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Antidepressivos Fármacos usados para o tratamento de depressão, de transtornos de ansiedade (como o TOC e o PTSD), alguns transtornos alimentares, transtorno bipolar, tratamento de dor crônica e neuropática e como prevenção ou recuperação de casos de acidente vascular cerebral (capacidade de regular a neurogênese). Depressão: A depressão é classificada como um transtorno de humor, assim como o transtorno bipolar. Os principais sintomas são: humor deprimido, anedonia (perda de interesse em atividades anteriormente prazerosas), negatividade, sentimento de culpa e desvalia, redução na atenção, alteração na memória e na concentração, fadiga, perda de energia, perda de libido, alteração no peso/apetite e sono e pensamentos relacionados à morte (medo da morte, sensação de morte iminente ou ideação suicida). A depressão tem incidência duas vezes maior em mulheres que em homens, sendo que existem fatores genéticos (endógenos) e ambientais (reativa) envolvidos. Ela pode ser secundária, quando é despertada por fatores como: condições médicas (dor crônica, pacientes terminais), drogas (relacionada principalmente a abstinência de drogas estimulantes). O tratamento farmacológico para depressão deve ser feito por pelo menos 2 anos, pois, se interrompido antes disso, as chances de reincidência são muito altas. A depressão pode ser causada por alterações anatômicas, morfológicas e funcionais. Como: atrofia hipocampal, perda cortical, aumento do volume ventricular, hipoativação encefálica e hiperatividade da amígdala não se sabe ao certo se são causas ou consequências, mas existe o componente de predisposição nessas alterações e o estabelecimento da doença agrava essas condições. Existem também alterações neuroendócrinas muito importantes, que é o aumento de todos os mediadores envolvidos com o eixo HPA (hipotálamo-hipófise- adrenal) do estresse. Portanto, há o aumento do hormônio liberador de corticotrofina (CRH) e do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) e, consequentemente, aumento do cortisol. O estresse crônico, relacionado à depressão, recruta essas vias hormonais do glicocorticoide. O cortisol atravessa a barreira hematoencefálica e está envolvido em muitas reações comportamentais. Cronicamente, a alta concentração desse hormônio pode causar neurotoxicidade, e ele tem uma ação muito grande no hipocampo, o que pode estar relacionado à sua atrofia. Existem regiões no córtex que também sofrem perda neuronal por excesso de cortisol, como o córtex pré-frontal. Um agravante é que, além do hipocampo e do córtex pré-frontal estarem muito relacionados com as reações emocionais, elas estão diretamente relacionadas com o controle da liberação do cortisol, pois fazem parte do eixo de feedback negativo de sua liberação. No eixo HPA, o hipotálamo produz CRH, que estimula a hipófise a produzir ACTH, produzindo, por fim, o cortisol, que é liberado no sangue e chega até o cérebro também. Em condições normais, o cortisol faz feedback negativo no próprio hipotálamo, reduzindo sua liberação. Também age no hipocampo e no córtex pré- frontal, que também participam do feedback negativo. Em contraste, a amígdala, frente a estímulos estressantes, estimula o hipotálamo a produzir cortisol. Em um paciente depressivo, o cortisol é liberado a todo tempo, e seu efeito neurotóxico passa a induzir uma atrofia do hipocampo e do córtex pré-frontal. Essas estruturas tornam-se hipoativas, reduzindo a ação do feedback negativo do eixo HPA. Há, também uma hiperatividade da amígdala, aumentando um componente do feedback positivo. Portanto, nesses pacientes, perde-se o “freio” sobre a liberação do cortisol, mantendo níveis aumentados desse hormônio de forma constante hiporesponsividade ao feedback negativo do eixo HPA. Teoria monoaminérgica da depressão: Foi observado que drogas que causam redução no conteúdo encefálico de serotonina e noradrenalina costumam causar depressão, o que indica que a depressão acontece frente a uma redução na concentração de monoaminas (serotonina, noradrenalina e dopamina) nas sinapses. Teoria do desbalanço de receptores de monoaminas: Essa teoria confirma a redução na concentração de monoaminas a nível de sinapses, mas implica que a redução de serotonina a longo prazo causaria uma suprarregulação de receptores monoaminérgicos. Isto é, uma sensibilização desses receptores, causada por uma tentativa de contrabalancear a menor concentração da serotonina com uma maior