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História e Legislação em Saúde Mental

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Curso de Pós-graduação a Distância 
 
 
 
 
 
História e 
Legislação em 
Saúde Mental 
 
 
 
 
Autor: 
Renan da Cunha Soares Júnior 
 
 
 
Universidade Católica Dom Bosco Virtual 
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 
 
 
 
 
 
 
 
2 
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 
SUMÁRIO 
 
UNIDADE 1 – A HISTÓRIA DA SAÚDE MENTAL ATRAVÉS DOS TEMPOS ....... 04 
1.1 Idade Antiga ........................................................................................................ 06 
1.2 O Período Medieval ............................................................................................ 10 
1.3 Idade Moderna .................................................................................................... 12 
1.4 Idade Contemporânea ........................................................................................ 16 
 
UNIDADE 2 - SAÚDE MENTAL NO BRASIL ......................................................... 24 
2.1 Fatos Marcantes da História da Saúde Mental no Brasil .................................... 24 
2.2 A saúde mental no Brasil colônia ........................................................................ 26 
2.3 A saúde mental no Brasil imperial ....................................................................... 27 
2.4 A saúde mental no Brasil período republicano ................................................... 28 
 
UNIDADE 3 - REFORMA PSIQUIÁTRICA E SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) 32 
3.1 A implantação da saúde pública brasileira na década de 1980 .......................... 33 
3.2 A luta antimanicomial nos anos 90 ..................................................................... 34 
3.3 Sistema Único de Saúde (SUS) e o direito à saúde pública ............................... 40 
3.4 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) .......................................................... 42 
3.5 Os CAPS e a rede básica de saúde ................................................................... 51 
3.6 Saúde mental na estratégia de saúde da família ................................................ 52 
 
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 55 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
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INTRODUÇÃO 
 
 
Caro acadêmico, 
 
Durante este módulo abordaremos aspectos históricos sobre a saúde mental 
através dos tempos, não somente no Brasil, mas também no cenário internacional. 
Para que tenhamos uma ideia da evolução do conceito de saúde mental é preciso 
que apreciemos os momentos sócio-históricos em que cada etapa se desenvolveu, 
visando a compreender a abrangência e a magnitude de cada um dos eventos. 
É bem verdade, que o conceito de Saúde Mental está intrinsecamente ligado 
à visão de ser humano que se tem, bem como à interferência dos fatores biológicos, 
psicológicos, históricos, ambientais, culturais, sociais e espirituais. Compreendendo 
e observando estes aspectos poderemos ter uma visão global da saúde mental da 
antiguidade até os dias atuais. 
 
 
4 
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UNIDADE 1 - A HISTÓRIA DA SAÚDE MENTAL ATRAVÉS DOS 
TEMPOS 
 
Possuímos um método básico para o entendimento da humanidade e de 
nós mesmos, o estudo da história. Isto se demonstra nas três perguntas 
fundamentais que acompanham a humanidade desde os primórdios do raciocínio: 
Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Para que exista uma 
compreensão do momento atual, é preciso compreender o seu desenrolar através 
dos tempos, sua evolução conjunta com os costumes, as ciências e o poder 
(entendamos por poder a política e a religião quando falamos de aspectos históricos 
como os que aqui iremos ver). 
Segundo Scliar (2002), o nexo entre causa e efeito para grande parte das 
doenças foi difícil de ser realizado. O estabelecimento deste tipo de relação é 
variável, conforme o nível de ciência que se tem. Imaginemos, que quanto mais 
iniciais eram as crenças das civilizações antigas, maiores seriam as alegações de 
“mágica” ou “fantasia” para explicar os fenômenos vivenciados. Podemos entender 
através de mitos como o da “Caixa de Pandora”, por exemplo. 
 
 
Fonte: http://migre.me/dfXvS 
 
Quando nos debruçamos sobre a história da saúde mental, nos 
debruçamos sobre nós mesmos, sobre a história da loucura, de nossas crenças, da 
medicina, da psicologia, da enfermagem, das ciências jurídicas, de nossos 
preconceitos, além de muitos outros aspectos. Para que comecemos nossa 
caminhada adequadamente, é preciso voltar às primeiras citações de que se tem 
 
5 
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notícia dos transtornos mentais, de seus entendimentos primordiais, para que 
firmemos nossos passos com efetividade. Pois bem, vamos começar com um pouco 
de história. 
Seria aceitável pensarmos que todas as civilizações que passaram sobre a 
face da terra, tiveram entre seus habitantes sofredores mentais. A diferença 
propriamente dita aparece no olhar que se tem sobre esta faceta da humanidade, a 
loucura, como antigamente era chamada. Na antiguidade, na Grécia, mais 
especificamente, muitos filósofos falaram sobre o seu ponto de vista sobre a 
loucura, não através de base científica, mas por fazer parte de seu cotidiano as 
preocupações com os comportamentos humanos. 
De acordo com Cataldo Neto, Annes e Becker (2003), as profissões e 
práticas de saúde, começaram tendo como objetivo atenuar o sofrimento do 
próximo. Nas antigas civilizações, era comum a valorização dos seres que 
possuíam capacidades diferentes, previsão de acontecimentos, curas dentre outras. 
E quando surgem essas pessoas ligadas à cura, representada pelo pajé em 
algumas de nossas tribos sul americanas, por exemplo, surgem os encarregados de 
cuidar da saúde, ainda tendo como instrumento a mágica e a feitiçaria. A história da 
ciência da saúde, inclusive, nos mostra que várias receitas com plantas e outras 
substâncias naturais utilizadas por tribos e pessoas simples tiveram suas 
propriedades constatadas por meio científico a posteriori. 
 
 
 
Fonte: http://migre.me/dg0zO 
 
6 
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1.1 Idade Antiga 
 
Podemos dizer então que segundo Vidal-Alarcon (1986), a história da saúde 
mental foi feita a partir das interpretações do conceito de loucura, através dos 
tempos, de acordo com o referencial presente na época. Isto se aplica tanto para o 
diagnóstico como para o tratamento. Desta forma, os profissionais da saúde mental, 
com o avanço da ciência, são os substitutos dos xamãs. 
Muitos indivíduos de sociedades rudimentares e antigas enxergavam nas 
doenças mentais, problemas de ordem espiritual, como a possessão por demônios. 
Vale ressaltar que o mesmo ocorria também com as deficiências, como alguns 
povos que acreditavam que os cegos podiam ver o futuro e fazer previsões, pois 
não possuíam visão física, mas tinham o alcance dos “olhos da alma”. E como as 
causas eram consideradas como sobrenaturais, a cura para as doenças também 
era empregada por meio de magia, orações aos deuses e similares. 
Algumas civilizações, como os egípcios, por exemplo, tiveram papel 
fundamental na estruturação das ciências, por meio de estudos, hipóteses, e 
principalmente por ter havido feito registros destas descobertas, possibilitando sua 
perpetuação e desenvolvimento de novos horizontes. Segundo Lima & Smithfield 
(1986), houve muitos avanços na fisiologia, geometria e aritmética por conta de 
seus estudos. Assim existe uma transição das causas místicas para as causas 
naturais dos eventos, guiando os estudos para a formação da medicina atual. 
Também entre os Gregos e Romanos havia a presença de pensamentos 
interessantes que influenciaram os rumos das ciências da saúde e em especial da 
saúde mental, como poderemos ver a seguir com alguns de seus personagens. 
 
- Empédocles 
 
Encontram-se entre as ideias de Empédocles deAgrigento (495 a 455 A.C), 
a mudança da vida através da amizade e do ódio, enfocando os movimentos 
mentais humanos. Empédocles foi além de filósofo, também médico. Podemos ter 
uma ideia de seus pensamentos por meio da citação de Marconatto (2008, p.1). 
 
O conhecimento assim não acontece somente no homem. Os 
conhecimentos que o homem pode ter são também limitados. Ele 
somente consegue perceber uma pequena parte de sua vida, as 
 
7 
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 
coisas que por acaso ele tem a possibilidade de se relacionar. Por 
isso ele não pode desperdiçar nenhuma dessas possibilidades. Deve 
aproveitar e utilizar todos os seus sentidos e através do intelecto 
perceber as evidências nas coisas que conhece. 
 
 
Observamos que Empédocles, apesar de circunstancial, já apresentava um 
pensamento que vislumbrava as potencialidades humanas e a necessidade de 
desenvolvimento de sua racionalidade. 
 
 
- Asclepíades 
Além dele, houve ainda outros, como nos mostra Silva (1979), citando 
Asclepíades (129 a 40 A.C), que acreditava serem os transtornos mentais 
provenientes das emoções, denominando-os de “paixões das sensações”. 
Asclepíades já falava sobre algumas indicações de tratamento, com a indicação da 
música e também acreditava que era preciso a existência de luz, nos locais aonde 
permaneciam os “loucos”, entendendo que a escuridão os amedrontava. Foi 
também um dos primeiros a condenar o uso de celas e prisões, podendo ser 
considerado um ancestral da luta antimanicomial. 
 
Fonte: http://migre.me/dfYXK 
 
 
 
 
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- Hipócrates 
 
Hipócrates (460 - 380 a.C.) utilizava-se da observação, e relacionava já 
estados mentais com causas infecciosas, hemorragias e ao parto. Por meio do seu 
“Corpus Hippocraticum” dizia que o 
comportamento humano era baseado em humores 
corporais, acreditando serem as causas das 
doenças um desequilíbrio destes humores. 
Hipócrates considerava o cérebro como fonte das 
emoções, pensamentos e das ideias. Hipócrates 
realizou a classificação das doenças mentais: o 
“Corpus Hippocraticum” como melancolia, 
depressão pós-parto, fobias, delirium tóxico, 
demência senil e histeria (CATALDO NETO, 
ANNES & BECKER, 2003). 
Fonte: http://migre.me/dg0GO 
 
Silva (1979), ainda nos fala sobre a criação da teoria dos humores, sendo 
em número de 4: bílis negra, bílis amarela, fleuma e sangue (ver a figura abaixo). 
Hipócrates dizia ainda que era pelo cérebro que nós caíamos na mania ou no 
delírio. É necessário esclarecer que ao mesmo tempo em que a ciência tentava 
elucidar as causas do sofrimento mental, a poesia e a religião, davam como origem 
destes males, a pena por práticas malfazejas e também a influência de demônios e 
espíritos do mal. 
 
