..................................................................................................................................... 21 4 HIBRIDISMO ........................................................................................................................................ 22 5 ONOMATOPEIA .................................................................................................................................. 22 6 ABREVIAÇÃO VOCABULAR ........................................................................................................... 23 7 FORMAÇÃO DE SIGLAS ................................................................................................................... 23 8 ESTRANGEIRISMOS .......................................................................................................................... 24 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 25 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 27 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 28 UNIDADE 2 – ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I ............................................................ 31 TÓPICO 1 – SUBSTANTIVO ................................................................................................................ 33 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 33 2 CONCEITUANDO ............................................................................................................................... 37 2.1 CLASSIFICAÇÃO DOS SUBSTANTIVOS ................................................................................... 37 2.2 FLEXÃO DO SUBSTANTIVO ........................................................................................................ 47 2.2.1 Flexão de gênero .....................................................................................................................47 2.2.1.1 Formação do feminino ............................................................................................... 47 2.2.2 Flexão de número ................................................................................................................... 51 2.2.2.1 Formação do plural .................................................................................................... 51 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 56 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 58 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 59 TÓPICO 2 – ADJETIVO ......................................................................................................................... 63 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 63 2 CONCEITO ............................................................................................................................................ 63 2.1 FORMAÇÃO DOS ADJETIVOS .................................................................................................... 64 2.2 ADJETIVOS PÁTRIOS .................................................................................................................... 64 2.3 FLEXÃO DOS ADJETIVOS ........................................................................................................... 65 suMário VIII 2.3.1 Flexão de número ................................................................................................................... 65 2.3.2 Flexão de gênero ..................................................................................................................... 66 2.3.3 Flexão de grau ......................................................................................................................... 67 2.4 LOCUÇÃO ADJETIVA .................................................................................................................... 69 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 70 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 75 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 76 TÓPICO 3 – VERBO ................................................................................................................................ 79 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 79 2 CONCEITO ............................................................................................................................................ 79 2.1 ELEMENTOS ESTRUTURAIS DO VERBO ................................................................................. 80 2.2 CONJUGAÇÕES .............................................................................................................................. 80 2.3 CLASSIFICAÇÃO DOS VERBOS .................................................................................................. 81 2.4 FLEXÃO DO VERBO ....................................................................................................................... 84 2.6 TEMPOS PRIMITIVOS E DERIVADOS ........................................................................................ 96 2.6.1 Formação dos tempos compostos ........................................................................................ 99 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 101 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 103 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 105 TÓPICO 4 – ADVÉRBIO ........................................................................................................................ 109 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 109 2 CONCEITUANDO ............................................................................................................................... 109 2.1 CLASSIFICAÇÃO DOS ADVÉRBIOS .......................................................................................... 110 2.1.1 Advérbios interrogativos ....................................................................................................... 111 2.2 Locuções adverbiais ......................................................................................................................... 111 2.3 GRADAÇÃO DOS ADVÉRBIOS ................................................................................................... 112 2.3.1 O grau comparativo ............................................................................................................... 112 2.3.2 O superlativo ........................................................................................................................... 112 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 114 RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 116 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 117 UNIDADE 3 – ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS II .......................................................... 119 TÓPICO 1 – NUMERAL ......................................................................................................................... 121 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 121 2 CONCEITO ............................................................................................................................................ 121 2.1 CLASSIFICAÇÃO DOS NUMERAIS ............................................................................................ 121 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 125 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 126 TÓPICO 2 – ARTIGO .............................................................................................................................. 127 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 127 2 CONCEITO ............................................................................................................................................ 127 2.1 CLASSIFICAÇÃO DO ARTIGO .................................................................................................... 127 2.2 EMPREGOS DO ARTIGO............................................................................................................... 128 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 135 RESUMO DO TÓPICO2........................................................................................................................ 138 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 139 IX TÓPICO 3 – PRONOME ......................................................................................................................... 