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Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA NA SALA DE AULA Autor: Saulo Xavier de Souza 419 S729i Souza, Saulo Xavier de Intérprete de Língua de Sinais Brasileira na sala de aula Saulo Xavier de Souza. Indaial : Uniasselvi, 2011. 266 p. : il. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-461-4 1. Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS I. Centro Universitário Leonardo da Vinci CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Dr. Malcon Tafner Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra B. Götzinger Montibeller Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald Profa. Jociane Stolf Revisão de Conteúdo: Profa. Fabiana Schimitt Revisão Gramatical: Profa. Iara de Oliveira Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci Copyright © Editora Grupo UNIASSELVI 2011 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: Sou o responsável pela disciplina da área de Interpretação de Língua Brasileira de Sinais na sala de aula. Tenho mestrado em Estudos da Tradução pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Conheci a Libras em 2002 e me profi ssionalizei como intérprete pela Feneis-CE em 2004. Graduei-me em Jornalismo em 2005 e fui certifi cado pelo Prolibras para tradução e interpretação (2006), bem como para o uso e ensino da Libras (2009), ambos de nível superior. Defendi minha pesquisa de mestrado sobre performances de tradução do Português para a Libras em 2010. Tenho experiência com tradução, interpretação, dublagem (Libras - Português) e comunicação. Saulo Xavier de Souza Sumário APRESENTAÇÃO ........................................................................... 7 CAPÍTULO 1 Reflexões Conceituais sobre Tradução e Interpretação em Língua de Sinais ............................................. 9 CAPÍTULO 2 Marcos Históricos da Tradução e Interpretação em Língua de Sinais ..................................................................... 41 CAPÍTULO 3 Evolução da Atividade Profissional de Interpretação de Língua de Sinais no Brasil ................................................... 83 CAPÍTULO 4 Quem é o Intérprete de Libras? ............................................. 129 CAPÍTULO 5 Ética, Legislação e a Atividade de Interpretação Educacional ................................................... 169 CAPÍTULO 6 Técnicas e Práticas de Interpretação Educacional ........... 219 APRESENTAÇÃO Caro(a) pós-graduando(a): Esta disciplina trata da Interpretação de Língua de Sinais Brasileira em termos históricos, teórico-metodológicos e práticos, definindo-a como uma atividade conectada mais com a instantaneidade dos eventos orais do que com conteúdos textuais. Assim, com o amparo de recursos gráficos e elementos visuais inerentes à própria língua de sinais, buscamos aliar o embasamento teórico às vivências práticas próprias da rotina de trabalho do intérprete para conferir mais solidez à formação desse profissional atuante na esfera da Educação Inclusiva. Para fundamentar esse processo, apresentamos a disciplina com base em uma subdivisão em seis capítulos, conforme segue a seguir: Capítulo 01: mediante reflexões conceituais, apresenta e diferencia a tradução da interpretação para que o estudante esteja apto a discutir científica e teoricamente a interpretação de língua de sinais. Capítulo 02: aborda o panorama histórico do campo científico da Tradução para fomentar o reconhecimento das filiações teórica, científica e acadêmica da interpretação de língua de sinais. Capítulo 03: trata da evolução da atividade de interpretação de Língua de Sinais no Brasil, apresentando o contexto histórico e os diferentes graus de desenvolvimento profissional no País. Capítulo 04: traz aspectos teóricos e metodológicos da interpretação para a Libras para que o estudante consiga compreender as especificidades teóricas e metodológicas dessa atividade. Capítulo 05: descreve implicações éticas e legais da presença do intérprete de Libras no espaço educacional de surdos para refletir sobre competências profissionais, o que fazer, o que não fazer, etc. Capítulo 06: encoraja associações diretas de conteúdos linguísticos e discursivos da interpretação de língua de sinais com situações práticas vivenciadas em sala para melhorar o desempenho profissional. Dessa forma, neste caderno de estudo, você ainda terá acesso a referências básicas e complementares que podem ser úteis no decorrer do curso, como também a atividades pensadas para sua melhor apreensão do conteúdo abordado. Bom estudo! Saulo Xavier de Souza Professor-autor CAPÍTULO 1 Reflexões Conceituais sobre Tradução e Interpretação em Língua de Sinais A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Apresentar e diferenciar a tradução e a interpretação mediante revisão conceitual. Discutir a teoria da atividade de interpretação de língua de sinais. 10 Intérprete de língua de sinais brasileira na sala de aula 11 REFLEXÕES CONCEITUAIS SOBRE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAISCapítulo 1 ContextualiZação Como ponto de partida de nosso caderno de estudos, trazemos uma refl exão conceitual sobre a tradução e a interpretação, diferenciando-as como atividades profi ssionais, segundo autores dos Estudos da Tradução. Para isso, apresentamos o conceito de tradução adotado por Costa (2005) e utilizamos a classifi cação dos tipos de tradução segundo Jakobson (2002). Em seguida, apresentamos o conceito de tradução para língua de sinais com base em Quadros e Souza (2008), Segala (2010) e Souza (2010). A seguir, com base em teóricos como Shuttleworth e Cowie (1997) e Pöchhacker (2004), identifi camos o conceito e pontuamos alguns tipos de interpretação. Logo após, comentamos a diferença entre estes dois procedimentos, conforme Pöchhacker (2004) e Gile (1998). Por fi m, trazemos o conceito de interpretação para língua de sinais com base em Cokely (1992) e Isham (1998), dentre outros autores da área. Refl etir conceitualmente sobre a tarefa de interpretar é relevante para a formação do intérprete de Libras, pois tem se tornado imprescindível que os profi ssionais intérpretes saibam das implicações teóricas de sua atividade, tanto para discutirem e refl etirem criticamente sobre sua atuação quanto para identifi carem o lugar acadêmico da profi ssão. Conceito e Tipos de Tradução Quando vamos ao cinema e assistimos a um fi lme com legenda, estamos nos deparando com o quê? Com um objeto prático de tradução. Quando estamos no Brasil e lemos uma obra literária estrangeira disponível na íntegra em nossa língua portuguesa também estamos tendo contato com algo que é fruto de uma tradução. Mas, a tradução pode ser defi nida? O que pode signifi car o ato de traduzir? Diante da pluralidade de referências, adotamos, neste caderno de estudo, um conceito de que a tradução consiste em uma nova produção textual, vinculada a uma produção textual anterior, mas em um novo contexto, em uma nova língua. 12 Intérprete de língua de sinais brasileira na sala de aula Isso quer dizer que, segundo esta orientação teórica, o ato de traduzir um texto, signifi ca re-textualizá-lo. Para isso, convém descrevermos brevemente o procedimento. Veja só! Quando escrevemos um texto em uma determinada língua, na verdade, segundo Koch e Travaglia (2000), por exemplo, estamos textualizandonossas ideias, ou seja, formatando-as como um texto a partir do uso adequado de recursos tanto de coerência quanto de coesão. Assim, quando traduzimos, tomamos todo esse conjunto de ideias textualizadas em uma determinada língua, ou língua de partida, e as re- textualizamos em outra língua, ou língua de chegada. Dessa forma, ao compreendermos a tradução como re- textualização, temos que um texto traduzido se relaciona, no mínimo, ao conteúdo ideacional do texto de partida, textualizado anteriormente em outra língua. (QUADROS; VASCONCELLOS, 2008). Por isso, a importância de compreendermos um texto como um conjunto de ideias articuladas e reunidas com sentido a partir do uso adequado de recursos de coesão e coerência. Essa noção acerca do conteúdo ideacional de um texto é trazida por Quadros e Vasconcellos (2008) sob uma infl uência teórica de vertente linguística, sistêmica e funcional. Porém, nossa intenção aqui não é aprofundar essas abordagens teóricas, pois essa relação com o conteúdo ideacional na re-textualização já foi abordada, por exemplo, por Coulthard (1987,1992) e trabalhada por Costa (1992, 2005), um estudioso brasileiro da área de Estudos da Tradução. Então, acreditamos que caminharmos com base no trabalho desses autores já é o bastante para conceituarmos o ato de traduzir. Assim, considerando-se a proposta de conceituar a tradução como re- textualização a partir de Costa (2005), reiteramos que: TRADUÇÃO é uma nova produção textual, vinculada a uma produção textual anterior, mas em um novo contexto, em uma nova língua. Quando traduzimos, tomamos todo esse conjunto de ideias textualizadas em uma determinada língua, ou língua de partida, e as re-textualizamos em outra língua, ou língua de chegada. 