 
9 
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Figura 1 – Teoria dos Humores 
Fonte: http://migre.me/dg2kb 
 
Desta feita é ainda mais importante ressaltar os nomes dos abnegados que 
entregaram seus estudos ao entendimento da esfera mental humana e seus 
distúrbios, visto que quase sempre se tratava de tarefa ingrata e incompreendida, 
devido a crenças de que não existiriam causas físicas, mas morais e espirituais. 
Hipócrates foi um dos estudiosos que contribui para o combate às causas mágicas 
das doenças mentais, relacionando-as com a fisiologia humana. 
 
- Areteu da Capadócia 
 
Areteu acreditava que era impossível curar todos os doentes, pois senão o 
médico estaria acima dos deuses. Segundo Silva (1979), Areteu foi um dos 
primeiros a estudar com profundidade o Transtorno Afetivo Bipolar (TAB), fazendo 
relações entre os estados de mania e melancolia. Areteu era muito observador, 
notando, por exemplo, que a presença da mania era mais frequente em pessoas 
jovens e que a melancolia em pessoas com mais idade. 
Areteu diferenciava ainda a mania da melancolia, dizendo que esta última 
não comprometia o raciocínio e a lucidez e que a melancolia podia reaparecer, ou 
ter espaços de tempo entre sua apresentação. Ele teria vivido no século I e teria 
 
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escrito livros sobre a prática clínica, inclusive uma impressionante descrição do 
diabetes por meio dos sintomas urinários. 
 
- Galeno 
 
Galeno (131-200 d.C.) foi um médico romano que ligava ao cérebro o papel 
controlador dos fenômenos mentais. Segundo Cataldo Neto, Annes e Becker 
(2003), acreditava que o cérebro era a morada da alma, conforme já havia sido 
pensado por Platão. 
Galeno aplicou uma divisão na alma em razão e intelecto, coragem e raiva, 
apetite carnal e desejos. Explicava que os sintomas físicos não eram oriundos 
somente de alterações orgânicas. Discordou de Hipócrates, quando atribuiu 
etiologia sexual-bioquímica à histeria. 
Galeno realizou operações em macacos e cães para descobrir como seus 
cérebros eram formados, tendo imensas contribuições à fisiologia e anatomia. 
Estudava os escritos de Hipócrates, Platão, Aristóteles, Epicuro, Zenon e 
Erasístrato, e mesmo com as distinções entre eles acreditava poder tirar o melhor 
do que fora dito por cada um deles. 
 
1.2 O Período Medieval 
 
O período medieval foi caracterizado pelos retrocessos nos avanços do 
pensamento científico preconizado até então. A prisão dos doentes com criminosos 
e ladrões em prisões e masmorras, A Santa Inquisição era o palco vivido nesta 
época. Assim todo pensamento, inclusive o médico tinha de se adequar ao 
panorama presente. Mas nem somente de retrocessos viveu a idade média, 
também existiram avanços de pensamento como o de Juan Luis Vives. 
 
 
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 Fonte: http://migre.me/dfZ85 
 
- Juan Luis Vives 
 
Segundo Silva (1979), Juan Luis Vives (1492-1540), preconizava a 
necessidade do uso de remédios adequados aos pacientes, o tratamento com 
paciência e humanidade e o trancamento somente em casos de fúria. Vives deixou 
em seus escritos indicações de um verdadeiro psicoterapeuta, pelas ideias 
avançadas e grande contribuição à medicina mental. Vives já falava a seu modo de 
conceitos como o inconsciente, a ambivalência, sendo neste último utilizada a 
observação de nossos impulsos egoístas, apetites, amor passivo e ativo. 
Para Cataldo Neto, Annes e Becker (2003), a criação dos hospitais 
psiquiátricos e casas de saúde e a figuração do alienado mental como objeto da 
Psiquiatria, configuram a Primeira Revolução Psiquiátrica. A partir do século XVI é 
restabelecida a ciência da psiquiatria, ficando os profissionais da saúde 
instrumentalizados para a realização de observações clínicas acerca do 
comportamento físico e verbal dos doentes mentais. 
 
 
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1.3 A Idade Moderna 
 
- Franz Anton Mesmer 
 
Mesmer (1734-1815), era médico e também magnetizador, nasceu em 1744 
em um território que atualmente pertence à Alemanha. De família católica, educou-
se no mosteiro Reichnau, tendo aprendido lá vários idiomas, além de literatura 
clássica e música. 
Mesmer falou primordialmente sobre o magnetismo animal, que emana dos 
seres. O Mesmerismo transformou-se em sinônimo de magnetismo, por conta dos 
estudos e exercícios realizados por ele. Segundo Silva (1979), podemos entender o 
magnetismo de Mesmer como a reciprocidade estabelecida entre duas criaturas 
vivas através do fluido magnético. 
Mesmer utilizou o magnetismo para uma prática de cura em 1773, pela 
primeira vez. A paciente era parente da esposa de Mesmer. Seus achados não 
foram bem recebidos no meio científico e, 
em 1775, o médico decide dar continuidade 
em seus experimentos mais tranquilamente 
em Viena. 
De acordo com Kaplan, Sadock e 
Grebb (2001), após a publicação da Carta 
ao povo de Frankfurt, Mesmer inicia uma 
fase importante de sua pesquisa. Ele expõe 
primeiramente o funcionamento do 
magnetismo animal, utilizando-se de uma 
comparação com o efeito resultantedo 
magnetismo mineral em um ser humano; 
porém neste o processo seria realizado não 
por um mineral, mas por outra pessoa. 
 Fonte: http://migre.me/dg2O7 
 
 
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- Philippe Pinel 
 
Cataldo Neto, Annes e Becker (2003), nos informam que Pinel (1745-1826), 
dirigiu os Hospitais de Bicêtre e Salpêtrière, liberando os pacientes transtornos 
mentais das sangrias, purgativos e vesicatórios e também das condições prisionais 
e de cárcere a que estavam sujeitos, mudando o trato para com eles, baseando-se 
numa lógica humanista e com bases na preservação psicológica dos internos. 
Kaplan, Sadock e Grebb (2001), relatam que a psiquiatria sofre uma 
estruturação e passa a adquirir caráter de área de especialização na medicina neste 
período, que envolve a segunda metade do século XVIII. Neste momento histórico, 
tomou conta da Europa, vindo da Inglaterra, um movimento que lançava sobre a 
questão da saúde mental um olhar alicerçado nos paradigmas assistenciais, 
comprometidos com o respeito à vida humana e com a saúde social da população, 
bem como com a atuação do homem na sociedade. 
 
 
Fonte: http://migre.me/dg2Zv 
 
Silva (1979) refere-se ao momento posterior a esta onda reformista, como 
sendo o período em que Phillipe Pinel publica o Tratado da Mania em 1801, 
importante obra que contém as bases do pensamento da escola psiquiátrica 
francesa. As influências do pensamento de Pinel e também de Esquirol 
reverberaram ao redor do mundo e principalmente na Europa por todo o século XIX, 
ecoando até o princípio do século XX. 
 
14 
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Estas ideias são chamadas por Louzã Neto (1995), como a “Escola 
Clássica”. Deve-se ter em mente que, como as teorias de Pinel e Esquirol estavam 
presentes na prática em larga escala, as discordâncias deste pensamento eram 
ainda somente teóricas. As sementes plantadas por Pinel e Esquirol continuaram 
influenciando muitas pessoas, inclusive tendo sementes que brotaram com a 
evolução da luta antimanicomial no final do século XX. 
 
- Jean-Etienne Dominique Esquirol 
 
Kapla,Sadock e Grebb (2001), nos reportam que Esquirol (1772 – 1840), foi 
um alienista francês, nascido em Toulouse e morto em Paris. Era filho de um 
comerciante. Seus estudos primários realizados em uma escola religiosa guiaram a 
sua carreira eclesiástica, que o levou a ingressar na juventude no seminário de 
Saint-Sulpice, em Issy. Mas não durou muito a sua vocação. Sua volta para 
Toulouse ocorreu aos 20 anos, em 1792, para estudar medicina, carreira que 
terminou em Montpellier. 
Ele foi para Paris em 1799 e começou a trabalhar com Corvisat, em La 
Charité e, acima de tudo, com Pinel, em Salpêtrière. Em 1805, ele apresentou uma 
tese intitulada Les passions considérés comme causes, symptômes et moyen 
curatifs de l'alienation mentale e em 1812 assumiu a divisão psiquiátrica do 
Salpêtrière. 
Em 1820, foi nomeado membro da Academia de Medicina e, em 1826, 
membro do Conselho de Higiene e Saúde Pública do Departamento do Sena. Em 
27 de novembro de 1825, após a morte de Royer-Collard, serviu como médico-
chefe do Asilo de Charenton Royal, nos arredores de Paris. 
Discípulo e colaborador de Pinel, seguiu seus passos, nos aspectos 
doutrinários da psiquiatria. Realizou conjuntamente com Ferrus, trabalhos 
preparatórios da Lei dos Alienados de 1838, uma das primeiras legislações de 
regulação da assistência psiquiátrica pública. Tinha um pensamento humanista e 
progressista, como nos traz Silva (1979, p.91). 
 
Os alienados são mantidos quase sempre em celas úmidas, escuras 
e repugnantemente sujas. As portas e janelas estão pregadas com 
barras de ferro e oferecem um espetáculo terrorífico. As camas 
estão geralmente construídas nas paredes e são absolutamente 
inadequadas para tranquilizar os alienados; quando se torna 
 
15 
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necessário manter um paciente em sua cama, usam-se enormes 
anéis de ferro que se atam na parede com esse propósito. Em 
algumas localidades prendem-se estes infortunados enfermos na 
parede... em posição vertical. Separados assim como simples 
medida de polícia e interesse da segurança pública, os pacientes 
permanecem privados do trato que é essencial para sua 
recuperação. 
 