disponibilidade desses receptores pré e pós-sinápticos. Porém, o receptor 5HT1a pré-sináptico é inibitório e tem uma afinidade maior à serotonina. Aumentando sua presença, a pouca quantidade presente de serotonina vai se ligar preferencialmente a ele, reduzindo mais ainda sua liberação na fenda. De acordo com essa teoria, apesar de a pouca quantidade de serotonina estar relacionada à depressão, não é a sua causa final. É apenas um dos componentes que, em longo prazo, causa uma suprarregulação, ou hipersensibilização (alteração plástica), e essa alteração no estado de ativação da via serotoninérgica como um todo é o que parece ser a causa da depressão. A serotonina é a principal monoamina envolvida nesse processo, mas a dopamina e a noradrenalina parecem ter efeitos e processos semelhantes. Essa teoria explica tanto a piora aguda que um paciente apresenta quando começa a tomar antidepressivo quanto a latência no efeito terapêutico de mais ou menos um mês. O mecanismo principal dos antidepressivos é aumentar o fornecimento de monoaminas. Porém, o paciente depressivo apresenta o sistema de receptores para serotonina hipersensibilizado. Com isso, há uma hiperativação monoaminérgica, e o excesso dessas monoaminas em curto prazo seria o responsável pelos sintomas paradoxais, que seriam o aumento da ansiedade e piora da depressão. Se o tratamento for mantido por pelo menos um mês, essa hiperativação em longo prazo causa uma dessensibilização desses receptores, reduzindo a presença deles na fenda sináptica. Essa neuroadaptação parece ser a responsável pelo efeito antidepressivo. Portanto, esse efeito não é causado simplesmente pelo aumento da serotonina, mas pelas alterações adaptativas que o aumento de serotonina induz. Base neurotrófica: Foi observado, na depressão, uma redução do Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro (BNDF), redução em processos de plasticidade e na neurogênese normal. A provável causa para isso seria o estresse, que levaria o aumento do cortisol e do glutamato, que causam todos esses fatores e ainda podem causar atrofia tanto por morte celular quanto por redução em neurogênese. As monoaminas parecem favorecer os efeitos neurotróficos, o que causa a ideia de que a redução de monoaminas pode ser uma das causas da depressão. O que já se sabe, é que os antidepressivos normalizam a neurogênese deficiente. O período de início da ação do antidepressivo (aproximadamente um mês) coincide com o período que a neurogênese se inicia. Se um rato for tratado com antidepressivo e exposto a raio X ou drogas que inibem a neurogênese durante um mês, não vai haver o efeito do antidepressivo. Portanto o efeito do antidepressivo está associado à neurogênese, Isso sustenta o uso de antidepressivos em casos de AVC, pois aumenta os mecanismos neurotróficos e, com isso, podem reduzir as sequelas e o grau de lesão do AVC. Terapia farmacológica da depressão: Grande parcela dos pacientes depressivos não responde aos medicamentos atuais, são chamados de pacientes refratários (30-40%). Além disso, quanto mais longa e mais severa é a duração dos episódios depressivos, menor é a eficácia dos medicamentos. Também, o tratamento para a depressão deve, obrigatoriamente, ser crônico, de pelo menos 2 anos. Todos esses fatores dificultam o tratamento da depressão. Em geral, todos os antidepressivos têm umaeficácia similar, mas o perfil de segurança é muito variável. Apresentam algumas limitações em maior ou menor proporção, como: agravamento inicial dos sintomas; latência do efeito terapêutico de até um mês; aumento no risco de suicídio; em aproximadamente 50% dos pacientes; há uma melhora geral no quadro depressivo, mas não em todos os sintomas e há a síndrome de retirada com tratamento longo, devido à neuroadaptação, resultando em náusea, tontura, formigamento de extremidades, entre outros. Racional farmacológico: Os antidepressivos aumentam a concentração de monoaminas de maneira crônica de forma a induzir uma reestabilização homeostática das vias de transmissão monoaminérgica (mecanismo a curto prazo) Os antidepressivos mais antigos, também chamados de primeira geração, são os inibidores da monoamina oxidase (iMAO) e os tricíclicos (ADT) e os mais modernos, segunda geração, que são os inibidores seletivos da receptação da serotonina e os antidepressivos atípicos, que possuem ação “diversa”. Inibidores de monoamina oxidase: Basicamente, a ação desses fármacos consiste em reduzir os mecanismos de degradação das monoaminas, aumentando