13 REFLEXÕES CONCEITUAIS SOBRE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAISCapítulo 1 Por sua vez, Costa (2005, p.30) afi rma que, ao contrário do escritor do texto original, o tradutor é “aquele tipo especial de escritor que cria o texto, não a partir do seu próprio ideacional, mas a partir de outro texto.” No entanto, o tradutor possui uma diferença que, de acordo com Costa (2005), reside no fato de que o tradutor não é limitado apenas pela gramática, pelos padrões lexicais de sua língua materna e pela sua habilidade como textualizador, mas, como profi ssional, sofre também restrições impostas pelo texto preexistente, pelo seu tom e conteúdo, com os quais ele pode não estar de acordo, e impostas pela organização textual, ainda que em outro código. Ademais, Costa (2005) pontua que o procedimento tradutório é mais bem compreendido quando conseguimos reconhecer dois momentos textuais, os quais ele chama de – o eminentemente ideacional e o de re-escritura – e também quando conseguimos apreender os problemas que lhes são inerentes. Além disso, Costa (2005, p.32) afi rma que, pela tradução, “um texto adquire sua expansão máxima, já que ele transcende os estreitos limites linguísticos no qual foi concebido.” Por outro lado, essa expansão mencionada pode também signifi car um momento crítico, já que, nesse estágio do texto re-textualizado, podem surgir questionamentos como: o que lemos na tradução é o mesmo que contém no original? E, se for, é até que ponto? Quadros e Vasconcellos (2008) reiteram que a defi nição das características textuais de um conteúdo a ser traduzido é informada pelas dimensões, fruto das escolhas de signifi cados e da confi guração textual da tradução. Atividade de Estudos: 1) Com base no que temos apresentado até agora sobre tradução, faça uma pesquisa em uma biblioteca universitária de sua região, sondando em vários livros como outros autores conceituam a tradução e compare com o conceito de Costa (2005). ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Costa (2005) pontua que o procedimento tradutório é mais bem compreendido quando conseguimos reconhecer dois momentos textuais, os quais ele chama de – o eminentemente ideacional e o de re-escritura. 14 Intérprete de língua de sinais brasileira na sala de aula De posse do conceito de tradução como re-textualização, que, segundo Costa (2005), ajuda-nos a entender que a tradução acontece “de texto para textos”, vamos agora à apresentação dos tipos de tradução. Faremos isso conforme o texto “On Linguistics Aspects of Translation”, do teórico Roman Jakobson, que faz parte da obra “The Translation Studies Reader”, editada por um teórico da área de Estudos da Tradução chamado Lawrence Venuti. Para Jakobson (2000), há três tipos de tradução: 1) A tradução intralingual, ou reformulação, consiste na interpretação dos signos verbais por meio de outros signos da mesma língua. 2) A tradução interlingual, ou tradução propriamente dita, consiste na interpretação dos signos verbais por meio de alguma outra língua. 3) A tradução intersemiótica, ou transmutação, consiste na interpretação dos signos verbais por meio de sistemas de signos não-verbais. Conforme Guerini (2008), a tradução intralingual engloba o texto de partida, o leitor-textualizador e o texto de chegada e, Jakobson (2000, p.115) afi rma que “a tradução intralingual de uma palavra utiliza outra palavra, mais ou menos sinônima, ou recorre a um circunlóquio. Entretanto, via de regra, quem diz sinonímia não diz equivalência completa [...].” Um exemplo disso é o livro Harry Potter, que foi redigido no Inglês Britânico e traduzido para o Inglês Americano. Os dois produtos são em Inglês, mas o segundo constitui uma tradução intralingual do primeiro. Vejam os títulos do primeiro volume: Harry Potter and the Philosopher’s Stone (no Inglês Britânico) X Harry Potter and the Sorcerer’s Stone (no Inglês Americano). Na sequência, em relação à tradução interlingual, Guerini (2008) comenta que a tradução interlingual engloba texto de partida, o tradutor e o texto de chegada. Segundo ela, é o tradutor, através de uma operação em que atua simultaneamente como leitor, intérprete e textualizador, que produz o texto de chegada em um segundo código a partir da leitura e interpretação do texto de partida em um primeiro código. Um exemplo disso é a tradução para o português de livros escritos em holandês. Nesse sentido, Jakobson defende que: no nível da tradução interlingual, não há comumente equivalência completa entre as unidades de código, ao passo que as mensagens podem servir como interpretações adequadas das unidades de código ou mensagens Guerini (2008), a tradução intralingual engloba o texto de partida, o leitor-textualizador e o texto de chegada. Guerini (2008) comenta que a tradução interlingual engloba texto de partida, o tradutor e o texto de chegada. 15 REFLEXÕES CONCEITUAIS SOBRE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAISCapítulo 1 estrangeiras [...]. Mais freqüentemente, entretanto, ao traduzir de uma língua para outra, substituem-se mensagens em uma das línguas, não por unidades de códigos separadas, mas por mensagens inteiras de outra língua. Tal tradução é uma forma de discurso indireto: o tradutor recodifi ca e transmite uma mensagem recebida de outra fonte. Assim, a tradução envolve duas mensagens equivalentes em dois códigos diferentes. (JAKOBSON, 2000, p. 115). Segundo Guerini (2008), no Brasil, por exemplo, pode-se dizer que a tradução interlingual representa cerca de 60 a 80% dos textos publicados e que 75% do saber científi co e tecnológico do nosso país provém das traduções. Para a autora, isso termina alimentando vários setores da vida nacional. A seguir, Guerini defende que, sem a tradução, muitos setores simplesmente não funcionariam,como, por exemplo, o de softwares, medicamentos, automobilístico, etc. Por fi m, de acordo com a classifi cação de Jakobson, temos a tradução intersemiótica, a qual, na ótica de Guerini (2008), constitui um dos campos mais promissores dos Estudos da Tradução e, conforme Jakobson (2000), pode ser defi nida como a transmutação de uma obra de um sistema de signos a outro. Segundo esse autor, a forma mais frequente de tradução intersemiótica acontece entre um sistema verbal e um não-verbal, tal como a passagem de narrativas fi ccionais ao cinema, vídeo e história em quadrinhos; como a ilustração de livros; como a passagem de texto à publicidade, entre outros exemplos. Mas, Guerini (2008) comenta que esse tipo de tradução pode acontecer também entre dois sistemas não-verbais, como, por exemplo, entre música e dança e música e pintura. Para ela, na passagem de um texto para outro sistema, é possível obter o seguinte esquema (GUERINI, 2008): texto de partida → intérprete → ícone de chegada Através de códigos diferentes, isto é texto = imagem estática: desenho, foto, pintura ou texto = imagem animada através de vídeo, cinema Tradução intersemiótica como a transmutação de uma obra de um sistema de signos a outro. 16 Intérprete de língua de sinais brasileira na sala de aula Como é possível perceber, os três tipos de tradução são permeados de complexidade. Traduzir seja na mesma língua, seja entre línguas ou entre sistemas semióticos diferentes constitui um procedimento que exige escolhas, leitura atenta e, além disso, a bibliografi a sobre esse assunto é bastante extensa. (GUERINI, 2008). Atividade de Estudos: 1) Com base no conceito de tradução de Costa (2005) e nos tipos de tradução apresentados por Jakobson (2000), faça um comentário, revelando o tipo de tradução que, em sua opinião, melhor defi ne a tradução para língua de sinais. Por favor, justifi que sua resposta. ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Dicionário de Tradutores Literários no Brasil: http://www. dicionariodetradutores.ufsc.br/pt/index.htm. Esse é o site de um dicionário eletrônico, gratuito e virtual, que traz mais informações sobre tradutores literários. Conhecido como DITRA, essa obra traz diversos textos descritivos, imagens, etc. 17 REFLEXÕES CONCEITUAIS SOBRE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAISCapítulo 1 O Lugar da Tradução para Línguas de Sinais Da mesma forma que é possível surgirem questionamentos a respeito da tradução quando se chega ao estágio do texto re-textualizado, como: “o que lemos na tradução é o mesmo que contém no original?”, conforme pontuado por Costa (2005). De acordo com Souza (2010), questões como essa também podem emergir em contextos tradutórios envolvendo línguas de sinais, mas, nesse caso, têm-se normalmente perguntas do tipo: o que estou vendo nessa tradução em sinais é o mesmo que está escrito no texto original? Nesse sentido, conforme Quadros e Souza (2008), ao se levar em consideração a realidade do curso de Letras-Libras da UFSC, por exemplo, “questões-problema” como estas já mencionadas, geralmente emergem diante do procedimento tradutório. Assim, pode-se ressaltar que a noção desse argumento de expansão máxima de um texto se torna o ponto de partida que permite ao tradutor gerar um novo texto no contexto tradutório de chegada, no qual está instalada a decisão mais importante na dimensão do ‘que’ e ‘para quem’ e ainda, na