143 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 143 2.1 CLASSIFICAÇÃO DO PRONOME ............................................................................................... 143 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 153 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 155 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 156 TÓPICO 4 – PREPOSIÇÃO ................................................................................................................... 159 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 159 2 CONCEITO ............................................................................................................................................ 159 2.1 CLASSIFICAÇÃO DAS PREPOSIÇÕES....................................................................................... 160 2.1.1 Aprofundando a crase ............................................................................................................ 161 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 168 RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 170 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 171 TÓPICO 5 – CONJUNÇÕES .................................................................................................................. 175 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 175 2 CONCEITUANDO ............................................................................................................................... 175 2.1 CLASSIFICAÇÃO DAS CONJUNÇÕES ...................................................................................... 176 2.1.1 Conjunções coordenativas ..................................................................................................... 176 2.1.2 Conjunções subordinativas ................................................................................................... 178 RESUMO DO TÓPICO 5........................................................................................................................ 181 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 182 TÓPICO 6 – INTERJEIÇÕES ................................................................................................................. 187 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 187 2 CONCEITO ............................................................................................................................................ 187 2.1 CLASSIFICAÇÃO DAS INTERJEIÇÕES ...................................................................................... 188 RESUMO DO TÓPICO 6........................................................................................................................ 189 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 190 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................................. 191 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 193 X 1 UNIDADE 1 ESTRUTURA E FORMAÇÃO DAS PALAVRAS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • reconhecer os elementos mórficos das palavras; • compreender os mecanismos de flexão de gênero e número; • explicar os diferentes processos de formação de palavras. Esta unidade está dividida em dois tópicos e ao final de cada um deles você encontrará atividades que o(a) ajudarão a refletir e a compreender os conhecimentos abordados. TÓPICO 1 – ESTRUTURA DAS PALAVRAS TÓPICO 2 – PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 ESTRUTURA DAS PALAVRAS 1 INTRODUÇÃO Ao longo da leitura deste Caderno, nossa atenção será dedicada ao estudo da Morfologia. Mas dizer simplesmente que estudaremos morfologia não é algo muito claro, o termo não nos parece muito familiar, não é mesmo? Portanto, caro(a) acadêmico(a), antes de mais nada é necessário conhecermos um pouquinho da origem desta palavra, a fim de nos tornarmos mais íntimos do assunto. Observando a etimologia da palavra, ou seja, sua origem, morfologia é constituída pelas formas gregas morphê (forma) e logos (estudo). Com base então nos seus elementos de origem, temos o ‘estudo da forma’. Se vasculharmos os dicionários, encontraremos algo mais ou menos assim: estudo da estrutura, da formação, da flexão e da classificação das palavras. Ficou mais claro? A morfologia é uma parte da Gramática cuja atenção é dada ao aspecto formal das palavras ou à estrutura gramatical delas. Quer ver? As palavras da Língua Portuguesa podem ter os seguintes elementos na sua estrutura: morfema, raiz, afixos (prefixos e sufixos), e... lembrou? No Tópico 1 estudaremos esses e outros elementos que compõem as palavras. ESTUDOS FU TUROS Você verá mais tarde, nas Unidades 2 e 3, a classificação das palavras. Por hora, nossa preocupação serão os elementos presentes na estrutura das palavras. Vamos a eles! 2 PALAVRA E MORFEMA Vamos começar a estudar a estrutura das palavras da Língua Portuguesa. Para conhecer uma língua não basta apenas saber o significado das palavras que a compõem. Mesmo que isso seja importante, é essencial conhecer a estrutura das palavras, isto é, de que elementos elas são formadas, uma vez que esse conhecimento auxiliará no entendimento de seu significado. Falando em significado, vamos observar o seguinte grupo: UNIDADE 1 | ESTRUTURA E FORMAÇÃO DAS PALAVRAS 4 PEDRARIA PEDREIRO APEDREJAR EMPEDRAR Você percebeu que há um elemento comum ao grupo, certo? Esse elemento é a forma pedr–. Além disso, você deve ter reparado também que em todas elas há outros elementos destacáveis, responsáveis pela alteração no significado. Se compararmos pedraria e pedreiro, verificamos que a troca do elemento final – aria por – eiro provoca alteração no sentido da palavra, trazendo o significado de “agente profissional”. Prosseguindo nossa análise com o mesmo grupo de palavras acima, notamos que estão presentes diferentes elementos na estrutura das palavras: PEDR – ARIA PEDR – EIRO A – PEDR – EJAR EM– PEDR – AR ATENCAO Ei, cuidado para não confundir as coisas: o radical contém o sentido básico da palavra. O termo raiz mantém relação com a origem histórica das palavras, sendo objeto de estudo da etimologia, parte dagramática que estuda a origem das palavras. Esses diferentes elementos afetam a significação da palavra da qual fazem parte e não podem ser decompostos em unidades menores de significação. A esses elementos damos o nome de morfemas, elementos significativos indecomponíveis. Os morfemas podem ser classificados, quanto à significação, em lexicais e gramaticais. Os morfemas lexicais têm significação externa, uma vez que se referem aos símbolos básicos de tudo o que os falantes diferenciam na realidade objetiva ou subjetiva. TÓPICO 1 | ESTRUTURA DAS PALAVRAS 5 Exemplo: folha leão planta forma leite pedra Quanto aos morfemas gramaticais, sua significação é interna, visto que deriva das relações e categorias consideradas pela língua (indicação de gênero, número, grau, modo, tempo, pessoa). Assim, ao observarmos as mesmas palavras do conjunto de exemplo, veremos que se colocarmos a palavra pedra no plural será necessário incluir a letra s (pedra – pedras), que será o indicativo de que esta palavra se refere a mais de um elemento. O mesmo se aplica às palavras folha (folhas), forma (formas), leite (leites). Ao agregarmos o morfema gramatical s anunciamos que estão no plural. Já no caso da palavra leão, se quisermos transformá-la em feminino, precisamos usar o indicativo específico de gênero (leão – leoa). A letra A é o morfema gramatical, representando o gênero feminino. 