Por suas contribuições para o conhecimento psiquiátrico, embora 
desenvolvido no âmbito da ortodoxia pineliana, algumas de suas propostas foram 
consideradas de grande relevância. É precisamente no trabalho "Loucura" do 
Dicionário de Ciências Médicas, do qual foi colaborador, publicado em 1816, que 
Esquirol sugere a classificação de doença mental em cinco "gêneros", dentre eles a 
mania, a demência e a idiotia. Esquirol não acreditava que os problemas mentais 
viessem de lesões, mas sim de problemas psicológicos. 
Sobre Ferrus, contemporâneo de Esquirol, igualmente seguidor de Pinel, 
Silva (1979, p.92), nos traz fragmento que sintetiza muito do pensamento 
trabalhado na época. 
 
A concepção de Ferrus era que os insanos lucrariam bastante, com 
grande vantagem para o tratamento, fazendo-os ocupar durante o 
dia, em atividades capazes de desviá-los da própria enfermidade. 
Ora, nada mais recomendável que fazê-los trabalhar. Mandou então 
construir uma vasta granja em certo lugar apropriado, onde 
pudessem passar, em atividade, o tempo suficiente para escoar a 
insânia. 
 
Esquirol avançou muito o conceito de alucinação. Anteriormente, as 
alucinações eram geralmente consideradas doenças (da imaginação), mas, às 
vezes, a "alucinação" é usada como sinônimo de "delírio". Um dos grandes méritos 
de Esquirol sobre alucinações foi estabelecer seu conceito final e o diagnóstico 
diferencial com ilusões. 
A outra grande contribuição para a psiquiatria do século XIX esquiroliana foi 
o desenvolvimento do conceito de "monomania" clinicamente definida como uma 
ilusão limitada a um único objeto. É finalmente um "delírio parcial" 
predominantemente uma "ideia fixa", que toma a mente do paciente. No perfil 
especial do monomaníaco é que, fora desse delírio parcial, o sujeito se sente, 
pensa e age como uma pessoa normal. 
 
16 
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Apenas dois anos antes de sua morte, em 1838, publicou um compêndio com 
suas ideias sobre as doenças mentais, reunindo escritores esparsos anteriores, 
incluindo alguns para o Dicionário de Ciências Médicas. 
 
1.4 Idade Contemporânea 
 
- Jean Charcot 
 
Kaplan, Sadock e Grebb (2001), dizem que Charcot (1825-1893), foi um 
neurologista francês, considerado o fundador da neurologia clínica atual. Ele 
começou seus estudos em 1844 na Universidade de Paris, onde também lecionou 
Patologia desde 1860, mesmo ano em que ele se juntou à equipe do hospital 
Salpêtrière. Lá, ele desenvolveu a maior parte de sua pesquisa concentrando-se no 
estudo das doenças nervosas, continuando o tema de sua tese de doutorado. 
Descreveu sintomas histéricos e reconhecia que um trauma, em geral de natureza 
sexual, estava relacionado a ideias e sentimentos que se tornariam inconscientes. 
Cataldo Neto, Annes & Becker (2003), noz dizem que Charcot acreditava na 
cura pela hipnose, sendo possível reproduzir os sintomas neuróticos e obter alívio 
dos sintomas. 
Sempre com base em um exame clínico completo, Charcot foi capaz de 
interpretar algumas disfunções localizadas no sistema nervoso, como paralisias 
causadas por certos tipos de pólio e artrite. Também era especializado no estudo da 
ataxia locomotora, afasia, doença senil, aneurismas, etc. Na verdade, seu trabalho 
serviu para coletar informações limitadas sobre essas condições. 
Silva (1979, p.114), nos relata que: 
 
Com os estudos de Charcot, porém, as ciências psicológicas 
começaram a interessar-se de maneira mais profunda pela 
constituição psíquica humana e o seu respectivo correspondente 
somático. Nasceu então a concepção científica de personalidade,constituição e caráter. 
 
Charcot foi durante muitos anos uma das principais figuras do Colégio de 
Médicos de Paris. Foi um dos mestres de Sigmund Freud, que, influenciado pelas 
pesquisas de Charcot sobre o valor do hipnotismo como terapia, depois continuou o 
seu trabalho. 
 
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Ele foi um dos fundadores da Sociedade de Biologia de Paris e membro 
honorário de várias sociedades científicas, incluindo a Sociedade de Anatomia, a 
Academia de Medicina, o Instituto Francês e da Associação Americana de 
Neurologia, também criou no Salpêtrière, laboratórios de elevado valor histórico de 
patologia, anatomia patológica e de fisiologia. Os resultados de suas pesquisas 
deram origem a várias obras que publicou ao longo de sua vida (CATALDO NETO; 
ANNES; BECKER, 2003, KAPLAN; SADOCK; GREBB, 2001). 
 
- Sigmund Freud 
 
Sigmund Freud (1856-1939), neurologista, médico e psicanalista austríaco, 
criador da psicanálise, é considerado um dos 
psicólogos mais influentes de seu tempo e de 
toda a história do pensamento humano. 
Criado em uma família judaica, aos 
quatro anos, mudou-se para Viena, onde ele 
passou a sua vida até 1937, dois anos antes de 
sua morte. Nesta data, teve que deixar a 
Áustria pela invasão nazista e se refugiou em 
Londres, onde morreu de um câncer na 
mandíbula (GAY, 1989). 
Fonte: http://migre.me/dfZlJ 
 
Desde jovem pesquisador sentiu vocação, especialmente em tudo 
relacionado à fisiologia. Ele estudou medicina e biologia na Universidade de Viena, 
e especializou-se em neurologia clínica. Em 1885, ele passou um ano em Paris, no 
Hospital Salpêtrière, onde trabalhou com Charcot, quando sua carreira toma um 
novo rumo e começa seu interesse pela psique humana. Charcot estava 
trabalhando com doenças nervosas funcionais, particularmente histeria, através de 
tratamentos hipnóticos (GAY, 1989). 
Em 1889, retorna à Viena e trabalha com Breuer, médico vienense que 
seguia a mesma linha de Charcot. Entre 1896 e 1900, elabora o método e os 
princípios da Psicanálise, aplicando suas teorias psicanalíticas para a interpretação 
 
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global da personalidade. Em 1911, as teorias de Freud se espalharam para a 
América, onde fundou a Associação Psicanalítica Americana. 
Pouco antes de sua morte, ele foi nomeado em Londres membro 
estrangeiro da Royal Society. Sua filha, Anna Freud, herdou seu legado intelectual, 
mas concentrou o seu trabalho no estudo psicanalítico da infância e da 
adolescência. 
Freud procurou criar uma teoria psicológica completa, e desenvolveu um 
sistema que explicou a psicologia do homem na sua totalidade. Ele começou a 
estudar o transtorno mental e, então, partiu para suas causas. Ele terminou a 
formulação de uma teoria geral do dinamismo psíquico, no estudo da natureza 
humana através de diferentes períodos de desenvolvimento, em uma teoria do 
impacto da sociedade, da cultura e da religião na personalidade e na forma de 
tratamento. 
Ele conseguiu fazer uma teoria psicológica sobre a personalidade normal e 
anormal, e que impactou em todas as áreas do conhecimento, tal como a 
sociologia, história, educação, antropologia e artes (GAY, 1989). 
A principal preocupação de Freud no campo da psique humana foi o estudo 
da histeria, através do qual concluiu que os sintomas histéricos dependiam de 
conflitos internos psíquicos reprimidos e seu tratamento deve concentrar-se em 
reproduzir os eventos traumáticos que causaram tais conflitos na paciente. A 
técnica utilizada, em princípio, para isso foi a hipnose. 
Desse modo, se convenceu de que a origem da vida mental é sexual e que 
a sexualidade começa muito mais cedo do que se pensava na época, no início da 
infância. A afirmação da existência da sexualidade infantil gerou muitas críticas e 
oposição à sua teoria. Mais tarde, a técnica introduz outro tratamento, a associação 
livre. Em associação livre o paciente se expressa, e desativando os mecanismos 
repressores, sem censura, o que se quer saber aparece no consciente 
espontaneamente (SCHULTZ e SCHULTZ, 2009). 
Posteriormente, incorpora a interpretação de sonhos no tratamento 
psicanalítico, pois entende que o sonho expressa em forma latente e através de 
uma linguagem de símbolos, a origem do conflito do transtorno mental. A 
interpretação dos sonhos é uma tarefa árdua em que o terapeuta tem de vencer a 
"resistência" que leva o paciente a censurar seu trauma, como uma defesa. Outro 
aspecto a considerar na terapia psicanalítica é a análise de transferência, entendida 
 
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como a representação de sentimentos, desejos e emoções primitivas e infantis que 
o paciente teve de seus pais ou outras figuras representativas e agora projeta no 
terapeuta. Sua análise vai permitir que o paciente entenda esses sentimentos, 
desejos e emoções, e a reinterpretá-los sem causar sofrimento (SILVA,1979). 
Freud faz uma formulação de topografia psíquica e inclui nela três sistemas: 
pré-consciente, consciente, cujo conteúdo pode mover-se para trás, e outra 
inconsciente, cujo conteúdo não tem acesso à consciência. A repressão é o 
mecanismo que faz com que os conteúdos do inconsciente permaneçam ocultos. 
Mais tarde, apresenta uma nova formulação do aparelho psíquico, que 
complementa a anterior. Esta formulação estrutural psíquica consiste em três níveis: 
o Id, instância governada pelo chamado princípio do prazer, o Ego, que é o 
conteúdo mais consciente, mas também pode conter aspectos inconscientes, sendo 
regido pelo princípio da realidade e funciona como um intermediário entre o Id e a 
outra instância do aparelho psíquico, o superego, que representa os padrões morais 
e ideais (SCHULTZ e SCHULTZ, 2009). 
Um conceito básico na teoria freudiana é o "pulsão" (Triebe, em alemão). É 
a parte básica da motivação. Inicialmente distingue dois tipos de unidades: os 
impulsos de autopreservação e os impulsos sexuais. Impulsos sexuais são 
expressos pela libido como manifestação da vida psíquica, do instinto sexual, é a 
energia psíquica do instinto sexual. Mais tarde, reformulou sua teoria das pulsões e 
impulsos distinguindo entre a vida (Eros), que estão incluídos na formulação 
anterior, e os impulsos de morte (Thanatos), definida como a tendência para realizar 
redução das tensões. Freud tinha uma concepção hedonista do comportamento 
humano. 
Freud também proporcionou uma visão evolutiva em relação à formação da 
personalidade, para estabelecer uma série de estágios de desenvolvimento sexual. 
Em cada uma das fases é buscada a realização do prazer sexual, o 
desenvolvimento da libido. A diferença entre cada um deles é no "objeto" escolhido 
para obter esse prazer (SHULTZ e SCHULTZ, 2009). 
A criança recebe gratificação instintiva de diferentes áreas do corpo, 
dependendo do estágio. Ao longo do desenvolvimento da criança atividade erótica é 
focada em diferentes zonas erógenas. O primeiro estágio de desenvolvimento é a 
fase oral, em que a boca é a zona erógena final, compreendendo o primeiro ano de 
vida. Depois é a fase anal, que vai até três anos. Segue-se a fase fálica, quando a 
 
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criança exercita o "complexo de Édipo". Após este período a sexualidade infantil 
atinge uma fase de latência, que acorda na puberdade, a fase genital (GAY, 1989). 
 