do ‘como’ re-textualizar. (QUADROS; VASCONCELLOS, 2008). Dessa forma, o resultado das decisões afeta, segundo as autoras, a seleção de signifi cados a serem realizados e a confi guração textual da tradução. Perante isso, podemos questionar: mas, o que é tradução para línguas de sinais? Apresentar apenas uma defi nição para esse procedimento não é uma tarefa simples porque, além das restrições textuais impostas pelo próprio texto de partida e das limitações oriundas da confi guração textual de chegada, mencionadas por pesquisadores como Costa (2005) e Quadros e Vasconcellos (2008), para Souza (2010), existem efeitos de modalidade decorrentes das línguas envolvidas no procedimento tradutório que precisam ser considerados para se entender melhor o conceito de tradução para línguas de sinais. Com base em Segala (2010), podemos dar início à abordagem desse conceito. Para ele, a tradução de uma língua oral-auditiva, como o português, para uma língua gesto-visual, como a Libras, carece de pesquisa, pois se trata de um tema emergente e recente. Segundo o autor, a tradução do português para a 18 Intérprete de língua de sinais brasileira na sala de aula Libras é muito ampla e complexa porque as modalidades linguísticas envolvidas são distintas. No processamento dessa abordagem, Segala (2010) comenta que, para muitos, a palavra tradução signifi ca apenas traduzir uma língua para outra. Mas o conceito da tradução interlingual é profundo, amplo e há a necessidade de vastos estudos para compreender a tarefa da tradução em si. Dessa forma, defende que a recodifi cação de uma mensagem originalmente produzida em Libras para o português se enquadra no que vem sendo chamado de tradução intermodal ou efeitos de modalidade. Segala (2010) defende, ainda, que se trata de um domínio recentemente explorado dentro dos estudos da tradução automática, para o qual foram encontradas poucas iniciativas envolvendo o português e a Libras. Na sequência, Segala (2010) traz a informação de que a literatura existente, principalmente relativa a sistemas de tradução do inglês para a Língua de Sinais Norte-americana (ou American Sign Language - ASL), converge para três pontos principais: a) a ideia de que sistemas de tradução automática intermodal acompanham, em linhas gerais, os princípios, as abordagens e as técnicas já desenvolvidas para os sistemas intramodais (de uma mesma modalidade para outra, como de uma língua oral-auditiva para outra língua oral-auditiva, por exemplo); b) a ideia de que os sistemas de tradução intermodal se subdividem, na verdade, em dois subsistemas: o de tradução de uma língua oral-auditiva para um sistema de escrita da língua de sinais; e o de síntese de sinais (gestual- visuais) a partir desse sistema de escrita; c) a ideia de que a complexidade da tarefa está clara e evidentemente relacionada ao sistema de escrita da língua gestual-visual adotado. A seguir, Segala (2010) comenta que a tradução entre línguas de diferentes modalidades, como Língua Portuguesa para Língua Brasileira de Sinais, Língua Inglesa para Língua Norte-americana de Sinais – ASL, entre outras, pode ser considerada uma Tradução Intermodal. Ele acrescenta que, para que se entenda melhor, pode-se considerar que esse tipo de tradução é o mesmo que a tradução interlingual exemplifi cada por Jakobson. Segala (2010) considera, ainda, que a pesquisa acadêmica sobre a Tradução Intermodal atualmente é escassa e, dessa forma, ele menciona que um exemplobastante claro está em Quadros e Souza (2008), quando esses autores defendem A tradução de uma língua oral-auditiva, como o português, para uma língua gesto-visual, como a Libras, carece de pesquisa, pois se trata de um tema emergente e recente. Segala (2010) 19 REFLEXÕES CONCEITUAIS SOBRE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAISCapítulo 1 que nas investigações que conduziram, a língua fonte (LF) era a Língua Portuguesa escrita e a língua alvo (LA) era a Língua Brasileira de Sinais na sua versão - ora. Neste caso, eles compreendiam “ora” como sendo a língua na sua forma de expressão oral, de forma que, no caso especifi co das Línguas de Sinais, trata-se de uma expressão em sinais. Assim, como as modalidades das línguas envolvidas são diferentes, percebem-se efeitos de modalidade. Nesses termos, com base em Souza (2010), acrescenta-se que o procedimento de tradução de uma língua de modalidade oral-auditiva, como o português, para uma língua de sinais, como a Libras, consiste numa atividade performatizada e visual. Logo, quando falamos de tradução para língua de sinais, na verdade, conforme Souza (2010), estamos indo além de uma atividade que acontece de texto para textos, pois se trata de uma performance, uma performance de tradução. Em outras palavras: Se trata de um tipo de tradução que, por exemplo, pode acontecer diante de câmeras de TV, e conta com a presença dos tradutores durante a execução da atividade tradutória. Além de se fazer presente, tem-se a partir de Novak (2005) e Quadros e Souza (2008), que o corpo do tradutor faz parte do “cenário” do procedimento tradutório (SOUZA, 2010, p.127). Para concluir, comentamos a partir de Segala (2010) que, para traduzir textos do Português como língua-fonte para a Libras como língua-alvo, o tradutor, além de ter domínio da Língua Portuguesa e Libras, deve, além de outras coisas, dominar suas variações linguísticas, sociais, culturais e, ainda, ter conhecimento da área que vai traduzir, bem como das normas linguísticas e culturais envolvidas. Segundo Souza (2010), a tradução de um texto escrito em uma língua oral- auditiva para um texto oral em uma língua de sinais é realmente possível, pois mesmo com perdas linguísticas entre as línguas envolvidas, a re-textualização acontece. Atividade de Estudos: 1) Descreva qual é a compreensão sobre a tradução para a língua de sinais que você tinha antes do acesso aos conceitos aqui apresentados? Ou seja, o que é traduzir para a Libras para você? ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ 20 Intérprete de língua de sinais brasileira na sala de aula ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ 2) O que mudou para você quanto a sua percepção da tradução para línguas de sinais? ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Fundamentada a orientação conceitual do procedimento de tradução como uma atividade de re-textualização, que pode acontecer, inclusive, entre línguas de modalidades diferentes, é chegado o momento de refl etirmos conceitualmente sobre como transcorre a atividade de interpretação até conseguirmos entender o conceito de interpretação de língua de sinais. Para isso, com base em teóricos como Shuttleworth e Cowie (1997) e Pöchhacker (2004), identifi caremos, a seguir, o conceito e alguns tipos de interpretação. Por fi m, comentaremos a diferença entre esses dois procedimentos, conforme Pöchhacker (2004) e Gile (1998). Logo após, traremos o conceito de interpretação para língua de sinais, com base em Cokely (1992), entre outros autores. Conceito e Tipos de Interpretação Diferente dos conceitos de textualização e re-textualização em torno do procedimento tradutório, o conceito de interpretação adotado neste caderno de estudo é o que trata o ato de interpretar como mais instantâneo que o ato de traduzir. No entanto, conforme Souza (2010), esclarecemos que o termo “interpretação” está sendo empregado neste material como correspondência direta no português para o termo interpreting do inglês, que também pode ser traduzido como “ato de interpretar”, e é citado por Shuttleworth e Cowie (1997) logo após interpretation, que, no caso do dicionário desses autores, está relacionado mais à tradução poética, o que não vem a colaborar com o conceito de interpretação aqui adotado. Além disso, Shuttleworth e Cowie (1997) nos levam a compreender a interpretação como 21 REFLEXÕES CONCEITUAIS SOBRE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAISCapítulo 1 “senso de entendimento de signifi cados ou intenções” que deve ser evitada como intercambiável ao ato de interpretar. Ou seja, a interpretação deve estar ligada mais ao interpretar do que ao compreender ou entender intenções. (SOUZA, 2010). Logo, para chegar a um conceito de interpretação, trazemos a contribuição teórica de Shuttleworth e Cowie (1997), autores do Dicionário de Estudos da Tradução, da Editora St. Jerome, os quais, por sua vez, entendem que a interpretação “é um termo utilizado para se referir à tradução oral de uma mensagem falada ou de um texto.” (SHUTTLEWORTH; COWIE, 1997, p.83, nossa tradução). Na sequência deste verbete, mais informações são apresentadas, desde dados históricos à enumeração de aspectos singulares, os quais apresentamos a seguir (SHUTTLEWORTH; COWIE, 1997, p.84, tradução nossa): 1) Os intérpretes precisam ser “comunicadores orais expertos”. 2) Os profi ssionais da interpretação devem criar um produto fi nal em “tempo real” sem a possibilidade de voltar atrás nem de fazer revisões, ao contrário dos tradutores, que podem fazer alterações e melhorias, antes de publicarem a versão fi nal do conteúdo traduzido. 