2.1 ELEMENTOS MÓRFICOS Bom, agora que já vimos que cada morfema é uma unidade de significação mínima, é hora de estudar quais são os elementos mórficos e sua função na estrutura da palavra. Vamos estudá-los um a um. a) Radical: chamamos de radical o morfema básico, comum a palavras de uma mesma família. É só resgatarmos mais uma vez nosso grupo exemplo: PEDR – ARIA PEDR – EIRO A – PEDR – EJAR EM– PEDR – AR O morfema pedr– está em todas as palavras do grupo e contém o sentido básico de cada palavra. As palavras que possuem o mesmo radical são chamadas de cognatas. Vejamos um outro grupo que também forma uma família de palavras: FOLH – A FOLH – AGEM DES – FOLH – AR FOLH – INHA Portanto, o radical é a parte significativa central das palavras a que se juntam outros elementos mórficos, que estudaremos a seguir. UNIDADE 1 | ESTRUTURA E FORMAÇÃO DAS PALAVRAS 6 É bom lembrar que existem palavras formadas unicamente pelo radical, como céu, cor, paz, mar, flor, rua. IMPORTANT E b) Afixos: são elementos mórficos que se juntam ao radical, capazes de alterar seu sentido ou mudar a classe gramatical da palavra a que são acrescentados. PEDR – ARIA PEDR – EIRO A – PEDR – EJAR EM – PEDR – AR Novamente, resgatamos nosso grupo exemplo em que os afixos estão destacados agora. Os afixos, conforme a posição em que são acrescentados ao radical, podem ser chamados de: prefixos: quando são colocados antes do radical; sufixos: quando são colocados depois do radical. Exemplo: c) Desinências: são morfemas colocados após os radicais. As desinências podem ser nominais e verbais: desinências nominais: indicam o gênero (masculino/feminino) e o número (singular/plural) dos nomes (adjetivos, substantivos). Observe a palavra gatinhas: TÓPICO 1 | ESTRUTURA DAS PALAVRAS 7 desinências verbais: indicam nas formas verbais o modo, o tempo, o número e a pessoa. Veja agora a indicação destas variações em cantávamos: Cant Radical desinência que informa simultaneamente pessoa e número. No caso: pessoa: 1ª e número: plural. desinência que informa simultaneamente tempo: pretérico imperfeito e modo: indicativo. vogal temática: indica a que conjugação o verbo pertence.A Va Mos pretérito desinências verbo-nominais: referem-se às formas nominais do verbo, o infinitivo, o gerúndio e o particípio, marcadas pelas desinências –r, –ndo, –do (a): sentir, chegando, comprado. O quadro a seguir pode ajudar você a reconhecer com mais facilidade as principais desinências em português: DESINÊNCIAS gênero masculino (–o) feminino (–a) NOMINAIS número singular (não há) plural (–s) de tempo e modo –va, –ve: imperfeito do indicativo, 1a conjugação (amava) –ia, ie: imperfeito do indicativo, 2a e 3a conjugações (partia) –ra, re: mais–que–perfeito do indicativo (átono) (amara) –sse: imperfeito do subjuntivo (amasse) –ra, –re: futuro do presente do indicativo (tônico) (amará, amaremos) –ria, rie: futuro do pretérito do indicativo (amaria) –r: futuro do subjuntivo (quiser) –a: presente do subjuntivo, 1a conjugação (peça) –e: presente do subjuntivo, 2a e 3a conjugações (ame) –u: pretérito perfeito do indicativo (amou) VERBAIS de número e pessoa –o: 1a pessoa do singular, presente do indicativo (amo) –s: 2a pessoa do singular (amas) –mos: 1a pessoa do plural (amamos) –is, –des: 2a pessoa do plural (amais, amardes) –m: 3a pessoa do plural (amam) VERBO– NOMINAIS –r: infinitivo –ndo: gerúndio –do: particípio regular FONTE: A autora QUADRO 1 – DESINÊNCIAS NOMINAIS, VERBAIS E VERBO-NOMINAIS UNIDADE 1 | ESTRUTURA E FORMAÇÃO DAS PALAVRAS 8 Como você percebeu no quadro 1, na formação das palavras temos as desinências nominais que podem indicar o gênero (-a [feminino], -o [masculino]) e o número (-s [plural], 0 para o singular) das palavras. Além das desinências nominais, existem as desinências verbais que indicam o tempo, o modo, o gênero e o número do verbo. Como mostra o quadro, temos para indicar o tempo e o modo do verbo: imperfeito do indicativo, 1ª conjugação (-va, -ve); imperfeito do indicativo, 2ª e 3ª conjugações (–ia, -ie); mais-que-perfeito do indicativo (–ra, -re); imperfeito do subjuntivo (–sse); futuro do presente do indicativo (–ra, –re); futuro do pretérito do indicativo (–ria, -rie); futuro do subjuntivo (–r); presente do subjuntivo, 1ª conjugação (–a); presente do subjuntivo, 2ª e 3ª conjugações (–e); pretérito perfeito do indicativo (–u). Já para indicar o gênero e o número do verbo, usamos: 1a pessoa do singular, presente do indicativo (–o); 2ª pessoa do singular (–s); 1ª pessoa do plural (–mos); 2ª pessoa do plural (–is, –des); 3ª pessoa do plural (–m). Há, ainda, as desinências verbo-nominais utilizadas para indicar o infinitivo (-r), o gerúndio (-ndo) e o particípio regular (-do). Neste momento, você não deve ficar preocupado em definir com exatidão o tempo e modo informados por uma determinada desinência. Deixe essa atividade para a Unidade 2, Tópico 3 – Verbos. Por enquanto, basta você conseguir fazer uma análise morfológica básica, apontando elementos como o radical e, se houver, prefixos, sufixos ou desinências. IMPORTANT E d) Vogal temática: é um elemento que se junta ao radical de certas palavras para que estas possam receber as desinências e sufixos. A vogal temática aparece entre o radical e a desinência. Sua função é a de marcar classes (é um morfema classificatório) de nomes (substantivos/adjetivos) e verbos. Existem dois tipos de vogais temáticas: Vogais temáticas nominais (a, e, o): marcam classes de substantivos (casa, leite, bloco) e adjetivos ( forte, triste, grande). Não devemos confundir a desinência do feminino (–a) com a vogal temática (–a). Ela será considerada desinência do feminino quando for marca de gênero. Vamos comparar algumas palavras. Em foca, o –a não se opõe a foco, neste caso o –a é uma vogal temática. Já em gata, o –a é desinência de gênero (em oposição a gato). IMPORTANT E TÓPICO 1 | ESTRUTURA DAS PALAVRAS 9 Vogais temáticas verbais (a, e, i): marcam as três conjugações: canta(r), come(r), fugi(r). O verbo pôr e seus derivados (antepor, compor, supor) pertencem à 2a conjugação, visto que a forma latina do verbo era poer. Porém, depois a forma evoluiu e chegou até nós como pôr. IMPORTANT E e) Tema: a junção da vogal temática com o radical chamamos de tema.Algumas palavras, ditas invariáveis, são puro radical. Veja o caso de atlas, bônus, lápis, ônibus, tênis, vírus. Outras, são chamadas de variáveis, pois possuem tema acrescido de desinência, casas e corres ilustram este caso: f) Vogal e consoante de ligação: são elementos que intercalamos entre os elementos mórficos para facilitar a pronúncia. Esses elementos, porém, não possuem significação alguma e distinguem-se claramente dos afixos. A ocorrência desse elemento pode ser analisada na palavra paulada, onde pau é radical e ada é o sufixo. O l entra para que não ocorra dissonância (encontro desagradável de vários sons). Já em gasômetro, palavra formada por dois radicais: gás + – metro, foi necessário o emprego de uma vogal de ligação para facilitar a pronúncia. CAS A S radical tema vogal temática desinência de número (plural) CORR E S radical tema vogal temática desinência de número (plural) UNIDADE 1 | ESTRUTURA E FORMAÇÃO DAS PALAVRAS 10 Indicação de leitura Para complementar seus estudos sobre este tema, visite os sites: <http://www.brasilescola.com/gramatica/estrutura-e-formacao-de-palavras-i.htm>. <http://www.gramaticaonline.com.br/texto/826/Estrutura_das_palavras>. UNI Vimos até o momento como as palavras estão estruturadas (radical, morfema, tema etc.), como os elementos se articulam para constituir um todo significativo em si e integrante de nossa língua. Para completar essas informações é importante que você leia o texto de Flávia de Barros Carone, pois ele complementa os conhecimentos que construímos sobre a estrutura das palavras. Boa leitura! O MORFEMA Flávia de Barros Carone A menor unidade significativa [...] é o morfema, que tem a propriedade de articular-se com outras unidades de seu próprio nível. No entanto, a maior unidade de que o falante da língua tem cons ciência nas frases que diz ou ouve, escreve ou lê, é a palavra. Ora, esta nem sempre coincide com o morfema, isto é, são rela tivamente poucos os vocábulos que constam de um só morfema (boi, sal, mar, etc.). [...] Chega mos, assim, a outra concepção de morfema: “unidade mínima significativa”, que tem a propriedade de articular-se com outras unidades de seu nível. Ou, mais especificamente, unidade formal abstrata, provida de um (ou mais de um) valor semântico — referencial ou gramatical. O morfema é, pois, uma abstração que envolve significados e possibilidades combinatórias. Apresenta-se, o mais das vezes, formalizado em fonemas, que se concretizam por meio de sons. [...] Uma forma linguística só pode ser reconhecida se se define o nível em que está sendo observada. O fonema /a/, por exem plo, não se confunde com o morfema –a de feminino, nem com o vocábulo a, artigo; são entidades diferentes, de níveis diferentes. [...] LEITURA COMPLEMENTAR TÓPICO 1 | ESTRUTURA DAS PALAVRAS 11 A PALAVRA Formas presas, formas livres, formas dependentes Será útil, para a compreensão do comportamento dos mor femas, a distinção que faz Bloomfield (1933) entre formas livres e formas presas. Formas livres são aquelas que podem constituir, isoladas, um enunciado suficiente para a comunicação. Em sen tido amplo, toda frase, da mais simples à mais complexa, é uma forma livre, desde que dotada de uma entonação adequada. Interessam-nos, neste momento, as formas livres mínimas, cuja extensão não excede os limites do vocábulo. Podem com portar-se como unidades de comunicação quando a