Quadro 1 – Estágios de Desenvolvimento da criança, segundo Freud 
 
Fonte: http://migre.me/dg3vF 
 
Paralelamente a este desenvolvimento intrapsíquico, ele trata de um 
processo de socialização que configura relações com os outros. É também muito 
importante o processo de identificação, que permite o objeto de incorporar outras 
qualidades, em si mesmo, para a formação da sua personalidade. 
A Psicanálise em seu início, e até hoje, foi uma doutrina que tem 
despertado grandes paixões, a favor e contra. Entre as críticas quetêm sido feitas à 
teoria de Sigmund Freud, a principal tem sido a falta de objetividade da observação 
e da dificuldade de derivar hipóteses específicas verificáveis da teoria (SILVA, 
1979). 
Apesar da grande desaprovação que as ideias freudianas levantaram, 
especialmente nos círculos médicos, a sua obra atraiu um grande grupo de 
seguidores. Entre eles estavam Karl Abraham, Sandor Ferenczi, Alfred Adler, Carl 
Gustav Jung, Otto Rank e Ernest Jones. Alguns deles, como Adler e Jung 
afastaram-se das doutrinas de Freud e criaram a sua própria concepção 
psicológica. 
Não há dúvida de que a psicanálise foi uma revolução para a psicologia e o 
pensamento da época e serviu como base para o desenvolvimento e proliferação de 
um grande número de teorias e escolas de psicologia (CATALDO NETO; ANNES; 
BECKER, 2003). 
 
 
 
 
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- Frederick Perls 
 
Segundo Schultz e Schutz (2009), Frederick Perls, um alemão filho de 
judeus, nascido em Berlim em 1893, tornou-se médico psiquiatra em 1921. Foi 
assistente do neurologista Kurt Goldstein, criador da teoria organísmica, que o 
influenciou muito em sua teoria, como também o fez, o filósofo Sigmund 
Friedlander. Perls se especializou em psicanálise e exerceu sua profissão na 
Alemanha até 1933. Quando da ascensão do nazismo resolveu deixar a Alemanha 
mudando-se para a Holanda e depois para a África do Sul. 
Voltou à Alemanha em 1936 para participar do Congresso Internacional de 
Psicanálise que lá ocorria, apresentou seu trabalho, e esperava encontrar-se com 
Freud, encontro este que não durou mais do que quatro minutos, tendo este 
conversado com Perls por uma porta entreaberta. Esse encontro foi muito frustrante 
para Frederick, uma vez que duas das coisas que ele mais desejava, ou seja, 
apresentar seu trabalho no tal congresso e discutir alguns pontos da teoria 
psicanalítica em que tinha outra visão da apresentada por Freud. 
Em 1942, lançou o livro Ego, Fome e Agressão, onde se contrapôs à teoria 
freudiana, dizendo que Freud teria exagerado na ênfase dada ao inconsciente em 
relação aos instintos, corroborando suas ideias anteriores. Outro ponto de 
discordância foi o distanciamento empregado na psicanálise ortodoxa entre 
terapeuta e paciente, pois Perls defendia o contato humano. 
Em 1951, já nos EUA Perls, juntamente com Paul Goodman e Ralph 
Hefferline publicam a obra Gestalt-terapia, que é considerado um marco 
fundamental na estruturação da gestalt-terapia. 
Perls defende que o ritmo de contato e fuga com o meio ambiente é o 
mecanismo de regulação do equilíbrio humano. Esta obra foi reeditada em 1994 
para resgatar os fundamentos teóricos sobre os quais se estrutura a Gestalt-terapia. 
São apresentados os conceitos básicos elaborados por Perls, Hefferline e Goodman 
que deram origem a toda a literatura posterior e nortearam as técnicas utilizadas na 
prática gestáltica. 
Perls definia a saúde e a maturidade psicológicas como sendo a 
capacidade de emergir do apoio e da regulação ambientais para um autoapoio e 
uma autorregulação. O processo terapêutico representa um esforço na direção 
desta emergência. O elemento crucial no autoapoio e na autorregulação é o 
 
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equilíbrio. Uma das proposições básicas da teoria da Gestalt é que todo organismo 
possui a capacidade de realizar um equilíbrio ótimo consigo e com seu meio. As 
condições para realizar este equilíbrio envolvem uma conscientização desobstruída 
da hierarquia de necessidades (SCHULTZ e SCHULTZ, 2009). 
 
Quadro 2 – Síntese da evolução histórica da Saúde Mental 
Idade Antiga Idade Média 
Idade 
Moderna 
Idade 
Contemporânea 
Doença Mental 
como possessão 
demoníaca/espiritual 
Bruxaria, Espaço para 
pessoas com 
deficiência e doentes 
mentais (Masmorras, 
grades, etc.) 
Medicação 
Separação 
entre 
deficiência e 
doença 
mental, 
busca de 
tratamento 
digno sem 
acorrentar 
Clínica 
Psicológica 
Modelo 
Antimanicomial 
Rede substitutiva 
aberta (CAPS) 
Fonte: Elaboração própria 
 
Exercício 1 
 
1. Quem foi o criador do “Corpus Hippocraticum”, que relacionava 
estados mentais com causas infecciosas, hemorragias e ao parto? 
a) Sigmund Freud. 
b) Phillipe Pinel. 
c) Hipócrates. 
d) Jean Esquirol. 
 
2. Relacione a 2ª coluna de acordo com a 1ª e depois assinale a 
alternativa que contém a sequência correta: 
1 
Galeno Criador da psicanálise 
2 
Perls 
Considerado o fundador da neurologia clínica 
atual 
3 
Freud 
Cérebro como controlador dos fenômenos 
mentais 
4 
Jean Charcot 
O ritmo de contato e fuga com o meio ambiente 
é o mecanismo de regulação do equilíbrio 
 
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humano 
 
a) 1 / 2 / 3 / 4 
b) 2 / 1 / 3 / 4 
c) 4 / 1 / 2 / 3 
d) 3 / 4 / 1 / 2 
 
 
 
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UNIDADE 2 - SAÚDE MENTAL NO BRASIL 
 
2.1Fatos Marcantes da História da Saúde Mental no Brasil 
 
 
A seguir, elencamos os fatos mais importantes da história da saúde mental 
brasileira, destacando legislação, criação de órgãos públicos, estudiosos do tema e 
outros que merecem destaque, no período de 1841 até os dias atuais. 
 
 1841 – Fundação do Hospício Dom Pedro II (Rio de Janeiro, 18 de Julho); 
 1852 – Inauguração do Hospital Dom Pedro II (Rio de Janeiro, 8 de 
Dezembro); 
 1872 – Nasce Juliano Moreira (Bahia, 6 de Janeiro); 
 1874 – Fundação do Asylo São João de Deus (Bahia, 24 de Junho); 
 1882 – Criado na Bahia e no Rio de Janeiro o ensino de Psiquiatria nas 
Faculdades (30 de Outubro); 
 1883 – O Prof. Teixeira Brandão é aprovado como o primeiro Professor de 
Clínica Psiquiátrica da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro; 
 1890 – O Governo Federal passa administrar o Hospital Dom Pedro II (Rio de 
Janeiro, 11 de Janeiro); 
 1898 – Construída a Colônia de Alienados de Juquery (São Paulo); 
 1903 – Promulgada a Lei Federal de Assistência aos Alienados (Rio de 
Janeiro, 22 de Dezembro); 
 1904 – Posse do Professor Juliano Moreira na direção do Hospital Nacional 
de Alienados; 
 1904 – Construído o Hospital Colônia de Barbacena (Minas Gerais); 
 1904 – Construída a Colônia de Alienados de Vargem Alegre (Rio de Janeiro); 
 1905 – Fundada a Sociedade Brasileira de Psychiatria, Neurologia e 
Sciencias Afins (Rio de Janeiro, 17 de novembro); 
 1911 – Construída a Colônia de Alienados de Engenho de Dentro (Rio de 
Janeiro); 
 1912 – O Governo Estadual da Bahia passa a administrar o Asylo São João 
de Deus (1 de Maio); 
 