3) Assim, os autores continuam descrevendo esses aspectos até mencionarem os vários tipos de interpretação que podem ser distinguidos cientifi camente, desde a interpretação comunitária, interpretação de conferência e interpretação consecutiva, até mencionarem que há um tipo de interpretação signifi cativamente diferente dos outros, que é a interpretação de línguas sinalizadas, uma vez que envolve modalidades tanto orais quanto visual-gestuais. Fique atento! Diante desse contexto, pode- se notar o surgimento da seguinte diferenciação: tradução como algo ligado a conteúdos escritos versus interpretação como algo voltado a eventos orais! Além disso, como ressalta Stone (2009, p.01), “enquanto a tradução e a interpretação estão preocupadas com a versão de uma língua em outra, existem diferenças entre elas, devido à forma e ao limite de tempo”. Dessa forma, Stone (2009) diferencia, conceitualmente, tradução de interpretação. Segundo ele, mencionando Frishberg, a Stone (2009, p.01) enquanto a tradução e a interpretação estão preocupadas com a versão de uma língua em outra, existem diferenças entre elas, devido à forma e ao limite de tempo. 22 Intérprete de língua de sinais brasileira na sala de aula tradução se refere a textos escritos e a interpretação se refere a uma transmissão “ao vivo e imediata” de discurso, seja falado ou sinalizado. Em ambos os casos, Stone (2009) assevera que a língua ou texto-fonte, ou original, é traduzida ou interpretada para uma língua ou texto-alvo. É a partir do conceito de interpretação trazido por Pöchhacker (2004) que sepercebe sua diferença em relação à tradução, resumidamente, por conta da instantaneidade (ou immediacy, no original). Ou seja, para o autor, em princípio, o ato de interpretar é algo transcorrido “aqui e agora”, que visa o benefício das pessoas comprometidas com a comunicação para além de barreiras linguísticas ou culturais. (PÖCHHACKER, 2004). Segundo ele (PÖCHHACKER, 2004), trabalhar a diferença entre tradução e interpretação a partir da instantaneidade é menos excludente do que a partir do meio, conforme mencionado por Stone (2009), uma vez que, segundo Kade (1968), a interpretação é uma forma de tradução em que o texto na língua-fonte é apresentado apenas uma vez sem poder ser revisado ou re-executado, e o texto na língua-alvo é produzido sob pressão de tempo, com poucas chances de correção e revisão. (KADE, 1968 apud PÖCHHACKER, 2004). Após essa revisão de literatura, reiteramos o conceito de interpretação comentando, conforme Pöchhacker (2004), a sequir, que: INTERPRETAÇÃO é um procedimento transcorrido “aqui e agora” sem a oportunidade de nenhuma edição ou revisão, que visa ao benefício das pessoas comprometidas com a comunicação, e que vai além de quaisquer barreiras linguísticas ou culturais. (PÖCHHACKER, 2004). Na sequência, mencionaremos alguns tipos de interpretação com base em autores como Gile (1998) e Shuttleworth e Cowie (1997), por exemplo. Logo após, abordaremos a interpretação para língua de sinais. 23 REFLEXÕES CONCEITUAIS SOBRE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAISCapítulo 1 Atividade de Estudos: 1) Com base no que temos apresentado até agora sobre tradução, faça uma pesquisa em uma biblioteca universitária de sua região, sondando em vários livros como outros autores conceituam a interpretação, e compare com o conceito de Pöchhacker (2004). ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ a) Tipos de Interpretação Gile (1998), em seu texto que compõe o verbete Interpretação de Conferência e Simultânea (ou Conference and Simultaneous Interpreting, no original) da Enciclopédia de Estudos da Tradução, comenta, por exemplo, que a interpretação é a tradução oral de um discurso oral, ao contrário da tradução oral de textos escritos que, por sua vez, é conhecida por tradução observada ou tradução à vista (ou sight translation or translation-at-sight, no original). Na sequência, o autor comenta que o interesse pelo campo é recente e está associado à emersão de formas ou contextos especializados de interpretação profi ssional, tais como: a interpretação em contextos de negócios (ou business interpreting), a interpretação em conferências (ou conference interpreting), a interpretação forense (ou court interpreting), a interpretação comunitária (ou comunity interpreting) e a interpretação de língua de sinais (ou signed language interpreting). (GILE, 1998). Paralelamente, os autores Stewart, Schein e Cartwright (1998) defendem que há vários fatores que infl uenciam a variedade de situações de interpretação: a) A forma de interpretar - língua de sinais e oral, individual e grupo, equipe e revezamento. 24 Intérprete de língua de sinais brasileira na sala de aula b) Diferença nos participantes - tais como: surdocegos, aqueles com competência mínima de linguagem (CML), emocionalmente perturbados, contexto pessoal não-Inglês. c) O contexto - legal, médico, religioso e teatral, mas não educacional, pois esse caso é diferente dos outros porque a maioria dos intérpretes de língua de sinais, por exemplo, trabalha mais em contextos educacionais do que em outros. Diante disso, esses autores comentam que cada variação de forma, cliente e contexto ou cenário, traz consigo outros fatores adicionais que infl uenciam no procedimento de interpretação. (STEWART; SCHEIN; CARTWRIGHT, 1998). • Interpretação de Conferência Gile (1998) defende que a interpretação de conferência surgiu durante a I Guerra Mundial. Segundo ele, até essa época, os importantes eventos internacionais eram todos oferecidos em Francês, mas, por conta da I Guerra, alguns negociadores de alto escalão eram norte-americanos e britânicos e, por não falarem Francês, fez-se necessário o uso do recurso da interpretação. Então, Gile (1998) prossegue, afi rmando que, com o advento da interpretação simultânea e especialmente depois das Batalhas de Nuremberg e Tóquio, entre 1945 e 1946, a interpretação de conferência se tornou mais difundida, de forma que, hoje, ela é amplamente utilizada, não só em conferências internacionais, mas também em vários programas de Rádio e TV, aulas, palestras e durante visitas de chefes de Estado, o que, muitas vezes, faz do termo “interpretação de conferência” um termo errôneo. Por isso, Gile (1998) destaca que, hoje, a distinção entre interpretação de conferência e as outras formas, é feita a partir de duas modalidades (consecutiva e simultânea) e seus mais altos níveis de performance. Shuttleworth e Cowie (1997) defi nem a interpretação de conferência como sendo um termo utilizado para se referir ao tipo de interpretação que acontece em conferências internacionais, bem como a outros contextos de alto perfi l, como palestras, transmissões de TV ou encontros de alta importância; além de ser uma das formas de interpretação que é defi nida de acordo com contexto em que é utilizada. (SHUTTLEWORTH; COWIE, 1997). Assim, segundo os autores, os intérpretes de conferência precisam ser profi cientes em uma grande variedade de técnicas de interpretação, pois mesmo Gile (1998) destaca que, hoje, a distinção entre interpretação de conferência e as outras formas, é feita a partir de duas modalidades (consecutiva e simultânea). 25 REFLEXÕES CONCEITUAIS SOBRE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAISCapítulo 1 que a interpretação simultânea seja o modo mais utilizado, ainda é possível utilizar serviços de interpretação consecutiva (ou consecutive interpreting, no original) ou até a interpretação sussurrada (ou whispered interpreting, no original). (SHUTTLEWORTH; COWIE, 1997). Além disso, os autores ratifi cam o que é postulado por Gile (1998), ao defenderem que para os propósitos da interpretação de conferência, as línguas conhecidas pelos intérpretes podem ser categorizadas em três tipos. (SHUTTLEWORTH; COWIE, 1997). Logo, para Gile (1998), a maioria dos intérpretes de conferência só dispõe de duas ou três línguas de trabalho, divididas da seguinte forma: • Língua(s) A: língua ou as línguas nativas do intérprete ou língua(s) da(s) qual(is) o(a) intérprete tem um domínio nativo ou perto do nativo. Intérpretes trabalham tanto dentro quanto fora de sua(s) língua(s) A. • Língua(s) B: língua(s) não-nativas da(s) qual(is) o(a) intérprete tem domínio sufi ciente, mas não do mesmo grau que a língua A. Intérpretes trabalham tanto dentro quanto fora de sua(s) língua(s) B. • Língua(s) C: essas são línguas passivas. Intérpretes trabalham de uma língua C para dentro de sua língua A ou B, mas não interpretam em uma língua C (GILE, 1998, p. 62, nossa tradução). Página da Direção Geral de Interpretação da Comissão Europeia. http://scic.ec.europa.eu/europa/jcms/c_5376/o-que-e-a- interpretacao-de-conferencias. Trata-se do endereço do Serviço da Comissão Europeia, que assegura a interpretação e a organização de conferências, tudo sob tutela do Androulla Vassiliou. Fica a dica! Munidos do conceito de interpretação de conferência, a seguir, abordaremos o conceito de Interpretação Consecutiva, abordado por Gile (1998) e Shuttleworth e Cowie (1997), por exemplo.