elas se sobre põe a mencionada entonação. A esse conceito se opõe ao de formas presas, aquelas que não são suficientes para, sozinhas, cons- tituírem um enunciado; são formas presas ré–, lamp– e todo o cortejo de segmentos que a esta última se articulam. O vocábulo infeliz é uma forma livre mínima porque seus constituintes imediatos não são, ambos, formas livres: feliz é, mas o prefixo in– é uma forma presa, visto que não ocorre isoladamente. Por outro lado, palavras como beija- flor e vaivém não são formas livres mínimas, pois seus constituintes imediatos o são, eles próprios — cada um, evidentemente, com outros valores gra maticais e semânticos, uma vez desfeita a composição. Uma palavra pode ser constituída de uma forma livre mínima: leal; de duas formas livres mínimas: couve-flor; de uma forma livre e uma ou mais presas: leal–dade, in–feliz–mente. apenas de formas presas: re–a–bert–ur–a. Não cabem nessa classificação, porém, certas palavras pecu liares pela atonicidade: artigos, preposições, algumas conjunções, pronomes oblíquos átonos — que não podem, por si sós, constituir um enunciado. (CÂMARA JUNIOR, 1970). (Julgamos que se incluem aí também os oblíquos tônicos: mim, ti, si.) Cada uma dessas palavras só será um enunciado possível quando constituir uma citação, mas, nessa circunstância, qualquer palavra é um substan tivo (— Não ouvi bem: você ditou de ou me? — Me.).[...] Para resolver as lacunas que persistem, Câmara Junior (1970, p. 60) propõe um terceiro conceito: o de formas dependentes. Estas não são livres porque não constituem, isoladas, um enun ciado; e não são presas porque são separáveis como vocábulos formais. Isso se comprova por admitirem intercalações e/ou in- versões, relativamente ao vocábulo com que se relacionam sintaticamente: UNIDADE 1 | ESTRUTURA E FORMAÇÃO DAS PALAVRAS 12 o irmão / o meu irmão / o meu bom irmão diga-me / não me diga / que me não diga preciso de dinheiro / preciso de muito dinheiro um menino que vi / um menino que ontem mesmo eu vi dizem que virás / dizem que nunca mais virás São estes os critérios para avaliar a coesão gramatical (in terna, estrutural) da palavra: a “mobilidade de posição” e a “sequência ininterrupta de elementos”. Uma das características da palavra é que ela tende a ser estável internamente, quanto à ordem dos morfemas que a compõem, mas é móvel quanto à posição: pode trocar de posição com outras pa lavras na mesma frase. [...] O conceito de vocábulo diz respeito a uma estrutura, algo interno: o vocábulo é uma unidade construída de morfemas. Todavia, é difícil chegar ao conceito de palavra, realidade que todo falante intui. FONTE: CARONE, Flávia de Barros. Morfossintaxe. 9. ed. São Paulo: Ática, 2004. p. 21-33. 13 Neste tópico, você estudou que: O morfema é a menor unidade significativa de uma palavra. O radical é o elemento estrutural, que contém o sentido básico das palavras. Os afixos (prefixos e sufixos) são elementos que anexamos ao radical para mudar o significado ou alterar a classe gramatical das palavras. Os prefixos são colocados antes do radical (reacender). Os sufixos são colocados após o radical (mortal). As desinências (nominais, verbais e verbo-nominais) são elementos mórficos colocados ao término do radical. As desinências nominais indicam gênero e número dos nomes (substantivos e adjetivos). As desinências verbais indicam pessoa, número, tempo e modo dos verbos. A vogal temática (a, e, i) indica a conjugação a que pertence o verbo. O tema é formado pela soma do radical e vogal temática. As vogais ou consoantes de ligação são elementos secundários na palavra, mas que facilitam sua pronúncia ou ligam morfemas. RESUMO DO TÓPICO 1 14 Você percebeu quantos elementos participam da estrutura de uma palavra? Então, é hora de começar a explorá-los, levando em consideração todas as explicações apresentadas até aqui. Nos exercícios a seguir, tentaremos relembrar um pouco do que aprendemos. 1 Indique a alternativa em que o elemento mórfico está incorretamente classificado: AUTOATIVIDADE 2 Palavras cognatas são aquelas que têm a mesma raiz. Assinale a alternativa em que não há três cognatos. a) ( ) Governo – desgovernado – ingovernável. b) ( ) Ensinar – ensino – ensinamento. c) ( ) Certo – incerto – incerteza.d) ( ) Viver – vida – vidente. 3 Assinale a opção em que todos os vocábulos têm radical com o mesmo valor semântico. a) ( ) Campestre – camponês – campus. b) ( ) Amigável – amistoso – amizade. c) ( ) Terra – terrorista – aterrorizar. d) ( ) Bengala – bengalada – bengali. 4 Os morfemas dent- (em desdentado), in- (em insatisfeito) e -oso (em perigoso) são, respectivamente: a) ( ) Radical – prefixo- prefixo. b) ( ) Prefixo - radical – sufixo. c) ( ) Radical - prefixo – sufixo. d) ( ) Sufixo – prefixo - radical. 15 5 Assinale a única alternativa em que a primeira palavra apresenta prefixo e a segunda, sufixo. a) ( ) Desgraças - pimenta. b) ( ) Incômoda – realmente. c) ( ) Tristeza – realmente. d) ( ) Refresco - ninguém. 6 Identifique os radicais das palavras que seguem: a) ( ) Terra – terrinha – térrea – terreiro. b) ( ) Descampado - campestre - campesino – acampar. c) ( ) Cardiologia – cardíaco - cardiologista – taquicardia. d) ( ) Envelhecimento – velhice – envelhecer - velharia. 16 17 TÓPICO 2 PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO No Tópico 1 nossa atenção foi dedicada à estrutura das palavras, estudamos seus elementos mórficos (radical, desinências, prefixos, sufixos etc.). Compreender esses elementos é fundamental, pois seu conhecimento será útil na análise dos processos de formação de palavras de que a Língua Portuguesa dispõe. É isso mesmo, a língua não está pronta e acabada, ela acompanha e reflete as mudanças que a sociedade vivencia. Constantemente o homem procura melhorar sua qualidade de vida. Esta busca gera desenvolvimento e progresso. A ciência e a tecnologia a todo instante nos surpreendem com novidades e, neste fluxo incessante de mudanças, novas ideias e invenções geram novas necessidades de expressão. Portanto, língua e sociedade não podem caminhar em direções opostas; a língua, em sua dinamicidade, apresenta mecanismos capazes de gerar novas palavras para acompanhar e traduzir as transformações (novos objetos de consumo, por exemplo, pedem novas palavras). Para expressar a nova realidade, o falante às vezes produz novas palavras (a partir de elementos já existentes) ou, ainda, muda o significado de uma palavra antiga. A Língua Portuguesa tem dois processos básicos de formação de palavras: a derivação e a composição. Além desses, existem o hibridismo, a onomatopeia, a abreviação vocabular e a formação de siglas, os quais exploraremos juntos, um a um. 2 DERIVAÇÃO Um dos processos que permite a criação de novas palavras é a derivação. Bom, este processo usa palavras já existentes (primitivas) na língua para formar uma palavra nova (derivada). Você deve ter reparado o aparecimento de duas novas classificações, primitiva e derivada, certo? Chamamos de primitivas as palavras que não se formam a partir de outras palavras (lua, menina, cidade). Já aquelas formadas a partir de outras palavras anteriormente existentes, denominamos de derivadas (pedreiro, derivada de pedra; folhagem, derivada de folha). UNIDADE 1 | ESTRUTURA E FORMAÇÃO DAS PALAVRAS 18 Vamos conhecer agora os modos pelos quais a derivação ocorre: a) Por prefixação: antepomos um prefixo a um radical. Vamos analisar a estrutura da palavra imoral. Que elementos podemos identificar em sua estrutura? Temos o prefixo i– e a palavra primitiva moral. Imoral, portanto, foi formada pelo acréscimo de um prefixo à palavra primitiva. Outros exemplos que ilustram esse processo: desligar, refazer, inculto. b) Por sufixação: acrescentamos um sufixo a um radical. Observando os elementos da palavra pedreiro, identificamos o radical, pedr– e o sufixo –eiro. Concluímos então que a palavra pedreiro formou-se pelo acréscimo de um sufixo ao radical da palavra primitiva. Outros exemplos: folhagem, certamente, barbear. c) Por derivação parassintética (ou parassíntese): neste caso, anexamos, ao mesmo tempo, um prefixo e um sufixo a um radical. Considere a palavra ensurdecer. Aqui você identifica três elementos, o prefixo en–, o radical surd e o sufixo –ecer. Neste caso, diferentemente dos anteriores, temos o acréscimo simultâneo de um prefixo e um sufixo a um mesmo radical. Os casos de derivação parassintética têm como base um substantivo ou um adjetivo e podem gerar formas verbais (alistar, anoitecer, avermelhar, emudecer, enegrecer etc.) ou