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COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO Jurisdição é uma expressão latina cuja decomposição da palavra obteremos o significado dessa expressão, ou seja, Jus,júris =direito e dictio provém do verbo dicere que significam dicção e dizer. Juntando os significados da decomposição temos o sentido de “dizer o direito”. O homem ao viver em sociedade com seus semelhantes, nem sempre terá o mesmo interesse que seus pares, razão pela qual surgem os conflitos entre as partes envolvidas, havendo a necessidade de pacificação social que se efetiva pelo Estado que tem o poder-dever de dizer o direito, portanto a jurisdição assegura à todos a tutela jurisdicional dos direitos, uma vez que podemos invocar a prestação do serviço público jurisdicional através do direito de ação, e o Estado se manifestará pelos Juízes julgando a lide. A Jurisdição é una e atribuída a todos os órgãos do Poder Judiciário. A distribuição desse poder de julgar entre os órgãos do Poder Judiciário, que legitima o exercício jurisdicional é denominada de competência, que seria o limite da jurisdição de cada órgão judicial. Existem critérios para se determinar a competência do juízo, levando em consideração a matéria (ratione materiae), em razão das pessoas (ratione personae), em razão da função e da hierarquia, em razão do lugar (ratione loci), em razão do valor da causa. A Emenda Constitucional n.45/2004 teve grande impacto na Justiça do Trabalho, ampliando significativamente sua competência. Competência em razão da matéria: é identificada pela matéria que pode ser suscitada aos órgãos da Justiça do Trabalho, está na causa de pedir (fatos e fundamentos jurídicos) e o pedido deduzido em juízo, o art. 114 da CF/88 dispõe sobre a competência material nessa seara trabalhista. Vejamos: Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; II - as ações que envolvam exercício do direito de greve; III - as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores; IV - os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição; V - os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o; VI - as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho; VII - as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho; VIII - a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir; IX - outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei. § 1º Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger árbitros. § 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente. § 3º Em caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de lesão do interesse público, o Ministério Público do Trabalho poderá ajuizar dissídio coletivo, competindo à Justiça do Trabalho decidir o conflito. Analisando o artigo acima temos que a Justiça do Trabalho é competente para julgar e processar : a) As ações oriundas da relação de trabalho: A Justiça do Trabalho antes da Emenda Constitucional n.45/2004 apreciava as lides decorrentes da relação de emprego cuja prestação de serviço de serviço era feita por pessoa física de forma pessoal, onerosa, subordinada e não eventual (art.3º da CLT). Após a Emenda Constitucional n.45/2004 passou a apreciar as relações de trabalho envolvendo: autônomos, eventuais, avulsos, estágio, trabalho voluntário dentre outros. Obs: Não são processadas na Justiça do Trabalho, conforme maioria jurisprudencial as ações: - Ação de Cobrança de honorários advocatícios: embora temos quem acredita que seja competência da Justiça do Trabalho tal apreciação, tem prevalecido o entendimento da Justiça Comum Estadual, com base na Súmula 363 do STJ que consolida o entendimento que “compete à Justiça Estadual processar e julgar ação de cobrança ajuizada por profissional liberal contra cliente.” - Nas relações de consumo: quando por exemplo um dentista trabalha em uma clínica e esta não efetua seu pagamento, trata-se de relação de trabalho, portanto a Justiça do Trabalho é competente para julgar. Agora em outra situação, o dentista em seu consultório atende um paciente e este não lhe paga a consulta é uma relação de consumo e é regulada pelo Código de Defesa do Consumidor, portanto a competência é da Justiça Comum. ENTES DE DIREITO PÚBLICO EXTERNO Analisando ainda o inciso I do art.114 ,I da CF/88 menciona que a Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar “as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo “ Que são os Estados estrangeiros, abrangendo as embaixadas e as repartições consulares; os organismos internacionais(ONU,OIT,etc.) O Supremo Tribunal Federal entendeu que, o Estado estrangeiro se submete a jurisdição brasileira e portanto a competência é da Justiça do Trabalho. Ocorre, entretanto, que processualmente a competência da Justiça do trabalho fica que “meio limitada”, pois para melhor elucidação, damos um exemplo. Um trabalhador postula em uma reclamação trabalhista, contra a embaixada em que trabalhou, o pagamento de horas extras, e a incidência das mesmas em seus consectários legais. Pode a Justiça do Trabalho brasileira, por não haver imunidade de jurisdição na fase de conhecimento, reconhecer que tal pedido que lhe é devido pelo ente estrangeiro. Ocorre, entretanto que por questão de soberania, sob pena de indevida invasão no Estado estrangeiro, não poderá ser penhorado bens destes, para o pagamento das horas extras reconhecidas, tendo que se valer da carta rogatória, em razão dos estados estrangeiros terem imunidade de execução (sobre o assunto ler OJ 416 das SDI-1/TST). Existem duas exceções em que seria possível a penhora de bens, em que não incidirá a imunidade de execução: a) Quando o Estado estrangeiro renunciar à intangibilidade de seus próprios bens b) A existência de bens do território brasileiro, que embora pertencentes ao ente externo. Não tenham nenhuma vinculação com às finalidades essenciais inerentes às relações diplomáticas ou representações consulares mantidas no Brasil. ENTES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA E INDIRETA DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DO DISTRITO FEDERAL E DOS MUNICÍPIOS Pela redação do art.114, I da CF/88 a competência para julgar seria da Justiça do trabalho, independentemente da relação de trabalho entre as partes, seja de natureza empregatícia, celetista, estatutária, de caráter jurídico administrativo (temporária). Mas houve uma ADIn perante o Supremo Tribunal Federal em janeiro de 2005 que foi referenciada pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal em 5.04.2006, no sentido de que a Justiça do Trabalho é incompetente para processar e julgar as ações envolvendo servidores públicos estatutários. Resumidamente, fixando a competência da Justiça Federal: no caso de servidores públicos federais; e para a Justiça Estadual: no caso de servidores públicos estaduais ou municipais (ver Sumula nº137 e 218 do STJ). Cabe também a Justiça comum o julgamentodas ações relacionadas aos serviços temporários (relação de caráter jurídico administrativa) que são contratados para “atender à necessidade temporária de excepcional interesse público (art.37,IX da CF/88). Empregado público celetista- competência é da Justiça do Trabalho. Empresas públicas e às sociedades de economia mista, no teor do art. 173, II da CF/88 é de competência da Justiça do Trabalho as ações oriundas de seus empregados. AÇÕES ENVOLVENDO O DIREITO DE GREVE Será de competência da Justiça do trabalho, os conflitos relacionados ao direito de greve, por parte dos empregados, empregadores e sindicatos. Ressalvamos que em caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de lesão do interesse público, O Ministério público do Trabalho poderá ajuizar dissídio coletivo, competindo à Justiça do Trabalho decidir sobre o conflito (art. 114§3º da CF/88). Essa ação será de competência originária do TRT/TST, levando em consideração a extensão territorial. Obs. Súmula Vinculante 23 “ A Justiça do trabalho é competente para processar e julgar ação possessória em decorrência do exercício do direito de greve pelos trabalhadores da iniciativa privada”. Cabe a Justiça Comum a competência para julgar as ações envolvendo greve de servidores públicos estatutários. AÇÕES DE REPRESENTAÇÃO SINDICAL E SINDICATOS Segundo o teor do inciso III do art.114 da CF/88 é de competência da Justiça do Trabalho as ações de representação sindical, ou seja, dois sindicatos disputando a representatividade na base territorial, prestação de contas, cobrança de multa do sindicato patronal pelo sindicato dos empregados, direito de filiação e desfiliação( entre sindicatos e empregados), etc. Obs. Na expressão “sindicato” deve-se fazer uma interpretação ampliativa estendendo as federações, confederações, centrais sindicais (Lei n.11.648/2008) Ler a Súmula Vinculante 40 que trata da contribuição