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Obstetrícia Thomás Rocha Campos Desvios de crescimento Medicina - UFOB O crescimento fetal depende da interação entre feto, placenta e mãe. O crescimento fetal se caracteriza por três fases: 1- Fase de hiperplasia (multiplicação celular) 2- Fase de hiperplasia + hipertrofia 3- Fase de hipertrofia (apenas aumento do volume) Existem padrões de crescimento, que se relacionam com o peso ao nascer e a IG: PIG (pequeno para idade gestacional): abaixo do percentil 10 AIG (adequado para idade gestacional): entre os percentis 10 e 90 GIG (grande para idade gestacional): acima do percentil 90 GIG (acima do percentil 90) ≠ Feto macrossômico (>4 kg ou >4,5kg) Ex.: um feto de 30 sem deveria pesar até 1.824g, mas se ele pesar 3kg vai ser GIG, só que não é macrossômico. RESTRIÇÃO DO CRESCIMENTO FETAL Conceito Peso fetal abaixo do percentil 10 para a idade gestacional, estimado pela USG. *O diagnóstico é comprovado ao nascimento: pois a USG é um exame examinador-dependente. Epidemiologia Estima-se que 5-10% dos RN apresentem crescimento restrito. A incidência da RCF varia de acordo com a população estudada, os fatores de risco envolvidos, os critérios utilizados para o cálculo da idade gestacional e a curva-padrão utilizada. Com tantas dificuldades, é de se supor que a incidência exata da RCF permaneça desconhecida. Obstetrícia Thomás Rocha Campos Desvios de crescimento Medicina - UFOB Classificação Está em desuso, mas podem cobrar em provas de residência I - Simétrico II- Assimétrico III- Intermediário Fatores que agem no início da gravidez, durante a hiperplasia. Redução simétrica das medidas – Baixo peso, estatura e perímetro cefálico – Associação com malformações – Prognóstico ruim Fatores que agem no 3º trimestre, durante a hipertrofia. Redução desproporcional das medidas: – Baixo peso – Estatura normal – Perímetro cefálico grande – Típico da insuficiência placentária (por redução da troca de O2 e nutrientes) – Bom prognóstico Alteração durante as fases de hiperplasia e hipertrofia. – Há comprometimento cefálico e de ossos longos – Associa-se com desnutrição, tabagismo, alcoolismo e cafeína Fatores de risco Maternos Fetais Uteroplacentários – Idade muito jovem ou muito velha – Peso pré-gestacional < 54kg – História prévia de RCF – Primiparidade/Multiparidade – Pequeno intervalo entre gestações – Baixa condição socioeconômica – Tabagismo (10/dia) – Álcool – Drogas ilícitas – Teratógenos – Técnicas de reprodução assistida – Doenças maternas: DHEG, DM, IR, anemia, DCV – Anormalidades fetais e cromossômicas – Patologias: displasias, osteogênese imperfeita – Defeitos de tubo neural – Infecção intrauterina: CMV, Toxo – Gestações múltiplas – Fatores imunológicos Alterações placentárias: – Placenta prévia – Placenta circunvalada – Corioangiomas – Artéria umbilical única – Insuficiência placentária Anormalidades uterinas: – Útero bicorno – Útero septado Fisiopatologia O crescimento e desenvolvimento placentário inadequado culmina com pequenos infartos placentários. Isso leva à uma insuficiência placentária, com diminuição das trocas fetais. Desse modo o feto se adapta: – Diminuição do crescimento somático – Diminuição do tamanho do fígado – Redução ou até ausência da deposição de gordura Rastreamento Clínico: – Só é possível após determinar a IG – Realizar medidas seriadas da AFU, e verificar curvas padrão para rastreamento da RCF após 20 semanas de gestação Obstetrícia Thomás Rocha Campos Desvios de crescimento Medicina - UFOB Se a AFU estiver anormal solicitar USG USG: Quanto mais cedo for realizada, mas precisa A fórmula de Hadlock é a mais utilizada para estimar o peso fetal, com 03 medidas: – Circunferência cefálica (CC) – Circunferência abdominal (CA) a mais importante – Cumprimeto do fêmur (F) Segundo Hadlock, quando o crescimento fetal está comprometido, a CA está afetada em função da redução do tecido adiposo e da diminuição do glicogênio hepático. A relação CC/CA elevada é o melhor critério de diagnóstico de RCF Cálculo do Índice Ponderal IP = Peso/Estatura * 100 Diagnóstico Discrepância entre as medidas da USG atuais e as esperadas para a IG Associar medidas abaixo do percentil 10 com: 1. Fatores de risco 