nominais (alinhamento, desalmado, desgovernado, esvaziado). Nos casos de derivação parassintética não é possível suprimir nem prefixo nem o sufixo, pois a ausência de um ou de outro deixa a palavra sem sentido. Veja a seguinte análise: Em ensurdecer, temos en– prefixo, o radical surd e o sufixo –ecer. Temos aqui um prefixo e um sufixo que se agregam ao mesmo tempo ao radical. Se suprimirmos o sufixo, ficamos com “ensurde” e, se excluirmos o prefixo, sobra apenas “surdecer”, isto é, duas palavras que não existem na Língua Portuguesa. Já em palavras como desigualdade, desumano, desvalorização, imoralidade, infelizmente, se tirarmos o prefixo (ou sufixo) elas ainda vão continuar tendo sentido, o que indica um caso de derivação prefixal e sufixal. Observe a palavra infelizmente: se tirarmos o prefixo in–, teremos a palavra felizmente. se tirarmos o sufixo –mente, teremos a palavra infeliz. Tanto felizmente quanto infeliz existem na Língua Portuguesa e são formadas pelo processo de derivação prefixal e sufixal. IMPORTANT E TÓPICO 2 | PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS 19 d) Por derivação regressiva: quando trocamos a terminação de um verbo pelas desinências –a, –o ou –e. Nestes casos, temos uma derivação que forma, principalmente, substantivos a partir de verbos (chamados de substantivos deverbais). O substantivo constituído a partir de derivação regressiva sempre indica ação. Vejamos: crítica = criticar – r combate = combater – r pesca = pesca – r planta = planta – r Se você quiser saber se um substantivo é palavra primitiva ou derivada, observe alguns itens: É palavra derivada o substantivo que denotar ação. Exemplo: pesca (substantivo) palavra derivada pescar (verbo) palavra primitiva É palavra primitiva o substantivo que nomeia objeto ou substância. Exemplo: e) derivação imprópria: este processo ocorre quando mudamos a classe de uma palavra, estendendo sua significação, porém sua grafia permanece a mesma. Pode ocorrer nas seguintes situações: planta (substantivo) palavra primitiva plantar (verbo) palavra derivada UNIDADE 1 | ESTRUTURA E FORMAÇÃO DAS PALAVRAS 20 ESTUDOS FU TUROS Você verá mais tarde, nas Unidades 2 e 3, as classes de palavras. Para entender a mudança de classe gramatical, basta, por enquanto, observar o contexto em que a palavra foi empregada. É muito fácil! substantivo usado como adjetivo: criança capeta, funcionário fantasma, traje esporte, mulher gato, homem aranha. adjetivo usado como substantivo: A feia não veio hoje. adjetivo usado como advérbio: Falava baixo para que ninguém o ouvisse. substantivo, adjetivo ou verbo usados como interjeição: Bico!, rua!, silêncio!, boa!, passa! conjunção usada como substantivo: Não sei o porquê da minha existência. verbo usado como substantivo: O jantar foi servido pontualmente. particípio usado como adjetivo: Sempre foi a neta preferida. substantivo próprio usado como substantivo comum: Era um caxias de tão pontual. O livro “Teoria Lexical”, de Margarida Basílio, é uma boa opção para você se aprofundar um pouco nos processos de formação de palavras. A referência completa da obra é: FONTE: BASILIO, Margarida. Teoria Lexical. 4. ed. São Paulo: Ática, 1995. NOTA TÓPICO 2 | PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS 21 3 COMPOSIÇÃO Ei, você. Atenção! Estamos agora iniciando o estudo deum novo processo de formação de palavras, a composição. Esse processo cria palavras a partir da combinação de duas ou mais palavras ou radicais já existentes. “Os elementos primitivos perdem a significação própria em benefício de uma significação nova, global. A palavra composta exprime um conceito novo, mais ou menos independente do sentido das partes componentes”. (LUFT, 2002, p. 131). A composição pode ocorrer de duas formas: por justaposição ou por aglutinação. O que diferencia um processo do outro é o critério fonético. Agora, vamos entender como acontece cada um desses processos. a) Composição por justaposição: ocorre quando se juntam duas ou mais palavras e estas mantêm sua estrutura, isto é, não sofrem alteração. Na junção dos radicais não há alteração fonética, portanto as palavras associadas continuam a ser faladas (e escritas) da mesma forma como eram antes, daí o nome justaposição, pois os radicais são apenas colocados lado a lado (justapostos), sem que nenhum deles sofra alteração. Cada um deles mantêm sua integridade sonora. Vamos analisar um caso para você entender melhor. Tomemos a palavra beija-flor. Ela é formada por duas palavras simples (palavras simples são aquelas que têm apenas um radical), beija e flor. Mas, quando se juntam, formam uma nova palavra, com um novo significado, neste caso beija-flor é o nome de uma ave. Este novo significado é diferente da expressão beija flor, em que cada radical tem seu sentido original. Vejamos mais alguns exemplos em que houve justaposição: porco-espinho girassol guarda-roupa passatempo amor-perfeito guarda-chuva vaivém malmequer A justaposição deve ser entendida como um processo em que cada radical guarda sua individualidade ou autonomia fonética na formação de uma nova palavra. A forma de grafar, com ou sem hífen, não é critério para identificar se a formação ocorreu por justaposição ou composição. O importante é verificar alterações na pronúncia (e na grafia) da nova palavra. IMPORTANT E UNIDADE 1 | ESTRUTURA E FORMAÇÃO DAS PALAVRAS 22 b) Composição por aglutinação: é processo de formação de palavras caracterizado por mudanças na estrutura fonética das palavras. Os dois radicais associados se unem, formando um todo fonético, no qual algum dos elementos sofre alteração (perda de acento tônico, de vogais e consoantes). Vamos explorar um destes casos de perto. Vejamos a palavra pontiagudo. O que ocorreu com ela? Inicialmente tínhamos ponta + i + agudo, porém durante a fusão desses elementos, houve perda de som, o que gerou pontiagudo. Eis aqui o que chamamos de perda da autonomia fonética de uma palavra. Existem vários casos assim na Língua Portuguesa, observe alguns deles: aguardente (água + ardente), boquiaberto (boca + aberto), embora (em + boa + hora), fidalgo (filho + de + algo), pernalta (perna + alta), pernilongo (perna + longo), planalto (plano + alto). 4 HIBRIDISMO A formação de palavras ocorre a partir da reunião de elementos de línguas diferentes. Ficou surpreso? Mas é isso mesmo, usamos várias palavras em nosso cotidiano que são formadas por hibridismo. Você deve estar se perguntando, “mas como vou saber a origem de uma palavra híbrida?” A consulta a um bom dicionário certamente trará uma boa resposta. Vejamos alguns exemplos muito usados: Burocracia = buro (francês bureau, significa escritório) + cracia (grego krátos, significa poder, domínio). Sambódromo = samba (origem africana, significa animação) + dromo (grego drómos, significa corrida). Sociologia = socio (latim societas, socius, significa sociedade, companheiro) + logia (grego lógos, significa estudo). Surfista = surf (inglês, significa arrebentação das ondas) + ista (grego), Televisão = tele (grego, significa longe) + visão (latim). 5 ONOMATOPEIA São palavras criadas com o objetivo de imitar certos sons ou ruídos. A partir do conjunto de fonemas de que a Língua Portuguesa dispõe, a palavra formada reproduz sons ou ruídos gerados por armas de fogo, campainhas, fenômenos naturais, instrumentos musicais, sinos, vozes de animais. TÓPICO 2 | PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS 23 Chamamos de palavras onomatopaicas os verbos que reproduzem as vozes de animais. Exemplos: chirriar (coruja), guinchar (porco), miar (gato), mugir (boi, vaca), rugir (leão, onça), uivar (cão). Para os demais casos, você já deve ter visto: tique-taque , reco-reco, zum- zum, nhec-nhec, pingue-pongue. 