• Interpretação Consecutiva Em seu verbete, Gile (1998) defende que, no caso da interpretação consecutiva, o intérprete escuta uma parte do discurso por alguns instantes, 26 Intérprete de língua de sinais brasileira na sala de aula faz anotações e, então, entrega toda essa parte na língua-alvo. O palestrante ou orador prossegue por mais alguns minutos e, daí, o intérprete entrega essa outra parte da mensagem e, assim, o processo continua até o fi m do discurso. A interpretação “frase por frase”, que é normalmente encontrada em contextos de interpretação comunitária e assistida (ou liaison interpreting), não é considerada. Por sua vez, Shuttleworth e Cowie (1997) comentam que o termo interpretação consecutiva deve ser reservado para os cenários mais rigorosos de procedimentos utilizados quando se está interpretando para grandes audiências em cenários formais como conferências ou tribunais. Em seguida, defendem que quando a interpretação consecutiva é entendida dessa forma, é possível compreendê-la como um procedimento em que o intérprete ouve (algumas vezes até durante um período de tempo razoavelmente longo) uma seção de um discurso entregue na língua fonte (LF) e faz anotações. Tais anotações tendem a servir simplesmente mais como um recurso de auxílio na forma de resumo memorizado do que como uma transcrição anotada de todo o discurso enunciado. Depois disso, o orador faz uma pausa para permitir que o intérprete apresente na língua alvo (LA) o que tem sido dito. Enquanto a seção tem sido interpretada, o orador prossegue com a próxima seção, até que o discurso inteiro seja entregue e interpretado na LA. (SHUTTLEWORTH; COWIE, 1997). Após essa descrição, os autores prosseguem comentando que a interpretação consecutiva, por sua vez, requer um número de várias habilidades e práticas diferentes, incluindo um alto grau de compreensão da língua fonte, competências avançadas de tomar notas, excelente grau de conhecimentos gerais, uma memória precisa e uma forma segura de entrega da mensagem enunciada. Em seguida, eles mencionam que a diferença entre a interpretação consecutiva e a simultânea está no fato de que a compreensão e a produção do discurso são separadas. Além disso, uma vez que o orador e o intérprete não falam ao mesmo tempo, fi ca claramente percebido que existe um processo mais prolongado que a variante da interpretação simultânea. (SHUTTLEWORTH; COWIE, 1997). Para encerrar, abordaremos a seguir o conceito de interpretação simultânea e algumas de suas subsequentes variantes, ainda segundo Gile (1998) e Shuttleworth e Cowie (1997), mencionando, por fi m, o que Gile (1998) considera como aspectos que diferenciam os procedimentos de A diferença entre a interpretação consecutiva e a simultânea está no fato de que a compreensão e a produção do discurso são separadas. Gile (1998) no caso da interpretação consecutiva, o intérprete escuta uma parte do discurso por alguns instantes, faz anotações e, então, entrega toda essa parte na língua- alvo. 27 REFLEXÕES CONCEITUAIS SOBRE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAISCapítulo 1 tradução e interpretação para depois fazermos a refl exão conceitual em torno da interpretação de língua de sinais com base em Quadros (2004), Cokely (1992) e outros autores. Página da Direção Geral de Interpretação da Comissão Européia - http://scic.ec.europa.eu/europa/jcms/c_6360/consecutiva. Trata-se do endereço do Serviço da Comissão Europeia, que assegura a interpretação e a organização de conferências, tudo sob tutela do Androulla Vassiliou. Fica a dica! • Interpretação Simultânea Gile (1998) apresenta, em relação às línguas orais, o profi ssional que faz interpretação simultânea. Este se senta dentro de uma cabine de interpretação, escuta o orador a partir de um fone de ouvido e interpreta o discurso diante de um microfone enquanto escuta. Os usuários do serviço, tais como delegados em uma sala de conferências, escutam a versão na língua alvo também a partir de um fone de ouvido. (GILE, 1998). Por sua vez, Shuttleworth e Cowie (1997) defendem que a interpretação simultânea é um recurso utilizado para se referir a uma das duas principais modalidades de interpretação. No caso da interpretação simultânea, o profi ssional atua como uma espécie de presença invisível, sentando- se em um lugar especial e trabalhando com fones de ouvido e um microfone, de forma que ele ou ela escuta o discurso na língua fonte e o reformula na língua- alvo, na medida em que o entrega para uma determinada audiência. Essa técnica foi primeiramente empregada durante os testes de Nuremberg, após o fi m da Segunda Guerra Mundial, e, atualmente, é tipicamente utilizada em contextos tais como conferências e testes televisivos. (SHUTTLEWORTH; COWIE, 1997). No livro de Quadros (2004) sobre o tradutor e intérprete de língua de sinais brasileira e língua portuguesa também encontramos conceitos específi cos de interpretação simultânea e interpretação consecutiva! Shuttleworth e Cowie (1997) defendem que a interpretação simultânea é um recurso utilizado para se referir a uma das duas principais modalidades de interpretação. O tradutor e intérprete de língua de sinais brasileira e língua portuguesa também encontramos conceitos específi cos de interpretação simultânea e interpretação consecutiva! 28 Intérprete de língua de sinais brasileira na sala de aula Assim, temos que, para Quadros (2004), a interpretação simultânea consiste num processo de tradução-interpretação de uma língua para outra que acontece simultaneamente, ou seja, ao mesmo tempo. Segundo ela, isso signifi ca que o tradutor-intérprete precisa ouvir ou ver a enunciação em uma língua (língua fonte), processá-la e, então, passar para a outra língua (língua-alvo) no tempo da enunciação. Nesse sentido, Quadros (2004) defende que a interpretação consecutiva se trata do processo de interpretação de uma língua para outra, que acontece de forma consecutiva, ou seja, o tradutor-intérprete ouve ou vê o enunciado em uma língua (língua fonte), processa a informação e, posteriormente, faz a passagem para a outra língua (língua alvo). Finalmente, com base em todos esses autores, percebemos claramente a infl uência do parâmetro da instantaneidade (defendido por Pöchhacker) nos esclarecimentos conceituais acerca das modalidades de interpretação. Atividade de Estudos: 1) Com base no que temos apresentado até agora sobre interpretação, faça uma pesquisa em uma biblioteca universitária de sua região, sondando em vários livros com outros autores, como eles lidam com a interpretação e compare com o conceito de Pöchhacker (2004). ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Se você tem domínio profi ciente de Inglês, visite sites de federações ou associações internacionais de intérpretes e procure mais informações sobre como essas entidades defi nem tanto a profi ssão quanto as modalidades e contextos de trabalho na área de interpretação. Após registrar suas anotações sobre seus achados, 29 REFLEXÕES CONCEITUAIS SOBRE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAISCapítulo 1 compare com os mesmos dados que aparecem em sites tais como o da Associação Mundial de Intérpretes de Língua de Sinais (WASLI). b) Lugar da interpretação para língua de sinais No caso de línguas de modalidade gestual-visual como a Libras, a noção de instantaneidade defendida por Pöchhacker (2004)também pode ser uma opção teórica para diferenciar do ato performático de tradução para língua de sinais. Para Shuttleworth e Cowie (1997), a interpretação de língua de sinais é um tipo de interpretação em que o profi ssional intérprete trabalha entre uma língua oral e uma língua visual-gestual utilizada por uma pessoa Surda. Segundo os autores, uma vez que a interpretação de línguas sinalizadas envolve o receber e o transmitir informações em diferentes modalidades (como por exemplo, falada ou sinalizada), o uso do termo simultâneo ao invés de consecutivo se torna menos exigente e, de fato, é a norma que mais se encaixa nesse tipo de interpretação. Isso signifi ca que, intérpretes de língua de sinais podem trabalhar simultaneamente, não somente em conferências, mas também em contextos menores, de menor escala, tais como: cirurgias médicas, entrevistas de emprego e, até mesmo, várias outras situações nas quais o termo interpretação comunitária pode ser mais apropriado. (SHUTTLEWORTH; COWIE, 1997). Na sequência dessa refl exão conceitual acerca da interpretação de língua de sinais, trazemos Cokely (1992), um autor da área de interpretação, pioneiro no contexto norte-americano, o qual, segundo comentado e traduzido por Quadros e Souza (2008), entende que a interpretação consiste em uma “mediação de vários elementos internos e externos à mensagem que está sendo apresentada.” (COKELY, 1992, apud QUADROS; SOUZA, 2008). Assim, além de sabermos que a interpretação envolve um limite de tempo diferente daquele que é vivenciado normalmente em procedimentos de re- textualização, compreendemos que essa concepção cokelyana de interpretação como mediação é algo que pode fazer parte do que Quadros e Souza (2008) traduziram como “monólogos expositivos não-recíprocos”, ou seja, interpretar para língua de sinais, segundo Cokely (1992), não é uma atividade que permite reciprocidade de interação durante a enunciação da mensagem. Por fi m, relembramos nosso conceito de interpretação de língua de sinais adotado: 30 Intérprete de língua de sinais brasileira na sala de aula Trata-se de um procedimento discursivo que transcorre “aqui e agora” sem a oportunidade de nenhuma edição ou revisão, faz parte de monólogos expositivos não-recíprocos e que traz consigo uma mediação de vários elementos internos e externos à mensagem que está sendo apresentada. Atividade de Estudos: 1) Descreva qual a compreensão sobre a interpretação para a língua de sinais que você tinha antes do acesso aos conceitos apresentados, esclarecendo: o que é interpretar em Libras para você? O que mudou quanto à sua percepção da interpretação para línguas de sinais? ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ A seguir, apresentaremos, com base em Nantes (2006) e outros autores, alguns relatos sobre a prática profi ssional de interpretação de língua de sinais em seus mais variados contextos e modalidades. • Interpretação de língua de sinais em conferências (NANTES, 2006) O intérprete de Língua de Sinais, conforme a Profa. Dra. Ronice Muller de Quadros descreve em seu livro intitulado O Tradutor e Intérprete de Língua de Sinais e Língua Portuguesa, é o profi ssional que domina a língua de sinais e a língua falada do país. 31 REFLEXÕES CONCEITUAIS SOBRE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAISCapítulo 1 No caso do Brasil, a Língua Portuguesa é a Libras. Além do domínio das línguas envolvidas no processo de tradução e interpretação, o profi ssional precisa ter domínio dos processos, modelos, estratégias e técnicas de tradução e interpretação. Alguns preceitos éticos devem ser observados durante o ato interpretativo: confi abilidade, imparcialidade, discrição, distância profi ssional, fi delidade. Além das línguas envolvidas, o intérprete deve entender as culturas em jogo, ter familiaridade com cada tipo de interpretação e com o assunto. É importante que o intérprete seja capaz de identifi car o tipo de discurso a que está exposto a fi m de executar um trabalho mais efi caz. Alguns tipos de discursos existentes podem ser: • narrativo – reconta uma série de eventos ordenados mais ou menos de forma cronológica; • persuasivo – objetiva infl uenciar a conduta de alguém; • explicativo – oferece informações requeridas em determinado contexto; • argumentativo – objetiva provar alguma coisa para a audiência; • conversacional – envolve a conversação entre duas ou mais pessoas; • procedural – dá instruções para executar uma atividade ou usar algum objeto. Certas situações exigem um posicionamento ético do profi ssional intérprete e uso do bom senso na tomada de decisões. No caso de dúvidas, faz-se necessário refl etir e conversar com outros intérpretes sobre o contexto da situação interpretativa sempre com base nos princípios éticos do código de ética do tradutor/intérprete. Exemplos de diferentes situações que podem surgir durante a atuação do intérprete em conferências: • Uma empresa contrata o serviço de um intérprete e depois se nega a pagá-lo porque a pessoa surda não compareceu; • O palestrante fala muito rápido; Além do domínio das línguas envolvidas no processo de tradução e interpretação, o profi ssional precisa ter domínio dos processos, modelos, estratégias e técnicas de tradução e interpretação. 32 Intérprete de língua de sinais brasileira na sala de aula • Quando está interpretando as luzes são apagadas e o intérprete não foi informado que isso aconteceria; • A platéia surda conhece o intérprete e conversa com ele durante a interpretação; • A platéia surda faz observações sobre a palestra para o intérprete; • O intérprete foi colocado em uma posição inadequada, com visualização comprometida. Em todas essas situações, o intérprete deve agir com bom senso e expor sua opinião a partir do conhecimento a respeito dos direitos dos surdos e do papel do intérprete. A contratação de um Intérprete de Língua de Sinais deve ser realizada mediante a celebração de um contrato entre o profi ssional e o contratante. Este tem por objetivo assegurar os direitos do profi ssional Intérprete de Língua de Sinais, bem como garantir ao contratante o cumprimento dos deveres do profi ssional na atividade para a qual fora contratado. Você pode encontrar no site da APILMS (www.apilms.org) um modelo de contratação de Intérprete de Língua de Sinais disponível para download, baseado nas cláusulas do modelo de contrato recomendado pelo Sindicato Nacional de Tradutores. De acordo com Segala (2010), o intérprete tem um papel de suma importância no processo de conquista de espaço da comunidade surda na sociedade. Por isso, o intérprete deve ter o cuidado de não suprimir nem adicionar informações no discurso do conferencista de forma que prejudique a comunidade surda, fazendo com que esta continue à margem da sociedade, sem conhecer seus direitos e deveres. O intérprete de Língua de Sinais precisa refl etir constantemente sobre sua prática, buscando aprimorar-se cada vez mais e, em relação à interpretação em conferências, ter consciência de que não está prestando um favor, mas atuando como um profi ssional e deve comportar-se como tal, atendendo às exigências do contratante, desde que não fi ra os preceitos éticos da profi ssão. O intérprete deve agir com bom senso e expor sua opinião a partir do conhecimentoa respeito dos direitos dos surdos e do papel do intérprete. 33 REFLEXÕES CONCEITUAIS SOBRE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAISCapítulo 1 • Interpretação de língua de sinais em provas e concursos (OLAH, 2006) Depois de muita luta, o surdo hoje pode solicitar um intérprete de língua de sinais para interpretar no vestibular, em provas e concursos. Ao intérprete é pago um pouco mais do que um fi scal comum. Não temos outro intérprete para revezar quando precisamos tomar água, formos ao banheiro até mesmo para um lanche. Caso precise sair da sala, o surdo fi cará sozinho. Há surdos que pedem para ler uma questão mais de uma vez, fazendo com que ocupe todo o tempo disponível para a realização da prova. Quando há redação no vestibular, nós explicamos o tema e o surdo desenvolve o assunto no rascunho, sendo posteriormente passado a limpo em Língua Portuguesa. Algumas instituições responsáveis em realizar vestibular e concurso não possuem nenhum tipo de conhecimento sobre a surdez ou Língua de Sinais, com isso, deixa-nos a vontade para que façamos nosso trabalho. Neste tipo de trabalho, há candidatos que possuem nível escolar que deixa a desejar e, por isso, ele espera que o intérprete auxilie-o nas respostas. Por preceitos éticos, deixamos que ele mesmo exponha seus conhecimentos. Aqui no Mato Grosso do Sul, a instituição que precisar de um intérprete de Libras deve procurar a APILMS - Associação dos Profi ssionais Tradutores/ Intérpretes de Língua Brasileira de Sinais de Mato Grosso do Sul ou o CAS – Centro de Capacitação de Profi ssionais da Educação e de Atendimento às Pessoas com Surdez. Ao surdo é dado o direito de utilizar o Intérprete de Língua de Sinais e ele é o responsável por buscar esse e outros direitos garantidos. Além disso, também lhe é assegurado o direito de usufruir o acréscimo de tempo na realização das provas. • Interpretação de língua de sinais em DETRAN e autoescolas (GONÇALVES, 2006) Iniciei como intérprete de Libras a mais ou menos oito anos. O começo foi no susto, como a maioria dos intérpretes. Já tive experiência de interpretar nas mais diferentes situações, em vestibular, concursos, cursos, escolas, médico, igreja, faculdade, palestras, congressos, entrevistas, autoescola e, atualmente, O surdo hoje pode solicitar um intérprete de língua de sinais para interpretar no vestibular, em provas e concursos. 34 Intérprete de língua de sinais brasileira na sala de aula faço interpretações esporádicas, quando necessário, e interpreto junto ao Detran do estado. Minha primeira experiência de interpretar no trânsito foi junto a uma autoescola, como contratada particular do surdo, mas isto foi antes da lei de reconheceu a Libras como língua e da regulamentação feita a posteriori. Entrei como funcionária concursada no DETRAN/MS, em fevereiro deste ano, porém o órgão já possuía um contrato de que o CAS estaria enviando os intérpretes, quando necessário, para a realização das provas, tanto na capital como no interior. Todavia, certo dia apareceu um surdo para fazer prova escrita sem que houvesse o agendamento ou a solicitação de intérprete, então, por intermédio de uma amiga descobriram que eu interpretava e me chamaram para interpretar a prova. Depois desse fato, fui procurada pela responsável do setor de recursos humanos que me perguntou se haveria a possibilidade de interpretar junto ao DETRAN para eventuais necessidades. Disse sim e logo depois fui nomeada como interprete ofi cial do DETRAN/MS. Hoje, faço um atendimento ao surdo mais com relação aos serviços, tais como: atendimento pata renovação de CHN, licenciamento, exame médico, etc. Todavia, essa função há de mudar, já fui comunicada de que, quando se tratar de interpretação na capital, serei chamada a interpretar, até porque sempre que solicitados os serviços de um intérprete é pago um valor pelos serviços e o órgão não deseja arcar com muitos gastos. Mas, o surdo que desejar tirar a carteira de habilitação nacional deverá primeiro contatar a autoescola, é ela a responsável por providenciar intérprete e agendar seus exames no Detran, solicitando, inclusive, o intérprete para o dia da prova. O Detran não se responsabiliza por intérprete na autoescola porque se trata de uma atividade privada que visa a auferir lucro e, portanto, dever também arcar com os riscos do negócio, ou seja, contratar um intérprete. Por isso, intérprete, quando solicitado a interpretar em autoescolas solicite primeiro a elaboração e assinatura do contrato de prestação de serviços, onde conste o valor a ser pago pelos seus préstimos, caso contrário, pode correr o risco de trabalhar de graça. 