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 1919 – Criado o Primeiro Manicômio Judiciário na América Latina (Rio de 
Janeiro) 
 1923 – Construída a Colônia de Alienados de Jacarepaguá (Rio de Janeiro); 
 1925 – O Asylo São João de Deus passa a ser chamado de Hospital São 
João de Deus (Bahia, 29 de Julho); 
 1927 – Construído o Hospital Colônia de Oliveira (Minas Gerais); 
 1928 – Construído o Hospital Colônia Juliano Moreira (Paraíba); 
 1931 – Construído o Hospital Colônia de Barreiros (Pernambuco); 
 1932 – Falece o Professor Juliano Moreira (Rio de Janeiro, 2 de Maio); 
 1936 – Hospital São João de Deus passa a ser denominado de Hospital 
Juliano Moreira (Bahia, 27 de agosto); 
 1940 – Construído o Hospital Colônia Eronides de Carvalho (Sergipe); 
 1940 – Construído o Hospital Colônia Portugal Ramalho (Alagoas); 
 1942 – Construído o Hospital Colônia Santa Ana (Santa Catarina); 
 1954 – Construído o Hospital Colônia Adauto Botelho de Cariacica (Espírito 
Santo); 
 1957 – Construído o Hospital Colônia de Natal (Rio Grande do Norte); 
 1977 – Lançado o Plano Integrado de Saúde Mental pelo Ministério da Saúde; 
 1979 – Realizado o I Congresso Nacional dos Trabalhadores em Saúde 
Mental; 
 1982 – Inaugurado o novo prédio do Hospital Juliano Moreira (Bahia, 17 de 
Março); 
 1987 – Criado o primeiro Centro de AtençãoPsicossocial – CAPS Luiz 
Cerqueira (São Paulo); 
 1987 – Realizada I Conferência Nacional de Saúde Mental (Rio de Janeiro); 
 1993 – A Comissão Nacional de Saúde constitui a Comissão Nacional de 
Reforma Psiquiátrica (2 de Dezembro); 
 2000 – Regulamentado pelo Ministério da Saúde os serviços de residências 
terapêuticas; 
 2001 – Promulgada a Lei de Reforma da Psiquiátrica (Brasília, 6 de abril); 
 2002 – Regulamentado pelo Ministério da Saúde o funcionamento dos CAPS; 
 2003 – O Centro Cultural da Saúde do Ministério da Saúde (Coordenação 
Geral de Documentação e Informação - CGDI) inaugura a exposição: 
 
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“Memória da Loucura” no Rio de Janeiro; 
 2006 – Inaugurado pelo Ministério da Saúde em Fortaleza o milésimo CAPS 
do Brasil (18 de dezembro). 
Fonte: Secretaria Estadual de Saúde da Bahia. (http://migre.me/dfj6u) 
 
2.2 A saúde mental no Brasil colônia 
 
No Brasil colônia, já era presente a questão da saúde mental. Conforme nos 
apresenta Botti (2004), apud Resende (2000), aos loucos em condições financeiras 
precárias era permitido perambular pelas ruas, campos e demais espaços públicos, 
pedir esmolas, desde que apresentassem comportamento que não oferecesse risco 
a outrem. Já aos que apresentavam comportamentos agressivos e indecorosos, 
ficava a mercê de seu encarcerador o seu tratamento, que muitas vezes era indigno 
tanto em condições de higiene e alimentação como em preservação da integridade 
física, com castigos físicos e terror psicológico. 
Ainda nesta época, mesmo já fazendo parte do quadro social, a doença 
mental ainda tinha lugar remoto nas discussões e preocupações de ordem político-
social, fazendo parte do todo, sem que uma discussão mais profunda viesse à tona. 
Botti (2004) nos lembra ainda, que a vida nesta época colonial era uma 
realidade totalmente desigual entre os senhores donos dos meios de produção, os 
escravos, e a população geral de alguns homens livres, que vivia também em 
condições indignas e humilhantes, visto que muito trabalho era feito sem 
remuneração pelos escravos, não sobrando muitas opções. 
 
 
Fonte: http://migre.me/dg3TB 
 
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Pode-se perceber claramente que não havia distinção entre os 
“desajustados” do modelo vigente da época, pois doentes mentais, deficientes 
mentais, alcoólatras e marginais eram vistos como desordeiros que necessitavam 
de encarceramento, atividade laboral forçada para reajuste de comportamento. 
As instituições presentes à época como hospitais e prisões eram os cantos 
destes desajustados, ainda todos misturados, nivelados por baixo, sem uma 
preocupação em compreender a situação de cada um deles. Uma das únicas 
diferenças que passaram a existir, depois da existência da Psiquiatria Científica era 
que para os doentes mentais, o regime fechado era indicação clínica e o trabalho 
fazia parte da terapêutica. 
Logo após, houve algumas mudanças, expostas por Resende (2000 apud 
BOTTI, 2004), indicando que “a um contexto de ameaça à ordem e paz social, em 
resposta aos reclamos gerais contra o livre trânsito de doidos pelas ruas das 
cidades; acrescentando-se os apelos de caráter humanitário, as denúncias contra 
os maus tratos que sofriam os insanos”. Presenciava-se uma mudança de 
panorama, com o início de um focar de luzes sobre a alienação mental e os direitos 
humanos destes semelhantes. Assim, começava a alterar-se o trabalho leigo com a 
alienação e passava a sofrer evoluções. Deixava-se de falar em ordem ou 
desordem como norteador social e evoluía-se para outra visão. 
Resende (2000 apud BOTTI, 2004), deixa claro uma diferenciação nas 
formas de tratar a doença mental no período colonial de vice-reinado e depois, no 
período da consolidação da monarquia, com o desenvolvimento do papel do Estado 
como responsável pela administração da assistência aos doentes mentais, como 
veremos a seguir. 
 
2.3 A saúde mental no Brasil imperial 
 
Teixeira (1997) reitera que no ano de 1852, com a criação do Hospício 
Pedro II, criou-se um marco na Psiquiatria Brasileira e com o exercício da medicina 
social. Teixeira (1997 apud BOTTI, 2004), para salientar que embora já houvesse o 
Hospício Pedro II (HPII), foi somente em 1881 que foram criadas as cadeiras 
relativas ao tratamento mental nas escolas de medicina do Rio de Janeiro e de 
Salvador, e tendo em 1887, assumido a direção do HPII, o alienista Teixeira 
Brandão. 
 
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Houve uma campanha pública, pela criação dos hospícios com o slogan 
“Aos loucos, o Hospício”, como nos conta Botti (2004), fazendo referência a Teixeira 
(1997). Tal pedido encontrou eco na sociedade, pois os doentes mentais pobres 
vagavam pelas ruas, enquanto os que tinham posses ficavam restritos às suas 
casas. Esta iniciativa tinha como modelo o modelo psiquiátrico Francês. 
 
 
Fonte: http://migre.me/dg50I 
 
Botti (2004) reitera que o modelo adotado no HPII era o preconizado por 
Pinel, onde os internos desenvolviam atividades em oficinas, com a existência de 
intervalos para descanso e/ou para a aplicação da terapêutica medicamentosa, de 
banhos e para as refeições. 
Além de Teixeira Brandão, que se autointitulava o Pinel Brasileiro, outros 
alienistas como Franco da Rocha, acreditavam que o trabalho exercido pelos 
internos tinha caráter moral, pedagógico, restaurador, e criador de novos hábitos, 
para aqueles que haviam se desviado da norma. A ociosidade era condenada por 
estes alienistas, sendo considerada como a pior coisa que poderia acontecer para 
um destes alienados, a ordem do dia era a ocupação constante. 
 
2.4 A saúde mental no Brasil do período republicano 
 
 Botti (2004) relata que com a chegada dos republicanos ao poder, o HP II foi 
assumido pelo poder público, tendo se desvinculado da Santa Casa, e passando a 
ser nominado como Hospício Nacional de Alienados. Logo em seguida, foi criada a 
Assistência Médico-Legal aos Alienados, instituição inaugural de saúde pública 
criada pelos republicanos. 
 
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Resende (2000 apud BOTTI, 2004), esclarece que com o passar do tempo o 
HNA tornou-se insuficiente para a demanda dos alienados, sendo necessária a 
criação das Colônias Juliano Moreira, uma para homens em Jacarepaguá (1910) e 
outra em Engenho de Dentro, somente para mulheres (1920), intitulada Centro 
Psiquiátrico Nacional. Havia atividades agrícolas em ambas, porém na masculina 
havia ainda outras oficinas, como ferraria e carpintaria. 
Estas instituições agrícolas espalharam pelo Brasil afora, sendo implantadas 
em vários estados, como solução para o problema dos doentes mentais. Estes 
ambientes recriavam a realidade pré-capitalista, como maneira de adaptar os 
alienados a um cotidiano mais ameno e laboral. 
Teixeira Brandão, como diretor inicial da Assistência Médica-Legal aos 
Alienados, propôs a criação da cadeira de psiquiatria na medicina e também a 
pioneira escola de enfermagem, com vistas a formar profissionais para atuar na 
área (BOTTI, 2004). Em 1898 Franco da Rocha criou a Colônia do Juquery, com o 
uso de atividades rurais, modelo que era defendido por ele. 
Botti (2004) discorre sobre o tipo de internação chamado de open-door, 
utilizado por pacientes tranquilos, que não manifestavam agressividade, ou seja, os 
pacientes produziam em troca de comida e moradia. Era um modelo prático de ser 
implantado, devido às estruturas simples, e praticamente autossustentáveis, pois os 
internos produziam a comida, roupas, móveis dentre outros, tudo para garantir o 
equilíbrio pelo modelo de não ociosidade. 
Segundo Pereira (2002 apud Botti, 2004), nas primeiras décadas de 
funcionamento do Juquery, os internos levantavam muros e paredes, além de 
limpeza e outras tarefas de manutenção. Já existiam muitos, embora ainda iniciais, 
trabalhos de terapia ocupacionale arte-terapia com tricô, crochê, renda de bilro, 
pintura e tapeçaria. 
Nesta época entre as décadas de 1930 e 1950, as instituições existentes 
para trabalhar com os doentes mentais eram os hospitais psiquiátricos e as colônias 
agrícolas. Em 1929, Oliveira Matos redigiu a tese inicial da cadeira de Psiquiatria da 
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), intitulada 
Labortherapia nas Afecções Mentaes, tendo como base o tratamento moral, com 
aplicações que iam da agricultura ao artesanato passando pela culinária (SOARES, 
1991 apud BOTTI, 2004). 
 
