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e serviços institucionalizados, visto que em vários municípios no Brasil, muitas políticas sociais ainda não foram implementadas. O Estado e suas instituições possuem um papel crucial na sociedade: atender a duas demandas, as econômicas e as sociais, por isso que não podemos dissociar a política pública fora da relação entre Estado e sociedade. Assim, podemos entender as políticas públicas como planos e medidas governamentais tendo como objetivo a garantia dos direitos sociais, bem como, o enfrentamento das expressões da questão social por meio das políticas sociais de proteção social. Sob uma perspectiva crítica, as políticas sociais e as políticas públicas no capitalismo monopolista têm como função administrar as expressões da “questão social” de forma a atender às demandas da ordem vigente e amenizar os conflitos sociais. Netto (1996, apud PIANA, 2009, p. 36-37) descreve sob esta ótica: Através da política social, o Estado burguês no capitalismo monopolista procura administrar as expressões da “questão social” de forma a atender às demandas da ordem monopólica conformando, pela adesão que recebe de categorias e setores cujas demandas incorpora, sistemas de consenso variáveis, mas operantes [...] a funcionalidade essencial da política social do Estado burguês no capitalismo monopolista se expressa nos processos referentes à preservação e ao controle da força de trabalho ocupada, mediante a regulamentação das relações capitalistas/ trabalhadoras [...]. No sentido de consensualidade, conformação e administração das expressões da questão social, bem como do aumento e surgimento de novas expressões sociais, podemos contatar que a nova institucionalidade de proteção social no Brasil se efetivou após a Constituição Federal de 1988. 3 A NOVA INSTITUCIONALIDADE DE PROTEÇÃO SOCIAL NO BRASIL Assim, a Carta Magna brasileira, no que diz respeito à cidadania, é uma nova ordem constitucional destinada a assegurar o exercício dos direitos sociais como um de seus valores supremos, fazendo emergir a descentralização político- administrativa e a participação popular por meio dos diversos conselhos sociais. Como efetivar plenamente, como promover o desenvolvimento econômico e o desenvolvimento social concomitantemente? Ou será que a proposta é desenvolver o desenvolvimento social para o crescimento econômico? Ou será o contrário? Como defender o meio ambiente nesse capitalismo acirrado TÓPICO 2 | A NOVA INSTITUCIONALIDADE BRASILEIRA FRENTE ÀS EXPRESSÕES SOCIAIS 115 internacionalmente? Como melhorar a qualidade de vida? Como erradicar a pobreza no Brasil, sendo que ela é histórica e presente em suas diversificadas formas? Como promover a igualdade no capitalismo onde a desigualdade se prolifera de modos diferenciados, sendo a exploração o fator primordial para sua perpetuação? Estes são questionamentos que não são simples de responder frente à complexidade que vivemos na sociedade contemporânea. Atualmente, no Brasil, para tentar organizar a forma de condução do Estado, conforme o Portal do Planalto (2014), existem inúmeros ministérios e secretarias com status de ministério, como podemos constatar atualmente o total somam 41 órgãos do governo (grifamos aqueles que estão mais relacionados com a área social). Que são: Advocacia-Geral da União – AGU Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA Banco Central – BC Casa Civil – CC Cidades – Mcidades Ciência, Tecnologia e Inovação – MCTI Comunicações – MC Controladoria-Geral da União – CGU Cultura – MinC Defesa – MD Desenvolvimento Agrário – MDA Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC Educação – MEC Esporte – ME Fazenda – MF Gabinete de Segurança Institucional – GSI Integração Nacional – MI Justiça – MJ Meio Ambiente – MMA Minas e Energia – MME Orçamento da Presidência da República Orçamento total dos ministérios Pesca e Aquicultura – MPA Planejamento, Orçamento e Gestão – MPOG Previdência Social – MPS Relações Exteriores – MRE Saúde – MS Secretaria da Micro e Pequena Empresa – SMPE Secretaria de Assuntos Estratégicos – SAE Secretaria de Aviação Civil – ASC Secretaria de Comunicação Social – SeCom Secretaria de Direitos Humanos – SDH Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial – SEPPIR Secretaria de Políticas para as Mulheres – SPM 116 UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL Secretaria de Portos – SEP Secretaria de Relações Institucionais – SRI Secretaria Geral da Presidência – SG Secretarias com status de ministério (ligadas à Presidência da República) Trabalho e Emprego – TEM Transportes – MT Turismo – MTur Bem, com a intenção de alcançar objetivos, o governo cria e recria ministérios, cria novos ministérios e novas secretarias, cria e recria políticas públicas, cria e amplia novas políticas sociais, para problemas antigos e novas expressões da questão social. CONTRADIÇÕES DA ASSISTÊNCIA SOCIAL NO GOVERNO “NEODESENVOLVIMENTISTA” E SUAS FUNCIONALIDADES AO CAPITAL Sheyla Suely de Souza Silva O “neodesenvolvimentismo” brasileiro: sua proposta e sua não concreção Tem sido recorrente a interpretação de que, no Brasil, a partir do segundo mandato do presidente Lula, emerge um novo modelo de governo, denominado “neodesenvolvimentista”. Castelo (2009) afirma que, para os seus proponentes, embora esse modelo tenha suas raízes fincadas na matriz nacional- desenvolvimentista, deve hoje adensar um “sentido conceitual inovador”, adequado às novas configurações do capitalismo contemporâneo, daí o prévio adjetivo de “neo” ou “novo” desenvolvimentismo. Na concepção de Sicsú (2008), esse modelo deve promover crescimento com industrialização, por meio dos seguintes fundamentos: uma política monetária lastreada por juros baixos; uma política cambial que administre uma taxa de câmbio competitiva para a exportação de manufaturados e com regulação do fluxo de capitais financeiros; uma política fiscal que cumpra o papel de controlar gastos públicos com o objetivo de manter o pleno emprego, melhorar as condições de vida da população e realizar uma arrecadação progressiva. Para Pochmann (2010), são pressupostos desse “social-desenvolvimentismo” um novo caminho que inclua justamente todos os brasileiros e que seja compatível com o avanço tecnológico da nação e a sustentabilidade ambiental. Sua concreção requer a “refundação do Estado”, através da constituição de novas institucionalidades na sua relação com o mercado, tendo em vista garantir a inovação, por meio da “concorrência combinada entre empreendedores e da maior regulação das grandes corporações empresariais” (p. 179) e a ampliação do fundo público, por via de uma maior tributação das grandes fortunas e propriedade intelectual e do avanço para LEITURA COMPLEMENTAR TÓPICO 2 | A NOVA INSTITUCIONALIDADE BRASILEIRA FRENTE ÀS EXPRESSÕES SOCIAIS 117 um sistema tributário progressivo. Na análise de Sallun Jr. (2009), o modelo de governo do segundo mandato Lula se diferencia do neoliberalismo porque propõe um Estado forte, que intervém em favor da economia; e se diferencia, também, do nacional-desenvolvimentismo porque não almeja o mercado interno, mas, constitui-se uma economia competitiva no plano internacional, por meio da atração das empresas transnacionais, do estímulo às inovações tecnológicas e dos investimentos em infraestrutura. O papel do Estado “neodesenvolvimentista” é regular e impulsionar de forma eficiente o crescimento econômico com inclusão social. Na crítica de Castelo (2007 e 2009), a corrente “neodesenvolvimentista” nasceu na esteira da tradição nacional-desenvolvimentista que, malograda, foi suplantada pelo neoliberalismo e, assim, a emergência do atual modelo de governo se dá em meio a um quadro social adverso