35 REFLEXÕES CONCEITUAIS SOBRE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAISCapítulo 1 • Interpretação de língua de sinais no sistema educacional (BRITTO, 2006) Tenho experiência de contato com a comunidade surda há 15 anos, mas como intérprete educacional há apenas 8. Hoje me sinto muito feliz pelas conquistas realizadas por essa comunidade, ao longo desse tempo, dentre elas, o direito de frequentar o ensino comum e poder ter a presença de um profi ssional intérprete na sala de aula. Em 1999, iniciei como intérprete educacional na Escola Municipal Professor Arlindo Lima. Era contratada do Estado e cedida para a Prefeitura. Lembro-me de que temia muito, pois este ano foi o início da inclusão da pessoa surda no município, no Estado já acontecia desde 1997. Meu temor era principalmente porque sabia que os profi ssionais que iriam nos recepcionar eram totalmente alheios a esse trabalho, era novo também para mim, enfi m, os desafi os surgiriam com certeza! Um dos primeiros impasses foi a questão do professor achar que estávamos ali na sala de aula como “espiões”, “fi scais” de seu trabalho, etc. e também a desconfi ança em relação à fi delidade da transmissão do conteúdo ou mesmo em relação a estarmos “passando cola” ou não. Outro fato que ainda persiste é que ,na maioria das vezes, os alunos Surdos são dos intérpretes e não da escola ou do professor, fi cando sob nossa responsabilidade seu sucesso ou fracasso no aprendizado. Na realidade, a escola ainda não aceitou o Surdo ou qualquer outro aluno com necessidades especiais de fato, mas apenas de direito. Acredito, porém, que estamos passando por mudanças que fazem parte de um processo e, como processo, elas não ocorrem de uma hora para a outra. Hoje percebo que já houve alguma mudança, temos buscado formação profi ssional e somos capazes de confrontar e expor, aos profi ssionais que ainda não entendem nosso verdadeiro papel na sala de aula, que nossa função é a de intermediar na comunicação entre a pessoa surda e o professor e também com os demais colegas de turma e escola. Acredito que agora, com o Decreto no 5.626, que institui a Libras como disciplina e prevê formação para os intérpretes, em muito contribuirá para este processo e para o efetivo reconhecimento do nosso trabalho profi ssional. Através da nossa atuação como intérprete educacional o Surdo tem tido a oportunidade de acompanhar os conteúdos, utilizando-se de sua língua, a Libras, apropriando-se dos conhecimentos com mais facilidade. Eles interagem com o professor, os colegas e com a escola em geral. Na experiência que tenho tido, Temos buscado formação profi ssional e somos capazes de confrontar e expor, aos profi ssionais que ainda não entendem nosso verdadeiro papel na sala de aula, que nossa função é a de intermediar na comunicação entre a pessoa surda e o professor e também com os demais colegas de turma e escola. 36 Intérprete de língua de sinais brasileira na sala de aula na maioria das vezes, um bom número de colegas se interessam em aprender a Libras para se comunicar diretamente, isso é uma das coisas que faz com que o Surdo se sinta verdadeiramente inserido na comunidade escolar, sabemos que aindahá um longo caminho a ser percorrido. Atividade de Estudos: 1) Com base nos conceitos e conhecimentos adquiridos até então, qual o seu entendimento pessoal acerca da tradução, da interpretação e dos respectivos contextos e modalidades? Qual deles é aquele em que você mais se enquadraria profi ssionalmente hoje? ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Algumas Considerações Ao fi nal desse primeiro capítulo, notamos que estão evidentes os devidos esclarecimentos conceituais envolvendo a tradução e a interpretação. Neste momento, existe uma pergunta que talvez você possa estar se fazendo: Professor, tudo bem que agora sabemos o que é traduzir e o que é interpretar. Mas, o que toda essa diferenciação conceitual tem a ver com nosso trabalho como intérpretes de Libras em sala de aula? Por que será que isso é importante, mesmo? Responderíamos a uma indagação como essa compartilhando que, felizmente ou não, nossa profi ssão ainda está passando por todo um processo que envolve o reconhecimento, legitimação, institucionalização, entre outros aspectos sobre os quais trataremos nos próximos capítulos deste nosso caderno de estudos. 37 REFLEXÕES CONCEITUAIS SOBRE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAISCapítulo 1 No entanto, de antemão, já é importante estarmos ciente da diferença que há entre traduzir e interpretar, pois, em termos históricos, por exemplo, pessoalmente, entendemos que nós, intérpretes de língua de sinais, fomos sendo ensinados e capacitados como tradutores que fazem de tudo, mas que, muitas vezes, não são fortemente encorajados a terem plena consciência das implicações em torno dos procedimentos de trabalho nos quais estão envolvidos. Ou seja, normalmente nós aprendemos a Libras, somos esclarecidos a respeito da importância do contato com a comunidade Surda e com a cultura Surda para o empoderamento do nosso trabalho, mas, poucas vezes, somos levados ao entendimento pleno dos fundamentos que embasam nossa atuação profi ssional como intérpretes de língua de sinais. Então, por mais enfadonho que possa parecer todo esse processo de localização conceitual da atividade de interpretação de língua de sinais a título de estabelecer bem possíveis diferenças entre o traduzir e o interpretar, vai munir-nos de informações relevantes para o nosso amadurecimento profi ssional. Isto é, ao sabermos o que signifi ca um trabalho que envolve línguas e culturas em contato, teremos condições de trabalhar com mais segurança e propriedade, pois saberemos das implicações conceituais e dos contextos mais amplos que estão diretamente envolvidos com a nossa atividade de interpretação para língua de sinais. Portanto, quando tivermos bem claro o conceito que fundamenta nosso trabalho, não teremos mais dúvida de que, em uma realidade de sala de aula, não somos tradutores. Ao contrário, nos próximos capítulos, veremos que, na verdade, em contextos laborais como esse, somos intérpretes, intérpretes educacionais. Por isso, essas refl exões conceituais, mesmo que trabalhosas, são essenciais para nossa formação profi ssional, pois fundamentam, esclarecem, norteiam e também direcionam o que fazemos. Nesses termos, podemos reiterar que a atividade de tradução consiste num procedimento que acontece entre textos ou, como Costa (2005) afi rma, de texto para textos. Em outras, palavras, envolve discursos literários ou escritos e suscita tempo de processamento do conteúdo a título de que a informação re-textualizada respeite tanto os objetivos quanto as particularidades da língua de partida e da língua de chegada. Assim, é possível retomar que a atividade de interpretação envolve procedimentos que acontecem entre discursos orais, sejam eles de modalidade oral-auditiva, sejam de modalidade espaço-visual. Além disso, trata-se de um procedimento tradutório marcado pela instantaneidade (ou immediacy, no original), que confere pressão e limita quaisquer possibilidades de edição ou revisão do conteúdo interpretado. 38 Intérprete de língua de sinais brasileira na sala de aula Diante disso, gostaríamos de reforçar que o entendimento conceitual claro em torno do traduzir e do interpretar são imprescindíveis ao pleno exercício profi ssional do intérprete de língua de sinais em sala de aula. Isso porque, conforme veremos nos capítulos a seguir, a construção da identidade profi ssional do intérprete de Libras acontece de forma plural, interdisciplinar e, muitas vezes, regada de vários conteúdos que não estão disponíveis apenas na esfera de atuação com línguas orais. Portanto, ainda que saibamos que ambos os procedimentos podem acontecer em situações envolvendo línguas de sinais, mesmo que haja perdas linguísticas por conta das diferenças de modalidades das línguas envolvidas, consideramos fundamental ao intérprete de Libras saber reconhecer os detalhes acadêmicos acerca de sua profi ssão, desde os de caráter conceitual até os de natureza linguística e discursiva, entre outros. ReferÊncias BRITTO, D. A. P. A atuação do intérprete de língua de sinais no sistema educacional. In: ENCONTRO DOS TRADUTORES / INTÉRPRETES DE LÍNGUA SINAIS DO MATO GROSSO DO SUL, 2., 2006, Campo Grande-MS. Anais... Campo Grande: Uniderp, 2006. p.107-108. COKELY, D. Interpretation: a sociolinguistic model. Burtonsville: Linstok Press, 1992. COSTA, W. C. O texto traduzido como re-textualização. Cadernos de Tradução. Florianópolis, v. 2, n. 16, p. 25-54, 2005. ______. The translated text as re-textualization. Studies in translation. Ilha do Desterro, v. 28, p. 133-153, 1992. 