confederativa, Súmula 666 do STF, art.5º, XX e art.8ºV da CF/88. MANDADO DE SEGURANÇA, HABEAS CORPUS E HABEAS DATA Reza o inciso IV do art.114 que será de competência da Justiça do Trabalho, os remédios constitucionais, sendo que para tal, há necessidade que a causa seja sobre matéria trabalhista. As Varas do Trabalho e os Tribunais têm competência para o julgamento do Mandado de Segurança (previsto no art. 5º, LXIX da CF/88 e Lei n.12.016/09), aqui podemos exemplificar com os atos praticados com ilegalidade e abuso de poder pelos delegados do trabalho, procurador do trabalho, oficial de cartório, auditor fiscal do trabalho,etc. O habeas Corpus na justiça do trabalho será cabível quando houver a restrição da liberdade de locomoção do trabalhador por parte do empregador ou tomador de serviços. Exemplos é o caso em que o empregador mantém o empregado no local de trabalho durante o movimento grevista; nos casos de servidão por dívidas o empregador estende a jornada de trabalho não permitindo que o trabalhador saia do ambiente de trabalho enquanto não pagar o que deve, através do trabalho. Nos dias atuais não pode ser aplicada a prisão do depositário infiel (quando este não guardava os bens submetidos à sua custódia) que era prevista no art.5º, LXVII, da CF/88(ver Súmula vinculante 25, o Pacto de São José da Costa Rica). O Habeas data (art. 5º, LXVII, CF/88) é de pouca utilização da Justiça do Trabalho, mas pode ser impetrado para permitir ao trabalhador, empregado, tomador de serviços ou empregador o conhecimento de informações ou retificação de dados, constantes em registros que estão em Poder do Estado. (Exemplo: os bancos de dados do Ministério do Trabalho e Emprego). CONFLITO DE COMPETÊNCIAS As espécies de conflito estão previstas no art. 804 da CLT e o art. 66 do CPC, ou seja: 1) Dois ou mais juízes se declaram competentes (conflito positivo) 2) Quando dois ou mais juízes se declaram incompetentes (conflito negativo) 3) Quando entre dois ou mais juízes surgir controvérsia acerca da reunião ou separação de processos. A teor do art. 805 da CLT, o conflito de competência pode ser suscitado pelos juízes e tribunais do trabalho, pelo Ministério Público do Trabalho ou pela parte interessada ou o seu representante Para solucionar esses conflitos existem regras para determinar de quem será a competência. 1ª regra –TRT (art.808, a, da CLT) nos casos de Varas do Trabalho da mesma região. 2ª regra –TST (art.808, b,da CLT) nos casos de conflito de competência entre: - Tribunais Regionais do trabalho; - Varas do Trabalho de regiões diversas; - Tribunal Regional do Trabalho e Vara do Trabalho a ele não vinculada. 3ª regra-STJ (art.105, I, d, CF)nos conflitos de competência entre: - Tribunal Regional do Trabalho e Tribunal de Justiça; - Tribunal Regional do Trabalho e Tribunal regional Federal; - Juiz do trabalho, juiz de direito não investido na jurisdição trabalhista (juiz estadual ou juiz federal) -Juiz do trabalho e Tribunal de Justiça; - Juiz do trabalho e Tribunal Regional Federal -Juiz estadual e Tribunal Regional do Trabalho; e - Juiz federal e Tribunal Regional do Trabalho 4ª regra: o STF (art.102 , I, o, da CF), havendo conflito entre o Tribunal Superior do Trabalho e qualquer tribunal. Obs. Ver Súmula 420 do TST- não se configura conflito de competência entre Tribunal Regional do Trabalho e Vara do Trabalho a ele vinculada, por se tratar de competência funcional ou hierárquica. AÇÕES DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL OU PATRIMONIAL, DECORRENTES DA RELAÇÃO DE TRABALHO. A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar dano moral, materiais decorrentes da relação de trabalho (art. 114,VI, da CF/88) nesse teor temos a Súmula 392 do TST. Ações envolvendo danos morais ou materiais decorrentes da relação de trabalho, com assédio moral, cadastramento de PIS, acidente de trabalho etc. são de competência da Justiça do Trabalho. Ações envolvendo acidentes de trabalho entre empregados e empregadores antes da Emenda 45/2004 eram apreciadas na Justiça Comum conforme o art. 109, I da CF/88 Com a emenda constitucional 45/2004, o STF entendeu ser de competência da Justiça do Trabalho (art. 114 da CF/88) as ações por danos morais decorrentes do acidente de trabalho. Ressaltamos que a competência estabelecida pela EC n.45/2004 não alcança os processos já sentenciados na Justiça Comum com fulcro na Súmula nº367 do STJ. Para se preservar a segurança jurídica. Outra observação a ser feita é que as ações acidentárias que derivam do acidente de trabalho promovidas pelo trabalhador face ao INSS são de competência da Justiça Comum Estadual ( Exemplo: para recebimento do benefício do INSS em decorrência do acidente de trabalho que foi vítima), com base no art.109,I da CF/88, ficando na competência da Justiça do Trabalho apenas as ações promovidas pelo trabalhador em face do empregador do acidente de trabalho.