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Com a crise econômica na década de 30 algumas colônias abandonaram 
os trabalhos agrícolas e substituíram estas atividades por outras monótonas e 
repetitivas, e com a industrialização do país, uma formação para a área rural 
começava a não fazer sentido. 
Cerqueira (1973 apud Botti, 2004), diz que em 1931, Ulisses Pernambucano 
inicia a praxiterapia no nordeste, criando em Recife, a Assistência a Psicopatas. 
Contava naquela época com um ambulatório, um serviço aberto, serviço de Higiene 
Mental (Preventivo), hospital psiquiátrico, manicômio judiciário e duas colônias 
agrícolas. Existia um trabalho em equipe multiprofissional, visando ações 
institucionais e extra-hospitalares, com ações de prevenção, cura e reabilitação. 
Mello (2000 apud Botti, 2004), conta que na década de 40, Adauto Botelho 
foi Diretor do Serviço Nacional de Doenças Mentais (SNDM) e alastrou uma 
campanha Brasil afora para a criação de hospício no país todo, pois acreditava que 
os doentes mentais precisavam de atendimento especializado e com praxiterapia. 
Em 1942 surge em Santa Catarina, na cidade de São José, a Colônia 
Santana capitaneada por Castro Faria e que dispunha de praxiterapia, pois ele 
acreditava que o trabalho era reeducador e regenerador. O trabalho servia para 
ocupar, mas também para sublimar os impulsos, segundo a linha de tratamento de 
base psicanalítica adotada na Colônia Santana. 
Segundo Cerqueira (1973 apud Botti, 2004), em 1943 a psiquiatra Nise da 
Silveira desenvolveu o Serviço de Terapêutica Ocupacional e Reabilitação (STOR) 
no Centro Psiquiátrico Nacional, no Rio de Janeiro, tendo como foco a atividade e 
seu valor terapêutico e condenando os desvios destas atividades com outras 
finalidades. 
 
Nesses hospitais, muitos doentes eram por certo ocupados em 
trabalhos braçais, serviços de limpeza das enfermarias e das 
instalações sanitárias, enceramento de piso, etc. e pequenas verbas 
estavam previstas para gratificá-los. Estas tarefas eram atribuídas 
aos pacientes de modo empírico, tendo em vista vantagens para o 
hospital, para os enfermeiros e guardas e, sobretudo para os 
serventes. Reinava entre nós o preconceito de que o tratamento 
ocupacional convinha apenas aos doentes mentais crônicos [...] nos 
serviços destinados a agudos não se cogitava de dar-lhes posições 
entre os agentes terapêuticos (SILVEIRA, 1976, p. 20). 
 
Para Cerqueira (1973 apud Botti, 2004), Nise da Silveira revolucionou a 
praxiterapia, criando um ambiente terapêutico com ateliers, salões de jogos, 
 
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oficinas. Nise preocupava-se com a qualificação das informações e conhecimento 
transmitidos aos doentes para executarem as tarefas, assim como a qualidade dos 
ambientes em que as desenvolviam. Em 1948, criou o primeiro Curso Elementar de 
Terapêutica Ocupacional e houve então a criação da função de auxiliar de 
praxiterapia. 
Em 1952 Nise criou o Museu de Imagens do Inconsciente, com as obras 
produzidas pelos esquizofrênicos, junto ao Hospital Pedro II. Em 1956 criou a Casa 
das Palmeiras, uma espécie de ponto de apoio para egressos das internações, num 
ambulatório que servia de mediador entre o hospital e a comunidade. Existiam ali 
diferentes atividades como artes, botânica, música, teatro, bailes dentre outros. 
 
Exercício 2 
 
1. Quem desenvolveu o Serviço de Terapêutica Ocupacional e 
Reabilitação (STOR)? 
a) Franco da Rocha. 
b) Nise da Silveira. 
c) Adauto Botelho. 
d) Oliveira Matos 
 
2. Qual a alternativa que completa corretamente o enunciado a seguir? 
Teixeira Brandão e Franco da Rocha, por exemplo, acreditavam que o 
trabalho exercido pelos internos tinha caráter moral, _____, restaurador, e 
criador de novos hábitos, para aqueles que haviam se desviado da norma. A 
_____ era condenada por estes alienistas, e, portanto, a ordem do dia era a 
______. 
a) Pedagógico, ociosidade, ocupação constante. 
b) Corretivo, preguiça, brincadeira constante. 
c) Coercitivo, ocupação, ociosidade permanente. 
d) Avaliativo, distração, ludicidade. 
 
 
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UNIDADE 3 - REFORMA PSIQUIÁTRICA E SISTEMA ÚNICO DE 
SAÚDE (SUS) 
 
 
 
Fonte: http://migre.me/dfpn5 
 
Segundo Ferreira Netto (2008), quando a psicologia foi reconhecida como 
profissão em 1962, existiam 3 áreas de atuação, que são a clínica, a organizacional 
e a educacional. A psicologia não atuava na saúde pública, situação hoje diferente. 
Spink (2007 apud FERREIRA NETO, 2008), informa o resultado de uma 
pesquisa realizada, demonstrando que somente no SUS atuariam em 2006, cerca 
de 15.000 psicólogos. Este número representaria cerca de 10% do número de 
profissionais registrados no Brasil, no sistema dos Conselhos de Psicologia. 
Estudos de Ferreira Netto (2004), e Dimenstein (1998), demonstram que com a 
reforma psiquiátrica surgiu o campo interdisciplinar chamado saúde mental, 
ampliando a presença de psicólogos nos serviços de saúde pública no Brasil. 
Ferreira Netto (2008), nos situa na história da saúde mental brasileira, 
dividindo-a em três momentos distintos, ou seja, a implantação na década de 80, o 
processo antimanicomial na década de 1990 e o período matricial no final da 
década de 1990 e início dos anos 2000. Essa análise histórica abordará com maior 
atenção a presença de duas polaridades que atravessam este campo. O autor 
ainda nos diz que para clarear o estudo da saúde mental no Brasil se faz necessário 
o entendimento dos pontos relativos às estratégias individuais e coletivas de 
intervenção e também das ações da reforma psiquiátrica. 
 
 
 
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3.1 A implantação da saúde pública brasileira na década de 1980 
 
Ferreira Netto (2008), nos alerta sobre a importância da abertura 
democrática vivida na década de 1980. Amarante (1998), fala sobre a ocupação dos 
espaços públicos de poder para introduzir o pensamento de mudança e 
transformação na saúde do país. Neste período ocupacionista, o movimento 
sanitário e da reforma psiquiátrica era confundido com as próprias políticas 
desenvolvidas pelo Estado. 
Ferreira Netto (2008), nos alerta que os antecedentes desta fase foram o 
Programa Integrado de Saúde Mental (PISAM), fruto da VI Conferência Nacional de 
Saúde, no período de 1977 a 1979 e grupos de profissionais isolados e inovadores 
que atendiam questões relativas à saúde mental em unidades de saúde de maneira 
independente. 
O PISAM levava em consideração, a incidência de quase 20% de 
transtornos mentais e a capacidade de atendimento de menos de 1% desta 
demanda. Atrelava também a abertura da área da saúde mental, para a 
participação de outros profissionais não médicos, e o uso de leitos de hospital geral 
para internação de pacientes. 
O atendimento individual dos pacientes saídos de hospitais psiquiátricos e 
casos graves eram prioridades. Entretanto, existia uma divisão nesses 
atendimentos, isto é, os egressos com os psiquiatras e, os neuróticos e as crianças 
com a psicologia. A pressão dos grupos privados e a falta de apoio político 
encurtaram a vida do PISAM (MENDONÇA FILHO; ALKIMIN, 1998, FERREIRA 
NETTO, 2008). 
Ferreira Netto (2008), nos diz que à época havia um entendimento amplo e 
genérico de que a saúde mental era parte da saúde geral envolvendodoentes em 
quadros graves e também ações preventivas, mas nas ações graves prevalecia a 
atuação exclusiva do psiquiatra. Surgia, aos poucos, a mentalidade na saúde, do 
trinômio biopsicossocial, centrado ainda nos profissionais médicos, psicólogos e 
assistentes sociais. O autor esclarece ainda, ter crescido neste período as 
atividades grupais em saúde mental, sendo realizadas as avaliações para 
mensuração de seus impactos. 
Ferreira Netto (2008), ainda explicita que a partir deste ponto, também, os 
profissionais da psicologia começam a atender as demandas dos pacientes com 
 
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quadros graves. Começam a surgir os cursos de especialização em saúde mental, 
formando os primeiros psicólogos (muito influenciados ainda pela psicanálise e seu 
modo de ver o ser humano), psiquiatras e assistentes sociais para atuação 
específica na área. 
Na metade dos anos 80, começa a crescer a atuação dos psicólogos na 
área, movimento este que se consolidaria nos anos seguintes ao desenrolar deste 
cenário de transformação da saúde mental brasileira, principalmente no trato com 
pacientes de transtornos graves e persistentes. As intervenções primárias e a 
atuação em equipe multiprofissional começam então a fazer parte do cenário da 
saúde mental, neste momento inicial de implantação. 
 
3.2 A luta antimanicomial nos anos 90 
 
Gumpeter, Costa e Mustafá (2007), dizem que a tradicional forma de “tratar” 
a loucura, utilizada principalmente com a classe trabalhadora que perdeu a 
potencialidade laborativa, é a do asilamento e da institucionalização. 
Uma das razões que motivaram o movimento antimanicomial foi a visão do 
sujeito portador de sofrimento mental internado numa instituição psiquiátrica como 
sendo um ser sem direitos, ajoelhado diante do poder (médico) representante da 
sociedade que o excluiu (BASAGLIA,1985). 
Gumpeter, Costa e Mustafá (2007), fazem crítica a esse modelo e a 
necessidade da busca de 
alternativas a ele, respaldados na 
necessidade do exercício da ética 
profissional, em seu mais alto grau e 
também da imperatividade de 
resguardar os direitos humanos 
destes pacientes. 
 Fonte: http://migre.me/dg5hh 
 
[...] se a doença também está ligada, como na maioria dos casos, a 
fatores socioambientais, a níveis de resistência de uma sociedade 
que não leva em conta o homem e suas exigências, a solução de 
um problema tão grave somente pode ser encontrada em uma 
posição socioeconômica que permita ao mesmo tempo a reinserção 
 
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gradual desses elementos que não sobreviveram ao esforço, que 
não conseguiram participar do jogo (BASAGLIA, 1985, p. 115-116). 
 
Gumpeter, Costa e Mustafá (2007), destacam que a tradicional forma de 
“tratar” a loucura, é caracterizada no asilamento e pela violência institucionalizada. 
O modelo de tratamento em saúde mental centrado no hospital psiquiátrico sempre 
significou e ainda significa uma forma de controle social do Estado. 
Franco Basaglia (1982), nos diz que a psiquiatria é uma técnica de 
repressão utilizada pelo Estado para oprimir os doentes pobres integrantes da 
classe operária que não pode mais produzir. Observa-se uma vinculação à lógica 
do modelo capitalista, como regulador da acumulação do capital; situação 
presentemente explanada pela ótica marxista. 
No caso italiano, Basaglia (1985), percebe que para lidar de uma forma 
diferente com a loucura, não basta humanizar ou transformar o manicômio, é 
preciso questionar os fundamentos em que está assentada a necessidade deste 
como lugar de tratamento. Portanto é preciso questionar o paradigma psiquiátrico, 
que centrado no saber médico, reduziu o fenômeno da loucura à doença mental. 
 