a concentração dessas substâncias de maneira aguda (aumento da monoamina a curto prazo, porém efeito do antidepressivo continua sendo a longo prazo). O principal alvo é a monoamina oxidase (MAO), uma enzima que se concentra preferencialmente na pré-sinapse e que degrada as monoaminas que são recaptadas depois de serem liberadas nas sinapses. Ao inibir esse mecanismo, aumenta-se a concentração dessas monoaminas na sinapse, que pode ser a noradrenalina, serotonina ou dopamina. Os inibidores da MAO têm interação com os alimentos fermentados, como queijos, vinho, cerveja e até chocolate. Isso acontece, pois esses alimentos fermentados costumam ter tiramina, uma amina que, quando ingerida, parte é degradada no intestino pela MAO intestinal e parte é absorvida. Essa parcela da tiramina absorvida chega até o sistema nervoso e age de maneira igual à anfetamina, ou seja, elas utilizam o transportador de receptação de noradrenalina, entram no neurônio, conseguem entrar na vesícula a qual armazena noradrenalina e expulsam essa noradrenalina, aumentando sua concentração dentro do neurônio, o que faz com que ela seja liberada para a sinapse pelo próprio receptador. Ou seja, a tiramina aumenta indiretamente a liberação de noradrenalina. Ao usar um inibidor da MAO, ao ingerir alimentos fermentados, a concentração da tiramina no organismo vai ser maior que o normal, aumentando, então a concentração de noradrenalina, que já estava sendo aumentada devido ao mecanismo normal do fármaco. Isso causa a reação do queijo, resultando hipertensão, risco de aumento da pressão craniana, cefaleia e até AVC reação hipertensiva causada pelo aumento na liberação de noradrenalina que pode resultar em morte por AVC. Hoja sabe-se que existem duas isoformas da MAO, a MAO-A e a MAO-B. Ambas as MAO degradam a tiramina. Os inibidores da MAO antigos não eram seletivos, ou seja, inibiam ambas as isoformas e, ainda, de forma irreversível (NÃO SÃO MAIS UTILIZADOS). A MAO-A é a principal responsável pela degradação da serotonina enquanto a MAO-B está mais relacionada à degradação da dopamina, e ambas degradam a tiramina. Os inibidores da MAO utilizados atualmente reversíveis e seletivos para MAO-A, portanto não causam reação do queijo. Os principais exemplos são a moclobemida (reversível) e a clorgilina (irreversível, portanto menos segura e menos usada). A seleginina é um inibidor da MAO irreversível e específico para MAO-B, utilizado para aumentar a disponibilidade de dopamina, facilitando o tratamento de doenças como o Parkinson. Os principais efeitos indesejados da iMAO são: tremores, insônia e convulsões (dependem da dose); efeitos colinérgicos, ou seja, causam um antagonismo em receptores de acetilcolina, podendo causar boca seca e impotência; aumento do apetite e do peso; potencializa simpatomiméticos indiretos; associados a outros fármacos, como ADT, podem causar crise hipertensiva e hipertermia; inibição enzimática de enzimas hepáticas; pode causar hipotensão. A principal vantagem dos iMAO em relação aos demais antidepressivos é que eles podem ser mais eficazes em pacientes refratários. Antidepressivos Tricíclicos: São assim chamados por possuírem três anéis em suas estruturas químicas. Basicamente, eles causam a inibição não seletiva na receptação de serotonina e noradrenalina, aumentando a concentração sináptica desses transmissores, sendo que essa inibição não seletiva pode ser preferencial para uma das monoaminas. Por exemplo, a desipramina e a nortriptilina têm preferência para noradrenalina, já a clomipramina é preferêncial para a inibição da serotonina. Duas importantes vantagens são que eles são eficazes para o tratamento de dor neuropática e de pacientes refratários. No geral, os ADT são baratos e funcionam na maior parte da população, por isso, nortriptilina, clomipramina e amitriptilina (s/ preferência) são ofertados pelo SUS. As desvantagens dos ADT são: efeitos antihistamínicos, como sedação e aumento de fome; efeitos anticolinérgicos, como boca seca e impotência; hipotensão; aumento na ação de etanol e anestésicos; redução no limiar convulsivo; possui janela terapêutica muito estreita e risco de sobredose, podendo causar delírio, mania, coma, arritmia e morte súbita (são usados em tentativas de suicídio). Inibidores seletivos da recaptação da serotonina: Os principais fármacos são a fluoxetina, paroxetina, sertralina, citalopram e escitalopram. Em geral, são a primeira escolha para ansiedade.Também são eficazes para a dor