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Signed language interpreting. In: BAKER, M.; MALMKAEJER, K. Routledge Encyclopedia of Translation Studies. London/New York: Routledge, 1998. p. 231-235. JAKOBSON, R. On Linguistc Aspects of Translation. In: VENUTI, L. The Translation Studies Reader. London - UK: Routledge, 2002. p. 128-133. KOCH, I. V.; TRAVAGLIA, L. C. A Coerência Textual. São Paulo-SP: Contexto, 2000. NANTES, J. M. A atuação do intérprete de língua de sinais em conferências. In: ENCONTRO DOS TRADUTORES / INTÉRPRETES DE LÍNGUA SINAIS DO MATO GROSSO DO SUL, 2., 2006, Campo Grande-MS. Anais... Campo Grande: Uniderp, 2006. p. 112 - 114. OLAH, C. V. A atuação do intérprete de língua de sinais em provas e concursos. In: ENCONTRO DOS TRADUTORES / INTÉRPRETES DE LÍNGUA SINAIS DO MATO GROSSO DO SUL, 2., 2006, Campo Grande-MS. Anais... Campo Grande: Uniderp, 2006. p. 111.PÖCHHACKER, F. Introducing Interpreting Studies. London-UK: Routledge, 2004. QUADROS, R. M. O tradutor e intérprete de língua de sinais brasileira e língua portuguesa. Ministério da Educação e Cultura - MEC. Secretaria de Educação Especial. Brasília-DF, 2004. ______. SOUZA, S. X. Aspectos da tradução/ encenação na Língua de Si¬nais Brasileira para um ambiente virtual de ensino: práticas tradutórias do curso de Letras-Libras. In: QUADROS, R. M. de. (Org). Estudos Surdos III. Petrópolis, RJ: Arara-Azul, 2008, p. 168–207. (Série pesquisas). ______.VASCONCELLOS, M. L. B. (Org.). Questões teóricas das pesquisas em Línguas de Sinais. Petrópolis-RJ: Editora Arara Azul. 2008. 40 Intérprete de língua de sinais brasileira na sala de aula SEGALA, R. R. Tradução intermodal e intersemiótica/interlingual: Português brasileiro escrito para Língua Brasileira de Sinais. 2010. Dis¬sertação (Mestrado em Estudos da Tradução) - Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, 2010 SHUTTLEWORTH, M.; COWIE, M. Dictionary of Translation Studies. Manchester – UK: St. Jerome, 1997. SOUZA, S. X. Performances de tradução para a Língua Brasileira de Sinais observadas no curso de Letras-Libras. 2010. Dissertação (Mestrado em Estudos da Tradução) - Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC, 2010. STEWART, D. A.; SCHEIN, J. D.; CARTWRIGHT, B. E. Sign Language Interpreting: exploring its art and science. Allyn and Bacon, Needham Heights, MA-EUA, 1998. STONE, C. Toward a Deaf Translation Norm. Washington-DC, USA: Gallaudet University Press, 2009. CAPÍTULO 2 Marcos Históricos da Tradução e Interpretação em Língua de Sinais A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Conhecer o panorama histórico dos Estudos da Tradução e da Interpretação a partir da trajetória da inserção da interpretação para línguas de sinais como objeto de estudo dessas áreas científi cas. Reconhecer as fi liações teórica, científi ca e acadêmica da atividade de interpretação de língua de sinais. 42 Intérprete de língua de sinais brasileira na sala de aula 43 MARCOS HISTÓRICOS DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAISCapítulo 2 ContextualiZação Depois de estarmos cientes da diferença conceitual entre tradução e interpretação, neste segundo capítulo, vamos familiarizar-nos com o panorama histórico dos Estudos da Tradução, Estudos da Interpretação e Estudos da Tradução e Interpretação de Língua de Sinais. Para isso, contaremos com as contribuições de pesquisadores como Holmes (1972, 1988), Pagano e Vasconcellos (2004), Pöchhacker (2008), Snell-Hornby (2006), Grbic (2007), Souza (2010), Metzger (2010), Pereira (2010), entre outros. Dessa forma, reiteramos que esse resgate histórico é relevante para a sua formação como tradutor e intérprete de Libras. Afi nal, com a presença cada vez maior de Surdos na Sociedade, tem se tornado imprescindível que os intérpretes saibam sobre os referenciais históricos de sua profi ssão, tanto para conseguirem discutir e refl etir criticamente sobre seu trabalho quanto para identifi carem vocacionalmente o lugar de sua profi ssão na história do campo científi co que a engloba. Mapeamento dos Estudos da Tradução Neste segundo capítulo, faremos uma verdadeira viagem pela história do campo científi co da Tradução, da Interpretação e, também, da Interpretação para língua de sinais. De início, vamos caminhar pelos marcos históricos da área de Tradução, mencionando sobre a legitimação dos estudos da tradução como disciplina autônoma. Nesse meio termo, estudaremos o pioneirismo de James Holmes, mencionaremos os esforços de mapeamento mais ampliado de Williams e Chesterman, até chegarmos a alguns desdobramentos do campo dos Estudos da Tradução que incluem desde os campos dos Estudos da Interpretação até as recentes subáreas dos Estudos da Tradução e Interpretação de Língua de Sinais, os quais aqui chamaremos sinteticamente de ETILS. Logo após, traremos uma abordagem mais detalhada sobre o lugar dos ETILS nos Estudos da Tradução. Para isso, faremos uso das contribuições da pesquisadora Nadja Grbic, da Universidade de Gräz, na Áustria, que fez um estudo bibliométrico bem detalhado sobre as pesquisas acadêmicas sobre tradução e interpretação de língua de sinais, desenvolvidas em um período de 35 anos de história. As perguntas-chave desse momento são “de onde viemos?”, “quem somos?”, “para onde vamos?” e são elas que vão suscitar nossas refl exões mais específi cas sobre a subárea acadêmica dos ETILS, que está em plena formação e legitimação, tanto no exterior quanto no Brasil. 44 Intérprete de língua de sinais brasileira na sala de aula Na terceira parte de nosso capítulo, abordaremos algumas considerações gerais acerca dos Estudos da Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais (Libras) no Brasil, subárea essa que chamaremos sinteticamente de ETILSB. Nesse sentido, cotejaremos a tradução e a interpretação de língua de sinais, conforme o Banco de Teses e Dissertações da Capes, segundo apresentado por Souza (2010) para que, por fi m, consigamos partir rumo a um possível esboço de mapeamento dos ETILSB. Escolhemos a divisão em subseções para que fi que mais claro o entendimento acerca de cada uma dos marcos históricos, tanto da tradução quanto da interpretação, bem como mais evidente a conexão entre os contextos, brasileiro e internacional, quando consideramos tanto os Estudos da Tradução quanto os Estudos da Interpretação, os ETILS e os próprios ETILSB. Assim, se somará ao entendimento conceitual adquirido a partir do primeiro capítulo, a aquisição do entendimento acerca da fi liação teórica e acadêmica que, juntos, prepararão o caminho para a familiarização acerca dos marcos históricos da profi ssão de intérprete de Libras no Brasil, os quais apresentaremos no terceiro capítulo. a) Marcos históricos e a legitimação dos estudos da tradução como disciplina Primeiro, todos já entendemos o conceito de tradução e interpretação, inclusive para língua de sinais. Agora, neste segundo capítulo, percorreremos historicamente o processo de mapeamento desse campo de estudo revitalizado (MALMKJAER, 2005) dos Estudos da Tradução. Apresentamos esse trajeto com base nas contribuições de Pagano e Vasconcellos (2004) que, em seu artigo apresentado durante a terceira edição do Congresso Ibero-Americano de Tradução e Interpretação (CIATI), organizado e promovido pelo Centro Universitário Anhanguera de São Paulo (Unibero), identifi caram o perfi l disciplinar da área de tradução, tanto no contexto científi co brasileiro quanto internacional. (PAGANO; VASCONCELLOS, 2004). Em seu texto, as pesquisadoras comentam que a organização do perfi l disciplinar dos Estudos da Tradução se tratou de algo motivado pelas próprias determinações da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Letras e Linguística (ANPOLL) que, desde o ano 2000, preocupava-se intensamente com o mapeamento dos diversos campos disciplinares no Brasil, visando a tentar retratar o trabalho das áreas nas várias universidades brasileiras. (PAGANO; VASCONCELLOS, 2004). Essa tendência de mapeamentos também Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Letras e Linguística (ANPOLL) desde o ano 2000, preocupava-se intensamente com o mapeamento dos diversos campos disciplinares no Brasil, visando a tentar retratar o trabalho das áreas nas várias universidades brasileiras. 45 MARCOS HISTÓRICOS DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LÍNGUA DE SINAISCapítulo 2 é marcante no cenário internacional, como é possível comprovar a partir de publicações de editoras científi cas da área, como John Benjamins e St. Jerome. Após a Segunda Guerra Mundial, aumentou bastante o número de publicações sobre tradução e interpretação. Assim,
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