( súmula vinculante 22) , Salienta-se com base no teor da Súmula 392 do TST, que os sucessores ou herdeiros podem ajuizar ação indenizatória por danos morais em face do empregador com base no acidente de trabalho, depois da morte do trabalhador. AÇÕES RELATIVAS ÀS PENALIDADES ADMINISTRATIVAS IMPOSTAS AOS EMPREGADORES PELO ÓRGÃOS DE FISCALIZAÇÃO DAS RELAÇÕES DE TRABALHO Ao Ministério do Trabalho e emprego cabe a fiscalização administrativa das relações de trabalho, ou seja, todas as penalidades administrativas aplicadas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização do trabalho são de competência da Justiça do Trabalho. Exemplo: fiscal do trabalho aplica uma multa a determinada empresa, esta inconformada com a multa aplicada, quer anular o auto de infração deverá ajuizar uma ação na Justiça do Trabalho. EXECUÇÃO, DE OFÍCIO, DAS CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS DAS SENTENÇAS QUE PROFERIR Estabelece art. 195 da CF/88 o custeio da seguridade social,quando ingressamos com uma reclamação trabalhista postulando salários, horas extras, etc. verbas de natureza salarial estas terão a incidência das contribuições sociais que servirão para o custeio da previdência. O juiz ao proferir a sentença contemplando tais pleitos de natureza salarial, deverá o juiz executar de ofício as contribuições sociais incidentes sobre tais verbas. Observar o art.876 da CLT e Súmula 368 do TST. Competência territorial (Ratione Loci)= em razão do lugar Em regra, a competência com fulcro no art. 651 da CLT, é fixada com base no local da prestação de serviço, ainda que o empregado tenha sido contratado noutro local ou no estrangeiro. No local da prestação de serviço ficará mais fácil para a produção de provas e apresentação de testemunhas caso esse trabalhador ingresse com uma reclamação trabalhista. A CLT prevê 3 exceções no art. 651 da CLT. Vejamos: 1) Agente ou viajante comercial: a competência será da Vara do Trabalho da localidade em que a empresa tenha agência ou filial a esta esteja o empregado subordinado. Na falta desta Vara, a competência será do domicílio do empregado ou localidade mais próxima 2) Empregado brasileiro que trabalha no exterior: a competência é da Justiça Brasileira, desde que não exista convenção internacional dispondo o contrário. A ação deverá ser ajuizada no local da celebração do contrato ou da prestação de serviços (quando houver prestação de serviço no Brasil e depois o trabalhador é transferido para país estrangeiro). 3) Empregador que realiza atividade fora do lugar do contrato de trabalho, é o caso de atividades itinerantes, a competência será a do local da celebração do contrato ou no da prestação dos respectivos serviços. Competência Funcional ou competência interna É aquela fixada em decorrência da distribuição interna de atribuições (funções) dos órgãos judiciais na justiça do Trabalho. A competência funcional dá-se em razão da natureza e exigências especiais das funções exercidas pelo juiz no processo. No Processo do Trabalho a competência funcional é disciplinada na CLT como também nos Regimentos Internos dos TRTs e TST. A competência em razão da matéria, da pessoa funcional são absolutas. Consequentemente, o Juiz nestes casos poderá conhecer de ofício, não havendo preclusão para a parte ou para o juiz, podendo a parte invoca-la antes do transito em julgado da decisão. Em relação a competência em razão do território é relativa, devendo a parte alega-la por meio de exceção de incompetência. Caso não seja suscitada pela parte no momento processual apropriado, prorroga-se a competência. Haverá, portanto, a preclusão que é a perda da faculdade de praticar um ato processual. Competência em razão do valor- no Direito Processual do Trabalho, o valor não determina a competência apenas o rito processual se será sumário, sumaríssimo ou ordinário.
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