 
Fonte: http://migre.me/dg5qF 
 
A crítica a esse modelo e a construção de alternativas ao mesmo, 
representam imperativo ético para os sujeitos sociais envolvidos e comprometidos 
com o ideal de emancipação humana, tanto no que diz respeito ao aspecto 
profissional, quanto ao resgate e afirmação dos direitos humanos dos sujeitos 
adoecidos; muitos destes em decorrência das contradições do sistema de produção 
capitalista. 
 
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Para Gumpeter, Costa e Mustafá (2007), a perspectiva da mudança na 
política de saúde mental no Brasil, articulou-se com diversos grupos em torno da 
luta antimanicomial. A mobilização para a causa que posteriormente viria a se 
chamar luta antimanicomial, no Brasil, teve início no final da década de 1970, 
período caracterizado pelo início da retomada da mobilização social, sobretudo em 
torno da luta pela redemocratização do país, com os trabalhadores de saúde 
mental, movimento que cresceu fortemente na metade da década de 80. 
Esses autores (2007) recordam que a desinstitucionalização brasileira 
representa um processo de luta por mudanças no modelo assistencial, destacando-
se entre os diversos atores o movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental 
(MTSM), Centro Brasileiro de Estudos em Saúde/Núcleo de Estudo em Saúde 
Mental (CEBES), Movimento de Luta Antimanicomial, dentre outros, que tinham 
como bandeira a substituição do modelo asilar por uma rede de serviços territoriais. 
O marco desse processo é a década de 80. 
 
Identificada por uma ruptura ocorrida no processo de reforma 
psiquiátrica brasileira, que deixa de ser restrito ao campo 
assistencial, para alcançar uma dimensão mais global e complexa, 
isto é, para tornar-se um processo que ocorre há um só tempo e 
articuladamente, nos campos técnico-assistencial, político-jurídico, 
teórico-conceitual e sociocultural (AMARANTE, 1998, p.75-76). 
 
Essa mobilização efervescente toma corpo com a presença dos novos 
movimentos sociais, sendo ainda mais reforçada posteriormente, com as 
prerrogativas de participação cidadã oportunizadas pela Constituição Federal de 
1988. Além dos trabalhadores da área da saúde mental passam a fazer parte 
também deste quadro, usuários, familiares, organizações de luta pelos direitos 
humanos e entidades de classe como o Conselho Federal de Psicologia e os 
Conselhos Regionais de Psicologia. 
Ferreira Netto (2008), nos situa no bonde da história, ressaltando a 
importância de alguns eventos no quadro da luta antimanicomial no Brasil, 
começando com o II Encontro Nacional dos Trabalhadores em Saúde Mental 
realizado na cidade de Bauru, interior de São Paulo, em 1987. 
Nesse encontro surgiram pontos importantes, como a comemoração do dia 
da luta antimanicomial em 18 de maio, o vislumbrar da possibilidade de um mundo 
sem manicômios e o marcado aumento da participação de psicólogos, 
inversamente proporcional, a participação de psiquiatras como trabalhadores do 
 
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www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 
setor. Com a participação de profissionais de diversas áreas, elaborou-se uma 
pauta capaz de instrumentalizar a luta pela reforma psiquiátrica, com vistas à 
autonomia do movimento em relação ao Estado. As diretrizes traziam a discussão 
sobre a loucura para o meio da sociedade. 
Amarante (1988, apud FERREIRA NETTO, 2004), fala sobre a presença de 
ideias desinstitucionalizantes e de desconstrução da realidade daquele momento. 
Houve também a ocupação da política estatal com este pensamento. Neste 
momento fortaleceram-se os laços do movimento antimanicomial com entidades da 
sociedade civil e com associações de usuários e familiares, por exemplo. 
No evento posterior, em 1989, a reforma psiquiátrica ganhou impacto 
nacional com a intervenção da Secretaria de Saúde do Município de Santos na 
Casa de Saúde Anchieta e a criação de dispositivos antimanicomiais na cidade, 
num modelo que serviu de inspiração para vários outros no país (AMARANTE, 
1998). 
Segundo Ferreira Netto (2008), neste mesmo ano foi apresentado ao 
Congresso Nacional, o Projeto de lei (PL) 3.657/89, pelo deputado federal Paulo 
Delgado de Minas Gerais, buscando regulamentara reestruturação do atendimento 
à Saúde Mental no Brasil. Posteriormente esta questão atingiria a forma de lei 
através da Lei 10.216/01, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas 
portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde 
mental. 
O projeto propõe o abandono do modelo americano de psiquiatria 
comunitária, com a composição de uma rede de assistência que visa a substituir os 
hospitais psiquiátricos, sem hierarquizar os níveis de atenção. 
 Uma das medidas mais eficazes para a organização da nova rede de 
assistência em Saúde Mental seria o procedimento de garantir a cada paciente, 
antes de sua alta hospitalar, o agendamento de consulta, via Distrito Sanitário, com 
um profissional de Saúde Mental, no centro de saúde mais próximo de sua casa. A 
organização desse fluxo impediria que os pacientes em alta ficassem sem 
atendimento ambulatorial e fossem reinternados após nova crise. Garantiria 
também a chegada dos egressos nas unidades básicas de saúde, rompendo o 
circuito: alta, residência, crise e nova internação (FERREIRA NETTO, 2008). 
Pacientes e familiares passaram a conhecer uma nova possibilidade de 
atenção profissional, próxima de suas casas. Decorridos alguns anos após esse 
 
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conjunto de ações, é possível deduzir que para romper com o circuito hospitalar não 
é suficiente somente a implantação de equipes nas unidades, é necessária uma 
política de organização do fluxo da demanda. Caso contrário, os profissionais 
permaneceriam com sua atividade drenada com a clientela cativa do serviço, sem 
que os egressos se tornassem parte de sua clientela habitual (FERREIRA NETTO, 
2008). 
De acordo com Gumpeter, Costa e Mustafá (2007), o movimento 
antimanicomial, desde 1987, organiza-se através de núcleos em diversas cidades e 
estados do país. Durante essas duas décadas de atuação, foram realizados cinco 
encontros nacionais. No V Encontro Nacional do Movimento de Luta 
Antimanicomial, ocorrido em Miguel Pereira (RJ) em 2001, as propostas de dois 
grupos se mostraram inconciliáveis e dessa forma o movimento nacional sofreu 
uma cisão devido a: 
 
[...] uma crise organizativa e política interna, gerando duas correntes 
principais reunindo diferentes núcleos e grupos pelo país. 
Infelizmente, o debate tem sido muito polarizado e marcado por 
enfrentamentos muito pessoalizados, com enorme desgaste pessoal 
e político para todo o movimento, e nem sempre se consegue 
perceber mais claramente as questões e divergências teóricas e 
políticas de fundo (VASCONCELOS, 2002, p. 05). 
 
Desta forma, apareceram duas vertentes da luta, uma com a Rede Nacional 
Internúcleos de Luta Antimanicomial e outra com o Movimento Nacional de Luta 
Antimanicomial. 
Gumpeter, Costa e Mustafá (2007), afirmam que no Brasil, apesar dos 
avanços legislativos na saúde mental, a impunidade e a violação dos Direitos 
Humanos dos indivíduos com transtornos mentais continuam, principalmente nos 
hospitais psiquiátricos que ainda funcionam. 
Tornam-se emblemáticos os casos das mortes dos pacientes internados em 
instituições psiquiátricas tradicionais vítimas de espancamento, atestadas como 
suicidas ou mesmo de inanição. Isto somente citando casos do fim dos anos 90 
para cá, quando a vigilância do movimento se tornou mais forte. 
 
[...] exemplos dessa violência vêm ganhando visibilidade, sem, 
contudo, provocar uma intervenção do poder público no sentido de 
realizar melhorias significativas. Pelo contrário, a clara tendência da 
imprensa local é de censurar os denunciantes e elogiar os gerentes 
 
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da instituição pelas supostas melhorias que estes vêm promovendo 
(CARVALHO, 2004, p.115). 
 
Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2004b), ainda existem muitos 
leitos em hospitais psiquiátricos, e fica clara a coexistência de dois modelos de 
atendimento, reiterando a necessidade de haver ainda um maciço investimento nas 
estruturas de tratamento abertas, dignificantes e socializadoras. É fato que ainda 
nos encontramos em processo, aonde o novo ainda não substituiu plenamente o 
velho. 
Gumpeter, Costa e Mustafá (2007), reiteram que tem sido importante a 
atuação do movimento de luta antimanicomial para pressionar a efetivação da 
Reforma Psiquiátrica definitiva com a extinção dos hospitais psiquiátricos do modelo 
clássico e alienante e o crescimento da rede de atenção à saúde mental de base 
comunitária e atenção à saúde de acordo com os princípios e diretrizes do Sistema 
Único de Saúde (SUS). Deve-se ressaltar também a importância do movimento na 
defesa e garantia dos direitos das pessoas com sofrimento mental, principalmente 
na denúncia de abusos e violação de direitos. Tem-se especial atenção em relação 
à atuação dos hospitais particulares para coibir abusos e distorções da lei. 
 
Atualmente coexistem no Brasil, nem sempre de maneira pacífica, 
por serem pouco integrados, modelos diferenciados de assistência 
tanto fundamentado no modelo asilar quanto no modelo dos novos 
serviços (ROSA, 2003, p. 283). 
 
Gumpeter, Costa e Mustafá (2007), consideram a luta antimanicomial como 
um movimento importante no que se refere às mudanças no modo “louco” e na 
garantia de seus direitos e de sua reinserção social. O movimento de luta 
antimanicomial tem tido atuação política de grande valia neste aspecto. Existe a 
necessidade de fortalecimento das ações da luta antimanicomial e o seu abraçar 
pela sociedade, para que se tenha a cidadania preconizada pela Constituição 
Federal de 88, com a garantia de um sujeito de direito e deveres com amplo 
espectro de atuação, com liberdade, dignidade e respeitabilidade. 
 