neuropática (menos que os ADT). Possuem um perfil mais seguro e efeitos indesejáveis mais toleráveis. São muito utilizados pois apresentam ampla janela terapêutica; sertralina e paroxetina podem ser usados para tratamento de PTSD, controlando os sintomas de ansiedade; alguns podem ser utilizados para o tratamento de TOC e de alguns transtornos alimentares; podem induzir a saciedade, como a fluoxetina, que é antagonista de receptores 5HT2c (receptores presentes no centro hipotalâmico da fome); alguns podem causar inibição na recaptação da dopamina, como a sertralina. Sua desvantagem em relação aos antidepressivos de primeira geração é que há uma quantidade relativamente alta de pacientes refratários a esses medicamentos, exatamente por serem mais seletivos, já que a depressão não envolve apenas a serotonina. Os principais efeitos indesejados são relacionados ao TGI e alterações “gerais”, como: náusea; vômito; fome ou anorexia; diarreia ou constipação; tontura; cefaleia; alteração no humor e agressividade; em jovens, aumento do risco de suicídio; podem causar inibição enzimática de enzimas hepáticas, inclusive das que degradam os antidepressivos tricíclicos (não é bom combinar as duas classes); redução na libido; frigidez; anorgasmia (uso “off label” no tratamento de ejaculação precoce); síndrome serotoninérgica (geralmente quando se combina essa classe com outra da primeira geração, aumentando muito a concentração de serotonina no organismo), causando tremor, hipertemia, alterações cardiovasculares e até a morte. Em sobredose, raramente causam morte (seguros) mas podem causar arritmia. Antidepressivos “atípicos” São fármacos têm efeitos combinados, então são mais “sujos” e menos seletivos que os anteriores. Podem ter mais efeitos indesejados, porém, eficácia maior. Exemplos: inibidores seletivos da recaptação da serotonina e da noradrenalina; inibidores seletivos da recaptação de noradrenalina; inibidores seletivos da recaptação de dopamina e antagonistas diretos de receptores de monoaminas. Os inibidores seletivos da recaptação da serotonina e da noradrenalina têm preferência para serotonina, agem por mecanismo parecidocom o dos tricíclicos e o principal representante é a Venlafaxina que parece ter maior eficácia terapeutica e é melhor tolerado. Os inibidores seletivos da recaptação da dopamina têm menos efeitos sexuais e no TGI, por não estarem relacionados à serotonina. O principal exemplo é a Bupropiona. São utilizados, também, para o tratamento de dependência nicotínica. Já os inibidores seletivos da recaptação da noradrenalina são utilizados em “off label” para tratamento de transtorno de deficit de atenção (TDAH) e possuem pouco efeito antidepressivo. Os principais representantes são Reboxetina e Atomoxina. Os antagonistas de receptores monoaminérgicos são fármacos capazes de antagonizar receptores específicos. A Mirtazapina bloqueia o receptor adrenérgico alfa2 e o receptor serotoninérgico 5HT3. A Mianserina bloqueia alfa1, alfa2, 5HT2A e receptor de histamina H1. Já a Trazodona e a Nefazodona são inibidores seletivos da recaptação de serotonina e bloqueiam 5HT2A, 5HT2c e H1. São fármacos que realizam diversas funções ao mesmo tempo mas que, empiricamente, parecem ter uso como antidepressivos. Abordagens não farmacológicas: Existe, também, para o tratamento de depressão em pacientes refratários a eletroconvulsoterapia e a estimulação eletromagnética, que induzem elétricamente ou magnéticamente uma epilepsia, fazendo o uso de bloqueadores musculares e anestésicos para preservar o paciente. Seu efeito parece ter relação com o aumento agudo da concentração de monoaminas e alterações adaptativas a curto prazo, por isso possuem efeito a curto prazo, diferentemente dos antidepressivos. Só é recomendada em pacientes de alta severidade e de depressão endógena. As principais desvantagens são o alto custo, perda de memória e confusão. Possíveis novos antidepressivos: São os inibidores de recaptação de largo espectro, que atuam nas monoaminas de maneira geral; agonistas de melatonina, agonistas beta3- adrenérgicos, antagonistas kapa-opioide, antagonistas GABAb e fármacos glutamatérgicos. Levando em conta que na depressão há uma hiperativação glutamatérgica que causaria toxicidade, fármacos que bloqueiam receptores glutamatérgicos (NMDA) podem agir como antidepressivos, como a Ketamina em forma intranasal (absorção mais rápida), que funciona melhor em pacientes refratários.
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