6 ABREVIAÇÃO VOCABULAR O ritmo acelerado em que vivemos e a agilidade proporcionada pelas novas tecnologias provocam alterações na língua. Uma delas é redução de algumas palavras até limites que não prejudiquem o entendimento entre os interlocutores. Assim, algumas palavras longas possuem uma variante simplificada, que assumiu o sentido da forma plena. Para ilustrar tal fato, veja estes exemplos: auto (automóvel), curta (curta-metragem), foto (fotografia), micro (microcomputador), moto (motocicleta), pólio (poliomielite), pneu (pneumático), quilo (quilograma), vídeo (videocassete), zoo (zoológico) etc. 7 FORMAÇÃO DE SIGLAS Também é um processo de formação de palavras influenciado pela necessidade de economizar tempo e espaço na comunicação falada e escrita. As siglas são um tipo especial de redução, que trazem agilidade aos interlocutores. São constituídas pelas letras iniciais que formam o nome de uma associação (cultural, estudantil, operária, patronal, recreativa), empresa, firma, instituição, organização internacional, partidos políticos, serviços públicos, sociedades comerciais. Em geral, conhecemos mais as siglas do que as denominações completas, quer ver? Observe a lista e não se assuste, pois as siglas às vezes provêm de outras línguas: AIDS – Acquired Immunodeficiency Syndrome (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) CD – Compact Disc CPF – Cadastro de Pessoas Físicas FUNAI – Fundação Nacional do Índio IBOPE – Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística IPTU – Imposto Predial e Territorial Urbano ONU – Organização das Nações Unidas UNE – União Nacional dos Estudantes UNIDADE 1 | ESTRUTURA E FORMAÇÃO DAS PALAVRAS 24 A sigla, depois de criada, pode atuar como uma palavra primitiva, formando derivados: petista (membros do PT – Partido dos Trabalhadores), peemedebista (membros do PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro). 8 ESTRANGEIRISMOS São palavras estrangeiras introduzidas na língua devido ao contato com outros povos. Elas são mais comuns do que você imagina, basta pensar em ir ao shopping ou comer um cheeseburguer... E, se você estiver diante do computador, ao lado do seu teclado deve haver um...? Um mouse, viu? Olha aí mais uma palavra que tomamos emprestada de outra língua. Existe uma certa polêmica em torno do assunto, discutindo até que ponto o emprego de elementos de outras línguas pode fazer mal à Língua Portuguesa. E, você? O que acha da questão? Antes de tomar partido, não esqueça que o português é uma língua que veio do latim, hein? E está recheada de contribuições vindas do contato com outras línguas (sábado, Jesus – hebraico; algodão, azeite – árabe; bife, clube, esporte – inglês; lasanha, soneto – italiano; tatu, araponga, saci – tupi; macumba, maxixe, quilombo – línguas africanas) que enriqueceram seu patrimônio léxico. Para não nos alongarmos demais no assunto, sugerimos que você passe a dar mais atenção aos anúncios publicitários, às inovações da informática (vamos citar aqui apenas esses dois contextos, mas se você for mais longe...). ATENCAO Leia sobre o emprego de estrangeirismos e reflita acerca da polêmica. Indicamos o artigo de Miguel Ventura Santos Gois, A influência dos estrangeirismos na Língua Portuguesa: Um processo de globalização, ideologia e comunicação. Disponível em:<http://www.filologia.org.br/xiicnlf/textos_completos/A%20influ%C3%AAncia%20dos%20estrangeirismos%20na%20l%C3%ADngua%20portuguesa-%20um%20processo%20de%20 globaliza%C3%A7%C3%A3o,%20ideologia%20e%20comunica%C3%A7%C3%A3o%20-%20 MIGUEL.pdf>. Vimos neste tópico como se dá o processo de formação das palavras. Agora é uma boa hora para complementar o conhecimento que construímos nesta etapa com a leitura do texto de Andréa Lacotiz sobre a função dos sufixos na formação das palavras e sua significação. Boa leitura! TÓPICO 2 | PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS 25 LEITURA COMPLEMENTAR A SEMÂNTICA DOS SUFIXOS E SUA FUNÇÃO NA FORMAÇÃO DE PALAVRAS Qualquer leigo ou iniciante no estudo da gramática, ao abri-la para consultar os processos de formação de palavras, irá se espantar com a quantidade de sufixos presentes na língua portuguesa. Ainda, o emprego desses sufixos se relaciona à mudança de classes gramaticais, processo pelo qual é possível a nominalização de verbos e adjetivos, por exemplo. Entretanto, caso seja feita uma leitura atenta da gramática, ficará a pergunta: por que existem tantos sufixos de valor semelhante se, pelo que parece, não há alteração semântica significante pelo uso de uma ou outra partícula constituinte de palavras? O que faz existir no léxico a forma lembrança e não “lembração”, vingança e não “vingação”? Sandman (1991:75–81) trata em sua obra dos bloqueios pertinentes à formação de palavras, ao discutir as condições de lexicalidade de termos da língua. De acordo com o autor, vários são os impedimentos responsáveis pela ausência de palavras, como as apontadas no parágrafo anterior. Em geral, a existência de uma palavra na língua impede o surgimento de outra de valor igual; embora o sistema possibilite uma forma nova, o uso promove e privilegia a já existente. O autor delineia os seguintes casos de bloqueio: a) bloqueio por derivados com sufixos de função igual: *trancamento/trancação; *tombamento/tombação; *avaliação/avaliamento, dentre outros; b) bloqueio de formas complexas por formas simples ou outras formas complexas: *ridículo(subs.)/ridiculeza ou ridiculidade; *ladrão/roubador; *silêncio/ silenciosidade; *valia/valiosidade. [...] Interessa–nos investigar o ponto em que o sistema virtual da língua possibilita a existência de certos termos, à medida que haja o bloqueio ou, especialmente, quando existem formas paralelas, advindas da mesma base. Casos há em que o dicionário e o próprio uso registram termos como observância/observação, aparência/aparição. Sobre esses sufixos, –ança/–ância/– ência e –ção/–são, as gramáticas assinalam o sentido de “ação ou resultado dela” . Se os verbetes forem consultados no dicionário, saber-se-á que eles não têm o mesmo significado: aparência/aparição, são ambos formados no latim [...] Tais fatos mostram que os sufixos fazem mais do que alterar a classe gramatical de um termo. Faz-nos ver fortes indícios de que os sufixos carregam em si uma carga semântica, variável, que é acrescida à base. Sobre isso, Sandman (1989:30) demonstra o equívoco existente na gramaticologia portuguesa “de que os afixos, principalmente os sufixos, são elementos semanticamente mais vazios do que, por exemplo, radicais (...)”. UNIDADE 1 | ESTRUTURA E FORMAÇÃO DAS PALAVRAS 26 O autor cita duas afirmações existentes em diferentes gramáticos: “Ao contrário dos sufixos, que assumem um valor morfológico, os prefixos têm mais força significativa...” (BECHARA apud SANDMAN). “Ao contrário dos prefixos que, como vimos, guardam certo sentido, com o qual modificam, de maneira mais ou menos clara, o sentido da palavra primitiva, os sufixos, vazios de significação (sic), têm por finalidade formar séries de palavras da mesma classe gramatical.” (ROCHA LIMA apud SANDMAN). Sobre tais assertivas, Sandman cita, como exemplo contra-argumentativo, o sufixo –ada, o qual não tem o mesmo significado em formações como: martelada ‘golpe de martelo’, facada ‘pontada com a faca’ (ibidem). Acrescentamos a esses exemplos, laranjada ‘suco de laranja’, goiabada ‘doce de goiaba’, goleada ‘grande quantidade de gols’, dentre outros sentidos que o sufixo pode adquirir, em certos contextos. FONTE: LACOTIZ, Andréa. Análise dos sufixos –ança/–ença, –ância/–ência na obra do simbolista João da Cruz e Sousa. Estudos Linguísticos XXXV, p. 320-329, 2006. Disponível em: <http://gel. org.br/4publica–estudos–2006/sistema06/569.pdf>. Acesso em: 1 nov. 2006. 27 RESUMO DO TÓPICO 2 Caro(a) acadêmico(a), no Tópico 2, exploramos os seguintes processos de formação de palavras: Por derivação: ocorre a formação de novas palavras (derivadas) a partir de uma já existente (primitiva): a) prefixal: quando acrescentamos um prefixo ao radical (ex.: descuidar); b) sufixal: quando acrescentamos um sufixo ao radical (ex.: pontudo); c) parassíntese: quando acrescentamos ao mesmo tempo um prefixo e um sufixo ao radical (ex.: envelhecer); d) regressiva: quando há redução da palavra primitiva (ex.: sobrar – sobra); e) imprópria: quando há mudança da classe gramatical da palavra (ex.: jantar – o jantar). Por composição: ocorre a formação de palavras, denominadas compostas, a partir da união entre dois ou mais radicais: a) justaposição: quando os radicais se unem sem que haja alteração fonética (ex.: couve-flor); b) aglutinação: quando os radicais se juntam e ocorre alteração fonética (ex.: vinagre – vinho + acre). Outros processos: a) hibridismo: quando usamos radicais de línguas diferentes para formar novas palavras (micro-ondas – grego e português); b) onomatopeia: quando imitamos certos sons ou ruídos, usando palavras para isso (cacarejar, cri-cri, tique-taque); c) abreviação vocabular: quando ocorre a redução fonética de uma palavra (ex.: cine – cinema); d) siglas: quando há redução de certos nomes, usando apenas a letra inicial de cada um dos elementos (CLT – Consolidação das Leis do Trabalho, FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço). 28 Para verificar os conceitos apresentados neste tópico, vamos fazer alguns exercícios. 