2. Avaliação da estatura e etnia dos pais 3. Habilidade do feto em se manter na curva de crescimento 4. Sinais de insuficiência placentária (diminuição do LA + achados anormais ao Doppler) Doppler: Permite diferenciar fetos com RCF de fetos constitucionalmente pequenos. Achados nas Aa. Umbilicais relacionados à mau prognóstico: 1- Aumento da resistência 2- Relação sístole/diástole elevada (acima do percentil 95) 3- Diástole zero 4- Diástole reversa Obstetrícia Thomás Rocha Campos Desvios de crescimento Medicina - UFOB Artéria umbilical 1- Aumento da resistência 2- Redução do fluxo diastólico final -Progressivo no feto gravemente comprometido, podendo chegar à diástole zero (ausência total de fluxo diastólico) ou diástole reversa (fluxo diastólico retrógrado) Esse é o mecanismo de centralização fetal: com a deficiência de nutrientes e oxigênio para o feto, ocorre compensação hemodinâmica com aumento do fluxo para o SNC e adrenais, com diminuição do fluxo sanguíneo em outras regiões (pulmões, rins, músculos, alças intestinais...) Eventos adversos fetais decorrentes do aumento da resistência da artéria umbilical: – Morte – Oligodrâmnio – Baixo peso ao nascer – Sofrimento fetal – Cesariana de urgência – Acidose venosa umbilical – Necessidade de reanimação – Ventilação mecânica por tempo prolongado – Tempo de UTI prolongado Obstetrícia Thomás Rocha Campos Desvios de crescimento Medicina - UFOB Artéria cerebal média 1. Vasodilatação cerebral É um marcador de hipóxia. Índice cerebroplacentário (ICM) = pulsatilidade na ACM / pulsatilidade na a. umbilical Se ICM < 1, significa que está ocorrendo redistribuição do fluxo, com dilatação da ACM, ou seja, centralização fetal. Ducto venoso – Não é utilizado como diagnóstico – Serve para indicar o momento da interrupção da gestação a alteração no ducto venoso significa iminência de morte fetal, e tem que fazer o parto logo! Onda A: – Menor: com a piora da função cardíaca fetal – Reversa: iminência de morte fetal Obstetrícia Thomás Rocha Campos Desvios de crescimentoMedicina - UFOB Padrões de onde e as alterações: Como proceder no parto O risco iminente de morte intrauterina nos fetos com peso abaixo do percentil 5 é de 2,5% Avaliar: – Etiologia – IG – Possibilidade de sobrevivência extrauterina – Gravidade das alterações biométricas – Desejo dos pais – Recursos tecnológicos da instituição Avaliação da vitalidade fetal: – USG Doppler arterial – USG Doppler venoso – CTB – Padrões de movimentos corporais – Padrão de tônus Quanto menor o volume de líquido amniótico, maior a mortalidade Obstetrícia Thomás Rocha Campos Desvios de crescimento Medicina - UFOB Tratamento – É pouco eficaz – Há possibilidades terapêuticas específicas nos casos de infecção congênita – Não há recuperação do crescimento – A conduta se baseia no controle da vitalidade fetal e melhor momento de parto Obstetrícia Thomás Rocha Campos Desvios de crescimento Medicina - UFOB Corticoide: <34 semanas amadurecimento pulmonar Sulfato de Magnésio: 32-33 semanas neuroproteção Prognóstico de acordo com IG <26 sem 26-28 sem 28-32 sem 32-37 sem Sobrevivência < 50% Indicação materna de resolução Sobrevivência > 50% Deterioração do PBF + CTG <6/10 = Indução do parto Sobrevivência > 70% Diástole zero = interrupção a partir de 34 sem Diástole reversa = interrupção Escolha da via de parto: depende da etiologia da RCF, o grau de comprometimento fetal, a evidência de acidemia, a IG e o vLA. Cesárea: prematuridade extrema, alterações graves no Doppler, cesariana anterior Vaginal: CTB contínua, avaliar pH fetal, exame histológico da placenta e autópsia em caso de morte intrauterina Consequências neonatais – Insuficiência Hepática – Policitemia – Hipoglicemia – Hiperbilirrubinemia – APGAR baixo – pH de cordão < 7 – Trombocitopenia – Episódios de apneia, convulsões e alterações neurológicas – Síndrome Metabólica na Idade adulta: HAS, Cardiopatia, Dislipidemia, DM Gestações futuras – AAS: em baixa dose, é recomendado em pacientes com história de RCF – Iniciar entre 12 e 16 sem e manter até 36 sem – Analisar fatores de risco (HAS, Obesidade, Idade >40, reprodução assistida, DM, DPP e Infartos Placentários) – Pesquisar trombofilias
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