Certamente uma das terapias mais importantes para combater a 
loucura é a liberdade. Quando um homem é livre tem a posse de si 
mesmo, tem a posse da própria vida, e, então, é mais fácil combater 
a loucura. Liberdade, falo de liberdade para a pessoa trabalhar, 
ganhar e viver, e isto já é uma luta contra a loucura. Quando há 
possibilidade de se relacionar com os outros, livremente, isso torna-
 
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se uma luta contra a loucura. Quando eu falo de liberdade, falo de 
liberdade para a pessoa trabalhar, ganhar e viver, e isto já é uma 
luta contra a loucura. Certamente, a loucura evidencia-se mais 
facilmente sob essa nossa vida agitada, assustadora, opressiva e 
violenta (BASAGLIA, 1982 p. 72). 
 
 
Gumpeter, Costa e Mustafá (2007), concluem que a construção de uma 
sociedade que garanta direitos e a dignidade do ser humano tem no trato realizado 
com as pessoas que vivem com transtornos mentais, um de seus maiores desafios, 
justamente na efetivação e respeito aos seus direitos. É cada vez mais urgente o 
fortalecimento da articulação na luta por uma sociedade mais justa e que 
potencialize a dignidade do ser humano e sua autonomia. 
Podemos observar, que os próprios profissionais precisam se adaptar à 
nova realidade da atenção à saúde mental. Vejamos o caso do psicólogo. Este 
profissional apresentava inicialmente formação baseada na clínica individual 
particular, elitista, deixando a desejar na opção prioritária do programa. Sua 
(trans)formação aconteceu no decorrer da prática e da formação continuada. Sua 
participação no SUS mudou sua ideia de tratamento/intervenção introduzindo novas 
perspectivas de clínica ampliada (FERREIRA NETTO, 2008). 
Mais recentemente, devido aos esforços das entidades do Fórum Nacional 
de Entidades da Psicologia Brasileira (FENPB), destacando-se dentre elas a 
atuação da Associação Brasileira de Ensino em Psicologia (ABEP) junto das 
Instituições de Ensino Superior (IES) na busca de uma ênfase presente na 
formação que instrumentalize o profissional para práticas grupais e intervenções 
psicossociais, capacitando-o adequadamente de modo diferencial para a presente 
prática de apoio matricial (FERREIRANETTO, 2008). 
 
3.3 Sistema Único de Saúde (SUS) e o direito à saúde pública 
 
De acordo com o Ministério da Saúde (Brasil, 2004), o SUS foi instituído 
pelas Leis Federais 8.080/1990 e 8.142/1990 tendo como eixo norteador o Estado 
democrático e de cidadania plena como determinantes de uma “saúde como direito 
de todos e dever de Estado”, preconizado na Constituição Federal de 1988. 
Esse sistema baseia-se no acesso universal, público e gratuito às ações e 
serviços de saúde; na integralidade das ações, cuidando do indivíduo como um todo 
 
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e não como um quebra-cabeças formado de várias partes; baseando-se na 
equidade, como o dever de atender igualmente o direito de cada um, respeitando 
suas diferenças; na efetiva descentralização dos recursos de saúde, garantindo 
cuidado de boa qualidade o mais próximo dos usuários que dele necessitam; 
implantação do controle social exercido pelos Conselhos Municipais, Estaduais e 
Nacional de Saúde com representação dos usuários, trabalhadores, prestadores, 
organizações da sociedade civil e instituições formadoras de maneira justa e 
democrática. 
Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2004) são 3 os princípios que dão 
base ao SUS: 
- a universalidade, 
- a integralidade e 
- a equidade. 
A universalidade diz respeito à garantia do direito à saúde para todo e 
qualquer brasileiro, da maneira mais ampla nos serviços oferecidos pelo SUS. Este 
princípio é fundamental na visão democrática do sistema, tornando-o acessível a 
todo e qualquer brasileiro e não somente aos possuidores de carteira assinada, 
contribuintes da previdência, podendo toda a população contar com os serviços 
oferecidos. 
A integralidade é o segundo princípio norteador. Este conceito entende o 
sujeito como possuidor de várias dimensões que são integradas envolvendo a 
saúde individual e coletiva. O SUS trabalha com ações que visam a prevenção, 
promoção, proteção, cura e reabilitação. O SUS trabalha então a saúde de maneira 
integral, através de ações que contam inclusive com a intersetorialidade. 
O princípio da equidade tem como função tratar as diferenças com o 
objetivo de atingir a igualdade. Isto pode ser observado, na prioridade de acesso 
aos serviços por indivíduos que possuem maior fragilização socioeconômica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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3.4 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) 
 
 
Fonte: http://migre.me/dfssI 
 
De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2004), o primeiro Centro de 
Atenção Psicossocial (CAPS) do Brasil foi inaugurado em março de 1986, na cidade 
de São Paulo, denominado Centro de Atenção Psicossocial Professor Luiz da 
Rocha Cerqueira, conhecido como CAPS da Rua Itapeva. 
A criação deste CAPS e de tantos outros, com outros nomes e lugares, fez 
parte de um intenso movimento social, inicialmente de trabalhadores de saúde 
mental, que buscavam a melhoria da assistência no Brasil e denunciavam a 
situação precária dos hospitais psiquiátricos, que ainda eram o único recurso 
destinado aos usuários portadores de transtornos mentais. 
Nesse contexto, os serviços de saúde mental surgem em vários municípios 
do país e vão se consolidando como dispositivos eficazes na diminuição de 
internações e na mudança do modelo assistencial. Os Núcleos de Atenção 
Psicossocial (NAPS) e os CAPS foram criados oficialmente a partir da Portaria GM 
224/92 sendo definidos como “unidades de saúde locais/regionalizadas que contam 
com uma população definida pelo nível local e que oferecem atendimento de 
cuidados intermediários entre o regime ambulatorial e a internação hospitalar, em 
um ou dois turnos de quatro horas, por equipe multiprofissional”. 
Os CAPS, assim como os NAPS, os Centros de Referência em Saúde 
Mental (CERSAMs) e outros tipos de serviços substitutivos que têm surgido no país 
 
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são atualmente regulamentados pela Portaria nº 336/GM, de 19 de fevereiro de 
2002 e integram a rede do Sistema Único de Saúde, o SUS. 
Essa portaria reconheceu e ampliou o funcionamento e a complexidade dos 
CAPS, que têm a missão de dar um atendimento diuturno às pessoas que sofrem 
com transtornos mentais severos e persistentes, num dado território, oferecendo 
cuidados clínicos e de reabilitação psicossocial, com o objetivo de substituir o 
modelo hospitalocêntrico, evitando as internações e favorecendo o exercício da 
cidadania e da inclusão social dos usuários e de suas famílias (BRASIL, 2004). 
O que faz um CAPS? Um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) ou 
Núcleo de Atenção Psicossocial (NAP) é um serviço de saúde aberto e comunitário 
do Sistema Único de Saúde 
(SUS). Ele é um lugar de 
referência e tratamento para 
pessoas que sofrem com 
transtornos mentais, psicoses, 
neuroses graves e demais 
quadros, cuja severidade e/ou 
persistência justifiquem sua 
permanência num dispositivo de 
cuidado intensivo, comunitário, 
personalizado e promotor de vida. 
 Fonte: http://migre.me/dgdSY 
O objetivo dos CAPS é oferecer atendimento à população de sua área de 
abrangência, realizando o acompanhamento clínico e a reinserção social dos 
usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento 
dos laços familiares e comunitários. É um serviço de atendimento de saúde mental 
criado para ser substitutivo às internações em hospitais psiquiátricos. 
Os CAPS visam: 
• prestar atendimento em regime de atenção diária; 
• gerenciar os projetos terapêuticos oferecendo cuidado clínico eficiente e 
personalizado; 
• promover a inserção social dos usuários através de ações intersetoriais 
que envolvam educação, trabalho, esporte, cultura e lazer, montando estratégias 
 
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conjuntas de enfrentamento dos problemas. Os CAPS também têm a 
responsabilidade de organizar a rede de serviços de saúde mental de seu território; 
• dar suporte e supervisionar a atenção à saúde mental na rede básica, PSF 
(Programa de Saúde da Família), PACS (Programa de Agentes Comunitários de 
Saúde); 
• regular a porta de entrada da rede de assistência em saúde mental de sua 
área; 
• coordenar junto com o gestor local as atividades de supervisão de 
unidades hospitalares psiquiátricas que atuem no seu território; 
• manter atualizada a listagem dos pacientes de sua região que utilizam 
medicamentos para a saúde mental. 
Os CAPS devem contar com espaço próprio e adequadamente preparado 
para atender à sua demanda específica, sendo capazes de oferecer um ambiente 
continente e estruturado. Deverão contar, no mínimo, com os seguintes recursos 
físicos: 
• consultórios para atividades individuais (consultas, entrevistas, terapias); 
• salas para atividades grupais; 
• espaço de convivência; 
• oficinas; 
• refeitório (o CAPS deve ter capacidade para oferecer refeições de acordo 
com o tempo de permanência de cada paciente na unidade); 
• sanitários; 
• área externa para oficinas, recreação e esportes (BRASIL, 2004). 
As práticas realizadas nos CAPS se caracterizam por ocorrerem em 
ambiente aberto, acolhedor e inserido na cidade, no bairro. Os projetos desses 
serviços, muitas vezes, ultrapassam a própria estrutura física, em busca da rede de 
suporte social, potencializadora de suas ações, preocupando-se com o sujeito e sua 
singularidade, sua história, sua cultura e sua vida quotidiana. 
 De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2004), todo o trabalho 
desenvolvido no CAPS deverá ser realizado em um “meio terapêutico”, isto é, tanto 
as sessões individuais ou grupais como a convivência no serviço têm finalidade 
terapêutica. Isso é obtido através da construção permanente de um ambiente 
facilitador, estruturado e acolhedor, abrangendo várias modalidades de tratamento. 
Como dissemos anteriormente, ao iniciar o acompanhamento no CAPS se traça um

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