1 Indique o processo de formação das palavras a seguir, usando o seguinte código: (a) prefixal (b) sufixal (c) parassíntese (d) justaposição (e) aglutinação (f) abreviação vocabular AUTOATIVIDADE - 2 Assinale a alternativa em que a palavra destacada não está corretamente classificada quanto ao seu processo de formação: a) ( ) Semideus: composição por aglutinação. b) ( ) Agito: derivação regressiva. c) ( ) Silencioso: derivação por sufixação. d) ( ) Infatigavelmente: derivação prefixal e sufixal. 3 Em qual alternativa todos os vocábulos não são formados por prefixação: a) ( ) Injusto - desigual - prever. b) ( ) Desligar - irrestrito - readquirir. c) ( ) Infeliz - desmentir - inculto. d) ( ) Pernoitar - irregular - dever. 4 O processo de formação das palavras cerimonial, envernizar e girassol é, respectivamente, o mesmo de: a) ( ) Roseira - oficial - guarda-livros. b) ( ) Entrever - rendeira - passatempo. c) ( ) Leiteiro - enlouquecer - amor-perfeito. d) ( ) Bondade - endireitar - palidez. 5 Todas as palavras não foram formadas pelo mesmo processo em: a) ( ) Repor - ilegal - desfolhar. b) ( ) Outrora - lobisomem - arranha-céu. 29 c) ( ) Beleza - perigoso - livraria. d) ( ) Avermelhar - entardecer - intoxicação. 6 Assinale a alternativa em que a palavra foi formada por um processo de derivação sufixal. a) ( ) Bem-te-vi. b) ( ) Retrocesso. c) ( ) Guloso. d) ( ) Esfriar. 7 Relacione a primeira coluna com a segunda: (1) Parassíntese. (2) Hibridismo. (3) Redução. (4) Sigla. (5) Onomatopeia. ( ) Moto. ( ) Envergonhar. ( ) Monocultura. ( ) Ciciar. ( ) Funai. 30 31 UNIDADE 2 ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • reconheceras classes: substantivo, adjetivo, verbo e advérbio; • analisar a flexão dessas classes gramaticais. A presente unidade de ensino está dividida em quatro tópicos, e no final de cada um deles, você encontrará atividades que contribuirão para a apropria- ção dos conteúdos. TÓPICO 1 – SUBSTANTIVO TÓPICO 2 – ADJETIVO TÓPICO 3 – VERBO TÓPICO 4 – ADVÉRBIO 32 33 TÓPICO 1 SUBSTANTIVO UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Olá, caro(a) acadêmico(a)! Esperamos contar com sua dedicação novamente para juntos conhecermos um pouco mais sobre a Língua Portuguesa. Na Unidade 1 conhecemos os elementos morfológicos que constituem as palavras e os processos de formação de palavras que a Língua Portuguesa possui. Agora que estamos na Unidade 2 vamos estudar a classificação das palavras de nossa língua, assunto que já era uma preocupação dos filósofos gregos, como Platão e Aristóteles. Falar em classes de palavras significa fazer referência à divisão das palavras da língua. E, você, neste momento, deve se perguntar, mas “por que dividir as palavras de uma língua”? Bom, há duas razões que podemos apresentar, porém certamente você perceberá outras ao longo de seus estudos: primeiro, porque classificá-las em classes ajuda a entender seu funcionamento na língua e, segundo, porque há milhares de palavras na nossa língua e agrupá-las, portanto, facilita seu entendimento. Para nossos estudos, vamos adotar a seguinte divisão: substantivo, adjetivo, verbo e advérbio. As demais classes (pronome, numeral, artigo, preposição, conjunção e interjeição) serão vistas na Unidade 3. Antes de começarmos, seria interessante você fazer a leitura do texto que segue, extraído de Margarida Basílio (1995, p. 49-54). Nele você vai conhecer alguns critérios utilizados para a classificação das palavras. CLASSES DE PALAVRAS Já é quase uma tradição em estudos da linguagem dizer-se que as classes de palavras (também conhecidas como partes do discurso ou categorias lexicais) podem ser definidas por critérios semânticos, sintáticos e morfo- lógicos. As gramáticas normativas privilegiam o critério se mântico na classificação das palavras, embora utilizem todos os critérios. No estruturalismo, critica-se a gramática tradicional pela mistura de critérios e privilegiam-se os critérios morfológico e funcional. Na teoria gerativa transformacional, as classes de palavras são definidas apenas em termos de propriedades sintáticas. UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I 34 A questão da definição de classes de palavras é bas tante complexa, quer em relação aos critérios, quer em relação ao fato de que a adequação de definições de clas ses varia de língua para língua. Aqui, vamos colocar a questão a partir das necessidades de uma abordagem ade quada aos processos de formação de palavras em português. OS TRÊS CRITÉRIOS Passaremos a considerar a questão dos critérios de definição de classes de palavras a partir das motivações internas à formação de palavras. Para isso, vamos inicial mente caracterizar cada critério e posteriormente estudar sua relevância. Dado que apenas substantivos, adjetivos, verbos e advérbios estão envolvidos em processos de for mação de palavras, vamos nos deter aqui apenas nessas classes. O CRITÉRIO SEMÂNTICO Dizemos que as classes de palavras são definidas pelo critério semântico quando estabelecemos tipos de signifi cado como base para a atribuição de palavras a classes. A maior parte das definições de substantivo que en contramos nas gramáticas é de base semântica. Em geral, o substantivo é definido como a palavra com que designamos os seres. Pela sua própria natureza, o substantivo é definido com relativa facilidade pelo critério semântico. O adjetivo, no entanto, é de definição bem mais di fícil a partir de um critério semântico puro, dada a sua vocação sintática, por assim dizer. De fato, o adjetivo não pode ser definido por si só, sem a pressuposição do substantivo, já que sua razão de ser é a especificação do substantivo. No entanto, a função semântica do adjetivo é de im portância crucial na estrutura linguística: de certa maneira, o adjetivo tem a mesma razão de ser que os afixos, no sentido de permitir a expressão ilimitada de conceitos sem a exigência de uma sobrecarga da memória com rótulos particulares. Para esclarecer esse ponto, considere o exemplo a seguir: (3) criança: a) bonita, feia, simpática; b) magra, gorda, alta, baixa; c) sadia, doente, subnutrida; d) bem-educada, malcriada; e) feliz, infeliz; f) neurótica, autista; g) brasileira, estrangeira e assim por diante. TÓPICO 1 | SUBSTANTIVO 35 Como vemos, uma série de conceitos diferentes po dem ser expressos pela especificação de um adjetivo ao substantivo; é esta a função do adjetivo: uma função niti damente semântica, a de especificar o substantivo, assim permitindo a expressão de um teor praticamente ilimitado de especificações com o uso de elementos fixos; mas uma função dependente do substantivo por sua própria natu reza e razão de ser. Quanto ao verbo, é normal defini-lo semanticamente como a palavra que exprime ações, estados ou fenômenos. Essa definição pura e simples em termos semânticos não é suficiente, no entanto, já que ações, estados e fenômenos podem ser expressos por substantivos. Assim, há que se acrescer à definição semântica do verbo ou uma dimensão morfológica, em virtude da gama de variações flexionais que lhe são características, ou uma dimensão discursiva, relacionada à questão do momento do enunciado, por exemplo. No caso do advérbio, teríamos algo análogo ao caso do adjetivo, já que advérbios permitem especificação da ação, estado ou fenômeno descrito pelo verbo. Em suma, o critério semântico é fundamental para a definição das classes vocabulares produtivas no léxico. Mas não é um critério suficiente, pelo menos nos termos até agora encontrados em definições, já que noções igual mente rotuladas podem ser expressas por mais de uma das classes estabelecidas. Por exemplo, ações podem ser expressas por nomes e verbos, qualidades são designadas por substantivos e adjetivos, e assim por diante. O CRITÉRIO MORFOLÓGICO Entendemos por critério morfológico a atribuição de palavras a diferentes classes, a partir das categorias gra maticais que apresentem, assim como das características de variação de forma que se mostrem em conjunção com tais categorias. De acordo com o critério morfológico, o substantivo é definido como uma palavra que apresenta as categorias de gênero e número, com as flexões correspondentes. Embora demonstre alto teor de eficiência em relação a classes como verbo e advérbio, a definição morfológica do substantivo não distingue adequadamente esta classe da dos adjetivos, já que estes possuem as mesmas categorias. A diferença entre substantivos e adjetivos, neste particular, pode ser abarcada, no entanto, pela distinção imanente/dependente, já que o gênero e o número dos adjetivos de pendem do gênero e número de substantivos a que se referem, enquanto no caso dos substantivos o gênero e o número são imanentes. UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I 36 A classe dos verbos é talvez a mais privilegiada no que respeita a uma definição pelo critério morfológico, dada a riqueza e particularidade da flexão verbal. Assim, o verbo às vezes é definido exclusivamente em termos de sua caracterização morfológica. Quanto ao advérbio, este pode ser definido em oposi ção às demais classes observadas, pela simples propriedade de ser morfologicamente invariável. O critério sintático As classes de palavras podem também ser definidas por um critério sintático. Nesse caso, atribuímos palavras a classes a partir de propriedades distribucionais (em que posições estruturais as palavras podem ocorrer) e/ou fun cionais (que funçõespodem exercer na estrutura sintática). Por exemplo, afirma-se que o substantivo é a palavra que pode exercer a função de núcleo do sujeito, objeto e agente da passiva. Outra possibilidade de caracterização é a posição de núcleo frente a determinantes, como artigos, demonstrativos e possessivos, ou modificadores, como adjetivos e sintagmas preposicionados. Assim, por exemplo, dizemos que sapato é um substantivo porque podemos dizer o sapato, meu sapato, este sapato, sapato bonito, sapato de Pedro. Já bonito não é um substantivo, pois não podemos dizer o bonito, meu bonito, este bonito, bonito bonito ou bonito de Pedro. A definição do adjetivo em termos funcionais é bas tante fácil, dada a função natural do adjetivo em relação ao substantivo. Assim, muitas vezes o adjetivo é definido como palavra que acompanha, modifica ou caracteriza o substantivo. É interessante notar, no entanto, que a defi nição puramente sintática do adjetivo não é suficiente, dado que não distingue adjetivos de determinantes: estes últimos também acompanham o substantivo. A diferença é que determinantes apontam e estabelecem relações, enquanto adjetivos caracterizam ou especificam. Mas essa diferença é mais de natureza semântica e discursiva do que sintática. A classe dos verbos é bastante difícil de definir em termos sintáticos, dado que o predicado pode não ser verbal. Já no caso do advérbio, a definição sintática é fácil, pois o advérbio exerce junto ao verbo função de modifi cador, análoga à função exercida pelo adjetivo junto ao nome. Essa colocação não cobre todos os casos, natural- mente, já que as palavras que consideramos como advérbios podem se referir à frase como um todo, entre outras possibilidades que necessitam de um estudo detalhado. TÓPICO 1 | SUBSTANTIVO 37 2 CONCEITUANDO Entendemos por substantivo uma palavra que designa diferentes entidades (pessoas, entidade, coisas). Desta forma, são substantivos: a) os nomes de uma espécie ou de seus representantes, de um gênero, de instituições, de lugares, de pessoas: Roma cachorro Luiza cartório Alemanha bananeira homem João igreja boi b) os nomes de noções, ações, estados e qualidades, tomados como seres: corrida viagem altura maldade mentira negócio saúde consciência beleza culto raiva brancura 2.1 CLASSIFICAÇÃO DOS SUBSTANTIVOS a) Comuns/próprios Chamamos de substantivo próprio aquele que designa um objeto individualmente. Exemplos: Pedro, Matilde, Joana, Brasil. Cada um desses substantivos nomeia um ser dentre outros da mesma espécie; designa, portanto, um ser específico e particular. Já o substantivo comum designa a espécie (designação genérica), que reúne características inerentes de determinada classe. Exemplos: rio, mesa, livro, papa, planeta, animal, cidade. b) Concretos/abstratos Por substantivos concretos devemos entender aqueles que nomeiam um ser de existência independente. São os que designam os seres propriamente ditos. Exemplos: mulher, cidade, sol, automóvel, pai, avô. Os substantivos abstratos designam noções, ações, estados e qualidades dos seres, dos quais se podem abstrair (=separar). São os que designam uma essência ou qualidade separada de seu sujeito, como se tivessem existência individual. Veja os exemplos: UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I 38 • substantivos abstratos de qualidade (derivados de adjetivos): altura (de alto); largura (de largo); • substantivos abstratos de ação (derivados de verbos): estudo (de estudar); recordação (de recordar), trabalho (de trabalhar). c) Simples/compostos Os substantivos simples são aqueles que possuem apenas um radical. Exemplos: mulher, cidade, sol. Já os compostos são formados por dois radicais. Exemplos: vaivém, girassol, segunda-feira. Como você já sabe, caro(a) acadêmico(a), em 1º de janeiro de 2009 entrou em vigor o Novo Acordo Ortográfico. Embora as alterações que ele apresente para a nossa língua sejam pequenas, não significa que não precisem ser estudadas ou não exijam um pouco da nossa atenção. Uma das mudanças se refere ao uso do hífen em vocábulos compostos, em sua maioria substantivos compostos, por isso, nossa preocupação em mostrá- las aqui. Vamos a elas! ● Hífen em vocábulos compostos a) Separam-se por hífen os vocábulos compostos formados pela justaposição de duas palavras existentes na língua que, deixando de lado seu significado original, passam a constituir uma nova unidade significativa. Exemplos: ano-luz arco-íris decreto-lei médico-cirurgião tenente-coronel tio-avô amor-perfeito guarda-noturno mato-grossense norte-americano porto-alegrense, sul-africano TÓPICO 1 | SUBSTANTIVO 39 primeiro-ministro conta-gotas guarda-chuva zás-trás blá-blá-blá etc. Em alguns casos, embora se perceba a presença de dois elementos vocabulares, com o uso, os falantes da língua perderam a noção da composição e passaram a vê-los como substantivos simples. Exemplos: girassol madressilva mandachuva pontapé paraquedas etc. UNI b) Haverá hífen em nomes cujo elemento inicial seja grã ou grão. Exemplos: Grã-Bretanha Grão-Pará grã-fino grão-duque etc. c) Separam-se por hífen os nomes de espécies botânicas ou zoológicas. Exemplos: abóbora-menina couve-flor erva-doce feijão-verde andorinha-grande formiga-branca cobra-d’água bem-te-vi etc. ● Hífen em vocábulos compostos em que o primeiro elemento é um prefixo ou falso prefixo UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I 40 Trata-se dos casos em que o primeiro elemento é um prefixo ou elemento antepositivo (de origem grega ou latina) que, geralmente não tendo autonomia na língua, são considerados falsos prefixos. Prefixos citados pelo Acordo: ante-, anti-, circum-, co-, contra-, entre-, extra-, hiper, infra-, intra-, pós-, pré-, pró-, sobre-, super-, sub-, supra-, ultra- etc. Antepositivos, ou falsos prefixos, citados pelo Acordo: aero-, agro-, arqui-, auto-, hio-, eletro-, geo-, hidro-, inter-, macro-, maxi-, micro-, mini-, multi-, neo-, pan-, pluri-, proto-, pseudo-, retro-, semi-, tele- etc. (LEME, 2009, p. 5) a) Separam-se por hífen os prefixos e falsos prefixos do segundo elemento quando este começar com a letra h. Exemplos: anti-herói anti-higiênico extra-humano super-homem mini-hotel semi-hospitalar macro-história etc. b) Quando o primeiro elemento for um prefixo ou falso prefixo terminado em vogal e o segundo elemento iniciar com a mesma vogal, deve-se separar por hífen. Exemplos: anti-ibérico contra-almirante infra-auxiliar anti-inflamatório micro-ondas contra-ataque aqui-inimigo etc. ● Serão sempre separados por hífen: a) Prefixos ex, sota, soto, vice e vizo. Exemplos: ex-almirante ex-diretor soto-mestre TÓPICO 1 | SUBSTANTIVO 41 sota-piloto vice-rei vice-reitor b) Prefixos tônicos acentuados graficamente pós, pré, pró, quando o segundo elemento tiver utilização própria. Exemplos: pós-graduação pós-tônico pré-escolar pré-natal pró-europeu pró-africano c) Prefixos como além, recém, sem. Exemplos: além-mar recém-casado recém-nascido sem-vergonha sem-número d) Prefixos hiper, inter e super serão separados por hífen se o segundo elemento iniciar com h ou r. Exemplos: hiper-humano inter-relacionar super-reativo e) Prefixo sub quando o segundo elemento começar por r. Exemplos: sub-região sub-raça sub-radial UNIDADE 2 | ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS I 42 f) Prefixos circum e pan antes de palavra iniciada por m, n e vogal. Exemplos: circum-navegação circum-escolar pan-americano pan-africano ● Uso de hífen com sufixos. a) Separam-se por hífen os sufixos de origem tupi-guarani. Exemplos: Amoré-guaçu Anajá-mirim Itajaí-mirim capim-açu ● Casos em que não ocorre o hífen.
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